Postais de soldados das trincheiras

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Postais da Primeira Guerra Mundial

POSTAIS DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL TRABALHOS DE ALUNOS – 9ºD História - 2015-2016 1


Postais da Primeira Guerra Mundial

"Em época de paz, os filhos enterram os pais, enquanto em época de guerra são os pais que enterram os filhos." Heródoto, 484 a.C.-425 a.C.

No âmbito da evocação do centenário da Grande Guerra, solicitei aos meus alunos do 9º ano que procedessem a uma pesquisa sobre a vida dos soldados nas trincheiras, na frente ocidental, e escrevessem um postal ou carta a um familiar ou amigo. Para esta geração das mensagens no telemóvel e de missivas curtas nas redes sociais e correio electrónico, a construção de um texto coerente, ordenado e com um código preciso (escrever a data, local, saudação, dar informações relevantes, despedida…) revelou-se complicado pois muitos nunca fizeram esse ato tão banal da minha geração, que era/é escrever um postal ou uma carta. Este desafio envolveu ainda o desenvolvimento de aprendizagens associadas a capacidades/conhecimentos e atitudes/valores: Seleção de ferramentas e fontes de informação (impressas e digitais) a utilizar. Referenciação da fonte. Uso autónomo da biblioteca escolar e de bibliotecas digitais para trabalhar a informação. Uso de ambiente digital para partilhar a aprendizagem (plataforma moodle e livro digital). Manifestação de espírito de interrogação. Demonstração de iniciativa e criatividade na resolução de problemas. Refletir sobre a guerra. Valorizar os trabalhos escolares. Este livro digital é o resultado dos trabalhos que me foram entregues, independentemente do perfil de desempenho de cada aluno. É o resultado da sensibilidade, determinação e empenho de cada aluno. A ilustrar os textos encontramse postais da época e fotografias cuja fonte foi a excelente página no Facebook Centenário da Grande Guerra - da Liga dos Combatentes. Constitui ainda objetivo deste livro digital a divulgação junto dos pais e encarregados de educação e comunidade cibernauta os trabalhos produzidos pelos alunos, contribuindo para a valorização do que é feito no espaço escolar. Cristina Barcoso Lourenço, Montenegro, 14 de dezembro de 2015 2


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Índice 1.

De um soldado para a sua mãe, por Andreia Félix .......................................................................... 4

2.

O sargento Beátrice escreve a seus pais, por Beatriz Pires ............................................................. 5

3.

Um filho escreve à sua mãe, por Beatriz Ventura ........................................................................... 7

4.

Postal ao meu amor, Sophia, por Diogo Cavaco ............................................................................. 8

5.

De uma enfermeira para os seus pais, por Joana Pinto ................................................................ 10

6.

De um soldado para a sua mulher, por Jorge Barreiros ................................................................ 12

7.

De um general para a sua mulher, por Mariana Barão ................................................................. 13

8.

De um sargento para o seu pai, por Miguel Quintas .................................................................... 15

9.

De um soldado para os seus pais, por Patrícia Gaitinha ............................................................... 17

10.

De um general da infantaria farense para a sua amada Raquel, por Raquel Canário ................... 19

11.

Do soldado Richard para Sophia, sua mãe, por Ricardo Quintas .................................................. 20

12.

Do general Joroslaw para o seu amigo, por Rodrigo Silva............................................................. 21

13.

Do soldado Vasco Maria para os pais e irmã, por Vasco Farinha ................................................. 22

14.

Charles Kléber escreve a sua mãe, por Vera Mateus ................................................................... 24

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1.

De um soldado para a sua mãe, por Andreia

Félix 17 de setembro de 1915 Mãe, escrevo-te esta carta para te resumir como é a vida aqui nas trincheiras. Como deves imaginar tem sido uma vida desgastante. Digo-te que como soldado é bastante difícil conseguir sobreviver a todas estas coisas. Devo começar por dizer que a falta de higiene é grande e muitos já faleceram com doenças causadas pela mesma. A nossa alimentação é horrível, a maior parte é enlatada, a nossa ração diária é um pedaço de pão, alguns biscoitos, 200g de legumes e 200g de carne. Muitos dos soldados que aqui estão nesta guerra, por vezes, roubam comida dos bolsos de outros soldados devido à fome que têm. As trincheiras são muitas vezes autênticos lodaçais. Aqui ficamos meses a fio, lutando pela conquista de pequenos territórios. Tenho visto novas armas que tornam esta guerra ainda mais mortífera, como as metralhadoras, gases tóxicos, submarinos, lança-chamas. A vida nesta guerra enlouquece por vezes muitos de nós, chegando a haver situações em que alguns ferem-se a si próprios para poderem ser mandados para casa. http://www.prof2000.pt/users/avcultur/Postais3/Militaria/060_Militaria.jpg, Consultado a 14/12/2015

Para terminar um abraço do teu filho que te ama muito. 4


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2.

O sargento Beátrice escreve a seus pais, por

Beatriz Pires Sargento Beátrice 6ª Batalhão dos fuzileiros Franceses Região de Verdun, código 85497854 Leroy

Queridos pais Se estiverem a ler esta carta é porque não sobrevivi a esta dolorosa e longa batalha. Já lá vão 44 dias e nove horas nestas malditas trincheiras. A batalha, perto do rio Somme, não está a correr como previsto. O meu batalhão (agora sou do 6º batalhão dos fuzileiros reais) já sofreu demasiadas baixas. Estamos perdidos e cansados. O objetivo desta batalha era tentar aliviar a pressão dos alemães na região de Verdun, a cidade que fica perto da nossa antiga casa, para abrir caminho em território francês. Os alemães pressionam demais e não deixam contra atacar. O exército britânico já sofreu mais mortes que o nosso. Já começo a duvidar das razões que me levaram a participar nesta guerra. Sei que a repressão alemã ao nosso continente não poderia continuar, sei que lutamos pelos ideais que os nossos antepassados defendiam (Liberdade, Fraternidade e Igualdade) mas http://www.portugal1914.org/portal/pt/historia/iconografia/item/7641-viva-a-raca-

também estamos a lutar pela ganância mundial, pela hegemonia

portuguesa-viva-a-razao-e-a-justica, Consultado a 14/12/2015

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económica. Será que vale a pena perder a vida de tanta gente?

Fiz este desenho ontem com o carvão que encontrei na minha ala.

Começo a enfraquecer e deixo de acreditar que realmente vale a pena.

Esta é a imagem que vejo sempre que fecho os olhos. E eu queria ser

O meu batalhão recebeu hoje uma máquina nova, dizem que é um

artista, pai. Lembras-te como me disseste que artistas eram os

carro blindado capaz de aguentar a força de uma divisão de infantaria.

famintos que nada tinham para comer. Tens razão, sou um faminto

O tanque, pode ser que nos tire desta trincheira, embora não acredite

que nada tem que comer e que se agarra a um Deus inexistente. Não

que o faça. Nada parece conseguir romper a força bélica daqueles

há ateus aqui, não há ateus nesta trincheira.

malditos alemães. Organizam-se em dias, parece que as trincheiras deles são melhores que as nossas. No último confronto usámos as baionetas, sinto que a morte me ocupou o coração já não consigo sentir outra coisa senão ódio e vontade de matar. E fome, muita fome. Como podemos nós recuperar se não conseguimos sequer comer. A trincheira é húmida e fria, a comida é escassa, apenas sobra pão bolorento. Água nem vê-la, apenas quando chove, mas quando isso acontece a trincheira torna-se um pântano de fome, morte e miséria. As ratazanas fugiram das nossas trincheiras, eram a nossa última esperança...carne. Mas que animal ficaria a ver este horror? Houve uma tentativa frustrada de nos abastecerem de comida, o avião foi derrubado pelo morteiro minenwefer dos alemães.

Estamos no dia 12 de Setembro de 1916 aqui está frio.

Tento sempre tomar banho, para me sentir mais humano, a última réstia de humanidade parece estar num bocado de sabão. Que estupidez! 6


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3.

Um filho escreve à sua mãe, por Beatriz Ventura 13 de julho 1915

Mãe, estou a escrever-te para te relatar como é a vida na guerra. Começo por te dizer como são os nossos hábitos de alimentação. Por dia temos direito a pão, legumes e carne, normalmente a comida é enlatada. Todos nós, soldados, vivemos durante meses dentro das trincheiras, ou seja em valas abertas feitas por nós, que têm como principal objetivo o ataque e a proteção dos exércitos em dois blocos. A vida aqui não é nada fácil, muitos soldados, com o desespero, ferem-se a si próprios para serem mandados para casa. Durante a tarde temos alguns períodos de descanso e aproveitamo-los para ler ou jogar às cartas. Não fiques preocupada. Um beijo do teu filho.

http://www.portugal1914.org/portal/pt/historia/iconografia/item/3941-porta-bandeira-docorpo-expedicionario-portugues, Consultado a 14/12/2015

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4.

Postal ao meu amor, Sophia, por Diogo Cavaco Minha querida Sophia Bond

Querida mulher, Venho por este meio dizer-te que ainda estou vivo e cheio de saudades tuas e da nossa família. Conto os dias para estar ao pé de ti mas a guerra está a ser muito dura, muitos dos meus colegas foram mortos por bombas, gás ou armas, outros morreram com doenças como infeções, pé das trincheiras, etc. Os nossos aliados como já deves ter conhecimento são os Franceses, Ingleses, Russos, e juntos lutamos contra o inimigo, contra os alemães que são os mais duros de todos! As trincheiras são feitas aos ziguezagues e têm geralmente três frentes, eu estou na primeira frente. Não queria dizer isto, mas o teu irmão foi morto, porque deixou-se dormir no seu turno, quando uma pessoa deixa-se dormir no seu turno pode ser morto por uma arma de fogo. Eu não tinha noção que os animais nos poderiam ajudar na guerra, nas cargas, a transportar informações, na defesa a ataques de gás. Os ratos têm um nariz muito sensível que pode detetar o gás mais http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=09022.002.092, Consultado a 14/12/2015

rapidamente que um ser humano, os cavalos ajudam na carga de armamento, os pombos-correio a transmitir informações. 8


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Esta guerra tem coisas que eu nunca tinha visto, como os tanques e submarinos Na aldeia de onde viemos não havia nada disto! Quando todos os homens da aldeia foram chamados para a guerra pensámos que iria durar pouco tempo. Já se passaram 2 anos, isto é um martírio, estou desejoso de chegar a casa e abraçar-te como se não houvesse amanhã. A guerra começou em 1914, mas acho que vai durar mais tempo do que pensávamos. Nas trincheiras temos que fazer turnos enquanto uns dormem outros estão de vigia, entre nós e os inimigos há um local cujo seu nome é Terra de Ninguém de 30 a 200 mt, esse lugar era muito perigoso porque estava cheio de minas e arame farpado. Agora tenho de te deixar para ir tomar conta do meu posto, até breve meu amor. Beijos e abraços para todos e em especial para ti.

https://www.facebook.com/centenariogg.oficial/info/?tab=overview, Consultado a 14/12/2015

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5.

De uma enfermeira para os seus pais, por Joana

Pinto 14 de Novembro de 1915 Minha querida família, Estou a escrever-vos porque há muito tempo que não recebia correspondência vossa. Aqui na enfermagem da linha de apoio da guerra, tem havido imenso trabalho devido aos soldados feridos russos, nossos aliados. Relembro-vos que fui para a guerra porque achei que é bom podermos ajudar o nosso país. Aqui na guerra temos visto de tudo, se vocês imaginassem o tipo de armamento que aqui usam ficariam loucos: baionetas, lançachamas,

morteiros,

granadas,

pistolas,

revólveres,

rifles,

metralhadoras, tanques, armas químicas, gases venenosos, aviões de guerra, artilharia e navios e submarinos. Hoje o dia foi muito difícil pois muitos feridos vieram hoje das trincheiras e muitos com a doença “hespanhola “, que é mesmo muito difícil de tratar. Nós tentamos de tudo mas parece não ter resultado, já não sabemos o que fazer. http://www.portugal1914.org/portal/pt/historia/iconografia/item/7663-gloria-aos-aliadosviva-portugal-paz-salve-a-cruz-vermelha-viva-a-paz, Consultado a 14/12/2015

Hoje um soldado da linha de defesa veio cá ver um amigo e contou-me muito acerca das trincheiras, o quão são horríveis, alguns 10


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desses detalhes explicam muitas das doenças aqui presentes na enfermaria, sendo a falta de higiene o maior problema. A maior parte

Uma fotografia minha para se lembrar de mim.

da comida é enlatada , a porção diária do nosso exército só dá direito a um pedaço de pão, alguns biscoitos, 200 g de legumes e 200 g de carne. Para reabastecer o cantil com água, muitos soldados recorrem a poças deixadas pela chuva. Os corpos em decomposição, enterrados em covas rasas perto das trincheiras, atraem ratos, que invadem as trincheiras sem controlo. Além de transmitirem doenças, eles chegam a roubar comida dos bolsos dos soldados e a roer os corpos dos feridos! Com esta falta de higiene, os piolhos contagiavam a febre das trincheiras, doença contraída por mais de 10% dos soldados. Concluindo, as trincheiras são um verdadeiro inferno, tenho pena daqueles que lá estão e espero que esta guerra acabe de uma vez. https://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandra_Feodorovna#/media/File:Alix_h%C3%A1bor%C3%BA.

Espero que esteja tudo bem por aí,

jpg, Consultado a 14/12/2015

Muitos beijos e abraços, Sónia Petrova

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6.

De um soldado para a sua mulher, por Jorge

Barreiros França, 20 de Dezembro de 1916 Querida mulher. Espero que esteja tudo bem contigo e com os nossos filhos. Comigo está tudo bem. Isto aqui tem estado mau, vários colegas meus têm pé de trincheira. Temos passado fome e dormimos pouco. Milhares de soldados têm morrido ao avançar pela terra de ninguém, por gases tóxicos e explosões vindas de lançamento de granadas e de tanques, mas também pela falta de higiene. Ontem tentámos avançar pela terra de ninguém mas começou a ser muito arriscado pois havia pelo chão muitas minas e o arame farpado não nos deixava passar. Muitos morreram mas eu e mais alguns conseguimos escapar. No tempo em que não estamos a fazer nada jogamos às cartas ou aproveitamos para descansar, mas esse tempo não dá para nada porque nos nunca sabemos quando é que o inimigo ataca. O que me deixa mais triste no meio disto tudo é estar a chegar o Natal e eu não poder passá-lo convosco Beijos para ti e para os nossos filhos, feliz Natal. http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=09022.002.091, Consultado a 14/12/2015

Jorge 12


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7.

De um general para a sua mulher, por Mariana

Barão St. Quentin, 16 de Maio de 1917

Querida Michelle Minha amada esposa, envio-vos esta carta para que notícias minhas tenhais. Como deveis saber, a guerra não está fácil. Os alemães não se rendem de maneira alguma e os nossos soldados começam a ficar desesperados, pois as condições não são as melhores. Sei que muitos deles não queriam estar aqui, tal como eu, mas temos de afastar esta negatividade e enfrentar os campos de batalha com orgulho e esperança da pátria, porque estamos aqui por obrigação e amor à pátria francesa. Como sabeis, sou General e estou ligado à artilharia e não é tão simples como parece, ver os nossos soldados cansados e esfomeados enquanto confirmam o número de munições que se vai tornando escasso depois de cada ataque. É triste! Muitas das vezes, sem conseguir evitar, crio relações mais próximas do que devia. Sendo General tenho que assumir uma postura mais rígida para com os soldados e não ouvi-los lamentar. Mas por dentro de mim, como já me conheceis, tenho deles pena por saber que http://heritage.warwickshire.gov.uk/files/2013/12/8-CR4265_1-front.jpg, Consultado a 14/12/2015

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não deverão durar muito nas trincheiras ou quando vão combater até

ter direito. E os mantimentos que chegam levam uma eternidade a

à terra de ninguém.

alcançar o destino.

Ficámos todos mais animados quando soubemos que dia 6 de

A ausência de higiene traz-nos bastantes doenças, entre elas a

Abril os Estados Unidos tinham declarado guerra à Alemanha.

“febre das trincheiras”, que se está a espalhar entre nós. As

Estávamos iludidos com a ideia de que, com essa declaração, os

enfermeiras das linhas da retaguarda queixam-se de haver pouca

alemães se iriam render pouco tempo depois. Mas enganámo-nos.

gente e poucos recursos para tantos doentes, por isso mandámos

Ainda com esperança nos nossos corações, dia 16 de Abril decidimos

muitos dos feridos e doentes de volta para a casa. Eles aqui já nada

atacar a frente alemã. Todavia, esta não cedeu e por isso perdemos

podem fazer e nunca irão recuperar inteiramente.

muitos soldados. Mais dos que poderíamos. Muitos dos nossos

Muito lamento não ter boas notícias para lhe enviar. Guardo o

homens tentavam esconder a sua tristeza perante a perda de

seu perfume na minha lembrança e vou dando notícias para que

camaradas, mas era impossível.

saibais que estou vivo.

Como podeis imaginar tivemos de enterrar os corpos de

Pergunto-me como se encontram os nossos filhos e como tem

maneira rápida e eficiente, mas a única coisa que conseguimos foi

sido difícil educá-los sem a presença de um pai. Mas a guerra há-de

enterrar os corpos em meros buracos mal tapados. A nossa pior acção!

acabar e mantenho a esperança de em breve regressar a casa.

Porque estes buracos mal tapados trouxeram-nos tantos problemas e

Com amor,

prejudicaram-nos muito, pois o mau cheiro atraiu ratazanas e pragas,

Jean Pierre Beaumont,

infetando os nossos soldados e tornando a nossa estadia impossível.

General

Todos se queixam dos piolhos e dos ratos que lhes roubam a pouca refeição diária que se resume a: um bocado de pão, alguma carne e alguns legumes. Pior mesmo é ver soldados a beber água de poças sujas do chão que a chuva intensa nos traz. Estas nossas refeições não chegam para o nosso corpo cansado. Para o mínimo a que se deveria 14


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8.

De um sargento para o seu pai, por Miguel

Quintas William Smith 9314 Main Street East Lesting Olá Pai Desde que saí da América como voluntário para combater na guerra, tenho sentido muito a tua falta tua. Aqui todos pensávamos que a guerra iria acabar cedo e, como sabes, foi por esse mesmo motivo que decidi vir. Aqui na frente ocidental fui inserido na artilharia, como eu sou sargento não tenho tanto trabalho quanto as patentes mais baixas, mas é muito complicado organizar o meu pelotão! Aqui nas trincheiras, a nossa arma mais mortífera é o morteiro. As batalhas que travamos são horríveis, um cenário que ninguém devia ver, são tão sangrentas…! Após o barulho todo, gritos, tiros, explosões, há sempre um período de silêncio, a mim, não perguntei a opinião de outros soldados, deixa-me mais que nervoso. Nestas trincheiras não há lugar para medricas. As trincheiras são um lugar mesmo mau, não há higiene, e quando digo que não há, não há mesmo! Faz muito frio, há imensos ratos, pulgas, e a lama é o http://www.prof2000.pt/users/avcultur/Postais3/Militaria/059_Militaria.jpg,

menos dificulta tudo!

Consultado a 14/12/2015

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Outro problema grave é a imensa lentidão nos abastecimentos, deve ser difícil abastecer as trincheiras, mas sem os mínimos recursos, os soldados ficam bastante nervosos. Aqui vai uma foto minha, em grupo, com os soldados com que me dou melhor, quando voltar contote mais detalhadamente! Espero ver-te em breve. Grande Abraço!

http://www.pomegranate.com/aa862.html, consultado a 14/12/2015

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9.

De um soldado para os seus pais, por Patrícia

Gaitinha Queridos pais: A guerra é horrível, as trincheiras estão lamacentas e cheias de ratos. A comida é rara e a que há é muito desidratada e mal chega para todos. Têm morrido muitos camaradas de armas, aqui na Frente Ocidental.

Usamos como armas as minas, as metralhadoras e os

alemães mandam-nos gás tóxico. A vida tem sido muito difícil, pois as doenças como o pé de trincheira ou a febre das trincheiras vão aparecendo constantemente, os piolhos e as pulgas são insuportáveis quando nós queremos combater o inimigo e não podemos, pois a maldição dos piolhos e das pulgas não nos deixam fazer nada com a comichão. Os gases tóxicos vão-nos matando constantemente. Gases que corroem os órgãos vitais. Isto aqui é muito diferente do nosso mundo, da nossa cidade, da nossa aldeia. Isto aqui parece um matadouro e a terra de ninguém fica muitas vezes coberta de cadáveres de soldados mortos, pois não os conseguimos enterrar com os ataques constantes do inimigo. http://www.prof2000.pt/users/avcultur/Postais3/Militaria/054_Militaria.jpg Consultado a 14/12/2015

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Nós viemos para aqui servir o nosso país mas fomos enganados, pois pensámos que a guerra só iria durar alguns meses. É muito duro sobreviver nesta agonia pois não sabemos se isto algum dia vai ter fim. É tempo de Natal, é tempo de paz, mas nós aqui nem conseguimos dormir quando eventualmente temos tempo para descansar. Meus queridos pais, já tenho saudades vossas e dos vossos carinhos e até das comidas da mãe. Esperem com paciência a minha chegada, pois eu vou fazer o mesmo.

José do Mota

https://www.facebook.com/centenariogg.oficial/info/?tab=overview, Consultado a 14/12/2015

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10.

De um general da infantaria farense para a sua

amada Raquel, por Raquel Canário Faro, Portugal Rua Manuel Bivar, lote 5 Raquel Rodrigues 17 de julho, 1917 Minha querida amada Raquel, Venho por esta carta, contar-te como têm sido as minhas últimas semanas, enquanto como general da infantaria, aqui nas trincheiras da fronteira entre França e o sul da Bélgica. Como sabes, eu quero muito defender o que é nosso, o nosso património português, e é por isso que estou aqui, nestas condições miseráveis e a assistir a tantas batalhas frias e sangrentas, vendo morrer diariamente tanta gente inocente. O uso da arma Hotchkiss M1909 Benet-Mercie, tem posto muito dos nossos adversários em grande risco de vida, o que nos facilita o trabalho, mas a mim pessoalmente custa- me muito. Viver, morar e dormir aqui nas trincheiras, cheias de ratos, lama e condições muito lamentáveis e miseráveis é terrível. Não consigo descansar nem uma hora seguida com medo que me aconteça alguma coisa ou aos meus companheiros. http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=09022.002.093, Consultado a 14/12/2015

Cada dia que passa sinto mais a saudade do teu carinho, dos teus abraços e do teu amor. Voltarei em breve, Do teu amado Henrique 19


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11.

Do soldado Richard para Sophia, sua mãe, por

Ricardo Quintas 3 de dezembro de 1916 Frente Ocidental Fui chamado para a guerra como já esperávamos mãe e acabei por ficar na artilharia. As batalhas são horríveis… sabendo que podes morrer de um momento para o outro, vives sempre com medo. Só quero que acabe para poder ir ter contigo. As únicas armas que uso são uma espingarda com uma baioneta e algumas granadas. As trincheiras são um tormento, pois apanhamos muito frio e é uma barbaridade viver aqui, sem condições de higiene, sem me barbear ou mudar de roupa. Temos ratazanas e ratos por todo o lado. A comida é pouca e até nos virem abastecer passamos imensa fome, descansamos muito pouco, tendo em conta que acordamos de madrugada. Sinto-me como se fosse um prisioneiro de um sítio terrível, onde nos obrigam a fazer coisas de que nos arrependemos. Tenho bons companheiros, se isso te fizer sentir melhor. Espero http://www.worldwar1postcards.com/patriotism.php, Consultado a 14/12/2015

que nos voltemos a ver, Do teu querido, Richard. 20


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12.

Do general Joroslaw para o seu amigo, por

Rodrigo Silva Frente ocidental, 15 novembro de 1916 Olá caro amigo Espero que esteja tudo bem contigo e com a tua família. Estou a combater na frente ocidental pois apesar de ter nascido na Rússia os meus pais são franceses e apresentei-me como voluntário para ajudar a varrer os alemães da França. Apesar de ser general, a vida nas trincheiras também são muito complicadas para mim, pois passo frio e fome e, como deves imaginar, as condições de higiene são deploráveis e os animais, tais como ratos e pulgas são cada vez mais. Na semana passada sofreremos um ataque inimigo muito forte. Fiquei gravemente ferido, mas graças à enfermeira Nicole consegui sobreviver. Um abraço

http://www.ufunk.net/en/insolite/une-collection-de-vieilles-cartes-postales-de-la-premiereguerre-mondiale/ Consultado a 14/12/2015

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13.

Do soldado Vasco Maria para os pais e irmã, por

Vasco Farinha Queridos pais e irmã Espero que quando lerem esta carta esteja tudo bem de saúde. Neste momento estou colocado na Frente Ocidental como soldado de artilharia e quando vim tinha como intenção o meu dever patriótico, para que todos pudéssemos ter um futuro melhor. Mas agora apercebi-me que isto é totalmente diferente do que eu pensava! Tivemos que escavar as trincheiras que têm dois metros de profundidade e vários quilómetros de extensão. O grande problema das trincheiras têm é que quando chove fica tudo inundado, criando-se um “mar” de lama. Nós temos que combater, comer e dormir todos encharcados e isso impede-nos de aquecer. O cheiro a morte já é constante, como temos cadáveres em decomposição aqui por perto aparecem muitos ratos em busca de alimento. Também há falta de higiene e descanso. Não temos assim tantas horas de descanso por causa das constantes batalhas e por passarmos o tempo a escavar as trincheiras! Higiene não há porque sujamo-nos todos com a terra quando http://oldworldwar.com/2015/03/30/the-poilu-in-postcards/

estamos a combater e depois temos a lentidão dos abastecimentos

Consultado a 14/12/2015

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como: a comida enlatada mal chega para todos, a falta de tropas para nos substituir, pois a fadiga e a desmotivação de combater já é muita. A vida tem sido difícil aqui, nós queremos combater contra os Alemães mas os piolhos e as pulgas não deixam devido à comichão. Finalmente tivemos ordem para sermos substituídos mas fomos violentamente atacados pelo exército alemão que tem um armamento mais sofisticado e táticas de guerra mais avançadas. Felizmente consegui sobreviver a este ataque que matou vários camaradas meus. Houve alguns que ficaram prisioneiros, outros desertaram e alguns até se suicidaram. É o inferno na Terra para o Corpo Expedicionário Português. O sítio onde travámos esta batalha chama-se Vale de Lys. Espero ansiosamente rever-vos neste Natal. Um abraço e um beijinho para todos do vosso filho e irmão adorado.

Vasco Maria

Uma fotografia com os meus camaradas de armas. Conseguem descobrir-me? https://www.facebook.com/centenariogg.oficial/info/?tab=overview, Consultado a 14/12/2015

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14.

Charles Kléber escreve a sua mãe, por Vera

Mateus 10 de janeiro de 1915 Para Norma Kléber Rua: Lüderßstraße Nº11, Berlim

Minha amada Mãe: Escrevo esta carta, tal como a anterior, para a senhora saber que continuo vivo, e também porque é algo que me ajuda a passar o tempo quando nada se passa. Espero que esteja tudo bem por aí, pois não há melhor do que saber que embora aqui tudo esteja errado, a mãe aí está bem. Aqui tudo é difícil…Não durmo há dois dias pois os ataques começam, na sua maioria, de madrugada. No entanto, neste momento de calmaria, também não tenho vontade de fechar os olhos devido ao medo de ter de acordar para ver que mais uma dúzia de companheiros morreram ou ficaram feridos. Vim para aqui a pensar que voltaria rápido mas estou a ver que poderemos nunca mais nos ver… Sei que o Pai não ficaria orgulhoso de mim, pois decidiu que a guerra era algo a que ninguém se deveria submeter. Mas foi por ele que me alistei, e agora, como soldado faço parte da artilharia, de onde ele fez parte um dia. Aqui na frente ocidental todos os dias matamos quase cem soldados do exército inimigo que são mandados à terra de ninguém apenas com uma http://warwitness.e2bn.org/resource_37.html Consultado a 14/12/2015

espingarda, enquanto aqui utilizamos uma metralhadora… é uma 24


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carnificina. Eu, por acaso, não estou encarregue de ir à terra de

voltarmos a ver. Vou continuar a mandar cartas sempre que tiver

ninguém fazer a reparação de arames ou mesmo sair das trincheiras

oportunidade mas compreenda que até esta poderá ser a última.

para atacar o inimigo, o que é uma sorte pois da mesma maneira que

Com muito amor, Charles Kléber

nós os matamos a eles, eles matam-nos a nós. Mas não é apenas devido às armas, bombas e gás que vários soldados aqui morrem, Mãe… Todos os dias temos de lidar com piolhos, ratos, pulgas, arame farpado, cadáveres, para os quais temos de construir covas subterrâneas, soldados feridos e doenças. Neste momento maior parte dos nossos soldados tem doenças, como infeções ou febres, e a lentidão dos reabastecimentos faz com que maior parte deles não sobreviva. Já não temos roupa que nos proteja do frio pois a que tínhamos neste momento está coberta de lama que não a deixa secar. Ainda me lembro dos nossos jantares em família… tenho tantas saudades de ter uma refeição decente para comer. Aqui comemos muito pouco e tudo feito em cozinhas improvisadas onde temos a companhia de ratos à procura de comida como nós. Mesmo esta pouca comida também não me dá vontade de comer devido ao cheiro vindo dos amontoados de corpos dos meus companheiros mortos. Como pode ver, Mãe, é a isto que se resume a guerra e espero sinceramente que isto acabe e que consiga sobreviver para nos

http://webodysseum.com/history/studio-portraits-of-german-soldiers-wwi/, consultado a 14/12/2015

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Postais da Primeira Guerra Mundial

https://www.facebook.com/centenariogg.oficial/photos/a.779299635429809.1073741828.779259982100441/781707691855670/?type=3&theater, consultado a 14/12/2015

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Postais da Primeira Guerra Mundial

http://littlecrow.deviantart.com/art/WWI-75088398, consultado a 14/12/2015

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