EDUCAÇÃO E SOCIEDADE EM REDE UC 12010 Docente: Luísa Aires / Rocío Jiménez
PARADIGMAS DE APRENDIZAGEM E PEDAGOGIAS EMERGENTES NA SOCIEDADE EM REDE
Ana Leonor Couto Cristina Barcoso Lourenço Paula Pedroso
Janeiro de 2021
Ponto de partida
I – EM TORNO DAS PEDAGOGIAS EMERGENTES – ENTRE VÍDEOS E DIAGRAMAS Os três vídeos permitem aprofundar o conhecimento sobre o conceito de tecnologias e pedagogias emergentes (Linda Castañeda e Jordi Adell), ou seja, um conjunto de enfoques e ideias pedagógicas que aproveitam o enorme potencial das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). Considera-se que tanto a Pedagogia tem que acompanhar os momentos tecnológicos como o inverso. São, na verdade, ambos emergentes. Das 4 práticas / pedagogias referenciadas - ubíqua, digital, invisível e em rede - duas são abordadas nos vídeos: aprendizagem ubíqua (Búrbules) e invisível (Cobo).
Passemos ao primeiro: Vídeo 1 - Nicholas Búrbules - Aprendizagem ubíqua
Com a multiplicidade de estruturas tecnológicas existentes, torna-se evidente que as “bolhas de aprendizagem” não existem só em ambiente escolar, mas desenvolvem-se também em contextos informais como em nossas casas, no local de trabalho ou no café. Com a exploração de ferramentas tecnológicas portáteis, o termo e-learning que emergiu no final dos anos 80, evoluiu para o conceito de m-learning (mobile learning), referindo-se à aprendizagem ocorrida em dispositivos móveis. _____________________________________________________________________________ UC – Educação e Sociedade em Rede - ESR
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Tornando-se cada vez mais acessíveis e omnipresentes, estes aparelhos que começaram a ser procurados pela demanda das comunicações empresariais ou pela gamificação, depressa se tornaram parte do nosso estilo de vida, transformando a sociedade numa rede sem fios. (Hashemi, 2011)1. O m-learning veio sem dúvida facilitar e ampliar o alcance do ensino e da aprendizagem pois pode acontecer em qualquer momento e em qualquer lugar. Aparelhos como smartphones, MP3/MP4, tablets ou dispositivos de jogos, entre outros, transformam o contexto de aprendizagem num ambiente multifacetado, potenciando a colaboração e sociabilidade entre os aprendentes. Está presente, por exemplo, nas aplicações que descarregamos no nosso telemóvel. Damos o exemplo de uma que a Ana usa bastante - Duolingo (aplicação para aprender línguas). Os momentos livres, mesmo de 10 a 15min levam-na a fazer os jogos de palavras. Ela entra numa bolha de aprendizagem que se molda às suas necessidades e capacidades. A aprendizagem ubíqua extravasa as instituições escolares, desenvolvese numa multiplicidade de espaços informais, assenta na portabilidade e mobilidade do telemóvel, esse poderoso instrumento que existe no bolso das calças, e promove a interação - a colaboração interpessoal a qualquer hora e qualquer momento. Será o telemóvel, o dispositivo móvel por excelência, por si só, garante de aprendizagem? A Ana trouxe-nos a sua experiência pessoal com o mlearning para melhorar competências, no seu caso nas línguas. Mas não é essa a grande utilização que os jovens fazem do telemóvel e é tempo de o trazer para a sala de aula, transformando-o num aliado e não num objeto indesejado ou banido, e aproveitar as aprendizagens que através dele ocorrem em qualquer lado. Neste momento, para muitos professores, o telemóvel é um dispositivo essencialmente perturbador. Qual a razão? A mesma com que há 40 anos se faziam rabiscos no caderno, se escreviam poemas ou se atiravam papelinhos. A aula é aborrecida, o/a professor/a fala muito e o mundo no telemóvel é tão mais emocionante. 1
Hashemi, M., Azizinezhad, M., Najafi, V., Nesari, A.J., (2011). What is mobile learning? Challenges and capabilities. Procedia-Social and Behavioral Sciences, 30. 2477- 2481.
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Mas apesar do descrito, o telemóvel já é utilizado por muitos de nós na sala de aula e cada vez mais conforme as suas funções foram sendo mais abrangentes. Não só tem uma função educativa como relacional. Os alunos reagem muito melhor se assim for. Uma das coisas que sempre nos preocupou foi o papel disruptivo da abundância informativa no espaço escolar. Esta nem sempre é sinónimo de aprendizagem. Consideramos que é na gestão desta abundância que está a pedra de toque destas questões e por isso mesmo cabe ao professor/tutor a gestão com os estudantes deste excesso de informação, distinguindo com os alunos o "trigo do joio", ensinando a fazer essa distinção (literacia digital). A imediatez e rapidez no acesso à informação e o consumo da mesma não são sinónimos de aprendizagem, todavia, podem deixar um rasto, isto é, a semente para que estas possam emergir. Relembramos Castells e a dissonância cognitiva em que a cultura digital dos nossos jovens, choca com a nossa, a analógica da maioria dos adultos. A aprendizagem ubíqua deverá ser perspetivada no quadro da literacia digital, maximizando o uso dos meios digitais. O esquema da professora Rocío desmonta este aspeto, ao transformá-la em modelo pedagógico assente no aluno como centro da aprendizagem, nos seus processos metacognitivos, na sua capacidade de enfrentar situações e resolvê-las com eficácia e criatividade e na aprendizagem social e colaborativa. Em suma, há que repensar a atividade escolar e incluir novos ambientes de aprendizagem, encarando a aprendizagem não apenas como fonte de conhecimento, mas englobando também o seu sentido de aprendizagem coletiva cujas consequências potenciarão a motivação dos estudantes e cujo sentido se encontra explanado há muito nos diferentes tipos de educação, seja a distância, seja presencial.
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Vídeo 2 - Cristobal Cobo - Aprendizagem invisível. Como aprender além da escola?
O vídeo de Cristobal Cobo é, de certa forma, provocativo e disruptivo. Como aprender além da escola? Tendo por referente a aprendizagem invisível, refere a pouca abertura da escola, o seu conservadorismo e o encarar a tecnologia como adversário. "Desde pequeno tive de interromper a educação para ir à escola." (Bernard Shaw) "É um milagre que a curiosidade sobreviva aos sistemas formais da educação." (Einstein) A que juntaríamos, como exemplo atual e ídolo de milhões de jovens, a educação de Billie Eilish, o fenómeno da pop: “A abordagem de Billie Eilish à música reflete uma educação feita em casa, longe do modelo clássico de escola. Os pais, ambos atores de Hollywood, seguiram um método simples: deixá-la explorar cada ímpeto criativo, alimentando-os em vez de os dirigir. Billie sempre cantou.” O que estamos a fazer aos nossos jovens? As interrogações colocadas no vídeo: (i) como formamos os jovens que nasceram com a Internet? (ii) como os preparamos para a complexidade global? (iii) como aprendemos a aprender e como aprendemos a desaprender? (iv) como estimulamos a criatividade? São pertinentes e parece que continuamos (Portugal) a fazer mini experiências de inovações pedagógicas que constituem uma gota de água no oceano (mas preciosa apesar de tudo), retomamos aqui dois vídeos: Manuel Castells - Escola e internet: o mundo da aprendizagem dos jovens, porque enuncia magistralmente a dissonância cognitiva entre os jovens do mundo digital e os professores da cultura analógica… e Ken Robinson, porque acredita que as escolas continuam a matar a criatividade ao criticar, entre outros aspetos, a industrialização da educação.
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O pacto entre todos sobre a educação não é uma novidade, mas continua a ser adiado. Para Cristobal, o essencial hoje é invisível na educação formal, pois não está à altura dos desafios que a sociedade de conhecimento impõe. É neste contexto que não podemos cair no erro de desvalorizar aprendizagens em detrimento de outras, mas sim apelar a uma educação expansiva cujo foco é também em ferramentas para o trabalho e para as relações interpessoais.
Vídeo 3 - Linda Castañeda e Jordi Adell - Inovação Educativa no séc. XXI
O vídeo de Linda Castañeda e Jordi Adell é sobretudo informativo, no sentido que apresenta o conceito de pedagogias emergentes, as suas características e lugar na sociedade cada vez mais complexa. Desmonta a ideia de que educar é mais do que saber coisas (para isso podemos "googlar"), educar é capacitar, socializar e individualizar. Enfatizamos a expressão "tirar paredes da aula e mostrar a sociedade", promovendo a interligação entre as aprendizagens formais e informais, não esquecendo que aprender é emocionar, não aborrecer e ser apaixonante, assumir riscos e inovar. Inovar com recurso às TIC, às tecnologias emergentes. Através das palavras de Adell, percebemos a riqueza que existe no trabalho colaborativo e na criação de projetos abertos que englobam uma ampla diversidade de pessoas, ideias e aprendizagens. Quando múltiplos olhares convergem numa direção, só pode culminar numa experiência com qualidade e no florescimento de cada um dos participantes. Assumir os riscos e inovar é também uma forma de evolução e quando encontramos atitudes de resistência, estamos a negar a nossa própria aprendizagem. Albert Sangrà disse em entrevista ao LE@D “Mais vale mudar do que ser mudado”, pensamos que no fundo a resposta está aqui. A incorporação destes novos paradigmas pedagógicos será, mais tarde ou mais cedo, inevitável pelo que é preferível aceitar a mudança, aproveitando todo o seu potencial ao invés da sua recusa.
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Em suma, os vídeos apresentam questões já clássicas no processo de ensino-aprendizagem. Mantemos o modelo-fábrica nas escolas portuguesas e noutros Países Europeus. E porquê? Porque existe uma contradição tremenda entre os modelos que devemos utilizar nas práticas pedagógicas e os processos de certificação que exigem competências, digamos, formais. Há uma contradição entre o que se pede e a forma como se avalia e se certificam as aprendizagens. Claro que o mundo mudou e a forma como as pessoas, estudantes incluídos, aprendem. Claro que passou a existir uma valorização das aprendizagens informais (elas existem e é possível a certificação e validação das competências adquiridas ao longo da vida) e que dentro destas últimas, encontramos as chamadas aprendizagens invisíveis, mas não se deve desvalorizar os sistemas formais de aprendizagem, ou sequer o papel do professor como motor, orientador do desenvolvimento e potencial do aluno. Devemos, isso sim, trazer as escolas e os seus atores para o Sec. XXI. Os casos de autodidatismo e sucesso como o exemplo da criança relatado no vídeo de Cristobal, são raros. Quantas crianças no mundo conseguem, com 9 anos, criar um software? Cruzemos a importância das aprendizagens ubíquas, invisíveis, com a questão da personalização, pois o que parece estar aqui em causa é exatamente isto: personalização dos processos educativos, o que inclui aprendizagens ubíquas, valorização destas e das invisíveis. Contudo, o que continuamos a ter, seja na Educação presencial seja na Educação a distância, são processos de estandardização. E enquanto isto não for superado, os currículos não forem alterados, não forem abrangentes e respeitarem o ritmo e as capacidades de cada um, ou seja, a Persona, não saímos deste verdadeiro limbo. Uma mesma roupagem não serve a todos!
Personalização e Avaliação A emergência de novos paradigmas de aprendizagem deve estar em total sintonia com os seus processos de certificação. Urge a importância de _____________________________________________________________________________ UC – Educação e Sociedade em Rede - ESR
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incorporar as aprendizagens informais, pois elas mesmo podem ser constituintes do processo formal. A tentativa de réplica da pedagogia e dos métodos
avaliativos
tradicionais
em
ambientes
virtuais
é
totalmente
disfuncional. Deve sim, estar em coerência com o ambiente onde ocorre já que fomenta um processo de ensino e aprendizagem com outros pilares. A formação hoje, mais que nunca, deve ser alicerçada na adequação social e profissional, preparando as pessoas a responderem a determinadas situações, contextos e até profissões que ainda desconhecemos. A personalização dos processos educativos permite que se criem as condições para o desenvolvimento das competências transversais e isso incluiu a incorporação e valorização das aprendizagens ubíquas e invisíveis. As instituições devem assim adaptar estas ferramentas de aprendizagem ao contexto de cada um dos alunos, sem nunca deixar de estar atentas à nova “cultura em construção”. II – NAS NOSSAS EXPERIÊNCIAS PESSOAIS PROCURÁMOS AS PEDAGOGIAS EMERGENTES
Tendo como ponto de partida algumas das narrativas pessoais descritas no fórum baseadas em seis experiências individuais de aprendizagem na sociedade digital e na coletiva que nos une, a frequência deste curso de mestrado, procurámos refletir sobre elas à luz dos paradigmas de aprendizagem e pedagogias emergentes facultados. Será possível enquadrar as nossas experiências nas Pedagogias Emergentes? Este é o nosso ensaio. E neste ensaio concluímos que: 1. As nossas experiências pessoais percorrem o espetro dos vários paradigmas da aprendizagem, afigurando-se difícil alocá-las a um específico. 2. A maioria das avaliações (nas nossas experiências) ainda assenta nas competências formais. 3. A experiência no curso de mestrado é a que apresenta maiores ligações com a arquitetura das pedagogias emergentes. _____________________________________________________________________________ UC – Educação e Sociedade em Rede - ESR
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Em jeito de conclusão, consideramos que a História testemunha este desejo de mudança de modelos e paradigmas. Também sabemos que é muito difícil a alteração de práticas, mas somos a prova que esta é possível, como demonstra o nosso percurso individual revelador deste nosso desejo emergente de mudança.
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Narrativas baseadas em experiĂŞncias pessoais
Narrativas baseadas em experiências pessoais
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Narrativas baseadas em experiências pessoais
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