Ano X - no 44 - Out/Nov/Dez 2017
ISSN 1982-5897
o Biólogo Revista do Conselho Regional de Biologia - 1a Região (SP, MT, MS)
Paulo Lee Ho A vida de dedicação do pesquisador científico do Butantan à Biologia
Análises Clínicas As oportunidades de trabalho e empreendedorismo que a atividade oferece
Faculdade das Flores Holambra tem a primeira instituição destinada à formação de tecnólogos especializados
Tome Nota
O Biólogo
ÍNDICE
Revista do Conselho Regional de Biologia 1a Região (SP, MT, MS) Ano XI – No 44 – Out/Nov/Dez 2017 ISSN: 1982-5897 Conselho Regional de Biologia - 1a Região (São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul) Rua Manoel da Nóbrega, 595 – Conjunto 111 CEP: 04001-083 – São Paulo – SP Tel.: (11) 3884-1489 – Fax: (11) 3887-0163 crbio01@crbio01.gov.br / www.crbio01.gov.br Delegacia Regional de Mato Grosso do Sul CRBio-01 Rua 15 de novembro, 310 – 7o Andar – sala 703 CEP: 79002-140 – Campo Grande – MS Tel.: (67) 3044-6661 – delegaciams@crbio01.gov.br Delegacia Regional de Mato Grosso - CRBio-01 Em breve novo endereço
03 Editorial
04 Pés no presente, olho no futuro
10 Grandes Biólogos Brasileiros
Diretoria Eliézer José Marques Presidente
Celso Luis Marino Secretário
Luiz Eloy Pereira Vice-Presidente
Edison Kubo Tesoureiro
Conselheiros Efetivos (2015-2019) Celso Luis Marino; Edison Kubo; Edison de Souza; Eliézer José Marques; Giuseppe Puorto; Iracema Helena Schoenlein-Crusius; João Alberto Paschoa dos Santos; Luiz Eloy Pereira; Maria Saleti Ferraz Dias Ferreira; Wagner Cotroni Valenti. Conselheiros Suplentes Ana Paula de Arruda Geraldes Kataoka; André Camilli Dias; Horácio Manuel Santana Teles; José Carlos Chaves dos Santos; Maria Teresa de Paiva Azevedo; Marta Condé Lamparelli; Normandes Matos da Silva; Regina Célia Mingroni Neto; Sarah Arana. Comissão de Comunicação e Imprensa do CRBio-01: Giuseppe Puorto (Coordenador) João Alberto Paschoa dos Santos Wagner Cotroni Valenti Jornalista responsável: Jayme Brener (MTb 19.289) Editor: Cláudio Camargo Textos: Marco Berringer, Silvia Lakatos e Edmir Nogueira Projeto Gráfico, Diagramação e Capa: Regina Beer Periodicidade: Trimestral Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade de seus autores e podem não refletir a opinião desta entidade. O CRBio-01 não responde pela qualidade dos cursos divulgados. A publicação destes visa apenas dar conhecimento aos profissionais das opções disponíveis no mercado.
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O BIOLOGO Jan/Fev/Mar 2015
12 Laboratório - um campo
em expansão
16 Cultivo de empreendedores
20 Ecos da Plenária
22 CFBio Notícias
23 Arquivo do Biólogo
Editorial
Caros Biólogos,
E
stamos às vésperas de mais um ConBio, o 23º Congresso de Biólogos do CRBio-01, que terá lugar em São Paulo nos próximos dias 13, 14 e 15 de dezembro – assunto da capa desta edição. Este ano o ConBio abordará o tema “Áreas de Atuação e o Mercado de Trabalho do Biólogo”, abrangendo três campos considerados promissores para a nossa profissão nos dias de hoje: produção e desenvolvimento de alimentos, biotecnologia e controle de pragas urbanas. No primeiro dia, serão discutidos o papel da plataforma intergovernamental da biodiversidade e serviços ecossistêmicos; o papel e as oportunidades da inovação biotecnológica; e diagnóstico molecular aplicado à medicina à medicina personalizada. O segundo dia discutirá a produção de alimentos e as pragas urbanas e sua interface com a saúde pública e o meio ambiente. No último dia serão realizados os painéis “Biologia, Produção & Desenvolvimento” e “Diagnóstico Molecular Aplicado ao Transplante de Medula”. Também haverá minicursos simultâneos sobre Biologia Forense, Licenciamento Ambiental e “O Biólogo e a Vigilância em Saúde”. Nesta edição você também poderá conferir os desafios dos Biólogos que atuam no campo das análises clínicas. Graças à sua formação, eles podem lidar com uma ampla gama de desafios: diagnósticos biológicos, moleculares e ambientais. Saiba também sobre a Faculdade das Flores de Holambra, a primeira instituição destinada a formar tecnólogos especializados na produção de flores, verduras e plantas verdes. Boa leitura!
Eliézer José Marques Presidente do CRBio-01
Antes de Emitir a ART Consulte a Resolução CFBio no 11/03 e o Manual da ART. CFBio Digital O espaço do Biólogo na Internet Mudou de Endereço? Informe o CRBio-01 quando mudar de endereço, ou quando houver alteração de telefone, CEP ou e-mail. Mantenha o seu endereço atualizado.
O CRBio-01 estabeleceu parceria com a empresa Enozes Publicações para implantação do CRBioDigital, espaço exclusivo na Internet para Biólogos registrados divulgarem seus currículos, artigos, notícias, prestação de serviços, além de disponibilizar um Site a cada profissional. O conteúdo é totalmente gerenciado pelo próprio profissional. O CRBioDigital além de ser guia e catálogo eletrônico de profissionais, promove a interação entre os Biólogos registrados, formando uma comunidade profissional digital.  Para acessar, entre no portal do CRBio-01: www.crbio01.gov.br
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Pés no presente, olho no futuro Mais conciso, o 23º ConBio abordará campos considerados promissores para o mercado de trabalho dos profissionais da Biologia: produção e desenvolvimento; biotecnologia e controle de pragas urbanas Por Silvia Lakatos
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Abertura do 22º ConBio, realizado em Cuiabá, em 2015
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lonagem, organismos geneticamente modificados, pesquisas com células-tronco embrionárias, análise de genoma, biodiversidade, controle de pragas urbanas... nos dias atuais, são muitas as frentes que se descortinam para o Biólogo conhecer e trabalhar. E é essa multiplicidade de temas e possibilidades que o CRBio-01 - Conselho Regional de Biologia – 1ª Região (SP, MT e MS) apresentará durante o 23º Congresso de Biólogos do CRBio-01 (23º ConBio), nos dias 13, 14 e 15 de dezembro, em São Paulo. Com o tema “Áreas de Atuação e o Mercado de Trabalho do Biólogo”, o Congresso deste ano abordará três campos considerados promissores para os profissionais da Biologia: produção e desenvolvimento; biotecnologia; e controle de pragas urbanas. A ideia é aprofundar cada uma des-
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sas áreas, compartilhando experiências de quem já tem uma carreira consistente. Para cumprir esses objetivos, a nova edição do ConBio será menor que as anteriores. “Nosso evento estava ficando grande demais. Chegamos a ter quase 1.500 congressistas por edição. A pauta também estava muito abrangente. Por isso, sentimos a necessidade de redimensioná-lo”, explica Celso Luis Marino, conselheiro do CRBio-01. “Num primeiro momento, nós deixamos de fazer o Congresso anualmente – agora, ele é realizado em anos alternados. Nossa meta atual é torná-lo mais focado, menos disperso. Para tanto, pretendemos ter, no máximo, 200 participantes”, esclarece. O modelo escolhido para organizar os conteúdos do Congresso foi o de painéis, conferências e minicursos. “No total, teremos três conferências, cinco painéis e três minicursos”,
esclarece Edison Kubo, que também integra o Conselho do CRBio-01. A conferência de estreia ficará por conta de Carlos Alfredo Joly, que discutirá a interface entre ciência e política. Com a experiência de quem atua na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), ele discorrerá sobre o papel da plataforma intergovernamental da Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos. Coordenador de Biota da Fapesp, Joly tem capitaneado pautas
Celso Luis Marino, Conselheiro do CRBio-01
importantes, como a da necessidade de se equacionar a estruturação de um sistema de manejo de fauna silvestre, com a definição de protocolos que assegurem a detecção precoce de problemas ambientais.
Biotecnologia e inovação No mesmo dia – 13 de dezembro –, Paulo Lee Ho comanda a segunda conferência, cujo tema é “Biotecnologia”. “Pretendo discutir, com a comunidade, o papel que temos e as oportunidades presentes no desenvolvimento da biotecnologia e da inovação biotecnológica, no Brasil e no mundo”, ele informa. “Acho fundamental que o conceito de evolução seja aplicado à nossa profissão. Temos que evoluir, pensar no futuro e na inclusão de mudanças na formação do nosso profissional, para que ele esteja melhor adequado aos novos desafios”, acrescenta. Segundo Ho, são poucos os profissionais dotados de experiência na área de inovação tecnológica. “Pretendo mostrar as lições que aprendi ao longo da minha vida profissional, no âmbito do Centro de Biotecnologia e também como Diretor da Divisão BioIndustrial do Instituto Butantan”, ele explica. A terceira e última conferência do evento também acontecerá no primeiro dia do 23º ConBio e terá como palestrante o professor e orientador do Programa de Pós-graduação em Biotecnologia da Universidade Federal de São Carlos Euclides Matheucci Jr. “Estamos vivendo uma era de revolução no campo do diagnóstico e o Biólogo tem um papel fundamental nesse processo”, assinala Marino. Matheucci abordará o tema “Diagnóstico Molecular Aplicado à Medici-
Estudantes de Ciências Biológicas em Congresso promovido pelo CRBio-01
na Personalizada”. Além da conferência, Matheucci ministrará o minicurso “Biologia Forense” e atuará como mediador no Painel sobre “Diagnóstico Molecular Aplicado ao Transplante de Medula”, que acontecerá no último dia do evento e será dirigido pelos especialistas Rodrigo Francisco e Roberta dos Santos Pereira. O segundo dia do Congresso será dedicado a outro tema cada vez mais
relevante ao universo dos Biólogos: a produção de alimentos. Em um mundo que requer a harmonização entre o equilíbrio ambiental e a produção de alimentos em escala suficiente para atender à demanda de sete bilhões de pessoas, essa discussão é essencial. “Será uma boa oportunidade de desmitificar a questão do mundo dos negócios e a preservação ambiental”, Out/Nov/Dez 2017
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comenta Geraldo Guilherme José Eysink, sócio da HC2 Reflorestamento e da HCEnergy-Holambra Clean Energy, que desenvolve projetos para o uso de energias sustentáveis, como a solar, eólica e biomassa. “É perfeitamente possível conciliar preservação e desenvolvimento, desde que sejam incorporados importantes e novos paradigmas”, ressalta o especialista. “Ao promover essa conciliação, o Biólogo tem uma grande chance de mudar o atual quadro de degradação ambiental”, ele completa. Eysink defende que a exploração da fauna e da flora de uma maneira “consequente e consciente” permite agregar valor a cada espécie: “As plantas e flores, por exemplo, movimentam milhões de dólares no mundo e têm sido uma das formas interessantes de se conhecer com mais profundidade as espécies, seu ambiente etc. Por mais antagônico que isso possa parecer, é justamente a procura por
“A biotecnologia traz as ferramentas para se fazer uma exploração apropriada e responsável e me parece um caminho interessante e promissor para que realmente possamos cumprir o nosso papel de Biólogos”
essas informações que vem motivando e, principalmente, tem dado mais subsídios à preservação do meio ambiente”, argumenta. “A biotecnologia traz as ferramentas para se fazer uma exploração apropriada e responsável e me parece um caminho interessante e promissor para que realmente
Conferências, painéis e minicursos fazem parte da programação do 23º ConBio
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possamos cumprir o nosso papel de Biólogos na preservação da biodiversidade”, arremata o palestrante. Ele promete apresentar dados que motivem os Biólogos a repensar a sua forma de atuação.
Sinantrópicos na mira No país que se vê às voltas com doenças que deveriam estar relegadas ao passado – tais como malária, leishmaniose e dengue – o painel que abre a programação do segundo dia do 23º ConBio é da maior importância. Com a palavra, estarão Sérgio dos Santos Bocalini, da Associação dos Controladores de Vetores e Pragas Urbanas; o vice-presidente do CRBio-01, Luiz Eloy Pereira, também consultor técnico da Fundação Nacional de Saúde e pesquisador científico do Instituto Adolfo Lutz; Paulo Roberto Urbinatti, pesquisador do Departamento de Epidemiologia da
O prêmio homenageia a Bióloga Bertha Lange de Morretes, falecida em 2016
Santos Tutui comenta: “Os Biólogos estão presentes em diversas etapas dos esforços de inovação, que abrangem desde produtos baseados em biotecnologia até a gestão de recursos ambientais. É importante auxiliar esses profissionais a entenderem melhor as novas legislações, que impactam os processos de inovação”.
Minicursos simultâneos
Bióloga Bertha Lange de Morretes
Faculdade de Saúde Pública (FSP); e Fábio Moreira da Costa, especialista em Entomologia Urbana e Meio Ambiente. Cada um deles, dentro de sua especialidade, falará sobre combate a pragas sinantrópicas, sua interface com a saúde pública e seu manejo integrado à conservação do meio ambiente. O papel do Biólogo no contexto atual da sustentabilidade ambiental, bem como seu trabalho frente à expedição de licenças e os desafios em torno da conservação da fauna aquática também serão discutidos no segundo dia do Congresso. “O aquecimento global e as consequentes mudanças climáticas colocam um tremendo desafio para a humanidade”, pondera o ambientalista Delcio Rodrigues, que tem
formação em Física e está a frente do Global Strategic Communication Council (GSCC). “ Não é só a climatologia que precisa observar, documentar e projetar as mudanças. Essas necessidades técnico-científicas se estendem para uma grande gama de ciências, inclusive a Biologia. As mudanças do clima acarretam desafios crescentes à segurança alimentar, impactam a fauna e a flora, provocam eventos climáticos extremos como furacões, inundações e secas... Tudo isso precisa ser debatido”, ele observa. No último dia do evento, serão realizados os painéis “Biologia, Produção & Desenvolvimento” e “Diagnóstico Molecular Aplicado ao Transplante de Medula”. Sobre o primeiro tema, o mediador Sérgio Luiz dos
“Biologia Forense”, “Licenciamento Ambiental” e “O Biólogo e a Vigilância em Saúde” são os três minicursos que acontecerão, simultaneamente, no dia 14 de dezembro. “O Biólogo tem competências e habilidades para elaborar os estudos ambientais pertinentes ao licenciamento de empreendimentos potencialmente poluidores ou utilizadores de recursos naturais”, expõe José Milton Longo, que ministrará o minicurso relacionado ao tema. “Além de identificar os possíveis impactos ambientais, ele pode dimensioná-los e propor medidas de mitigação e monitoramento”, completa. “Optamos por esses assuntos porque estão fortemente ligados às novas oportunidades de trabalho dos Biólogos”, pontua Edison Kubo. “Outros pontos altos do Congresso serão as apresentações dos trabalhos científicos e a entrega do Prêmio Bertha Lange de Morretes”, lembra Marino. O prêmio contempla os melhores trabalhos científicos realizados por graduandos e pós-graduandos, com as mais diversas abordagens em Ciências Biológicas e áreas afins. “Bertha Lange, alemã radicada no Brasil, foi pioneira da Biologia em nosso país”, ressalta Marino.¤ Out/Nov/Dez 2017
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GRANDES BIÓLOGOS BRASILEIROS
Paulo Lee Ho, pesquisador científico do Instituto Butantan, há mais de 30 anos se dedica à Biologia
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pesquisador científico Paulo Lee Ho concluiu seu bacharelado em 1984 pelo Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de São Paulo (USP). Nesse período, ele já se ocupava como técnico do Laboratório do Instituto de Química, sob orientação do professor Ângelo Geraldo Gambarini, com quem poucos anos depois viria a fazer doutorado em Fator de Crescimento de Fibroblasto (é uma molécula que controla a proliferação celular). Em 1992, o Biólogo também passou seis meses nos Estados Unidos, estudando na Universidade de Columbia, onde foi buscar mais conhecimento sobre toxinas recombinantes.
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Em mais de 30 anos de dedicação à carreira de Biólogo, Ho já possui mais de 130 artigos publicados, índice H=31, patentes no Brasil e no exterior. Recebeu também honrarias como a Medalha de Ciência e Tecnologia do Governo do Estado de São Paulo pelo sequenciamento do genoma da fitobactéria Xylella fastidiosa (2000), Medalha de Excelência em Desenvolvimento Farmacêutico pela Academia de Ciências Farmacêuticas (2016), Medalha Albas Lavras da Associação de Pesquisadores Científicos (APqC) do Estado de São Paulo (2016) e Prêmio de Pesquisador Senior pela Biotech Space. O especialista ainda se dedica à edição de artigos científicos para
a revista Plos One, publicada pela Public Library of Science. Disponível apenas na internet, a revista dedica-se especialmente a pesquisas primárias de disciplinas ligadas às áreas da ciência e medicina. Mas sua carreira é marcada especialmente pelo trabalho no Instituto Butantan, um dos principais produtores de vacinas e soros no país e que conta com diversos grupos de pesquisa na área biomédica. Por oito anos, Ho assumiu o cargo de diretor do Centro de Biotecnologia, e nos últimos quatro anos, foi o diretor da Divisão de Desenvolvimento Tecnológico e Produção. Embora não esteja mais atuando como diretor, continua
a trabalhar como pesquisador da instituição. Recentemente, o Biólogo iniciou a coordenação de um projeto para o desenvolvimento e a produção de uma vacina contra o zika vírus, em parceria com o Instituto de Ciências Biomédicas da USP. Um dos resultados deste acordo entre as duas instituições é o trabalho conjunto para o desenvolvimento de um teste para o diagnóstico sorológico da infecção por zika vírus, que poderá ser usado para diagnosticar pessoas que foram infectadas no passado e que já tenham eliminado o vírus do organismo. Desenvolvido integralmente com tecnologia nacional, o teste busca auxiliar no atendimento a gestantes e a recém-nascidos, assim como outras pessoas com suspeita de infecção. Para este trabalho, ficou a cargo do Instituto Butantan a produção de antígenos em larga escala.
De acordo com o Biólogo, o avanço desse projeto diminuiu em função da queda do número de casos de pessoas infectadas. “Mas percebemos que o zika é só a pontinha do iceberg. Além do zika, ainda podem surgir outras arboviroses. Então, hoje, o que estamos tentando fazer é criar uma plataforma de resposta rápida para o desenvolvimento de vacinas. Do ponto de vista de segurança do país, essa é uma demanda muito importante em saúde pública”, alerta o pesquisador. ¤
A carreira de Paulo Lee Ho é marcada especialmente pelo trabalho no Instituto Butantan, um dos principais produtores de vacinas e soros no país e que conta com diversos grupos de pesquisa na área biomédica
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Destaque
Laboratório - um campo em expansão Trabalhar com análises clínicas é promissor e estimulante; profissionais da área compartilham suas experiências e garantem: vale a pena seguir esse caminho Por Silvia Lakatos
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s Biólogos têm capacitação para trabalhar na área laboratorial e, graças à sua formação, podem lidar com uma ampla gama de desafios: diagnósticos biológicos, moleculares e ambientais (o que pode envolver coleta e análise de amostras, realização de ensaios, emissão de laudos e diagnósticos etc.); análises clínicas, citológicas, citogênicas e patológicas; preparação de amostras; operação de instrumentos e equipamentos de análise; controle de qualidade de processos, interpretação de resultados e emissão de laudos; e, aconselhamento genético. “A Biologia é uma carreira que permite seguir várias ramificações e isso a torna especialmente promissora”, assinala a Bióloga Regina Paloschi Munhoz, que desde 1991 tem seu próprio laboratório, em conjunto com uma médica patologista. “Hoje, eu atuo principalmente com a parte de gestão técnica e administrativa. Mas, ao longo do caminho, foi fundamental obter capacitação em outras áreas, como Gestão de Qualidade, Triagem Neonatal e Erros Inatos do Metabolismo”, ela explica. “Também fiz especializações em microbiologia, parasitologia, genética e ecologia”, acrescenta. Regina é um exemplo de Bióloga que enxergou, no campo das análises clínicas, uma forma de empreender. Ela percebeu um nicho que tem tudo para crescer ainda mais, pois a demanda por laboratórios de análises clínicas vem aumentando exponencialmente no Brasil. A mais recente Pesquisa de Assistência Médico-Sanitária (AMS), realizada pelo IBGE em 2009, apontou Out/Nov/Dez 2017
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Destaque
Mas o Biólogo é fundamental nas análises clínicas, pois ele é versátil e tem condições de se sair bem em diferentes áreas de atuação
O Biólogo Rogério Arcuri
a existência de 16.657 laboratórios de análises clínicas no país – um número 32% maior do que o observado no levantamento anterior, de 2005. Atento a essa movimentação, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) divulgou, em 2015, o guia intitulado Como Montar um Laboratório de Análises Clínicas. Nele constam informações sobre a estrutura necessária para o laboratório incluindo respectivos equipamentos, funcionários e exigências legais específicas.
Aprendizado constante Um dos aspectos mais instigantes do trabalho com análises clínicas é a constante renovação das expertises e possibilidades. Pelo menos, essa é a opinião de Biólogos atuantes na área. “Quando comecei a trabalhar, era tudo
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manual”, relembra Marinez Aparecida Amaral, diretora Técnica de Saúde I, do Laboratório Regional de Saúde Publica de Bragança Paulista (SP). “Hoje, temos equipamentos como o GeneExpert para realizar o PCR, o teste rápido para tuberculose que consiste basicamente na extração do DNA do bacilo causador da doença. Em apenas duas horas, o equipamento libera o resultado. Se for positivo, a máquina já faz o teste de sensibilidade à rifampicina, que é a medicação mais usada no tratamento de tuberculose”, prossegue a Bióloga, que tem 40 anos de profissão. Regina Munhoz corrobora a opinião de que este é um campo em constante evolução – e, portanto, rico em desafios e oportunidades: “A cada dia, trabalhamos mais com células, genes, enzimas. E é incrível a rapidez com que podemos acessar os novos conhe-
cimentos e nos comunicar”, ressalta. “Gosto muito do que faço, mas o grande desafio foi sempre fazer uma análise bem estratificada dos problemas, para obter um resultado assertivo. Isso demanda muito estudo, muito trabalho, muito cansaço. É importante que saibamos que isso faz parte do ‘pacote’, e que traz muita realização”, esclarece. Já o Biólogo Rogério Arcuri, proprietário e responsável técnico do laboratório Centermed, em Casa Branca (SP), enxerga o campo da Biologia molecular como “cada dia mais acessível e indispensável, ideal para impulsionar a carreira de novos profissionais”. Ele, que também leciona no Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos (Unifeob), em São João da Boa Vista (SP), conta que optou pela área por absoluta vocação. “Sempre fui fascinado por fisiologia, imunologia, genética, Biologia molecular, microbiologia, parasitologia e patologia. Trabalhando com análises clínicas, consigo unir todas as minhas afinidades”, enumera Arcuri. “Aprendemos coisas novas dia após dia”.
Conquista de espaço Segundo Arcuri, os profissionais historicamente mais vinculados ao campo das análises clínicas, tais como farmacêuticos e biomédicos, tendem a olhar com certa desconfiança para os Biólogos que enveredam por essa seara. “Mas o Biólogo é fundamental nas análises clínicas, porque ele é versátil e tem condições de se sair bem em diferentes áreas de atuação”, defende Arcuri. “Em vista disso, precisamos cada vez mais nos unir, para ganharmos força e respeito no mercado de trabalho”. Para Marinez Amaral, a excelência no trabalho é o melhor meio de conquistar espaço – mas ela admite que, estando na área de Saúde Pública, muitas vezes enfrentou dificuldades para cumprir essa meta. “Sou concursada e atuo em um órgão estadual, o que impõe a necessidade de
adequar-se às situações que surgem”, comenta. “Já trabalhei com exames de rotina e exames voltados para saúde publica. Saber adaptar-se é fundamental”, afirma. Ainda de acordo com Marinez, “desde que os estudantes e recém-formados tenham verdadeiro amor e vocação por esse tipo de trabalho, vale a pena optar por ele. A medicina evolui e cada vez mais necessita de exames complementares. A atuação dos Biólogos é, cada vez mais, imprescindível”, ressalta. O número de Biólogos atuando com análises clínicas em todo o país não
para de crescer e a tendência é que aumente ainda mais. “Como professor de Patologia e Análises Clínicas, sempre incentivo meus alunos, mostrando o quanto é magnifico e gratificante essa área de atuação do Biólogo. Acredito que o campo das análises clínicas é de extrema importância para o avanço da medicina e o Biólogo, com todo o panorama de sua formação, tem muito a contribuir”, conclui Rogério Arcuri. ¤
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Cultivo de
empreendedores Em Holambra (SP), surge a primeira faculdade destinada a formar tecnólogos especializados na produção de flores, verduras e plantas verdes
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aculdade das Flores: o nome soa poético, mas é apenas um apelido para a Faculdade de Agronegócios de Holambra (Faagroh). Lançada oficialmente durante a 24ª edição da Exposição Técnica de Horticultura, Cultivo Protegido e Culturas Intensivas (Hortitec), um dos principais encontros do gênero da América Latina, que aconteceu em junho deste ano, nasceu com a missão de qualificar profissionais especificamente para essa vertente do agronegócio – o cultivo, em larga escala, de flores, plantas verdes e verduras, produção de sementes e desenvolvimento de biotecnologia. “Hoje, o setor de plantas tem um alto valor de negócios no Brasil, e Holambra representa cerca de 65% de toda essa comercialização”, explica o diretor da Faculdade, Geraldo Eysink. “Não dispúnhamos, na própria região, de profissionais qualificados – falo de Biólogos, agrônomos e áreas afins – em quantidade suficiente para
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atender à demanda, e isso vinha nos impondo a necessidade de ‘importar’ mão de obra qualificada”, ele esclarece. Foi para suprir essa lacuna que o Centro Universitário de Jaguariúna (Unifaj) criou a Faagroh. Segundo Eysink, que é Biólogo com mestrado em Ecologia Aplicada, o curso foi criado para estimular o surgimento de novos empreendedores. “Nosso viés é comercial. Porém, acreditamos que, se o aluno não tem conhecimento tecnológico e de Biologia suficiente para lidar com os desafios desse negócio, ele não terá sucesso”, observa. Inovadora no objetivo e no conteúdo, a “Faculdade das Flores” também
traz aos alunos uma nova maneira de aprender: “as disciplinas são transversais, ou seja: uma depende da outra. A partir dessa premissa, as aulas e a forma de ministrá-las são um pouco diferentes”, constata o diretor.
Formação de tecnólogos Justamente por nascer vinculada ao mercado, a graduação na Faagroh – que é reconhecida pelo Ministério da Educação (MEC) – pode ser concluída em 2,5 anos. “Nós formamos tecnólogos em Culturas Intensivas, com uma grade disciplinar essencialmente prática”, resume Eysink. Ele relata que na aula de Geo-
Biólogo Geraldo Eysink, diretor da Faculdade das Flores
logia, por exemplo, os alunos aprendem sobre as diferenças dos solos e os nutrientes; depois, o professor de Botânica explica a importância da qualidade dos solos e mostra que algumas plantas se desenvolvem melhor num tipo de solo (substrato) do que em outro. Na aula de química, são mostrados os métodos de análises dos nutrientes e explicado o conceito de Ph. Finalmente, o professor de matemática, ao ensinar estatística, demonstrará a diferença no crescimento das plantas, e os estudantes constatarão que aquelas espécies semeadas no solo de substrato reco-
Hoje, o setor de plantas tem um alto valor de negócios no Brasil, e Holambra representa cerca de 65% de toda essa comercialização mendado na aula de botânica obtiveram um melhor desenvolvimento. Além disso, como se pretende formar empreendedores é fundamental que, além do aspecto técnico, os alunos absorvam os conteúdos relativos
às estratégias de negócios. “No Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), o formando deve comprovar sua capacidade de desenvolver projetos comercialmente viáveis”, informa o diretor. “Por isso, economia, liderança e cooperativismo estão entre as disciplinas que ele irá cursar”. Para ingressar na Faagroh, basta ter concluído o Ensino Médio e ser aprovado no vestibular da instituição. O Enem também é válido como ferramenta de acesso. “Nessa primeira turma, iniciada no mês de agosto, estamos com 42 alunos. Só temos, por enquanto, período noturno. Além Out/Nov/Dez 2017
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acontece
disso, realizamos atividades extracurriculares, como visitas técnicas e cursos, sempre aos sábados e domingos“, conta Eysink.
Parcerias e novas ideias Geraldo Eysink conta que a Faagroh já tem parcerias firmadas com empresas dos setores de culturas intensivas, hidroponia, sementes, flores e plantas diversas. “Um dos exemplos é o Veiling, aqui em Holambra, maior mercado de flores da América Latina. Temos também acordos com universidades da Holanda e Espanha, a fim de promover intercâmbio”, explica. Para o Biólogo, porém, o fato de a faculdade ter uma proposta essencialmente focada no empreendedorismo não diminui a importância do seu papel em um contexto mais amplo, de uso racional do meio ambiente. “Acredito na educação, na capacitação, na tecnologia e na ética. Devemos entender as interações que existem, as interdependências. No Brasil, há cerca de 46 mil espécies de flores. Devemos dizer não à exploração extrativista insustentável e buscar modelos tecnologicamente viáveis”, ele defende. “Aliás, estou convicto de que essa é a melhor forma de preservação da biodiversidade: conhecer, de fato, o clímax de cada espécie e reproduzir esse ambiente numa estufa por meio de meristemas, por exemplo.” E novas ideias estão para surgir em breve: “temos planos de oferecer outros cursos, e, também, pós-graduação”, ele anuncia. “No que depender de nós, essa árvore dará muitos frutos”, finaliza, bem humorado.¤
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Faculdade das Flores: as disciplinas • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •
Botânica Aplicada ao Agronegócio Ciência de Solo e Substrato Matemática Aplicada ao Agronegócio Química Aplicada Horticultura Topografia / Agrimensura Comunicação e Relacionamento Interpessoal Produção de Mudas Frutíferas / Florestais Administração no Agronegócio Ecologia Agrícola Inglês Uso, Manejo e Conservação do Solo e da água Fisiologia Vegetal Hidrologia Paisagismo e Jardinagem Agrometereologia (Climatologia Interna) Técnicas de Redação e Comunicação Hidroponia Economia Rural Administrativa no Agronegócio Agrosilvicultura Construção de Estufas e Viveiros Irrigação e Drenagem Olericultura Adubação / Fertilização Controle Químico, Bactericidas e Fungicidas Entomologia e Fitopatologia Aplicada Cultura de Tecidos - Meristemas RH, Saúde e Segurança no Trabalho
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Gestão Financeira no Campo do Agronegócio Processamento e Conservação Informática Aplicada Propagação de Plantas e Mudas Plantas Medicinais, Aromáticas e Condimentares Floricultura Manejo de Pomares e Fruticultura Planejamento de Projetos e Orçamentos Legislação Agroindustrial / Ambiental Projetos Arquitetônicos e Instalações Mecanização Agrícola Produção de Mudas de Flores, Plantas, Hortaliças e Medicinais com ênfase em Agronegócios Optativa TCC 1 Cooperativismo e Associativismo Automação Tecnológica Agrícola Silvicultura Logística Agro-Industrial Processos Gerenciais, Organização & Métodos Gestão Ambiental Manejo de Sementes Formação de Preços e Marketing Mét. e Técnicas de Pesquisas Agroindustriais TCC 2
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CFBio dispõe de uma ferramenta para regulamentar as atividades profissionais de empresas que atuam no ramo da Biologia: o Termo de Responsabilidade Técnica (TRT). Segundo resolução do Conselho divulgada em 2007, toda pessoa jurídica que preste serviços ligad, como seu Responsável Técnico”. “O Responsável Técnico é a ga-
rantia de que aquela empresa está de acordo com a legislação e com os interesses da sociedade”, afirma Horácio Manuel Santana Teles, coordenador da Comissão de Orientação e Fiscalização do Exercício Profissional do CRBio-01. “A fuentos que a área da Biologia e seus profissionais são valorizados e ganham credibilidade. ¤
ECOS DA PLENÁRIA
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188ª Sessão Plenária do CRBio-01, que ocorreu no final do mês de outubro, em São Paulo, trouxe a apresentação de algumas novidades que estão sendo implantadas para melhorar o atendimento aos profissionais. Uma delas é a efetivação de novas contratações, resultantes do concurso público realizado pelo órgão. Algumas sugestões também foram apresentadas para agilizar e facilitar o atendimento aos Biólogos, como a implantação de um sistema de telefonia por ramais, permitindo o acesso direto ao setor de interesse dos profissionais. Também foram discutidas a implementação de um sistema de gravação, além de um sistema de protocolo e de um manual de procedimentos.
ANUNCIE NA REVISTA
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Biólogo
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A realização do 23º ConBio – Congresso de Biólogos do CRBio-01, na capital paulista, em dezembro, foi outro assunto do encontro. A organização do evento confirmou que todos os palestrantes já confirmaram presença e mandaram o resumo de suas apresentação no evento (leia mais sobre o 23º ConBio na página 4). Participaram da 188ª Sessão Plenária o presidente do CRBio-01, Eliézer José Marques, o vice-presidente, Luiz Eloy Pereira, e os conselheiros Edison Kubo, Celso Luis Marino, Maria Saleti Ferraz Dias Ferreira, Iracema Helena Schoenlein-Crusius, João Alberto Paschoa dos Santos, Horácio Manuel Santana Tele e Giuseppe Puorto. ¤
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O Biólogo Out/Nov/Dez 2017
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aRQUIVO DO BIÓLOGO
A fotografia faz parte da rotina de muitos Biólogos. Esta seção da Revista publica fotos curiosas, interessantes, significativas e inusitadas da fauna, da flora e de paisagens, captadas por Biólogos.
O registro de um Tesourão (Fregata magnificens) acompanhando barcos pesqueiros no litoral de Ubatuba, em São Paulo, foi feito pelo Biólogo Rafael Martos Martins durante uma aula de Biodiversidade em Ambientes Marinhos.
Durante o levantamento de avifauna em um fragmento de Mata Atlântica na Serra do Japi, em São Paulo, o Biólogo Diogo Pavan capturou a imagem do Garibaldi (Chrysomus ruficapillus).
A imagem da vegetação rasteira de um terreno do bairro Buenos Aires, na cidade de São José do Rio Pardo, em São Paulo, foi enviada pelo Biólogo Rildo Rodrigues de Melo Filho, que a batizou de “Segure firme”.
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