Ano XII - no 49 - Jan/Fev/Mar 2019
ISSN 1982-5897
o Biólogo Revista do Conselho Regional de Biologia - 1a Região (SP, MT, MS)
Responsável Técnico A importância dos Biólogos que trabalham em ONGs em manejo de fauna é reforçada por Resolução do CFBio Escorpiões Cresce o números de casos de ataques no país
Brumadinho A atuação do CRBio-04 em mais uma tragédia ambiental
Graziela Maciel Barroso A primeira grande dama da Botânica brasileira
TOME NOTA
O Biólogo
ÍNDICE
Revista do Conselho Regional de Biologia 1a Região (SP, MT, MS) Ano XII – No 49 – Jan/Fev/Mar 2019 ISSN: 1982-5897 Conselho Regional de Biologia - 1a Região (São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul) Rua Manoel da Nóbrega, 595 – Conjunto 111 CEP: 04001-083 – São Paulo – SP Tel.: (11) 3884-1489 – Fax: (11) 3887-0163 crbio01@crbio01.gov.br / www.crbio01.gov.br Delegacia Regional de Mato Grosso do Sul CRBio-01 Rua 15 de novembro, 310 – 7o Andar – sala 703 CEP: 79002-140 – Campo Grande – MS Tel.: (67) 3044-6661 – delegaciams@crbio01.gov.br Delegacia Regional de Mato Grosso - CRBio-01 Em breve novo endereço
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04 CFBio reforça importância de
O BIOLOGO Jan/Fev/Mar 2015
Biólogos que trabalham em ONGs com manejo de fauna
10 Grandes Biólogos Brasileiros:
Diretoria
03 Editorial
Graziela Maciel Barroso
14 A ameaça do Tityus serrulatus
18 Ecos da Plenária
19 Brumadinho
22 CFBio Notícias
23 Arquivo do Biólogo
EDITORIAL
Caros Biólogos,
A
experiência de alguns Biólogos que são responsáveis técnicos em ONGs (Organizações Não-Governamentais) que atuam com manejo de fauna é contada na matéria de capa desta edição da revista O Biólogo, que destaca a importância da Resolução Nº 496, do CFBio – Conselho Federal de Biologia. Com base em diversos preceitos legais já existentes, a nova Resolução determina que quaisquer empreendimentos utilizadores de fauna (seja doméstica ou silvestre, nativa ou exótica, terrestre ou aquática) que tenham Biólogos como responsáveis técnicos devem ser registradas no Conselho Regional de Biologia da respectiva área de jurisdição. A revista traz ainda uma matéria sobre o aumento dos ataques de escorpiões a pessoas em várias cidades do país. Só em 2018 foram registrados mais de 90 mil casos, com 99 vítimas fatais. Entre as causas desse fenômeno está o avanço desordenado da ocupação urbana, que pode estar levando à disseminação do Tityus serrulatus, mais conhecido como escorpião amarelo.
Abrimos também espaço para abordar a atuação do Conselho Regional de Biologia – 4ª Região (MG, GO, TO e DF) diante de mais uma lamentável tragédia ambiental provocada pela ruptura de uma barragem da mineradora Vale, que desta vez atingiu o município de Brumadinho, em Minas Gerais. Entre outras ações, o CRBio-04 envolveu-se nas iniciativas de assistência e redução de perdas logo após o desastre. Já na seção Grandes Biólogos Brasileiros, a revista traz a trajetória da Bióloga Graziela Maciel Barroso, considerada a primeira grande dama da Botânica brasileira. Ela ingressou no curso de Biologia quando já estava com 47 anos de idade, tornando-se mais tarde a maior catalogadora de plantas do país. Por fim, os leitores ainda podem conferir as seções Ecos da Plenária e CFBio Notícias. Boa leitura!
Eliézer José Marques Presidente do CRBio-01
Antes de Emitir a ART, consulte a Resolução CFBio no 11/03 e o Manual da ART.
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A importância dos Biólogos de ONGs que lidam com
manejo de fauna Com base em diversos preceitos legais já existentes, a Resolução Nº 496 do CFBio dispõe sobre a necessidade de registro no Sistema CFBio/CRBios das organizações que manejam a fauna POR SILVIA LAKATOS
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osane Farah, Tatiana da Silva Neves, Esdris Queiroz Lopes, Alexandre Fontes: quatro Biólogos unidos pela profissão e empenhados na busca de soluções para uma convivência mais harmoniosa entre os seres humanos e a fauna. Rosane é Bióloga Responsável Técnica e Gerente Operacional do Gremar – Resgate de Animais Marinhos, Organização Não-Governamental (ONG) dedicada à reabilitação de espécimes vitimizados. Tatiana é fundadora e coordenadora geral do Projeto Albatroz, ONG que realiza pesquisas no intuito de minimizar danos que os barcos pesqueiros do tipo “Espinhel” possam infligir às aves marinhas, especialmente petréis e albatrozes.
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Já Esdris e Alexandre atuam no Instituto de Biologia Marinha e Meio Ambiente (Ibimm), ONG focada em atividades de ensino e pesquisa, realização de cursos de extensão universitária e iniciativas científicas em parceria com órgãos públicos, universidades e empresas privadas. Sua missão, de acordo com o site da entidade, consiste em “transformar pessoas em cidadãos sustentáveis”. Além de cultivar objetivos semelhantes, os quatro Biólogos escolheram caminhos parecidos: todos eles atuam em ONGs. E estas, segundo determina a Resolução Nº 496 do Conselho Federal de Biologia (CFBio), estão agora legalmente obrigadas a contar com Biólogo na função de Responsável Técnico e a se registrar no Sistema CFBio/CRBios.
Conformidade com as normas da profissão Na visão do Biólogo Horácio Teles, coordenador da Comissão de Orientação e Fiscalização do Exercício Profissional (Cofep) do CRBio-01, todo trabalho, mesmo que seja voluntário, precisa ser exercido com o máximo de seriedade e rigor técnico. “Por isso, o Biólogo que atua em ONG deve atender a todas as exigências legais vigentes, seja ou não remunerado pela função que desempenha naquela organização”, declara. Teles destaca que as ONGs executam papel relevante no Brasil e no mundo. “Justamente por isso, elas precisam realizar trabalhos com garantia de qualidade e ser chanceladas pelos Conselhos profissionais relacionados aos seus nichos de atuação”, explica.
Seguindo essa lógica, o coordenador do Cofep vê com bons olhos a edição, pelo Conselho Federal de Biologia (CFBio), da Resolução Nº 496, que dispõe sobre a necessidade de registro dos empreendimentos utilizadores de fauna no Sistema CFBio/CRBios. Com base em diversos preceitos legais já existentes, a nova Resolução determina que quaisquer empreendimentos utilizadores de fauna (seja doméstica ou silvestre, nativa ou exótica, terrestre ou aquática) que tenham Biólogos como responsáveis técnicos, devem ter seu registro no Conselho Regional de Biologia da área de sua jurisdição, nos termos previstos em Resolução específica do CFBio. A Resolução define ainda que o Biólogo, na qualidade de Responsável Técnico, é o profissional legalmente habilitado para atuar nas diferentes atividades relacionadas à fauna, incluídas as áreas de meio ambiente e biodiversidade, saúde, biotecnologia, produção e educação. “Ou seja, mesmo nas ONGs, o Biólogo que exercer o papel de responsável técnico deve estar corretamente registrado no órgão profissional de sua região”, enfatiza Teles. “Acredito que isso elevará a qualidade da atuação das organizações”, acrescenta.
Mesmo nas ONGs, o Biólogo que exercer o papel de responsável técnico deve estar corretamente registrado no órgão profissional de sua região
Salvando vidas Em 2009, quando faltava um ano para se formar em Biologia, Rosane Farah tornou-se estagiária no Zoológico de Guarulhos (SP). “Foi ali que desenvolvi meu trabalho de conclusão de curso, sobre enriquecimento ambiental com mamífero aquático. No caso, lontras”, ela recorda. “No ano seguinte, ingressei como volun-
Biólogo Alexandre Fontes Jan/Fev/Mar 2019
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Bióloga Rosane Farah
tária no Gremar, onde permaneço até hoje e assumi a função de Bióloga Responsável Técnica e Gerente Operacional”, relata. “Durante essa jornada, a fim de adquirir mais experiências, realizei trabalhos em outras instituições estrangeiras, principalmente na África do Sul, Estados Unidos e Austrália”. Embora esteja no Gremar há quase uma década, Rosane considera que suas experiências foram bastante diversificadas: “Passei por diversas áreas técnicas, como manejo nutricional, hídrico e sanitário na reabilitação de animais, além de ações de resgate e contenção”, descreve. “Também aprendi sobre bem-estar animal, monitoramento ambiental, pesquisa científica, gerenciamento
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de resíduos sólidos, educação ambiental e sobre a área organizacional e administrativa”, enumera. Atualmente, Rosane é responsável por gerenciar todas essas áreas, fiscalizando e acompanhando diariamente ações que envolvem o resgate do animal até sua reintrodução ao habitat natural. “Por se tratar de um Centro de Reabilitação de Animais Marinhos e Silvestres, existe uma alta rotatividade de espécies diferentes, o que exige atenção redobrada”, garante. Como exemplo dessa diversidade de espécies atendidas – e, consequentemente, dos desafios –, Rosane relembra o resgate de um filhote de golfinho da espécie Pontoporia blainvillei, popularmente conhecida como toninha, que encalhou no município
de Peruíbe, em 2015. “Foi necessário acompanhar o animal durante 24 horas e a cada episódio de medicação e alimentação, os técnicos envolvidos naquele trabalho tinham de cumprir uma série de protocolos relativos à contenção e ao manejo”, narra. “Após 82 dias, o animal estava apto para soltura. Este foi o primeiro caso de sucesso de reabilitação de um golfinho desta espécie, e, também, a primeira soltura no mundo”, comemora. Rosane faz questão de destacar que a operação deu certo justamente porque os profissionais envolvidos eram capacitados e conheciam os hábitos da espécie, sua distribuição, os cuidados com transporte e todos os demais aspectos que tornaram possíveis sua reabilitação e soltura. “Até
Além de trazer maior credibilidade ao profissional, esse reconhecimento da qualificação permite que ele atue inclusive autonomamente, por meio da Anotação de Responsabilidade Técnica, em estudos e pesquisas ou projetos hoje, lembro-me da sensação incrível que foi vê-lo voltar ao mar e poder nadar livremente”, emociona-se. Capacitação, de fato, é um dos pontos fortes da organização: dos 39 colaboradores da instituição, 17 são Biólogos. “Eles atuam nas áreas de monitoramento de campo, resgate, manejo, reabilitação e educação ambiental”, diz Rosane. E, quanto à exigência de registro junto aos órgãos competentes, ela se mostra inteiramente favorável: “Além de trazer maior credibilidade ao profissional, esse reconhecimento da qualificação permite que ele atue inclusive autonomamente, por meio da Anotação de Responsabilidade Técnica, em estudos e pesquisas ou projetos, por exemplo.”
Em defesa de albatrozes e petréis “Brinco dizendo que nasci Bióloga”, comenta Tatiana da Silva Neves, que, desde a infância, jamais teve dúvidas sobre a vocação. Além do Bacharelado em Biologia, ela obteve Mestrado em Oceanografia Biológica pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e atua como coordenadora geral do Projeto Albatroz.
Tatiana, que também é fundado- lho do Projeto Albatroz”, esclarece ra da ONG, rememora o início desse Tatiana. Um passo importante, de acordo trabalho. “Em 1990, o Rogério Menezes, que fazia Mestrado na FURG e com a Bióloga, foi a criação do Proestudava a pesca do espadarte, che- grama de Observadores de Bordo do gou a Santos (SP) a bordo de um bar- Projeto Albatroz, realizado em 1995. co com espinhel. Ele levou alguns “O primeiro monitoramento em baralbatrozes e petréis mortos para co de espinhel foi feito por Andreas serem embalsamados no Museu da Kiekebusch, que, na época, cursava Pesca”, relembra. “Eu ainda cursava Ciências Biológicas na Universidade a graduação e adorava frequentar Santa Cecília, de Santos”, diz Tatiaaquele museu, acompanhar os tra- na. “A experiência foi um sucesso e balhos de taxidermia... Foi assim a ela seguiram-se várias outras”, inque, a partir daquele dia, eu comecei forma a coordenadora. Até hoje, o a saber sobre o grave problema de Programa está em plena atuação. “O captura acidental de aves marinhas Brasil tem uma frota pesqueira de porte, então eu vi a necessidade de em pescarias”. Daquele momento em diante, Ta- criar um projeto que resolvesse essa tiana decidiu que mergulharia nesse questão, para diminuir o impacto da tema. Por intermédio de Rogério Me- pesca sem prejudicar o pescador”, nezes, conheceu diversos mestres esclarece. “Em 2020, nosso trabalho de pesca dos barcos com espinhel completa 30 anos. No total, somos de Santos e começou a coletar dados que serviriam de ponto de partida para o Projeto Albatroz. Em 1993, Tatiana recebeu uma carta de John Croxall, um pesquisador do British Antartic Survey (Inglaterra), que é considerado “autoridade máxima” no assunto. “Ele me incentivava a seguir adiante, porque o Brasil é fundamental para a conservação dos albatrozes e, até então, não existiam sequer pesquisas sobre isso. Esse foi um grande impulso para fortalecer a ideia de que seria necessáAlbatrozes estão entre as vítimas acidentais de rio consolidar o trababarcos de espinhel Jan/Fev/Mar 2019
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20 colaboradores, dos quais dez são Biólogos, e acho fundamental que a ONG atue sempre em conformidade com todos os detalhes da legislação”, assegura Tatiana. De acordo com ela, a ONG tem CRBio institucional. “Sem as credenciais, não poderíamos sequer concorrer a certos editais, especialmente aqueles emitidos por instituições governamentais”, afirma. “Temos conquistado progresso com ações mitigadoras de riscos, boas para as aves; estamos presentes em cinco estados brasileiros e, recentemente, passamos a integrar o Acordo Internacional para Conservação de Albatrozes e Petréis”, orgulha-se.
Pesquisa e educação ambiental O Instituto de Biologia Marinha e Meio Ambiente (Ibimm) desenvolve e apoia projetos, pesquisas, educação ambiental e estudos em diversas áreas do conhecimento de humanos, animais e vegetais. Embora esteja sediado em Peruíbe, litoral Sul de
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São Paulo, atua em diversas partes do país e oferece cursos de extensão universitária e atividades científicas, por meio de parcerias com órgãos públicos, universidades e empresas privadas. O diretor e responsável técnico Esdris Queiroz Lima é Diretor e Responsável Técnico da instituição. Especialista em Biologia Marinha pelo CRBio-01 e mestre em Ciências da Educação, ele atualmente cursa Doutorado em Anatomia Veterinária na Faculdade de Medicina Veterinária da USP. “Acumulo 19 anos de atuação profissional nas áreas de Biologia, zoologia, Biologia marinha, taxidermia, educação, educação ambiental, osteologia e osteotécnica, e anatomia veterinária”, enumera. Sua chegada ao Ibimm ocorreu em 2009, mesmo ano da criação do Instituto. Ele logo assumiu a responsabilidade técnica (TRT) da ONG perante o CRBio-01, para poder atuar
na área de educação com atividades de extensão em Biologia geral e Biologia marinha. “O grande desafio foi montar cursos de qualidade e com profissionais qualificados”, relata o professor, que atualmente coordena os alunos de Biologia que participam de estágios curriculares obrigatórios e voluntários, por meio de parcerias firmadas com 25 universidades de todas as partes do Brasil. “Sou professor palestrante dos cursos de Biologia marinha, com foco em tubarões, raias, tartarugas marinhas, baleias, golfinhos e diversidade marinha, e atuo em projetos de pesquisa nas áreas de conservação de elasmobrânquios e tartarugas marinhas”, conta. “Também sou o curador da coleção cientifica do Museu do Mar, e represento a ONG em diversos conselhos, incluindo os da Secretaria Estadual do Meio Ambiente”. Tanto o presidente quanto o 1º secretário e o 1º conselheiro fiscal do Ibimm são Biólogos. Os profissionais da área também executam trabalhos em diversas áreas do Instituto, inclusive como professores de Biologia geral, Biologia marinha, zoologia, ecologia, entomologia e anatomia, disciplinas que ministram cursos agendados. Um dos Biólogos do Ibimm é Alexandre Fontes, especialista em Manejo de Animais Silvestres pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “Tenho como formação inicial Licenciatura em Ciências Biológicas e atuo como Biólogo desde 2012, nas áreas de Biologia, educação ambiental e zoologia, com ênfase em conservação e manejo da fauna envolvendo resgate e soltura”, descreve. “Atualmente, tenho a função de pesquisador e responsável
pela parte técnica na área de zoologia do Ibimm”, acrescenta. “Também ministro cursos sobre manejo de animais silvestres e exóticos; Biologia em geral; crocodilianos; ecologia e conservação; anfíbios e répteis; ecoturismo e estudo do meio”. Satisfeitos com suas trajetórias, Lopes e Fontes apreciam o fato de poderem trabalhar “livres de tédio”. Lopes, por exemplo, é muito atuante na parte de comunicação e já realizou programas em rádio e TV. “Para mim, o mais importante foi o trabalho no programa Radioatividade, da Jovem Pan”, ele assegura. “Eu fiz, para o Programa Radioatividade, a cobertura do acidente da barragem do Fundão, em Mariana (MG). Na época, o prefeito da cidade estava receoso de falar com a imprensa. Ele temia matérias sensacionalistas. Mas deu entrevista para mim, justamente por eu ser Biólogo”. Já os momentos preferidos por Fontes têm um “quê” de Indiana Jones. “Teve uma vez em que, durante
uma saída noturna que fazia parte da programação de um curso, avistei uma serpente (Corallus hortulanus), que não era encontrada naquela região já havia um bom tempo. Aproveitei a oportunidade para oferecer aos meus alunos a chance de conhecer, em seu habitat natural, um animal em risco de extinção”, recorda. “O fato de ter experiência em manejo permitiu que eu mostrasse o espécime aos meus alunos sem colocar o animal em risco”, salienta. Tanto Fontes quanto Lopes ressaltam que o registro no CRBio-01 é fundamental para atestar o preparo dos profissionais que atuam direta ou indiretamente com manejo de animais e que é “imprescindível” uma ONG que lida com fauna ter, em seus quadros, um Biólogo certificado na função de responsável técnico. “O Biólogo tem um trabalho bem amplo e precisa estar bem preparado”, enfatiza Lopes. “Essa preparação precisa estar regulamentada por um órgão que cuide de tudo relacionado a esses campos de atuação. A função
cabe justamente ao CRBio”, constata. “O registro é importante e merece ser obrigatório porque ele fiscaliza a competência de determinada pessoa e indica se ela está realmente apta a prestar um determinado serviço”, adiciona. Fontes concorda: “O registro no Conselho Federal de Biologia é um instrumento de valorização, orientação, formação e regulamentação ética da atuação e da fiscalização, com vistas, sempre, à melhoria da prestação dos serviços”, ele declara. “Acredito que todo profissional, ao se registrar nos órgãos relacionados à sua atividade, encontre uma assessoria apta a lhe oferecer capacitação profissional e segurança para a busca de uma atuação competente; seu público poderá contar com qualidade e satisfação no atendimento”, complementa. “Já tivemos casos em que universidades entraram em contato para saber se o profissional que ministrou os cursos e assinou os certificados está devidamente registrado no Conselho competente”, relembra Lopes. “Isso aconteceu porque, sem essa validação, os documentos não servem para avaliação de ingresso em programas de Mestrado ou Doutorado”, finaliza.¤ Jan/Fev/Mar 2019
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GRANDES BIÓLOGOS BRASILEIROS
Graziela Maciel Barroso Maior catalogadora de plantas e taxonomista do Brasil, foi somente aos 47 anos que ela ingressou em um curso de Biologia
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ilha de uma época em que a mulher era educada para casar, ter filhos e se tornar a “rainha do lar”, Graziela Maciel Barroso, nascida em 11 de abril de 1912 em Corumbá (atual Mato Grosso do Sul), seguiu esse script até os 30 anos de idade. Aos 16, casou-se com o agrônomo Liberato Joaquim Cardoso e, em razão da profissão do marido, morou em várias regiões do Brasil – que, na época, ainda era um país agrário, dando os primeiros pas-
sos para a industrialização. Aos 30 anos, com os filhos crescidos, viu-se surpreendida quando Liberato lhe perguntou se ela gostaria de voltar a estudar. Graziela assentiu e o marido passou a lhe ensinar Botânica em casa. “Meu marido foi o meu grande mestre”, disse certa vez a Bióloga. Pouco tempo depois, Graziela foi trabalhar como estagiária no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Prestou concurso para o cargo de naturalista e passou em 2º lugar, tornando-se a
Conhecida como a “primeira grande dama da Botânica brasileira”, ela foi eleita em 2003 para a Academia Brasileira de Ciência
primeira mulher concursada da entidade. A partir de 1946, ela trabalhou no local com Liberato, na área de sistemática botânica. Até então Graziela não havia feito curso superior, mas, apesar disso, ela tinha experiência e capacidade suficientes para orientar estagiários e mesmo mestrandos e doutorandos. Tendo ficado viúva em 1949, continuou seu trabalho orientando e ensinando. Em 1959, aos 47 anos, ingressou no curso de Biologia da Universidade do Rio de Janeiro, atual Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Em 1960, Graziela perdeu um filho, que era piloto, mas continuou seus estudos. Em 1973, aos 61 anos, ela defendeu sua tese de doutorado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), intitulada Compositae – subtribo Baccaridinae Hoffman – estudo das espécies ocorrentes no Brasil. Graziela tornou-se a maior catalogadora de plantas e taxonomista do Brasil. Publicou três livros, sendo que o mais conhecido, Sistemática de Angiospermas do Brasil, em três volumes – dois dos quais publicados somente após sua aposentadoria compulsória, em 1982 –, foi adotado em todas as universidades brasileiras e tornou-se uma referência internacional. Outro livro importante, Frutos
e sementes: Morfologia aplicada à Sistemática de Dicotiledônias, foi publicado em 1999. Graziela foi professora de Botânica e Chefe do Departamento de Biologia Vegetal da Universidade de Brasília (UnB) desde sua criação até 1969. Durante mais de 50 anos de atividade didática, foi professora de boa parte dos botânicos brasileiros. Conhecida como a “primeira grande dama da Botânica brasileira”, ela foi eleita em 2003 para a Academia Brasileira de Ciência. Sua posse, marcada para o dia 4 de junho daquele ano, não se concretizou porque ela faleceu no dia 5 de maio. Como homenagem, mais de 25 espécies vegetais identificadas nos últimos anos foram batizadas com seu nome, entre elas a Dorstenia grazielae (caiapiá-da-graziela), da família das moráceas (e da figueira) e a Diatenopteryx grazielae (maripreta). Perguntada certa vez sobre quais seriam as características de uma pessoa para estudar botânica, Graziela respondeu: “o principal fator é amor; é gostar do que se faz. Tem muita gente que acha a sistemática chata. Não: é a coisa mais linda você abrir uma flor, ver a morfologia de uma flor, procurar o nome dela, saber como ela vive e cresce”. ¤
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ACONTECE
Pequeno e letal Entenda como o avanço desordenado da ocupação urbana pode estar levando à disseminação do Tityus serrulatus, mais conhecido como escorpião amarelo, responsável por mais de 90 mil ataques no Brasil em 2018 POR SILVIA LAKATOS
Escorpião amarelo (Tityus serrulatus)
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crescimento desordenado das cidades está na raiz de inúmeras mudanças ambientais que, por sua vez, acarretam problemas de saúde pública. Um desses problemas, que, somente no ano de 2018, afetou 90 mil pessoas em todo o Brasil e fez 99 vítimas fatais (segundo dados do Ministério da Saúde), diz respeito aos ataques do Tityus serrulatus, mais comumente chamado de “escorpião amarelo”. Típica do Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste do Brasil, esta é a espécie de escorpião que mais causa acidentes graves. Reconhecê-lo é relativamente simples: pequeno, tem no máximo sete centímetros de comprimento; suas patas e a cauda são de cor amarelo-clara, enquanto o tronco é mais escuro. Entre os 3° e 4° anéis da cauda, o bicho apresenta uma espécie de serrilha – daí o uso do termo serrulatus. “Os escorpiões são animais pertencentes ao filo Arthropoda e, juntamente com aranhas e carrapatos, formam o grupo dos aracnídeos”, ensina o Biólogo Giuseppe Puorto, membro do CRBio-01 – Conselho Regional de Biologia – 1ª Região (SP, MT e MS). E de que maneira o avanço desordenado da mancha urbana resulta no aumento da população desses animais peçonhentos? Giuseppe Puorto explica: “Na natureza, o Tityus serrulatus alimenta-se de insetos, como besouros e gafanhotos. Mas, conforme as cidades avançam, diminuindo a cobertura vegetal, eles passam a buscar abrigo e alimento nas áreas ocupadas pelas pessoas”. Estas,
explica Puorto, costumam levar consigo dois problemas: o acúmulo de restos de construção, tais como madeiras, tijolos e telhas, e os resíduos orgânicos, que servem de alimento para as baratas. “Ora, nesses restos de material de construção, os escorpiões encontram abrigo; e as baratas servem de alimento para eles. Com isso, criam-se as condições ideais para a sobrevivência e proliferação dos escorpiões”, diz o Biólogo. De hábitos noturnos, os escorpiões costumam ficar escondidos durante o dia. Puorto ressalta, ainda, que o aumento médio da temperatura resultante das alterações climáticas pode também estar contribuindo para essa expansão populacional dos escorpiões: “O calor é favorável para os insetos que servem de alimentos para os escorpiões. Portanto, quanto mais se multiplica a população dos seus ‘alimentos’, mais o Tityus serrulatus encontra as condições perfeitas para sobreviver”, assinala.
Conforme as cidades avançam, diminuindo a cobertura vegetal, eles passam a buscar abrigo e alimento nas áreas ocupadas pelas pessoas
Crescimento geométrico A reprodução desse aracnídeo pode se dar tanto pelo acasalamento entre machos e fêmeas quanto por meio da partenogênese, ou seja, pela produção de filhotes sem que haja fecundação do óvulo, o que permite a multiplicação de qualquer escorpião que tenha atingido a maturação sexual. Nesses casos, portanto, os filhotes serão clones de suas mães. O período de gestação é de cerca de três meses. Durante o parto, a mãe eleva o corpo e faz uma espécie de “cesto” com as patas dianteiras,
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enquanto se apoia nos membros posteriores. Esse “cesto” funcionará como um tipo de berço para os filhotes, que, ao nascer, sobem no dorso da mãe e ali permanecem até que ocorra sua primeira troca de pele, o que se dá em mais ou menos duas semanas. Depois de trocar de pele, os escorpiões se separam e seguem suas vidas de maneira independente. Até atingirem o tamanho final e se tornarem aptos a procriar, os escorpiões trocarão de pele algumas vezes. O fato de gerar filhotes por partenogênese facilita a dispersão do Tityus serrulatus, que, inclusive, pode competir com outras espécies de escorpião pelos mesmos recursos e ambientes, levando-as ao desaparecimento, pois nenhuma é tão adaptável quanto esta.
Prevenção e primeiros socorros A melhor maneira de combater o Tityus serrulatus é por meio da prevenção. “O Brasil tem uma certa cultura de acúmulo”, observa Puorto. “Quando as pessoas terminam uma construção ou reforma, raramente se desfazem do material que sobra. Preferem armazenar tudo – tijolos, madeiras, telhas, blocos...”, – prossegue. “O pior é que costumam deixar esses itens empilhados num canto e nunca se lembram de removê-los para limpar o locais. É preciso mudar esse comportamento, procedendo à higienização constante desses materiais e dos locais onde se encontram guardados”, alerta o Biólogo. “Do mesmo modo, é preciso proceder ao descarte correto do lixo orgânico.
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Escorpião marrom (Tityus bahiensis)
Mantê-lo tampado, jogá-lo fora em sacos de lixo bem fechados e conservar o quintal limpo, sem acúmulo de folhas, frutas caídas de árvores ou qualquer outra coisa que possa servir de alimentos para baratas e insetos em geral”, explica Puorto. O Biólogo fala da responsabili-
Em caso de picada, não se deve entrar em pânico, nem seguir conselhos de leigos
controle de zoonoses sempre que um escorpião for encontrado num imóvel. “Os técnicos de zoonoses possuem o conhecimento adequado para eliminar as infestações desses e outros animais peçonhentos, e de orientar o munícipe”, tranquiliza o especialista.
Como a peçonha atua?
dade coletiva na luta contra o Tityus serrulatus: “Não adianta você fazer tudo corretamente, providenciar até a dedetização do seu imóvel, se os seus vizinhos não adotarem os mesmos procedimentos”, esclarece. “É por isso que, do mesmo modo que ocorreu no combate à dengue, a
sociedade toda precisará se unir em torno desse objetivo. Vejo a importância de Poder Público e população atuarem juntos nessa questão”, ele salienta. Puorto enfatiza, ainda, que é recomendável acionar o órgão de saúde pública responsável pelo
Se, em 2018, 90 mil pessoas foram picadas, por que apenas 99 morreram? “O veneno do escorpião, como o de qualquer animal peçonhento, pode agir de forma diferente em diferentes pessoas”, informa Puorto. “É por isso que as crianças constituem o principal grupo de risco, seguidas pelos idosos: seus organismos, em geral, são mais frágeis”, ele avisa. “Em caso de picada, não se deve entrar em pânico, nem seguir conselhos de leigos”, ele adverte. “O correto é lavar o local com água e sabão, para evitar infecção secundária, e ir em busca imediata de socorro médico. No hospital, serão tomadas as providências apropriadas”, assegura o Biólogo. Puorto comenta que todos os escorpiões produzem peçonha de efeito neurotóxico, isto é, que atua sobre o sistema nervoso da vítima. A picada causa dor intensa. A ação neurotóxica da peçonha age sobre o bulbo (medula oblonga), região do encéfalo que controla os movimentos respiratórios, cardíacos e peristálticos. No caso do veneno do Tityus serrulatus, a ação é específica sobre o bulbo controlador da respiração, o que leva à morte por parada respiratória.¤ Jan/Fev/Mar 2019
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ECOS DA PLENÁRIA
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as últimas plenárias realizadas por conselheiros do CRBio-01, destacou-se o anúncio oficial da realização do 24º ConBio – Congresso de Biólogos, de 5 a 7 de junho, na cidade de Dourados (MS). Com o tema “Áreas de atuação profissional e o Biólogo empresário”, a programação do evento, que será distribuída entre a Universidade Federal de Grande Dourados e a Universidade de Estadual de Mato Grosso do Sul, terá painéis, conferências, rodas de conversa com especialistas e minicursos, além do Concurso Berta Lange de Morretes e do Concurso de Fotografia. Entre outros pontos discutidos e defendidos pelos presentes nas plenárias, foi ressaltada a necessidade de ao menos 80% de aulas presenciais para os cursos de Ensino a Distância
ANUNCIE NA REVISTA
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Biólogo
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na área da Saúde. E, também, a implantação de um banco nacional de ARTs (Anotações de Responsabilidade Técnica), para garantir mais eficiência ao trabalho de fiscalização do Conselho, especialmente entre os profissionais que atuam com Registros Secundários. Sobre a prestação de contas do CRBio-01, referente ao exercício de 2018, a instituição segue operando no azul. Por fim, também mereceu atenção a atuação do Sistema-CFBio/CRBio pela aprovação do Projeto de Lei (1559/2019), que tramita no Congresso Nacional, cujo texto defende a atuação dos Biólogos em bioestética, ou seja, para procedimentos estéticos não invasivos. Até o fechamento desta edição, o PL aguardava pelo despacho do presidente da Câmara dos Deputados. ¤
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CRBio
Metodologia e rigor técnico para enfrentar tragédias Grupo de Trabalho instituído pelo CRBio-04 analisa tragédias resultantes das rupturas de barragens da mineradora Vale e propõe-se a sugerir ações para ocorrências desse tipo
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m 5 de novembro de 2015, rompeu-se a barragem de Fundão, em Mariana (MG), de propriedade da mineradora Samarco, prestadora de serviços à Vale. Vinte e oito pessoas morreram e, segundo estimativas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), 34 milhões de metros cúbicos de rejeitos foram lançados no meio ambiente. As estimativas oficiais,
porém, são mais otimistas que as da própria empresa: esta fala em 39,2 milhões, enquanto a organização não-governamental Greenpeace calcula nada menos que 50 milhões de metros cúbicos de rejeitos. Boa parte desse material percorreu 650 km de cursos d’água na Bacia do Rio Doce, até atingir o litoral do Espírito Santo. Pouco mais de três anos depois, em 25 de janeiro de 2019, a ruptura da Barragem do Córrego do Feijão,
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O Biólogo
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Washington Alves
CRBio
Calcula-se que entre 34 milhões e 50 milhões de metros cúbicos de rejeitos tenham sido lançados no meio ambiente
No caso de Brumadinho, há indícios de que a empresa alemã que expediu o certificado de segurança da barragem foi pressionada para fazer um laudo favorável
em Brumadinho (MG), ocasionou nova tragédia ambiental e humana – e, mais uma vez, deu visibilidade negativa à mineradora Vale. O mar de lama fez mais de 300 vítimas, das quais mais de um terço ainda não foi encontrado, e despejou 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos no
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meio ambiente, trouxe consigo um questionamento inevitável: por que essas tragédias não foram evitadas? Como impedir que outras barragens se rompam? “Não existem respostas fáceis para estas perguntas”, assegura o Biólogo Ricardo Motta Pinto Coelho, docente do Departamento de Geociências da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) e coordenador do Grupo de Trabalho (GT) formado pelo Conselho Regional de Biologia da 4ª Região (CRBio-04) com a finalidade de produzir um relatório com propostas de ações para esta e futuras tragédias. “No Brasil e no mundo, uma série de leis e regulamentos exigem providências e cuidados que, até onde pudemos avaliar, foram observados pelas empresas envolvidas. Ainda assim, os dois desastres não puderam ser evitados. Isso, em minha opinião, indica que os mecanismos de comando e controle de gestão de reservatórios que recebem rejeitos são insuficientes e falhos”, afirma o especialista.
Efetivamente, como o professor faz questão de observar, tanto em Mariana quanto em Brumadinho, havia laudos e certificados atestando a segurança das barragens. “Parece claro que esses documentos não estavam sendo redigidos de maneira fidedigna”, observa o professor. “Havia problemas ou de mensuração, ou de dados. E, no caso de Brumadinho, há indícios de que a empresa alemã que expediu o certificado de segurança da barragem foi pressionada para fazer um laudo favorável. As investigações deverão apontar o que ocorreu de fato”, ele acredita. Além disso, Ricardo Coelho pondera que o ideal seria haver mudanças na legislação, porque as mesmas companhias que vão atuar em atividades potencialmente impactantes para o meio ambiente – mineradoras, por exemplo – contratam as empresas responsáveis por atestar a segurança e a adequação ambiental do empreendimento, o que, em sua visão, compromete a independência dos laudos. Ele também lamenta
Alteamento a montante:
tecnologia de construção bastante utilizada nos projetos de mineração iniciados nas últimas décadas, e que foi utilizada tanto no reservatório I da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, como na barragem de Fundão da Samarco, em Mariana. Considerada, por especialistas, uma opção menos segura e mais propensa a acidentes, essa metodologia permite que o dique inicial seja ampliado para cima quando a barragem fica cheia, sendo que o próprio rejeito do processo de beneficiamento do minério atua como fundação da barreira de contenção.
que, no Brasil, o sistema judiciário seja suscetível a pressões e medidas protelatórias diversas. É importante ressaltar que o CRBio-04, que abrange os estados de Minas Gerais, Goiás e Tocantins, além do Distrito Federal, envolveu-se nas iniciativas de assistência e redução de perdas logo após o desastre. Dentre outras iniciativas, a instituição criou um banco de currículos de profissionais capacitados a atuar em situações emergenciais de resgate de fauna e enviou ofício a todos os órgãos ambientais, à Defesa Civil, à Prefeitura de Brumadinho e à empresa Vale, oferecendo o conhecimento técnico do Conselho e de seus profissionais para apoio nas ações de mitigação de danos.
Caminhos para a reversão A recuperação ambiental das áreas degradadas não é impossível, mas exige investimentos bilionários – literalmente: “Existem metodologias eficazes para reparar ou compensar os danos causados ao meio ambien-
te em uma tragédia dessas proporções”, assegura o professor Coelho. “Mas, só no caso do Rio Doce, esse investimento consumiria bilhões de dólares”, diz. “Estamos falando de procedimentos complexos, que demoram muitos anos, e até décadas, para apresentar resultados”, explica o docente, que defende o fim das chamadas “barragens de alteamento a montante” (veja quadro) e faz um alerta: “Qualquer barragem traz em si o risco de rompimento, e por isso todas devem ser continuamente monitoradas no quesito de segurança”. E acrescenta: “A construção de barragens que recebem rejeitos não pode acontecer em áreas periurbanas e urbanas densamente povoadas”. Segundo Geraldo Wilson Fernandes, professor titular do Departamento de Biologia Geral da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é importante não confundir restauração ecológica com a mera recuperação estética e paisagística da região impactada. “A prioridade precisa ser a volta das diversas di-
mensões funcionais do ecossistema”, esclarece. “O plantio de quaisquer espécies exóticas em ecossistemas degradados não tem nada a ver com recuperação ambiental”, salienta. “A cor verde de uma pastagem ou de uma monocultura de eucalipto não soluciona problemas ambientais, mas a visão superficial e equivocada acarreta sérios problemas ao meio ambiente e à sociedade”, lamenta. “A remoção de uma espécie invasora do ambiente pode custar milhões de reais”, informa. “Mesmo assim, milhares de hectares têm sido ‘restaurados’ com espécies exóticas e nocivas ao ambiente ao longo de infindáveis quilômetros de estradas em todo o país”, assevera Fernandes. De acordo com o docente, em muitas áreas degradadas pela mineração, taludes e pilhas de material estéril têm sido cobertos com coquetéis de espécies exóticas que, emboratenham condição de conter a erosão local, podem gerar efeitos exponencialmente mais nocivos para a biodiversidade e outros serviços ecossistêmicos. ¤ Jan/Fev/Mar 2019
O Biólogo
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Conselho Federal de Biologia
CFBio Notícias Ano VIII - Número 26 - 2019
CFBio
CFBio regulamenta atuação do Biólogo em Outorga de Direito de Uso de Recursos Hídricos O Conselho Federal de Biologia - CFBio editou a Resolução Nº 500/2019, que dispõe sobre a competência do profissional Biólogo como "responsável técnico em Processos de Outorga de Direito de Uso de Recursos Hídricos". A norma foi aprovada na 346ª Sessão Plenária Ordinária do CFBio, em 08 de fevereiro de 2019. A Resolução institui normas regulatórias para atuação tanto em âmbito federal quanto estadual, municipal e no Distrito Federal. No texto o CFBio reitera que o "Biólogo é o profissional técnica e legalmente habilitado para atuar em processos de Outorga de Direito de Uso de Recursos Hídricos, seguindo as diretrizes estabelecidas pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos - CNRH". De acordo com a Resolução, Biólogos podem exercer "Responsabilidade Técnica (RT), coordenação, execução, assessoria e demais atividades profissionais previstas no art. 3º da Resolução CFBio nº 227/2010, de forma autônoma ou em instituições públicas ou privadas, de acordo com a sua formação". Também está prevista a atuação em intervenções que alterem regime, potabilidade, quantidade ou qualidade dos corpos de água. Para a concessão da Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) referente à Outorga o Conselho Regional de Biologia (CRBio) deverá avaliar o currículo efetivamente realizado e a experiência do profissional. O Biólogo pode ainda se dedicar à educação continuada em instituições de ensino e pesquisa ou entidades como associações e conselhos profissionais a fim de complementar sua formação em áreas ligadas à gestão de Recursos Hídricos.
CFBio solicita tramitação de projetos de lei sobre piso salarial do Biólogo e produção de mudas e sementes
O presidente do CFBio, Wlademir João Tadei, encaminhou, no dia 11 de fevereiro de 2019, ofícios a deputados federais solicitando o desarquivamento e a tramitação de projetos de lei de importância fundamental para a profissão. Um dos ofícios foi enviado ao deputado Danrlei de Deus Hinterholz (PSDRS), autor do PL nº 5.755/2013, que “dispõe sobre a jornada, condições de trabalho e piso salarial dos biólogos”. A proposta trata de direitos trabalhistas dos Biólogos, a exemplo da jornada de trabalho, piso salarial, horas extraordinárias, adicional de insalubridade e de periculosidade, fornecimento de alimentação, remuneração de trabalho noturno e fornecimento de equipamentos de proteção individual. O outro ofício foi enviado ao deputado Ricardo Izar (PP-SP), autor do PL nº 3423/2012, que autoriza o Biólogo "a exercer a responsabilidade técnica pela produção, beneficiamento, reembalagem ou análise de sementes em todas as suas fases". A atividade é hoje restrita a engenheiros agrônomos e florestais. Os projetos foram arquivados automaticamente no fim da legislatura, em 31 de janeiro de 2019, conforme prevê o Regimento Interno da Câmara dos Deputados. Para que a proposição continue em tramitação, o autor precisa solicitar seu desarquivamento.
CFBio concede ao pesquisador Fernando Straube título de Biólogo Honorário
O CFBio concedeu o título de Biólogo Honorário ao pesquisador Fernando Costa Straube, indicado pelo CRBio-07 em reconhecimento pelos relevantes serviços prestados à sociedade nas áreas das Ciências Biológicas. A Sessão Solene foi realizada pelo CRBio-07 em 26 de novembro de 2018, em Curitiba. Straube é pesquisador de Ornitologia desde 1982, consultor editorial e de temas ligados à conservação da natureza e membro da Sociedade Brasileira de Ornitologia desde 1994. CFBio Notícias - Edição 26 - 2019 Informativo do Conselho Federal de Biologia - CFBio Criação: Diretoria do CFBio Editoração: - Comissão de Comunicação e Imprensa - Assessoria de Comunicação e Imprensa
CFBio realiza intervenção no CRBio-02
O CFBio decretou intervenção no Conselho Regional de Biologia da 2ª Região (CRBio-02), com afastamento imediato de sua Diretoria e de todos membros do Plenário do Regional, a fim de reestabelecer a normalidade administrativa e financeira e a continuidade dos serviços prestados. A Resolução Nº 499/2019, que decretou a intervenção, foi publicada no Diário Oficial da União no dia 1º de fevereiro. A intervenção foi aprovada, por unanimidade, na 6ª Sessão Plenária Extraordinária do CFBio, realizada no dia 30 de janeiro de 2019.
CFBio manifesta indignação com tragédia em Brumadinho e cobra punição dos responsáveis
O Conselho Federal de Biologia manifesta sua preocupação e indignação com o rompimento de barragem da mineradora Vale em Brumadinho, Minas Gerais, que ocorreu em 25 de janeiro de 2019, e cobra punição dos responsáveis por mais essa tragédia que deixa danos irreparáveis à população e ao meio ambiente. O CFBio tem acionado e mobilizado Biólogos das regiões afetadas com objetivo de mapear as dimensões do desastre e oferecer auxílio técnico no que for necessário. O CRBio-04, que atende o estado de Minas Gerais, se colocou à disposição do gabinete estratégico de crise formado pelo Governo para auxiliar com o conhecimento técnico de seus profissionais. Em nota, o Conselho Regional advertiu que o caso de Brumadinho, que aconteceu pouco mais de três anos após rompimento de duas barragens em Mariana e Ouro Preto, “transparece a incapacidade dos responsáveis em aprender com erros passados”.
Confira outras notícias de destaque
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CRBio-08, em Salvador CFBio participa de inauguração de Delegacia no DF e de entrega do Prêmio Mérito de Biologia à pesquisadora Rose Monnerat e ao ex-vice-presidente do CFBio Herbert Otto Schubart CFBio assume cadeira no Conselho Nacional de Saúde CFBio e CRBios manifestam preocupação com desistência do Brasil em sediar COP 25 Em ofício a Bolsonaro, CFBio manifesta preocupação com possível fusão de ministérios Mais informações no site: www.cfbio.gov.br
ACONTECE ARQUIVO DO BIÓLOGO
A fotografia faz parte da rotina de muitos Biólogos. Esta seção da Revista publica fotos curiosas, interessantes, significativas e inusitadas da fauna, da flora e de paisagens, captadas por Biólogos.
A imagem da jiboia (Boa constrictor) durante um trabalho de soltura em uma residência, na cidade de Presidente Venceslau (SP), foi captada pelo Biólogo Helder T. Stapait (CRBio 113438/01-D).
Considerado de uma espécie rara (Zoolea sp), o louva-a-deus unicórnio foi flagrado pelo Biólogo Álex Henrique Nascimento dos Santos no Parque Estadual do Aguapeí, na cidade de Nova Independência (SP).
Mais conhecido como cachorro-do-mato, este canídeo (Cerdocyon thous) foi visto pelo Biólogo Cleber Aparecido de Barros (CRBio 116499/01-D) em uma região da cidade de Aripuanã (MT).
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