22
PORTUGAL
TERÇA-FEIRA 25 MAIO 2021 CORREIO DA MANHÃ CANADÁ
atualidade
INCÊNDIO
DE PEDRÓGÃO GRANDE
AVISO | NÃO A “ESTADOS DE ALMA”
juíza presidente do coletivo interromA peu o arguido Augusto Arnaut assim que este começou a prestar declarações, ao
perceber que não ia falar sobre factos. “Não pode fazer considerações genéricas, não têm interesse do ponto de vista objetivo, não estamos aqui para estados de alma”, disse.
LEIRIA
“Não vimos à procura de vingança”
DIREITOS RESERVADOS PAULO CUNHA /LUSA
2
3
DIREITOS RESERVADOS
DIREITOS RESERVADOS CARLOS BARROSO
1
147 das 66 mortes ocorreram na ‘estrada da morte’, para onde as pessoas tentaram fugir das chamas 2Ex-presidente da Câmara de Castanheira de Pera, Fernando Lopes 3Valdemar Alves autarca de Pedrógão Grande
JULGAMENTO � Sobreviventes e famílias dos 66 mortos querem “justiça” ESCASSO � “Estado central devia ser julgado”
O
s sobreviventes do grande fogo de Pedrógão Grande, assistentes no processo que começou ontem a ser julgado no Tribunal de Leiria, querem que seja apurada toda a verdade sobre o que levou à morte das 66 pessoas e ferimentos em mais de duzentas, em junho de 2017. “Não vimos à procura de vingança, é o apuramento da verdade e a realização da Justiça que nos move”, disse Ricardo Sá Fernandes, advogado de várias das vítimas. Também a advogada Patrícia Oliveira, que representa outras
vítimas, disse não estar em busca de “vingança, mas pela salvaguarda da Justiça material, para que catástrofes desta natureza não voltem a repetir-se e para que os responsáveis sejam condenados”. “As vítimas
AUTARCAS, COMANDANTE DOS BOMBEIROS E OUTROS COMEÇAM A SER JULGADOS querem conseguir fazer o luto”, disse outra advogada, afirmando esperar que “seja um caso excecional e único e a servir de exemplo para o País”. O incêndio galopante, alavancado por
condições meteorológicas e falta de limpeza junto às estradas, diz o Ministério Público, apanhou de surpresa muitos moradores. A maioria morreu a tentar fugir às violentas chamas muitos dentro dos carros. “Ainda hoje a minha cliente não sabe o que é qualidade de vida”, disse o advogado José Carlos Leitão: “Só queremos saber quem é realmente o culpado. Terá de ser alguém mais alto na sociedade, o Estado devia estar aqui também.” Uma ideia também defendida pelo advogado de outras vítimas, ao dizer que “a acusação
peca por não ser mais extensa. O Estado central devia ter sido acusado. Estou aqui para tentar descobrir as verdadeiras causas do incêndio, não é condenando um ou outro, mas o Estado, a Assembleia da República e o
DEFESAS GARANTEM QUE ARGUIDOS NADA FIZERAM PARA ORIGINAR TRAGÉDIA Governo por terem dois pesos: um para os grandes e outro para os pequenos”, afirmou. Também o advogado Afonso Alves disse que o seu cliente, Rui Rosinha, o bombeiro de
Castanheira de Pera que sofreu queimaduras graves a caminho das chamas, está no processo para que “se descubra a verdadeira causa deste problema” e não “à procura de vingança.” Já os advogados dos arguidos, de uma forma geral, garantiram que os seus clientes nada fizeram que contribuísse para a tragédia, destacando a dimensão que o incêndio ganhou. Rui Patrício, advogados dos arguidos da E-Redes, ex-EDP Distribuição, disse que “os julgamentos não servem para fazer o luto. Aqui é para apurar factos e responsabilidades”.n