F ICH A T ÉCN I C A
Coleção Património a Norte N.º 06 Título “TONGOBRIGA: COLETÂNEA DE ESTUDOS COMEMORATIVOS DE 40 ANOS DE INVESTIGAÇÃO”
Autores Ana Luísa Santos ; Ana Maria Dias Mascarenhas ; António Manuel Lima ; António Manuel S. P. Silva ; Elsa Paula Correia ; Filipa Cortesão Silva ; Filipe C. Silva ; Francisco Fernandes ; Inés López-Dóriga ; Jason Urbanus ; João Rebuge ; Jorge M. S. Martins Araújo ; José António Muñiz ; José António Pereira ; Katerina Thomas ; Lino Tavares Dias ; Manuel Araújo ; Rolf Winkes ; Susana Nunes Edição Direção Regional de Cultura do Norte – Ministério da Cultura Local de edição Porto Data de edição 2020 setembro ISBN 978-989-54871-0-3 Direção António Ponte Coordenação editorial Luís Sebastian Coordenação editorial (n.º 06) António Manuel Lima Fotografia Abel Roldão ; António Cabeço ; António Freitas ; António Manuel Lima ; Egídio Santos ; Fernando Honrado ; Filipa Cortesão Silva ; Filipe C. Silva ; Inés López-Dóriga ; Jason Urbanus ; Jorge M. S. Martins Araújo ; José António Muñiz ; José António Pereira ; Lino Tavares Dias ; Luís Correia ; Manuel Araújo ; Manuela Martinho ; Manuela Ribeiro ; Mary Winkes ; Ricardo Raminhos ; Rudolf Winkes Ilustração Álex Salmerón ; Ángel Veloso ; António Freitas ; César Figueiredo ; Charles Rocha ; Digivision, S.A. ; Edson Fogaça ; Filipa Cortesão Silva ; Inés López-Dóriga ; Jan Vallès ; Javier Torres ; Jorge M. S. Martins Araújo ; Thomas Urban Design gráfico Companhia das Cores, Lda.
Disponível online em www.culturanorte.gov.pt
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INDÍCE PATRIMÓNIO A NORTE
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EDITORIAL
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40 ANOS DE INVESTIGAÇÃO ARQUEOLÓGICA INVESTIGAÇÃO
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OS MISTÉRIOS LUMINOSOS DE TONGOBRIGA INVESTIGAÇÃO
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BROWN UNIVERSITY AT TONGOBRIGA INVESTIGAÇÃO
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BROWN UNIVERSITY: COLLABORATIVE EXCAVATIONS AND STUDIES INVESTIGAÇÃO
63
ESTUDOS ARQUEOBOTÂNICOS INVESTIGAÇÃO
81
AS CREMAÇÕES ROMANAS NA PERSPETIVA DA ANTROPOLOGIA INVESTIGAÇÃO
99
A MURALHA DE TONGOBRIGA INVESTIGAÇÃO
121
MODELOS E NARRATIVAS INVESTIGAÇÃO
179
A ESCOLA PROFISSIONAL DE ARQUEOLOGIA FORMAÇÃO
209
O ENSINO BÁSICO E SECUNDÁRIO E A FORMAÇÃO CONTÍNUA FORMAÇÃO
225
GENIUS LOCi FORMAÇÃO
243
DOIS ESPAÇOS – UM SÓ OLHAR MEDIAÇÃO
273
TONGOBRIGA (RE)VISITADA MEDIAÇÃO
287
ROTEIRO
313
BIBLIOGRAFIA
327
PAT R I M Ó N I O A N O R T E Ao assinalar os 40 anos de trabalho na Área Arqueológica do Freixo e 30 anos da Escola Profissional de Arqueologia, a Direção Regional de Cultura do Norte entendeu que seria o momento de dedicar um número da coleção PATRIMÓNIO A NORTE a este exemplar incontornável do património arqueológico português. De facto, ao longo destes últimos 40 anos, uma larga equipa de especialistas tem desenvolvido trabalhos que nos permitem hoje usufruir da cidade romana de Tongobriga, preservada, estudada e com potencialidades culturais, cientificas, educativas e de valorização territorial perfeitamente definidas. Prova disso é o funcionamento permanente da Escola Profissional de Arqueologia ao longo destes últimos 30 anos, formando um conjunto de profissionais que se distribuem hoje por todo o país e que têm sido, igualmente, “um braço” essencial no desenvolvimento dos trabalhos de escavação e investigação na Área Arqueológica do Freixo. Também as inúmeras publicações cientificas e os protocolos estabelecidos com instituições de investigação e ensino superior - nacionais e estrangeiras - são prova da importância do trabalho realizado. Pela sua função primordial de permitir que as comunidades educativas possam conhecer in situ o modo de vida da civilização romana e pelo importante papel de ativação territorial que assume na região, determinante na oferta turística do território, entendemos que a melhor forma de marcar esta data, e ao mesmo tempo homenagear todos os protagonistas desta feliz história já com 40 anos, seria exatamente através da publicação de um conjunto de textos que permitisse ao leitor conhecer o sítio e o projeto, o contexto, o “porquê” e o “como” por trás da ideia, refletindo sobre o percurso feito, a evolução do modelo e a expansão até à reconhecida transversalidade da sua atuação nas áreas da investigação, formação e mediação cultural, não deixando igualmente de fora a apresentação de novos dados. A todos o nosso agradecimento pelo seu inestimável trabalho em prol da salvaguarda e valorização do património cultural da região Norte e de Portugal.
António Ponte Diretor Regional de Cultura do Norte
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EDITORIAL “Tongobriga: coletânea de estudos comemorativos de 40 anos de investigação” representa neste N.º 06 da coleção PATRIMÓNIO A NORTE o primeiro número dedicado a um só sítio, neste caso, a Área Arqueológica do Freixo, em Marco de Canaveses. O N.º 01, com “10 anos de reflexão sobre casas-museu em Portugal”, permitiu-nos abordar a área museológica, incidindo na particularidade das casas-museu. Intitulado “A pintura mural no Museu de Alberto Sampaio”, o N.º 02 fez a ponte entre o discurso museológico e a investigação histórica em torno desta particular manifestação artística, estendida às preocupações da sua conservação no N.º 04, “Pintura mural: intervenções de conservação e restauro”. Quase sempre invariavelmente presentes, as questões de mediação receberam já especial atenção no N.º 03, dedicado aos “Centros interpretativos: técnicas, espaços, conceitos e discursos”, e no N.º 05, “Mediação cultural: objetos, modelos e públicos”. Neste novo número, a incidência num só bem patrimonial vem permitir não apenas desenvolver o tema em profundidade, como em (quase) todas as suas perspetivas. Podendo estas dividir-se aqui em três grandes áreas de atuação – investigação cientifica, formação profissional e mediação cultural –, a Área Arqueológica do Freixo é um caso particular de atuação na área do Património Cultural, pela simbiose conceptual e processual entre conhecimento, educação e fruição, como princípios indiscutíveis para uma verdadeira e plena cidadania, com um contributo direto para o desenvolvimento social e económico local, regional, e, em última instância, nacional e europeu. Complementando os temas já abordados, a coleção PATRIMÓNIO A NORTE abre-se assim com este N.º 06 a novos temas, modelos, práticas e problemáticas, até aqui ainda por abordar.
Luís Sebastian Coordenador editorial (coleção PATRIMÓNIO A NORTE)
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EDITORIAL Quarenta anos de investigação sobre um sítio arqueológico é, por si só, algo que merece pública comemoração. Mais o é, julgo, porque com ela, celebramos também o pioneirismo de um restrito conjunto de projetos que, nos finais da década de 70 e inícios da década de 80 do século passado, nasceram num mesmo contexto académico, social e político, “fizeram escola” e deixaram marca indelével no panorama da investigação arqueológica em Portugal. Em 1980, o Freixo já há muito tinha esquecido Tongobriga. E preparava-se, a passos largos e ligeiros, para se esquecer de si próprio, condenado a transformar-se num qualquer subúrbio da sede de concelho, igual a todos os outros que hoje circundam a área classificada como Monumento Nacional desde 1986, em boa hora protegida. Esse fado só não se consumou porque a investigação arqueológica recuperou muitas das memórias que a terra havia coberto e reconstruiu muitas outras que o tempo e o Homem ameaçavam cobrir também. E a todos demonstrou o seu valor, sem o qual, como sabemos, não há Património Cultural que seja reconhecido como tal. Esse processo de reconhecimento do valor patrimonial de Tongobriga e de Santa Maria do Freixo, sua sucessora, foi célere e consensual nos meios académico e científico, mas não tanto no seio da comunidade local, para o que foi necessário trilhar longo e, por vezes, árduo caminho. Esta diferença merece uma reflexão. É notório que, nos anos 80, o Freixo já havia perdido a relação identitária que muitas vezes existe entre as comunidades locais e os “seus” monumentos. Relação essa que, quando é forte, se traduz em arreigados sentimentos de posse e de orgulho, e no esforço coletivo de manter vivas velhas tradições que as ligam a tempos ancestrais. Nem que, para tal, essas velhas tradições constituam, na realidade, recriações imaginárias, mais próximas da fantasia do que outra coisa qualquer. Mas, antes de mais, é essa vontade de reviver o passado – já agora, se possível, um passado glorioso, cheio de façanhas que nos distingam da vulgaridade – que leva a que os “santos da casa” sejam os primeiros a “fazer milagres” por esta nobre causa da “defesa do património”. Mercê da sua própria desagregação e transformação, da substituição quase integral dos seus membros, do seu desenraizamento, e da sua redução abaixo do limiar da capacidade de gerar uma consciência coletiva supra familiar, a comunidade local de Santa Maria do Freixo havia atingido um ponto de não-retorno na sua capacidade de gerar uma ligação afetiva aos testemunhos materiais da sua própria História, nos quais, de outra forma, saberiam reconhecer as referências identitárias que tanta falta lhes fazem. Não tivesse sido o caso de a igreja paroquial ter continuado a situar-se no centro da aldeia, perpetuando tradições, mesmo quando não se compreende cabalmente o seu significado, e o divórcio teria sido completo.
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Foi aí que entraram em ação os arqueólogos e as organizações que deram força e cobertura institucional ao seu trabalho, permitindo-lhes substituírem-se a uma comunidade que já não se revelava capaz de lutar pela defesa da sua própria identidade e dos respetivos vestígios materiais, a que, por comodidade, chamamos ruínas. O preço a pagar por esta ajuda externa na recuperação da identidade própria foi, em grande medida, a substituição da memória coletiva fundada na tradição transmitida de geração em geração pelo discurso veiculado pela investigação científica, sobre o qual, desde há alguns anos, os habitantes do Freixo começaram a “construir novas memórias”, fazendo seu o passado que lhes foi sendo transmitido pelos investigadores. A comunidade de habitantes permanentes da aldeia do Freixo, tem, atualmente, um caráter meramente residual. Quando, numa noite de outono, em 2018, quisemos celebrar as Jornadas Europeias do Património, subordinadas ao tema “Partilhar Memórias”, juntando nas ruínas de Tongobriga, para uma conversa ao luar à volta de uma fogueira e de um chá quente, os “anciãos” da aldeia – leia-se, potenciais portadores de memórias –, não tínhamos mais do que quatro pessoas para convidar. Todas aceitaram e todas couberam num só sofá, envolvidas por uma reconfortante manta. Mas, se nos abstrairmos das recordações de cariz mais intimista ou familiar, as memórias que, como membros de uma comunidade, nos transmitem, já são, em grande parte, as que resultam da assimilação do discurso dos profissionais do património cultural: os tempos áureos de uma aldeia que, dizem-lhes, já foi cidade. A substituição dos detentores – e, em grande medida, definidores – da memória coletiva de uma comunidade, levando a que aos profissionais da ciência caiba o papel de “guardiães do espírito do lugar” que, em circunstâncias normais, caberia aos mais destacados e vetustos membros da comunidade, é um processo que, naturalmente, não se desenrola sem sobressaltos. Se os produtores de conhecimento – como aqueles que, neste volume, submetem a público escrutínio, o que de melhor têm para dar – acedem voluntária e conscientemente a tomar parte neste processo, têm também de ter consciência de que os seus contributos não são meros testemunhos escritos do que pelo Freixo se tem feito no que diz respeito à investigação científica, à formação profissional e à mediação cultural. Ao fazê-lo, estão, mais do que qualquer outra coisa, a transformar-se em agentes da criação da memória coletiva de uma comunidade. A título pessoal, sinto mais o peso dessa responsabilidade, do que a que resultaria de ter a pretensão – que não tenho – de dizer a última palavra sobre aquilo que investigo.
António Manuel Lima Coordenador editorial (N.º 06)
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1 40 ANOS D E INVESTIGAÇÃO ARQUEOLÓGICA INVESTIGAÇÃO
Lino Tavares Dias Centro de Estudos de Arquitetura e Urbanismo /Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto linotdias@gmail.com Lino Augusto Tavares Dias, 1951. Arqueólogo. Licenciado em História, Doutor e Agregado em Arqueologia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (1978, 1995, 2012). Investigador no CEAU da Faculdade de Arquitetura e no CITCEM da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, tem integrado equipas com várias universidades internacionais tendo como objeto de investigação: “Construção da Paisagem Antiga (romana) da bacia do Douro”. Professor Coordenador Principal e Presidente do Instituto Superior Politécnico de Gaya. Professor do Curso de Estudos Avançados em Património Arquitectónico da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto e do Curso de Doutoramento em Património Cultural na Universidade Católica. Na tutela da Cultura foi arqueólogo coordenador de investigações de Tongobriga (1980/2013), diretor do Serviço Regional de Arqueologia da Zona Norte do IPPC (1988/1992), diretor regional do Norte do IPPAR (1998/2006) e gestor da medida cultura/norte QCA 2000/2006.
40 anos de investigação arqueológica em Tongobriga
O Diretor Regional de Cultura, António Ponte, convidou-me em maio de 2020 a participar, com um texto, no nº 6 da coleção PATRIMÓNIO A NORTE, tendo por tema “TONGOBRIGA: COLETÂNEA DE ESTUDOS COMEMORATIVOS DE 40 ANOS DE INVESTIGAÇÃO”. Aceitei o convite com gosto. É neste enquadramento que reflito sobre o trabalho desafiante que foi desenvolvido desde 1980 num sítio, uma aldeia a cerca de 60 quilómetros do Porto, em Freixo, Marco de Canaveses. Faço-o não só porque fui eu, como arqueólogo, quem coordenou o projeto ao longo de mais de trinta anos (desde 1980 até meados de 2013) mas, também, porque fi-lo sempre no âmbito da tutela da Cultura, fosse Secretaria de Estado ou Ministério.
REFLETIR SOBRE O INÍCIO… Em 1974 tinha acontecido aquele 25 de abril e, com ele, a sementeira de ideias que desafiaram gerações, impulsionaram motivações e suportaram empenhamentos. Há que reconhecer que o projeto de investigação e de salvaguarda patrimonial de Tongobriga só foi viável porque tal tinha acontecido. As escavações iniciaram-se em 1980 porque em 1979 fui muito incentivado por Vítor de Oliveira Jorge para ir observar um sítio no Marco de Canaveses. Este Professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto estava desde 1975 a fazer investigação na Serra da Aboboreira, Baião, de onde irradiava um audacioso projeto de “arqueologia espacial” para os concelhos vizinhos. O Projeto Arqueológico da Serra da Aboboreira marcou gerações de arqueólogos e de cidadãos, tão mais reconhecido quanto tal Aldeia de Freixo em 1980 (1980, DRCNEstação Arqueológica do Freixo©, fotografia de Lino Tavares Dias).
acontecia num tempo em que só havia um canal de televisão em Portugal e em que a viagem de automóvel do Porto a Baião podia demorar duas horas. Entretanto, o Presidente da Câmara do Marco de Canaveses, que deixara de ser bancário para ser autarca nas eleições democráticas realizadas em 1976 e em 1979, contactara a Delegação da Cultura do Norte, recentemente criada por decisão de Sá Carneiro e Vasco Pulido Valente, enquanto primeiro ministro e secretário de estado da cultura. Esta delegação regional estava, desde a criação, a ser dirigida por Rui Feijó, de quem recebi incentivo para iniciar prospeção na aldeia do Freixo. A delicadeza culta de Rui Feijó era por si só um incentivo ao desafio inédito que estava a ser proposto.
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Assim, depois do incentivo académico, também recebi o suporte logístico e financeiro indispensável para concretizar uma escavação arqueológica em 1980. A urgência do Presidente de Câmara era justificada pelo pedido que recebera para licenciar a construção de uma fábrica têxtil na aldeia do Freixo, num sítio onde se dizia existir enterrada uma “capela dos mouros”. O autarca Marramaque Encarnação não queria autorizar a construção Início das escavações arqueológicas no espaço que a população chamava “capela dos mouros”. Confirmou-se serem ruínas das termas construídas no final do século I (1980, DRCN-Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de Lino Tavares Dias).
sem ter a certeza de que não haveria destruição de memória. Foi uma decisão exemplar de cidadania, não só pelo que representou na defesa inteligente do território, mas também porque interpretou na plenitude o que a Constituição da República de 1976 apontava, no artigo 79º, onde era afirmado que “O Estado tem a obrigação de preservar, defender e valorizar o património cultural do povo português”. Pude responder aos desafios que recebera porque, na pré-especialização da licenciatura em História, tinha-me dedicado à denominada Arqueologia Clássica, regida na Faculdade de Letras da Universidade do Porto por Manuela Delgado, professora rigorosa, de grande exigência ética, comprometida com o conhecimento e empenhada num saber prático e efetivo. Transmitia muito da sua experiencia obtida nas missões arqueológicas francesas em Marrocos e nas escavações de Conímbriga.
Em 1980 encontramos a pia batismal em granito no exterior da igreja. Estava apoiada num capitel romano que tinha sido invertido para melhor lhe servir de suporte. Tinha sido substituída por uma moderna durante obras de remodelação da igreja (1982, DRCNEstação Arqueológica do Freixo©, fotografia de Lino Tavares Dias).
Foi através da aprendizagem e dos trabalhos desenvolvidos com Manuela Delgado que conheci a experiencia do Campo Arqueológico de Braga que estava a começar sob a direção de Francisco Alves. Foi também por iniciativa de Manuela Delgado que aprendi com Adília Alarcão e fui desafiado por Jorge de Alarcão a estudar cerâmica cinzenta, assim como cerâmicas romanas dos acervos do museu do Instituto de Antropologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e das coleções que D. Domingos de Pinho Brandão, bispo auxiliar do Porto, tinha recolhido na região. Foram épocas intensas e profícuas.
Em agosto de 1980 iniciei as escavações em Freixo, no sítio que a população local denominava por “capela dos mouros”.
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Desde então coordenei as intervenções de investigação e gestão. Esta experiência de décadas ajuda a fazer uma breve reflexão sobre as políticas públicas de defesa da memória, sinónimo de Património Cultural, que foram desenvolvidas ao longo dos anos por distintos governos e por diversos dirigentes, por múltiplas pessoas com diversificadas formações e distintos empenhamentos. Sucedendo à Direção Geral do Património Cultural, e perspetivando alguma modernização de gestão, foi criado em Sob um campo de milho, cultivado até aos anos 80 do século XX, identificamos e escavamos o fórum da cidade, construído no final do século I e início do século II (1980, DRCN-Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de Lino Tavares Dias).
1980 o Instituto Português do Património Cultural, designado por IPPC. Neste organismo estavam integrados os museus, as bibliotecas, os arquivos, os sítios arqueológicos e os monumentos classificados afetos ao Estado. Para dirigirem o IPPC, foram sucessivamente nomeadas personalidades das áreas dos museus, da literatura, da engenharia, da arqueologia, da arquitetura, do direito, da economia e da história de arte. Todos com diferenças de perspetiva e de atuação multidisciplinar, mas globalmente enriquecedoras. Nas décadas de 80 e 90 foram feitos vários ajustamentos administrativos na área do Património Cultural. O gigantismo conceptual e administrativo do IPPC dos anos 80 foi gradualmente partilhado. Os sectores das Bibliotecas, dos Museus e dos Arquivos foram-se constituindo autonomamente como institutos públicos, o mesmo acontecendo, no final do século XX, com os sectores do Património Arquitetónico e da Arqueologia. Eram estruturas de âmbito nacional, mas com ativo desempenho descentralizado e regional. Apesar da gradual separação das estruturas ao longo das décadas, foi sempre defendida a importância da interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade. Nesta perspetiva, ao longo de mais de trinta anos o trabalho articulado, complementar e interdependente entre arqueólogos, arquitetos, antropólogos e técnicos de conservação, foi um dos fatores que mais valorizou os desempenhos em Tongobriga . Este sítio patrimonial esteve sempre sob gestão de arqueólogo, incidindo como prioridade na investigação, mas promovendo o diálogo interdisciplinar. Entre outros, foi exemplar a discussão, e a reflexão privilegiada, com distintos arqui-
Aspeto geral da aldeia observada de sul para norte. Alguns alinhamentos de ruas e caminhos correspondem a cardos (2005, DRCN-Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de António Cabeço).
tetos, de diversas gerações, com diferentes formações, sensibilidades e capacidades. Este trabalho sistemático contribuiu indelevelmente para o crescimento de um sítio patrimonial que em 1980 era só mais uma aldeia em abandono.
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Desde 1974, sentia-se que as maiores preocupações na área da cultura eram a defesa do direito de autor e a formalização do reconhecimento das responsabilidades científicas nas intervenções em património. Estas preocupações ligaram-se muito com as políticas de proximidade que algumas autarquias procuraram desenvolver, assim como se articularam com as diversas tentativas de regionalização e de desconcentração. Na década de 80 defendia-se muito a intervenção regionalizada, embora articulada com serviços centrais do Estado. Nesta perspetiva, e no caso da arqueologia, pontuaram as direções de Francisco Alves e de António Carlos Silva, arqueólogos empenhados no crescimento do conhecimento em todo o País e na estruturação de serviços públicos na tutela da Cultura. Um exemplo da articulação regionalizada foi muito sentida na, inicialmente designada, “área arqueológica do Freixo” e, por isso, logo em 1982 foi reconhecida a necessidade de um programa plurianual de intervenção. Foi formalizado um documento protocolar entre o IPPC e a Câmara do Marco de Canaveses, incentivado pelo então Secretário de Estado da Cultura, Gomes de Pinho e homologado pelo Ministro da Cultura e da Coordenação Científica, Lucas Pires. Nesse protocolo, para além da garantia de apoios, foi apontada a responsabilidade científica e a formalização plurianual dos trabalhos. Vigorou até 1988 e permitiu fazer planeamento na estratégia da investigação e da salvaguarda. A partir de 1988 esta “área arqueológica” foi integrada no “Serviço Regional de Arqueologia da Zona Norte” do IPPC, o que foi induzido pela capacidade de planeamento e Sobreposição de actus quadratus que estruturaram a cidade romana. Quando necessário, fizeram a implantação com adaptação à morfologia granítica dos terrenos, segundo diagonais a 45º, quer em construções quer no traçado de ruas (2005 | 2015, DRCN-Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de António Cabeço | ilustração de Charles Rocha).
de concretização de cronogramas capazes de garantir estabilidade do desempenho científico plurianual ao sítio, o qual viu reforçada formalmente a sua gestão quando foi definido como “paisagem cultural moderadamente evolutiva”. Os projetos que integravam o plano estratégico eram
cientificamente rentáveis porque estavam suportados em empenhamento e em ideias maturadas por aprofundamento de conhecimento científico que resultava de processos inovadores para a época, suportados em redes de saberes e em modernização administrativa.
No início da década de 90 surgiu o desafio do sítio arqueológico servir de oficina diária para a formação certificada de assistentes de arqueólogo, o que nunca tinha acontecido em Portugal.
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Desde 1990 passaram a existir no Freixo duas instituições com objetivos distintos e muito bem definidos: o gabinete para investigação e gestão da estação arqueológica, sob a tutela da Cultura, e a Escola Profissional de Arqueologia sob tutela dupla da Educação e da Cultura.
REFLETIR SOBRE O PASSADO… Reflito sobre um sítio cujas escavações arqueológicas começaram em 20 de agosto de 1980, depois de feitos os indispensáveis estudos prévios realizados desde o final de 1979, privilegiando as observações cartográficas e de fotografia aérea, técnicas que estavam a despontar na arqueologia, tal como a estéreo-fotogrametria e a perceção estereoscópica.
Na aldeia de Freixo, que encontrara em ruína, instalou-se uma
pequena equipa de investigação. Desde então, o Estado e a Autarquia compraram terrenos com potencial arqueológico; foram classificados 50 hectares como Monumento Nacional; foi construído um laboratório para investigação; foram construídas estruturas de apoio à divulgação científica; foram formados operários e técnicos especializados; foi promovida a empregabilidade local; foi incentivado o intercâmbio internacional; foi defendida a transdisciplinaridade; foram apresentados e publicados regularmente os resultados das investigações. Pode-se dizer que Tongobriga , porque assim se chamava a cidade exumada desde 1980, foi uma urbe construída na periferia atlântica do Império Romano no final do século I e início do século II d. C., integrando o último alargamento geográfico e cultural da estratégica política romana. Mas, apesar de Tongobriga ter ocupado algumas dezenas de hectares,
A escavação da muralha, num pequeno troço identificado a sul, permitiu restituir eventuais traçados que encerravam o primeiro espaço de habitação, definindo a ampliação do espaço monumental, com fórum e termas (2008, DRCN-Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de António Freitas).
Junto da muralha, no lado exterior, a sul, foi construído o balneário do tipo pedra formosa. Foi totalmente esculpido no afloramento granítico, no final do século I a.C., de acordo com a estratigrafia recolhida (1986, DRCN-Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de Abel Roldão).
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aparentemente não deixara marcas evidentes. Cerca de quatro décadas depois da primeira escavação, nos 50 hectares classificados em 1986 como “Área Arqueológica do Freixo”, pode-se salientar um castro romano, uma cidade romana, uma paróquia cristã primitiva e, ainda, a aldeia atual construída sobre tudo o que lhe era anterior. As estratigrafias permitem afirmar que, no final do século I a.C. e no início do século I d.C., foi construído um castro ex nihilo , com muralha de troços retilíneos.
Este “castro” foi construído
em torno dos 300 metros de altitude, salientando a sua singularidade pelo facto dos castros mais antigos, indígenas, reconhecidos na região, estarem implantados sobre os 400 metros. Em Tongobriga , junO pátio exterior do balneário castrejo foi cortado pela construção do edifício das termas, cujo apoditerium passou a receber água que antes servia o balneário castrejo, entaipado pelo edifício romano (1990, DRCN-Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de António Freitas).
to da muralha, no lado exterior, a sul, foi construído o balneário do tipo pedra formosa. Nos cerca de 14 hectares do interior da muralha foram identificadas casas de planta circular, construídas em granito e cobertura em colmo. Muitas destas casas “castrejas” foram demolidas, desde o início do século II, para facilitar a remodelação da urbe e acolher as novas domus . A estratigrafia mostrou que o “castro” foi construído em período da governação de Augusto. Depois, o actus qua-
dractus foi assumido na estruturação da cidade sentida no início do século II, quando foi construído um forum , reconhecido como espaço central onde os manuais do urbanismo “vitruviano” integravam o templo, a praça e a basílica, traduzindo a religião, o comércio e a administração da civitas , entendida como capital de um territorium assumido como unidade político-administrativa basilar na organização do Império. A muralha poderá ter sido parcialmente ampliada, de modo a integrar os novos espaços públicos, embora salvaguardando a continuidade da necrópole de cremação existente que, assim, se manteve no exterior da cidade. A área global de espaço intramuralha passou para cerca de 21 hectares. A análise da evolução do urbanismo de Tongobriga permitiu-nos confirmar que foi suportado no actus quadratus e com cuidadosa adaptação à morfologia granítica dos terrenos, notada quando implantaram construções segundo diagonais a 45º. Um exemplo é a rua que cortava Foi intensa a remodelação dos espaços destinados a habitação. A estratigrafia mostrou que o “castro” tinha sido construído em período da governação de Augusto, mas muitas das casas “castrejas” foram demolidas, desde o início do século II, para facilitar a remodelação da urbe e acolher as novas domus, por vezes sobrepondo-se às construções anteriores (1985, DRCNEstação Arqueológica do Freixo©, fotografia de Abel Roldão).
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transversalmente a área poente da cidade, desde a cota mais alta até à mais baixa, onde se julga ser o teatro, ou anfiteatro. A similitude de arquitetura e dos processos de construção, permite-nos dizer que esta cidade integrou a estratégia política para a edificação de várias cidades na bacia do rio Douro, no norte da Meseta, a que certamente não foi alheia a vontade política augustana de “construir” uma província transduriana . Os núcleos urbanos, evidenciados pelo respetivo conjunto de infraestruturas, eram implantados de As domus foram construídas segundo projeto tradicional na arquitetura romana e, naturalmente, com recurso ao granito abundante na região (2003, DRCN-Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de António Freitas).
modo a gerarem um territorium , que marcavam a região, quer pela afirmação das suas identidades, quer pela capacidade de administrarem as terras que lhes estavam subordinadas. Esta predominância territorial, quer pela sua importância administrativa que gerava, quer pela população que congregava, motivou que no século VI Tongobriga tenha sido, já como paróquia, associada à primitiva cristianização da Callaecia. Depois, ao longo dos séculos, poderá ter sido um modesto sítio medieval e moderno, até que em 1980 encontrei a aldeia do Freixo habitada por poucas dezenas de pessoas.
Aspeto parcial do hipocausto do caldarium e do tepidarium das termas flavianas. Este edifício é um exemplo de qualidade na construção e no uso conjugado de distintos materiais: granito, tijolo, opus caementicium, estuques lisos e decorados por moldagem. Aqui foram seguidas todas as regras, técnicas e proporções apontadas nos manuais de Vitrúvio para os edifícios públicos (1989, DRCN-Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de Abel Roldão).
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A qualidade construtiva, expressão da qualificação dos pedreiros que trabalharam em Tongobriga, certamente oriundos da região, é manifesta nas infraestruturas de escoamento, quer servissem de esgoto, quer servissem para controle de águas das cisternas, quer para drenagem das águas pluviais (1984, DRCN-Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de Abel Roldão).
REFLETIR SOBRE OS RESULTADOS… Desde os anos 80 sentimos a necessidade de promover o trabalho laboratorial interdisciplinar e, para tal, era necessário ter infraestruturas que garantissem condições de investigação no sítio arqueológico. Desde cedo defendemos que os materiais recolhidos nas escavações deveriam, sempre que possível, ser tratados, conservados e estudados in situ, evitando-se a deslocação de acervos. Este objetivo esteve na base do primeiro desafio feito à equipa de arquitetos do IPPC no Porto. Depois, ao longo dos anos, foram-se solidificando pedidos para intervirem, de forma interdisciplinar, na execução de projetos de arquitetura, quer para recuperação de edifícios, quer para construção de novas infraestruturas e, depois, também no desbravar do trabalho de aprofundamento da restituição desenhada das ruínas de Tongobriga e do seu urbanismo. O arqueólogo começou por pedir ao arquiteto que projetasse para uma aldeia em ruína um edifício que fosse o centro do “trabalho de futuro” daquele sítio patrimonial. Assumiu este desiderato o arquiteto Fernando Maia Pinto, autor do edifício que acolhe o laboratório.
Aspeto geral das ruínas das termas, implantadas segundo o actus quadratus e enquadrando o desenho de projeto conjunto com o fórum (2015, DRCN-Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de António Freitas).
O projeto foi preparado em 1987 e de imediato foi construído em terrenos adquiridos no centro da aldeia, onde existiam arrumos agrícolas adossados a uma magnífica fachada em granito, a qual veio a confirmar-se ter sido feita com pedras retiradas das ruínas romanas. Deste “novo edifício laboratório” irradiou, desde então, todo o suporte à estratégia técnica e científica para o sítio e para a região, acolhendo também encontros científicos internacionais.
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A criação deste laboratório na aldeia do Freixo, assumido como símbolo de intervenção em sítio classificado, permitiu-nos evoluir e refletir sobre outros tipos de intervenção sustentados e, por isso, na “Estação Arqueológica do Freixo” incentivamos exemplos que usaram diversificadas metodologias, desde a demolição à construção nova. O projeto de intervenção teve sempre o intuito de criar mais Cultura e, com isso, mais Identidade. Procurou-se criar emprego e, com ele, maior rendimento para as faAspeto da natatio das termas onde também se evidencia a mesma qualidade construtiva, na conjugação do granito com os opus (2015, DRCN-Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de António Freitas).
mílias, mais receitas para as economias locais e regionais. Procurou-se credibilizar o papel do Estado, na medida em que lhe compete, até ao limite das possibilidades, valorizar o Património Cultural, especialmente o classificado, assumido como memória coletiva ao reconhecer as pedras que salientam as marcas seculares do homem. Procuramos ultrapassar alguns dos desajustamentos que mais se sentiam, geralmente provocados por teimosia interinstitucional, na medida em que insistiam em fazer gestão de Património Cultural com critérios predominantemente administrativos, desleixando-se os critérios criativos e produtivos que credibilizam as decisões, incluindo a investigação e a inerente publicação de resultados. Mas, para além da investigação e da divulgação de resultados científicos, a dimensão patrimonial de Tongobriga exigia “gestão integrada” de todo o espaço classificado e do território envolvente, interpretando “novos” conceitos, nomeadamente o de “Paisagem Cultural”, amplamente impulsionado pela UNESCO. Aplicamos uma cadeia operativa que procurava investigar, conservar, restituir, difundir, formar e gerir. Justificando-se pela importância que atribuímos ao planeamento transdisciplinar das atividades de investigação, de dinamização expositiva e cultural, para além da fruição qualificada das ruínas, no final do século XX juntaram-se arqueólogos, arquitetos, técnicos de conservação, técnicos de sistemas informáticos, entre outros cidadãos especialistas de diversas áreas do conhecimento, contrariando a ideia de que havia divórcio entre as Instituições da Administração e as Universidades. Na reflexão sobre a valorização global do sítio classificado confrontamo-nos com a necessidade de também construir ex novo e, para isso, salientavam-se duas opções, resumidamente apontadas como “concentração” de infraestruturas num único edifício de apoio ou a “dispersão” em diversos edifícios de menores dimensões.
O espaço da natatio foi exumado por escavação arqueológica num campo de milho e olival. Foi nesta ruína que se iniciaram experiências com aplicação de diferentes técnicas e métodos de conservação e restauro, sempre com perspetiva reversível (2003, DRCN-Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de António Freitas).
No projeto global assumiu-se a “dispersão” das infraestruturas de valorização pelos 50 hectares classificados, quer fossem recuperações integradas no núcleo construído da aldeia, quer fossem construções novas implantadas em harmonia com a malha urbana romana que tinha sido identificada durante a investigação. Analisadas as várias hipóteses técnicas e
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A interdisciplinaridade permitiu publicar em 1995 uma versão de reconstituição do edifício das termas (1995, ilustração de Edson Fogaça©).
metodológicas, foi decidido desenvolver um sistema de valorização suportado, prioritariamente, na recuperação de pequenos edifícios dispersos no espaço classificado. Em simultâneo, no caso de insuficiência, ou desadequação, dos edifícios existentes, foi decidido projetar construções novas. O sítio exigia uma receção para acolhimento dos visitantes, um auditório para cerca de 80 lugares, um centro interpretativo, uma oficina para apoio técnico, uma reserva para espólio arqueológico e, ainda, um restaurante para apoio a visitantes, funcionários, estudantes e professores da escola profissional. Apesar de, aparentemente, serem projetos óbvios, havia que salvaguardar especificidades das intervenções neste sítio patrimonial. Por exemplo, numa aldeia onde não existe saneamento básico, a construção de sanitários públicos, de qualidade, tornou-se em peça, de engenharia e de arquitetura, complexa porque todo o subsolo tem ruínas. Em todas as intervenções contemporâneas, por mais reduzidas que fossem as infraestruturas a construir, foi assumida a defesa intransigente da perspetiva de reversibilidade. No início do século XXI, perante diversas hipóteses metodológicas, decidiu-se proporcionar a divulgação do conhecimento que a investigação propiciava a partir de um “centro interpretativo polinuclear”, capaz de acolher distintos públicos: o núcleo expositivo sobre a vida quotidiana seria edificado sobre área habitacional e o núcleo expositivo sobre a ritualidade da morte seria edificado sobre a necrópole de cremação. O tema fundamental do “centro interpretativo polinuclear” era a “construção milenar da paisagem pelo homem”, abordada a partir de diversas perspetivas, respondendo aos desafios que
Observação aérea, de oeste, do espaço do fórum e termas (2005, DRCN-Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de António Cabeço).
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a modernidade põe à sociedade do século XXI.
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Projetou-se um discurso que desafiava o visitante a articular permanentemente o olhar, em plena complementaridade, em simultâneo, quer entre as “peças” expostas nas vitrinas e a ruína, quer entre estas e a paisagem envolvente. Por esta razão, o edifício destinado a núcleo expositivo sobre a vida quotidiana foi projetado para espaços habitacionais romanos, situados a cota alta, sendo predominantemente construído em vidro, privilegiando a interação visual com a paisagem de uso quotidiano. A escavação de um espaço de necrópole de cremação do século IV foi realizada em 1993, por equipa do gabinete de investigação de Tongobriga (1993, DRCN-Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de António Freitas).
Como exigência básica, de entre as várias opiniões em análise sobre “a forma de expor”, foi a capacidade desse centro interpretativo ser equipado com suporte informativo inovador, capaz de aceitar atualizações frequentes, desafiando à novidade científica. No discurso expositivo procurava-se, também, reintegrar em Tongobriga alguns materiais que a ela estavam associados. Por exemplo, devia ser integrado o conjunto de miliários romanos da estrada que por lá passava, e de lá irradiava, por ser capita viarium. Um deles está desde 1951 depositado num museu do Porto, outro no Marco de Canaveses. Embora
A escavação de um espaço de necrópole de cremação datada do final do século I e início do século II, foi realizada já no século XXI, numa ação conjunta da equipa do gabinete de Tongobriga, investigadores da Universidade de Brown e do instituto de antropologia da Universidade de Coimbra (2006, Brown University©, fotografia de Rudolf Winkes).
tivessem sido recolhidos sem contexto arqueológico, a investigação proporcionou o seu enquadramento. O mesmo critério que buscava desafiar o visitante a articular permanentemente o olhar entre as peças e as ruínas e entre estas e a paisagem envolvente, foi usado no projeto para o núcleo expositivo sobre os rituais da morte, que deveria ser edificado sobre a necrópole de cremação. As intervenções em Tongobriga desenrolaram-se, em contínuo, ao longo de mais de três décadas. Ouso, agora, contribuir para uma avaliação crítica, embora subjetiva.
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OUSAR IMAGINAR O FUTURO… Pensar o “futuro” continua a merecer empenhamento estratégico, quer de âmbito científico, quer de âmbito financeiro e político. Em 2020, Tongobriga continua e exigir preocupações de gestão, quer de caráter administrativo que a salvaguardem e ampliem, quer de caráter científico que reforcem a sustentabilidade do conhecimento, quer de caráter técnico que garantam a conservação de ruínas e espólios arqueológicos, quer de caráter divulgativo que garantam a apresentação do conhecimento, quer de caráter museográfico que valorizem os desafios do sítio. Algumas das preocupações, embora sintetizadas, podem motivar algumas atitudes que aponto, a título de exemplo. Todos os terrenos situados no interior da área classificada, por aí existirem ruínas, devem ser intransigentemente defendidos, aplicando medidas que impeçam revolvimentos descontrolados dos solos, usos abusivos para construção ou fim agrícola, e limitem a florestação. É fundamental que se façam escavações arqueológicas nos terrenos das encostas norte, nascente e poente, onde existem ruínas de habitações, as quais permitirão confirmar alinhamentos do urbanismo com domus, assim como esclarecer dúvidas que existem sobre cronologias e fases de construção do “castro” e da “cidade”. Na encosta nascente, onde foi construído, sobre ruínas, um tanque privado para combate a incêndios e onde foi feita, teimosamente, intensa florestação pela proprietária, existem ruínas que ainda podem ser recuperadas, apesar do revolvimento dos solos.
Na Área Arqueológica do Freixo incentivamos exemplos que usaram diversificadas metodologias, desde a demolição de dissonâncias até à construção nova. O projeto global de intervenção teve sempre o intuito de criar mais Cultura e, com isso, mais Identidade (2002, DRCN-Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de António Freitas).
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A intervenção no centro da aldeia permitiu abolir a dissonância e recuperá-lo para uso publico, repondo-o com um edifício usado para auditório (2000, DRCN-Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de António Freitas).
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Trabalhos de escavação dos espaços do eventual teatro, ou anfiteatro, podem ajudar a definir a cidade romana. Nos terrenos situados a sul a escavação das necrópoles é desafiadora. A importância da basílica paleocristã aconselha a que a escavação arqueológica seja retomada porque as ruínas estão debaixo da atual Igreja Paroquial. A valorização da ruína paleocristã obrigará a intervir com metodologia arqueológica no adro sul, para além de obrigar Exemplo comparativo da aldeia até 1987 e depois da intervenção do IPPC/IPPAR com a construção do laboratório, a recuperação de outros pequenos edifícios e a articulação com a autarquia para o espaço público. (1980-1989, fotografia de Lino Tavares Dias©).
a intervir, de novo, no interior do edifício, procurando recuperar as ruínas, e os mosaicos, que ainda existam. São vestígios demasiado importantes para a cultura, e para a religião cristã, para que permaneçam em más condições de conservação, debaixo do soalho. Apesar do esforço de D. Armindo Lopes Coelho, então Bispo do Porto, a perspetiva local redutora, autárquica e eclesiástica, bloqueou soluções. Urge uma intervenção inteligente, e cientificamente arguta, que dignifique o sítio e o seu significado. Num sítio como Tongobriga, onde as condições facilitavam a escavação sistemática, acumularam-se observações estratigráficas e os correspondentes materiais referenciados. É aconselhável o estudo deste acervo arquivado nas reservas, até porque apenas alguns milhares das peças integraram as estratigrafias publicadas em 1995 e em 1997. Julgo que também podem ser reajustadas as estratégias de valorização. Por exemplo, o espaço envolvente do restaurante,
A dimensão patrimonial de Tongobriga exigia “gestão integrada” de todo o espaço classificado e do território envolvente, interpretando “novos” conceitos, nomeadamente o de “Paisagem Cultural”, muito impulsionada pela UNESCO. Aplicamos uma cadeia operativa que procurava investigar, conservar, restituir, difundir, formar e gerir, a qual era materializada em infraestruturas de valorização integrada do sítio.
junto do forum e das termas, merece reflexão. É fundamental a escavação arqueológica dos solos que estão sob o traçado da atual estrada municipal, a qual poderá ter um novo perfil. É uma estrada dentro de um sítio arqueológico e, por isso, condicionada à existência de ruínas, as quais devem ser assumidas como prioritárias. É fundamental demolir as construções espúrias que na envolvente vão teimosamente permanecendo contra as lógicas ambientais, legais e cívicas, exigidas num Monumento Nacional. A investigação nos terrenos situados a sul do fórum permite reajustar as perspetivas interpretativas que existiam para o traçado da estrada romana. Parece coincidir com a estrada municipal, embora o piso romano, talhado no penedo granítico, esteja sob o atual pavimento. Há anos, apontara para a existência de uma estrada romana pelo monte, confundida com trilhos no afloramento granítico. Altero a interpretação. Estes trilhos, que pisaram sepulturas romanas de cremação, foram feitos pelos rodados dos carros usados para transportarem a pedra “roubada” das ruínas em períodos medievais e posteriores.
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A tutela do Património Cultural tem tido a coragem de reconhecer os desafios permanentes com que é confrontada. É importante que reconheçam que devem ser reinterpretadas, e redimensionadas, com audácia, as perspetivas que Tongobriga pode propiciar. Julgo que será importante redimensionar a receção dos visitantes, especialmente os que abordam o sítio arqueológico pelo lado sul, onde se identificam os espaços das necrópoles de cremação. O “centro interpretativo polinuclear” era a “construção milenar da paisagem pelo homem”. Desafiava o visitante a articular permanentemente o olhar, em plena complementaridade, em simultâneo, entre as “peças” expostas nas “vitrinas” e a ruína, e entre estas e a paisagem envolvente (2009, DRCN-Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de Jorge Araújo).
Tongobriga mereceria o redimensionamento das perspetivas museológicas e museográficas para que esta cidade romana fosse lida em conjunto com os territórios envolventes, com plena transparência entre a luz natural, os espólios, as ruínas e a paisagem milenar do vale do Douro. Tal não é consentâneo com tradicionalismos que metem peças arqueológicas em vitrinas iluminadas por estarem em salas escurecidas artificialmente. Os audaciosos projetos originais do edifício, e da exposição, tinham outros objetivos. No entanto, reconheço que a ousadia de perspetivar o futuro não é apanágio do arqueólogo, mesmo que seja assumida como mera proposta de trabalho e forma de olhar o mundo em processo de mudança.
EM SÍNTESE… A sementeira de ideias proporcionada por abril de 1974 desafiou gerações a suportarem o desenvolvimento em conhecimentos aprofundados e qualificados pela comprovação científica. Foi notória a vontade de identificar e reconhecer identidades locais e regionais, induzindo o Estado e as Autarquias a acalentarem a determinação de quererem saber mais sobre os seus territórios. Embora a sociedade portuguesa já estivesse em mudança desde a década de 60 do século XX, foi na seguinte que conseguiu converter e adaptar ideias, processos e métodos, mas também reinventar procedimentos e motivações que facilitaram a passagem para uma sociedade nova que quis conhecer melhor a sua identidade e reconhecer o seu passado, defendida pela novas autarquias e estruturas regionais. Como arqueólogo, fui um dos que me senti convictamente O edifício destinado a núcleo expositivo sobre a vida quotidiana foi projetado sobre espaços habitacionais romanos, predominantemente construído em vidro, privilegiando a interação visual com a paisagem de uso quotidiano (2009, DRCNEstação Arqueológica do Freixo©, fotografia de Jorge Araújo).
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desafiado. Ao longo de décadas, na tutela da Cultura, habituei-me a trabalhar com limitados recursos, mas, em contrapartida, com desdobrado respeito pelo desempenho, pelo curriculum, pelo direito de autor e pelo empenho interdisciplinar.
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Quarenta anos depois de ter iniciado as escavações arqueológicas, julgo poder salientar, em síntese, alguns fatores que contribuíram para a realidade patrimonial que foi construída a partir das ruínas arqueológicas: •
saliento a importância da gestão de proximidade na investigação, e tal ser resultado das medidas de regionalização e desconcentração;
•
saliento a importância da qualificação das equipas de trabalho, desde os operários especializados até aos investigadores, porque é importante que a mão de quem pensa aperte a mão de quem faz, para que a corrente passe e nos dois sentidos;
•
saliento a importância da identidade e da solidez conceptual das tutelas da Cultura e do Património, assim como a importância das autarquias e dos autarcas inteligentes;
•
saliento a importância da interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade e da internacionalização do conhecimento e das problemáticas que a investigação promove;
Aparentemente, o espaço urbano, fora do qual se identificaram as necrópoles, parecia com limites definidos e com acessos evidentes. Mas deve ser alterada esta perspetiva. Há anos, apontara para a existência de uma estrada romana pelo monte. Mas esses trilhos pisaram sepulturas romanas de cremação. Certamente foram feitos pelos rodados dos carros usados para transportarem a pedra “roubada” das ruínas em períodos medievais e posteriores (2008, DRCN-Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de Lino Tavares Dias).
•
saliento a importância da ética na construção do conhecimento e no relacionamento interpessoal das equipas.
As décadas de investigação sobre o território incentivaram a luta em defesa da reinvenção cultural dos sítios patrimoniais, exaltando a descoberta permanente que a arqueologia, enquanto ciência, proporciona, dimensionando os nossos desafios do quotidiano.
Investigar um sítio, um território, permite conhecer mais e melhor, e isso é uma tarefa para a vida inteira. O reconhecimento do trabalho milenar que o homem Um sítio arqueológico e patrimonial para ser fruído ao longo de todo o ano (2009, DRCNEstação Arqueológica do Freixo©, fotografia de António Cabeço).
desenvolveu sobre um território é a prova de que há sempre amanhã.
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2 O S MISTÉRIOS LUMINOSOS DE TONGOBRIGA I NVESTI GAÇÃO
António Manuel Lima Direção Regional de Cultura do Norte amlima@culturanorte.gov.pt António Manuel de Carvalho Lima (Porto, 1965) é Licenciado em História, variante de Arqueologia, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (1988) e Mestre em Arqueologia pela mesma faculdade (1994), com uma dissertação sobre os “Castelos Medievais do Curso Terminal do Douro (Séculos IX – XII)”, orientada pelo Professor Doutor Carlos Alberto Ferreira de Almeida. É investigador do CITCEM - Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória (Universidade do Porto) e do IEM - Instituto de Estudos Medievais (Universidade Nova de Lisboa). Exerce funções na Direção de Serviços de Bens Culturais (Direção Regional de Cultura do Norte). Foi Coordenador da Estação Arqueológica do Freixo / Tongobriga, entre maio de 2014 e maio de 2019. Entre as suas mais recentes obras sobre Tongobriga, destacam-se “Mudar de Vida - Catálogo da Exposição Permanente do Centro Interpretativo de Tongobriga” (2016); “A Feira da Quaresma (Séculos XV a XIX)” (2 vol., 2017); e “Tongobriga- O Espírito do Lugar. Guia Visual” (2018).
Os mistérios luminosos de Tongobriga
Não podemos negar – nem tal coisa queremos
Buscai e achareis, Pois o que busca acha. Mt.,7,7-8
fazer – que a inspiração para o título deste breve ensaio – sem dúvida inusitado, tratando-se de algo escrito por quem é arqueólogo e não pregador – nasceu da leitura da “Carta Apostólica Rosarium
Virginis Mariæ ao Episcopado, ao Clero e aos Fiéis sobre o Rosário”, de Sua Santidade, o Papa João Paulo II, datada de 16 de outubro de 2002. Nessa Carta, o Papa, hoje Santo, sem com isso pretender alterar o formato tradicional do “Rosário” – ao qual aprendi, em criança, a chamar “Terço” – sugeriu a criação de uma nova série de “Mistérios”, aos quais chamou “Luminosos”, como complemento das três séries (ou “terços”) tradicionais: os “Mistérios Gozosos”, “Dolorosos” e “Gloriosos”, que compõem o Santo Rosário e que tão bem identificam a devoção mariana dos crentes católicos. Apesar de admitida tal inspiração, advertimos o leitor para o facto de as equações aqui invocadas serem “contas de outro rosário”. Assim sendo, aos que pretenderem aprofundar o sentido apostólico dos “Mistérios Luminosos”, sugerimos a leitura da referida carta e não a deste texto. Aos que, de outro modo, desejarem perceber o que a misteriosa luz de Tongobriga encerra, mas que, mesmo após esta leitura, não se sentirem esclarecidos, sugerimos que procurem maior clareza em três outras publicações que também já tivemos oportunidade de dar à luz 1.
Descidos do céu à terra que, no tempo em que o Messias fez o mesmo, se chamava Tongobriga, celebremos dignamente estes outros que não os Santos mistérios, quando se assinalam 40 (quarenta e não um qualquer outro aleatório e insignificante número) anos sobre o momento em que os ditos mistérios começaram a ser desvendados por aqueles que fazem da terra um livro e da investigação arqueológica um outro modo de ler2.
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PRIMEIRO MISTÉRIO No princípio era o Verbo
X=1
Ainda hoje – desde quando, todos dizem não saber – se celebra,
Jo.,1,1
em Santa Maria do Freixo (Marco de Canaveses), uma procissão solene anual, talvez a que, nesse lugar, é mais digna desse nome. De tão remota que é, dos seus primeiros tempos já nada é lembrado, pelo que sobre isso ninguém ousa dizer qualquer palavra. Neste caso, o verbo não chega, sequer, a aproximar-se do princípio, quanto mais a sê-lo. Embora os que nela participam tenham consciência de que se trata de uma celebração em honra de Nossa Senhora da Purificação – cuja vetusta imagem se venera na igreja paroquial – nenhum dos fregueses parece suspeitar do que possa estar na origem desse tão ancestral quão singular ritual. Tão-pouco ousam adiantar uma razão – nem mesmo uma daquelas razões que a sabedoria popular sempre invoca quando nenhumas outras se conhecem – para que os seus longínquos antepassados tenham optado por esta específica invocação de Nossa Senhora, elevando-a a padroeira do Freixo, quando podiam, mantendose fiéis a Santa Maria, ter optado por qualquer uma das outras quase inúmeras invocações que constam da extensa lista de paróquias portuguesas dedicadas à Virgem 3.
Instados a fazer arqueologia de si próprios e dos seus hábitos de fé, os que voluntariamente acedem a integrar esta peculiar procissão não descobrem Procissão em honra de Nossa Senhora da Purificação, a 2 de fevereiro. A caminho do forum de Tongobriga (2020, DRCN – Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de Jorge Araújo).
respostas para três interrogações que, de tão básicas que são, deveriam pôr em sobressalto qualquer caridosa alma que se dedicasse um pouco a questionar o que pode estar na origem desta incompreendida rotina que, ano após ano, se repete, sem que ninguém julgue necessário perceber porquê:
Poucos conhecem o real significado da regeneradora invocação mariana a que eles, como crentes, dedicam a sua paróquia, dirigem as suas preces e oferecem a sua procissão: Nossa Senhora da Purificação. Está ainda por encontrar alguém que conheça a razão de ser do dia que a essa invocação é dedicado, em esclarecedora partilha com as não menos luminosas Senhora da Candelária, Senhora das Candeias e Senhora da Luz: dois de fevereiro.
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Procissão em honra de Nossa Senhora da Purificação, a 2 de fevereiro. No regresso à igreja, torneando o forum de Tongobriga, hoje vedado (2020, DRCN – Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de Jorge Araújo).
E todos desconhecem o que possa dar sentido ao trajeto que é percorrido em solene procissão. Toma-se por óbvio o seu ponto de partida, sem que ninguém saiba quem primeiro definiu o seu enigmático caminho e muito menos o seu inusitado destino. Dois de fevereiro. Um dia que, em condições meteorológicas normais para a época, é pouco dado a passeios pedestres. Ou, pelo contrário, não haverá melhor altura para os fazer, se a árdua caminhada ao ar livre for encarada como uma severa penitência, de forma a expiar os pecados e excessos das festivas quadras acabadinhas de finar. Para quem, como nós, se rege pelo calendário solar gregoriano, o início do mês de fevereiro é de “meia-estação”: quarenta mais alguns dias depois do Solstício de Inverno, quarenta mais alguns dias antes do Equinócio da Primavera. Por cá, o Inverno ainda promete persistir tantos dias quantos aqueles que já resistiu. Época de chuvas, ventos e baixas temperaturas, que não raras vezes inviabilizam a procissão em Santa Maria do Freixo. Além dos “Mistérios da Fé”, os devotos partilham um outro enigma: a razão de ser do trajeto que é percorrido pela dita procissão,
Em primeiro plano, o cruzeiro que constitui o destino da procissão. Ao fundo, o forum de Tongobriga (2020, DRCN ©, fotografia de António Manuel Lima).
como se aquele que escolhem fazer, fosse o único possível ou tivesse sido superiormente revelado. Trata-se de um percurso de cerca de um quilómetro – quinhentos metros em cada sentido – que tem o seu início na igreja paroquial de Santa Maria. Se o seu ponto de partida é por todos compreendido, o seu destino não tem razão de ser evidente: antes de iniciar o caminho de regresso, a procissão dirige-se a um cruzeiro – em aparência, igual a tantos outros que existem, nesta e em todas as outras paróquias – que foi erguido no alto de um pequeno outeiro, alcantilado sobre o forum de Tongobriga .
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Porquê conferir tal dignidade – constituir o destino da principal procissão de Santa Maria do Freixo – a uma tão simples cruz, situada em lugar ermo e desolado, ao qual – não fosse o forum romano que os arqueólogos começaram a pôr a descoberto há 40 anos atrás – ninguém daria importância alguma?
Porquê este percurso de um quilómetro? Porque se dirige a procissão ao velho forum e não a outro sítio qualquer? Primeiro mistério…
SEGUNDO MISTÉRIO Quando levantares os olhos para o céu, e vires o sol, a lua, as estrelas, e todo o exército dos céus, guarda-te de te prostrar diante deles e de render culto a esses astros,
X = 247
Este segundo mistério já passou por não ser mistério nenhum. Isto é, para o facto que lhe está na origem e que abaixo se descreve, já foi sugerida uma explicação que, caso se confirmasse como correta, acabava com o dito.
Dt.,4,19
É conhecido que a igreja paroquial de Santa Maria do Freixo tem uma orientação similar à do forum de Tongobriga 4, embora os dois monumentos não sejam visíveis entre si e distem, em linha reta, mais de trezentos metros um do outro. Com um primeiro e despreocupado olhar, dir-se-ia que ambos têm uma orientação Oeste – Este. Usando termos com maior significado para os que os construíram, dir-se-á Poente – Nascente. Aos olhos dos fiéis mais instruídos, e no caso específico da igreja paroquial, essa orientação não carece de qualquer outra razão de ser para além da que explica a posição da generalidade Igreja paroquial de Santa Maria do Freixo (2018, DRCN – Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de António Manuel Lima).
das igrejas. Ela corresponde a uma orientação canónica, pois quem estiver virado para o altar-mor, não se sentirá desorientado – isto é, saberá para onde está o Oriente – e estará virado para Jerusalém, o mais sagrado dos lugares do Cristianismo, onde Cristo ressuscitou, o lugar de onde virá de novo o Salvador no fim dos tempos.
Porém, a aparente simplicidade desta constatação – que nada explica – esbarra no facto de essa orientação ser calculada com base na observação direta do nascer e do pôr-do-Sol, Forum de Tongobriga, vista Nascente – Poente (2017, DRCN – Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de António Manuel Lima).
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muito antes de haver qualquer outro sofisticado meio para esse cálculo.
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Partindo do princípio de que uma dada orientação solar de uma determinada igreja é fruto de uma opção consciente e deliberada, decidida num preciso dia; e dado que, variando de dia para dia, o sol surge e desaparece em pontos diferentes da linha de horizonte; então, a orientação solar de um edifício revela o momento em que a observação foi feita e que determinou a orientação escolhida. Quanto ao forum , a explicação não poderia ser a que é apontada para a igreja, uma vez que a construção dele antecede em cerca de quatro séculos a difusão do Cristianismo nas áreas rurais desta região e não consta(va) que a sua posição no terreno tivesse sido determinada por questões doutrinais.
A não ser que se descobrisse uma explicação comum para a orientação dos dois edifícios. E, de facto, no caso específico de Tongobriga, há estudos que sugerem que um e outro teriam sido implantados de acordo com uma malha de traçado hipodâmico, delineada pela engenharia romana que há dois mil anos atrás definiu as linhas com as quais se haveria de coser toda e qualquer construção que viesse a ser erguida no perímetro urbano5. Em abono desta interpretação, poderia ser também invocada a constatação, fruto da nossa investigação, de que a igreja atual – que, de “antigo”, pouco tem – se sobrepôs a um outro edifício, também ele datável dos tempos do Império Romano, e que até poderá também ter funcionado como espaço de culto desde épocas muito remotas 6. Na prática, se a implantação dos dois edifícios tivesse obedecido a um mesmo plano de ordenamento urbano, seria essa a razão de ser da semelhança na orientação de ambos. No entanto, mesmo que se confirmasse como correta tal interpretação, que conciliou a perspetiva de arqueólogos e arquitetos, continuaríamos a carecer de cabal explicação.
Tal rede de ordenamento urbano, supostamente implementada aquando da fundação do povoado, e extensível a todo o espaço de Tongobriga intra e extramuros – rede essa que entendemos muito improvável e muito longe de estar provada 7 – teria ela própria uma determinada orientação, que por sua vez seria o resultado de uma opção deliberada, resultante da observação do percurso solar em determinado momento do ano, em detrimento de todas as outras orientações possíveis. Quedaria, pois, por explicar o momento escolhido para essa observação.
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Entre incertezas, umas mais incertas do que outras, algo se pode tomar por certo: - Os eixos maiores das duas construções que a procissão une – forum e igreja – têm uma orientação semelhante. Não são precisamente os 270 o que determinam um dos pontos cardiais, o Oeste, embora não ande longe da perspetiva a que também chamamos, genericamente, Poente. São 247 o. Porquê, então, 247 o?
Segundo mistério…
TERCEIRO MISTÉRIO Eu vos conduzi durante quarenta anos pelo deserto, sem que vossas vestes se gastassem sobre vós, nem os sapatos de vossos pés Dt.,29,5
X = 40
Na realidade, o terceiro mistério liga o primeiro ao segundo. O que constitui prova de que os factos enunciados naqueles não são independentes dos que se enunciam neste. Nos últimos anos, temos vindo a estudar o evento que, durante muitos séculos, deu vida à aldeia do Freixo: a Feira da Quaresma 8. Esta aldeia, situada no alto de um monte, esteve, durante centenas
de anos, tão ligada e tão dependente da vida da feira, que os forasteiros chegavam a confundir as duas, atribuindo à primeira o nome da segunda: vista dos lados de Amarante, a colina da antiga Tongobriga era conhecida, no século XVIII, como “o monte da Feira da Quaresma” 9.
A “Feira da Quaresma” era um grandioso acontecimento, muito para além de um evento meramente comercial, e chegou a ser considerada uma das maiores feiras do Norte de Portugal. Uma vez por ano, a partir da segunda sexta-feira da Quaresma, atraía milhares de visitantes, os quais dificilmente se distinguiam dos peregrinos. Há testemunhos de mercadores vindos dos vizinhos reinos de Castela e da Galiza, pela velha “estrada dos almocreves” ou pelo rio Douro, acima e abaixo, aos quais se juntavam outros vindos de diversas partes do reino de Portugal, percorrendo para isso distâncias que chegavam às cinquenta léguas, o que equivale ao que separa a pequena aldeia do Freixo da cidade de Lisboa 10. Procurar um sentido para a realização de um extraordinário evento de âmbito suprarregional numa acanhada aldeia que, atualmente, até a nível local tem dificuldade em se afirmar, é, do nosso ponto de vista, a mais relevante interrogação que se pode colocar a este extraordinário sítio.
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Pois é na resposta a essa interrogação que se encontra o elo de ligação entre os vários “mistérios” com que tentamos prender o leitor a este texto. Encontrar essa resposta equivale, em boa verdade, a negar todos estes mistérios de uma vez só. Voltemos ao número que consta da citação bíblica com que iniciamos este terceiro mistério. Número esse do qual, na realidade, nunca nos afastamos. É por todos sobejamente conhecido o peso simbólico do número quarenta no discurso bíblico, quer no Antigo, quer no Novo Testamento: - Quarenta são os dias e as noites do dilúvio ( Gn., 7,12); quarenta dias e noites permaneceu Moisés na montanha ( Ex., 24,18; Ex., 34,28; Dt., 9,9-11; Dt., 10,10); quarenta anos durou a peregrinação pelo deserto e a vingança do Senhor contra aqueles que ousaram duvidar da Sua palavra e dos Seus atos ( Nm., 14,33-24;
Nm., 32,13; Dt., 8,2; Dt., 29,5); quarenta dias jejuou Jesus Cristo no deserto, antes de começar o seu ministério ( Mt, 4,2; Mc, 1,13; Lc, 4,2); quarenta dias depois da Ressurreição acontece a ascensão do Salvador ( Act ,1,3). Poderíamos, continuando a citar a Bíblia, escrever mais de quarenta linhas de texto, pois nela se contam cento e quarenta referências ao número quarenta! Quarenta são os dias de penitência e jejum, de preparação para a Páscoa. É a “ quadragesima ”, em português, Quaresma.
Um período adequado para o comportamento reservado e recatado, para a introspeção e arrependimento. Enfim, o oposto de tudo o que o povo vê nos dias de feira: confusão, farra, transgressão, pecado… da insaciável gula e da destravada líbido. Tempo para tudo o que, fora do contexto de caos que a feira cria, as regras morais e sociais reprimem. Não é, pois, o período adequado para, em transgressão no tempo (a Quaresma) e no espaço (no adro da igreja e espaços adjacentes), reunir, num sítio ermo, milhares de forasteiros que não tinham onde dormir – se é que o desejavam fazer. Realizada em torno da igreja de Santa Maria, no centro da aldeia do Freixo – acrópole da antiga Tongobriga e centro do seu perímetro habitado e amuralhado, em época romana e pré-romana – a Feira da Quaresma padecia ainda de uma dificuldade adicional: a ausência de água. O que resta da antiga Feira da Quaresma na atual aldeia do Freixo: Rua dos Judeus (2018, DRCN – Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de António Manuel Lima).
Para além de uma única fonte – a “Fonte do Freixo”, que remonta, pelo menos, ao século XVI 11 – apenas uns poucos poços que
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dificilmente supriam as necessidades básicas dos escassos habitantes permanentes da aldeia e dos inférteis campos em descarnadas leiras graníticas das quais aqueles teimavam em tirar o sustento mínimo para continuarem vivos. Muito menos tão escassa água saciava a sede de milhares de pessoas e animais que aí se juntavam por alturas da Quaresma.
Para compreendermos cabalmente O que resta da antiga Feira da Quaresma na atual aldeia do Freixo: Outeiro das Castanhas [e dos Feijões] (2018, DRCN – Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de António Manuel Lima).
estas contradições, teremos, porém, de nos abstrair da conceção moderna de feira, cada vez mais reduzida à sua faceta estritamente económica. Só assim nos aproximaremos da sua conceção arcaica, em que a feira se aproxima da romaria, o mercado se confunde com o santuário, e a “ida às compras” é um ritual que muito tem em comum com a peregrinação. E nem o facto de ter por assento o solo sagrado do adro da igreja – então utilizado como superlotado cemitério – e a sua área envolvente, fez com que deixasse de se
O que resta da antiga Feira da Quaresma na atual aldeia do Freixo: Praça do Peixe (2018, DRCN – Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de António Manuel Lima).
fazer em plena quadragesima . Supremo (embora comum e recorrente) sacrilégio… Porquê, então, fazer, no Freixo, e na Quaresma, uma feira? E o que tinha essa feira – e o lugar onde ela se fazia – de tão especial? Sabemos que a feira não se destinava a suprir as necessidades dos escassos habitantes da aldeia do Freixo, nem tão pouco a escoar supostos excedentes – vá-se lá saber de quê – da miserável produção agrícola local. Ainda hoje se não reconhece a esta especial terra quaisquer especiais aptidões – agrícolas, pecuárias, cinegéticas, minerais ou outras – que pudessem ser especialmente atrativas para gentes vindas de tão longe. A Feira da Quaresma servia, essencialmente, de ponto de encontro para pessoas de fora com produtos de fora. Porquê, então, encontrarem-se aqui? Como conseguiram – este sítio
Poço de época moderna no interior de um dos cubicula de época romana (2018, DRCN – Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de António Freitas)
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e a sua feira - afirmar-se para lá das fronteiras do reino?
Terceiro mistério…
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QUARTO MISTÉRIO
X=2
O Senhor disse a Moisés: (…) Quando uma mulher der à luz um menino será impura durante sete dias (…) Ela ficará ainda trinta e três dias no sangue de sua purificação (…) Lv.12, 1-4
No primeiro mistério, interrogamo-nos sobre o trajeto e o destino de uma procissão que todos os anos liga a igreja ao forum . Sem que percebêssemos tão estranha opção por um ermo e um cruzeiro, aparentemente vulgar. No segundo mistério, invocamos a orientação da igreja paroquial, que é semelhante à do forum . Sem que ficasse claro o que a orientação canónica cristã pudesse ter a ver com um forum construído numa época em que Jesus Cristo – então um recém-nascido, ainda sem fama de Messias, numa longínqua terra a mais de cinco mil quilómetros de distância – era certamente um desconhecido para os tongobricenses. No terceiro mistério, procuramos – via “quarenta” – um sentido para a antiquíssima existência de uma grandiosa feira que parecia ter escolhido um estranho lugar e uma estranha época do ano para se fazer. Tentando também perceber o aparente absurdo de uma feira, na qual imperava a carne de porco, a começar à sexta-feira, na Quaresma, à volta da igreja e em cima do venerável solo onde repousavam os antepassados dos poucos habitantes permanentes de Santa Maria do Freixo.
Um estranho paradoxo – no plano da fé e da ortodoxia católica, uma estranha heresia – de outra forma difícil de entender, sobretudo se pensarmos que a feira era gerida por um convento de freiras que lucrava – e lucrava muito – com a farra que na feira se fazia em plena Quaresma, em especial numa época histórica – a da celebérrima e implacável Contrarreforma – em que a igreja ameaçava de excomunhão os que ousassem tomar por sagrados os lugares profanos ou que cometessem infame sacrilégio, tomando Imagem de Nossa Senhora da Purificação na igreja paroquial (2019, DRCN – Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de Jorge Araújo).
por profanos os lugares sagrados.
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E não deslindamos – ainda – a dedicação da paróquia de Santa Maria do Freixo a Nossa Senhora da Purificação, cuja festa se realiza a dois de fevereiro. Porquê a preferência por esta específica invocação de Santa Maria que nesta data é celebrada? Quarenta – uma vez mais, exatos quarenta – dias depois do Natal, assinalando o fim do período necessário à purificação de Maria, Mãe de Cristo, até então – não obstante a conceção sem pecado – em “quarentena”, motivada pelo parto do Salvador ( Lv .12, 2-4; Lc .2, 22). Porém, nem a fixação do Natal a 25 de dezembro nem a consequente fixação do final da quarentena de Maria a 2 de fevereiro foram processos rápidos, lineares e generalizados a todo o mundo cristão. Fazendo jus à tradição bem cristã de celebrar a morte – isto é, o verdadeiro nascimento [para a vida eterna] – a data do nascimento de Cristo não é explicitamente mencionada na Bíblia. E a sua celebração aos 25 do mês de dezembro, não só não colhe consenso entre todas as igrejas cristãs como é um fenómeno relativamente tardio, não anterior ao século IV 12. Quanto ao dia dois de fevereiro, ocorre 40 exatos dias após o dia 25 de dezembro, correspondente ao “Solstício de Inverno”, tal como ele é calculado e celebrado no calendário juliano: dia de celebração do Natalis
Invicti , ou aniversário de Sol Invictus , assinalado com festividades descritas no célebre “ Chronographus Anni CCCLIV ” ou “Calendário de 354”, de Furius
Dionysius Filocalus 13. Tratando-se de uma festividade calculada por referência ao dia de Natal, a purificação de Maria a 2/2 não pode, por isso, constituir uma celebração anterior a essa época. Escusamos, pois, de procurar as origens diretas dessa celebração na época em que foi construído o forum de
Tongobriga . Aliás, nos primeiros tempos do Cristianismo, aquilo que era efetivamente celebrado a 2 de fevereiro não era propriamente o fim da quarentena e a purificação de Maria, mas a consequente possibilidade de se proceder à apresentação da criança no templo e o correspondente encontro de Simeão com Cristo (Lc., 2, 26), o que por sua vez originou a festa do
Hypapante (literalmente “encontro”, em grego) 14. A comemoração da Purificação, enquanto festa independente associada ao ciclo natalício, ter-se-á iniciado no Oriente. Atesta-se a sua celebração, pelo menos, desde o século V, em data anterior ao Concílio de Éfeso, em 431 15. Em Roma, foi adotada pela liturgia papal e solenizada com a realização de uma procissão, provavelmente durante o pontificado de Teodoro I (642 – 649) 16.
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Para a compreensão da questão que nos trouxe até aqui, o que é verdadeiramente relevante é que a dedicação formal das paróquias, como a de “Santa Maria do Freixo”, a uma particular invocação da Virgem Maria – e a celebração, neste caso, da sua purificação – não será um fenómeno anterior à Baixa Idade Média. A sua designação como “Nossa Senhora” – da Purificação, Anunciação, Assunção ou Natividade, para citar apenas as festas que se registam desde tempos mais remotos – documenta-se desde o século XIII, generaliza-se a partir do século XV e atinge o seu auge no século XVIII 17. Independentemente da hagiotoponímia e da consagração do Freixo à Purificação de Maria, celebrada a 2/2, onde se inspirou esta paróquia e os seus paroquianos para dar especial ênfase a esta invocação. E desde quando o fez? Poder-se-á dar o caso de a dedicação deste sítio a esta data, festejando-a com pompa e circunstância, ter encontrado “terreno favorável” – isto é, consolidada tradição – e desbravado caminho nalguma outra celebração anterior, embora com novo pretexto? Quarto mistério…
MISTÉRIOS À PARTE
COS(x)=SEN(-17,1)/COS(41,159888)
Nada há de encoberto que não venha a ser descoberto, nem de oculto que não venha a ser revelado Mt.,10,26
Pôr-do-Sol a 2 de fevereiro no forum de Tongobriga, em frente à reconstituição de um templo (2018, DRCN – Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de António Manuel Lima).
Prescindindo de um quinto mistério, e parafraseando o conhecido ditado popular que diz que “o Sol, quando nasce, é para todos”, diríamos que é impossível desvendar apenas um dos quatro “mistérios” – a razão de ser da realização de uma festa / feira e da escolha de uma invocação, celebrada num particular dia, com uma procissão de estranho destino – sem se fazer luz sobre todas as interrogações que em cada um deles colocamos. E essa luz está, literalmente, ao alcance do nosso olhar. Senão vejamos. A equação acima enunciada, uma vez resolvida, permite perceber algo que o céu de Inverno – muitas vezes encoberto – teima, em circunstâncias normais, em esconder: - Para um dado local com a latitude de Tongobriga / Freixo (41,159888) e para um – neste caso, dois – edifícios ou conjuntos de edifícios com uma imensa carga simbólica
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(igreja paroquial e forum / termas) com um eixo maior (Nascente -Poente) orientado a 247 o, só há dois momentos por ano em que o Astro Rei, eterna fonte de luz – tal como Nossa Senhora, eterna fonte de vida desde que deu à luz o Salvador – tem a necessária declinação (-17,1 o) para desaparecer na linha do horizonte em perfeito alinhamento com esse eixo. Ou seja, a 247 o. Esses momentos são o início do mês de fevereiro e o início do mês de novembro, alturas em que, a cada final do dia, os últimos raios de luz incidem de frente sobre quem entra no forum e nas termas – antigo templo cristão, como veremos – e também na atual igreja paroquial – antiga domus romana, como já vimos – fazendo incidir a mesma luz, através da porta principal, no seu local mais sagrado: aquele em que se guarda o Santíssimo Sacramento. Será este o elo mais forte que liga um edifício romano que já foi igreja, uma igreja que já foi edifício romano, uma feira que começou junto ao primeiro e acabou à volta do segundo e uma procissão que começa num e acaba noutra, num dia que está na origem da implantação de ambos. Confuso? Não fique. Pôr-do-Sol a 2 de fevereiro no forum de Tongobriga, refletido a Nascente, nos vidros do edifício do restaurante (2018, DRCN – Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de António Manuel Lima).
Regressemos à feira. Dita “da Quaresma” por quem não lhe conheceu outro nome. Se é certo que, nos seus últimos tempos, a “Feira da Quaresma” se realizou em torno da igreja paroquial, não é menos certo que até à centúria de seiscentos ainda se mantinha no velho forum da já esquecida
Tongobriga . A sua transferência para o centro da aldeia ter-se-á dado seguramente antes de 1659, muito provavelmente ainda antes de 1618 18.
Ermida de N. S. Velha
ses
Rua dos mercadores e do peixe
Rossio 310.31
309.68 310.16 309.89
Paredes das tendas
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Caminho Manhuncelos - Canave
Paredes das tendas
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Espaços da Feira da Quaresma no século XVI, quando ainda se realizava no forum de Tongobriga20 (2017, DRCN – Estação Arqueológica do Freixo©, ilustração de António Freitas).
Em 1557, o muro perimetral do forum romano era chamado “paredes da feira”. O espaço onde já se viu uma possível “basílica” 19 era o “rossio da feira”. O recinto central, para o qual já foi apontada a existência de um templo, era “a feira” propriamente dita. A área correspondente ao que já foi interpretado como “porticado Norte do forum romano” era a “Rua dos Mercadores e do Peixe”. E o edifício das antigas termas romanas era, nada mais, nada menos, do que a “Ermida de Nossa Senhora a Velha”, assim designada muito antes de se chamar, como ainda hoje, “Capela dos Mouros”. Ao lado do edifício das antigas termas, no qual então se curavam as feridas da alma, curavam-se as do corpo, em especial as dos pés, pois árduo e longo teria sido o caminho até à feira, tanto quanto o seria o caminho de regresso. Por isso, no século XVI, à entrada do forum , ou, melhor dizendo, do recinto da feira, tinha direito a lugar de destaque a oficina do sapateiro! 21. Na Quaresma, aí se reuniram anualmente, durante séculos, vendedores – de “banha da cobra”, mas não só – e compradores, certamente, mas também todos os outros que procuram as grandes concentrações de gente para se fazerem ouvir. Como que guiados por calendários infalíveis e precisas sinaléticas. As vozes dos que, em época romana, frequentaram esse forum , que cremos ter sido um forum pecuarium – um recinto, que por natureza é fechado, e não uma praça, que por natureza seria aberta – parecem ser ouvidas de forma cristalina nas palavras escritas pelo Padre Torquato Peixoto de Azevedo em 1692, mais de doze séculos depois de o velho Império se finar: - Para além de realçar a grandiosidade da feira – “uma das maiores entre Douro e Minho” – e a antiguidade do sítio em que ela se fazia – “foi fortificação de mouros de que ainda há muitos vestígios” – diz aquele sacerdote que à feira do Freixo também chamavam… “feira dos porcos” 22. Muito antes de, nos séculos XVIII e XIX, na Feira da Quaresma, e à volta da igreja, se venderem pães e doces, frutas e legumes, roupas, tecidos, chapéus e cobertores, produtos de ourivesaria e retrosaria 23, documenta-se, pois, um mercado pecuário que se realizava no… forum
pecuarium da Tongobriga romana.
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Um sítio que mantém a sua função original durante mais de mil e quinhentos anos não é um sítio qualquer! E essa função não pode deixar de ser olhada como a sua vocação intemporal. O seu genius loci . O espírito do lugar. A sua identidade primordial. A explicação para a Feira da Quaresma não pode, por isso, ser outra: já se fazia na “Quaresma” antes de esta o ser! Por outras palavras, já se celebrava nessa época do ano desde um tempo em que por esses dias se celebrava festivamente a ressurreição da natureza – algo a que hoje chamamos Primavera – muito antes de se começar a celebrar a ressurreição de Cristo – a que hoje chamamos Páscoa. Encarar a Quaresma cristã como uma herança das celebrações pré-cristãs do advento da Primavera e do renascimento cíclico da natureza dá sentido à ligação entre a moderna feira e o antigo mercado. Um evento que, como o gigantesco tamanho do seu berço sugere, nasceu pujante no forum de Tongobriga . Quase por milagre, foi mantido vivo pelas freiras do Convento de São Salvador de Tuías e pelas suas sucessoras de São Bento de Avé-Maria da cidade do Porto, sobrevivendo em multissecular agonia no centro da aldeia do Freixo. Moribunda e desprezada, a feira morreu às portas da igreja de Santa Maria em 1905, data da sua última aparição em terras do Freixo, sem nunca ter perdido as longínquas e inconscientes noções do seu dia de aniversário e local de nascimento: o forum . De forma recorrente, como em várias cidades romanas, da Península Ibérica e não só, o local onde se implantou o forum pecuarium continuou, ao longo dos séculos, a desempenhar as mesmas funções 24. Ora, sendo o forum – na configuração que tem, tal como o vemos hoje em Tongobriga – uma estrutura de época romana, pré-cristã, a sua orientação para o Sol poente nos inícios de fevereiro requer outra explicação que não a que é dada à escolha do dia 2 desse mês para a realização da procissão solene que o liga, ainda hoje, à igreja paroquial. Mas, no calendário romano, esta data não parece merecer grande ênfase, embora a própria origem etimológica de Februarius possa remeter para a “purificação” e práticas lustrais, tal como os Lupercalia , nesse mesmo mês celebrados 25. O velhinho – ainda e sempre, muito útil – “Dictionnaire des Antiquités Grecques et Romaines”, assinala para esta data, correspondente aos IV dias das Nonas de fevereiro, apenas e tão só, “le coucher de [la constellation de] la Lyre et le milieu de [la constellation de] Lion” 26. Um evento celeste para o qual não se conhece celebração especial.
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Já o dia anterior, o primeiro do mês, era aquele em que se celebrava o culto de lunoni Sospitae Matri Reginae 27. Mas, uma vez mais, não temos qualquer evidência de ter sido dado grande destaque a esta celebração em Tongobriga . Pelo que não temos argumentos para aqui vislumbrar este culto como motivo para a comemoração desta data.
Certo é que, hoje em dia, são conhecidas várias cidades romanas cujo ordenamento obedece a uma malha urbana alinhada com o pôr-do-Sol nos inícios de fevereiro. Alinhamento esse que é interpretado à luz da realização, com origem em tempos pré-romanos, de festividades que hoje são conhecidas como de “meiaestação”, mas que correspondiam, à época, a festivais de início de estação, neste caso a Primavera 28. Com efeito, na atualidade, alheios à tradição secular do calendário solar que “nós”, “Cristandade Ocidental”, herdamos dos imperadores e papas da Cidade Eterna, alguns biliões de pessoas do outro lado do mundo, mais alguns milhões deste lado do mesmo, regulam o seu tempo por calendários lunares ou lunissolares, e celebram nos inícios de fevereiro o princípio de um novo ano, anunciando a chegada da desejada Primavera. Por ser geograficamente mais próximo de nós, aqui lembramos o caso da Irlanda que, fazendo jus às raízes “ celtas ” que sempre gostam de invocar, ainda recordam a festa do Imbolc , a qual, no calendário précristão irlandês, seria uma festa de lustração, que é como quem diz, de purificação 29, embora (ainda) não de Maria. O que, por outro lado, nos remete para a célebre placa de bronze de Coligny 30, a qual, sendo um documento epigráfico datável de plena época imperial, reflete a organização de um calendário lunissolar, que realça a importância das quatro festas de meia-estação (inícios de novembro, fevereiro, maio e agosto), ainda hoje presentes, sob outros mantos, na forma como se festejam tais datas. Um calendário cuja origem é anterior à reforma juliana e ao domínio romano, constituindo como que um “portal do tempo” que nos ajuda a vislumbrar, embora de forma muito fragmentária, alguns traços da cosmovisão dos povos indo-europeus. Este alinhamento dos principais edifícios romanos com momentos de grande simbolismo para as populações pré-romanas e respeitador de antigas tradições, é visto como testemunho de uma espécie de “compromisso” 31, resultado de uma “negociação”, implícita ou explícita, da administração romana com as elites locais, de tal forma que as celebrações e cultos pré-existentes foram de certa maneira incorporados na forma como as direções canónicas dos edifícios, em especial os mais importantes, foram consideradas.
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No caso do forum de Tongobriga , o seu alinhamento com o pôr-do-Sol em dia de “festa de meia-estação”, de tradição claramente pré-romana, ainda está imbuído de maior intencionalidade e simbolismo, pois nesses dias (inícios de fevereiro, que agora são festas da luz e da purificação; e inícios de novembro, que agora são festas de Todos-osSantos e dos Fiéis Defuntos) o Sol desaparece atrás de um grande penedo – o Penedo do Cramol – em torno do qual se documentam várias ações rituais, de tradição muito antiga, que não se resumem às ladainhas que estão na base dos clamores que lhe dão o nome. Em termos etnográficos, e em tempos muito recentes, registam-se também, em torno dessa penha sagrada, ritos propiciatórios da fertilidade 32 que, não tendo deixado marcas reconhecíveis e atribuíveis a tempos pré-romanos, estão certamente na base da vontade de, em tempos imperiais, aí depositarem aras votivas 33. A mesma vontade – e a mesma necessidade - que, quase dois milénios depois, levou a que nele se erguesse, primeiro, um simples cruzeiro, e mais tarde, um altar, acessível por escadaria granítica que simula a ascensão ao céu. Penedo do Cramol, no Alto do Castelinho, Marco de Canaveses (2018, DRCN – Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de António Manuel Lima).
Sem esquecer a romaria e a vizinha capela de Nossa Senhora do Castelinho, que hoje dão corpo ao feriado municipal a 8 de setembro, dia da Natividade de Maria. Como bem lembra Marco García Quintela, o problema, para além de converter pessoas, sempre foi também converter os lugares 34. Se não consegues vencê-los…
O outro lado do Penedo do Cramol. Altar para celebração de missa campal, no Alto do Castelinho, Marco de Canaveses (2018, DRCN – Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de António Manuel Lima).
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Capela de Nossa Senhora do Castelinho, próxima do Penedo do Cramol (2018, DRCN – Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de António Manuel Lima).
NON NOVA, SED NOVE
Nada de novo, embora de nova forma apresentado. Em verdade vos dizemos que as quatro pequenas palavras desta conhecida locução latina com que nos aproximamos do fim, dizem tanto quanto todas as páginas deste já longo texto. Pois, de facto, seja qual for a sua forma, a sua função e o seu fim, falar do forum, da feira, da festa, ou do fado do Freixo, tudo parece resumir-se a constatarmos – como já muitos antes de nós fizeram – que nada se perde, nada se cria, e tudo se transforma. Começamos por evocar a procissão que ainda hoje une a igreja ao forum . Uma procissão que é dedicada a Nossa Senhora da Purificação, aos dois dias do segundo mês do ano. Esse dia não podia ser outro: um dia em que ainda hoje se celebra a Luz. Seja qual for a Santa invocação escolhida para dar nome e corpo a essa fascinante celebração! Dois de fevereiro. Continuemos a celebrá-lo. Não vá o Sol decidir não nascer amanhã. Que Deus nos livre!
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Freixo (Marco de Canaveses), antiga Tongobriga pré-romana, romana e sueva, aos 14 dias do mês de março de 2018. Triste dia em que nos deixou Stephen Hawking. O mesmo dia em que, cento e 40 anos antes, nascia Albert Einstein. Os dois supraterrestres a quem devemos o que conhecemos sobre o Cosmos 35.
Serpente gravada no chão, em posição de saída da câmara de sauna do balneário castrejo de Tongobriga (2018, DRCN – Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de Egídio Santos)
Pôr-do-Sol. Forum de Tongobriga. 2 de fevereiro de 2018 (2018, DRCN – Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de António Manuel Lima).
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NOTAS
Igreja de Santa Maria do Freixo e a Ecclesia de Tongobriga, Paróquia da Diocese
LIMA, António Manuel (coord.) - Freixo Antigo e Moderno. A Feira da
Portucalense no Século VI. In MACIEL, Justino; MOURÃO, Cátia (coord.) - Ima-
Quaresma I – Séculos XV a XIX. Porto: Direção Regional de Cultura do Norte/
gens do Paradeisos nos Mosaicos da Hispania, Amsterdam: Adolf M. Hakkert,
Câmara Municipal do Marco de Canaveses, 2017.
Publisher, 2016. pp. 326 – 365.
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
LIMA, António Manuel (coord.) - Freixo Antigo e Moderno. A Feira da Quaresma
7
II – Documentos para a Sua História. Porto: Direção Regional de Cultura do
dos 500 anos do mais antigo documento sobre a Feira da Quaresma, Freixo,
Norte/ Câmara Municipal do Marco de Canaveses, 2017.
DRCN / Junta de Freguesia do Marco, 2018.
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
LIMA, António Manuel - A Feira da Quaresma. Exposição comemorativa dos
8
500 anos do mais antigo documento sobre a Feira da Quaresma, Freixo, DRCN
Quaresma I – Séculos XV a XIX. Porto: Direção Regional de Cultura do Norte/
/ Junta de Freguesia do Marco, 2018.
Câmara Municipal do Marco de Canaveses, 2017.
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
2
LIMA, António Manuel (coord.) - Freixo Antigo e Moderno. A Feira da Quaresma
1
A 20 de agosto de 2020, celebram-se 40 anos sobre o início da investigação
LIMA, António Manuel - A Feira da Quaresma. Exposição comemorativa
LIMA, António Manuel (coord.) - Freixo Antigo e Moderno. A Feira da
arqueológica em Tongobriga, por uma equipa liderada por Lino Tavares Dias. O
II – Documentos para a Sua História. Porto: Direção Regional de Cultura do
autor destas linhas trabalhou sobre este sítio durante 23 anos (1997-2019) e
Norte/ Câmara Municipal do Marco de Canaveses, 2017.
foi Coordenador do serviço que a Direção Regional de Cultura do Norte aí tem
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
sediado – a Estação Arqueológica do Freixo – de maio de 2014 a maio de 2019. 3
http://www.anuariocatolicoportugal.net/lista_oragos.asp?offset=400
LIMA, António Manuel - A Feira da Quaresma. Exposição comemorativa dos 500 anos do mais antigo documento sobre a Feira da Quaresma, Freixo, DRCN 4
Recorrendo a cálculos realizados com uma estação total, cuja precisão não
estava ao alcance dos que viveram e construíram na Tongobriga romana e no
/ Junta de Freguesia do Marco, 2018. (disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
Freixo medieval, a diferença entre ambos é de cerca de 1%, o que não tem relevância para a interpretação do significado histórico dessa orientação. Agradecemos a Marta Queirós, topógrafa e amiga, a gentileza do trabalho de topografia. 5
ROCHA, Charles; DIAS, Lino Tavares; ALARCÃO, Pedro - Tongobriga. ReflePágina 37 de LIMA, António Manuel (coord.) - Freixo Antigo e Moderno. A
xões sobre o seu desenho urbano. Porto: CITCEM / Afrontamento, 2015.
9
6
Feira da Quaresma I – Séculos XV a XIX. Porto: Direção Regional de Cultura do
Das imediações da igreja de Santa Maria do Freixo, procedem três inscrições
romanas, das quais pelo menos duas são votivas e dedicadas, uma a Júpiter
Norte/ Câmara Municipal do Marco de Canaveses, 2017.
Óptimo Máximo, e outra ao Génio dos Tongobricenses. Cfr. REDENTOR,
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
Armando José Mariano - A cultura epigráfica no Conventus Bracaraugustanus
(pars occidentalis). Percursos pela sociedade brácara da época romana. Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2011. Tese de Doutoramento em Arqueologia (policopiado), n.º 65, 114 e 202. Sobre a interpretação das ruínas descobertas sob a igreja paroquial, cfr. LIMA, António Manuel - Os Mosaicos da
TO N G O B RI GA : CO L E TÂ NE A DE E STUDOS COM E M OR ATIVOS DE 4 0 A NOS DE INV E STIGAÇÃO
47
10 Em especial as páginas 80–83 de LIMA, António Manuel (coord.) - Freixo
21 Páginas 17-20 de LIMA, António Manuel (coord.) - Freixo Antigo e Moderno.
Antigo e Moderno. A Feira da Quaresma I – Séculos XV a XIX. Porto: Direção
A Feira da Quaresma I – Séculos XV a XIX. Porto: Direção Regional de Cultura
Regional de Cultura do Norte/ Câmara Municipal do Marco de Canaveses, 2017.
do Norte/ Câmara Municipal do Marco de Canaveses, 2017.
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
11 Página 14 de LIMA, António Manuel (coord.) - Freixo Antigo e Moderno. A
22 Página 432 de AZEVEDO, Torquato Peixoto de – Memórias Ressuscitadas da
Feira da Quaresma II – Documentos para a Sua História. Porto: Direção Regio-
Antiga Guimarães [manuscrito de 1692]. Porto: Typographia da Revista, 1845.
nal de Cultura do Norte/ Câmara Municipal do Marco de Canaveses, 2017.
23 Páginas 36-45 de LIMA, António Manuel (coord.) - Freixo Antigo e Moderno.
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
A Feira da Quaresma I – Séculos XV a XIX. Porto: Direção Regional de Cultura do Norte/ Câmara Municipal do Marco de Canaveses, 2017. (disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
Documento XV, datado de 02-05-1576. 12 Como se compreende, esta questão dispõe de vasta bibliografia publicada. Aqui, seguimos:
24 Página 362 de LIMA, António Manuel de Carvalho – Tongobriga Romana. No-
HIJMANS, Steven – Sol Invictus, the Winter Solstice and the Origins of Christ-
vos Dados, Novas Perspectivas. In MARTÍNEZ CABALLERO, Santiago; SANTOS
mas, Mouseion. 3ª Série. 3 (2003) 377–398.
YANGUAS, Juan; MUNICIO GONZÁLEZ, Luciano J. (ed.) – El Urbanismo de las
13 Id., ibidem.
Ciudades Romanas del Valle del Duero. Actas de la I Reuníon de las Ciudades
14 Página 210 de CLAYTON, Mary – Feasts of the Virgin in the liturgy of the
Romanas del Valle del Duero, Segovia, 20 y 21 de Octubre del 2016. Anejos de
Anglo-Saxon church. Anglo-Saxon England. Cambridge. 13 (1984) 209-233.
Segovia Historica, 2. Segovia: Museo de Segovia (Junta de Castilla y Léon) y Aso-
15 Id., ibidem.
ciación de Amigos del Museo de Segovia, 2018. pp. 343–365.
16 Id., página 213.
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
17 MOREIRA, Domingos A. – Oragos Paroquiais Portugueses. In AZEVEDO,
25 Páginas 97-98 e 119-120 de MARCOS CELESTINO, Mónica – La religión
Carlos Moreira (dir.) – Dicionário de História Religiosa de Portugal. 3. Lisboa:
romana arcaica. Una propuesta para su estudio. Madrid: Signifer Libros, 2004.
Círculo de Leitores, 2001. pp. 325–328.
26 Página 845, s.v. “Calendarium” de DAREMBERG, Ch.; SAGLIO, Edm. – Dic-
DIAS, Geraldo J. A. Coelho – A Devoção do Povo Português a Nossa Senhora
tionnaire des Antiquités Grecques et Romaines, Tomo I, Parte 2. Paris: Librairie
nos Tempos Modernos. Revista da Faculdade de Letras. História. Porto. 4 (1987)
Hachette et C.ª, 1887.
227–253.
27 https://romanrepublic.org/roma/events/lunoni-sospitae-matri-
18 Página 13 de LIMA, António Manuel (coord.) - Freixo Antigo e Moderno. A
reginae-2020-02-01/
Feira da Quaresma I – Séculos XV a XIX. Porto: Direção Regional de Cultura do Norte/ Câmara Municipal do Marco de Canaveses, 2017. (disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
28 GARCÍA QUINTELA, Marco V.; GONZÁLEZ-GARCÍA, A. César – Archaeological footprints of the “Celtic Calendar”?. Journal of Skyscape Archaeology. London. 3 (2017) 49–78. 19 Páginas 75-76 de DIAS, Lino Tavares – Tongobriga. Lisboa: Instituto Portu-
29 Ver, entre muitos, páginas 75–87 de LE ROUX, Françoise; GUYVONARC’H,
guês do Património Arquitectónico (PPAR), 1998.
Christian-J. – As Festas Celtas. Coruña: Toxosoutos, 2003.
20 Página 17 de LIMA, António Manuel (coord.) - Freixo Antigo e Moderno. A
30 O calendário de Coligny conta com vastíssima bibliografia. Aqui seguimos:
Feira da Quaresma I – Séculos XV a XIX. Porto: Direção Regional de Cultura do
TORRES MARTÍNEZ, Jesús F.; MEJUTO GONZÁLEZ, J. – El “Calendario Celta”
Norte/ Câmara Municipal do Marco de Canaveses, 2017.
como fuente para el Estudio de la Cultura Celtica. Arqueoastronomía y Etnohisto-
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
ria. In BURILLO MOZOTA, Francisco (ed.) – VI Simposio sobre Celtiberos. Ritos y Mitos. Actas. Zaragoza: Centro de Estudios Celtibéricos de Segeda, 2010. pp. 541–551. BOUZAS SIERRA, Anton – Etnoastronomía del Calendario Céltico en Galicia. Anuario Brigantino. Betanzos (A Coruña). 38 (2015) 67–90.
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GONZÁLEZ-GARCÍA, A. César; GARCÍA QUINTELA, Marco V.; BELMONTE, Juan A. – Landscape Construction and Time Reckoning in Iron Age Celtic Iberia. Documenta Praehistorica. Ljubljana. 43 (2016) 479–497. 31 Página 431 de GONZÁLEZ-GARCÍA, A. César; GARCÍA QUINTELA, Marco V. – Roman or Gaulic: orientation as a footprint of cultural identity?. Mediterranean Archaeology and Archaeometry. Rhodes. 18: 4 (2018) 425-433. 32 MONTEIRO, Emília – Marco de Canaveses (Cadernos Monográficos). I. Castelinho, Porto: s.e., 1978. 33 Página 305 de DIAS, Lino Tavares – Tongobriga. Lisboa: Instituto Português do Património Arquitectónico (PPAR), 1998. 34 Página 74 de GARCÍA QUINTELA, Marco V. – Topoastronomía de las Piedras Sacras en la Edad del Hierro y la Antigüedad”. In ALMAGRO-GORBEA, Martín; GARI LACRUZ, Ángel – Sacra Saxa: Creencias y Ritos en Piedras Sagradas: Actas del Coloquio Internacional Celebrado en Huesca del 25 al 27 de Noviembre de 2016. Huesca: Instituto de Estudios Altoaragoneses, 2017. pp. 66-112. 35 Os nossos sinceros agradecimentos a quem muito nos ajudou a não perder o rumo quando metemos mãos à obra na árdua, mas gratificante tarefa de desbravar este tema, retirando-o da sombra que sobre ele pairava. Sozinhos, ainda estaríamos nas trevas: António Freitas, António Leitão Carvalho, António Manuel Silva, João Lima, Jorge Martins Araújo, Lucinda Lima, Manuel Luís Real, Marco García Quintela, Maria de Fátima Dias, Maria Margarida Carvalho, Marta Queirós, Rui Faria e Virgílio Correia. A todos, a minha gratidão.
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3 BROWN UNIVERSITY AT TONGOBRIGA I NVESTI GAÇÃO
Rolf Winkes Brown University Professor Emeritus at the Joukowsky Institute for Archaeology and the Ancient World Rudolf_Winkes@Brown.edu Rolf Winkes is Professor Emeritus of Classical Archaeology, History of Art and Architecture and Old World Archaeology and Art at Brown University in Providence, R.I., USA. He is the co-founder of the former Center for Old World Archaeology and Art, the predecessor of the Joukowsky Institute for Archaeology and the Ancient World. He received his education and PhD in Germany prior to being invited to come to work in the USA. Â For almost four decades he taught and published on subjects that span from the Early Greek period to Late Antiquity. In the 1980s and 1990s he conducted excavations in the Palaiopolis of Corfu in Greece and afterwards at Tongobriga in collaboration with IGESPAR. At Brown he created a number of other international programs. He has also been active in international museum expositions and given short courses at the Universidade de SĂŁo Paulo, Brazil. In retirement he continues to teach as a volunteer at the Coastal Senior College in Damariscotta, Maine.
Brown University at Tongobriga 2004 – 2009: Background, goal, history and strategy of an international collaboration
Most excavations have the following goals in sight: careful field work while keeping note of as many minute details as possible and excellent preservation. This article is meant to show that this goal can also become a means for something much further. I hope that these reflections will inspire others to try something similar1.
The beginning of the excavation in 2004 (2004, DRCN–Estação Arqueológica do Freixo©, ilustration by Jorge Araújo).
The spirit of the site of Tongobriga has become a daily companion of mine ever since I started excavating in Freixo2. Prior to that I worked in collaboration with the Greek Archaeological Service and the University of Louvain-la-Neuve in Belgium and the late Professor Tony Hackens. The site was in the Palaiopolis of Corfu, in the area of the Greek and Roman agora, not far from an ancient harbor, a setting that must have somewhat resembled San Marco in Venice. I directed the Brown–Belgian team which included scholars and students from Greece, Belgium, Brazil, and Brown University
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The first summer of the Brown University excavation in 2004 (2004, photo by Brown University Excavations©).
in Providence, RI (USA)3. The tradition of the Greek system is to issue permits through Foreign Schools in Athens rather than the Ministry of Culture directly. We had obtained ours through the Belgian School, since there was not much competition to get an open-ended permit rather than one on a yearly basis. The American School has three permanent sites and just a limited number of 2-3-year permits. Hence there are a great deal of applications from many colleges for just a few sites available. I do not believe it to be in the best interest of the site to only excavate there for 2-3 years. When my Belgian colleague Prof. Tony Hackens died suddenly of a brain aneurism in his office, I ended up as “a man without country and permit”. All I was granted was a final study season. At the same time, the undergraduate program of our Archaeological Center at Brown was in dire need of an excavation site. Two of my colleagues excavated in Mediterranean countries supported mainly by graduate students, since the sites were not well suited for the typical Brown undergraduate student. My Center had endowments to excavate which made us attractive to foreign institutions. We showed that we were financially able to return for longer than just one or two field seasons. This is often the case for professors who have to rely on outside grants for support. In the case of Corfu, it was to be “forever”. In the case of Tongobriga it would be until the year of my planned retirement at age 66-67. I had life-long tenure but chose to retire at that age
The first summer of the Brown University excavation in 2004 (2004, photo by Brown University Excavations©).
with the promise of a “golden parachute”. I negotiated money for a study season at Tongobriga after my retirement as part of my retirement package.
The country in Europe which would be best suited for a collaboration was influenced by another international collaboration. Among several others, we had a faculty exchange program with the University of São Paulo. The Brazilian colleagues came to Brown to do much of their research, without teaching obligations, because we have one of the best libraries in the United States for Classical Archaeology. The Brown faculty--almost exclusively me--would go to USP and teach short term courses.
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Prof. Thomas with her lab top near the trench (2006, Brown University Excavations©, photo by Rolf Winkes).
Prof. Kormikiari explaining her plans and strategy to Rolf Winkes (2006, photo by Brown University Excavations©).
When I excavated in Greece, I invited a Greek-Brazilian PhD candidate, Cristina Kormikiari, to be part of the team at Corfu. In light of the Brazilian exchange to choose a Portuguese site came thus as a natural. The team for Tongobriga was put together from the former team in Corfu. It included Professor Katerina Thomas, a Brown PhD who is currently the Dean of Faculty at Deree College, the American College in Athens; Professor Cristina Kormikiari, the former Greek-Brazilian graduate student on Corfu who had received her PhD from USP. They had as collaborators a younger generation of PhD candidates. Working with Prof. Katerina Thomas was Vagner Porto from USP and with Prof. Cristina Kormikiari was Jason Urbanus from Brown. Jason would receive his PhD with a subject directly related to Tongobriga4. When an undergraduate student at a leading private university in the United States chooses archaeology as the major field, it does not mean that the student is necessarily planning to continue the study in archaeology for a Master or Doctoral thesis or, have archaeology as a career in mind. Nonetheless, a major in archaeology can be very helpful in applying to other universities for admission to higher degree programs. For example, Brown University does not have a Law School. Therefore, students cannot take courses in law. When they apply to a Law School, this lack of law courses is recognized as such and one evaluates the appropriateness of the student’s background for the study of law. Archaeology as a field is viewed positively by Law Schools. A student has been trained to reconstruct and build a case from circumstantial evidence. The student has learned to pay attention to minute details and exercise logical thinking and deductions. So, many of the Brown undergraduate students in the trenches had not planned to continue as archaeologists. Therefore, the evenings and the free time on weekends had different psychological effects and the expectations differed from students who had archaeology as a career goal in mind. Tongobriga became the right choice for Brown; not only for scientific archaeological reasons, but also due to its location. Marco de Canvases was nearby for any evening activities. There was convenient public transportation available for weekend excursions to visit museums and other attractions. Oporto and many other towns were also close by. As an educator
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Jason Urbanus kneeling before Rolf Winkes and Katerina Thomas. At the end of the season and during a dinner party leaders of the excavation were awarded a golden pick and admitted as Knights to the Order of the Capela dos Mouros (2006, Brown University Excavations©, photo by Mary Winkes).
Lino Dias on right in discussion with Rolf Winkes (2006, photo by Brown University Excavations©).
I intended to encourage the students to take advantage of the proximity of these towns and see as many places as possible. Therefore, on Corfu as well as at Tongobriga, we did not excavate or work on weekends unless there was an emergency. Before each season my wife and I traveled for about 8-10 days to see archaeological sites or museums with which I was unfamiliar and that would promote my understanding of the site of Tongobriga.
Working physically is always very hard in the close quarters of a trench and also can have psychological effects. From my experience, stress can be reduced if the students who share a trench, do not share the same room at night. The undergraduate students usually shared a place with 2-3 students in one room. The professors had an apartment with individual rooms and shared a kitchen, living room and bathroom. My wife and I stayed in our own apartment. Many members of the team chose to meet at night for dinner at a restaurant, but nobody was forced to do that. There was a weekly obligatory dinner for all at a nice restaurant. In my opinion, international collaborations are most successful when they are created by individuals who share a prior common pleasant experience. Therefore, archaeologists who shared the trenches on Corfu and Tongobriga now occasionally work on different projects together or support one another across the borders.
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When it came time to select the area to be excavated by the Brown University team within Tongobriga, a National Monument of 50 hectares, a wide range of options was provided to us by Prof. Lino Dias. Professor Dias was formally in charge of the site. On a day to day basis our closest collaborators were Drs. António Lima and Jorge Araújo. They also became our very good friends. Tongobriga was also ideal in that one would be able to continue after my retirement what we had begun, because it is a National Monument with permanent staff. Previous excavations by Prof. Lino Dias had brought to light a Roman town with Forum, public bath, António Lima with Jorge Araújo on the right side (2006, Brown University Excavations©, photo by Mary Winkes).
and a particular residential area. Ruins of a theater and additional residential areas had yet to be excavated. Aside from the remains of the Roman ruins, there were some traces of Castrejo huts underlying a very small number of Roman houses and also evidence of a Castrejo balnearium at the Roman public bath which was adjacent to the Forum. At that time the evidence did not support the reconstruction
Aerial view taken from the long ladder of the fire department (2005, Brown University Excavations©, photo by Mary Winkes).
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of a fortified hillside like the Citânias de Briteiros and Sanfins or, Terroso as it looked like before the arrival of the Romans. Our areas of excavation were downhill from the previously excavated Roman houses and closer to the Forum. It was an area that had become, over many centuries, terraced vineyards and olive orchards. There were medieval and modern supporting walls to hold these terraces. They replaced what had once been the steep slope of a hill. Our hope was to find Roman houses and evidence that would shed more light on the merchant class and Roman commerce. We were in for a big surprise! For two seasons, when we removed the soil, we did not find much left of the foundations of Roman houses. There were, however, some Roman artifacts. What we found instead was evidence of the presence of Castrejo huts and evidence that there may have been a Castro family unit; i.e. more than one hut surrounded by a wall. This created great excitement, because we looked at a potentially much larger underlying Castrejo settlement. However, there were just a limited number of seasons left to excavate due to my pending retirement. A cessation of funds would be the consequence. Reconstitution of a family complex in Tongobriga (2018, DRCN-Estação Arqueológica do Freixo©, Ilustration by Digivision).
Therefore, a change of excavation strategy appeared in order. Rather than expanding our areas gradually and systematically, we decided to take a chance and choose target points.
We had heard that during the construction of the modern cafeteria at the site, the remains of a Castrejo funerary urn had been found. Also, if one looks at the plan of some of the citânias, one can see that the balnearia are usually close to the wall of the settlement. Hence, we chose to excavate at two different places. We would investigate a terraced wall two terraces down from where we had worked and had found evidence of Castrejo huts. Then we drew a line in our minds from the balnearium to this point at the terrace wall about which we had many discussions. It was our imaginary ancient wall. In front of the modern cafeteria and downhill from the balnearium as well as outside our imaginary ancient wall, we were hoping to discover Castrejo burials. Jason Urbanus and his team were in charge of finding evidence for the ancient wall, while Katerina Thomas’ team hoped to find evidence of a Castrejo burial site. It was a difficult decision that was made to put all Jason Urbanus making a point with his advisor Rolf Winkes (2006, Brown University Excavations©, photo by Mary Winkes).
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our resources and money into something that had not much solid evidence but was based more on speculation. One can imagine the joy when Jason found a Castro wall behind the medieval and modern terrace wall.
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Brown 2004, 2005 Brown 2006
Brown 2006
Locations of activity by the Brown team (2006, DRCN-Estação Arqueológica do Freixo©, photo by António Freitas).
Even greater was the relief and joy when Katerina and her team found, not just evidence of a Castrejo burial site, but something extremely rare: undisturbed burials. Since we had restorer Paulo Carvalho at the Laboratory of the Professional School for Archaeology in Freixo, the finds were immediately given in his care and were handled the utmost professional care5. António Lima also arranged a visit by Dr. Filipa Cortesão Silva from the Research Center for Anthropology and Health at the University of Coimbra6.
We wanted to come up with the most mo-
dern and recent technique for investigation considering how special the artifacts were. The urns were not emptied at the excavation site. Instead they were wrapped in linens. Thanks to the University of Coimbra, the items were analyzed with computed tomography so that one could see exactly where an artifact was located within the ashes. Unfortunately, the bones were too burnt to provide good DNA information. In 2009 we had a study season and with it the end of the excavation. Jason Urbanus did return one summer and conducted with a colleague in geophysics, NS wall (2007, Brown University Excavations©, photo by Jason Urbanus).
Prof. Thomas Urban, a geophysical survey7.
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Burial site before the lifting of the urns (2006, Brown University Excavations©, photo by Jason Urbanus).
Paulo Carvalho on left and Vagner Porto lifting a wrapped urn (2006, Brown University Excavations©, photo by Jason Urbanus).
Computed tomography (2006, illustration by Filipa Cortesão Silva©).
Filipa Cortesão Silva at a 2007 Tongobriga conference during which she explained her findings (2007, Brown University Excavations©, photo by Mary Winkes).
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Tongobriga Forum Eletromagnetic Induction Servey (2007, ilustration by Thomas Urban©).
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Following the Brown team’s contribution this is how later on the Tongobriga before the Romans is envisioned (2018, DRCN-Estação Arqueológica do Freixo©, Ilustration by Digivision).
Our international excavation team is still in collaboration. We hope to gradually provide more information and insights. Doing research and learning at Tongobriga has been one of the most rewarding and happy experiences of my life.
NOTAS 1
For a scholarly summary of our activities see Rolf Winkes, Katerina Thomas
3
WINKES, Rolf (ed.) - Kerkyra: artifacts from the Palaiopolis (the Kasfiki site).
and Jason Urbanus: Tongobriga- Summary of Brown University’s Collaborative Ex-
Providence: Brown University, 2004.
cavations and Studies (2004 -2009) posted on Jason Urbanus’ site at Academia.
4
edu, and also the link:
the Territory of the Castros Culture During the Late Iron Age and Early Roman
https://www.brown.edu/Departments/Joukowsky_Institute/fieldwork/
Period. Providence: Brown University, 2013. Ph.D dissertation (unpublished).
tongobrigaexcavations/1890.html
Posted on Jason Urbanus site at Academia.edu.
The most comprehensive study is the one by the original excavator: DIAS, Lino
5
Tavares – Tongobriga. Lisboa: IPPAR, 1997.
showing him lifting the urns from the burial ground. 6
URBANUS, Jason - Settlement and Space in Northwest Iberia: Transition in
See: Archaeology Magazine September/October 2006 p.72 Field Note SILVA, Filipa Cortesão - Restos ósseos cremados das urnas de Tongobriga:
primeiras impressões antropológicas. Conferências - Contributos para o estudo da Construção da Paisagem Antiga. Estação Arqueológica do Freixo. 24 de Julho de 2007. SILVA, Filipa Cortesão - Para além da vida - In LIMA, António (coord.) - Mudar de 2 Tongobriga, o Espírito do Lugar, Guia arqueológico visual, 2018, edited
vida [catálogo]. Vila Real: Direção Regional de Cultura do Norte, 2016.
by António Lima and Joán Menchón I Bes; also the 2018 movie of the same
7
name with a trailer on facebook: https://www.facebook.com/CulturaNorte/
survey at Tongobriga, Northern Portugal, posted by Thomas Urban on Academia.
videos/1861770003860642/?video_source=permalink
edu.
Jason Urbanus and Thomas Urban, The seen and the unseen: geophysical
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4 BROWN UNIVERSITY: COLLABORATIVE EXCAVATIONS AND STUDIES
I NVESTI GAÇÃO
Rolf Winkes Professor Emeritus at the Joukowsky Institute for Archaeology and the Ancient World Rudolf_Winkes@Brown.edu Rolf Winkes is Professor Emeritus of Classical Archaeology, History of Art and Architecture and Old World Archaeology and Art at Brown University in Providence, R.I., USA. He is the co-founder of the former Center for Old World Archaeology and Art, the predecessor of the Joukowsky Institute for Archaeology and the Ancient World. He received his education and PhD in Germany prior to being invited to come to work in the USA. For almost four decades he taught and published on subjects that span from the Early Greek period to Late Antiquity. In the 1980s and 1990s he conducted excavations in the Palaiopolis of Corfu in Greece and afterwards at Tongobriga in collaboration with IGESPAR. At Brown he created a number of other international programs. He has also been active in international museum expositions and given short courses at the Universidade de São Paulo, Brazil. In retirement he continues to teach as a volunteer at the Coastal Senior College in Damariscotta, Maine.
Katerina Thomas Deree - The American College of Greece
Jason Urbanus
Dean, Frances Rich School of Fine and Performing Arts
Journalist Alumnus, Joukowsky Institute for Archaeology and the Ancient World, Brown University
katerinathomas@acg.edu Katerina Thomas received her PhD in classical archaeology from Brown University, her MA in classical archaeology from Tufts University and her BA with Honors in Mediterranean Studies and Classical Civilization from Brandeis University. Since 1988 she has been teaching Art History courses at Deree where she has also held a number of administrative positions. She is currently the Dean of the Frances Rich School of Fine and Performing Arts. K. Thomas has extensive archaeological field experience having participated in excavations at Kalavasos-Tenta and Kalavasos-Ayious in Cyprus, La Muculufa in Sicily, Lepreon in the Peloponnese, Eleusis, Kasfiki in Corfu and Tongobriga in Portugal. The archaeological project at the site of Kasfiki in Corfu (1989-1997) was a collaboration between Brown University, the Greek Archaeological Service and the University of Louvain-la-Neuve while the project at Tongobriga (2004-2009) was a collaboration between the Portuguese Ministry of Culture and a Brown University team led by Professor Rolf Winkes.
Jason_urbanus@alumni.brown.edu Jason Urbanus has an MA in Classics from Columbia University and was awarded a Ph.D. from Brown University’s Joukowsky Institute of Archaeology and the Ancient World. His dissertation was entitled “Settlement and Space in Northwest Iberia: Transition in the Territory of the Castros Culture during the Late Iron Age and Early Roman Period”. He has conducted archaeological fieldwork at many sites around the world, including Portugal, Italy and the United States. He was part of the Brown University team for the duration of its archaeological project in Tongobriga (2004-2009), where he was a Co-director of Excavation. He currently serves as a Contributing Editor for Archaeology magazine and works as a journalist covering archaeological stories from around the globe.
Tongobriga: Brown University. Summary of collaborative excavations and studies 2004-2009
In 2004, Brown University began a five-year archaeological project to in-
vestigate the Roman and Iron Age site of Tongobriga in northern Portugal. The project was under the direction of Professor Rolf Winkes in collaboration with the Portuguese Ministry of Culture. In addition to the archaeologists and students from Brown University, the team consisted of members from the Universidade de São Paulo (Brazil) and Deree – The American College of Greece (Greece). Excavations and research were conducted over four summer campaign seasons (20042007), with an additional study season taking place in the winter of 2009.
G iven the preponderance of Roman ruins at Ton-
gobriga, the Brown University team initially had planned and expected to be working in a residential area close to the center of the Roman town. So, it was with some surprise, that instead of encountering Roman material, the excavations instead consistently turned up evidence associated with the so-called pre-Roman, Iron Age Castros culture. This included the circular foundations of typical Iron Age houses, as well as pre-Roman cultural material, a large defensive wall, and graves belonging to an indigenous necropolis. Although there had been some speculation about a Castros presence at the site prior to the launch of the Brown University project, this new evidence definitively showed that there was a thriving Castros community living in Tongobriga prior to the construction of the Roman town. In addition, the new information resulting from these excavations helped provide a better understanding of the layout and topography of the pre-Roman settlement as well as the origins and development of the Roman Tongobriga.
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When the Romans came to the northwest, they brought with them new concepts of urbanism that were different from anything that existed there during the Iron Age. New administrative centers such as the Conventus capitals of Bracara Augusta or Lucus Augusti, materialized accordView of the southern side of the Roman Forum of Tongobriga from the northeast (2007, Brown University Excavation©, Photo by Jason Urbanus).
ing to the traditional Roman “urban model”. The orthogonal street plan, the construction of public, judicial, and religious monuments, as well as organized domestic insulae, were integral to the design of the new regional capitals1. This Roman urban model, provided by these administrative centers, was also reflected in smaller secondary towns, like Tongobriga. These towns were part of the new political reorganization of northwest in the late first century A.D.
The Roman history of Tongobriga has been well documented and pub-
licized over the last four decades since its discovery2. Among academic publications it is considered an important Roman regional capital3. Tourist signs along the main highway advertise Tongobriga, a “cidade romana”. The archaeological ruins of the Roman town during its pinnacle are relatively few, but substantial – the highlight being the enormous space of the forum and its adjacent bath complex. Although the bulk of the town’s remains continue to be obscured beneath the modern village of Freixo and unexcavated farmland, archaeological investigation into both its public and private areas, as well as the necropolis, have enabled us to trace the settlement’s growth and prominence as a Roman town, from the late first through the fifth centuries A.D. The impressive size and quality of its Roman monuments (forum, bath complex, etc.) are nearly unparalleled in most of northern Portugal. These Roman structures are associated with the Roman development of the site during a period of growth at the end of the first century A.D., coinciding with the reign of the Flavian emperors and attested to elsewhere in Iberia. However, prior to the onset of the Roman period, there is an earlier phase representing a pre-Roman Castros presence that comprised an important, albeit brief era in Tongobriga. While Tongobriga’s Roman archaeology has been well established, questions still remained as to the origins and early nature of the settlement. The earliest phases of Tongobriga reveal a different urban layout, one more in accordance with traditional pre-Roman Castros ideals. Research conducted by Brown University between 20042009, identified some of the early features of the site that provided a broader glimpse into the layout and characteristics of the pre-Roman occupation of the site.
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The Castros Culture was a unique Iron Age culture that inhabited the far northwestern corner of the Iberian Peninsula during the first millennium B.C. This is generally viewed as the territory north of the Douro River in Portugal, although some settlements have been identified as far south as the Vouga River.4 The geographic range for the Castros Culture extended from northern Portugal into Spanish Galicia, as well as parts of the modern provinces of Asturias and León. It is a region largely characterized by its mountainous terrain, especially in the northeast periphery, as well as numerous rivers, most of which flow towards its western Atlantic façade. These watercourses were the essential communication and trade routes of the Castros Culture, linking the mineral-rich inland regions with the coast and broader cultural networks in the Atlantic and Mediterranean. The center of the Castros Culture’s territory was located between the two most important local rivers in antiquity, the Minho and the Douro. This Entre-Douro-e-Minho region encompasses the majority of northern Portugal and was home to the most advanced and largest Castros settlements, epitomized by sites such as Citânia de Briteiros and Citânia de Sanfins. The apex of Castros Culture can be placed in the last few centuries A.D., just prior to the Roman conquest of Iberia, which was completed under Augustus. Estimates suggest there were perhaps over 2.000 sites and 700.000 inhabitants in Northern Portugal alone, although the exact number is hard to determine5. Traditionally, the majority of archaeological research and scholarship has been conducted by and limited to Portuguese and Spanish archeologists. This is in part due to a language barrier, as the overwhelming majority of publications pertaining to the Castros Culture have been written in Portuguese, Spanish, or Galician. But there have also been underlying ideological and nationalistic issues, which have impeded outside researchers. Thus, there have been surprisingly very few archaeologists, especially Anglophones, from outside the Iberian Peninsula that have chosen to study this topic. The most recent and comprehensive work in English is a Brown University doctoral dissertation completed by Jason Urbanus in 20136. Another major work in English is an Oxford University dissertation by Francisco Manuel Queiroga that was published by BAR International Series in 2003 under the title, “War and Castros”. The Castros Culture derives its name from the distinctive settlement model of the northwestern Iberian Iron Age, known as the “castro.” A castro is a fortified hill-top settlement, normally located in higher altitudes, along ridges or promontories that command sweeping views of the surrounding landscape. The term is based on the Latin word castrum, which denotes the same meaning of a “fortress or fortified place”. The northwestern Iberian castros are easily recognizable by their often-monumental stone defenses, which encircle hill-top communities comprised of networks of circular houses or huts. These communities are traditionally small; less than four hectares, but in some instances, grew as large as forty hectares by the end of the first century B.C. Because the castro is the predominate feature of the landscape of northwest Iberia during the first millennium B.C., it has come to define the entire Iron Age population of the region; a culture known as the Castros Culture (“Cultura Castreja” in Portuguese, “Cultura Castrexa” in Galician, and “Cultura Castreña” in Spanish).
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There were several ancient authors who wrote about the indigenous people of northwest Iberia and their customs, mainly Pomponius Mela, Pliny the Elder, Ptolemy, and Florus. But the most detailed descriptions were recorded by the Greek geographer Strabo, who harps upon their ferocity and overall incivility. Though, it should be said that the author was not basing his opinions on personal observation, as he likely never visited the region. In his “Geography”, he writes the following: “The quality of intractability and wildness in these peoples has not resulted solely from their engaging in warfare, but also from their remoteness; for the trip to their country, whether by sea or by land, is long, and since they are difficult to communicate with, they have lost the instinct of sociability and humanity. They have this feeling of intractability and wildness to a less extent now, however, because of the peace and of the sojourns of the Roman among them. But wherever such sojourns are rarer the people are harder to deal with and more brutish; and if some are so disagreeable merely as the result of the remoteness of their regions, it is likely that those who live in the mountains are still more outlandish”7. However, we should be hard pressed to take Strabo at his literal word, as he was clearly writing with a biased agenda, aiming to underscore the sense of civilization that the Romans ultimately brought to the region. He portrays these northwest Iberian tribes as overly ferocious, and although we cannot deny the warrior and warlike aspect of their society, it is evident today that they were far from the isolated savages Strabo paints them out to be. They had for centuries been in contact with other Mediterranean cultures, such as the Phoenicians and Carthaginians, who periodically visited the region seeking out its rich metal resources. One of the most contentious issues underlying the study of Iron Age Iberia is whether or not to categorize the Castros populations as Celts8. The Castros peoples of northwest Iberia have been traditionally and rightfully recognized for their own unique cultural characteristics, distinguishing them from the other pre-Roman cultures of Iberia. However, certain underlying Celtic characteristics (torques, artistic motifs, social systems, religion, language, etc.) are clearly pervasive throughout Castros society. This has led some scholars to claim them to Celts, a classification that others roundly reject. It is hard to capture just how polarizing the issue of celticity has traditionally been, as the discussion has frequently been marred by political, ideological, racial, and nationalistic viewpoints. It is an issue that will likely continue to remain unresolved, due to lack of archaeological evidence. The prototypical Castros settlements were strategically located on easily defensible hills with wide ranging views, which is why they are commonly referred to as hillforts (castros). Though, as the number of landscape studies has increased in the region over the last twenty years, the evidence has begun to mount for a wider diversity of settlements. There were large castros and smaller castros; coastal castros and mountain castros; agricultural castros and mining castros; castros located along major Iberian communications routes, and others in relative isolation.
The interior of a Castros settlement usually featured a seemingly hap-
hazard array of circular stone houses with conical roofs. This is especially true in earlier castros, where there seems to be very little interior organization of space. However, later castros provide evidence that individual structures could also be grouped together to form a small nucleated compound enclosed within
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a stonewall. These are referred to as “familial enclosures” and typically consisted of between two and five structures spread around a central courtyard in which extended family groups would work and live9. In addition to residential buildings, they consisted of areas for storage, cooking, and other spaces that could accommodate the needs relevant to the economy and subsistence of these agricultural societies. Provision of privacy seems to have been one of the main intentions in this new dwelling scheme, given the introduction of a surrounding and separating enclosure wall. It is debatable whether or not this new interior layout reflects Roman influence on indigenous concepts of domestic space or whether these familial enclosures were simply part of the natural evolution of the Castros built environment. Major changes occurred throughout the Castros landscape between the second century B.C. and the early first century A.D. This period represents not only the height of Castros culture, but the beginning of its prolonged contact with the Roman Empire, and its eventual decline. The Romans had first arrived in Iberia in the third century B.C. during the course of the Second Punic War. After defeating the Carthaginians and appropriating their territory in southeastern Iberia, the Romans proceeded to gradually spread across Iberia for the next two centuries. The greatest attraction was Iberia’s abundant metal resources, including copper, tin, silver and especially gold. But the region offered other potentially profitable opportunities and garum production became a major Roman industry there. Although the Roman army first ventured into the northwest during the campaigns of Decimus Junius Brutus (138-137 B.C.), it would fail to conquer the entire region until more than a century later. Rome had a particularly grueling and difficult time pacifying the notoriously fierce northwestern warriors. Ancient historic writers recorded the many heroic and fearless acts performed by the local tribes as they continued to hold out and deal significant losses to the Romans. Finally, at the conclusion of the Cantabrian Wars (29–19 B.C.), which took place largely in the northern provinces of Cantabria, Asturias and Leon, the Roman conquest of Iberia was complete. This final conflict required the presence of the emperor Augustus himself.
Co-incidentally, it was during the final two centuries
of the first millennium B.C., as the Romans were gaining territories across Iberia, that marks the highpoint of the Castros civilization10. During this time there was a substantial growth in large proto-urban centers sometimes referred to as oppida. These featured much more sophisticated urban plans, with organized orthogonal street grids, monumental defensive networks, and even public buildings, such as bath complexes. These new settlements are perhaps best exemplified by sites such as Citânia de Sanfins and Citânia de Briteros. Again, there is an ongoing debate among scholars about how significantly these new proto-urban centers were influenced by MediterraThe “pedra formosa” Iron Age structure located adjacent to the Roman era bath complex (2004, DRCN – Estação Arqueológica do Freixo©, Photo by Jorge Araújo).
nean concepts introduced by the increasingly present Romans. The major alterations and enhancements seen at many sites, especially in the southern extent of Castros culture territory may be a result of direct contact with Romans, especially in the decades following Decimus Junius Brutus’ arrival.
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Although today the overwhelming majority of Tongobriga’s ruins reflect buildings associated with the Roman town, there are other indicators, some subtle, some not so subtle, that represent an indigenous Castros culture occupation of the site. One is the quintessential Castros bath complex known as “monumento com forno” (monument with oven) or “pedra formosa” (ornate/carved stone). These unique structures are one of the more iconic symbols of the Castros Culture. Although there are some arguments that they date as far back as the third century B.C., it is generally accepted that these structures were heavily influenced by the Roman presence. In northern Portugal, the examples that exist today date predominately from the first and second centuries A.D. There has also been some debate over the exact function of these extensive structures11, but it is widely agreed upon today that they were a type of Castros bath described by Strabo, and which functioned more like sauArea Habitacional I (Roman houses)
nas than they did “Roman” style baths. The Tongobriga Castros
Roman Forum
bath is unique because it lies directly adjacent to a later Roman bath complex. This is the only instance where a Roman and
Pre-Roman necroplis
Castros bath can be observed together. When the settlement in
Area Habitacional II
Tongobriga began to expand and grow as a Roman town, this older Aerial image of the site of Tongobriga and location of Brown University excavation areas (2007, DRCN – Estação Arqueológica do Freixo©, illustration by Jorge Araújo).
Castros bath went out of use, and a newer Roman-style structure was built next to its remains. The new Roman bath even siphoned off the spring, which supplied the former structure with water. The juxtaposition of these two bath complexes, one in the native Castros style, the other in the Roman design, further strengthens the argument that these long perplexing “monumentos com forno” were in fact used for some sort of bathing rituals. While structures like the Castros “pedra Formosa” bath and other occasional evidence derived from earlier excavations attest to an indigenous presence at the site, the extent and shape of this settlement was still largely unknown prior to the Brown University excavations. In 2003, the project began work on an extensive area (known as Area Habitacional II), located within several manmade olive tree terraces along the eastern slope of the site and the village of Freixo. This area was first subject to excavation in the 1990s, when the remains of a Roman residential quarter were uncovered. Due to the damage caused by centuries of agricultural activity, these structures could
Excavation trenches of Area Habitacional II located along the eastern slopes of the village of Freixo. View towards the east (2007, Brown University Excavation©, Photo by Jason Urbanus).
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not be fully interpreted, but are presumed to be part of the first wave of Roman development in the late first/early second century A.D. This area consists of a series of perpendicular walls constructed in the Roman opus quadratum style.
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Because of the modern terracing, the frequent agricultural activity, and the general erosion caused by its sloping topography, uncontaminated stratigraphic dating of the material proved difficult. However, an accumulation of pottery that had washed down the slope from the frequent rainfall revealed high concentrations of Roman ceramics from the second century A.D. The network of parallel and perpendicular walls cannot be entirely reconstructed, but their remains resemble the Roman atrium-style houses found further up the hill to the northwest in the main residential section of Tongobriga. At the time, it was Brown University’s intention to further investigate this area in order to get a better understanding of the nature of the Roman buildings there. The remains of Roman era buildings in Area Habitacional II. View towards the north (2007, Brown University Excavation©, Photo by Jason Urbanus).
It was hoped that this work could help fill in some gaps about the layout of the Roman town and its spatial relationships, particularly as they pertained to the area of the forum, which is located a short distance away to the southwest.
At the onset of excavations, it became apparent that there was very little
hope of finding preserved stratigraphy in the area, due to centuries of agricultural activity and plowing, but this was expected. However, despite the fact that the deposits contained a mix of material (including modern contamination) all the way down to the bedrock, there was a surprising amount of Castros material within
Aerial view of the Brown University excavation area. The imprints of two Iron Age Castros circular buildings are visible in the bedrock, as are various pits and channels that have been cut into it (2007, Brown University Excavation©, Photo by Jason Urbanus).
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them. Because the work was conducted on a hill, the deposits were quite shallow in some places and the natural bedrock was encountered at a depth of just a few centimeters in some places. When the layers of soil where removed and the bedrock was exposed, it became immediately evident that the team was working not in a Roman residential neighborhood, but a Castros one instead. The imprints of two Castros-type circular houses were visible. As is the case in many other sites, the houses were built directly on top of the bedrock and the construction process left discernible outlines of Graphic showing the outline of the two Castros buildings. The “caranguejo” style house is located on the left (2007, DRCNEstação Arqueológica do Freixo©, ilustration by Jorge Araújo).
the structures as the rock was chiseled away to form the platforms on which the structures were erected. In a few areas, these houses also retained a very small section of their building stones in situ, which represented the lowest course of the stone house construction. Other than these small instances though, all of the standing structural remains had been previously destroyed, leaving only the footprint of the buildings visible on the bedrock. Both of the houses also contained a small circular depression cut into the rock near their centers. These have been interpreted as postholes and mark the location of the wooden beams that supported the conical roofs. There is some debate as to what Castros roofing material was made from, either thatch or tile. There was a good deal of tile material found in these areas during excavation, but it was not possible to ascertain whether it belonged to the Castros roofs, later Roman structures, or had simply been washed down the hill from other locations.
The larger of the two houses was a type that is known as the
“caranguejo” or “crab” style. These houses derive their name from the fact that they have additional walls attached to the front of the circular house, which resemble crab claws. These walls create a kind of anteroom or porch at the entrance of the house. Exactly how these spaces functioned remains speculative, although the most plausible interpretation is that they were used for storage, domestic activities, or simply an area for rest and social interaction. These types of structures seem to date only to the later phases of the Castros culture, particularly to the Augustan period12, so they may reflect Mediterranean influences on ideas of domestic space.
In addition to the footprints of the two Castros houses, a series
of holes, water channels, and large storage cavities had been cut Illustrated reconstruction of the small Castros familial enclosure (2018, DRCNEstação Arqueológica do Freixo©, ilustration by Digivision).
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directly into the bedrock. After all the soil deposits were removed and the entirety of the bedrock was exposed throughout the excavation area, all of these features were documented through aerial photography. Although at
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ground level, these various features are difficult to interpret, the aerial photographs show that as a whole, they likely comprise one of the Castros familial compounds, with multiple buildings being oriented around a courtyard and enclosed by a surrounding wall. Based on the cultural material, of which there is a good deal of Castros courseware pottery, this complex dates to the Augustan period in Tongobriga. A section of the exterior defensive wall that encircled the Castros settlement. It was identified beneath the eastern terraces of the village of Freixo (2006, Brown University Excavation©, Photo by The partially preserved sculpted triskele stone found within one of the Castros structures. Only two of the three legs remain intact (2007, Brown University Excavation©, Photo by Jason Urbanus).
Jason Urbanus).
At the very eastern edge of the Brown University trenches, evidence of
an extremely large stonewall was also uncovered. This wall was actually used as part of the modern agricultural terracing of the slope. When the modern debris was cleared, traces of the defensive fortification wall that once surrounded the early Castros settlement became apparent. Because of their highly visible and monumental nature, Castros defensive walls were not only built for practical use, but were seen as symbolic and represented the ‘prestige’ of a particular settlemen13. Although the defensive network of the early settlement has been previously hypothesized at Tongobriga, this was the first concrete evidence that proved exactly where it was located. It was an important discovery because the limits of the early Castros settlement could now ultimately be defined. This wall would have been in use during the early first century A.D. but would have become obsolete as the Roman town expanded and the exterior settlement walls were relocated further out. During the excavation of this area there were a number of small Castros cultural items recovered, but two special artifacts were particularly noteworthy and deserve mention here. The first is a decorated stone known as a triskele. The triskele stone in situ as part of the wall of the smaller circular building (2005, Photo by Brown University ExcavationsÓ).
This round sculpted stone was located on top of a pile of stones that comprised the collapsed wall of a Castros house. Although the stone was broken in half, its three-armed pinwheel design was clearly evident.
These triskele motifs were common in Castros art and architecture as
they likely served as important religious or ritual symbols. They become particular common in Castros settlements during the first century B.C. and first century A.D. It has been theorized that their swirling design, which usually contained three or even four arms, represented the cyclical nature of the natural world. They may have also been apotropaic figures, used to help ward off evil spirits or bad luck. On the other hand, they could also merely be simple decorative patterns without any particular religious or iconic symbolism14. They are often found carved into the facades of the “pedra Formosa” bath complexes or embedded in the belts or clothing of the so-called “guerreiros” or “warrior statues”. They have also been found inserted into walls of Castros
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houses near the entrance. This is the likely context of this stone in Tongobriga. It was probably once part of the building’s walls and fell down to its present location when the house’s walls collapsed. This carved triskele stone is the only evidence of Castros sculpture ever recovered in Tongobriga.
Iron tool found within one of the Castros buildings (2005, Brown University Excavation©, Photo by Rolf Winkes).
The second significant cultural item was an iron tool that was found resting on top of the bedrock close to the location of the Castros houses. At this point it is badly corroded but seems to have been some type of blade, measuring around 38 cm long. It is possible that this was a Castros weapon known as a falcata, a type of sword, as it resembles known examples of those that have been recovered at other Castros sites in the past15. However, there appears to be a small cavity at its base, which might suggest some sort of wooden handle or pole was intended to be inserted into it. This might have made it less useful as a close combat weapon, although it may have also added efficiency, especially by extending one’s reach in battle16. Alternatively, this iron blade may have been used instead as an as agricultural tool, like a sickle.
In its final two excavation seasons (2006-2007) the Brown University team discovered and partially explored a necropolis associated with the early Castros settlement. This was a significant find in many ways, especially since very little is known about pre-Roman burial customs. The currently available evidence is meager at best, consisting of just the few cremation burials occasionally located within some excavated family enclosures. The occurrence of burials in these contexts has not received adequate attention in the past, although recently this has been revisited through additional information spawned from research at sites such as Cividade de Terroso and Cividade de Âncora. Several of the cremation burials in Tongobriga contained rare intact Castros ceramic vessels, adding to the importance of this new discovery. The early necropolis of Tongobriga was situated outside the confines of the original settlement (thus outside the defensive settlement wall detailed above). It lies in close proximity and just to the east of the Roman forum, which indicates that it almost certainly pre-dates the forum construction. It would be highly unusual for this space to have been used as a burial ground if the forum complex was built and in use.
Castros burial pit cut into the bedrock and containing multiple ceramic vessels (2006, Photo by Brown University Excavations©).
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Over two excavation seasons at least seven cremation burials were de-
finitively identified. The internment process involved digging or cutting a shallow pit into the granite bedrock into which the urn containing the ashes was placed, along with other funerary material. However, not all of the graves had remained intact, as some had been previously disturbed, particularly during the modern period. However, our explorations gave us a significant amount of new information regarding late Castros burial customs dating to the period in which there was close Roman interaction. Several of these graves betrayed a consistent archaeological pattern that was revealed during their excavation. The upper most deposit consisted of a burnt layer of charcoal and ash that often contained many iron nails. The actual cremation and funerary material was found just beneath this. The typical Castros grave in Tongobriga comprised a roughly circular rock-cut pit that contained a number of simple undecorated gray vases that varied in size. Frequently the graves contained a larger vessel at the center of the pit, which may have contained the cremated remains, while smaller coarse jars were arranged around it, all packed tightly within the shallow grave. Most of the burials contained plain, undecorated ceramic vessels that are dated chronologically to the later phases of Castros culture. However, broken terra sigillata pots, which are diagnostically Roman and date to the first century A.D., were discovered in a few. This is a clear indication that the necropolis was in use during the overlapping period when the Romans were still establishing their presence in northwest Iberia, but when the Castros culture was still thriving and visible in the archaeological record. A couple of the rock-cut graves were found devoid of any cultural inclusions, either because the pits were never used, or alternatively, because of modern disturbance and destruction. In one case just the base of the Castros burial urn was still in situ and in another, only burned bone fragments remained without any cinerary container, although there were sherds of terra sigillata present. Furthermore, we discovered another type of burial where three tegulae roof tiles were aligned to form three sides of a rectangular grave. Again, the cremated remains were set in the middle of this formation along with terra sigillata pottery.
Castros burial pit containing one large central ceramic vessel surrounded by smaller sized containers. (2006, Brown University Excavation©, Photo by Jason Urbanus).
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A rectangular burial formed by tegulae roof tiles and containing small terra sigillata ceramic vessels (2007, Brown University Excavation©, Photo Jason Urbanus).
The soil, ash, and funerary remains from within these vessels was carefully preserved for laboratory analysis. We collaborated with the Department of Anthropology at the University of Coimbra, specifically with Filipa Cortesão Silva. The contents of the central funerary urns from three graves were examined through computerized axial tomography and x-ray imaging. When the fill of one of the urns was finally removed and analyzed, in addition to the human remains, it was shown to contain a Roman perfume jar, a pin, a bronze omega-type fibula, and other additional small items.
The excavations of these burials raise the following questions: * Why were the graves uniformly covered with a burnt layer deposit, as it does not seem like that the individual would have been cremated in this location? * Why were there so many iron nails found amidst the burial material? Possible explanations include: * Cremation did occur elsewhere, but all of the leftover debris was collected in toto and spread over the tops of the burial after the funerary vessels were deposited in the grave. * Perhaps once the vessels were deposited in the pit, a wooden bier, consisting of planks held together with iron nails, was set aflame above the grave.
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Glass unguentarium (perfume bottle) from burial n.º 2 (2009, Brown University Excavation©, Photo by Filipa Cortesão Silva).
Bronze fibulae from burial n.º 2 (2009, Brown University Excavation©, Photo by Filipa Cortesão Silva).
The evidence yielded by the necropolis so far attests to a phase at Tongobriga when a mingling of cultures was taking place. The Castros people continued to follow traditional burial customs, but their funerary also included Roman objects. This necropolis was eventually abandoned in the first century A.D. as the Roman Bronze medical or cosmetic tool from burial n.º. 2 (2009, Brown University Excavation©, Photo by Filipa Cortesão Silva).
town grew and expanded. A second necropolis was established further to the south, and outside the expanded city limits. This cemetery was excavated by Portuguese archaeologists in the 1980s and 1990s and reflects the complete transformation of Tongobriga’s population to a Roman way of life. It would be interesting to recover more evidence in the future concerning Castros burial practices with regard to gender or social hierarchy, as well as other possible burial practices or areas of interment. Based on our research, although there had been prior speculation, the presence of a significant Castros settlement at Tongobriga has been definitely proven and can now be theoretically reconstructed. This likely dates to the Augustan period. All of the evidence points towards a population caught in a transitioning political world. Castros houses, public monuments, and ideological native symbols mark the earliest settlement, although they are juxtaposed by an increasing wealth of Roman cultural material. The Roman administrative system in Iberia changed drastically during the Flavian era, thanks in part to the universal granting of Latin rights to its inhabitants. In Tongobriga, by this period the settlement had undoubtedly already been transformed into a “Roman” city in appearance, with Roman concepts of space, Roman houses, Roman public buildings, and Roman infrastructure. The Castros roundhouse was supplanted by the Roman atrium house. The Castros bath was supplanted by the Roman bath.
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Illustrated reconstruction of the Castro settlement at Tongobriga (2018, DRCNEstação Arqueológica do Freixo©, ilustration by Digivision).
When the Romans began to administer the northwest they reconfigured the traditional settlement pattern, abolishing some sites, reinforcing others, and sometimes establishing new centers that combined displaced native populations into a new location. Even though the Roman administration of the northwest initially reinforced the traditional castro as a basic political unit, by the end of the first century castros were being replaced by newly constructed Roman towns. Some castros, like Monte Mozinho, wholly continue to resemble native settlements, with an increasing visibility of Roman cultural material, until they are eventually abandoned in the early second century. Other castros undergo a complete transformation of the built environment, in which typical Roman urban infrastructure replaces the Castros settlement model. The early archaeology of Tongobriga highlights the process by which a small native Castros community expanded into a major regional Roman administrative town. The archaeological evidence uncovered by the team from Brown University first and foremost sheds light on the origins of the city, the inhabitants who lived there, and the transformations that took place. During the first century A.D., the Castros landscape across northwest Iberia was inevitably and permanently altered as preexisting communities were confronted by the new Roman realities. Sites like Tongobriga, which seems to be a native foundation created during the time of Augustus and under the aegis of the Roman Empire, signify the last wave of Castros settlements. Following the urban model established by the first Roman administrative center at Bracara Augusta, in the late first century A.D. a secondary Roman town was founded in Tongobriga. As the Roman presence in northern Portugal became permanent at the end of the first century B.C., a new form of settlement began to spread across the landscape. The isolated, fortified castros of the previous period became obsolete, giving way to the tightly organized, consciously planned Roman town.
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TO N GO BR I GA : CO L ETÂ N EA D E ES T UD O S CO M EM OR ATIVOS DE 4 0 A NOS DE INV E STIGAÇÃO
NOTAS 1
143-256.
MORAIS, Rui - Bracara Augusta. Autarcia e comércio em Bracara Augusta.
13 Page 47 of QUEIROGA, Francisco - War and Castros. New approaches to
Braga: Universidade
the northwestern Portuguese Iron Age. Oxford: Archaeopress (BAR International
do Minho, 2005.
Series 1198), 2003.
2
DIAS, Lino Tavares – Tongobriga. Lisboa: Instituto Português do Património
14 For broader analysis of triskele designs, see:
Arquitectónico (IPPAR), 1997.
CALO LOURIDO, F. - A cultura castrexa. In Historia de Galicia. Vol. 3. Vigo: A Nosa
DIAS, Lino Tavares – A urbanização do Noroeste Peninsular: o caso de Tongobriga.
Terra, 1993.
In DIAS, Lino Tavares; ARAÚJO, Jorge M. M. (coord.) - Actas da Mesa Redonda
GONZÁLEZ RUIBAL, A. - Material culture and artistic expression in Celtic Gallae-
“Emergência e Desenvolvimento das Cidades Romanas no Norte da Península
cia. E-Keltoi. Milwaukee. 6 (2004) 113-167.
Ibérica”. Porto: Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR)/Escola
15 URBANUS, J. - Settlement and Space in Northwest Iberia: Transition in the
Profissional de Arqueologia (EPA), 1999. pp. 77-107.
Territory of the Castros Culture During the Late Iron Age and Early Roman Peri-
DIAS, Lino Tavares – Tongobriga. In RODRIGUÉZ COLMENERO, António (coord.)
od. Providence: Brown University, 2013. Ph.D dissertation (unpublished).
– Los orígenes de la ciudad en el Noroeste Hispánico. Actas del Congreso Inter-
16 Page 87 of QUEIROGA, Francisco - War and Castros. New approaches to
nacional. Vol. 2. Lugo: Diputación Provincial, 1999. pp. 751-778.
the northwestern Portuguese Iron Age. Oxford: Archaeopress (BAR International
3
ALARCÃO, Jorge de - As civitates do Norte de Portugal. Cadernos de Arque-
Series 1198), 2003.
ologia. Braga. 2: 12-13 (1995-1996) 25-30. 4
SILVA, Armando Coelho F. - A Cultura Castreja no Norte de Portugal. Revista
de Guimarães- volume especíal. actas congresso de proto-história europeia. I (1999) 111-132. 5
Page 35 of QUEIROGA, Francisco - War and Castros. New approaches to
the northwestern Portuguese Iron Age. Oxford: Archaeopress (BAR International Series 1198), 2003. 6
Parts of this article were based on and taken directly from Chapter Seven of
that dissertation: URBANUS, J. - Settlement and Space in Northwest Iberia: Transition in the Territory of the Castros Culture During the Late Iron Age and Early Roman Period. Providence: Brown University, 2013. Ph.D dissertation (unpublished). 7
Strabo, “Geography”, book 3, chapter 3, section 8.
8
URBANUS, J. - Settlement and Space in Northwest Iberia: Transition in the
Territory of the Castros Culture During the Late Iron Age and Early Roman Period. Providence: Brown University, 2013. Ph.D dissertation (unpublished). 9
ALMEIDA, Carlos A. F. - Casa castreja. Memorias de Historia Antigua. 6
(1984) 35-42.. 10 SILVA, 1995 - Phase III; MALUQUER DE MOTES, 1975 - Castrexo III; FARIÑA BUSTO, 1983 - Phase III. Some authors, place this major new period closer to the end of the 2nd beginning of 1st B.C. (MARTINS, 1990 - Phase III; ALMEIDA, 1983 – Fase Média; CARBALLO ARCEO, 1996 - Fase Final). 11 Page 286 of SILVA, Armando Coelho F. - Portuguese Castros: the evolutiuon of the habitat and the proto-urbanization process. In CUNLIFFE, B.; KEAY, S. (ed.) - Social complexity and the development of towns in Iberia. Oxford: Oxford University Press (ProBritAc 86), 1995. pp. 263-290. Francisco Queiroga, in discussing these ‘monumentos com forno’ points out their significance as communal establishments that signified the prestige of the particular community. Pages 23-24 of QUEIROGA, Francisco - War and Castros. New approaches to the northwestern Portuguese Iron Age. Oxford: Archaeopress (BAR International Series 1198), 2003. 12 CALO LOURIDO, F. - A cultura castrexa. In Historia de Galicia. Vol. 3. Vigo: A Nosa Terra, 1993. SOEIRO, Teresa - Monte Mózinho. Apontamentos sobre a ocupação entre Sousa e Tâmega em época romana. Boletim Municipal de Cultura. Penafiel. 3 (1984)
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5 ESTUDOS ARQUEOBOTÂNICOS
I NVESTI GAÇÃO
Inés López-Dóriga Wessex Archaeology - Departamento de Arqueología Ambiental – Coordenadora i.lopezdoriga@wessexarch.co.uk Inés López-Dóriga es Doctora en Prehistoria y Arqueología por la Universidad de Cantabria (España) y especialista en carpología. Actualmente lidera el departamento de Arqueología Ambiental en la empresa de arqueología Wessex Archaeology, en Reino Unido. Inés hizo su tesis doctoral en usos de las plantas en la costa atlántica de la Península Ibérica durante el Mesolítico y Neolítico, estudiando yacimientos de España y Portugal, entre 2009 y 2014. Durante un año entre 2014 y 2015 realizó investigaciones arqueobotánicas en Tongobriga, gracias a una Bolsa de Investigação em Arqueobotânica de colaboración con Dr. João Tereso en el contexto del projecto “Tongobriga e Territorium - Valorização da paisagem milenar”, financiado por el Programa PROVERE, y desarrollado en la Unidade de Investigação CIBIO-InBIO – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos-Universidade do Porto, y en prestación de servicios para José Antonio Pereira, de NovaArqueologia Lda.
Estudios arqueobotánicos en Tongobriga: muestreo y resultados preliminares INTRODUCCIÓN
La mayor parte de las extensas investigaciones arqueológicas llevadas a cabo en Tongobriga durante 40 años se han centrado especialmente en aspectos arquitectónicos. Este capítulo presenta un resumen1 de los resultados de la primera campaña sistemática de excavación y muestreo arqueobotánico que fue llevado a cabo entre 2014-2015 con el objetivo del estudio de las dinámicas sociedad-medio ambiente a lo largo de la ocupación humana del sitio de Tongobriga, en el marco del último proyecto de investigación2. Se pueden encontrar resultados detallados sobre las investigaciones en la zona de la muralla3 y la Edad del Bronce4.
MATERIALES Y MÉTODOS
La presente intervención se ha centrado en la excavación y muestreo de 3 áreas clave del yacimiento: el foro/balneario, la muralla y la zona habitacional. Además,
se
han
estudiado
muestras
provenientes de la necrópolis y muralla que habían sido obtenidas en anteriores campañas. La excavación se ha realizado de acuerdo con principios de estratigrafía, con documentación en fichas de UEs, matrices, fotografías y dibujos de plantas y cortes.
Zonas muestreadas en las intervenciones 2014-2015 (2015, editado por Inés LópezDóriga sobre mapa de Jorge Aráujo).
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Dibujo de plantas (2014, fotografía de Inés López-Dóriga©).
Excavación y preparación de muestras de sedimento (2014, fotografía de Inés LópezDóriga©).
Se ha recogido el 100% del sedimento excavado de los contextos cerrados y de los contextos de tipo terciario excavados de forma no extensiva o de extensión limitada; los contextos terciarios excavados de forma extensiva han sido muestreados, en proporciones variables. A continuación, se describen someramente las áreas muestreadas. Se ha intervenido en un sector del foro que ya había sido despejado en intervenciones arqueológicas anteriores, poniendo al descubierto una serie de manchas circulares que han resultado pertenecer a una concentración de 24 fosas, principalmente de planta circular (2 rectangulares)5. Además, se ha muestreado el mayor número posible de tipos de fosas localizadas a los lados de los muros del foro. En el balneario, se procedió al levantamiento de una losa rectangular plana situada en una canalización sobre la cámara del balneario relacionada con el abastecimiento de agua. Una muestra de 10 litros de los sedimentos del exterior de la muralla, obtenida en intervenciones anteriores, fue procesada y estudiada en este proyecto. En esta intervención, se han muestreado los sedimentos intactos del interior de la muralla, proceden de partes más elevadas de la ladera, originalmente en relación con el poblamiento castreño de la zona. La estrategia inicial de muestreo fue del 20 % del sedimento excavado por UE/cuadrícula; en las siguientes cuadrículas excavadas se tomó aleatoriamente una muestra de sedimento por UE de 10l aproximadamente, en vista de la gran densidad de macrorrestos en el sedimento detectada en la flotación de las primeras cuadrículas. Además, en diversos puntos de la muralla, se tomaron muestras de sedimento del meollo. Se ha excavado una sección de 50 cm de profundidad en un testigo de un metro de anchura en una casa itálica en la zona habitacional, y una cuadrícula de 2 x 2 m en una zona en una construcción de planta circular que se interpretaba inicialmente como una casa castreña. La excavación de esta última reveló una estructura de planta circular de muros de mampostería posiblemente combinados con argamasas, en cuyo interior se distinguía un piso, superpuesto a un potente nivel de sedimentos estériles en el que había excavada una fosa de almacenamiento con paredes revocadas y restos de una estructura de combustión, con arcillas termoalteradas. A excepción de la estructura de combustión, que tiene asociados
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TO N GO BR I GA : CO L ETÂ N EA D E ES T UD O S CO M EM OR ATIVOS DE 4 0 A NOS DE INV E STIGAÇÃO
Máquina de flotación, sistema simple con agua corriente (2015, fotografía de Inés López-Dóriga©).
Máquina de flotación con sistema cerrado de circulación de agua (2015, fotografía de Inés López-Dóriga©).
fragmentos de cerámica de aspecto castreño, los materiales arqueológicos que aparecen tanto en la fosa, como en las zanjas de fundación del muro, el nivel de uso del piso, y los niveles de abandono, son de cronología romana. El sedimento excavado ha sido procesado mediante flotación con una máquina de construcción manual de tipo Siraf, con recogida de la fracción ligera en malla fina (250 µm de luz). La fracción ligera se ha examinado con ayuda de instrumentos de aumento óptico y los carporrestos han sido identificados Procesado de flots: secado (2015, DRCN Estacão Arqueológica do Freixo©, fotografía de António Lima).
taxonómicamente mediante comparación morfológica, anatómica y biométrica con atlas y bibliografía especializada y la colección de referencia de la Universidade do Porto. Se ha registrado la cantidad y calidad de carporrestos recuperados por categoría taxonómica, teniendo en cuenta la fragmentación y las condiciones de preservación. Se han estudiado los carporrestos de una sola muestra de la mayor parte de los contextos, a excepción de la Fosa 15, cuyas muestras han sido analizadas en su totalidad (n=67, 625.5 litros) debido a su gran interés, y de otros contextos de los que se han extraído muestras para análisis por radiocarbono, a veces siendo necesario analizar más de una muestra para encontrar un espécimen susceptible de ser datado. Las muestras han sido puestas a disposición de otros especialistas, con los fragmentos de madera
Triado de flots e identificación de semillas con lupa binocular (2015, fotografía de Inés López-Dóriga©).
de las fosas actualmente en proceso de estudio por parte de María Martín Seijo (Universidad de Santiago de Compostela). En total, se han estudiado los macrorrestos de en torno al 15% de las muestras obtenidas, con variaciones en su representatividad por contexto.
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Necrópolis
Fórum
Muralla
Habitacional, casa itálica
Muestras arqueobotánicas tomadas y grado de desarrollo del estudio de carporrestos (2015, Inés López-Dóriga©).
86
Nº de muestras tomadas
Nº muestras con carporrestos estudiados
% muestras con carporrestos estudiado
16
11
69%
Plataforma 19 Fossa 1 21 Fossa 2 22 Fossa 3 15 Fossa 4 24 Fossa 5 4 Fossa 6 46 Fossa 7 1 Fossa 8 12 Fossa 9 63 Fossa 10 23 Fossa 11 26 Fossa 12 6 Fossa 13 11 Fossa 14 11 Fossa 15 67 Fossa 16 17 Fossa 17 5 Fossa 18 90 Fossa 20 56 Fossa 21 0 Fossa 22 25 Fossa 23 26 Fossa 24 2 Fossa 26 15 Fossa 27 24 Fossa 28 14 Fossa 29 2 Fossa 31 34 Fossa 32 19 Fossa 33 2 687
4 1 1 4 3 2 3 1 1 3 2 1 1 1 1 67 3 1 1 1 0 4 4 2 6 2 4 2 0 10 2 136
2 5% 5% 27% 13% 50% 7% 100% 8% 5% 9% 4% 17% 9% 9% 100% 18% 20% 1% 2%
50% 5% 5% 27% 13% 50% 7% 100% 8% 5% 9% 4% 17% 9% 9% 100% 18% 20% 1% 2%
16% 15% 100% 40% 8% 29% 100% 0% 53% 100% 20%
16% 15% 100% 40% 8% 29% 100% 0% 53% 100% 29%
UE 509 UE 4.1 UE 4.2 UE 4.3 UE 5 UE 6 UE 12 UE 13 UE 14 UE Miolo UE M1 UE M2 UE M3 UE M4 UE M5
1 1 1 1 1 4 0 0 0 0 0 0 0 1 0 10
100% 33% 50% 100% 9% 17% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 33% 0% 13%
? 7% 10% 20% 2% 3% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 33% 0% 5%
0 32 1 1 1 2 2 1 4 1 5 18
0% 0 3% 7% 4% 6% 13% 25% 100% 100% 100% 9%
0% 0% 3% 7% 4% 0% 13% 25% 100% 100% 0% 23%
1 3 2 1 11 24 1 2 1 15 5 3 3 3 1 76
UE 1 (Este) 33 UE 1 (Oeste) UE 2 30 UE 3 15 UE 4 24 UE 6 35 UE 7 16 UE 8 4 UE 9 4 UE 11 1 UE 12 5 199
% UE con carporrestos estudiado
1%
0%
Habitacional, casa circular
125
0
0%
Balneario
5
1
20%
Total
1172
176
15%
Nº litros procesados
11893.275
Nº de Restos
20577
Nº de Restos Determinados
11176
TO N GO BR I GA : CO L ETÂ N EA D E ES T UD O S CO M EM OR ATIVOS DE 4 0 A NOS DE INV E STIGAÇÃO
0%
11%
RESULTADOS El análisis preliminar de muestras de flotación ha proporcionado unos resultados que se presentan de forma detallada a continuación. Además, se han obtenido los siguientes resultados para las muestras de carporrestos sometidas a análisis de radiocarbono en el laboratorio Direct AMS.
Referencia laboratorio
Frac3on of modern (pMC)
14C
-19.6 ‰
76.98 ± 0.26
2102 ± 27
190 – 50 BCE
-6.1 ‰
74.97 ± 0.32
2314 ± 34
470 – 230 BCE
-4.4 ‰
76.60 ± 0.41
2141 ± 43
360 – 50 BCE
-22.6 ‰
75.69 ± 0.27
2237 ± 29
390 – 200 BCE
-25.3 ‰
82.35 ± 0.31
1560 ± 30
420 – 570 CE
UE 8 (Cota 86)
-21.3 ‰
81.01 ± 0.27
1692 ± 27
260 – 410 CE
UE 12 (Cota 103)
-9.2 ‰
77.16 ± 0.25
2083 ± 26
180 – 40 BCE
-25.2 ‰
106.80 ± 0.35
Modern
-22.5 ‰
67.06 ± 0.25
3210 ± 30
1600 – 1410 BCE
-25.7 ‰
68.13 ± 0.26
3083 ± 31
1430– 1260 BCE
-23.0 ‰
67.06 ± 0.25
3210 ± 30
1600 – 1410 BCE
-30.8 ‰
127.15 ± 0.37
Modern
-24.0 ‰
66.81 ± 0.23
3240 ± 28
1610 – 1440 BCE
3212 ± 31
1600 – 1410 BCE
Referencia muestra
Iden3ficación muestra
Peso (g.)
Área
Estrato
TONGO.14.42
Grano (Tri$cum spelta)
12
Muralla
UE 6
TONGO.14.38
Granos (Panicum miliaceum)
Muralla
UE 5
TONGO.14.43
Granos (Setaria italica)
TONGO.15.389
Grano (Tri$cum spelta)
TONGO.14.163
Fruto (Castanea sa$va)
D-AMS 009829
TONGO.14.229
Grano (Secale cereale)
8
Habitacional
D-AMS 009830
TONGO.14.246
Granos (Setaria italica)
5
Habitacional
D-AMS 009827
D-AMS 011938 D-AMS 011939 D-AMS 011940 D-AMS 009828
D-AMS 009831 D-AMS 009832 D-AMS 009833 D-AMS 009834 D-AMS 009835 D-AMS 009836 D-AMS 011941
D-AMS 011942
D-AMS 011943
Muralla
UE 6
Muralla 61
3
UE M4
Habitacional
(2σ)
Hoja (Pinus sp.)
TONGO.14.1610
Grano (Tri$cum “nudum”)
TONGO.14.1314
Grano (Tri$cum sp.)
TONGO.14.1278_
Grano (Tri$cum sp.)
TONGO.14.1051
Grano (Secale cereale)
TONGO.14.1488
Semilla (Vicia faba)
TONGO.15.1574
Grano (Tri$cum sp.)
Fosas
UE 3201
-19.2 ‰
67.04 ± 0.26
TONGO.15.1637
Madera de rama de 1 anillo
Fosas
UE 2702
-24.0 ‰
79.20 ± 0.26
1873 ± 26
70 – 220 CE
TONGO.15.1627
Madera de rama de 1 anillo
Fosas
UE 2601
-25.3 ‰
78.08 ± 0.29
1988 ± 30
50 BCE – 80 CE
8 10 11 74
Fosas Fosas Fosas Fosas Fosas
UE 3002
BP
TONGO.15.252
7
Balneario
UE 3 (Cota 64)
Δ13C (AMS)
UE 2204 (Cota 11) UE 1504 (Cota 64) UE 1502 (Cota 35) UE 301 (Cota 11) UE 2001 (Cota 24)
Resultados de las dataciones radiocarbónicas obtenidas en este proyecto (2015, Inés López-Dóriga©).
Es importante constatar que los resultados entre diferentes tipos de zonas no son necesariamente directamente comparables por los diferentes procesos de formación que han resultado en la preservación de los diferentes depósitos y restos arqueobotánicos6. En general, los macrorrestos vegetales son muy abundantes en la mayor parte de los contextos muestreados en Tongobriga: aunque los restos carpológicos son escasos en algunos contextos.
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NECRÓPOLIS
Las muestras de flotación analizadas de sedimentos provenientes de la necrópolis han proporcionado escasos macrorrestos no leñosos, aunque los fragmentos de tejido vegetal indeterminado son muy abundantes en algunas de ellas. Los restos determinados son semillas de plantas silvestres además de un posible fragmento de panizo.
FORO La muestra de control de los sedimentos que cubrían el área de la concentración de fosa circulares, de la Edad del Bronce no proporcionó macrorrestos vegetales no leñosos. Una muestra de la fosa 3, muy rica en raquis de centeno, además de contener restos de plantas silvestres y un grano de avena de gran tamaño, dio un grano de centeno, de datación radiocarbónica moderna. Las muestras de fosas han proporcionado resultados variables: tanto muchas fosas circulares (1, 2, 4, 5, 6, 7, 8, 10, 11, 12, 13, 14, 16, 17, 18, 23, 24, 25) como las fosas alineadas (26-33) han proporcionado escasos macrorrestos, la mayor parte de los cuales pertenecen a flora silvestre, con algunos restos de cereales, a veces no determinados, o identificados como trigo, cebada y de lino; sin embargo, una serie de fosas han proporcionado resultados más prometedores: fosa 9 (carporrestos relativamente abundantes en esta fosa, aunque su densidad es baja en el conjunto del sedimento, con segmentos de silicua, granos de trigo, semillas de plantas silvestres, restos de grano y paja de trigo y cebada, lino); fosa 15 (abundantes macrorrestos vegetales de gran diversidad de tipos y especies, con potenciales malas hierbas Nivel superior de la plataforma con concentración de fosas (2014, DRCN Estacão Arqueológica do Freixo©, fotografía de António Freitas).
acompañantes de especies domésticas, principalmente cereales, trigos y cebadas, guisante, lino, y las semillas de plantas y frutos silvestres; cebadas, muchas de las cebadas son granos germinados, y los trigos, muchos de ellos con marcas de roedor o insectos); fosa 22 (macrorrestos vegetales no leñosos muy abundantes, destacando los elementos de raquis y granos de trigo desnudo, seguidos de cebada, fragmentos de cápsula de lino también y plantas silvestres); fosa 7 (macrorrestos abundantes: trigo, cebada, lino, otras semillas de plantas silvestres menos numerosas y semillas de frutos), y fosa 20 (cebada, trigo, un posible fragmento de panizo, semillas de plantas espontáneas, algunas leguminosas circulares y una semilla de haba).
Los cuatro niveles de la plataforma de fosas (2014, fotografía de Inés López-Dóriga©).
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TO N GO BR I GA : CO L ETÂ N EA D E ES T UD O S CO M EM OR ATIVOS DE 4 0 A NOS DE INV E STIGAÇÃO
Tipologías de fosas reconocidas en la concentración de fosas (2014, editado por Inés López-Dóriga con dibujos de cortes de António Freitas).
Estructuras intervenidas en los alineamientos y concentraciones de fosas en el foro: 1-25 concentración de fosas; 26-33 alineamientos de fosas (2014, editado por Inés López-Dóriga sobre levantamiento de António Freitas).
MURALLA Las muestras de la muralla, de la Edad del Hierro, están principalmente compuestas por restos carpológicos en posición terciaria, lo que dificulta la posibilidad de asociar taxones a usos concretos, condiciones de cultivo, etc... Los conjuntos de carporrestos de las unidades estratigráficas situadas en el interior de la muralla son muy semejantes entre sí, aunque notablemente diferentes de los del exterior de la muralla, en el que es llamativa la ausencia de restos de plantas domésticas. Esto indica el origen de los conjuntos de carporrestos en actividades de procesado de plantas domésticas desarrolladas en el interior del recinto amurallado, mientras que los restos de plantas documentados al exterior serían probablemente parte de la vegetación silvestre y que resulta carbonizada accidentalmente.
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Entre
las
especies
cultivadas
destacan los trigos vestidos y los cereales de ciclo corto. Se documentan sólo de forma puntual cebada vestida y los trigos desnudos.
Además
de
los
abundantes
elementos de cascabillo y pajas de los trigos, se han registrado abundantes fragmentos de la paja de cereales, indicando la existencia de áreas de depósito de residuos de varias de las etapas de procesado de los cereales (trilla, descascado). Aparecen también granos de avena, pero en ausencia de elementos de cascabillo es imposible determinar si se trataba de la especie cultivada o de especies silvestres que podían formar parte del cortejo Excavación de la zona interior de la muralla (2014, fotografía de Inés López-Dóriga©).
de malas hierbas de los otros cultivos. El caso del centeno es semejante: además de su presencia testimonial en forma de dos granos. Con estas gramíneas, aparece una serie de especies herbáceas silvestres de diferentes tipos de espacios abiertos, que muy probablemente formaban parte de los cortejos de malas hierbas o aparecían en ambientes ruderales, aunque sus múltiples utilizaciones potenciales podrían sugerir su recogida intencional y aprovechamiento para diversos usos.
En cuanto a la vegetación silvestre destacan los arbustos de leguminosas, que indican la existencia de espacios deforestados en abandono, pero en los que se podría fomentar la producción de estos arbustos para su aprovechamiento con distintas finalidades (escobas, camas de ganado, alimentación, tintes, medicinas...). Entre las especies arbóreas, posiblemente no cultivadas, pero sí gestionadas de alguna forma para aumentar su productividad (podas, por ejemplo) destacan los árboles productores de bellotas, entre los que podrían estar los robles, encinas, alcornoques, etc...
Muestreo del meollo de la muralla (2015, fotografía de Inés López-Dóriga©).
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ZONA HABITACIONAL En esta zona, mayormente bajoimperial, los restos de cereales (en general de todo tipo de macrorrestos) son muy escasos y sólo hay constancia del cultivo de cebada vestida, mijo, panizo; y centeno (elementos de raquis). Continúa existiendo una vegetación de áreas abiertas de arbustos y hierbas. Los restos de lino son exclusivamente de semillas, lo que impide la determinación a nivel de especie. También aparece una pepita de uva, aparentemente silvestre, aunque la distinción carpológica se basa en criterios estrictamente morfométricos y es por lo tanto bastante dudosa, especialmente cuando se dispone de un sólo ejemplar. También se documenta el consumo, y posiblemente incentivo de la producción silvestre o cultivada, de castaña, de moras o frambuesas, indicando que probablemente las fases iniciales del procesado no se desarrollaban ahí, sino sólo las finales (cocinado y consumo).
Testigo de la sedimentación en la casa itálica, después de la excavación (2014, fotografía de Inés López-Dóriga©).
BALNEARIO Los macrorrestos vegetales son muy escasos en la muestra analizada proveniente del balneario. Fueron elegidas para datación radiocarbónica varios fragmentos de acículas de pino de este contexto, que resultaron tener una cronología moderna. No es posible establecer si sólo estos o todo el conjunto arqueobotánico son intrusivos.
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DISCUSIÓN La ocupación humana en Tongobriga, de acuerdo con los resultados obtenidos en las dataciones radiocarbónicas, pasa por 4 grandes fases no necesariamente continuadas desde el II milenio cal A.E.C. y su evidencia arqueobotánica es de gran importancia en el marco del NO7. La introducción de las especies domésticas (cereales como el trigo y la cebada, leguminosas como el haba y el guisante) parece documentarse en el NO ibérico desde finales del IV milenio y principios del III y se complemente con la aparición del lino y cereales de ciclo corto en el Calcolítico-Bronce. El cultivo de domésticos está complementado por la explotación de recursos silvestres, que en el caso del NO suelen ser bellotas, pomos, moras y aceituna. La avena descollada aparece de forma consistente en el registro y el papel de su bulbo en los sistemas de explotación de recursos silvestres está todavía por aclarar. Existen datos relativamente abundantes sobre la explotación de recursos vegetales en otros contextos del NO peninsular de en torno al cambio de era (de atribución cronológica en muchos casos imprecisa), que apuntan a la existencia de una relativa continuidad entre los cultivos de finales de la Edad del Hierro y de época romana8: un predominio de trigos desnudos y vestidos, cebada vestida, mijo, avena y faba; menor importancia de otros cultivos como los guisantes, la cebada desnuda y escaña; con algunas novedades ligadas a la romanización: introducción o generalización del cultivo da vid, difusión del cultivo de panizo y expansión del cultivo de centeno. De acuerdo con la evidencia disponible, no parece haber grandes variaciones en el panorama agrícola de la Edad del Hierro9 aunque estos datos deben de ser relativizados, dado que la presencia romana en el NO existe desde al menos el siglo II A.E. y no existen dados provenientes de yacimientos castreños en los que los contactos con el mundo romano puedan descartarse. De acuerdo con el conocimiento sobre las dinámicas de romanización en algunas provincias del Imperio romano, se tiende a asumir que la romanización supone la generalización de la triada mediterránea (trigo, olivo y vid) como base de la agricultura, entre otros cambios económicos, como la complementarización de la producción entre el mundo rural circundante de las ciudades. El registro carpológico de Tongobriga no muestra grandes variaciones diacrónicas en el paisaje mediado por la actividad humana a lo largo del tiempo, salvo en las diferencias de representación de unos cultivos frente a otros, que podrían responder a verdaderos cambios en los cultivos realizados, o a meras cuestiones tafonómicas (diferentes áreas funcionales, cambios en la preparación de los productos...). Estos posibles cambios en las preferencias de especies (de cereales desnudos en el principio de la ocupación hasta cereales vestidos) podrían responder a un empeoramiento de las condiciones ambientales: los mijos se dan bien en suelos pobres y climas húmedos, mientras que el centeno tolera suelos ácidos y temperaturas extremas; en cambio, los cereales desnudos, especialmente los trigos, son exigentes con respecto a las condiciones ecológicas. El lino, una planta de semilla oleaginosa y que además podría haberse empleado para confeccionar fibras y tejidos, tiene una gran importancia en la Edad del Bronce, pero no hay prueba de su cultivo en la Edad del Hierro y vuelve a aparecer en época romana, aunque sólo de forma testimonial.
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Principales taxones identificados como carporrestos en las muestras analizadas. A: Triticum spelta (grano); B: Triticum “nudum” (grano); C: Secale cereale (grano); D: Setaria italica (granos); E: T. spelta (bases de gluma); F: Triticum durum (segmentos de raquis); G: Pisum sativum; H: Linum sp. (semilla); I: Linum usitatissimum (fragmentos de cápsula); L: Quercus sp. (hilo y cúpula); M: Castanea sativa (endocarpo); N: Avena sp. (grano); O: Bromus sp. (grano); P: Raphanus sp. (segmento de silicua); Q: Papaver somniferum (semilla); R: Rumex sp. (aquenio); S: Corrigiola sp. (aquenio) T: Portulaca sp. (aquenio) U: Dianthus sp. (aquenio); V: Caryophyllaceae (aquenio); W: Galium sp./Asperula sp. (aquenio); X: Asterolinon linum-stellatum. Escalas = 1 mm (2015, Inés López-Dóriga©).
Los datos obtenidos para la explotación de recursos forestales en Tongobriga son todavía muy parciales, en parte debido a la menor probabilidad de documentación de este tipo de recursos en el registro carpológico10. Por otro lado, dadas las características de las evidencias disponibles obtenidas a partir de la arqueobotánica, es muy difícil detectar la puesta en práctica de técnicas propias de la arboricultura (como intervenciones más complejas de tipo injertos pero que no dejan ningún tipo de evidencia objetiva en los restos de semillas y frutos11) en la explotación de recursos que podrían estar disponibles en estado silvestre (aunque no necesariamente libres de intervención humana, como podas o transplantes). Si la cuestión tafonómica no estuviera ofreciendo un panorama en el que los frutos silvestres estuvieran infrarrepresentados, la parquedad de frutos que podrían estar disponibles (avellanas, bellotas, castañas...) puede indicar que el territorio estaba relativamente deforestado, mientras que la presencia estable de carporrestos de arbustos de leguminosa (Genisteae) indican un paisaje abierto y antropizado. Esto viene a coincidir con las evidencias presentadas por otro tipo de indicadores paleoambientales12, que alertan de la importante deforestación, erosión y acidificación de los suelos desde el IV milenio, pero especialmente a partir del 1400 cal A.E.C., alcanzando un punto de inflexión en época romana. Desde el siglo II A.E.C. hay presencia romana en el NO peninsular, por lo que la capacidad
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de discriminar las evidencias de romanización en relación a la agricultura castreña prerromana es limitada. Es notable que ninguno de los elementos de la triada mediterránea (trigo, vid y olivo) tiene gran relevancia en el registro carpológico en Tongobriga en época romana (de hecho sólo se documenta la presencia de trigo y vid, aunque el olivo ya aparece en la Edad del Bronce).
EDAD DEL BRONCE Las fechas obtenidas para las fosas circulares de la Edad del Bronce indican una ocupación, no necesariamente continuada, entre el 1500 cal A.E.C. y el 1400 cal A.E.C. La zona de fosas sería entonces un área destinada inicialmente al almacenamiento de recursos, secundariamente a la deposición de residuos y ulteriormente a otros usos una vez que las fosas habían quedado inhabilitadas (completamente cubiertas). De acuerdo con la evidencia obtenida en las muestras, en la Edad del Bronce, primaban los cereales desnudos, principalmente el trigo duro y la cebada. Las leguminosas representadas en las fosas, son probablemente cultivadas para el consumo de sus granos o vainas (guisante, haba) o silvestres y relacionadas con el aprovechamiento de las ramas para forraje o encamado de animales, techado, fabricación de escobas (Genisteae). Además, se han documentado abundantes evidencias del procesado de lino, en forma de fragmentos de cápsulas y restos de semillas. La evidencia disponible apunta a la probable utilización de las semillas o del aceite extraído de ellas y al posible aprovechamiento de las fibras de sus tallos. También se ha documentado la explotación de moras o frambuesas, sabugos, bellota, y posiblemente aceituna y piñones. No hay evidencia de avena descollada, cuya presencia en otros yacimientos de similar cronología puede estar asociada a su naturaleza funeraria.
EDAD DEL HIERRO La ocupación castreña en Tongobriga pudo ocupar, por lo menos, todo el siglo II y la primera mitad del siglo I A.E.C., en un periodo de siglo y medio. Hay un lapso temporal de varios siglos entre las últimas evidencias de ocupación de la Edad del Hierro y la siguiente ocupación en época romana. Los contextos en los que hemos recuperados evidencias de la utilización de recursos vegetales en la Edad del Hierro son de peor calidad informativa que los de la Edad del Bronce, debido a su naturaleza terciaria: son contextos en los que aparecen conjuntos desplazados de su lugar de utilización y carbonización y en los que restos de diferentes actividades están mezclados. Por lo tanto, nuestras posibilidades de caracterizar las diferentes actividades y los sistemas agrícolas son más limitadas. A pesar de todo, podemos obtener interesante información sobre los productos que eran cultivados. El registro de la Edad del Hierro en la zona habitacional es muy limitado, reducido probablemente a residuos que quedaban dispersos por la zona en el momento de conversión a hábitat de tipo romano (UE 12); sin embargo, es muy interesante porque se documentan algunas especies distintas de las documentadas en la zona de la muralla, probablemente respondiendo a diferencias funcionales de los espacios estudiados.
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En la Edad del Hierro (muralla), hay gran abundancia de cereales vestidos (espelta) y aparecen por primera vez los cereales de ciclo corto, mijo y panizo. Si bien estas son especies típicas de la agricultura de la Edad del Hierro en el NO peninsular, lo que apunta a un sistema agrícola con al menos dos cosechas de cereal al año13, existen ligeras variaciones en la abundancia de unas especies frente a otras14, que además de reflejar la mayor valoración de unas especies sobre otras por cuestiones económicas, ecológicas o culturales, también podrían estar relacionadas con diferencias en la forma de preparación o en la especialización de los contextos muestreados. Aparecen en el registro algunas semillas de leguminosas indeterminadas y de probables arbustos silvestres (Genisteae), que podrían formar parte de la vegetación silvestre circundante (son de las primeras especies a colonizar terrenos deforestados) y/o que podrían ser gestionados de alguna forma (podas, quemas...) para el aprovechamiento de sus ramas. Tenemos también evidencias de la explotación de bellota.
BAJO IMPERIO Y TARDO ANTIGÜEDAD Para época romana se dispone de tres tipos de muestras: las provenientes de un área de uso doméstico, el testigo del área habitacional; las provenientes de un área de uso público, los alineamientos de fosas del foro (de las que no disponemos de datación radiocarbónica por el momento y cuya atribución cronológica se basa exclusivamente en su disposición con respecto a los muros del foro), y las de un área de uso ritual, la necrópolis. Este panorama ofrece algunos problemas a efectos de comparabilidad entre la agricultura de época romana con los cultivos castreños. La ocupación romana en Tongobriga no se documenta en evidencias radiocarbónicas hasta la segunda mitad del siglo III. Es en este momento cuando se data el uso de la casa itálica excavada en el área habitacional. No tenemos fecha para el abandono de la casa, pues hay un lapso de tiempo hasta la destrucción (incendio) de los elementos de madera de soporte del tejado de la casa en el que se produce una importante sedimentación. En este nivel de incendio, tenemos dos tipos de marcadores cronológicos: una datación radiocarbónica y cinco monedas, del siglo IV. En época romana, el trigo tiene una importancia testimonial en el registro, y el estado de preservación es tan malo que no es posible precisar si se trata de especies vestidas o desnudos. Continúan teniendo una presencia estable la cebada vestida, el mijo y el panizo, además del centeno. Tanto el centeno como los mijos son cereales panificables: el centeno da un pan oscuro y los mijos, pobres en gluten, dan un pan plano. Además, los tallos de la cebada y el centeno son muy apreciados para diversos usos tecnológicos, como el techado, la elaboración de escobas o camas, además de servir como forraje para alimentar el ganado doméstico en invierno. A pesar de que en época romana sólo tenemos una semilla de lino como evidencia del aprovechamiento de esta planta, esto podría indicar que o bien la planta ha dejado de cultivarse, o bien que su uso es exclusivamente
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textil, lo que puede ofrecer pocas oportunidades para que la semilla se carbonice. En época bajo imperial, es posible confirmar la explotación de moras o frambuesas y castaña. Desafortunadamente, la determinación entre semillas de moras y frambuesas es muy dudosa y no es posible distinguir entre la recolección de frutos silvestres (moras) y el cultivo de plantas para la producción de fruto (frambuesas). Las castañas, como otros frutos secos tales como la avellana o la bellota, maduran en otoño, pero con un tratamiento previo de secado y eliminación de hongos e insectos pueden ser almacenadas durante varios meses. Ambos taxones son relativamente frecuentes en el registro carpológico del NO peninsular15. Como ya ha sido puesto de manifiesto16 la presencia de uvas, ya documentadas en varios yacimientos del NO, no es necesariamente una evidencia de la producción de vino, que sólo podría confirmarse con el hallazgo de contextos claros de procesado (lagares), almacenado (ánforas vinarias) o macrorrestos con evidencias de procesado17. Otros recursos que tienen importancia en otros sitios del NO peninsular18, no se documentan en Tongobriga, pudiendo sugerir cierto aislamiento de las principales rutas comerciales.
CONCLUSIONES
La evidencia arqueobotánica proporcionada por las muestras de Tongobriga es de gran importancia para comprender la historia de la larga ocupación humana en el yacimiento, así como para proporcionar información complementaria sobre las dinámicas de la agricultura y explotación de los recursos vegetales en el NO peninsular a lo largo de la prehistoria, desde la Edad del Bronce, hasta época romana 19. Es necesario el estudio de la totalidad de las muestras para incrementar el potencial de la información arqueobotánica obtenido hasta el momento.
AGRADECIMENTOS Me gustaría agradecer a las personas que ayudaron en el desarrollo de estos trabajos, especialmente João Tereso, António Lima, José Antonio Pereira, João Rebuge, Jorge Araújo, António Freitas, Jorge Pereira, Inês Bernardino, Alberto Nogueira, Joaquim Vieira, José Monteiro, Ana Jesus, Inês Oliveira, Tânia Morais, Manuel Couto, Ana Martins e Fernanda Couto.
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6 AS CREMAÇÕES ROMANAS NA PERS PETIVA DA ANTROPOLOGI A I NVESTI GAÇÃO
Filipa Cortesão Silva Centro de Investigação em Antropologia e Saúde (CIAS) da Universidade de Coimbra filipa.cortesao@gmail.com Filipa Cortesão Silva é doutorada em Antropologia, especialidade Antropologia Biológica pela Universidade de Coimbra e investigadora integrada do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde (CIAS). Ao longo dos últimos anos tem desenvolvido pesquisa sobre a prática funerária da cremação na província romana da Lusitânia, designadamente, nas cidades de Augusta Emerita (Mérida) e de Salacia (Alcácer do Sal), através do estudo dos remanescentes ósseos, a que se somam estudos de séries da Tarraconense. Estes trabalhos permitiram reunir informações sobre os indivíduos e gestos funerários associados ao rito da cremação neste período histórico. Outras áreas de investigação dizem respeito à paleopatologia e à tafonomia. É autora de trabalhos publicados em revistas e livros a nível nacional e internacional. Atualmente mantém colaborações multidisciplinares com investigadores de Espanha, Portugal, Bélgica, Holanda e Alemanha em estudos envolvendo restos ósseos de época romana.
Ana Luísa Santos Departamento de Ciências da Vida (DCV) e Centro de Investigação em Antropologia e Saúde (CIAS) da Universidade de Coimbra alsantos@antrop.uc.pt Ana Luísa Santos é doutorada em Antropologia, professora do Departamento de Ciências da Vida (DCV) e investigadora integrada do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde (CIAS). As suas pesquisas inserem-se na Antropologia Biológica, em particular no estudo biocultural e multidisciplinar de esqueletos humanos nos quais procura conhecer a saúde/doença das populações. Outras áreas de investigação são a história da Antropologia e das coleções museológicas. É autora de trabalhos publicados em revistas e livros em edições nacionais e internacionais resultantes de estudos realizados em Portugal, Argentina, Jamaica, entre outros países. Desempenhou funções de editora associada do “International Journal of Paleopathology” e vice-presidente da Paleopathology Association. É subdiretora do DCV, vogal da direção da Associação Portuguesa de Antropologia e da Junta directiva da Asociación Española de Paleopatología e Coordenadora do Mestrado em Evolução e Biologia Humanas.
As cremações romanas de Tongobriga na perspetiva da Antropologia
AS PRÁTICAS FUNERÁRIAS ROMANAS
A cultura romana considerava que os mortos só alcançavam o descanso eterno após a correta realização de um conjunto de procedimentos que incluíam o sepultamento1. As práticas funerárias não foram, porém, uniformes ao longo dos cinco séculos nos 4.400.000 km2 de extensão máxima do Império2. Conquanto se assinale a coexistência da cremação e da inumação sabe-se que, de forma genérica, no século I a.C. a cremação prevaleceu em Itália e na parte Ocidental do Império enquanto em meados do século III d.C. a inumação passou a ser adotada de forma quase exclusiva3. No entanto, mesmo na época em que a cremação predominava, se afigura comum assinalar numa mesma área funerária o recurso pontual à inumação para situações específicas relacionadas, por exemplo, com o estatuto social e/ou económico do indivíduo na comunidade (crianças falecidas antes da erupção dos dentes, por norma, não eram cremadas sucedendo o mesmo com os indivíduos muito pobres e/ou marginalizados dos grandes centros urbanos que tendiam a ser postos numa fossa comum denominada puticulum), com crenças religiosas, costumes funerários de grupos étnicos, tradições familiares ou mesmo desejos pessoais do falecido, assim como com as próprias circunstâncias da morte, como sejam mortes violentas e/ou causadas por certas doenças, entre outras4. Apesar de existirem diferenças decorrentes da posição social do falecido, genericamente os ritos funerários iniciavam-se após o último suspiro, pelo beijo ao moribundo para que a alma não escapasse pela boca5. Em seguida, eram fechados os olhos, oculos premere, por norma pelo filho varão, sendo retirados os anéis, anulus detrahere. O nome do falecido era repetidamente evocado, conclamatio, confirmando assim que a morte não era aparente. Com o mesmo objetivo, o corpo era retirado do leito fúnebre, ajoelhado, supra genua tollere, e depositado no chão, deponere, para estar em contacto com o seu elemento de origem, a terra, lavado com água quente e perfumado com unguentos produzidos com sal, mel e mirra, unctura6. Em seguida era vestido com as melhores roupas, a toga para os cidadãos masculinos e um vestido nas mulheres7 existindo evidências arqueológicas, nomeadamente tachas, que indicam que, por vezes, estariam calçados8. Os pobres eram vestidos com as suas roupas ou envolvidos numa mortalha de tecido negro. Durante cerca de dois dias, o corpo era exposto no átrio da casa, na cama mortuária, lectus funebris, rodeada de flores9. Junto aos pés, direcionados para a porta de entrada, encontravam-se incensórios onde eram queimados perfumes10. Em frente à habitação eram dispostos ramos de pinheiro ou cipreste para advertir os transeuntes, e sobretudo os pontífices, do falecimento, uma vez que a
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morte era encarada como uma fonte de poluição, física e espiritual11. Terminado o velório, seguia-se a procissão fúnebre, pompa, com o corpo sobre uma padiola feretrum, transportada pelos filhos, familiares, ou herdeiros, até à pira funerária e/ ou local da sepultura, localizadas fora do pomerium, ou seja, dos limites religiosos da cidade, conforme legislado na lei das XII Tábuas12. Estas, além de se encontrarem extramuros, também se situavam junto às principais vias que davam acesso à cidade como o testemunham investigações de áreas funerárias urbanas de distintos pontos do Império13. O posicionamento das necrópoles ao longo de vias, além de facilitar o acesso, conferia-lhes o máximo de visibilidade junto a transeuntes, viajantes e visitantes regulares, perpetuando deste modo a memória do falecido14. A cremação, que ocorria geralmente no prazo de dois dias, podia ser realizada no mesmo lugar da sepultura (bustum) ou num local específico para o efeito, denominado ustrinum15. Nesta segunda modalidade os restos ósseos cremados eram recolhidos da pira funerária e levados para o local de enterramento. Independentemente do tipo de deposição óssea (primária ou secundária), os vestígios cremados podiam ser colocados diretamente na terra, em covachos ou em fossas de formato geralmente retangular, dentro de sacos de tecido, pele e/ou em urnas de distintos materiais, tais como cerâmica, vidro, metal ou pedra16. Em época romana é comum que ambas as modalidades se encontrem numa mesma área funerária ainda que as suas frequências variem de acordo com a região e/ ou cronologia. Na pira, além do defunto, podia ser colocado distinto mobiliário que também era cremado (desde peças relacionadas com as refeições a objetos associados a hábitos particulares), carcaças de animais domésticos (cão, pássaros) ou oferendas alimentares (tais como vaca, porco, cabra, ovelha, galo, pão, frutos, cereais, entre outros)17. Importa ainda referir que a cremação propriamente dita podia decorrer mediante intervenção de profissionais funerários, os cognominados ustores, como o referem fontes históricas18, sendo de crer que esta circunstância fosse a mais comum em áreas funerárias urbanas. Também se têm reportado evidências arqueológicas destas áreas de cremação por vezes se encontrarem dotadas de estruturas permanentes, isto é, pedra ou ladrilho, como sucedeu, por exemplo, em Augusta Emerita (Mérida, Espanha)19 ou em Carmo (Carmona, Espanha)20.
Quanto às inumações, os jazentes eram colocados em ataúdes em madeira ou, menos frequentemente, em chumbo ou sarcófagos em pedra, mas também em ânforas, potes de cerâmica ou ímbrices, utilizados nomeadamente para bebés e crianças pequenas21. Independentemente do rito funerário executado, cremação ou inumação, os restos mortais podiam ser dispostos em edifícios funerários coletivos como columbários22, mausoléus ou em sepulturas, individuais ou múltiplas, que variavam desde simples fossas escavadas na terra a estruturas mais elaboradas, por exemplo, cistas de pedra ou terracota, caixas em ladrilho, fossas retangulares revestidas com tijoleira, delimitadas por tégulas ou lateres23. O mobiliário funerário podia incluir uma ou mais peças, em cerâmica ou vidro, como sejam pratos, copos, jarros, unguentários, lucernas ou moedas24, bem como objetos de adorno pessoal, de cosmética, peças de jogo ou relacionadas com a profissão do defunto25.
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Refira-se que as sepulturas de crianças podiam inclusive conter biberões, peças em miniatura, brinquedos ou amuletos26. Todos estes objetos visavam honrar o defunto e dar resposta às suas necessidades no Além27. Cumpridas corretamente as cerimónias fúnebres, os mortos poderiam retribuir, ajudando os vivos, o que não sucedia se os primeiros fossem negligenciados ou privados de sepultura podendo tornar-se espíritos malévolos e perigosos, cognominados Lemures ou Larvae28.
O SÍTIO ARQUEOLÓGICO DE TONGOBRIGA O sítio de Tongobriga corresponde a uma cidade romana implantada na bacia do rio Douro no vale do Tâmega, um dos seus afluentes. Localiza-se na atual aldeia do Freixo, no concelho de Marco de Canaveses, distrito do Porto. Na sua génese, Tongobriga constituía um povoado fortificado da Idade do Ferro (também denominado castro) que, com a integração do noroeste peninsular no Império Romano, se converteu em cidade29. Já em finais do século I d.C. adquiriu o estatuto de capital de civitas30. Esta urbe enquadrava-se no território da Tarraconense, uma das três províncias em que estava dividida a Hispania (atual Península Ibérica) no Alto Império (séculos I-II d.C.), sendo parte do Conventus bracaraugustanus, com capital em Bracara Augusta (atual cidade de Braga). As primeiras escavações de Tongobriga ocorreram em 1980 sob a direção de Lino Tavares Dias, autor de extensa investigação sobre este sítio arqueológico31. A estas somaram-se outras intervenções que, ao longo dos últimos 40 anos que se assinalam nesta publicação, permitiram colocar a descoberto diversos vestígios da cidade como sejam o forum, o teatro, as termas, a muralha, áreas habitacionais e as necrópoles32.
AS NECRÓPOLES Os primeiros relatos de achados de âmbito funerário remontam aos séculos XVIII e XIX33. A relevância deste sítio despertou inclusive a atenção de nomes incontornáveis da Arqueologia em Portugal como Martins Sarmento que, em finais do século XIX/inícios do XX, estudou inscrições de lápides ou de José Leite de Vasconcelos que alude à descoberta de sepulturas, além de também se ter dedicado ao estudo de epitáfios34. No entanto, só em finais do século XX se identificou e escavou uma necrópole, localizada nas imediações do atual cemitério do Freixo35. Desta intervenção arqueológica, a cargo de Lino Tavares Dias, foram exumadas 15 sepulturas identificadas como sendo de cremação e datadas entre os séculos III a IV/V d.C.36. Refira-se que o espólio osteológico desta escavação não foi alvo de estudo antropológico. Já no início do século XXI, no âmbito do programa internacional de cooperação científica entre o extinto Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) e a Universidade de Brown (E.U.A.), mais concretamente no curso da 3ª campanha de escavação arqueológica luso-americana, realizada entre junho e julho de 2006, deu-se o reconhecimento de uma segunda área de necrópole, mais antiga (século I d.C.)37, localizada junto às termas38, alvo do presente trabalho.
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A intervenção arqueológica decorreu sob a direção do outrora Diretor da Estação Arqueológica do Freixo, Lino Tavares Dias, e de Rolf Winkes da Universidade de Brown, integrando a equipa investigadores de outras Instituições, designadamente, do Deree College of Antenas (Grécia) e da Universidade de São Paulo (Brasil)39, tendo sido escavadas três sepulturas. No ano seguinte, durante a quarta e última campanha a cargo desta mesma equipa, foram identificadas mais quatro. A estas somaram-se outras cinco sepulturas escavadas, entre setembro de 2007 e março de 2008, por elementos da Estação Arqueológica do Freixo e com a participação de alunos da Escola de Arqueologia aqui sedeada sob a responsabilidade de Lino Tavares Dias40.
Sepultura 1 em processo de escavação (2006, Brown University Excavation©, fotografia cedida por Rolf Winkes).
AS CREMAÇÕES E OS INDIVÍDUOS No espaço funerário junto às termas foram identificadas 12 sepulturas secundárias de cremação distribuídas por uma área de cerca de 180 m2, sendo que apenas uma apresentava estrutura retangular em terracota41. Importa referir que uma das sepulturas, apesar de evidenciar espólio, não preservou vestígios ósseos, o que poderá dever-se à ação antrópica. Recorde-se que ao localizar-se na orla da aldeia do Freixo, o terreno terá sido usado, ao longo dos séculos, para atividades agrícolas, além de obras recentes para passagem de tubagens. Na realidade, apenas cinco sepulturas, mais concretamente, os seus depósitos ósseos, se apresentavam intactos. Para a ausência de restos ósseos da sepultura pode ainda ser apresentada outra hipótese explicativa, designadamente, estarmos perante um cenotáfio, cenotaphium, que funcionaria como sepultura “imaginaria”42 ou “honorarium sepulcrum”43. Tal sucedia quando não se dispunha dos restos mortais para serem sepultados como sejam em mortes por afogamento ou no campo de batalha44. Supostos cenotáfios foram reconhecidos em distintas áreas funerárias do Império romano45. Das 11 sepulturas com espólio osteológico, nove possuíam urna cinerária em cerâmica e nas outras duas os vestígios ósseos encontravam-se no solo, sendo que numa delas o modo como estavam aglomerados suscita a hipótese de poderem ter estado numa urna/recipiente em material perecível, como por exemplo, tecido ou madeira. Estes dois depósitos ósseos em terra foram escavados respetivamente em campo e na Estação Arqueológica do Freixo enquanto os em urna foram acondicionados para posterior escavação e estudo laboratorial na Universidade de Coimbra.
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307.21
306.99
F
TONGOBRIGA Planta Necrópole
307.27 307.37 307.82
G
307.95
307,69 307.93
307.83
307,58
308.10
307.33
307.75
307.21
H
307,90 309.33 308.46
308.71
I
307.99
Sep. 1 308.20
308.31 308.33
J
308.05 308.61 309.59
307.90
307,80
K
Sep. 5 307.71
Sep. 4
308,35 309.03
Limite área escavada
309.24
308.42
308.76
Sepulturas
309.12
309.04
Buracos poste EDP
308.62 308.93
309.15 309.85
309.53
Buracos oliveiras 308.87
309.17
Caminho
309.17
309.66
309,61 309.33 309.46
Vala de drenagem águas
308.43
308,79
M
Legenda:
308,05
Sep. 7
309.49
307.56
307,93
307.99
310.12
N
308.05
308.39
Sep. 2
308.37
307,94
L
Sep. 3
307.90
308.90
306.92
308,22
307.94
309.42
Sep. 6
309.26
308.99
309.27
309.16
309.35
Sep. 8
309.09
0
309.56 309.55
309.74
O
309,56
309.38
309.48
309.64
Sep. 9
309.10 308.89
309.55
309.55 309.26
309.29
309.76
309.50
P
308.80
308.97 308.79
309.36 309.26
309.29
309.24
309.06
Sep. 12
309,46
309.25
Sep. 10
309.55
309.61 309.31
309.41
309.33
309.46
309,50
Sep. 11
308.88
5m
309.30 309.13
309.12
309.80
1
309.46
309.60 309,42
309.16
309.05
309.03
309.84
309.13 308.78 308.67 308.54 308.53
308.93 308.69
309.38
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
Planta da necrópole junto às termas e respectiva distribuição das 12 sepulturas alvo do presente estudo (2020, DRCN-Estação Arqueológica do Freixo©, ilustração de António Freitas).
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Imagens da urna cinerária da sepultura 1 e respetivo conteúdo produzidas no laboratório e via tomografia axial computorizada (TAC): A. Antes da escavação; B. Projeção volumétrica (VRT); C. Topograma; D. Intensidade máxima de pixel (MIP); E. Reformatação multiplanar 2D (MPR) vertical; F. Reformatação multiplanar 2D (MPR) horizontal; G. Em processo de escavação (2007, fotografias de Filipa Cortesão Silva©).
A
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B
C
D
E
F
G
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A escavação das urnas cinerárias em laboratório permite um registo mais detalhado do contexto de deposição das peças ósseas no seu interior, bem como de outros materiais que estas possam conter. O facto de ser realizada por um/a antropólogo/a experiente na análise de restos ósseos cremados possibilita, além disso, que estes sejam extraídos da urna com os devidos cuidados, minimizando a fragmentação suscetível de ocorrer durante o processo de escavação. Tal procedimento auxilia na tentativa de interpretação dos gestos funerários associados à prática da cremação potenciando também as informações obtidas sobre o indivíduo. Assim, cada urna foi fotografada e, sempre que possível, examinada por tomografia computorizada para determinar a integridade do recipiente de cerâmica e avaliar a distribuição dos vestígios ósseos e de eventuais objetos o que permite planear, caso a caso, a intervenção. Posteriormente, foi realizada a escavação por remoção de finas camadas horizontais de terra, com cerca de 1 cm, e recolhido o espólio preservado, assim como vestígios de outros materiais passíveis de ser identificados tais como carvões, cascas ou sementes de frutos, peças de fauna, entre outros. Após limpeza dos vestígios osteológicos de Tongobriga, o seu estudo revelou que cada depósito ósseo, e consequentemente cada sepultura, era individual46. Os fragmentos ósseos da sepultura 4 não permitiram determinar o grupo etário do indivíduo ao passo que os restantes dez seriam adultos, quatro do sexo feminino, três do masculino e em três não foi possível estimar o sexo biológico. A ausência de não adultos na amostra estudada não implica que estes não pudessem ter sido sepultados nesta área funerária. Sabendo a priori, por fontes históricas, que a mortalidade infantil era elevada, mormente de crianças menores de cinco anos, é de crer que uma parte das sepulturas tongobricenses pudesse pertencer a tais indivíduos. Estas são suscetíveis de estar circunscritas a uma zona específica da necrópole ou encontrar-se dispersas, à semelhança do que se assinalou noutros sítios, não tendo sido identificadas porque não foi escavada nem se preservou integralmente até aos nossos dias toda a necrópole. No caso concreto de crianças menores de um ano, particularmente as falecidas antes da erupção dentária, costumavam ser alvo de um tratamento funerário distinto, podendo o seu enterramento dar-se inclusivamente fora da necrópole, sendo alvo de inumação47. No que concerne ao perfil biológico dos adultos (idade e sexo) também há que ter em conta o pequeno número de sepulturas que, certamente, não abrangeria a totalidade da necrópole. Não foram detetados adultos jovens (< 30 anos) nem idosos (> 50 anos), sendo que seis dos indivíduos da amostra teriam idades compreendidas entre os 30 e os 50 anos, com base na observação do coxal (superfície auricular e sínfise púbica), mas também pelo grau de obliteração das suturas cranianas. Noutros sítios analisados, a maioria dos adultos também integraria este intervalo etário, o que consubstancia os dados de estudos de demografia histórica onde se determinou que apesar da esperança média de vida ao nascimento se situar nos 25 a 30 anos, uma vez ultrapassados os cinco anos, se vivia em média mais 4048. Contudo, deve ser referido que os métodos para estimar a idade à morte de adultos avaliam a idade biológica do indivíduo, o que nem sempre corresponde ao número de anos de vida. Por outro lado, a dificuldade da sua aplicação aumenta consideravelmente em restos ósseos cremados. À semelhança do que se tem assinalado noutros sítios49, o número de homens e de mulheres afigura-se próximo, ressalte-se, no entanto, que para três dos indivíduos adultos não foi possível determinar o sexo biológico.
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O peso médio das peças ósseas recuperadas das 11 sepulturas situa-se nas 515,23 g (valor mínimo = 9,13 g e máximo = 1128,91 g). Já para o conjunto dos dez adultos tal cifra reside nas 565,84 g (peso mínimo aumenta para 175,10 g). Estes valores são consideravelmente superiores aos 54,25 g de média obtida para sete adultos cremados da necrópole de Monteiras (Bustelo, Penafiel)50, situada a cerca de 55 Km de Tongobriga, que em época romana estava associada a uma aldeia51 e integrava o territorium da civitas Tongobriga, ou de Ebora (Évora) com 374,77 g (n = 4)52. Os pesos obtidos em Tongobriga são, no entanto, inferiores aos assinalados em áreas funerárias urbanas coevas, das províncias Tarraconense e da Lusitânia, designadamente de Bracara Augusta (Braga) com 721,26 g (n = 5)53, de Augusta Emerita (Mérida) com 761,46 g (n = 37) ou de Salacia (Alcácer do Sal) com 782,87 g (n = 25)54. Em cremações realizadas num moderno crematório em Portugal envolvendo 88 adultos o peso médio registado foi de 1.674,1 g55. As diferenças registadas entre diferentes necrópoles, e dentro da mesma área funerária, devem ser encaradas estando cientes de que o peso ósseo assinalado numa sepultura de cremação depende de uma panóplia de variáveis que se estendem desde o perfil biológico do indivíduo como sejam a sua idade, sexo, estatura e massa corporal, passando por gestos funerários a que esteve sujeito, nomeadamente, ao tipo de recolha óssea da pira funerária e ao local de deposição dos restos ósseos (urna versus terra), até à condição de preservação do depósito e ao próprio processo de escavação56. Excetuando o depósito ósseo da sepultura 10, em que não foram identificadas peças ósseas dos membros superiores, nos restantes as regiões anatómicas estavam representadas, designadamente o crânio, o tronco e os membros superiores e inferiores, o que revela que se procuravam recolher todos os restos ósseos da pira não privilegiando uma região anatómica em particular. As percentagens médias com que estão representadas as distintas regiões correspondem a 16,3% para o crânio, 5,64% para o tronco e 28,82% para os membros superiores e inferiores sendo que 49,18% do depósito ósseo diz respeito a peças ósseas para as quais não foi possível determinar o osso ou a região anatómica. Comparando com valores de referência obtidos em crematórios atuais57 apenas o crânio se encontra dentro das cifras indicadas. Relativamente a outros sítios romanos, os depósitos ósseos dos tongobricenses voltam a revelar valores mais baixos do que, por exemplo, os de salacienses ou de emeritenses58. É de crer que tais diferenças sejam em grande medida um reflexo de condições mais ou menos propícias à preservação das distintas peças que integram o esqueleto, quer durante o enterramento quer na fase de escavação arqueológica e não tanto decorrentes de gestos funerários associados à cremação, designadamente à recolha óssea da pira. Ainda assim refira-se que, por norma, em depósitos primários de cremação intactos e alvo de escavação detalhada é mais provável que as distintas regiões se encontrem dentro dos valores de referência, contrariamente ao que sucede nos depósitos secundários. De qualquer forma ossos constituídos essencialmente por tecido esponjoso, como é o caso, por exemplo, das vértebras, são particularmente vulneráveis à destruição óssea ao contrário do que sucede com diáfises de ossos longos compostas por osso compacto. Por outro lado, o facto de se registar uma sub-representação dos membros é ilusório já que, por norma, muitos fragmentos ósseos destas regiões figuram precisamente no grupo dos indeterminados.
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Em termos de fragmentação óssea verifica-se que, em média, 71,14% das peças dos adultos apresenta tamanho superior a 10 mm, valor inferior ao registado para áreas funerárias de Salacia ou de Augusta Emerita, com respetivamente 81,3% e 91,8%59. Na amostra tongobricense o valor médio do maior fragmento é de 71,53 mm (mínimo = 41,85 mm e máximo = 109,53 mm) cifra mais elevada do que a obtida em Augusta Emerita (67,97 mm), onde predominam as sepulturas de cremação primárias, sendo próxima da de Salacia (78,28 mm), constituída essencialmente por sepulturas secundárias de cremação em urna60, tal como ocorreu em Tongobriga. A fragmentação óssea é influenciada por uma multiplicidade de fatores cujo impacto específico é difícil, senão mesmo impossível, destrinçar. O modo com que se manifesta depende das características intrínsecas do indivíduo como sejam a sua idade ou sexo, mas também do processo de combustão, onde se incluem, por exemplo, a intervenção de ustores ou o grau de combustão óssea alcançado. Acresce-lhe o manuseamento ósseo ocorrido já na fase de recolha da pira funerária para a urna cinerária, a condição de preservação do depósito ósseo e o próprio modo como a escavação é realizada, tudo fatores suscetíveis de increAlterações ósseas decorrentes da exposição térmica durante a cremação: A. Deformação pronunciada num fragmento de fémur de adulto de sexo masculino (Sep. 3/K18/EU337); B. Laminação num fragmento craniano de adulto de sexo feminino (Sep. 9/O17/UE459; C. Fraturas transversais encurvadas num fragmento de diáfise tíbia de adulto de sexo feminino (Sep. 12/P17/EU468) (2020, fotografias de Filipa Cortesão Silva©).
mentar a fragmentação. Apesar destas variáveis e limitações apurou-se que estes indivíduos foram alvo de uma cremação intensa e homogénea atestada pela cor branca dos seus vestígios ósseos, o que ocorre geralmente a temperaturas superiores a 645ºC61 assim como pelo teor da deformação e das fraturas térmicas manifestadas, tais como a laminação e as transversais encurvadas, patentes em todos eles62. Sublinhe-se que, tanto a deformação como as fraturas térmicas indicadas são também apanágio de indivíduos cremados na fase de cadáver. Estes dados estão em consonância com os relatos patentes em fontes históricas, onde um corpo parcialmente queimado era considerado um ultraje para com o falecido sendo a cremação efetuada, regra geral, no espaço de um a dois dias após o óbito63. Evidências de tais práticas têm sido, de igual modo, notadas em distintas áreas funerárias romanas através de análises antropológicas64. Ainda assim, alguns destes estudos mostram que nem sempre as cremações eram totais, isto é, se alcançava o grau máximo de combustão óssea, como sucedeu por exemplo, em áreas funerárias da Lusitânia65, mas também de outros pontos do Império66.
A
B
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C
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A ação do fogo dificulta a tarefa de reconstruir a saúde/doença destes indivíduos. No entanto, em quatro sepulturas figuram peças ósseas com lesões de natureza diversa. Por exemplo, num indivíduo feminino foi identificada perda de dente ante mortem, cuja extração pode ter ocorrido fruto, quiçá, de cárie. Num indivíduo masculino, o único que preservou o teto da órbita, foi observada cribra orbitalia, uma lesão inespecífica, encarada como um indicador de stresse resultante de deficiência crónica de ferro67 ou de diversos nutrientes em simultâneo68 ou advir de processos inflamatórios, entre outras causas69.
Fragmento de maxilar superior de adulto do sexo feminino (Sep. 2/K18/UE337) com perda ante mortem do primeiro molar esquerdo (2020, fotografia de Filipa Cortesão Silva©).
Fragmento craniano de adulto do sexo masculino (Sep. 3/K18/UE356) com cribra orbitalia (2020, fotografia de Filipa Cortesão Silva©).
As urnas, para além dos remanescentes ósseos, preservaram também peças do vestuário ou do calçado, e objetos votivos donde se destacam as fíbulas em bronze, as tachas que pregavam a sola dos sapatos, uma sonda em prata, caixas cilíndricas em osso e os unguentários em vidro. Foram ainda detetados elementos em ferro suscetíveis de integrar uma eventual padiola ou outro objeto colocado na pira aquando da cremação, não sendo de descartar a possibilidade destes terem sido colocados nas urnas cinerárias com o intuito de servirem como amuletos apotropaicos visando proteger o morto do mal no além e/ou prevenir o regresso para incomodar ou fazer mal aos vivos70. Alguns ossos apresentam manchas de cor verde ou vermelha resultado do contacto ou da proximidade, respetivamente, com cobre e ferro, na maioria dos casos tal fenómeno deve-se a peças destes metais identificadas da urna.
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Mobiliário funerário associado às sepulturas e às urnas cinerárias e perfil biológico do indivíduo.
Sepultura
Espólio na sepultura
Interior da urna
Intervalo etário Sexo
Sep.1/IJ18/UE308
2 potes pequenos em
1 Dbula em bronze; 2 caixas
Adulto maduro
Mas.
Adulto
Fem.
cerâmica (1 com < 10 g de cilíndricas em osso (queimadas); 2 restos ósseos e carvão)
fragmentos cilíndricos em ferro; 3 tachas
Sep.2/K18/UE337
5 potes pequenos em
1 sonda auricular em prata; 1 Dbula
cerâmica (1 com < 10 g de em bronze; 1 unguentário em vidro;
Sep.3/K18/UE/356
indeterminado
restos ósseos e carvão)
3 fragmentos cilíndricos em ferro
6 potes (4 com < 10,63 gr
2 fragmentos cilíndricos em ferro
Adulto
de restos ósseos; carvão;
(mesma peça); 2 tachas
indeterminado
Mas.
2 tb com tachas) Sep.4/L18/UE374
1 espiral de fuso
Não foi detetado
Indeterminado
Ind.
Sep.5/K19/UE375
1 taça em terra sigillata
Não apresentava urna
Adulto maduro
Mas.
Não apresentava urna
Adulto
Fem.
fragmentada; fragmentos em vidro Sep.6/N17/UE392
2 taças em terra sigillata (1 com < 10 g de restos
indeterminado
ósseos); 1 fragmento em bronze; tachas? Sep.7/L16/UE410
3 potes pequenos em
Não apresentava urna
cerâmica; pega e prego
Sem restos ósseos; Cenotaphium?
em ferro Sep.8/N16/UE458
Sem dados
1 Dbula em bronze; 2 fragmentos
Adulto maduro
Ind.
Adulto
Fem.
cilíndrico em bronze (mesma peça); 4 tachas Sep.9/O17/UE459
Sem dados
1 fragmento de vidro fundido
indeterminado Sep.10/O23, P23/
Sem dados
Inexistente
Adulto maduro
Ind.
3 pregos; vários
1 fragmento de vido fundido; 1
Adulto maduro
Ind.
fragmentos metálicos; 1
unguentário fragmentado Adulto maduro
Fem.
UE447 Sep.11/P17/UE467
tacha? Sep.12/P17/UE468
Sem dados
Vários fragmentos de vidro fundido; 1 unguentário fragmentado; 1 tacha
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A Manchas produzidas pelo contacto com distintos metais. A. Verde num fragmento de frontal de adulto de sexo feminino (Sep. 2/K18/UE337); B. Vermelho num fragmento de fémur de adulto de sexo masculino (Sep. 1/IJ18/ UE308) (2020, fotografia de Filipa Cortesão Silva©).
B A presença de fragmentos de vidro fundido em três sepulturas sugere que foram atingidas temperaturas na ordem dos 1.050 ºC71, assim como o facto das caixas cilíndricas estarem calcinadas, atesta a prática, comum em época romana, de colocar objetos na pira funerária para serem queimados juntamente com o falecido. Por último, outro aspeto interessante a referir prende-se com a presença de carvões, provavelmente resultantes da combustão da madeira usada na cremação, misturados com os restos ósseos, ainda que a sua reduzida quantidade sugira não ser uma ação propositada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo laboratorial das onze sepulturas de cremação, provenientes da área funerária localizada junto às termas da cidade romana de Tongobriga, veicula novas informações acerca de práticas funerárias realizadas no século I d.C. e dos dez indivíduos adultos (quatro mulheres, três homens e três de sexo indeterminado) cujos vestígios chegaram até aos nossos dias. Constata-se que os cadáveres terão sido alvo de cremação noutro local que não a sepultura. Posteriormente, os vestígios ósseos, de todas as partes do corpo, foram recolhidos da pira e colocados, salvo raras exceções, em urnas cinerárias, dispostas em sepulturas individuais juntamente com taças, potes, entre outras peças, que, segundo a cultura romana, deveriam acompanhar o falecido no Além.
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As cremações terão sido completas com temperaturas superiores a 645ºC determinadas pela cor branca dos ossos, pela deformação e pelo teor das fraturas térmicas manifestadas bem como pela existência de vidro fundido no interior das urnas. Sete urnas preservaram, para além dos vestígios ósseos, objetos do cotidiano e votivos, como sejam uma sonda auricular em prata, fíbulas em bronze, unguentários e tachas de calçado, sendo que os achados respeitantes à sepultura 2 integram a Exposição Permanente do sítio de Tongobriga figurando no respetivo catálogo coordenado por António Manuel Lima72. Comparativamente a outras áreas funerárias romanas em território ibérico verifica-se que a fragmentação é, regra geral, maior, em grande medida devido à fraca condição de preservação do depósito ósseo e/ou da urna de cerâmica e da combustão óssea ter sido total. As diminutivas dimensões das peças ósseas aliadas à sua deformação e ao facto de não estar representado todo o esqueleto dificultam sobremaneira a análise paleopatológica que, todavia, revelou lesões em quatro indivíduos que serão alvo de futura publicação.
Apesar da pressão humana sofrida pelo subsolo ao longo dos últimos vinte séculos, a eventual descoberta de outras áreas funerárias de Tongobriga, com vestígios de cremação e de inumação, poderá ampliar o conhecimento acerca dos habitantes e das suas práticas funerárias.
AGRADECIMENTOS Ao Dr. António Manuel Lima pelas diligências efetuadas para esclarecer dúvidas relacionadas com o sítio, com a área funerária e com as distintas campanhas de escavação. À Dra. Ana Mascarenhas, atual diretora da Estação Arqueológica do Freixo, a disponibilização para estudo de depósitos das intervenções de 2007 e de 2008 em acervo nesta Instituição e a António Freitas pela elaboração da planta da área funerária. Aos Professores Rolf Winkes e Katerina Thomas pela cedência de documentação sobre as sepulturas 1 a 7 escavadas nas campanhas de 2006 e 2007. Ao Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) e a Rosa Gaspar pela análise imagiológica. Agradecemos ainda à Direção Regional de Cultura do Norte e ao Doutor Luís Sebastian. pelo convite para participarmos nesta obra.
TO N G O B RI GA : CO L E TÂ NE A DE E STUDOS COM E M OR ATIVOS DE 4 0 A NOS DE INV E STIGAÇÃO
113
(disponível em https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/87497)
NOTAS 1
Páginas 15-18 de PRIEUR, Jean. - La mort dans l’Antiquité romaine. Rennes:
Ouest France, 1986. Páginas 196-197 de VAQUERIZO GIL, Desiderio. - Espacios, hábitos y usos funerarios en la Hispania romana: reflexiones y últimas novedades. In ANDREU, J.; Páginas 97-98 de HOPE, Valerie - Death in Ancient Rome. A sourcebook.
ESPINOSA, D.; PASTOR, S. (eds.) - Mors omnibus instat: aspectos arqueológicos,
9
epigráficos y rituales de la muerte en el Occidente Romano. Colección Estudios.
London: Routledge, 2007.
Madrid: Ediciones Liceus, 2011. pp. 191-230.
10 Página 23 de MÁRQUEZ PÉREZ, Juana - Los Columbarios: arquitectura y
2
paisaje funerario en Augusta Emerita. Serie Ataecina, 2. Mérida: Asamblea de Ex-
O valor apresentado baseia-se numa estimativa de Taagepera, designadamen-
te, de 4,4 Mm2. Página 117 de TAAGEPERA, Rein. - Size and duration of Empires:
tremadura, 2006.
systematics of size. Social Science Research. 7 (1978) 108-127.
11 Página 155 de LINDSAY, Hugh - Death-pollution and funerals in the city of
3 Páginas 366-367 de NOY, David - Romans. In DAVIES, D. J.; MATES, L. H.
Rome. In HOPE, V.; MARSHALL, E. (eds.) - Death and disease in the Ancient city.
(eds) - Encyclopedia of Cremation. Hants: Ashgate, 2005. pp. 366-368.
London: Routledge, 2000. pp. 152-173.
Páginas 39-40 de TOYNBEE, Jocelyn. M. C. - Death and burial in the roman
Tal crença impunha que fossem realizados diversos atos purificatórios tanto por
world. London: Thames and Hudson, 1971.
parte de todos aqueles que estivessem em contacto com o defunto, como na
4
Páginas 31-69 de MORRIS, Ian - Death-ritual and social structure in Classical
casa do falecido e junto à sepultura (página 41 de SILVA, Filipa Cortesão - Mundo
Antiquity. 2nd Edition. Cambridge: Cambridge University Press, 1994.
funerário romano sob o prisma da cremação: análise antropológica de amostras
Páginas 125-131 de PEARCE, John - Infants, cemeteries and communities in the
alto-imperiais da Lusitania. [em linha]. Coimbra, Universidade de Coimbra, 2018.
Roman provinces. In DAVIES, G.; GARDNER, A.; LOCKYEAR, K. (eds.) TRAC 2000:
Tese de Doutoramento em Antropologia, especialidade Antropologia Biológica (po-
proceedings of the tenth annual theoretical Roman archaeology conference.
licopiado). Universidade de Coimbra. [Consult. 2 jun 2020].
Oxford: Oxbow Books, 2001. pp. 125-142.
(disponível em https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/87497)
Páginas 46-51 de SILVA, Filipa Cortesão - Mundo funerário romano sob o prisma da cremação: análise antropológica de amostras alto-imperiais da Lusitania. [em linha]. Coimbra, Universidade de Coimbra, 2018. Tese de Doutoramento em Antropologia, especialidade Antropologia Biológica (policopiado). Universidade de Coimbra. [Consult. 2 jun 2020].
12 Página 24 de MÁRQUEZ PÉREZ, Juana - Los Columbarios: arquitectura y
(disponível em https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/87497)
paisaje funerario en Augusta Emerita. Serie Ataecina, 2. Mérida: Asamblea de Extremadura, 2006. Hope refere que para os pobres se utilizava um misto de maca/caixão, denominado sandápila (página 101 de HOPE, Valerie - Death in Ancient Rome. A sourcebook. London: Routledge, 2007.
Página 43 de TOYNBEE, Jocelyn. M. C. - Death and burial in the roman
5
13 Consultem-se, por exemplo:
world. London: Thames and Hudson, 1971.
MÁRQUEZ PÉREZ, Juana - Las áreas funerarias de Augusta Emerita entre los siglos
6
I y III d. C. In MANGAS, J.; ÁNGEL NOVILLO, M. (eds.) - El territorio de las ciuda-
Páginas 178-180 de RAMOS SÁINZ, María Luisa - Las prácticas funerarias en
la Hispania Romana. Síntesis de su ritual. In IGLESIAS GIL, J. (ed.) - Cursos sobre el
des romanas. Madrid: Ediciones Sísifo, 2008. pp. 443-476.
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PEARCE, John; MILLETT, Martin; STRUCK, Manuela (eds.) - Burial, Society and
nio Historico (Reinosa, Julio-Agosto 2002). Santander: Servicio de Publicaciones
context in the Roman world. Oxford: Oxbow Books, 2000.
de la Universidad de Cantabria, 2003. pp. 1755-205.
VAQUERIZO GIL, Desiderio (ed.) - Espacios y usos funerarios en el Occidente
7
Página 181 de RAMOS SÁINZ, María Luisa - Las prácticas funerarias en la
Romano. Actas del Congreso Internacional celebrado en la Facultad de Filosofía
Hispania Romana. Síntesis de su ritual. In IGLESIAS GIL, J. (ed.) - Cursos sobre el
y Letras de la Universidad de Córdoba (5-9 de junio, 2001). Córdoba: Universidad
Patrimonio Histórico 7. Actas de los XIII Cursos Monográficos sobre el Patrimo-
de Córdoba, 2002.
nio Historico (Reinosa, Julio-Agosto 2002). Santander: Servicio de Publicaciones
14 Página 115 de HOPE, Valerie - Roman death. The dying and the dead in
de la Universidad de Cantabria, 2003. pp. 175-205.
Ancient Rome. London: Continuum, 2009.
8
Páginas 43 e 114 de SILVA, Filipa Cortesão - Mundo funerário romano sob o
prisma da cremação: análise antropológica de amostras alto-imperiais da Lusita-
15 Página 187 de NOY, David - “Half-burnt on a emergency pyre”: roman cremations which went wrong. Greece & Rome. 47: 2 (2000) 186-196.
nia. [em linha]. Coimbra, Universidade de Coimbra, 2018. Tese de Doutoramento
Página 367 de NOY, David - Romans. In DAVIES, D. J.; MATES, L. H. (Eds) - Ency-
em Antropologia, especialidade Antropologia Biológica (policopiado). Universidade
clopedia of Cremation. Hants: Ashgate, 2005. pp. 366-368.
de Coimbra. [Consult. 2 jun 2020].
114
TO N GO BR I GA : CO L ETÂ N EA D E ES T UD O S CO M EM OR ATIVOS DE 4 0 A NOS DE INV E STIGAÇÃO
16 Páginas 26-27, 66-67, 107 e 120-121 de SILVA, Filipa Cortesão - Mundo
21 Páginas 167-192 de SEVILLA CONDE, Alberto - Funus Hispaniense. Espacios,
funerário romano sob o prisma da cremação: análise antropológica de amostras
usos y costumbres funerarias en la Hispania Romana. BAR International Series,
alto-imperiais da Lusitania. [em linha]. Coimbra, Universidade de Coimbra, 2018.
2610. Oxford: Archaeopress, 2014.
Tese de Doutoramento em Antropologia, especialidade Antropologia Biológica (po-
Páginas 28, 58 e 69 de VAQUERIZO GIL, Desiderio - Necrópolis urbanas en Bae-
licopiado). Universidade de Coimbra. [Consult. 2 jun 2020].
tica. Tarragona: ICAC (Instituto Catalán de Arqueología Clásica) y Secretariado de
(disponível em https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/87497)
Publicaciones de la Universidad de Sevilla, Serie Documenta, 15, 2010. 22 Edifícios funerários cujas paredes possuem nichos para colocação das urnas cinerárias. Destinavam-se aos membros de collegia (associações de índole religiosa, profissional, social, entre outras) ou de famílias e respetivos trabalhadores (Páginas 1 e 6 de BORBONUS, Dorian - Columbarium Tombs and Collective Identity in
17 Páginas 139-141 de BEL, Valérie [et al.] - L’étape de la crémation: les bûchers
Augustan Rome. Cambridge: Cambridge University Press, 2014).
funéraires. In BLAIZOT, F. (dir.) - Pratiques et espaces funéraires de la Gaule du-
23 Páginas 66-69 e 106-109 de SILVA, Filipa Cortesão - Mundo funerário roma-
rant l’Antiquité. Gallia, 66.1. Chap. II. Paris: CNRS Éditions, 2009. pp. 89-150.
no sob o prisma da cremação: análise antropológica de amostras alto-imperiais
Páginas 41-42 de NOY, David - Bulding a roman funeral pyre. Antichthon. 34
da Lusitania. [em linha]. Coimbra, Universidade de Coimbra, 2018. Tese de Dou-
(2000) 30-45.
toramento em Antropologia, especialidade Antropologia Biológica (policopiado).
Páginas 915-916 de VAN ANDRINGA, William - Rites et pratiques funéraires:
Universidade de Coimbra. [Consult. 2 jun 2020].
mourir à Pompéi. In VAN ANDRINGA, W.; DUDAY, H.; LEPETZ, S. (dir.) - Mourir à
(disponível em https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/87497)
Pompei - Fouille d’un quartier funéraire de la nécropole romaine de Porta Nocera (2003-2007). Collection de l’École Française de Rome, 468. Vol. 1. Rome: École Française de Rome, 2013. pp. 909-939. 18 Página 187 de NOY, David - “Half-burnt on a emergency pyre”: roman cremations which went wrong. Greece & Rome. 47: 2 (2000) 186-196.
Páginas 51-178 de VAQUERIZO GIL, Desiderio - Necrópolis urbanas en Baetica.
19 Páginas 111-113 de MÁRQUEZ PÉREZ, Juana - Los Columbarios: arquitec-
Tarragona: ICAC (Instituto Catalán de Arqueología Clásica) y Secretariado de Publi-
tura y paisaje funerario en Augusta Emerita. Serie Ataecina, 2. Mérida: Asamblea
caciones de la Universidad de Sevilla, Serie Documenta, 15, 2010.
de Extremadura, 2006.
24 A moeda, óbolo, colocada na mão, boca ou olhos do defunto, servia para pagar
Para mais exemplos emeritenses consulte-se a página 108 de SILVA, Filipa Cortesão
ao barqueiro Caronte a passagem do rio Styx para o Outro Mundo, o Hades (pági-
- Mundo funerário romano sob o prisma da cremação: análise antropológica
nas 104-105 de HOPE, Valerie - Roman death. The dying and the dead in Ancient
de amostras alto-imperiais da Lusitania. [em linha]. Coimbra, Universidade
Rome. London: Continuum, 2009).
de Coimbra, 2018. Tese de Doutoramento em Antropologia, especialidade
25 Consultem-se, por exemplo:
Antropologia Biológica (policopiado). Universidade de Coimbra. [Consult. 2 jun
BRAGA, Cristina Maria Vilas Boas - Morte, memória e identidade. Uma análise
2020].
das práticas funerárias de Bracara Augusta. [em linha]. Braga: Universidade do
(disponível em https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/87497)
Minho, 2018. Tese de Doutoramento em Arqueologia, especialidade Arqueologia da Paisagem e do Povoamento (policopiado). [Consult. 20 abr. 2020]. (disponível em http://hdl.handle.net/1822/59044)
20 Páginas 135, 140 e 142 de RODRÍGUEZ TEMIÑO, Ignacio [et al.] - Avance de las nuevas investigaciones en la necrópolis romana de Carmona. SPAL. 21 (2012) 127-151.
SOEIRO, Teresa - Necrópole romana de Bustelo (Penafiel). Cadernos do Museu.
Ilustrações de outros pontos do Império encontram-se nas páginas 55-56 de SIL-
Penafiel. 12/13 (2009-2010) 5-221.
VA, Filipa Cortesão - Mundo funerário romano sob o prisma da cremação: análise
VAQUERIZO GIL, Desiderio - Necrópolis urbanas en Baetica. Tarragona: ICAC
antropológica de amostras alto-imperiais da Lusitania. [em linha]. Coimbra, Uni-
(Instituto Catalán de Arqueología Clásica) y Secretariado de Publicaciones de la
versidade de Coimbra, 2018. Tese de Doutoramento em Antropologia, especiali-
Universidad de Sevilla, Serie Documenta, 15, 2010.
dade Antropologia Biológica (policopiado). Universidade de Coimbra. [Consult. 2 jun 2020]. (disponível em https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/87497)
TO N G O B RI GA : CO L E TÂ NE A DE E STUDOS COM E M OR ATIVOS DE 4 0 A NOS DE INV E STIGAÇÃO
115
26 Página 30 de MÁRQUEZ PÉREZ, Juana - Los Columbarios: arquitectura y
33 Página 68 de LIMA, António Manuel; MENCHÓN I BES, Joan (dir.) – Ton-
paisaje funerario en Augusta Emerita. Serie Ataecina, 2. Mérida: Asamblea de Ex-
gobriga. O Espírito do Lugar. Guia Arqueológico Visual. Porto: Direção Regional
tremadura, 2006.
de Cultura do Norte (DRCN)/ Câmara Municipal do Marco de Canaveses, 2018.
Página 53 de TOYNBEE, Jocelyn M. C. - Death and burial in the roman world.
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
London: Thames and Hudson, 1971. Página 123 de SILVA, Filipa Cortesão - Mundo funerário romano sob o prisma da cremação: análise antropológica de amostras alto-imperiais da Lusitania. [em linha]. Coimbra, Universidade de Coimbra, 2018. Tese de Doutoramento em Antropologia, especialidade Antropologia Biológica (policopiado). Universidade de
34 Os trabalhos destes autores integram uma compilação documental sobre a
Coimbra. [Consult. 2 jun 2020].
área arqueológica do Freixo editada por Rosa Soares e Lino Tavares Dias em 1985.
(disponível em https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/87497)
35 Página 68 de LIMA, António Manuel; MENCHÓN I BES, Joan (dir.) – Tongobriga. O Espírito do Lugar. Guia Arqueológico Visual. Porto: Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN)/ Câmara Municipal do Marco de Canaveses, 2018. (disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
27 Página 53 de TOYNBEE, Jocelyn M. C. - Death and burial in the roman world. London: Thames and Hudson, 1971. 28 Páginas 238-244 de HOPE, Valerie - Death in Ancient Rome. A sourcebook. London: Routledge, 2007.
36 Estampa X de DIAS, Lino Tavares – Necrópoles no territorium de Tongobriga.
29 Páginas 126-127 de DIAS, Lino Tavares - Ano zero, Ano 100 no Territorium de
Conimbriga. Coimbra. 32-33 (1993-1994) 107-136.
Tongobriga. In Construir, Navegar, (Re)usar o Douro da Antiguidade. Porto: Facul-
Em publicações recentes esta necrópole é datada no século IV d.C. (ROCHA, Char-
dade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) - CITCEM, 2018. pp. 125-144.
les; DIAS, Lino Tavares; ALARCÃO, Pedro - Tongobriga. Reflexões sobre o seu
Páginas 341 e 345 de LIMA, António Manuel (coord.) - Mudar de vida. Tongobriga:
desenho urbano. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) -
exposição permanente. Porto: Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN), 2016
CITCEM/Edições Afrontamento, 2015).
[Catálogo].
37 Atendendo à cronologia de fabrico das peças encontradas nas sepulturas to-
30 Página 345 de LIMA, António Manuel (coord.) - Mudar de vida. Tongobriga:
das elas são datáveis do século I d.C. (António Manuel Lima, comunicação pessoal).
exposição permanente. Porto: Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN), 2016
38 Página 126 de DIAS, Lino Tavares - Ano zero, Ano 100 no Territorium de Ton-
[Catálogo].
gobriga. In Construir, Navegar, (Re)usar o Douro da Antiguidade. Porto: Faculdade
31 Consultem-se:
de Letras da Universidade do Porto (FLUP) - CITCEM, 2018. pp. 125-144.
DIAS, Lino Tavares - Tongobriga. Lisboa: Instituto Português do Património Arqui-
LIMA, António Manuel - Intervenção Luso-Americana em Tongobriga. 3ª campanha
tectónico (IPPAR), 1997.
de escavações (Junho/Julho de 2006). O Colherim. 4 (2007) 11.
DIAS, Lino Tavares - Ano zero, Ano 100 no Territorium de Tongobriga. In Construir,
LIMA, António Manuel; MENCHÓN I BES, Joan (dir.) - Tongobriga. O Espírito do
Navegar, (Re)usar o Douro da Antiguidade. Porto: Faculdade de Letras da Univer-
Lugar. Guia Arqueológico Visual. Porto: Direção Regional de Cultura do Norte
sidade do Porto (FLUP) - CITCEM, 2018. pp. 125-144.
(DRCN)/ Câmara Municipal do Marco de Canaveses, 2018.
32 DIAS, Lino Tavares - Ano zero, Ano 100 no Territorium de Tongobriga. In Cons-
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
truir, Navegar, (Re)usar o Douro da Antiguidade. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) - CITCEM, 2018. pp. 125-144. LIMA, António Manuel; MENCHÓN I BES, Joan (dir.) – Tongobriga. O Espírito do Lugar. Guia Arqueológico Visual. Porto: Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN)/ Câmara Municipal do Marco de Canaveses, 2018.
39 LIMA, António Manuel - Intervenção Luso-Americana em Tongobriga. 3ª cam-
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
panha de escavações (Junho/Julho de 2006). O Colherim. 4 (2007) 11. 40 Dados amavelmente facultados por António Manuel Lima. 41 As informações de campo disponíveis sobre as sepulturas 1 a 7 foram gentilmente cedidas pela Professora Katerina Thomas da equipa da Universidade de Brown.
ROCHA, Charles; DIAS, Lino Tavares; ALARCÃO, Pedro - Tongobriga. Reflexões
42 Página 1396 de CUQ, Edouard - Funus. In DAREMBERG, C.; SAGLIO, E. ;
sobre o seu desenho urbano. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto
POTTIER, E. - (Dir.) Dictionnaire des Antiquités grecques et romaines. D’Après
(FLUP) - CITCEM/Edições Afrontamento, 2015.
les textes et les monuments. Paris, Librairie Hachette, 1892. pp. 1367-1409. 43 Página 54 de TOYNBEE, Jocelyn M. C. - Death and burial in the roman world. London: Thames and Hudson, 1971.
116
TO N GO BR I GA : CO L ETÂ N EA D E ES T UD O S CO M EM OR ATIVOS DE 4 0 A NOS DE INV E STIGAÇÃO
44 Página 54 de TOYNBEE, Jocelyn M. C. - Death and burial in the roman world. London: Thames and Hudson, 1971. 45 Página 21 de SILVA, Filipa Cortesão - Mundo funerário romano sob o prisma da cremação: análise antropológica de amostras alto-imperiais da Lusitania. [em linha]. Coimbra, Universidade de Coimbra, 2018. Tese de Doutoramento em
50 SILVA, Filipa Cortesão; SANTOS, Ana Luísa - Análise antropológica: restos ós-
Antropologia, especialidade Antropologia Biológica (policopiado). Universidade de
seos cremados da necrópole romana de Monteiras (Bustelo-Penafiel). Cadernos do
Coimbra. [Consult. 2 jun 2020].
Museu. Penafiel. 12/13 (2009-2010) 223-245.
(disponível em https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/87497)
51 Página 64 de SOEIRO, Teresa - Necrópole romana de Bustelo (Penafiel). Cadernos do Museu. Penafiel. 12/13 (2009-2010) 5-221. 52 Página 197 de FERNANDES, Teresa Matos [et al.] - Área funerária romana em Évora: dos restos ósseos aos rituais funerários. Antropologia Portuguesa. 29 (2012) 183-201.
46 Refira-se que alguns potes das sepulturas 1 a 3 apresentavam esquírolas ós-
53 Página 34 de MARADO, Teresa Matos; BRAGA, Cristina - Roman cremations
seas que não excediam as 11 g e fragmentos de carvão, conforme se assinala na
of Via XVII, Bracara Augusta (preliminar analysis). Part I: Paleoanthropology and Ar-
Tabela apresentada.
chaeothanatology. Cadernos do GEEvH [em linha] 7: 1 (2018): 28-48, [Consult. 3
47 Consultem-se:
jun 2020].
BLAIZOT, Frédérique; ALIX, Gersende; FERBER, Emmanuel - Le traitement funé-
(disponível em https://geevh.jimdofree.com/cadernos-do-geevh/arquivo-archi-
raire des enfants décédés avant un an dans l’Antiquité: études de cas. Bulletins
ve/vol-7-1/)
et Mémoires de la Société d’Anthropologie de Paris. Paris. 15: 1-2 (2003) 49-77. PEARCE, John - Infants, cemeteries and communities in the Roman provinces. In DAVIES, G.; GARDNER, A.; LOCKYEAR, K. (eds.) TRAC 2000: proceedings of the tenth annual theoretical Roman archaeology conference. Oxford: Oxbow Books, 2001. pp. 125-142.
54 Página 133 de SILVA, Filipa Cortesão - The funerary practice of cremation at
48 Página 10 de HOPE, Valerie - Death in Ancient Rome. A sourcebook. London:
Augusta Emerita (Mérida, Spain) during High Empire: contributions from the anthro-
Routledge, 2007.
pological analysis of burned human bone. In THOMPSON, T. (ed.) - The Archae-
Página 43 de HOPE, Valerie - Roman death. The dying and the dead in Ancient
ology of cremation: burned human remains in funerary studies. Series Studies in
Rome. London: Continuum, 2009.
Funerary Archaeology, 8. Oxford: Oxbow, 2015. pp. 123-150.
Para mais detalhes consulte-se SILVA, Filipa Cortesão - Mundo funerário romano
Páginas 161 e 205 de SILVA, Filipa Cortesão - Mundo funerário romano sob o
sob o prisma da cremação: análise antropológica de amostras alto-imperiais da
prisma da cremação: análise antropológica de amostras alto-imperiais da Lusita-
Lusitania. [em linha]. Coimbra, Universidade de Coimbra, 2018. Tese de Doutora-
nia. [em linha]. Coimbra, Universidade de Coimbra, 2018. Tese de Doutoramento
mento em Antropologia, especialidade Antropologia Biológica (policopiado). Uni-
em Antropologia, especialidade Antropologia Biológica (policopiado). Universidade
versidade de Coimbra. [Consult. 2 jun 2020].
de Coimbra. [Consult. 2 jun 2020].
(disponível em https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/87497)
(disponível em https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/87497)
49 Consultem-se:
55 Página 102 de GONÇALVES, David - Cremains: The value of quantitative
SILVA, Filipa Cortesão - The funerary practice of cremation at Augusta Emerita
analysis for the bioanthropological research of burned human skeletal remains.
(Mérida, Spain) during High Empire: contributions from the anthropological anal-
Coimbra: University of Coimbra, 2012 [Consult. 18 Jun 2020].
ysis of burned human bone. In THOMPSON, T. (ed.) - The Archaeology of cre-
(disponível em http://hdl.handle.net/10316/18213)
mation: burned human remains in funerary studies. Series Studies in Funerary Archaeology, 8. Oxford: Oxbow, 2015. pp. 123-150. SILVA, Filipa Cortesão - Mundo funerário romano sob o prisma da cremação: análise antropológica de amostras alto-imperiais da Lusitania. [em linha]. Coimbra, Universidade de Coimbra, 2018. Tese de Doutoramento em Antropologia, especialidade Antropologia Biológica (policopiado). Universidade de Coimbra. [Consult. 2 jun 2020]. (disponível em https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/87497)
TO N G O B RI GA : CO L E TÂ NE A DE E STUDOS COM E M OR ATIVOS DE 4 0 A NOS DE INV E STIGAÇÃO
117
56 Consulte-se SILVA, Filipa Cortesão - Mundo funerário romano sob o pris-
60 Página 215 de SILVA, Filipa Cortesão - Mundo funerário romano sob o pris-
ma da cremação: análise antropológica de amostras alto-imperiais da Lusitania.
ma da cremação: análise antropológica de amostras alto-imperiais da Lusitania.
[em linha]. Coimbra, Universidade de Coimbra, 2018. Tese de Doutoramento em
[em linha]. Coimbra, Universidade de Coimbra, 2018. Tese de Doutoramento em
Antropologia, especialidade Antropologia Biológica (policopiado). Universidade de
Antropologia, especialidade Antropologia Biológica (policopiado). Universidade de
Coimbra. [Consult. 2 jun 2020].
Coimbra. [Consult. 2 jun 2020].
(disponível em https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/87497)
(disponível em https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/87497)
57 Páginas 382-397 de DEPIERRE, Germaine - Crémation et archéologie. Nou-
61 Temperatura estimada por Shipman com base em experiências laboratoriais
velles alternatives méthodologiques en ostéologie humaines. Dijon: Éditions
(SHIPMAN, Pat; FOSTER, Giraud; SCHOENINGER, Margaret - Burnt bones and
Universitaires de Dijon, 2014.
teeth: an experimental study of color, morphology, crystal structure and shrinkage.
Páginas 305-308 de SILVA, Filipa Cortesão - Mundo funerário romano sob o pris-
Journal of Archaeological Science. 11 (1984) 307–325). Para mais detalhes sobre
ma da cremação: análise antropológica de amostras alto-imperiais da Lusitania.
esta temática consulte-se a página 47 de DEPIERRE, Germaine - Crémation et
[em linha]. Coimbra, Universidade de Coimbra, 2018. Tese de Doutoramento em
archéologie. Nouvelles alternatives méthodologiques en ostéologie humaines.
Antropologia, especialidade Antropologia Biológica (policopiado). Universidade de
Dijon: Éditions Universitaires de Dijon, 2014.
Coimbra. [Consult. 2 jun 2020].
62 Outras cores observadas dizem respeito a tons de cinza, cujo grau de com-
(disponível em https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/87497)
bustão associado antecede a calcinação registada. Para mais detalhes consulte-se as páginas 42-43 de SILVA, Filipa Cortesão - Abordagem ao ritual da cremação através da análise dos restos ósseos. Al-Madan. 15 (2007) 40-48. 63 Página 191-193 de NOY, David - “Half-burnt on a emergency pyre”: roman cremations which went wrong. Greece & Rome. 47: 2 (2000) 186-196.
58 Páginas 174-176 e 219-220 de SILVA, Filipa Cortesão - Mundo funerário
64 SILVA, Filipa Cortesão - The funerary practice of cremation at Augusta Emerita
romano sob o prisma da cremação: análise antropológica de amostras alto-im-
(Mérida, Spain) during High Empire: contributions from the anthropological anal-
periais da Lusitania. [em linha]. Coimbra, Universidade de Coimbra, 2018. Tese de
ysis of burned human bone. In THOMPSON, T. (ed.) - The Archaeology of cre-
Doutoramento em Antropologia, especialidade Antropologia Biológica (policopia-
mation: burned human remains in funerary studies. Series Studies in Funerary
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SILVA, Filipa Cortesão - Mundo funerário romano sob o prisma da cremação: análise antropológica de amostras alto-imperiais da Lusitania. [em linha]. Coimbra, Universidade de Coimbra, 2018. Tese de Doutoramento em Antropologia, especialidade Antropologia Biológica (policopiado). Universidade de Coimbra. [Consult. 2 jun 2020].
59 Páginas 171 e 215 de SILVA, Filipa Cortesão - Mundo funerário romano sob
(disponível em https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/87497)
o prisma da cremação: análise antropológica de amostras alto-imperiais da Lusitania. [em linha]. Coimbra, Universidade de Coimbra, 2018. Tese de Doutoramento em Antropologia, especialidade Antropologia Biológica (policopiado). Universidade de Coimbra. [Consult. 2 jun 2020]. (disponível em https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/87497)
SILVA, Filipa Cortesão - Crematio na Lusitania: o contributo dos estudos bioantropológicos. In RUIZ OSUNA, A. (coord.) - Morir en Hispania. Topografia, rituales y prácticas mágicas en ámbito funerario. Sevilla, Editorial Universidad de Sevilla, no prelo.
118
TO N GO BR I GA : CO L ETÂ N EA D E ES T UD O S CO M EM OR ATIVOS DE 4 0 A NOS DE INV E STIGAÇÃO
65 Páginas 308-315 de SILVA, Filipa Cortesão - Mundo funerário romano sob o prisma da cremação: análise antropológica de amostras alto-imperiais da Lusitania. [em linha]. Coimbra, Universidade de Coimbra, 2018. Tese de Doutoramento em Antropologia, especialidade Antropologia Biológica (policopiado). Universidade de Coimbra. [Consult. 2 jun 2020]. (disponível em https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/87497)
66 Consultem-se: McKINLEY, Jacqueline - In the heat of the pyre. In SCHMIDT, C. W.; SYMES, S. A. (eds.) - The analysis of burned human remains. 2nd Edition. Amsterdam: Academic Press, 2015. pp. 181-202. THOMPSON, Tim J. U. [et al.] - Death on the frontier: military cremation practices in the north of Roman Britain. Journal of Archaeological Science: Reports.10 (2016) 828-836. 67 Páginas 370-372 de ORTNER, Donald J. - Identification of pathological conditions in human skeletal remains. 2nd Edition. New York: Academic Press, 2003. 68 McILVAINE, Britney Kyle - Implications of reappraising the iron-deficiency anemia hypothesis. International Journal of Osteoarchaeology. 25: 6 (2015) 9971000. Páginas 114-119 de WALKER, Phillip L. [et al.] - The causes of porotic hyperostosis and cribra orbitalia: A reappraisal of the iron-deficiency-anemia hypothesis. American Journal of Physical Anthropology. 139: 2 (2009) 109–125. 69 Páginas 89 e 102 de ORTNER, Donald J. - Identification of pathological conditions in human skeletal remains. 2nd Edition. New York: Academic Press, 2003. 70 Página 9 de ALFAYÉ VILLA, Silvia - Sit tibi terra gravis: magical-religious practices against restless dead in the ancient world. In MARCO SIMÓN, F.; PINA POLO, F.; REMESAL RODRÍGUEZ, J. (coord.) - Formae mortis: el tránsito de la vida a la muerte en las sociedades antiguas. Barcelona: Universitat de Barcelona, 2009. pp. 181-216. 71 Página 29 de COOL, Hilary E. M. - Glass and fuel. In VEAL, R.; LEITCH, V. (eds.) - Fuel and fire in the Ancient Roman World: towards an integrated economic understanding. Cambridge: McDonald Institute for Archaeological Research, University of Cambridge, 2019. pp. 25-33. 72 Páginas 151-153 de LIMA, António Manuel (coord.) – Mudar de vida. Tongobriga: exposição permanente. Porto: Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN), 2016 [Catálogo].
TO N G O B RI GA : CO L E TÂ NE A DE E STUDOS COM E M OR ATIVOS DE 4 0 A NOS DE INV E STIGAÇÃO
119
7 A MURALHA DE TONGOBRIGA I NVESTI GAÇÃO
António Manuel Lima
Inés López-Dóriga
Direção Regional de Cultura do Norte amlima@culturanorte.gov.pt
Wessex Archaeology - Departamento de Arqueología Ambiental – Coordenadora i.lopezdoriga@wessexarch.co.uk
António Manuel de Carvalho Lima (Porto, 1965) é Licenciado em História, variante de Arqueologia, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (1988) e Mestre em Arqueologia pela mesma faculdade (1994), com uma dissertação sobre os “Castelos Medievais do Curso Terminal do Douro (Séculos IX – XII)”, orientada pelo Professor Doutor Carlos Alberto Ferreira de Almeida. É investigador do CITCEM - Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória (Universidade do Porto) e do IEM - Instituto de Estudos Medievais (Universidade Nova de Lisboa). Exerce funções na Direção de Serviços de Bens Culturais (Direção Regional de Cultura do Norte). Foi Coordenador da Estação Arqueológica do Freixo / Tongobriga, entre maio de 2014 e maio de 2019. Entre as suas mais recentes obras sobre Tongobriga, destacam-se “Mudar de Vida - Catálogo da Exposição Permanente do Centro Interpretativo de Tongobriga” (2016); “A Feira da Quaresma (Séculos XV a XIX)” (2 vol., 2017); e “Tongobriga- O Espírito do Lugar. Guia Visual” (2018).
Inés López-Dóriga es Doctora en Prehistoria y Arqueología por la Universidad de Cantabria (España) y especialista en carpología. Actualmente lidera el departamento de Arqueología Ambiental en la empresa de arqueología Wessex Archaeology, en Reino Unido. Inés hizo su tesis doctoral en usos de las plantas en la costa atlántica de la Península Ibérica durante el Mesolítico y Neolítico, estudiando yacimientos de España y Portugal, entre 2009 y 2014. Durante un año entre 2014 y 2015 realizó investigaciones arqueobotánicas en Tongobriga, gracias a una Bolsa de Investigação em Arqueobotânica de colaboración con Dr. João Tereso en el contexto del projecto “Tongobriga e Territorium - Valorização da paisagem milenar”, financiado por el Programa PROVERE, y desarrollado en la Unidade de Investigação CIBIO-InBIO – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos-Universidade do Porto, y en prestación de servicios para José Antonio Pereira, de NovaArqueologia Lda.
João Rebuge
José António Pereira
Arqueólogo joaorebuge@gmail.com
NOVARQUEOLOGIA – Arqueologia, Informática e Serviços, Lda. japereira@novarqueologia.pt
Licenciado em Arqueologia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, em 2003. Participa desde 1997 em trabalhos arqueológicos. Inicia o seu percurso como técnico auxiliar de arqueologia, no âmbito de um projeto de investigação arqueológica em Fornos de Algodres (Pré-História Recente). Posteriormente, realiza trabalhos no âmbito da salvaguarda de Património Arqueológico em contexto de obras, promovidas por entidades públicas e privadas. Dos incontáveis trabalhos realizados, destacam-se as escavações arqueológicas realizadas no ano de 2010, no contexto dos trabalhos de minimização, salvaguarda e valorização implementadas no recinto de fossos de Porto Torrão, Ferreira do Alentejo, promovidas pela EDIA, S.A. (Pré-História Recente). Desde 2013 tem colaborado com distintas entidades públicas, tal como, Câmara Municipal de Lousada, Câmara Municipal de Marco de Canaveses, Estação Arqueológica do Freixo e Escola Profissional de Arqueologia. Presentemente conduz um Projeto de Investigação sobre a Igreja Paroquial do Divino Salvador de Tabuado, abordando a sua inserção histórica e social no atual território do Concelho de Marco de Canaveses (Idade Média/ Idade Moderna), no âmbito do Mestrado em Arqueologia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
José António Ferreira Pereira (Amarante, 1971), Conservador-Restaurador, Arqueólogo, docente do Ensino Superior Politécnico e do ensino Técnico-Profissional, Empresário e Investigador. Dirigiu e participou, no âmbito da sua atividade, em diversas intervenções de conservação e restauro, de arqueologia e de valorização de Património Cultural. Tem Pós-Graduação em Sistemas de Informação pela Universidade do Minho, Licenciatura em Arqueologia da Paisagem e formação superior em Conservação e Restauro pelo Instituto Politécnico de Tomar. Foi docente do Instituto Politécnico de Tomar, com funções no Centro de Pré-História e responsabilidades em diversos projetos de investigação na área de Arqueologia e Património. Foi docente e coordenador do curso de Assistente de Conservação do Património Cultural na Escola Profissional de Arqueologia do Freixo desde Setembro de 1999 com lecionação das disciplinas de Técnicas de Recuperação e Manutenção do Património, Práticas de Preservação, Materiais, Técnicas de Registo e Técnicas de Arqueologia. É Sócio-gerente da empresa NOVARQUEOLOGIA – Arqueologia, Informática e Serviços, Lda., com mais de 20 anos de atividade e mais de 5 centenas de projetos na área de Arqueologia, Museologia e de Conservação e Valorização do Património Cultural português.
A muralha de Tongobriga: descoberta, investigação, conservação e restauro TONGOBRIGA. UM OLHAR DIFERENTE António Manuel Lima
Breve história de uma descoberta Corria o ano de 2005 e já havia terminado a segunda das campanhas de escavações arqueológicas realizadas em Tongobriga ao abrigo de um programa de intercâmbio científico e cultural com a Universidade de Brown (Rhode Island, EUA) 1. O referido programa previa a realização de quatro temporadas de trabalho de campo - uma por ano, nos verões de 2004 a 2007 seguidas de uma quinta campanha destinada ao tratamento e estudo de materiais, a realizar em 2008. O primeiro signatário destas linhas, na qualidade de arqueólogo, desempenhou o papel de interlocutor entre a entidade acolhedora, Instituto Português do Património Arquitetónico e Arqueológico (IPPAR), e a equipa internacional composta por estudantes e professores norte-americanos, gregos e brasileiros.
As duas primeiras campanhas haviam incidido sobre a chamada “Área Habitacional III”, correspondente à encosta sudeste de Tongobriga, numa zona em que intervenções anteriores já tinham permitido identificar um conjunto de ruínas pertencentes a uma ou mais domus romanas. Desde os anos 80 que as intervenções dirigidas por Lino Tavares Dias tinham assinalado, em vários pontos do sítio arqueológico, a existência de ruínas dispersas pertencentes a construções pétreas de planta circular, vulgarmente designadas como “casas castrejas”, por aquele autor atribuídas às primeiras décadas do século I d.C. 2, as quais terão sido sacrificadas pela revolução urbanística que transformou Tongobriga a partir de finais da primeira centúria e ao longo do século II. Porém, a cartografia dessas casas, todas elas de planta circular simples, não permitia, ainda, estabelecer um padrão de organização do espaço urbano “pré-romano” nem conexões entre conjuntos de construções que permitissem um vislumbre sobre a mais que provável existência de “núcleos familiares”, tal como vinham sendo definidos na bibliografia especializada dedicada à organização social castreja 3. As escavações realizadas em 2004 e 2005 pela equipa da Universidade de Brown haviam proporcionado, pela primeira vez em um quarto de século de investigação arqueológica em Tongobriga, a identificação de um conjunto de ruínas, espacialmente contíguas e claramente associadas
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entre si, e pertencentes, com grande probabilidade, a um desses núcleos familiares: Uma construção de planta circular simples e uma construção de planta circular com átrio, ambas com abertura para nascente; parte de uma construção retilínea, provavelmente pertencente ao muro perimetral que fechava o recinto no qual se incluíam ambas as construções de planta circular; vestígios de um lajeado pertencente aos espaços exteriores; e ainda cavidades e canalizações diversas, todas em conexão, talhadas no afloramento granítico e destinadas a drenar as águas impedindo a sua acumulação no espaço livre entre construções. Este
núcleo
forneceu
também
uma peça que constitui, ainda hoje, o único exemplo de escultura móvel castreja de Tongobriga: metade de um tetráscelo esculpido
em
granito,
que
outrora
ornamentou – e garantiu proteção – a uma destas habitações 4. Não
obstante
a
importância
destas descobertas e os avanços que elas
permitiram
na
compreensão
do
processo evolutivo do espaço habitado de Tongobriga, o carácter extremamente residual das ruínas, associado à quase absoluta
ausência
de
estratigrafia
antiga preservada, aconselharam a que, dentro da mesma área, se procurassem espaços alternativos para as intervenções programadas para 2006 e 2007 no âmbito do já referido programa de intercâmbio. Entretanto,
ainda
na
encosta
sudeste de Tongobriga, o acaso tinha ditado uma outra descoberta: o plantio de uma árvore, a escassos metros do edifício das termas romanas, trouxe à superfície peças de cerâmica, intactas, que foram desde logo associadas a uma sepultura de incineração, em covacho, “de tradição castreja”. A sua tipologia apontava para uma cronologia em torno do câmbio de era, seguramente não posterior à primeira metade do século I d.C.. Até então, em Tongobriga, só eram conhecidas sepulturas do Baixo Império, nas imediações do atual cemitério paroquial de Santa Maria do Freixo 5. Cartografia dos vestígios correspondentes à ocupação castreja em Tongobriga (2015, DRCN©, ilustração de António Freitas).
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O reconhecimento, por um lado, da extensão dos espaços com habitações castrejas, e por outro, da respetiva necrópole – por princípio, um espaço extraurbano – abarcando uma área que se estendia, pelo menos na primeira metade do século I d.C., até às imediações das termas romanas; bem como a consciência das implicações desses factos para a interpretação do sítio, levaram-nos a rever e atualizar a cartografia de todos os vestígios, domésticos e funerários, castrejos e romanos, conhecidos até então. Dessa análise, resultou a constatação de um facto: em face dos dados conhecidos, o perímetro habitado de Tongobriga, ao longo de
toda
a
sua
escrupulosamente
existência, o
respeitava
princípio
da
não
sobreposição entre espaço habitado e espaço de necrópole – o que está longe de ser um dado adquirido a priori, atendendo, sobretudo,
a
possíveis
momentos
de
retração ou expansão do tecido urbano, ora libertando para a necrópole espaços antes urbanizados, ora incluindo no espaço habitado áreas funerárias anteriores. Em
Tongobriga,
as
áreas
com
habitações castrejas e romanas e as áreas de necrópole eram, sem dúvida, confinantes. O espaço habitado cingia-se à colina onde hoje assenta a aldeia do Freixo – com eixo central na sua crista aplanada, ao longo da qual corre o caminho que atravessa a aldeia de norte a sul - com prolongamentos
pelas
encostas
dessa
mesma colina. Quanto ao espaço mais plano, já em zona de vale, situado na base dessa colina – no qual se instalaram o forum e, a partir dos Flávios, as termas romanas – não havia quaisquer sinais de jamais terem recebido construções domésticas. Salvaguardando
a
possibilidade
– quanto a nós, pouco provável – de, um dia, na área envolvente ao forum e termas, se encontrarem vestígios da existência de estruturas residenciais e correspondente ordenamento urbano, esta evidência, só há Cartografia dos vestígios correspondentes à época romana em Tongobriga (2015, DRCN©, ilustração de António Freitas).
quinze anos atrás constatada, mantém-se perfeitamente atual.
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Entre uma área e outra, registava-se alteração
uma
substancial
topográfica.
Porém,
a
alteração não se nota exclusivamente ao nível do relevo natural. A própria organização
e
orientação
dos
socalcos e dos campos agrícolas é radicalmente
diferente.
Enquanto
que as áreas com habitações castrejas e romanas estavam transformadas em socalcos com uma orientação predominante este–oeste, a área de necrópole e zonas adjacentes revelavam
socalcos
agrícolas
de
orientação predominante norte–sul. Numa
zona
conhecida
atualmente como “Olival do Leandro” – cujo nome se deve a um habitante local que aí viveu e trabalhou no século XIX – a linha que separa as duas áreas acima descritas estava bem marcada no terreno por um extenso muro moderno – certamente oitocentista – com uma orientação este-oeste, semelhante aos socalcos da encosta, mas que se distinguia de todos os outros muros, não só pela sua extensão como também pelo facto de ser substancialmente mais alto do que os restantes. A conclusão desta análise não poderia ser outra: esse muro escondia uma estrutura anterior que marcava o fim da colina e o início das terras de vale, e delimitava o Cartografia das sepulturas isoladas (círculos) e espaços de necrópole (elipses) identificados em Tongobriga (2015, DRCN©, ilustração de António Freitas).
perímetro habitado de Tongobriga, separando-o
do
espaço
de
necrópole. A intervenção arqueológica confirmou em pleno essa conclusão: escassos centímetros atrás do referido muro de socalco agrícola, constatou-se a existência de uma muralha que, quase dois milénios antes das transformações agrícolas operadas sobre estes terrenos nos séculos XVIII e XIX, já havia moldado os contornos da topografia tal como ela foi mantida até aos dias de hoje.
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Encosta nascente de Tongobriga. Área de implantação da muralha e inflexão da orientação topográfica (2005, Brown University©, fotografia de Mary Winkes).
Fase inicial da intervenção de 2006. Muralha, atrás do muro de socalco já parcialmente desmontado (2006, DRCN©, fotografia de António Manuel Lima).
Encosta nascente de Tongobriga. Alinhamento do muro de socalco que escondia a muralha (2005, Brown University©, fotografia de Mary Winkes).
Breve história das consequências da descoberta A confirmação arqueológica das hipóteses que a análise do terreno nos ajudou a construir, permitiu constatar que a organização estrutural do espaço de Tongobriga se apresentava como muito semelhante à de outros grandes povoados castrejos do Noroeste Peninsular, vulgo “citânias”. Uma outra imagem de um sítio que, mercê da extensão e monumentalidade de algumas das suas ruínas, se afirmou no panorama científico e patrimonial como um exemplo de “cidade romana”. Esta última tornou-se a imagem de marca do sítio, de tal forma que, quem a estuda, valoriza sobretudo os testemunhos materiais da vida urbana em época imperial; e quem a visita, não tem – esperemos que deixe de ser assim no futuro – a mínima perceção do que foi a organização do povoado cujos habitantes, em determinada altura, acederam a mudar de vida.
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Do interior para o exterior: a)
Espaço habitado, organizado em torno de um
ponto central elevado, à volta do qual poderia haver – ou não – um primeiro circuito (a)mura(lha)do; b)
Uma muralha perimetral circundando o espaço
habitado e simultaneamente marcando o limite do terreno de topografia mais acidentada (independentemente da existência de outros recintos amuralhados, nomeadamente os que poderiam ser, essencialmente, grandes cercas de gado); c)
Fora desse perímetro, para além de zonas de
necrópole, e aproveitando o terreno mais propício à ocorrência de águas de nascente, surgem os edifícios destinados a banhos e conhecidos vulgarmente por “pedra formosa”. Entre várias outras estações similares do Noroeste, o paralelismo com a Citânia de Sanfins (Paços de Ferreira) é por demais evidente. As consequências desta constatação vão, porém, muito mais além desta. Desde logo, pela primeira vez, foi possível ter uma noção mais rigorosa do perímetro habitado de Tongobriga: cerca de 13 hectares. E com ele, melhor se podem fazer estimativas da população que o sítio podia albergar, embora não seja um dado adquirido – será, até, muito improvável – que toda a área abrangida por esta muralha tenha sido efetivamente urbanizada, quer na sua “fase castreja”, quer na sua “fase romana”. A definição integral do perímetro amuralhado permitiu ainda aferir a sua relação com o espaço classificado como Monumento Nacional desde 1986 6: - No tramo norte, o limite da área classificada e a muralha são genericamente coincidentes; -
Nos
tramos
sul
e
poente,
a
área
classificada
excede
consideravelmente o espaço amuralhado, abrangendo também termas, forum e necrópole; - A nascente, a muralha chega a abranger uma área situada abaixo da estrada nacional 211, excedendo, por conseguinte, o perímetro classificado. Mas, a nosso ver, a consequência mais importante desta descoberta prende-se com a alteração da forma como podemos perspetivar a localização do conjunto de edifícios monumentais romanos constituídos pelo forum, termas e supostos teatro e anfiteatro. Embora o traçado do tramo poente da muralha seja conjetural – em especial, na zona para a qual já foi apontada a possível existência de
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um teatro e um anfiteatro – é agora um dado adquirido que forum e termas são estruturas construídas extramuros. Consequentemente, serão também estruturas exteriores ao espaço habitado e à malha urbana respetiva. O que abre novas e aliciantes perspetivas de interpretação para o conjunto, perspetivas essas que já começamos a explorar em artigo recentemente publicado 7.
Alguns testemunhos históricos Apesar de só ter sido por nós identificada em 2005, é possível reconhecer algumas alusões à(s) muralha(s) de Tongobriga olhando retrospetivamente para algumas referências documentais e bibliográficas já conhecidas. Nos prazos relativos a Santa Maria do Freixo, existentes no cartório do extinto Convento de São Bento de Avé-Maria da Cidade do Porto, surgem referências datadas dos séculos XVII, XVIII e XIX a várias propriedades que podem ser interpretadas neste contexto. Entre os exemplos mais evidentes, conta-se uma parcela de terreno situada no quadrante noroeste do perímetro amuralhado de Tongobriga, cujos limites ainda hoje correspondem a um troço de muralha observável à superfície. Essa parcela é identificada em prazos datados de 1659 e 1683 como «o monte chamado o muro». Em 1747 chamam-lhe «a bouça do muro» e em 1831, último prazo conhecido para essa área, são referidos o «olival do muro”» e a «portela do olival do muro», numa clara alusão à muralha e a um local – uma portela – onde seria possível transpor o obstáculo que ela constituía, muito provavelmente uma das primitivas entradas no perímetro da velha Tongobriga 8. Mais evidente ainda, é uma expressão usada pelo pároco de Santa Maria do Freixo nas célebres “Memórias Paroquiais” de 1758. Reza assim a memória deixada pelo Cura Manuel Luís Ribeiro de Aguiar no dia 27 de abril desse ano: «Não tem privilegios dignos de memoria; e antiguamente foi este lugar do Freyxo Cidade de Mouros, não se accordam os annos. Só por certeza de que foi habitada de Mouros existe ainda ao fundo do dito lugar parte de huma Mesquita que mostra haver sido caza dos seus falsos Deuzes pellas ruinas que testificam sua grandeza; e no mesmo sitio tem apparecido varios trastes dos mouros enterrados em caixões de pedra labrada; e ainda apparecem destas cousas, porem de pouco valor e deterioradas da terra, como sam loussas e talhas; e na circonferencia deste lugar apparecem em partes alicerces de muros com que algum tempo foi murada» 9.
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Não poderíamos esperar testemunho mais eloquente sobre as ruínas com que os habitantes do Freixo conviviam diariamente: a «Mesquita», que já havia sido ermida 10 e mais tarde seria conhecida como “Capela dos Mouros”, corresponde, como é sabido, ao edifício das termas romanas que, de acordo com outra referência das mesmas “Memórias”, à época ainda mantinham uma parte significativa das abóbadas de cobertura, nas quais se abria uma «claraboia», certamente resultante de um abatimento pontual; os «caixões de pedra labrada» poderão corresponder a vestígios da necrópole; as «louças» e as «talhas» deterioradas surgiriam um pouco por todo o lugar, fruto da lavra dos campos agrícolas que ocultavam ruínas de habitações romanas e pré-romanas; quanto aos muros existentes na «circunferência» do lugar «que em algum tempo foi murado», trata-se de uma clara alusão à muralha de Tongobriga, cuja configuração genericamente circular em torno da aldeia justifica a expressão usada. Além destas referências, existe uma outra, também bastante clara, que a cartografia entretanto realizada – ao apontar para um perímetro amuralhado que foi parcialmente cortado pela estrada nacional – permite interpretar como uma alusão à destruição de uma parte da mesma muralha que em 2005 identificamos no já referido “Olival do Leandro”: “O Freixo teve muralhas em tempos antigos: quando construíram o caminho que vai da Tragola ao Freixo apareceu uma muralha que cortava perpendicularmente o caminho; parte de uma muralha vê-se ainda hoje dentro da propriedade do falecido Castro” 11.
Da ocultação ao esquecimento e à redescoberta Dos testemunhos escritos de que demos notícia nos parágrafos anteriores, ressalta de imediato uma evidência: a(s) muralha(s) de Tongobriga, bem assim como uma parte considerável das ruínas, estariam bem visíveis aos olhos dos que habitavam e trabalhavam a terra nas encostas da colina em cujo cume se erguia a igreja de Santa Maria do Freixo. Entre as ruínas com que as pessoas conviviam diariamente, por entre “antigualhas” que surgiam um pouco por todo o lado, destacavam-se duas: - Pela sua monumentalidade e pelo fascínio que a «casa dos falsos deuses» deveria exercer sobre as pessoas – até mesmo sobre os mais letrados – merecia destaque a «mesquita», que só nos anos 80 do século XX haveria de ser devolvida pelos arqueólogos à sua função original (que não a única); - Pela sua extensão e configuração arredondada, como que abraçando toda a aldeia, destacava-se a muralha, que, pelo menos em parte, se manteve à vista de todos até finais do século XVIII, sem que se tenha perdido, sequer, a noção da sua função original.
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Os prazos dos séculos XVI, XVII e XVIII não podiam ser mais explícitos quanto à míngua do que se podia esperar da produtividade agrícola dos campos situados no Freixo e suas encostas: os efeitos nefastos da erosão e da fraca sedimentação nas zonas de encosta eram agravados de forma exponencial pela abundância de ruínas e pedra solta: «terra de fraga que não tem proveito», dizem uns; «monte cheio de pedras que se semeia poucas vezes», dizem outros 12. Só a partir das primeiras décadas da centúria de oitocentos é que as terras menos férteis, como as do alto da colina do Freixo, começaram a suscitar o interesse e o investimento de uma burguesia local recentemente enriquecida e socialmente promovida. A conjuntura económica e demográfica da época, caraterizada por fortes excedentes de população ativa com necessidade de dispor de novas terras - antes desprezadas - para garantirem a sobrevivência diária, acabou por ser a outra face deste mesmo fenómeno, ao garantir a mão-de-obra necessária. Foi neste contexto que se arrotearam terras antes incultas e se construíram os socalcos que ainda hoje são um dos traços mais marcantes da topografia e da paisagem local. No caso de Tongobriga, e particularmente no que diz respeito à muralha, este fenómeno é por demais evidente: quem construiu o muro de socalco que a encobria tinha perfeita noção da sua existência, já que aproveitou a própria muralha como estrutura de reforço de contenção das terras, minimizando o peso exercido pelas terras sobre o próprio muro. A própria muralha parece ter sido pontualmente reforçada com pedra solta para melhor exercer essa função. A pedra melhor, em especial a trabalhada a pico e facetada, que fazia parte da face externa da muralha, quer a que ainda se encontraria in situ, quer a que já se encontrava caída, foi aproveitada para integrar a estrutura do muro recém-construído. Só assim se compreende o facto de uma estrutura tão imponente como a muralha, apesar de estar reduzida a uma ou duas fiadas de pedra original na sua face externa, não ter revelado uma significativa quantidade de pedra acumulada na encosta, resultante do seu derrube. Essa pedra foi aproveitada para as novas estruturas agrícolas oitocentistas: muros de socalco e de delimitação de propriedade. Não é por acaso que hoje em dia, mesmo com recurso a uma cuidada metodologia de escavação, a tarefa de datar o momento de abandono e consequente destruição da muralha de Tongobriga revela-se praticamente impossível: à estratigrafia que é cronologicamente associável à época de construção da muralha e momentos imediatamente anteriores a esta, segue-se um longo período de quase dois milénios que não deixou marcas no solo, e as camadas de sedimentos que cobrem diretamente a muralha, embora contenham materiais avulsos antigos, são as que escorreram naturalmente encosta abaixo ou as que ali foram depositadas intencionalmente pelos construtores dos muros de socalco, em pleno século XIX, quando tentaram dar ao terreno uma espessura de solo arável que o tornasse minimamente rentável.
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A(s) muralha(s) de Tongobriga: seu reconhecimento A constatação da existência de uma muralha em Tongobriga levou-nos, de imediato a encetar duas tarefas que não podemos, ainda, de todo, considerar concluídas: a)
Por um lado, tentamos, nos meses subsequentes à
descoberta, proceder ao reconhecimento integral do circuito amuralhado. Deste trabalho, para o qual contamos com o indispensável apoio de Jorge Araújo, Técnico Superior, e António Freitas, Assistente Técnico, ambos ao serviço da Estação Arqueológica do Freixo / Direção Regional de Cultura do Norte, resultou uma proposta de cartografia do circuito amuralhado posto a descoberto a partir de 2005. b)
Por outro lado, o próprio reconhecimento de um
povoado com uma fisionomia muito similar à de outras grandes citânias do Noroeste Peninsular, sugeriu-nos a possível existência de outros circuitos, tendencialmente concêntricos. Só parcialmente este trabalho foi bem-sucedido. Relativamente à única muralha arqueologicamente confirmada, ficaram algumas dúvidas sobre o seu exato trajeto nalguns tramos, com especial incidência na encosta poente. Quanto à possibilidade de existência de outros circuitos amuralhados, subsistem sérias dúvidas. A análise cruzada da topografia local e dos vestígios arqueológicos já identificados em Tongobriga, com os dados que nos são revelados por outras estruturas similares em sítios congéneres, permite-nos apontar, com reservas, a possível existência de três circuitos de muralha 13. Dos seus indícios, damos breve conta nas linhas seguintes. Porém, não será demais reafirmarmos que a existência do primeiro e terceiro circuitos não é um dado adquirido: - Um primeiro circuito, o mais pequeno, em torno da acrópole do povoado, é-nos sugerido pela topografia, embora não se possa ainda afirmar a sua existência por não terem sido ainda detetadas estruturas a ele pertencentes.
Primeira proposta cartográfica do perímetro amuralhado e habitado de Tongobriga (2006, DRCN©, desenho de António Freitas e proposta de António Manuel Lima).
132
TO N GO BR I GA : CO L ETÂ N EA D E ES T UD O S CO M EM OR ATIVOS DE 4 0 A NOS DE INV E STIGAÇÃO
Área de fecho do espaço de acrópole em Tongobriga (primeiro circuito amuralhado?), junto ao Gabinete da Estação Arqueológica do Freixo (2020, DRCN©, fotografia de Jorge Araújo).
Porém, à semelhança do que acontece em povoados castrejos congéneres, é nesse espaço central que surge uma grande concentração de elementos diretamente relacionados com o culto e a religião. Em Tongobriga, como em vários outros locais, um recinto amuralhado mais pequeno, circundando a acrópole, evoca um espaço de sacralidade, reforçado pelo aparecimento, também comum a outros sítios similares, de várias inscrições votivas e ainda de elementos construtivos – colunas, bases e capitéis – que poderão estar associados a um templo e/ou a outro edifício público de maior importância. - Um segundo circuito, já comprovado arqueologicamente, é aquele sobre o qual incidiram os trabalhos arqueológicos e de conservação e restauro que aqui são objeto de análise. Abrange uma área de cerca de 13 hectares que é, efetivamente, a área habitada de Tongobriga. De fora do seu perímetro, ficam a necrópole, o forum pecuarium com suas termas, e o balneário castrejo. Em 40 anos de investigação arqueológica em Tongobriga, que agora celebramos, jamais surgiram vestígios de estruturas domésticas fora deste perímetro amuralhado;
- Um terceiro circuito teria, segundo Lino Tavares Dias, constituído uma espécie de “bolsa”, acoplada, já no século II d.C., ao tramo sul do segundo circuito, abrangendo o conjunto forum + termas + balneário castrejo e ainda os possíveis teatro e anfiteatro 14. Na nossa perspetiva, a confirmar-se um terceiro circuito amuralhado, ele poderia ter sido, não uma tentativa mais tardia de amuralhar o já referido conjunto monumental, mas sim a muralha externa do povoado castrejo, que, como as suas congéneres das grandes citânias, permitiria abranger a zona em que se situava o balneário do tipo “pedra formosa” e ainda vastos terrenos destinados ao cultivo e à guarda e pastoreamento de gado doméstico.
TO N G O B RI GA : CO L E TÂ NE A DE E STUDOS COM E M OR ATIVOS DE 4 0 A NOS DE INV E STIGAÇÃO
133
As intervenções de 2014 e 2015
Localização do troço de muralha intervencionado em 2014/2015, sobre imagem aérea (© Google Earth).
285.0
LEITEIROES
287.5
292.5
Localização do troço de muralha intervencionado em 2014/2015, sobre Carta Militar de Portugal à escala 1:25.000, fl. 124 (Serviços Cartográficos do Exército©)
290.0
295.0
LEITEIROES
292.5
295.0
297.5
297.5
300.0
300.0 302.5
300
305.0
305
302.5
307.5
305.0
307.5
310.0
310.0
312.5
305
305.0
310
292.5
310.0
302.5
305.0
300.0
290.0
312.5
310.0
307.5
315.0
317.5
320.0
315.0
300.0
302.5
310.0
320.0
307.5
305.0
305.0
300.0
307.5
287.5
302.5
315.0
297.5
310.0
295.0
285.0
292.5
297.5
312.5
317.5
282.5 300.0
315.0 302.5
280.0
285.0
277.5
320.0 295.0
320.0
322.5 310.0
282.5
302.5 307.5
325.0
322.5
280.0
305.0
327.5
305.0
307.5
300.0
320.0
322.5
332.5
327.5
295.0
297.5
312.5
310.0
317.5
307.5
305.0
320.0
302.5
300.0
305.0
295.0
290.0
315.0
287.5 327.5
285.0
307.5
325.0
282.5
325.0
280.0
322.5
325.0
320.0
317.5
277.5
322.5
322.5
320.25 320.32 320.71
320.46 320.83
320.67 320.05
272.5
275.0
320.0 .
318.46
318,52 319.10 318.39
319.82
318.35
318.39
.
318.30
319,55
319.91
318.50 318.87
318.63
317.5
318.33 318.63 318.26
.
318.19
318,76 318,38
318.84
.
319,57
.
.
318.49
319.28
318,49 318.33
. 317,91
318.57
318.52
317.97 318,47
.
317.59
317.98 317.69 318,08
317.72
.
.
.
319.32
318,49 318,38
.
318,37 319.03
318.53
. 318,22
318.74
.
318,84
317.99
315.0
312.5
307.5 305.0
300.0
302.5
270.0 297.5
267.5
295.0
267.5
265.0 292.5
275.0
265.0
290.0
270.0 287.5
310.0
295.0
305.0
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280.0
277.5
302.5
317.5
285.0
262.5
297.5
310.0
312.5 300.0
295.0
300.0
277.5
292.5
275.0
272.5
=109=
=036=
=062=
317.5
287.5
272.5
310.0
285.0
FRAGAS 302.5
270.0
305.0
LAGOELAS
282.5
295.0
280.0
267.5
275.0 277.5 295.0
297.5
270.0
300.0
292.5
272.5 290.0
307.5
310.0
300.75
312.5
250.0
297.5
322.5
300.0
302.5
299.74
299.89
298.36
299.95
305.0
299.85
299.56 300.63
307.5
317.5 299.48
245.0 299.84
315.0
260.0
272.5
270.0
292.5
275.0
295.0
312.5
282.5
280.0
277.5
295.0
285.0
297.5
242.5
287.5
290.0 292.5
300.0
247.5
240.0 297.5
255.0
245.0 257.5
295.0
260.0
242.5
262.5 310.0
265.0
237.5
267.5
270.0
237.5
272.5
292.5
275.0
277.5
280.0
285.0
237.5
282.5
290.0
310.0
305.0
295.0
312.5
287.5
317.5
287.5
302.5
310.0
300.0
315.0
307.5
312.5 237.5
315.0
317.5
317.5
317.5
287.5 285.0
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320.0
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295.0
290.0
287.5
292.5
280.0
302.5
322.5
305.0
297.5
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312.5
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272.5
275.0
322.5
277.5
317.5
312.5
315.0 320.0
312.5
317.5
312.5
317.5
310.0
307.5
315.0
315.0
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SEARINHA
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277.5
265.0
134
280.0
267.5
307.5
300.0 282.5 302.5
312.5 272.5
305.0
307.5
315.0
270.0
TO N GO BR I GA : CO L ETÂ N EA D E ES T UD O S CO M EM OR ATIVOS DE 4 0 A NOS DE INV E STIGAÇÃO
317.5
320.0
315.0
317.5
322.5
320.0
Enquadramento da área intervencionada em 2014/2015 no levantamento topográfico da Área Arqueológica do Freixo (2015, DRCN©, desenho de António Freitas).
325.0
322.5
292.5
280.0
277.5
275.0
272.5
Razões para uma intervenção arqueológica Quando o primeiro signatário deste texto assumiu, em 2014, a coordenação do serviço que a Direção Regional de Cultura do Norte tem instalado na aldeia de Santa Maria do Freixo, trabalhando diariamente sobre a gestão, investigação, conservação e valorização de Tongobriga, constituiu desde logo como prioridade a apresentação e aprovação de um projeto de investigação 15 que estruturasse e desse cobertura aos trabalhos arqueológicos que o sítio exigia. O referido projeto organizava-se, essencialmente, em torno da concretização de dois grandes planos. O primeiro, a implementar em 2014 e 2015, intitulava-se “Plano de Valorização da Encosta Nascente de Tongobriga”, e estava, por sua vez, dividido em duas fases, a primeira das quais dedicada à “Valorização da Secção SE da Muralha de Tongobriga”. Com efeito, aquando dos trabalhos de prospeção que nos permitiram avançar com uma primeira proposta de traçado da muralha que começou a ser revelada a partir de 2005, desde logo se tornou evidente que a secção sudeste da mesma reunia condições excecionais que em mais nenhum dos seus tramos encontrávamos, pelo que, antes de que qualquer outra, era merecedora da nossa atenção. Em primeiro lugar, as intervenções arqueológicas nela realizadas a partir da sua identificação – quer as promovidas com a Universidade de Brown, quer as posteriores – haviam já posto a descoberto algumas dezenas de metros de um troço retilíneo de muralha que, apesar de entretanto sujeito a trabalhos pontuais de conservação e restauro, merecia uma intervenção de fundo que garantisse, quer a sua manutenção, quer a sua valorização, no quadro de um novo projeto de investigação. Os
necessários
trabalhos
de
conservação
proporcionariam uma nova oportunidade para aprofundar o conhecimento das técnicas de construção e da(s) cronologia(s) de todo o percurso de vida útil da estrutura. Acrescia ainda a existência de sondagens - iniciadas, mas não terminadas - cuja conclusão era exigida para que se tornassem viáveis os trabalhos de valorização de toda a encosta nascente, pelo que foi desde logo decidido dar prioridade a essas intervenções. A valorização prioritária desta secção da muralha Troço de muralha já sujeito a obra de conservação e restauro em 2008/2009 (2009, DRCN©, fotografia de António Manuel Lima).
de
Tongobriga
baseava-se
também
em
outros
dois
parâmetros que nada tinham a ver com a investigação e conservação. Em primeiro lugar, ao seu imenso potencial científico e patrimonial, acrescia um outro potencial, que não é partilhado por mais nenhuma outra área com ruínas já escavadas dentro do espaço
TO N G O B RI GA : CO L E TÂ NE A DE E STUDOS COM E M OR ATIVOS DE 4 0 A NOS DE INV E STIGAÇÃO
135
Ensaio sobre a visibilidade da muralha de Tongobriga a partir da estrada nacional (2014, DRCN©, desenho de António Freitas).
Cartografia dos terrenos da encosta nascente da Área Arqueológica do Freixo que, em 2014, já eram propriedade do Estado Português. (2014, DRCN©, desenho de António Freitas).
classificado: trata-se da sua visibilidade a partir da Estrada Nacional 211, o que pode constituir um imenso atrativo para trazer até Tongobriga os utentes da referida estrada, a qual constitui um itinerário turístico muito relevante de acesso à zona do Douro Vinhateiro, Património Mundial (estrada para a Régua) e de trânsito entre o Douro e o Porto, cujo centro histórico é, também, Património Mundial. Uma vez concluída a sua valorização, esta secção da muralha passaria a constituir a única estrutura monumental de Tongobriga que é visível a partir do seu exterior. Por outro lado, uma parte significativa dos terrenos da encosta nascente, com excelente exposição para os que se encontram em trânsito rodoviário de e para o Douro, são já propriedade do Estado Português, o que viabiliza a sua intervenção sem os entraves e limitações a que estão sujeitas as intervenções em propriedade privada. Justificada, do ponto de vista técnico, científico e patrimonial, a prioridade da intervenção nesta secção da muralha de Tongobriga,
136
TO N GO BR I GA : CO L ETÂ N EA D E ES T UD O S CO M EM OR ATIVOS DE 4 0 A NOS DE INV E STIGAÇÃO
restou garantir as condições financeiras necessárias para a sua execução, o que foi conseguido através do seu enquadramento numa candidatura promovida pela Direção Regional de Cultura do Norte em parceria com a Câmara Municipal de Marco de Canaveses, e comparticipada pelo ON.2 (“O Novo Norte”) através do Programa de Valorização Económica de Recursos Endógenos (PROVERE).
Metodologia dos trabalhos arqueológicos António Manuel Lima Inés López-Dóriga A escavação realizou-se de acordo com os princípios de estratigrafia definidos por Edward Harris em 1979 16, com documentação em fichas de unidades estratigráficas (UE’s), matrizes, fotografias e desenhos de plantas e cortes. Um dos objetivos pretendidos foi a recuperação de evidências arqueobotânicas (macrorrestos vegetais), com a dupla intenção de obter novos dados para compreender diferentes questões relacionadas com a evolução do povoamento humano em Tongobriga 17, e de responder às principais linhas de investigação da arqueobotânica: a origem e difusão das plantas domésticas, a evolução das práticas de exploração de recursos vegetais e a reconstrução paleoambiental.
Com estes objetivos, realizamos uma recolha de amostras, adaptada às características dos conjuntos arqueobotânicos de acordo com os seus contextos de deposição. Foram recolhidas amostras das terras intactas entre os muros de contenção do terreno, dos quais já se haviam retirado os escorrimentos de terras de época moderna. Devido à ausência de contextos de tipo primário ou secundário, a recolha de amostras foi adaptada às características de um contexto terciário 18, isto é, provavelmente resultantes de diversas atividades e depositados fora do lugar em que foram utilizados. Os contextos terciários foram alvo de recolha de amostras, em proporções variáveis de acordo com os resultados preliminares que iam sendo obtidos. Inicialmente, a estratégia foi a de amostragem intercalada de 20%: a quadrícula de 2 x 2 m. foi dividida em 16 quadrantes de 50 cm e foram recolhidas amostras numa linha diagonal de quadrantes. Devido à elevada quantidade de macrorrestos observados nas amostras, optou-se por recorrer à amostragem pontual mínima de 10 litros por unidade estratigráfica. Em diversos pontos da muralha, foram recolhidas amostras de sedimentos depositados entre os blocos de pedra que a conformam. Para além disso, no âmbito dos trabalhos de conservação e restauro, procedeuse à desmontagem de uma pequena parcela da muralha para introduzir um dreno, o que permitiu observar as características da sua construção e recolher amostras do miolo.
TO N G O B RI GA : CO L E TÂ NE A DE E STUDOS COM E M OR ATIVOS DE 4 0 A NOS DE INV E STIGAÇÃO
137
Todo o material arqueológico, independentemente da sua matériaprima ou estado de fragmentação, foi recolhido, classificado, catalogado e inventariado, quer durante o trabalho de campo, quer durante o processamento dos sedimentos por flutuação. Todas as amostras de sedimentos foram processadas através de flutuação (separação por densidade na água) com uma máquina de construção manual de tipo Siraf, com recolha da fração ligeira em malha fina (250 µm de luz) e da fração pesada em malha grossa (1 mm de luz). A fração pesada foi objeto de triagem a olho nu, em busca de restos arqueológicos que pudessem ter ficado retidos. A fração ligeira foi examinada com ajuda de instrumentos de ampliação ótica, em busca de macrorrestos vegetais. Os elementos carpológicos foram identificados taxonomicamente através de comparação morfológica, anatómica e biométrica, com o apoio de um atlas e bibliografia especializada, bem como da coleção de referência da Universidade do Porto.
Estratigrafia
Foram recolhidas amostras nas quadrículas Ca 32 33 34, Ba 32, T’ U’ 27 28 e W’ X’ V’ 29, 30. Estes sedimentos têm, na maior parte, uma grande inclinação na direção da muralha, e não se identificaram, nem materiais que aparentem estar in situ nem estruturas (com exceção das relacionadas com a construção / reconstrução da muralha), o que parece indicar que são acumulações de sedimentos que procedem das partes mais elevadas da encosta. A tipologia castreja da cerâmica, juntamente com os abundantes restos de escórias de diferentes metais e materiais com alterações térmicas, indica que se trata de materiais que originalmente estiveram relacionados com o povoamento castrejo desta área, alguns metros mais acima nesta encosta, na qual se reconheceram diversas estruturas de habitat, e onde se localizou, com certeza, uma estrutura de combustão, provavelmente para atividade metalúrgica.
● 4.2 - Quadrículas Ba Ca 32 33 34 - Sedimentos de cor negra, compactos, homogéneos e húmidos, em forte declive contra a muralha. Cobrem 4.3; preenchem a UE 11; ● 4.3 - Sedimentos de cor castanha escura, compactos, homogéneos e húmidos, de granulometria fina (argila / limo). Preenchem a UE 11; cobertos pela UE 4.2.
138
TO N GO BR I GA : CO L ETÂ N EA D E ES T UD O S CO M EM OR ATIVOS DE 4 0 A NOS DE INV E STIGAÇÃO
Da - 32
Da - 34
Da - 33
1
307.73
2 =4= 306.73
3 =4.2= =4.1= =4.3= =5=
305.73
=6= 7
8 9
10
0
304.73
1m
Corte estratigráfico da intervenção na muralha de Tongobriga (2015, DRCN©, desenho de António Freitas).
● 11 - Vala, quase paralela à muralha, provavelmente realizada para a construção da fase 2 da muralha. Corta a UE 4.1. ● 4.1 - Quadrícula Ba 34 – Sedimentos de cor castanha escura, em forte pendente contra a muralha, de granulometria heterogénea (Argila / Limo + Saibro). Cortados pela UE 11. Matriz das unidades estratigráficas definidas na zona da muralha durante a presente intervenção (2015, DRCN©, Inés LópezDoriga).
● 5 - Sedimentos de superfície irregular, preenchendo cavidades existentes na UE inferior, provavelmente provocadas por raízes atualmente desaparecidas. Uma concentração de pedras, existente em metade da quadrícula, parece formar parte do derrube de uma estrutura. Forte pendente contra a muralha. Granulometria grossa (Saibro). Destaca-se a grande abundância de cerâmica e metais, para além de fragmentos de blocos de sedimentos sujeitos a ação do fogo. Cobre a UE 6; coberta pela UE 4.1. ● 6 - Terra quase estéril, com alguns carvões, ossos, escória e cerâmica, mas em pequenas quantidades e sempre inserida nos buracos de raízes. Parece ser material proveniente da UE 5. Forte pendente contra a muralha. Cor castanha escura, compacta, homogénea, húmida, e de granulometria heterogénea (Argila / Limo + Saibro + Seixos). Apoia-se sobre a rocha de base e fase 1 da muralha. Serve de apoio à UE 5 e à fase 2 da muralha. ● 14 - Terra, aparentemente associada ao nível de destruição de uma estrutura de habitação da qual se observa o derrube e o piso no corte do canto NO da quadrícula. Cor preta. Cobre a UE 15 ● 15 - Terra, com escasso material arqueológico. Parece estar associada a uma possível estrutura desaparecida, da qual se conserva um derrube de pedras e restos de um alinhamento, do qual a UE 14 é o nível de incêndio. Cor castanha escura avermelhada. Desagregada. Coberta pela UE 14. Sincroniza-se com a UE 13.
TO N G O B RI GA : CO L E TÂ NE A DE E STUDOS COM E M OR ATIVOS DE 4 0 A NOS DE INV E STIGAÇÃO
139
● 12 - Terra. Cor castanha clara. Desagregada. Sincroniza-se com a UE 13. ● 13 – Terra. Cor preta. Compacta, homogénea e húmida. Apoia-se sobre a rocha de base e serve de apoio à fase 2 da muralha. Provavelmente equivalente à UE 6.
Na quadrícula Ca 34, procedeu-se ao desmonte de uma secção da muralha, retirando os blocos de pedra e recolhendo amostras dos sedimentos depositados entre elas. Distinguem-se principalmente duas fases de construção, cujo distanciamento cronológico é difícil de precisar. Mas, de acordo com os materiais arqueológicos, ambas estarão relacionadas com o povoado castrejo: uma primeira fase, durante a qual é criada uma muralha que assenta sobre a rocha base, da qual se mantém a face externa; e uma segunda fase, durante a qual se restaura ou amplia a muralha já existente, aumentando a sua espessura na face interna, construindo em cima de um nível de sedimentos que se apoia sobre a primeira fase da muralha. A irregularidade desta face interna aponta no sentido da existência de restauros periódicos da muralha, que poderá ter cedido à pressão dos sedimentos que nela se apoiavam.
● M1 - Ca 34 - Estrutura. Miolo da muralha. Entre as suas pedras, sedimentos de cor castanha. Desagregada. Fase 2 da muralha. ● M2 - Ca 34 - Estrutura. Terra de cor castanha escura, húmida. Argila / Limo. Miolo da fase 2 da muralha. ● M3 - Ca 34 - Estrutura. Terra de cor castanha escura, quase estéril. Compacta. fase 2 da muralha ● M4 - Ca 34 - Estrutura. Terra de cor castanha escura. Compacta. Miolo da fase 1 da muralha ● M5 - Ca 34 - Estrutura. Terra de cor castanha escura. Compacta. Miolo da fase 1 da muralha ● M.F.1 - Ca 34 - Estrutura. Fiadas de pedras de tamanho médio e grande. Fase 1 da muralha ● M.F.2 - Ca 34 - Estrutura. Fiadas de pedras de tamanho médio e grande. Fase 2 da muralha
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ANÁLISE DE MATERIAIS Cerâmica João Rebuge
O espólio cerâmico resultante da intervenção arqueológica realizada na muralha de Tongobriga em 2014/2015, exceção feita ao material de cronologia moderna e contemporânea identificado nas terras superficiais e relacionado com os trabalhos agrícolas que aqui tiveram lugar nos séculos XIX e XX, é constituído, sobretudo, por material que podemos associar à vida doméstica no povoado castrejo nas décadas anteriores ao início das grandes transformações urbanas que iriam, a partir dos Flávios, modificar por completo a sua fisionomia. Atendendo a que apenas as fases iniciais de tratamento laboratorial do espólio se podem considerar concluídas, e que a sua análise requer ainda trabalho adicional, optamos por aqui apresentar, a título de exemplo, uma primeira abordagem de um conjunto muito específico de materiais que, tendo em conta a sua tipificação, pode constituir um contributo relevante para a contextualização da muralha, sobretudo no que diz respeito às suas cronologias de uso e reconstrução(ões). Trata-se da cerâmica de tradição “indígena” com decoração. Porém, dada a especificidade e limitação do contexto agora em análise, tem de se salvaguardar a amplitude das conclusões que é possível retirar do estudo dos fragmentos cerâmicos recuperados no decorrer da escavação arqueológica dos depósitos relacionados com o segmento de muralha em apreço. Contudo, e não esquecendo a sua particularidade, estes têm também o devido valor e merecem ser considerados para a caracterização do mencionado contexto arqueológico e de Tongobriga como um todo. Verificadas as características e a cronologia presumida e comummente aceite, tomou-se como referência preponderante para este estudo o trabalho de Armando Coelho Ferreira da Silva 19, nomeadamente no que concerne às decorações verificadas nos fragmentos de cerâmica agora analisados, pelo que se utilizou como referência a sistematização de organizações decorativas já existentes nesse estudo 20. Face à reduzida dimensão da amostra de fragmentos decorados, é possível aqui particularizar e destrinçar cada um dos exemplares:
Quad. Ba 32, 33 (UE 4.2) N.º 150052 - Organização decorativa: 298 21 – Maior espaçamento entre as linhas da banda sem decoração. Dada a quebra do fragmento, não é possível perceber a totalidade da restante decoração, apesar de se
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poder observar uma linha ondeada fora daquela banda. Fase III. Citânia de Briteiros; Citânia de Sanfins. N.º 150053 - Linha incisa isolada. Organização decorativa: 8 22. Fase I Castro da Senhora da Guia, Baiões. São Pedro do Sul; Fase II. Castro do Coto e Terroso; Fase III. Citânia de Briteiros e Citânia de Sanfins. N.º 150054 - Caso isolado. Fragmento de pequenas dimensões. Dúvida de possibilidade de pintura. N.º 150055 - Fragmento de pequena dimensão, em que se pode observar um segmento de uma linha incisa e um outro motivo decorativo que não é possível caracterizar. N.º 150056 - Organização decorativa: 650 23. Verifica-se algum desgaste, pelo que não é possível uma caracterização mais completa do seu aspeto macroscópico. N.º 150068 - Linha incisa isolada. Organização decorativa 8 24. Fase I Castro da Senhora da Guia, Baiões. São Pedro do Sul. Fase II. Castro do Coto e Terroso. Fase III. Citânia de Briteiros e Citânia de Sanfins.
Quad. V’W’X’ 29,30 (UE 12 e 13) UE 12 e UE 13 – N.ºs 150311 + 150454 (colagem de dois fragmentos, provenientes de unidades estratigráficas distintas). Quadrículas W’ X’ (150311) e V’ W’ X’ 30, 29 (150454) - Banda formada por duas linhas incisas com espaço preenchido por impressões de punção de ponta em losango (quadrado), aparentemente mais proeminente no centro, ficando aí a impressão mais funda. Podem-se observar duas bandas paralelas similares, separadas por um espaço sem qualquer decoração. Remete para uma linguagem próxima das organizações decorativas 417 e/ou 436 25, apesar de ser distinta nas suas características, nomeadamente no formato da punção, sendo no presente exemplar de formato quadrangular. Fase III. Citânia de Biteiros. UE 13 - N.º 150565 - Organização decorativa: 452 26. Fase II. Castro do Coto. Indeterminado (II/ III). Terroso Fase III. Citânia de Sanfins + Organização decorativa: 531 27. Fase II. Castro de Coto. Indeterminado (II/III) Terroso. Fase III. Citânia de Sanfins.
Quad. Ca 32,33 (UE 4 e 5) UE 5 - N.º 151075 - Organização decorativa: 499 e/ou 501 28. Fase III. Citânia de Sanfins. Particularidade do exemplar de Tongobriga: três linhas incisas paralelas/ SSS(S)/ duas linhas incisas paralelas/ SSS(S).
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UE 5 - N.º 151103 - Organização decorativa: 67 29. Fase III. Citânia de Sanfins. UE 4 - N.º 151172 - Organização decorativa: 43 30. Fase II. Castro de Coto. Indeterminado (II/III). Terroso. Fase III. Citânia de Sanfins. Fase I. Canedotes.
Quad. Ca 33 (UE 5) N.º 150184 - Banda formada por duas linhas incisas muito ténues. Organização decorativa: 9 31. Fase I Castro da Senhora da Guia, Baiões. São Pedro do Sul. Fase II. Castro do Coto e Terroso. Fase III. Citânia de Briteiros e Citânia de Sanfins. N.º 150211 - Linha incisa isolada. Organização decorativa: 8 32. Linha incisa. Isolada. 8 33. Fase I Castro da Senhora da Guia, Baiões. São Pedro do Sul. Fase II. Castro do Coto e Terroso. Fase III. Citânia de Briteiros e Citânia de Sanfins. N.º 150261 - Linha incisa isolada. Organização decorativa: 8 34. Fase I Castro da Senhora da Guia, Baiões. São Pedro do Sul. Fase II. Castro do Coto e Terroso. Fase III. Citânia de Briteiros e Citânia de Sanfins. N.º 150287 - Organização decorativa: 650 35. Fase III. Citânia de Sanfins. N.º 150614 - Organização decorativa: 649 ou 650 – embora distinto no formato da ponta da punção 36. Fase III. Facha. Fase III. Citânia de Sanfins.
Considerando a dimensão da amostra agora em estudo, a qual condiciona a análise e as conclusões que daí se podem retirar, é, contudo, possível um vislumbre sobre a ocupação deste espaço desde momentos anteriores à presença da administração romana e da organização territorial e social daí decorrentes. Sendo assim, as limitações que são apontadas para os estudos de produção de “cerâmica castreja” para o Noroeste Peninsular 37, num sentido lato 38, e o Norte de Portugal 39 em particular, não podem deixar de ser tomadas em conta para a abrangência deste trabalho em concreto, pois acaba por o limitar uma vez mais. Reconhece-se, contudo, que na maioria dos sítios arqueológicos castrejos, a proliferação de fragmentos cerâmicos, muitos dos quais decorados, e morfologicamente muito distintos, impede o seu fácil estudo e sistematização 40. Verificou-se que estamos perante cerâmicas em tudo similares àquelas produzidas em contextos arqueológicos conectáveis com a denominada “Cultura Castreja”.
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Assim, podem-se observar tanto cozeduras oxidantes como, em maior número, redutoras 41, como alguns exemplares que deverão ter sido cozidos apoiados sobre a “boca”, em que podem ser observadas evidências dos dois tipos de ambiente, com a presença de oxigénio, ou não, no interior da câmara do forno. Se bem que as características da matériaprima, a argila e os desengordurantes, também representam, aqui, um papel relevante. É ainda possível observar processos de utilização que se encontram “gravados” no exterior dos recipientes, e algumas vezes também no interior, como de restos de materiais carbonizados, existentes apenas em negativo, que aderiram às paredes cerâmicas. Alguns fragmentos de coloração homogénea, cinzenta clara, podem ainda relacionar-se com processos da sua utilização em combustões que propiciaram a alteração, posterior ao seu fabrico, dos atributos das pastas com que os recipientes cerâmicos foram produzidos. Saliente-se que os acabamentos a que as superfícies das cerâmicas foram submetidas – alisamento no momento da produção - disfarçaram a existência de qualquer vestígio da utilização do torno. A homogeneidade do alisamento das superfícies dos diferentes fragmentos não permite constatar o meio através do qual foram produzidos - se manual, se o denominado “torno lento”. Se bem que a distribuição muito uniforme dos elementos não plásticos permita vislumbrar um processo de produção em que a pasta é trabalhada segundo um modelo muito homogéneo e sistemático. Quanto às formas recuperadas e que são passíveis de análise, nomeadamente bordos, foi possível perceber que estamos perante uma coleção em que os recipientes assumem os formatos típicos daqueles referenciados em estações arqueológicas caracterizadas como sendo da Idade do Ferro, conectadas com a “Cultura Castreja”. Para além das tipologias, também as características das pastas, tal como as descritas acima, e a sua forma de moldagem, tudo parece evidenciar um processo de produção manual, ou quando muito utilizando aquilo que habitualmente se designa por “torno lento”, o que também está em consonância com aquelas características tomadas como típicas da “Cultura Castreja” do Noroeste de Portugal e Peninsular. Nomeadamente os bordos, muitas das vezes espessados pelo exterior e de posição perpendicular (“horizontal”) em relação ao desenvolvimento que as paredes das peças apresentam. As peças são na maioria mais largas no diâmetro do bordo e depois teriam tendência para assumirem uma menor largura com o desenvolvimento do corpo do recipiente cerâmico. Isto ocorre tanto em recipientes de tamanhos maiores como nos de menor dimensão. Existe ainda toda uma outra gama de recipientes em que se pode observar uma tendência para formas mais fechadas, especialmente no que concerne ao diâmetro do seu bordo. Pode-se afirmar que estamos perante um conjunto que poderá ser datado de um momento anterior à presença romana neste local, se bem que existirão também casos de perduração de tradições de produção locais em momentos da presença e domínio romano deste espaço territorial 42.
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Metais Inés López-Dóriga
Durante
a
intervenção
na
muralha
de
Tongobriga,
foram
recuperados dois tipos de metais: objetos metálicos e resíduos do processo de trabalho do metal. Embora os metais recuperados se encontrem ainda em fase de estudo, já podemos avançar algumas características gerais. Os objetos metálicos que conseguimos identificar consistem em ligas cuja base principal é o cobre. Pelo contrário, os resíduos de trabalho de metal provêm principalmente do processamento de minerais de ferro (“hammerscales” e escórias) e revelam a existência de manufatura local. Os “hammerscales” recuperados são de dois tipos: gotas esféricas ocas e fragmentos resultantes do processo de martelagem ou lâminas finas. Este tipo de resíduos de trabalho revela a existência de processos locais de redução e forja através de martelagem sobre bigorna a temperaturas elevadas (entre 750 e 1200 oC: a temperatura de fusão do ferro, que só em época moderna foi alcançada, é de 1538 oC). Sabemos, graças a diversos indicadores paleoambientais, que a Idade do Ferro no Noroeste da Península Ibérica experimentou uma grande atividade metalúrgica que se refletiu na deterioração da qualidade do ar e no aumento da contaminação por metais pesados, a níveis que só voltaram a ser alcançados em época industrial moderna 43.
Paleobotânica Foram recuperados abundantes macrorrestos vegetais nas amostras de flutuação obtidas durante a intervenção na muralha, pertencentes a pelo menos 27 táxones diferentes: Tipo
Cereais
Leguminosas
Nome científico
Nome comum
Avena sp. Hordeum vulgare var. vulgare Secale cereale Triticum aestivum/durum Triticum cf. dicoccum Triticum spelta Triticum sp. Triticeae Panicum miliaceum Setaria italica Panicoideae Gramineae Genisteae
aveia cevada centeio Trigo nú farro espelta trigos cereal indeterminado milho-miúdo painço milho-miúdo/painço graminea indeterminada leguminosa silvestre indeterminada
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Ervas
Frutos de árvores
Caryophyllaceae Dianthus sp. Spergula sp. Silene sp. Compositae Raphanus sp. Carex sp. Labiatae Malva sp. Polygonaceae Rumex sp. Asterolinon linum-stellatum Galium sp. / Asperula sp. Quercus sp.
cariofiláceas silvestres cravo erva-aranha erva-de-leite compostas rábão-bravo carriços labiadas Malva-comum azedas/ervas-bastardas azeda linho-estrelado amor-de-hortelão bolota
Embora essas amostras se encontrem ainda em processo de estudo, podemos desde já apontar alguns resultados preliminares que confirmam os dados obtidos em estudos arqueobotânicos desenvolvidos em diferentes sítios do Noroeste peninsular da mesma cronologia que Tongobriga e que sugerem vários aspetos discutidos a continuação.
A agricultura cerealífera Constata-se uma grande abundância de cereais vestidos (Triticum spelta) e aparecem pela primeira vez os cereais de ciclo curto, milhomiúdo (Panicum miliaceum) y painço (Setaria italica). Se bem que estas são espécies típicas da agricultura da Idade do Ferro do Noroeste peninsular, o que aponta para um sistema agrícola com pelo menos duas colheitas de cereal por ano 44, existem ligeiras variações na abundância de umas espécies relativamente a outras 45, as quais, para além de refletir uma maior valorização de umas espécies em detrimento de outras por razões económicas, ecológicas ou culturais, também poderiam estar relacionadas com diferenças na forma de preparação ou na especialização dos contextos que foram alvo da recolha de amostras. O cultivo de trigos vestidos (Triticum spelta, nomeadamente), uma novidade na agricultura do Noroeste Peninsular de finais da Idade do Bronze e da Idade do Ferro, pode estar em relação com a necessidade de passar a cultivar áreas marginais que permaneciam sem ser cultivadas em períodos anteriores; e o incremento dos cultivos de cereais de ciclo curto (Panicum miliaceum, Setaria italica), que permitem duas colheitas por ano, pode indicar um maior sedentarismo 46. A espelta poderia ter sido utilizada para a alimentação humana ou para a forragem dos animais domésticos. A espelta é um trigo vestido (ao contrário do trigo comum, que é um trigo nu) que requeria um complexo processamento para ser usado para a alimentação humana (colheita, trilhado, ventilação, tostadura, descascamento, crivagem, e, finalmente,
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moagem até se transformar em farinha; para além do enfornamento, no caso de ser utilizado para fazer pão), mas que poderia ter sido preferido a outros tipos de trigo pelas suas qualidades ecológicas (os trigos vestidos adaptam-se melhor aos climas húmidos e solos pobres que os trigos nus). Só de forma pontual se documentam cevada vestida (Hordeum vulgare var. vulgare) e os trigos nus (Triticum “nudum”). Esta cevada não tem boas qualidades para ser convertida em pão, mas tem sido muito apreciada para a alimentação do gado doméstico e para a elaboração de cerveja. A elaboração de cerveja a partir do processo natural de fermentação dos grãos de cevada é uma prática conhecida na Europa desde a Idade do Bronze. Também eram muito utilizados dois tipos de milhos antigos (o milho-miúdo e o milho-painço), que nada têm a ver com o milho mais habitual nos campos de cultivo atuais, um milho de origem americana, só introduzido em Portugal há 500 anos. As vantagens destes tipos de milho, também muito frequentes em todo o Noroeste Ibérico na Idade do Ferro, sobre outros tipos de cereais, é o seu curto ciclo de vida que permite duas colheitas por ano, além da sua boa adaptação ao clima. Os cereais, uma vez colhidos, eram trilhados para desfazer as espigas e depois torrados para facilitar o descascamento e moagem dos grãos. Era durante a torragem, ou durante a cozedura, que ocorriam acidentes e os grãos caiam ao fogo, terminando carbonizados e permitindo que sejam recuperados pelos arqueólogos. Para além de abundantes elementos de cascas e palhas dos trigos, registam-se também abundantes fragmentos da palha dos cereais, revelando a existência de áreas de depósito de resíduos de várias das etapas de processamento dos cereais (trituração, descascamento). Aparecem também grãos de aveia (Avena sp.), mas na ausência de elementos de casca, é impossível determinar se se tratava da espécie cultivada (Avena sativa) ou de espécies silvestres que podiam formar parte do conjunto de ervas daninhas de outros cultivos (Avena fatua, Avena sterilis). O caso do centeio (Secale cereale) é semelhante, para além da sua presença em forma de dois grãos. Para além destas gramíneas, aparece uma série de espécies herbáceas silvestres (Caryophyllaceae, Compositae, Cyperaceae, Labiatae, Malvaceae, Polygonaceae, Rubiaceae) de diferentes tipos de espaços abertos, que muito provavelmente faziam parte do conjunto de ervas daninhas ou apareciam em ambientes ruderais, embora os seus múltiplos usos potenciais pudessem conduzir à sua recolha intencional e aproveitamento para diversos usos.
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As leguminosas Não temos testemunho da exploração de leguminosas domésticas na Idade do Ferro em Tongobriga. Só se registam algumas sementes indeterminadas e de prováveis arbustos silvestres (Genisteae), os quais podiam fazer parte da vegetação silvestre circundante (são das primeiras espécies a colonizar terrenos desflorestados) e/ou que podiam ser geridos de alguma forma (podas, queimas) para aproveitamento das suas ramas. Quanto à vegetação silvestre, destacam-se os arbustos de leguminosas (Genisteae), que indicam a existência de espaços desflorestados em abandono, mas nos quais se poderia fomentar a produção destes arbustos com vista ao seu aproveitamento para diversas finalidades (escovas, camas de gado, alimentação, corantes, fins medicinais...).
A arboricultura e a recoleção de frutos Temos evidências da exploração de bolotas (Quercus sp.) a partir da recuperação de vários elementos provenientes dos seus frutos. As bolotas são frutos ricos em taninos, em quantidades variáveis dependendo da espécie de árvore de que procedem. A maior parte das bolotas são comestíveis ou mais digeríveis depois de terem sido tratadas para reduzir os taninos. Muitas das formas que se conhecem de desintoxicação incluem o processamento com fogo (tostadura, fervura...). Mas a torra também servia para conservar os frutos ao longo de vários meses. Era durante este tratamento com fogo que os frutos podiam cair acidentalmente nas lareiras, preservando-se dessa forma no registo arqueobotânico. A exploração da bolota pelos povos pré-romanos é um facto bem conhecido graças à sua referência nas fontes clássicas (por exemplo, Estrabão). As árvores produtoras de bolotas (Quercus spp.), entre as quais podiam estar o carvalho, a azinheira, o sobreiro, etc.., eram, possivelmente, não cultivados, mas geridos de alguma forma para aumentar a sua produtividade (podas, por exemplo).
CRONOLOGIAS E TÉCNICAS DE CONSTRUÇÃO
Construção e reconstruções António Manuel Lima
O circuito amuralhado que é aqui objeto de análise, é um notável exemplo de um palimpsesto, na medida em que a muralha que hoje observamos resulta de sucessivas reconstruções feitas ao longo de mais de dois mil anos, sendo que a matéria-prima utilizada parece ter sido sistematicamente a mesma.
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Sinal evidente de uma repetida reciclagem dos seus materiais, é a quantidade diminuta de derrubes, quando comparados com o que se costuma observar em estruturas similares, por norma localizadas em locais de acentuado declive, o que geralmente leva à formação de uma espessa camada de pedras sobre a encosta, que aqui não existe. Uma parte dessas sucessivas reconstruções - certamente limitadas ao simples reposicionamento de elementos caídos ou deslocados, sem que, entretanto, se desse qualquer processo de sedimentação - não deixou marcas que, no registo arqueológico, sejam reconhecidas como ações distintas umas das outras. Outra parte, corresponde a intervenções de fundo que são efetivamente reconhecíveis. Umas são resultantes de alterações estruturais sem modificação da sua função, que se refletiram, por exemplo, na própria técnica construtiva da muralha e/ou no tipo de aparelho usado para conformar a sua face externa. Outras ainda, resultaram da alteração da própria função da estrutura que, depois de ter servido intuitos defensivos e de demarcação simbólica, continuou a ter serventia como muro de contenção de terras. O que o registo arqueológico nos permitiu perceber sobre a cronologia dessas sucessivas intervenções, no que às suas fases antigas diz respeito, pode-se resumir ao seguinte: - A julgar, sobretudo, pela notável sincronia de um conjunto de datações radiocarbónicas obtidas em diferentes contextos e localizações, incluindo na própria muralha, os finais do século II a.C. / inícios do século I a.C. devem ter sido palco de grande atividade construtiva dispersa por vários pontos do perímetro habitado de Tongobriga. Tendo em conta, sobretudo, as datações de C14 obtidas a partir de sementes recolhidas em contexto fechado no cerne da estrutura defensiva pertencendo, portanto, a sedimentos pré-existentes, se bem que provavelmente não muito distantes no tempo relativamente à sua inclusão num contexto fechado, facto que impediu que outros elementos posteriores se lhes juntassem – poderemos deduzir a construção de uma primeira estrutura, da qual pouco sabemos, exceto que o seu miolo central – senão mesmo a sua totalidade - seria constituído sobretudo por terra, à semelhança do que se observa nos sistemas defensivos mais arcaicos 47. A mais recente dessas datações – a qual nos oferece um terminus post quem para essa primeira construção, que não é seguramente a que hoje observamos – corresponde a 2102 +/- 27 BP ou 194 - 51 cal BC a 2σ (D-AMS 009827). Trata-se de uma data muito semelhante à obtida numa lareira associada a certa construção de planta circular no interior deste perímetro amuralhado (2110 +/- 70 BP ou 360 cal BC - 22 cal AD a 2σ (Beta 186064) e também idêntica a uma outra obtida nas terras em que foi aberta a canalização de drenagem de águas de uma domus (2083 +/- 26 BP ou 181 - 41 cal BC a 2σ (D-AMS 009830).
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A datação desta primitiva estrutura defensiva, considerada em conjunto com as restantes datações, reforça a possibilidade de o povoado fortificado que mereceu o nome de Tongobriga ser uma fundação ocorrida na sequência das campanhas de Decimus Iunius Brutus, de cognome “o Galaico”, em 138–136 a.C.. Se assim foi, terá sido dotada de uma muralha nos primeiros anos do século I a.C., ou mesmo, ainda no último terço do século II a.C.. Fosse qual fosse a sua configuração (aparentemente teria o mesmo trajeto das que lhe sucederam) e a sua constituição, terá, desde o seu início, delimitado o perímetro habitado de Tongobriga, tendo, como tal, um sentido “pomerial” semelhante ao que os romanos lhe dariam mais tarde. Mais tarde, já em pleno séc. I a.C. e nas primeiras décadas da nossa era, a muralha de Tongobriga terá adquirido a forma de uma construção pétrea maciça, que foi objeto de várias reconstruções, pois os seus paramentos não revelam um aparelho de construção uniforme, antes se assemelhando a uma “manta de retalhos”, embora os diferentes “retalhos” não aparentem ser cronologicamente muito distantes uns dos outros. Para além das reconstruções – algumas delas, provavelmente, simples reparações – que se traduziram em alterações pontuais no aparelho construtivo patente na sua face externa – a muralha de Tongobriga revelounos, no decurso desta intervenção, uma reconstrução bem mais percetível no registo arqueológico, embora não haja qualquer evidência de que ela tenha tido por alvo todo o seu perímetro, podendo ter incidido apenas num pequeno troço que necessitou de obra. Com efeito, foi possível identificar uma intervenção na face interna da muralha, que foi parcialmente reconstruída sobre terra, ao contrário do que sucede no resto do seu percurso. No que diz respeito aos seus paramentos, apesar da diversidade de técnicas que revelam, há várias características que se mantêm durante toda a longa vida da muralha. Eis as reflexões que a sua análise nos suscita: a) A muralha de Tongobriga tem, na sua face exterior, e logo desde a sua primeira fiada de pedras, um acabamento do trabalho de pedreiro que revela ser intenção dos seus construtores que a mesma ficasse à vista desde a base, assente diretamente sobre a rocha natural, sem vala de fundação ou sapata, uma ausência que nos impede de obter cronologias finas de construção e reconstrução; b) Apesar de o declive não ser exageradamente pronunciado, é notória a pressão das águas infiltradas no subsolo e do volume de terra acumulado contra a sua face interna, o que se traduziu na notória deformação de alguns troços, e que explica as frequentes necessidades de reconstrução desde a Antiguidade. Essa pressão, por sua vez, resulta do facto de (com exceção da base do miolo da muralha, no qual se podem documentar sedimentos que se pressupõem anteriores – ou, quando muito,
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contemporâneos da construção da mesma), toda a sedimentação se ter feito num momento posterior à construção e, até mesmo, ao abandono da primitiva função da muralha; c) Toda a pedra utilizada nas duas faces recebeu acabamento final a pico, o que permitiu um recorte mais fino das suas formas e, consequentemente, um melhor ajustamento entre os elementos pétreos, dispensando as cunhas e argamassas que eram frequentes nas muralhas mais antigas, antes de se generalizarem os instrumentos de trabalho em ferro; d) Na sua face interna, percebe-se que, em determinadas áreas, o afloramento granítico foi quebrado para lhe ser adossada a muralha. Dada a irregularidade da rocha granítica, noutros pontos a estrutura foi sobreposta ao afloramento, que passou a ser parte integrante da mesma. e) Como no troço que foi objeto de trabalhos, a intervenção se cingiu à zona imediatamente adjacente à muralha, não nos podemos pronunciar sobre a eventual existência de dispositivos complementares de defesa, nomeadamente valados ou fossos. Topograficamente, não é percetível qualquer irregularidade que denuncie esse tipo de trabalhos, embora esteja perfeitamente documentada a existência de pelo menos um fosso defensivo a acompanhar pelo exterior este mesmo circuito, nomeadamente no seu perímetro norte e, provavelmente, também na secção sudoeste. f)
Não existem quaisquer indícios de que o perímetro amuralhado
tenha sido alterado aquando das suas sucessivas reconstruções. Pelo contrário, tudo aponta para que esse perímetro tenha sido mantido até ao final do seu tempo útil. O que equivale a dizer que os vários troços retilíneos desta muralha já foram assim delineados desde o seu desenho inicial. Com efeito, uma das razões que nos levaram a detetar a muralha foi o facto de ela se deixar revelar, à superfície, por ter uma orientação muito retilínea, ao contrário de todos os elementos topográficos presentes na mesma encosta, os quais se adaptam muito melhor às curvas de nível. A existência de troços construídos em linha reta, diretamente sobre a rocha, é comum a outras citânias – vg., a muralha nº 2 da Citânia de Sanfins 48 – e em contextos cronologicamente semelhantes; g) O alinhamento dos principais eixos viários já identificados no tecido urbano de Tongobriga, sugere a existência de quatro portas neste perímetro amuralhado. Uma dessas portas coincide com a estrada atual e o troço que foi intervencionado, o que também faz sentido dada a necessidade de aceder, pelo trajeto mais curto possível, à zona do balneário castrejo e posteriores termas romanas.
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Composição gráfica múltipla, sobre fotografia aérea e levantamento topográfico. A imagem revela os principais eixos viários do povoado a intersetarem-se no centro do perímetro amuralhado (2015, Digivision©, ilustração de Álex Salmerón).
Entrada norte no perímetro amuralhado (2020, DRCN©, fotografia de António Manuel Lima).
Entrada sul no perímetro amuralhado (2020, DRCN©, fotografia de António Manuel Lima).
Porém, a possibilidade de haver uma porta na zona intervencionada não foi confirmada pelos vestígios encontrados e não é corroborada pelo facto de não se documentarem os habituais espessamentos ou alargamentos que costumam existir nas alas, junto às entradas 49. h) A muralha que, pelo menos desde a última centúria antes da era cristã, circunda o perímetro habitado de Tongobriga, é constituída por dois paramentos externos de pedra aparelhada, afeiçoada a pico, com o interior preenchido por pedra mais pequena. Muita dessa pedra é claramente um subproduto do trabalho de pedreiro, já que apresenta um perfil alongado, pouco espesso, e irregular, com arestas vivas que revelam terem sido aproveitamento secundário do afeiçoamento das pedras usadas nos paramentos.
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Apresenta
uma
espessura
regular que ronda os 1,7 metros, similar às suas congéneres de Sanfins e Briteiros (entre 1,3 e 1,5 metros, respetivamente), embora não sejam percetíveis linhas de reforço duplo como acontece nas principais muralhas que rodeiam estas duas últimas citânias. i) Quanto aos paramentos propriamente ditos, como já foi referido, não são uniformes, revelando as sucessivas reconstruções de que foram alvo. Aparelhos de construção. Aparelho poligonal irregular (2009, DRCN©, fotografia de António Manuel Lima).
Predomina um aparelho poligonal irregular, também semelhante às suas congéneres (em especial, a segunda e a terceira de Sanfins), como elas com um alinhamento predominantemente ortogonal que se distancia dos perímetros irregulares mais antigos), apontando como elas para uma construção do século I a.C.
Porém, há pequenos excertos de paramentos que revelam outros aparelhos
de
construção.
O
mais
expressivo é um tipo de aparelho Aparelhos de construção. Aparelho helicoidal (2009, DRCN©, fotografia de António Manuel Lima).
helicoidal que se aproxima de outros, ditos de construção em “espinha”, também presentes noutros grandes castros desta região, na mesma época, como por exemplo, no castro do Monte Aradros, em Alpendorada.
Cronologicamente, não se deve afastar do aparelho anterior em mais do que umas poucas décadas, de qualquer das formas também enquadrável na Fase IIIa de Armando Coelho Ferreira da Silva 50. Desconhecemos a amplitude da reforma construtiva que enquadrou o uso deste tipo de aparelho, se é que não se tratou de uma intervenção pontual num troço de muralha que tenha cedido à pressão da água e da terra. Em determinados setores, infelizmente coincidentes com partes em que o paramento está reduzido a apenas uma fiada de pedras, ele parece ser constituído por fiadas isódomas de pedras bem esquadriadas, retangulares, com juntas quase perfeitas, a fazer lembrar já os circuitos amuralhados das urbes de época romana plena, cronologicamente enquadrável na dinastia flávia ou mesmo um pouco posterior. Porém, a regularidade destes pequenos segmentos, ainda para mais circunscritos à base da estrutura, poderão antes de mais estar relacionados com a necessidade de a dotar de alicerces sólidos e bem-adaptados ao afloramento granítico.
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Abandono e destruição Quanto ao abandono e destruição da muralha de Tongobriga, entre muitas dúvidas, algumas certezas se podem apontar. É certo que ela se manteve visível muito para lá das circunstâncias que presidiram à sua construção. E o facto de ela se ter mantido, invariavelmente, como circuito perimetral de um espaço que foi habitado de forma contínua, pelo menos, até ao século VI, leva-nos a acreditar que a mesma continuou, de maneira muito forte, a marcar a fisionomia do espaço urbano até ao Baixo Império ou mesmo até à Antiguidade Tardia. Mesmo que nestas últimas épocas, embora mantendo a sua vocação de pomerium, já não tenha merecido intervenções de fôlego em matéria de manutenção ou reconstrução. O troço que foi objeto de intervenção estava perfeitamente visível nos séculos XV e XVI, conforme atestam a toponímia e a documentação da época. Como já vimos, assim se mantinha no século XVIII, sendo que nas célebres “Memórias Paroquiais” de 1758 o Padre Cura da freguesia tinha plena noção da estrutura que rodeava a aldeia. Pelo menos em parte, o topo da muralha estava visível no reinado de D. Luís I (1861 – 1889), do que é prova uma moeda deste rei, encontrada diretamente pousada sobre o miolo da muralha. É provável que o momento da deposição da moeda sobre a estrutura defensiva primitiva corresponda à obra de construção do muro de socalco que se apoiou sobre ela. Uma cronologia que é compatível com a época em viveu a pessoa que deu o nome que ainda hoje a propriedade tem (“Olival do Leandro”). Assim sendo, temos perfeita noção do momento em que este troço da muralha de Tongobriga passou a estar oculto, para não mais deixar de o estar até à sua redescoberta no séc. XXI.
As datações numéricas Inés López-Dóriga
Referencia
UE
Método
Material
Δ13C (AMS)
pMC
1σ erro
Data 14C
Data calibrada (2σ)1
M4
14C AMS
Semente (Triticum spelta)
-22.6 ‰
75.69
0.27
2237 ± 29
388 – 205 BCE
Laboratório D-AMS 011940 D-AMS 009827
6
14C AMS
Semente (Triticum spelta)
-19.6 ‰
76.98
0.26
2102 ± 27
194 – 51 BCE
D-AMS 011939
6
14C AMS
Sementes (Setaria italica)
-4.4 ‰
76.6
0.41
2141 ± 43
357 – 50 BCE
74.97
0.32
2314 ± 34
471 – 230 BCE
2110 ± 70
360 BCE – 22 CE
D-AMS 011938
5
14C AMS
Sementes (Panicum miliaceum)
-6.1 ‰
Beta-186064
471
14C
Carvão (n.n.)
-25.6 ‰
1
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As datas foram calibradas com a versão em linha do programa OxCal 4.2 (atualizado a 05.09.2014 ), com a curva IntCal1352. 51
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Funções e significados António Manuel Lima Como bem lembra Armando Coelho Ferreira da Silva 53, é sobretudo na segunda metade do último milénio a.C., mas em época anterior às campanhas de Decimus Iunius Brutus, que as muralhas castrejas mais se revelam com uma função essencialmente defensiva, possivelmente fruto de fortes tensões locais e regionais. Chegam a atingir mais de cinco metros de espessura e a ser constituídas por dois muros paralelos (“murus duplex”), coadjuvados por sistemas complementares de defesa, tais como fossos e valados, por vezes múltiplos, para além de outras alternativas defensivas, como os campos de “pedras fincadas”, que parecem cingir-se a uma região em concreto. Na perspetiva que nos é dada pelo troço que foi objeto de intervenção arqueológica, não parece ser esse o caso da muralha de Tongobriga. A sua reduzida espessura, a ausência (no troço estudado) de mecanismos complementares de defesa, a sua fragilidade estrutural – bem patente nas sucessivas necessidades de reconstrução – e o declive pouco pronunciado em que se implanta – o que diminui consideravelmente a sua eficácia defensiva – leva-nos a ver nesta muralha, pelo menos na sua configuração final, uma função essencialmente simbólica, de demarcação de um espaço, embora este e os outros possíveis circuitos amuralhados pudessem ter outras aplicações mais práticas, tais como, dependendo do circuito em questão, a conformação de um espaço sagrado, a delimitação de um espaço habitado e, por fim, a definição de um espaço protegido, dentro do qual as atividades económicas inerentes à sobrevivência do povoado podiam ter lugar sem grandes sobressaltos. Se, na sua origem, a muralha poderá ter representado, de facto, a criação de um perímetro de segurança para as populações que habitaram no seu interior, a sua permanência em época romana só pode ser explicada dentro do domínio do simbólico, mais próximo, portanto, dos critérios que levaram à criação de urbes amuralhadas em plena época imperial.
No entanto, como já foi referido, há outras secções deste mesmo circuito amuralhado que apontam em sentido contrário, isto é, no sentido de ela ter constituído um elemento relevante na proteção e defesa efetiva do povoado. Com efeito, há indícios da presença de um fosso defensivo, quer na secção norte, quer na secção sul da muralha. O primeiro é bem percetível na topografia local. Situa-se na área em que se abriria um dos acessos ao povoado e que ainda hoje constitui o principal acesso, pelo lado norte, à aldeia do Freixo. Nunca foi objeto de intervenções arqueológicas, mas o trajeto do profundo valado que aí encontramos, acompanhando pelo exterior o traçado da muralha e complementando o declive natural do terreno, não deixa grandes dúvidas.
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O segundo é mais problemático, embora constitua uma possibilidade real. Referimo-nos, em concreto, ao profundo fosso em cujo fundo, a partir de finais do séc. I d.C., foi aberta uma canalização destinada a escoar as águas sujas do edifício termal flaviano. Essa canalização, de dimensões relativamente reduzidas, não justifica a dimensão do fosso em que se encontra. Este último acompanha, pelo exterior, o trajeto da secção sul da muralha e poderia ter servido, num primeiro momento, como complemento defensivo da mesma.
Porém, a verificação arqueológica desta possibilidade terá de ser tentada numa parte do fosso que não tenha servido de esgoto das termas, pois a sua utilização como tal certamente implicou o esvaziamento integral de possíveis sedimentações anteriores.
Provável fosso, circundando tramo Norte da muralha de Tongobriga, sobre o qual hoje existe um caminho (2020, DRCN©, fotografia de António Manuel Lima).
Trabalhos de conservação e restauro José António Pereira Os trabalhos de conservação e restauro da muralha de Tongobriga decorreram entre 13 de abril e 24 de julho de 2015, foram executados pela empresa Novarqueologia, Lda. em estreita coordenação com os serviços da Estação Arqueológica do Freixo / Direção Regional de Cultura do Norte, no âmbito do projeto de investigação em vigor para o local, aprovado pela Direção-Geral do Património Cultural. A sua execução correspondeu à concretização das ações 1.2 e 3.3 - respetivamente “Execução de trabalhos de recuperação de terrenos arqueológicos” e “Remoção de resíduos relacionados com intervenções arqueológicas em terrenos da Área Arqueológica do Freixo” - de um projeto copromovido pela Direção Regional de Cultura do Norte e pela Câmara Municipal de Marco de Canaveses, comparticipado pelo ON.2 (“O Novo Norte”) através do Programa PROVERE. Os trabalhos previstos na ação 1.2, em especial os constantes da sua alínea b), foram executados respeitando os princípios constantes da
Fosso que circunda o tramo sul da muralha de Tongobriga. Serviu como esgoto do edifício termal romano (2020, DRCN©, fotografia de António Manuel Lima).
legislação em vigor e as principais convenções nacionais e internacionais aplicáveis, com especial realce para a Lei nº 107/2001 de 8 de Setembro, que estabelece as bases da política e do regime de proteção e valorização do património cultural; a Carta de Cracóvia sobre os Princípios para a Conservação e o Restauro do Património Construído – Conferência Internacional sobre Conservação, de 2000; e a Convenção Europeia Para a Proteção do Património Arqueológico (Revista) - Convenção de Malta, de 1997.
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Objetivos da intervenção A intervenção levada a cabo obedeceu à intenção de atingir duas ordens de objetivos: a)
A necessidade premente de pôr cobro a um processo de
lenta, mas contínua degradação de uma estrutura que, desde que foi posta a descoberto a partir de 2005, revelou fragilidades que requeriam uma intervenção de consolidação, para a qual a única alternativa era o reenterramento. Esta última possibilidade era, a todos os títulos, indesejável, dado que a muralha é uma estrutura essencial para a compreensão do sítio arqueológico, e o seu tramo sul, sobre o qual incidiu a intervenção de conservação e restauro, era o único que estava já escavado e se encontrava integralmente situado em terrenos que já são pertença do Estado Português. b)
Tratando-se da única estrutura arqueológica de Tongobriga
cuja situação topográfica e monumentalidade permitem a sua observação a partir da estrada nacional sem necessidade de subir à colina onde Tongobriga se implanta, a recuperação da muralha passaria a constituir uma mais-valia ímpar para a promoção turística do sítio arqueológico e um motivo de atração dos potenciais visitantes que, de passagem pela região, não se apercebem da monumentalidade das ruínas de que podem usufruir em Tongobriga.
Metodologia O plano de trabalhos previa a seguinte metodologia, que foi integralmente posta em prática: a) Registo cartografado dos diversos tipos de problemas do ponto de vista da conservação e ações desenvolvidas promovendo-se o diagnóstico das patologias evidenciadas. b) Registo fotográfico digital pormenorizado do estado de conservação atual das estruturas, do processo dos tratamentos e o seu aspeto final, uma vez concluídos os trabalhos, em suporte digital, de elevada qualidade de imagem. c) Registo gráfico do tramo de muralha a intervencionar, antes e depois da remoção de elementos soltos avulsos, com registo sistemático de todas as ações e sua implantação no levantamento topográfico. O desenho integral, à escala 1:20 da planta e dos alçados, bem como o levantamento topográfico e fotográfico estavam já integralmente executados. O mesmo se passa relativamente a plantas, secções e cortes estratigráficos das intervenções arqueológicas previamente realizadas na área. d) Remoção de materiais estranhos às estruturas através de limpeza mecânica simples, a seco, com cerdas macias para remoção de materiais vários, soltos e aderidos à superfície, e outros resíduos.
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157
e) Erradicação de plantas vasculares dos paramentos e planos horizontais das zonas a intervencionar através de remoção mecânica das mesmas. Em caso de aderência forte da vegetação infestante às estruturas, procedeu-se à sua remoção prévia por meios químicos através da aplicação localizada de herbicida não tóxico. f) Remoção/seleção dos elementos pétreos tombados, com atenção ao material pétreo derrubado referente aos paramentos internos, externos e preenchimento interior, para posterior colocação. Também neste caso a remoção de materiais pétreos foi realizada em articulação com a equipa que executou a escavação arqueológica que antecedeu os trabalhos de restauro. g) Reposicionamento de elementos deslocados ou soltos recorrendo a pequenos desmontes, sempre que necessário para correção de desalinhamentos. h) Estabilização, reintegração e restauro de troço de muralha com 55 metros de comprimento do troço sul das muralhas de Tongobriga, a uma cota regular aferida à cota mais elevada existente, com demarcação entre o edificado e o restaurado, mantendo as características dos aparelhos de construção em todos os panos, segundo as perspetivas de um exercício de arqueologia experimental. i) Utilização de materiais compatíveis, nomeadamente pedra com as mesmas características petrográficas. Foi sempre respeitado o aparelho construtivo da estrutura e o seu aspeto geral original. Foram utilizados materiais de construção de natureza idêntica aos originalmente aplicados. Foram igualmente utilizados unicamente os materiais decorrentes dos derrubes, à exceção do aporte pouco expressivo de elementos pétreos de origem desconhecida, mas que respeitavam a tipologia dos silhares utilizados na construção da muralha. Por esta razão, a altura dos alçados a repor ficou condicionada à quantidade de pedra existente. j) Estabilização, reintegração e restauro do tramo referido no número anterior, com demarcação entre o edificado e o restaurado, mantendo as características dos aparelhos originais de construção em todos os panos. A demarcação entre o original e o restaurado foi efetuada com pedra exógena (xisto) colocada nas juntas que delimitam pelo exterior a alvenaria original.
Critérios de intervenção a) Registo científico A intervenção foi precedida de intervenções arqueológicas realizadas pelos serviços da Estação Arqueológica do Freixo que permitiram uma caracterização da estrutura e o seu enquadramento cronológico, apoiado na análise estratigráfica, no estudo dos materiais e nas datações
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por radiocarbono, e que contribuíram para fundamentar as opções de conservação e restauro, nomeadamente no que respeita às técnicas de construção e ao tipo de aparelho. b)
Conservação e Restauro
A intervenção realizada foi conduzida tendo como preocupação prioritária o respeito pela integridade física e estética do conjunto do monumento numa lógica de conservação e valorização, concentrada na eliminação da vegetação infestante, remoção de pedra solta e limpeza, análise dos métodos construtivos e limpeza das estruturas pétreas e só posteriormente da reposição dos elementos derrubados, através do preenchimento de lacunas com o objetivo último da restituição dos aspetos formais e estéticos ao conjunto. De igual forma, todas as intervenções se pautaram tendo em conta os princípios éticos de reversibilidade, da intervenção mínima, da documentação pela investigação histórica e pelo registo da intervenção; da compatibilidade dos materiais e da autenticidade do monumento, entre outros. As técnicas e os materiais utilizados foram escolhidos e aplicados tendo em consideração a sua compatibilidade com o conjunto a tratar, e a sua estabilidade no tempo. Definiu-se desde início um critério de intervenção minimalista, essencialmente conservativa, sendo que a edificação em restauro recorreu apenas ao material pétreo existente no local. Foram evitadas as intervenções e a utilização de produtos que modificassem definitivamente os materiais constituintes do conjunto, quer na sua composição, quer no seu aspeto. As reconstituições ou preenchimento de lacunas não modificaram nunca o aspeto original do monumento, no que concerne à sua planta original, nem adulteraram a sua técnica construtiva. As reconstituições ou reintegrações tiveram sempre o intuito de serem identificáveis, a fim de se evitarem confusões miméticas ou falsificações, mas sem, contudo, quebrarem a unidade harmoniosa do conjunto. Para a identificação das reconstituições/reconstruções recorreuse à colocação de uma sinalização com pedra de xisto, exógena do local, facilmente identificável nos alçados da muralha.
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Diagnóstico Os trabalhos foram precedidos de um diagnóstico preliminar de avaliação sumária do estado de conservação e potencial de valorização do monumento em apreço. O conjunto encontrava-se genericamente em muito mau estado de conservação, sendo que os problemas principais eram estruturais em todos os tramos da muralha. Esta apresentava pouca expressão em altura, lacunas no seu interior, erosão superficial do material pétreo, paramentos das estruturas pétreas com inclinação acentuada e derrubes de grande dimensão. As principais patologias identificadas foram as seguintes:
a) Colonização de vegetação de médio e grande porte: Forte presença de vegetação de médio e grande porte que promove a degradação das estruturas e dos seus paramentos pétreos por ação das raízes e do seu desenvolvimento não controlado na área dos elementos construtivos.
b) Colonização Biológica: O sítio goza de uma exposição muito forte à intempérie, bem como a maioria das estruturas visíveis, o que facilita o aparecimento de colonização biológica à base de fungos, líquenes e musgos. A forte exposição solar e principalmente os elevados índices de humidade, principalmente no inverno, promovem o desenvolvimento destes organismos que interferem com a expressão estética do conjunto, mas sobretudo a longo prazo, com as alterações físico-químicas à superfície dos elementos pétreos os quais, conjugados com outros mecanismos de degradação, como o gelo/degelo, alteram fortemente estes materiais e promovem a sua degradação.
c) Derrubes e deformações das estruturas pétreas: A erosão provocada sobre as estruturas pétreas era muito evidente, deixando em muitos casos os panos de muralha com apenas uma fiada de pedras visível, e muitas vezes quase impercetível, dado o avançado estado de degradação. Não obstante a fraca extensão em altura, eram observáveis algumas deformações da Muralha de Tongobriga, tramo sul. Vista geral. Em primeiro plano, troço já restaurado (2015, Novarqueologia©, fotografia de José António Pereira).
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estrutura, que na maioria dos casos, cedeu à pressão de terras do interior.
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Muralha de Tongobriga, tramo sul. Identificação de problemas a corrigir. Deslizamento de silhares (2015, Novarqueologia©, fotografia de José António Pereira).
Muralha de Tongobriga, tramo sul. Identificação de problemas a corrigir. Vegetação (2015, Novarqueologia©, fotografia de José António Pereira).
Muralha de Tongobriga, tramo sul. Identificação de problemas a corrigir. Vegetação (2015, Novarqueologia©, fotografia de José António Pereira).
Muralha de Tongobriga, tramo sul. Identificação de problemas a corrigir. Muro de suporte / socalco que apoia na muralha original (2015, Novarqueologia©, fotografia de José António Pereira).
Muralha de Tongobriga, tramo sul. Vista geral (2015, Novarqueologia©, fotografia de José António Pereira).
Muralha de Tongobriga, tramo sul. Identificação de problemas a corrigir. Desalinhamento provocado pelo peso das terras que apoiam na muralha pelo interior (2015, Novarqueologia©, fotografia de José António Pereira).
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Descrição dos Trabalhos Os trabalhos de conservação e restauro relativos a esta intervenção decorreram entre 13 de abril de 2015 e 24 de julho de 2015. Participaram nos trabalhos José António Pereira, arqueólogo e conservador/restaurador, com codirecção científica; Rosa Salvador Mateos (arqueóloga), Inês LópezDoriga (arqueóloga), Marta Queirós (topógrafa), Hélder Moura (conservador restaurador), Inês Bernardino (Técnica de Arqueologia) e Joaquim Ferreira (operário). Participaram ainda nos trabalhos, na sua fase final, no âmbito da modelação do terreno e selagem das áreas de escavação, os operários da Estação Arqueológica do Freixo.
Registo O registo gráfico do tramo de muralha a intervencionar, antes da intervenção, bem como o levantamento topográfico, estavam já integralmente executados na sequência das intervenções arqueológicas que antecederam os trabalhos de Conservação e Restauro. O mesmo se passa relativamente a plantas, secções e cortes estratigráficos das intervenções arqueológicas previamente realizadas na área. Foi sobre estes registos que se cartografaram as patologias evidenciadas com vista à definição da estratégia de abordagem que conduzisse ao seu tratamento de forma sistemática.
308.32
30 9. 35 30 9. 20
30 7
.
2 9.
30 04 9,
.3
8 30
9 30
.8
5
6 9.
42
30
9. 30
09
30 9. 29
30 20 9.
8 30 0
8 30
.7
9. 30
.6 6
30
22
8. 73
30
0 ,8
8 30
50
8 30
9. 2 .8 30
9. 30
9, 00
52
8 30 1
8. 30
.5
11
30 8. 31
304.96
308.27
0
Planta e alçados da muralha de Tongobriga antes da intervenção de conservação e restauro (2015, DRCN©, desenhos de António Freitas).
5m
Durante os trabalhos de conservação e Restauro, com vista à colocação de um sistema de drenagem, foi necessário proceder a mais escavações arqueológicas até atingir as cotas pretendidas, sendo que os registos gráficos foram sendo acrescentados, à medida que se procedeu a mais escavações, as quais decorreram em simultâneo com os trabalhos de conservação e restauro. Os trabalhos de registo, iniciaram-se, por isso, com o registo fotográfico integral da estrutura antes da intervenção, quer numa perspetiva de registo documental, quer numa perspetiva de diagnóstico, ou
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de utilização para processamento dessas imagens no âmbito de trabalhos de reconstituição virtual e fotogrametria. Numa perspetiva de registo documental da intervenção, procedeuse à recolha de imagens gerais e de pormenor de toda a estrutura que evidenciassem sobretudo o traçado, a técnica construtiva e o grau de degradação da muralha. Na perspetiva de registo para diagnóstico, o registo fotográfico incidiu sobretudo na obtenção sistemática de imagens que evidenciassem todas as patologias inicialmente enumeradas de forma a obtermos a situação inicial e final do tratamento dessas patologias. Já numa perspetiva do tratamento digital das imagens para obtenção de um modelo digital e fotogramétrico da estrutura, procedeu-se à recolha de imagens que permitissem tirar partido de todas as potencialidades que os atuais métodos de reconstituição virtual permitem realizar ao nível do processamento de modelos digitais e de levantamento fotogramétrico, quer da ruína, quer do resultado final, após reconstituição volumétrica. Com vista a utilização futura em trabalhos de divulgação, foi ainda efetuado o registo em vídeo com recurso a um drone, quer no início dos trabalhos, após limpeza da vegetação, quer pontualmente durante os trabalhos, quer no final.
Limpeza Seguiram-se os trabalhos de remoção de vegetação de toda a área a intervencionar. Foi feita uma aplicação pontual de herbicida não tóxico (“Roundup”, da marca Monsanto) para eliminação de alguma vegetação rasteira e plantas vasculares dos paramentos e planos horizontais, a que se seguiu a remoção mecânica com utilização de enxada e colherim. Finalmente, foi efetuada uma limpeza das pedras da muralha que continham musgos e líquenes, de forma simples, a seco e com cerdas macias para remoção dos elementos infestantes e de outros materiais vários, soltos e aderidos à superfície. Após esta limpeza foi efetuado um novo registo sistemático dos diversos tipos de problemas do ponto de vista da conservação e ações desenvolvidas promovendoTrabalhos de limpeza e remoção de vegetação (2015, Novarqueologia©, fotografia de José António Pereira).
se o diagnóstico das patologias evidenciadas, agora em maior detalhe.
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Aspeto após limpeza (2015, Novarqueologia©, fotografia de José António Pereira).
Pormenor do miolo da muralha após limpeza (2015, Novarqueologia©, fotografia de José António Pereira).
Remoção de elementos descontextualizados A remoção manual dos derrubes no tramo de muralha sujeita a trabalhos ocorreu, quase na sua totalidade, em fase anterior à intervenção de conservação e restauro, em função dos trabalhos de escavação arqueológica que a antecederam. Quase Vista geral após limpeza (2015, Novarqueologia©, fotografia de José António Pereira).
todos os elementos pétreos resultantes da escavação arqueológica tinham sido colocados a sul deste troço de muralha, junto à face externa, pelo que a remoção de derrubes foi pontual, e traduziu-se sobretudo na remoção de algumas pedras do miolo, que pela vegetação que existia por debaixo das mesmas, se percebia que estavam claramente descontextualizadas. Nesta fase de trabalhos, aproveitou-se para efetuar uma seleção dos silhares resultantes dos derrubes que apresentavam pelo menos uma face trabalhada e permitiam ser aproveitados para a reconstituição volumétrica. Nesta seleção, teve-se em conta as características geométricas dos silhares, já que se percebeu que no conjunto encontrávamos silhares claramente afeiçoados em época romana. Após a limpeza e remoção dos derrubes verificou-se que apesar do elevado estado de degradação, o traçado da muralha era percetível em praticamente toda a extensão do troço intervencionado, quer pelo interior como pelo exterior, ainda que menos conservado em alçado na face interior, com menor expressão em altura, em resultado do declive do terreno, mas também do tipo de aparelho, menos cuidado, e por isso, mais propício aos desmoronamentos. Nas zonas em que se notavam ausências de silhares era possível aferir o alinhamento da estrutura pelos negativos dos silhares em falta, escavados no afloramento rochoso.
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Correção de deformações Ao nível estrutural, um dos principais problemas diagnosticados foi o abaulamento que a estrutura evidenciava sensivelmente a meio do troço intervencionado. Este abaulamento terá sido provocado pela pressão sofrida pelo peso das terras na face interna da estrutura, pois, na atualidade, o troço de muralha intervencionado funcionava também como muro de suporte das terras do campo de cultivo a norte da mesma, ainda que, como se refere anteriormente, tenha sido adossado à estrutura, pelo seu lado exterior, um muro de suporte moderno, visível ao longo de toda a estrutura. Ao nível do restauro, a intervenção iniciou-se por isso com o desmonte parcial dos elementos pétreos que evidenciavam deslocamento da sua posição inicial, com vista à correção deste problema estrutural, mas que, evidentemente, também prejudicava a leitura desta construção. Esse desmonte efetuou-se depois de confirmar que estavam realizados todos os registos que permitissem a sua reposição na localização original de cada elemento pétreo retirado. Em algumas situações, não chegou a ser necessária a sua remoção integral, procedendo-se a pequenos deslocamentos com uma alavanca que devolviam os silhares à sua posição original e corrigiam a deformação. Esta operação ocorreu de forma regular, onde se verificavam esses deslocamentos, quer na face externa, quer na face interna. Havia, contudo, uma parte da face interna onde os sinais de abaulamento eram mais evidentes, pela curvatura que evidenciava, quando vista em plano, motivada pelo deslocamento significativo dos silhares, em bloco, pressionando o miolo em direção ao exterior. Em face do exposto, optou-se por não se proceder ao desmonte deste lanço de muralha. Verificava-se que se tratava do local onde a face interna estava melhor conservada em alçado, em que, apesar de menos regulares que os silhares da face externa, as pedras eram menos angulosas e melhor aparelhadas e que apesar de assentarem sobre níveis de terra, estruturalmente aparentava ser estável. O desmonte para correção do abaulamento iria provocar uma maior instabilidade à estrutura, o que exigiria também a escavação dos níveis de terra no qual assentava, aumentando o grau de intrusão na estrutura, desaconselhada por princípios éticos, nomeadamente o da intervenção mínima. Assim, optou-se por, aproveitando o vazio deixado pela escavação arqueológica que removeu todos os sedimentos até ao afloramento rochoso, levantar um contraforte em pedra seca, desde a base e em toda a extensão em que era visível o deslocamento das pedras da face interna, promovendo assim uma estabilização deste alçado e corrigindo o alinhamento da estrutura. Estes elementos pétreos, adossados à estrutura original, foram isolados com a colocação de manta geotêxtil de forma a diferenciar o original dos materiais agora acrescentados.
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Deslizamento de silhares, face externa (2015, Novarqueologia©, fotografia de José António Pereira).
Abaulamento na face interna (2015, Novarqueologia©, fotografia de José António Pereira)
Desmonte parcial (2015, Novarqueologia©, fotografia de José António Pereira).
Reposição de silhares (2015, Novarqueologia©, fotografia de José António Pereira)
“Contraforte” colocado pela face interna de forma a evitar o desmonte (2015, Novarqueologia©, fotografia de José António Pereira).
Aspeto final do contraforte na face interna (2015, Novarqueologia©, fotografia de José António Pereira).
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Sistema de drenagem Um dos principais problemas identificado no monumento foi o descrito nos parágrafos anteriores e cuja correção se impôs: o deslizamento de silhares pela pressão das terras que encostavam à face interna. Assim, impunha-se que se promovesse a drenagem das águas pluviais pela colocação de um sistema que facilitasse o escoamento dessas águas para o exterior do perímetro amuralhado, já que, como pudemos constatar, as águas acumuladas escoavam-se lentamente, pelas juntas, e, sobretudo, por debaixo da muralha, na zona de contacto com o afloramento, cavando sulcos, que reduziam a base de assentamento dos silhares e reduzindo a sua estabilidade física. Foi por isso colocado um tubo de geodreno de 150 mm ao longo de toda a face interna, o qual recolhe as águas e as encaminha até ao ponto mais baixo, sensivelmente a meio do troço de muralha intervencionada e daqui para o exterior. Para o efeito, além de uma pequena vala que pontualmente foi necessário realizar na base da face interna, para que a água pudesse circular por gravidade, foi aberta uma passagem, perpendicular ao seu traçado, no local onde o afloramento rochoso era mais profundo, e que coincidia com uma zona onde esta se apresentava menos preservada.
Estabilização física e consolidação Abertura de passagem para colocação do geodreno (2015, Novarqueologia©, fotografia de José António Pereira).
Após a correção dos alinhamentos, quer na face interna, quer na face externa, os trabalhos prosseguiram ao nível da resolução de problemas estruturais com os trabalhos de consolidação e estabilização física das estruturas originais, precedidos de uma análise dos paramentos e da técnica construtiva, quer dos alçados interno e externo, quer do miolo. Analisada
a
técnica
construtiva,
verificou-
se que genericamente a muralha é composta por dois grandes alinhamentos (muros) paralelos, preenchidos por pedra solta e alguma terra no interior. Estes muros são aparelhados a seco com silhares trabalhados em forma quadrangular e de dimensões bastante regulares, Vista geral do geodreno pela face interna da muralha (2015, Novarqueologia©, fotografia de José António Pereira).
sendo que os silhares voltados ao exterior são melhor trabalhados, em oposição ao alçado interior, de silhares mais angulosos. Estes silhares adossam ao afloramento
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granítico pontualmente afeiçoado. Na base da muralha e, em particular, no alçado voltado ao exterior, são recorrentemente usados silhares de maiores dimensões de forma a vencer o declive dos afloramentos e formar plataformas que suportam todo o resto do alçado. A pedra utilizada é o granito local, não se tendo reconhecido qualquer outro tipo de elemento pétreo exógeno. Tal como previsto na metodologia, conhecendo-se melhor a técnica construtiva, promoveu-se a estabilização física das estruturas, quer através de pequenos ajustamentos posicionais sempre que se detetaram deslocações de silhares estruturais na base da estrutura, quer pela consolidação com a aplicação, no interior da muralha original, de uma argamassa de cal e saibro. Os ajustamentos posicionais de silhares estruturais ocorreram muito pontualmente, em particular no lado mais a sul que apresentava um grande abaulamento. A consolidação no interior na estrutura da muralha ocorreu em toda a sua extensão. A argamassa utilizada foi, como previsto, à base de cal hidratada e saibro (argila saibrosa bastante depurada). Utilizou-se cal hidratada da marca Lafarge e saibro bastante depurado de origem local, com uma forte plasticidade, como pretendido. Dadas
as
características
plásticas
do
saibro
utilizado,
e
nomeadamente das suas propriedades aglutinadoras, utilizou-se um traço de argamassa com uma maior presença de inerte em detrimento do aglutinante de cal. Utilizou-se assim um traço de 1:4 de cal e saibro. A seleção deste traço de argamassa justifica-se por várias razões: a) Pelas características originais da estrutura, que não utilizava argamassa na sua construção e desta forma, ao utilizar-se uma argamassa de resistência mais forte, iríamos criar tensões no interior da estrutura, estranhas à sua construção original e centradas no topo dos enchimentos da muralha. b)
Pela
necessidade,
mesmo
assim,
de devolver alguma estabilidade à estrutura, que se deteriorara ao longo dos tempos pela lavagem constante do seu interior, e sobretudo após o seu decaimento, que a tornou mais vulnerável. c) Pela garantia da reversibilidade, princípio ético que norteou a intervenção e que se colocaria em risco, se fosse usada uma argamassa com maior presença de material aglutinante. Aspeto final do contraforte na face interna (2015, Novarqueologia©, fotografia de José António Pereira).
168
d) Pela garantia do princípio da diferenciação, consolidando o original e, ao mesmo tempo, criando um horizonte diferenciador para os materiais a aplicar.
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Restauro/Reintegração A intervenção de restauro, entendida como reconstituição volumétrica, era já uma opção definida em caderno de encargos que preconizava que “sempre que existam evidências arqueológicas suficientes que permitam a reconstituição de troços de muralha, procederse-á à reedificação com utilização dos elementos pétreos resultantes dos derrubes, e apenas estes”. Foi neste prossuposto, e no estrito cumprimento dos princípios éticos da conservação, que se definiu desde o início da intervenção que se procederia a uma reedificação da muralha tendo por suporte o seu desenvolvimento em
Pormenor dos trabalhos de consolidação do interior da muralha (2015, Novarqueologia©, fotografia de José António Pereira).
plano. A intervenção de restauro/reedificação assentou assim na escolha de soluções que obedecem aos princípios éticos e às recomendações internacionais e teve em consideração entre outros, os seguintes aspetos: a)
O estudo e investigação histórica e arqueológica
que precedeu a intervenção e que fundamentou todas as opções de conservação e restauro. b) A técnica e o aparelho construtivo documentado, quer nos troços de muralha visíveis, quer naqueles que foram objeto de intervenção arqueológica que permitiu aprofundar o nosso conhecimento inicial. Vista geral após consolidação (2015, Novarqueologia©, fotografia de José António Pereira).
c)
A reversibilidade das soluções adotadas. Ao proceder-
se à consolidação das estruturas originais, promoveu-se uma diferenciação que facilita a reversibilidade. A isto, acresce o tipo de aparelho e solução técnica da reedificação, isento de argamassas ou outros elementos estranhos à estrutura, que são garantia de uma reversibilidade absoluta desta intervenção. d) Na escolha dos materiais a utilizar. São poucos os materiais novos utilizados. Exceção para a argamassa de consolidação e o saibro no topo da estrutura. A pedra utilizada foi exclusivamente a resultante dos derrubes, que, como tal, pertencia originalmente à muralha, não se utilizando qualquer outro tipo de pedra aportada de outro local. Ao proceder desta forma, asseguramos o cumprimento do princípio da intervenção mínima. e) A garantia de existência de elementos diferenciadores que sinalizassem o original, o distinguissem das partes reedificadas, e que se adequasse à harmonia final desejada. f) A
soberana
importância
da
prevenção,
garantindo
a
estabilidade no imediato, mas também a médio e a longo prazo;
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g) A necessidade de chegarmos a um resultado final que, sem comprometer nenhum dos princípios acima enumerados, resultasse numa harmonia final do monumento e da sua relação com o espaço envolvente. Assim, tal como definido na metodologia, o alteamento dos tramos seguiu a técnica construtiva do original, nomeadamente o mesmo tipo de aparelho, já descrito anteriormente, em função das evidências arqueológicas deixadas após remoção dos derrubes e escavação arqueológica. Apesar de a metodologia proposta condicionar a cota máxima a 140 cm. a partir do solo, que era aquela que se podia observar como cota máxima nos panos de muralha originais no início dos trabalhos, optouse por uniformizar altimetricamente a estrutura em função das evidências arqueológicas, o que implicou que, no lado norte, no seu alçado exterior, a reedificação viesse a atingir um alçado superior à cota prevista. Nesta parte da estrutura, após remoção dos derrubes, verificou-se que o alçado deixado conservava uma considerável extensão em altura, o que justificava que a reedificação pudesse ultrapassar a cota prevista, de forma a manter uma altimetria praticamente constante em toda a extensão da estrutura intervencionada. Como critério de diferenciação, optou-se pela colocação de uma linha de separação do original, quer no paramento interno, quer no externo, através da aplicação de placas de xisto (uma rocha exógena), facilmente diferenciadora, em detrimento de uma linha de separação do original em argamassa de cal hidráulica sugerido na metodologia. Em nossa opinião, a colocação de argamassa assumiria um destaque despropositado nos alçados e descaracterizaria a técnica construtiva original, baseada em assentamento a seco. Para a reedificação, mantivemos a planta original, alteando as estruturas de forma a obter uma cota média regular em praticamente toda a estrutura intervencionada. O alteamento destas estruturas foi conseguido pelo assentamento a seco de blocos de granito resultantes dos derrubes, por isso, já facetados, começando pelos alinhamentos internos e externos, a que se seguiu o enchimento do interior. No final, foi colocada sobre a estrutura uma camada de saibro compactado, de forma a assegurar a união de todos os elementos pétreos e ao mesmo tempo criar uma superfície de “sacrifício” que protegesse o monumento das ações de degradação e minimizasse a possibilidade de desmonte das estruturas. Pontualmente, adicionou-se ao saibro, a seco, cal hidráulica, em pequenas quantidades, num traço de cerca de 1:6 de saibro e cal. O objetivo era envolver as pedras da última fiada de cada um dos alçados (interior e exterior) com esta mistura argamassada, para lhe conferir maior resistência à degradação.
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Trabalhos de desbaste da pedra para ajustar a sua colocação (2015, Novarqueologia©, fotografia de José António Pereira).
Colocação de silhares na face externa (2015, Novarqueologia©, fotografia de José António Pereira).
Com o objetivo de conferir à estrutura um aspeto de ruína, colocaram-se ainda, na zona do miolo, pedras avulsas de médio porte, de forma a que pudesse sugerir a degradação natural, mais alteada no interior com pendente para cada uma das faces. Por
último,
como
medida
essencialmente
preventiva a curto e médio prazo, foi aplicado por pulverização, no final da intervenção de restauro, um biocida (“Preventol” R80), diluído em 2% em água isenta de sais, de forma a atenuar o surgimento de novos elementos Pormenor do alçado da face externa após restauro e demarcação do original com placas de xisto (2015, Novarqueologia©, fotografia de José António Pereira).
infestantes.
Envolvente As áreas abertas pelas escavações arqueológicas que antecederam a intervenção de conservação e restauro constituíam, à partida, um fator de degradação para o monumento, na medida em que constituíam uma zona de acumulação de lixos e um depósito de águas pluviais que incrementavam a degradação da muralha. Por outro lado, a sua manutenção colocava em risco a preservação dos depósitos contíguos, não escavados, que facilmente se desmoronavam, perdendo-se por essa razão, informação arqueológica. Por último, a muralha agora intervencionada só ganharia monumentalidade e o destaque pretendido se se procedesse a uma modelação do terreno que promovesse a leitura mais harmoniosa do conjunto, sem quebras que deturpassem a realidade. Assim, entendeu-se necessária a selagem das áreas escavadas e a modelação do terreno nessas áreas, de forma a evitar a acumulação de detritos, e promover uma circulação das águas pluviais que minimizasse
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a degradação do monumento, ao mesmo tempo que se lhe devolvia essa leitura mais harmoniosa. A selagem das áreas escavadas foi efetuada com a colocação de manta geotêxtil após limpeza e aterro com terras resultantes das escavações. Essa selagem ocorreu sobretudo na face interna, onde as escavações atingiram maior profundidade. Foi deixada uma pendente no terreno, para sul, de forma a encostar as terras ligeiramente abaixo da última fiada de silhares da face interna, de forma a, por um lado, encaminhar as águas para o dreno agora colocado, e, por outro, a garantir a demarcação da face interna, essencial à leitura do monumento, ao mesmo tempo que lhe sugeria
Selagem das áreas de escavação (2015, Novarqueologia©, fotografia de José António Pereira).
maior volume.
Resultados Cremos que esta intervenção permitiu cumprir os objetivos propostos, ao pôr cobro a um processo de contínua degradação desta estrutura, evitando o seu reenterramento, o que resultaria numa perda para o visitante e para a compreensão deste sítio arqueológico. Por Consolidação final do miolo no topo da muralha (2015, Novarqueologia©, fotografia de José António Pereira).
outro
lado,
a
intervenção,
ainda
que
pautando-se por uma comedida intrusão no monumento, em consonância com as intervenções anteriores e com as normativas internacionais, permitiu um incremento da visibilidade desta muralha, restituindo-lhe ainda que parcialmente a monumentalidade que terá tido originalmente, assegurada pela restituição volumétrica de parte do seu traçado, também visível do exterior do sítio arqueológico, nomeadamente a partir da estrada nacional para todos aqueles que ali passam, ganhando também o sítio outra visibilidade para o exterior. Tal como definido nos objetivos, a recuperação da muralha passará a constituir uma mais-valia ímpar para a promoção turística deste sítio arqueológico, e um motivo de atração de potenciais visitantes. Do ponto de vista da conservação, a intervenção interrompeu o processo de degradação que, nalguns locais, já não permitia reconhecer os limites do monumento, pela perda de silhares dos seus alçados, interno e externo, mas também do miolo. A colocação de um sistema de drenagem permite agora que as terras que encostam à muralha pela sua face interna, exerçam menor pressão, fruto do escoamento mais regular das águas, libertando peso. Durante a intervenção, constatamos que o escoamento das águas ocorria por debaixo da muralha, no contacto com o afloramento rochoso, criando canais e vazios que facilitavam o deslocamento dos silhares.
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A
correção
do
deslocamento
dos
silhares
produzido pelo peso das terras pelo interior, também conferiu ao monumento maior estabilidade, já que parte dos silhares que se tinham deslocado, já apresentavam muito pouca base de apoio, debilitando estruturalmente o monumento. Por último, a limpeza da colonização biológica, quer à escala da vegetação rasteira, quer à escala mais pequena, traduzida nos musgos e nos líquenes presentes nos silhares, promoveu a sua conservação, já que se Vista geral para oeste após restauro (2015, Novarqueologia©, fotografia de José António Pereira).
percebeu que alguns dos silhares apresentavam forte arenização, pela dissociação dos grãos de mineral da rocha, seguramente motivada pela presença de humidade intensificada pela presença de vegetação que impede a secagem.
Manutenção Concluída a operação de conservação e restauro, é fundamental dar continuidade aos trabalhos desenvolvidos através de ações programadas e periódicas de manutenção Vista geral para este após restauro (2015, Novarqueologia©, fotografia de José António Pereira).
e de ações de conservação preventiva. São vários os fatores que contribuem para um acelerado processo de decaimento, se não houver um acompanhamento constante do monumento. O seu isolamento, a sua implantação, e a sua exposição aos vários processos de degradação, podem resultar, num curto espaço de tempo, numa degradação que se aproximará muito rapidamente da situação encontrada no início desta intervenção. Finalizamos com alguns conceitos importantes que devem estar sempre presentes na ação dos responsáveis diretos pela preservação deste sítio, e nas opções que vierem a ser tomadas no futuro no que respeita, quer à sua manutenção, quer à sua fruição. Por um lado, a própria definição de “conservação” como o “(…) conjunto de atitudes de uma comunidade dirigidas no sentido de tornar perdurável o património e os seus monumentos. A conservação é feita no respeito pelo significado da identidade do monumento e dos valores que lhe estão associados” 54. Por outro, a noção de “manutenção preventiva”, enquanto conjunto de tarefas “(…) levadas a cabo em intervalos predeterminados, ou correspondentes a critérios definidos com a intenção de reduzir a probabilidade de perda ou decaimento de um imóvel ou monumento” 55.
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PLANO DE MANUTENÇÃO Ação
Descrição
Periodicidade
Calendarização
Limpeza
Desmatação da vegetação superior infestante em toda
Anual
abril/maio
Semestral
abril/maio
a extensão da muralha e nomeadamente contemplando as seguintes ações: - Aplicação pontual de herbicida não tóxico para eliminação de alguma vegetação rasteira e plantas vasculares dos paramentos e planos horizontais das zonas intervencionadas; - Corte manual da vegetação arbustiva através de remoção mecânica da mesma, mas de forma a que não prejudique as estruturas; - Aplicação preventiva de biocida por pulverização em toda a extensão do monumento e nas áreas envolventes como prevenção do avanço de vegetação infestante. Reposição de
Verificação da existência de eventuais derrubes
elementos
resultantes por um lado da ação das intempéries do
e
caídos e
período mais chuvoso de inverno, e por outro lado da
setembro/outubro
Consolidação
ação das eventuais visitas ou atividades estivais.
pontual Os elementos pétreos do topo da muralha funcionam como camada de sacrifício, aquela que sofre o primeiro impacto e que protege as estruturas originais. Por esta razão, a sua reposição atempada em caso de derrube evita a ação direta da maioria dos fatores nas estruturas originais. Neste sentido, reveste-se de especial importância a reposição imediata de elementos pétreos caídos e sua respetiva fixação.
Ortofoto integral do alçado externo obtido por modelação 3D (2015, Novarqueologia©, fotografia de José António Pereira).
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NOTAS (disponível em https://www.researchgate.net/publication/343231175_Gestion_
10 Documento XII de LIMA, António Manuel (coord.) - Freixo Antigo e Moderno.
de_recursos_vegetales_en_Tongobriga_informe_de_la_campana_2014-2015_
A Feira da Quaresma II – Documentos para a Sua História. Porto: Direção
de_excavacion_y_muestreo_arqueobotanico)
Regional de Cultura do Norte/ Câmara Municipal do Marco de Canaveses, 2017. (disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
1
Tinha como corresponsáveis o Doutor Lino Augusto Tavares Dias (IPPAR) e o
Professor Rudolf Winkes (Brown University).
11 Página 15 de VASCONCELOS, Manuel de – Apontamentos archeologicos do concelho de Marco de Canaveses. O Archeologo Portugues. Lisboa, XIX (1914) 12-31.
2
Página 77 de DIAS, Lino Tavares – Tongobriga. Lisboa: Instituto Português do
Património Arquitectónico (IPPAR), 1997. 3
Páginas 43–53 de SILVA, Armando Coelho Ferreira da - A Cultura Castreja no
12 Documentos XX, XXV e XXVII de LIMA, António Manuel (coord.) - Freixo Antigo e Moderno. A Feira da Quaresma II – Documentos para a Sua História. Porto: Direção Regional de Cultura do Norte/ Câmara Municipal do Marco de
Noroeste de Portugal. Paços de Ferreira: Câmara Municipal de Paços de Ferreira,
Canaveses, 2017.
1986.
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
4
Página 9 de LIMA, António Manuel (coord.) – Mudar de vida. Tongobriga:
exposição permanente. Porto: Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN), 2016 [Catálogo]. 5
Páginas 119-126 de DIAS, Lino Tavares – Tongobriga. Lisboa: Instituto
Português do Património Arquitectónico (IPPAR), 1997.
13 LIMA, António Manuel – Tongobriga - Santa Maria do Freixo [Projeto de
6
A Área Arqueológica do Freixo está classificada como Monumento Nacional
Investigação Arqueológica para o Quadriénio 2014–2017]. Memória descritiva
através do Decreto nº 1/86, publicado no Diário da República, Iª Série, nº 2, de 3
e justificativa. Marco de Canaveses: Secretaria de Estado da Cultura - Direção
de janeiro.
Regional de Cultura do Norte (DRCN), 2013 (policopiado).
7
(disponivel em http://www.academia.edu/8284208)
LIMA, António Manuel de Carvalho – Tongobriga Romana. Novos Dados,
Novas Perspectivas. In MARTÍNEZ CABALLERO, Santiago; SANTOS YANGUAS, Juan; MUNICIO GONZÁLEZ, Luciano J. (ed.) – El Urbanismo de las Ciudades Romanas del Valle del Duero. Actas de la I Reuníon de las Ciudades Romanas del Valle del Duero, Segovia, 20 y 21 de Octubre del 2016. Anejos de Segovia Historica, 2. Segovia: Museo de Segovia (Junta de Castilla y Léon) y Asociación
14 Tanto quanto é do nosso conhecimento, a existência desta outra muralha, em
de Amigos del Museo de Segovia, 2018. pp. 343–365.
forma de bolsa, é pela primeira vez referida e cartografada por Lino Tavares Dias
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
em 2013. Várias publicações posteriores, baseadas no trabalho deste autor, dão-na como um dado adquirido. Página 120 e figuras 1 e 2 de DIAS, Lino Tavares – O momento e a forma de construir uma cidade no Noroeste da Hispânia, periferia do Império romano e fronteira atlântica. Revista da Faculdade de Letras. Ciências e Técnicas do
8 Documentos XV, XXV, XXXV, XXXVII, XXXVIII e XLI de LIMA, António Manuel
Património. Porto. 12 (2013) 113-126.
(coord.) - Freixo Antigo e Moderno. A Feira da Quaresma II – Documentos para
15 O projeto, designado “Tongobriga / Santa Maria do Freixo”, com uma validade
a Sua História. Porto: Direção Regional de Cultura do Norte/ Câmara Municipal
correspondente ao quadriénio 2014–2017, foi aprovado por Despacho do Diretor-
do Marco de Canaveses, 2017.
Geral do Património Cultural, datado de 2014.07.02 (ofício S-2014/344743, de
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
2014.07.03). 16 HARRIS, Edward – Principles of Archaeological Stratigraphy. 2ª ed. London: Academic Press, 1997. 17 LIMA, António Manuel – Tongobriga - Santa Maria do Freixo [Projeto de Investigação Arqueológica para o Quadriénio 2014–2017]. Memória descritiva
9
Página 381 de CAPELA, José Viriato; BORRALHEIRO, Rogério; MATOS,
e justificativa. Marco de Canaveses: Secretaria de Estado da Cultura - Direção
Henrique – As freguesias do distrito do Porto nas Memórias Paroquiais de 1758.
Regional de Cultura do Norte (DRCN), 2013 (policopiado).
Memórias, História e Património. Braga: Barbosa & Xavier Lda. – Artes Gráficas,
(disponivel em http://www.academia.edu/8284208)
2009.
176
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R.; RODRÍGUEZ GONZÁLEZ, D. (ed.) - Sistemas de almacenamiento entre los pueblos prerromanos peninsulares. Cuenca: Ediciones de la Universidad de Castilla-La Mancha, 2009. pp. 1-35. 45 e.g. TERESO, João Pedro; CRUZ, Gongalo -. Frutos e Sementes da Idade do 18 FULLER, D. Q.; STEVENS, C. J.; MCCLATCHIE, M. - Routine Activities,
Ferro e Época Romana da Citânia de Briteiros. Al-Madan Online. Almada. 19
Tertiary Refuse and Labor Organization: Social Inference from Everyday
(2014) 83-91.
Archaeobotany. In MADELLA, M.; SAVARD, M. (ed.) - Ancient Plants and
46
People. Contemporary Trends in Archaeobotany. Tucson: University of Arizona
recursos alimentares silvestres e seu enquadramento nas dinâmicas económicas
Press, 2014. pp. 174-217.
e sociais das comunidades agrícolas desde a Pré-história à época romana. In
19 SILVA, Armando Coelho Ferreira da – A Cultura Castreja no Noroeste de
TERESO, J. [et al.] (ed.) - Florestas do Norte de Portugal. História, Ecologia e
Portugal. 2ª ed. Paços de Ferreira: Câmara Municipal de Paços de Ferreira, 2007.
Desafios de gestão. Porto: Bio - Rede de Investigação em Biodiversidade e
20 Idem, páginas 618–632.
Biologia Evolutiva, 2011. pp. 56-83.
21 Idem, página 623.
47 Página 34 de ROMERO MASIÁ, A. – El Habitat Castreño. Asentamientos y
TERESO, J.; RAMIL REGO, P.; ALMEIDA DA SILVA, R. - A exploração de
22 Idem, página 619.
Arquitectura de los Castros del N.O. Peninsular. Santiago de Compostela: Colexio
23 Idem, página 628.
de Arquitectos de Galicia, 1976.
24 Idem, página 619.
48 Páginas 27-32 de SILVA, Armando Coelho Ferreira da – A Cultura Castreja
25 Idem, páginas 624 – 625.
no Noroeste de Portugal. 2ª ed. Paços de Ferreira: Câmara Municipal de Paços de
26 Idem, página 625.
Ferreira, 2007.
27 Idem, página 626.
49 Página 109 de SILVA, Armando Coelho Ferreira da – A evolução do sistema
28 Idem, página 626.
defensivo castrejo no noroeste peninsular. In BERROCAL-RANGEL, L.; MORET,
29 Idem, página 619.
P. (ed.) – Paisajes fortificados de la Edad del Hierro: las murallas protohistoricas
30 Idem, página 619.
de la Meseta y la vertiente atlântica en su contexto europeo. Actas del coloquio
31 Idem, página 619.
celebrado en la Casa de Velázquez (Octubre de 2006). Madrid: Real Academia de
32 Idem, página 619.
la Historia, 2007. pp. 99 – 112.
33 Idem, página 619.
50 Página 52 de SILVA, Armando Coelho Ferreira da – A Cultura Castreja no
34 Idem, página 619.
Noroeste de Portugal. 2ª ed. Paços de Ferreira: Câmara Municipal de Paços de
35 Idem, página 628.
Ferreira, 2007.
36 Idem, página 628.
51 BRONK RAMSEY, C. -. Bayesian analysis of radiocarbon dates. Radiocarbon.
37 CASTIÑEIRA, Josefa Rey - A olaria castreja de tradição: Minho. In MORAIS, Rui;
Cambridge. 51:1 (2009) 337-360.
FERNÁNDEZ, Adolfo; SOUSA, Maria José - As produções cerâmicas de imitação
52 REIMER, P. J. [et al.] - IntCal13 and Marine13 Radiocarbon Age Calibration
na Hispania. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto / Sociedad de
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Estudios de la Cerámica Antigua en Hispania, 2014. pp. 289-302.
1887.
38 SILVA, Maria de Fátima Matos da - A evolução cronológica da Cultura Castreja
53 Página 52 de SILVA, Armando Coelho Ferreira da – A Cultura Castreja no
e os modelos interpretativos sócio-culturais: ensaio de síntese. Arqueología y
Noroeste de Portugal. 2ª ed. Paços de Ferreira: Câmara Municipal de Paços de
Territorio. 5 (2008). 49-77.
Ferreira, 2007.
39 Idem, página 57
54 In Carta de Cracóvia 2000 – Anexo – Definições – tradução a partir da versão
40 Idem., páginas 53 e 55.
oficial castelhana, por Elísio Summavielle e José Manuel da Silva Passos.
41 Página 87 de SILVA, Pedro da - A “Cultura Castreja”: revisitar a Proto-História
55 MILLS, Edward - Building maintenance and preservation: a guide for design
do Noroeste Peninsular. Al-Madan online. 19: 2 (2015) 84-90.
and management. 3ª ed. Oxford: Butterworth Architecture, 1996.
(disponível em http://issuu.com/almadan/docs/al-madanonline19_2)
42 Idem, ibidem. 43 MARTÍNEZ-CORTIZAS, A.; COSTA-CASAIS, M.; Lopez-Saez, J. Environmental change in NW Iberia between 7000 and 500 cal BC. Quaternary International. Amsterdam. 200 (2009) 77-89. 44 PARCERO OUBIÑA, C. M.; AYÁN VILA, X. - Almacenamiento, unidades domésticas y comunidades en el Noroeste Prerromano. In GARCÍA HUERTA,
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8 MODELOS E NARRATIVAS
I NVESTI GAÇÃO
António Manuel S. P. Silva Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura Espaço e Memória (CITCEM–UP) amspsilva@hotmail.com António Manuel S. P. Silva, Arqueólogo. Investigador do CITCEM (U. Porto). Licenciado e mestre em Arqueologia (Faculdade de Letras da Universidade do Porto) e doutorando em Arqueologia na Universidade de Santiago de Compostela. Tem coordenado diversos projetos de gestão, salvaguarda, museologia e investigação em arqueologia e exercido funções docentes em instituições de ensino superior, como a Faculdade de Letras da Universidade do Porto e a Escola Superior Artística do Porto. Técnico superior na Administração Local, foi coordenador do Gabinete de Arqueologia Urbana da Câmara Municipal do Porto entre 1996 e 2009. Dirigiu o levantamento da Carta Arqueológica de Arouca, os estudos patrimoniais de diversos projetos Polis e os levantamentos da Carta Arqueológica de Vila Nova de Gaia e da Carta de Potencial Arqueológico do Porto, para os respetivos Planos Diretores Municipais. Cofundador e primeiro presidente da Associação Profissional de Arqueólogos. Presidente do Centro de Arqueologia de Arouca e membro dos órgãos sociais de outras associações congéneres. Tem publicados numerosos trabalhos sobre temas de arqueologia, história e outras ciências sociais.
Tongobriga: modelos e narrativas Ao assinalarem-se, nomeadamente com esta publicação monográfica, quatro décadas de investigação sobre uma das mais notáveis estações arqueológicas do norte de Portugal, ensaiámos uma análise – necessariamente transversal e contida no aprofundamento e extensão – acerca da construção do(s) discurso(s) sobre o sítio de Tongobriga.
Nesta linha, a apreciação incide quase exclusivamente sobre a bibliografia mais específica de natureza arqueológica, omitindo praticamente outras importantes linhas de abordagem, como as da conservação, valorização, divulgação e rentabilização patrimonial e cultural do imóvel1, as leituras mais abrangentes da paisagem e do território que, em época romana, a suposta ciuitas tongobrigense abrangeria2, ou aspetos particulares como os tratados em estudos de materiais de construção, de cerâmica, de numismática ou mesmo de arquitetura, entre outros3. Vista aérea das ruínas do forum e termas de Tongobriga (2018, DRCN – Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de José António Muñiz).
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O interesse arqueológico do sítio (Freixo, Marco de Canaveses) foi reconhecido já no século XVIII4, mas só no último quartel do século XIX, ao mesmo tempo que a ciência arqueológica se estabelecia no norte do País, foram valorizados diversos achados, nomeadamente epigráficos, e as ruínas do que restava do complexo termal, na altura conhecido apenas como a «capela dos mouros». Foi Francisco Martins Sarmento, ao visitar a aldeia do Freixo nas suas excursões arqueológicas pelo Entre-Douro-e-Minho, o primeiro a noticiar diversas epígrafes e outros achados e, muito em particular, uma ara dedicada a um [G]enio [T]ongobr[i]censium5, assim vindo a público o nome da antiga povoação. Identificaram-se então tramos da muralha do povoado e diversos objetos romanos e pré-romanos, não suscitando dúvidas a Martins Sarmento que a pequena aldeia do Freixo ocupava “o primeiro recinto de muralha d’uma briga, egual a centenas de outras, que coroavam os altos do nosso paíz”6. Estabeleceu-se nessa altura a caracterização do sítio como um “citânia”, aceite pelos estudiosos até ao último quartel do século XX7. No ano de 1980 tiveram lugar as primeiras escavações arqueológicas, sob direção de Lino Tavares Dias que entre esse ano e 2013 liderou o projeto de investigação daquela estação arqueológica8. O programa de pesquisas rapidamente associou uma equipa permanente de investigação e foi acompanhado por ações de salvaguarda e valorização, tendo a “Área Arqueológica do Freixo” obtido o estatuto de Monumento Nacional em 1986. Entretanto, prepararam-se espaços de estudo, depósito arqueológico e acolhimento de visitantes e em 1990 foi ali instalada a Escola Profissional de Arqueologia, se bem que apenas recentemente (2016) tenha sido aberta ao público a exposição permanente e acrescentada significativamente a oferta pedagógica e promocional do sítio. Os trabalhos arqueológicos começaram na zona das termas e, desde cedo, notícias e artigos trouxeram à ribalta a monumentalidade dos achados9, sendo publicada em 1984 a primeira planta, ainda muito esquemática, dos edifícios balneares10. Nesses primeiros anos não era ainda bem claro se o complexo termal se inseria numa uilla ou numa “maior povoação”11, mas em 1983, com o alargamento das escavações às áreas residenciais e de necrópole, reconhecia-se já nas ruínas do Freixo uma “cidade romana”, com origem num “castro romanizado” e ocupando uma área superior a 30 hectares12. Em 1985 registam-se sondagens num espaço amplo, designado então como “praça pública”, classificado como forum em 198813; no ano seguinte propõe-se, com base na análise da topografia e de fotografia aérea, a localização de um teatro14, metodologia que levaria o mesmo investigador, já em 1997, a apontar a possível existência de um circo nas imediações do núcleo urbano15. Os resultados deste primeiro ciclo de investigação em Tongobriga, sintetizados na publicação da tese de doutoramento de Lino Tavares Dias (1997), consubstanciaram uma imagem, difundida em dezenas de conferências e publicações, que só nos últimos anos evidenciou alterações significativas, pelo que importa sintetiza-la a traços largos.
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a) Apresenta-se, naquela data, o registo detalhado da escavação do complexo termal, com interpretação funcional e cronológica, incluindo o balneário castrejo do tipo “pedra formosa”, descoberto em 1984 e cuja época de construção não pôde ser aferida, tendo estado em uso, contudo, “até ao último quartel do séc. I d.C.”16. Em relação às termas, cujo plano é aproximado a modelos pré-augustanos17, apontam-se três fases de construção: o complexo original (Termas I), com uma área de implantação de 911 metros2, dos quais 317 metros2 seriam cobertos, incluía os espaços classificados como apodyterium, frigidarium, tepidarium e caldarium, além de uma palestra e as necessárias áreas técnicas, datando de época flaviana; entre meados e a segunda metade do século II, a construção de um espaço aberto, com uma natatio e outras alterações, amplia e modifica significativamente o edifício termal (Termas II); a última fase construtiva, Termas III, na segunda metade do século IV, foi marcada pela construção de um segundo caldarium e outras mudanças menores18. b) Descreve-se a área aberta definida como forum, localizado em A publicação Tongobriga (1997), de Lino Tavares Dias, marcou um importante momento de balanço e consolidação do conhecimento do sítio arqueológico.
“espaço algo periférico dos núcleos habitacionais” e correspondendo a um retângulo com 139 metros de eixo maior por 68,5 metros de largura, respeitando o modelo vitruviano19. Segundo o mesmo Autor, a praça do forum, que seria atravessada transversalmente (sensivelmente de SSE para NNO) por uma via de entrada na cidade, o cardo maximus20, teria tido pelo menos um dos lados maiores (situado a sul) porticado, com colunas espaçadas 15 pés romanos (4,4 metros). Referem-se outros equipamentos do centro cívico, como um templo, instalado sobre um podium, do lado poente da praça, e uma basílica21. Entre outros detalhes arquitetónicos, que não cabe reproduzir, Lino Dias assinala a existência, no muro que limita o forum pelo norte, de três absides sensivelmente equidistantes, uma central de planta retangular e duas laterais de plano semicircular, sendo de destacar a aparente função religiosa de uma delas, pelo facto de aí se ter encontrado uma ara com inscrição nas quatro faces e turíbulo de prata, em contexto assinalado por cinzas, sugerindo a prática de rituais22. Os indícios da existência de um templo assentavam especialmente num conjunto de pedras
Balneário castrejo de Tongobriga (2005, fotografia de Manuela Ribeiro©).
molduradas – dispersas nas proximidades, em resultado dos trabalhos agrícolas a que o terreno esteve votado – que integrariam um podium com 5x4 metros, propondo o Autor que pudessem fazer parte desta estrutura alguns fragmentos de fustes canelados e capitéis jónicos, encontrados sem contexto na área arqueológica e imediações23. A escavação arqueológica da área onde teria sido erguido o templo terá revelado “a implantação do grande podium [não o anterior] desmontado pelo lavrador em 1977”, evidências que, todavia, não são ilustradas24. Os vestígios da existência de um edifício descrito como basílica, situado a nascente, como uma espécie de antecâmara do forum, suscitavam então a Lino Tavares Dias, bastantes dúvidas, que transparecem das sucessivas referências que
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faz aquele espaço: “apesar das reduzidas evidências arqueológicas que provem que as estruturas (…) escavadas sejam de uma basílica, julgamos que esta limitaria o forum no lado Este”25; apontando depois a “probabilidade” do “edifício que identificámos como eventual basílica, ou como espaço comercial (…) ter sido um espaço de 36,25 m de comprimento e 26 de largura”, definido interiormente por “nave central com 18 metros de largura e duas laterais de cerca de 6m”. Reconhece ainda, no mesmo texto, que chegara a comparar esse edifício, pela sua irregularidade, com a planta de um outro, “identificado em Clunia como basílica, depois como domus e mais recentemente como macellum” As termas de Tongobriga (2005, fotografia de Manuela Ribeiro©).
. Mais
26
adiante, descrevendo a estratigrafia da zona, volta a referir-se ao “edifício que poderá ter sido uma basílica ou, em alternativa, um espaço com fins comerciais”, cuja construção data do século II (fase 4 de ocupação do sítio arqueológico)27.
Planta da aldeia e Área Arqueológica do Freixo, com implantação dos principais núcleos arqueológicos e da malha de ordenamento urbano. Legenda: malha urbana (1); forum (2); templo (2a); basílica (2b); termas (3); anfiteatro 4); teatro (5) (2017, DRCN-Estação Arqueológica do Freixo©, ilustração de António Freitas).
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c) No tocante às áreas residenciais, Lino Tavares Dias apresenta os núcleos até então objeto de escavação. Em certos casos, tais construções, feitas durante o período flaviano e inícios do século II, haviam talhado os alicerces no afloramento natural; em outros, verificar-se-ia mesmo o desmonte de construções anteriores, de planta circular, para sobre elas assentarem edifícios de plano ortogonal, situações que poderiam datar-se no século II28. Aprofunda-se, em particular, o estudo de um “bairro” ou “conjunto construído limitado por ruas”, tal como se apresentava pelo menos no século IV, localizado na encosta poente do sítio arqueológico e onde eram visíveis três construções habitacionais, de plantas
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relativamente complexas, evidenciando ruínas de, praticamente, todas as fases construtivas de Tongobriga, dos flávios à tardo-antiguidade29. d) Entre outros aspetos, Lino Tavares Dias sistematiza igualmente a informação sobre as zonas cemiteriais de Tongobriga, nomeadamente a Necrópole Sul, a única então conhecida, apresentando o resultado da escavação de 15 sepulturas de incineração, feitas em covacho, que parecem datar, pela análise do espólio cerâmico feito pelo autor, de entre o século III e os começos do século V30. e) Este trabalho monográfico, que maioritariamente temos vindo a sumariar, aborda ainda temas de muito interesse, como as técnicas e materiais construtivos usados em Tongobriga31, ou a seriação morfotipológica da cerâmica comum romana32, mas importam-nos sobretudo as sínteses e conceções a propósito da fundação e organização urbanística de Tongobriga e do estatuto da povoação no quadro regional do povoamento romano. Quanto ao primeiro ponto, a posição de Lino Tavares Dias era clara: não sendo propriamente uma criação ex nihilo, atentos os vestígios de ocupação anterior, a urbe de Tongobriga materializou-se entre os fins do século I e o século II, como um povoado planificado por intervenção de agrimensores e arquitetos romanos, os quais, reconhecendo as limitações topográficas da colina do Freixo e as
Ruínas da “Casa do Impluvium” (2018, DRCNEstação Arqueológica do Freixo©, fotografia de José António Muñiz).
pré-existências indígenas, adaptaram o melhor que puderam o modelo hipodâmico e os preceitos de Vitrúvio à nova cidade, seguindo o “princípio da racionalidade dos arruamentos” quando a “ortogonalidade perfeita não pudesse ser aplicada”33, princípio ordenador que Lino Tavares Dias, aliás, ensaia esquematicamente para o conjunto da zona habitacional romana34. Mas, na mesma linha de Jorge de Alarcão, reproduzido por Lino Tavares Dias na citação anterior35, o modelo urbanístico mediterrânico requeria a presença de “edifícios públicos como sedes da vida religiosa, administrativa e cultural”36, logo, de um centro cívico. Este foi materializado em Tongobriga pelo complexo do forum, conceptualmente equipado com um templo e uma basílica, não obstante as dúvidas e hesitações atrás expressas, e de um
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teatro, antevisto numa descontinuidade topográfica no enfiamento para noroeste do cardo maximus que atravessava o forum. A este programa ter-se-ia acrescentado um circo, situado já fora de portas, para sul, igualmente intuído a partir da análise topográfica e de fotografia aérea antiga. Concebia-se, assim, uma cidade “de médias dimensões” no quadro do urbanismo romano da Península, ocupando cerca de 30 hectares37. Considerando “o conjunto de edifícios públicos e a vastidão das áreas habitacionais”, a par da referência de Ptolomeu a uma cidade de Tuntobriga, Lino Tavares Dias expressa a sua convicção de que Tongobriga tem as características “de uma capital de um território (civitas)”38. Desconhecendo-se o quadro administrativo regional e os limites de ciuitates vizinhas, o autor ensaia uma aprofundada análise, quer a nível histórico, quer no que se refere aos vestígios de viação e outros elementos da ocupação antiga indígena e romana39, a partir da qual propõe os limites possíveis da ciuitas de Tongobriga. Estes são traçados pelo rio Douro, a sul, e a serra do Marão, a este e nordeste; para norte e oeste reconhecem-se maiores dificuldades de delimitação, admitindo Lino Tavares Dias uma extrema hipotética demarcada “pela via que ligava aquela serra [Marão] ao rio Tâmega, pelo vale do rio até à foz do Odres e daqui por uma distância de trinta milhas40 ao longo das estradas que ligavam a ponte sobre o rio Tâmega (atualmente Canaveses) a Bracara Augusta”41, apontando como eventuais limites do território vários locais onde acredita, pela evidência arqueológica, terem estado situados núcleos habitados caracterizados como uici42. Segundo Lino Tavares Dias, o caso de Tongobriga pode exemplificar uma estratégia romanizadora que designa por “efeito de gradualidade”; ou seja, através da “instalação de um novo povoado com estrutura de castro, possivelmente sob a política de Augusto, o qual foi favorecido e privilegiado pelo poder romano”, de modo a que “amadurecesse política, administrativa e economicamente, resultando daí a instalação de uma urbe, como consequência da estratégia flaviana”43. A estratégia política romana poderia ter passado, segundo o autor, por “retirar capitalidade a alguns castella” indígenas, instalando o novo “centro político, administrativo e comercial num espaço ‘neutro’ de influências anteriores”44, não obstante a sua localização oportuna, no quadro das vias fluviais (eixo Douro-Tâmega) e das vias terrestres. A este respeito, Lino Tavares Dias atribui ao século II a construção do troço da via Mérida-Braga e a edificação da ponte sobre o Tâmega em Canaveses, dada como obra de Trajano, a um momento da revalorização da mesma via, já então com ligação relevante a Tongobriga45. Desta maneira, a criação de Tongobriga, que Lino Tavares Dias, na senda da proposta de Alain Tranoy para Aquae Flaviae46, admite decorrer também de uma decisão de Vespasiano47, teria tido similar função estruturante do território, independentemente do seu estatuto jurídico, enquadrada no processo de criação de ciuitates, assim alavancando a aculturação das populações indígenas48. f) Por fim, apresenta-se também, nesta altura, um faseamento geral da ocupação do sítio49. A fase I (do final do século I a.C./início século I até aos Flávios) corresponde às construções de planta circular e ao uso do balneário castrejo; à fase II (“contemporânea dos Flávios, predominantemente depois do governo do Imperador Vespasiano, até Trajano”), são atribuídas algumas “casas com salas exclusivamente de planta rectangular (…) coexistindo com as construções de planta circular”, bem como a primeira fase construtiva das Termas; a fase III (no
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tempo de Trajano e Adriano) coincide com a construção do forum; na segunda metade do século II foi fixada a fase IV, coincidindo com uma “grande remodelação das zonas habitacionais” e à segunda fase construtiva das Termas; da fase V (século III – meados do século IV) não se haviam encontrado, segundo Lino TavaresDias, quaisquer evidências estratigráficas ou construtivas em Tongobriga; à fase VI, do século IV, correspondiam algumas construções, e à fase VII (2ª metade do século IV/inícios do século V) pertenceriam certas remodelações observadas “nas termas, no forum e em construções das zonas habitacionais”; por fim, acrescentava o mesmo autor uma fase VIII, “de declínio”, fixada, com poucos dados, nos séculos VII e posteriores50.
Cristalizavam-se assim, nesta imago urbi, os resultados da primeira fase de trabalhos e estudos arqueológicos51. Das investigações posteriores à conclusão do doutoramento de Lino Tavares Dias52 não foram publicados, praticamente, novos dados arqueológicos, com exceção das escavações feitas no interior e imediações da igreja de Santa Maria do Freixo, que revelaram restos de um edifício tardo-antigo, provavelmente adaptado a basílica, com importantes restos de pavimentos com mosaicos policromos53. Todavia, diversos estudos de Lino Tavares Dias continuaram a enfatizar a dimensão e o estatuto urbano da cidade – com natural destaque para o forum54 – mas também enquadrando Tongobriga numa série de novas fundações urbanas no norte da Tarraconense55 e, em particular, no tecido do povoamento da região duriense56. Um outro aspeto do urbanismo de Tongobriga mereceu entretanto desenvolvimento especial, o da regularidade e proporcionalidade do desenho arquitetónico e aparente planeamento urbano. A tendência ortogonal dos núcleos habitacionais havia já sido referenciada em estudos monográficos57, bem como a proporcionalidade das dimensões do forum58 ou das termas59, mas a análise do desenho e planificação da cidade aprofundou-se extraordinariamente através da colaboração de Lino Tavares Dias com os arquitetos Pedro Alarcão e Charles Rocha, da Universidade do Porto, nomeadamente a partir de um trabalho académico deste último, levando Lino Tavares Dias a afirmar que “No territorium de Tongobriga, está comprovado que os arquitetos e os planeadores usaram as medidas romanas relacionadas com o corpo, especificamente o Digitus e o Palmus nas dimensões dos tijolos, o Pes de 0,296m na construção das paredes, o Passus de 147,9 na escala dos edifícios, o Actus de 35,52m e o Actus quadratus de 1261,44 m2 no urbanismo, o Jugerum de 2522,88m2 e a Centuria de 504576m2 nos espaços de intervenção, ambos como resposta pragmática à organização do território mas também, certamente, servindo como suporte ao cadastro e ao registo fiscal.”60.
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Neste contexto, após um primeiro ensaio gráfico de uma modulação mais regular da área residencial do povoado, usando já então uma malha de actus quadratus, ou seja, uma quadrícula de 120 pés romanos de lado, cerca de 35,5 x 35,5 metros61, observou-se, primeiramente, que “todos os vestígios de estruturas romanas (forum, termas, habitações, muros soltos, a própria topografia) têm a mesma orientação, uma tendência direcional que ronda os 24º em relação ao eixo E/O (N/S), o que corresponde aos preceitos de Vitrúvio”62, regularidade que se articula com o cardo maximus, conforme descrito por Lino Tavares Dias63, muito embora não tenha ainda sido possível identificar o decumanus maximus64. A par desta aparente regularidade de traçado urbano, constatou-se o uso mais ou menos recorrente do módulo do passus (1,479 metros) e nesta linha, por analogia com o módulo urbano da construção de Bracara Augusta65, propôs-se que Tongobriga teria idêntica modulação-base, com quarteirões de 120 por 120 pés romanos, ou seja, cerca de 35,5 x 35,5 metros, um actus quadratus66. Registaram-se idênticas regularidades nos edifícios do centro cívico, nomeadamente nas dimensões do forum, que apresenta 4 actus de extensão por 2 actus de largura e bem assim no complexo termal, que em bloco ocupa um actus quadratus67, mas algumas dificuldades surgiram ao tentar fazer coincidir a implantação da designada domus, uma eventual insula, do núcleo habitacional poente com a malha traçada, acabando Charles Rocha por propor que a retícula supostamente traçada pelos agrimensores romanos terá tido, por dificuldades decorrentes da irregularidade topográfica, um duplo ponto gerador, justapondo-se assim duas malhas, levemente desfasadas, e utilizando-se como “elemento adaptador”, quando requerido, o alinhamento diagonal a 45º do actus quadratus68. Na análise do centro urbano, cuja reconstituição conjetural, aliás, esteve no cerne da “especulação fundamentada”69 que constitui o seu ensaio, este autor discute essencialmente a arquitetura do forum, já que o edifício das termas levanta menos problemas de reconstituição, face aos elementos arqueológicos percebidos. Face àquele amplo espaço aberto (149 x 68,5 metros), murado em todo o seu perímetro, mas com parcas evidências arqueológicas que sustentem uma reconstituição mais ou menos consensual, Charles Rocha apoia a sua tese num conjunto de sapatas ou entalhes, mais ou menos equidistantes, que assume como bases de colunas70, considerando a possibilidade de terem tido a mesma função outros entalhes, alongados e mais irregulares, detetados em vários pontos do recinto71. Ensaiando diversas possibilidades em termos de elevação e intercolúnio e, ao mesmo tempo, tentando responder a dificuldades concretas resultantes de diferenças de cota72, Charles Rocha – cruzando a lógica arquitetónica com os dados arqueológicos que lhe foram fornecidos – começa por propor um faseamento construtivo do forum em dois momentos: num primeiro, posterior a Cláudio-Nero, o forum de Tongobriga poderia ter recebido um duplo pórtico simétrico; enquanto numa etapa seguinte, entre os reinados de Trajano e Adriano, o pórtico sul teria sido reformulado com a criação de uma “plataforma comercial” sobre-elevada73. Nos topos situados a nascente e a poente do recinto, o autor “imagina” (verbo que usa por três vezes no mesmo parágrafo) que poderiam ter existido também pórticos simétricos e com o mesmo intercolúnio, se bem que reconheça, com Lino Tavares Dias74 a falta de evidência arqueológica para os mesmos75. Insatisfeito
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ainda com esta solução, que apresentava algumas incongruências na ligação das colunatas dos lados maiores com os menores, Charles Rocha revisitou a métrica vitruviana, refez cálculos e chegou a uma segunda proposta, duplicando a linha porticada interior76, o que reduziria a área da praça central para a proporção de um actus por 1,5 actus77. Por fim – escreve Charles Rocha – “resta-nos especular sobre uma lógica de ocupação no espaço religioso”, para o que, acolhendo a proposta de Lino Tavares Dias de que teriam pertencido ao podium de um templo um conjunto de pedras trabalhadas encontradas nas imediações78, limita-se, de facto, a especular sobre as suas dimensões e área de implantação, por analogia com outros fora imperiais79. Na conclusão do autor, “o desenho do forum resulta assim num amplo espaço, porticado por quatro pórticos de três colunas, em que o seu corpo central se divide em dois; o espaço da praça e o espaço do templo”80, mas não deixa de advertir – como o faz, aliás, noutros pontos do trabalho – que a hipótese apresentada, sendo “a que melhor se fundamenta a partir da interpretação dos vestígios (…), não deixa de estar dependente de confirmação a nível arqueológico”81. Finalmente, rematando o programa canónico dos equipamentos de lazer e sociabilidade de uma urbe clássica, Charles Rocha volta-se para o teatro e o anfiteatro. A hipótese da existência de um teatro, desde há muito sugerida por Lino Tavares Dias82, assenta quase exclusivamente na evidência topográfica – uma zona de terrenos deprimidos, em concha, localizada a cerca de 50 metros a noroeste do forum – na qual alguns muros de suporte de terras parecem evidenciar uma disposição radial ou ligeiramente concêntrica, sugerindo porventura a configuração de uma cavea83. A área foi objeto de sondagens arqueológicas dirigidas por Lino Tavares Dias, não publicadas ainda monograficamente, as quais, segundo as informações coligidas por Charles Rocha, apenas proporcionaram alguns entalhes no afloramento rochoso natural, interpretados como regos de drenagem de águas84. Mesmo admitindo que “a partir dos dados existentes, é difícil visualizar a presença deste equipamento em Tongobriga”85, Charles Rocha ensaia uma série de modelos geométricos sobre as referidas evidências topográficas, procedendo a uma análise laboriosa de medidas, proporções e enquadramentos, de onde resulta o desenho hipotético de um teatro, com uma cavea de 68 metros de diâmetro86, bastante próxima das medidas do teatro de Bracara Augusta, aparentemente coevo do presumido para Tongobriga, segundo os estudos mais recentes87. Após a presumível identificação dos locais do teatro e do circo, “só restaria a presença de um anfiteatro nesta cidade para complementar o trio de equipamentos romanos dedicados ao entretenimento”88. E o autor admite tê-lo identificado, a uma distância sensivelmente idêntica, no mesmo sentido Noroeste, à que medeia entre o forum e o teatro, igualmente numa depressão de terreno onde afloram alguns muros curvilíneos assimiláveis porventura a restos da estrutura de uma cavea, mas nesse local nunca foram feitas escavações arqueológicas89. A confirmar-se esta intuição, a construção, com cerca de 100 metros de eixo maior, ficaria numa implantação análoga à que resulta, por exemplo, da relação entre o teatro e o anfiteatro de Emerita Augusta, como lembra Charles Rocha, que, todavia, não avança outros detalhes por falta de maiores evidências, admitindo até, a partir da orografia atual, que a posição do teatro e do anfiteatro poderiam mesmo inverter-se no desenho do centro cívico90.
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Um último aspeto que a obra de Charles Rocha não pôde deixar de considerar, pela sua evidente articulação com a estrutura urbana, é o da muralha, ou muralhas, que delimitavam o espaço da cidade. Trata-se de um ponto controverso, porque o reconhecimento do perímetro das linhas defensivas tem sido feito essencialmente a partir da cartografia, da fotografia aérea e da análise dos acidentes topográficos, uma vez que apenas um tramo de algumas dezenas de metros dessa cerca foi objeto de escavação em 2005-200791. Sintetizando talvez informações dispersas, Rocha assinala e implanta em desenho a muralha primitiva, contemporânea das construções circulares e do balneário castrejo, complementada por um fosso defensivo reconhecível em alguns sectores e que teria uma extensão de 1.400 metros, rodeando uma área de 13,5 hectares. Em finais da primeira centúria, uma vez que as termas e o forum haviam sido construídos no exterior dos muros, a muralha ter-se-ia ampliado com uma espécie de bolsa, a sul, para englobar a nova centralidade urbana, passando então a rodear um espaço habitado de cerca de 20 hectares, ou até talvez mais, considerando a possibilidade, igualmente aventada mas difícil de comprovar sem escavações, como admite Charles Rocha, do seu alargamento ser mais extenso no sector poente92. Naturalmente, com a pretendida extensão da área monumental da cidade para noroeste, graças à localização do teatro e do suposto anfiteatro, Charles Rocha vê-se na necessidade de admitir a última daquelas hipóteses93, o que, a confirmar-se, apenas deixaria fora de muros o eventual circo. As hipóteses de reconstituição do centro cívico de Tongobriga apresentadas por Charles Rocha foram aceites por Lino Tavares Dias e incorporadas no discurso histórico-arqueológico sobre aquele núcleo urbano, merecendo mesmo uma ilustração gráfica muito sugestiva em obra recente94, mais criativa no que se refere à generalidade da área habitada (o que se compreende pela natureza pedagógica da figura), mas mais próxima das restituições gráficas de Charles Rocha no que se refere ao complexo do forum-termas-teatro, se bem que com discrepâncias no que se refere à arquitetura dos muros limites do forum; não surge ainda na mesma ilustração ou no texto alusivo o anfiteatro, nem tão pouco a muralha da cidade, porventura por falta de elementos para a sua reconstituição gráfica.
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Outros trabalhos recentes sobre a estação arqueológica têm permitido precisar alguns aspetos da organização e urbanismo do povoado, como sucede com o traçado da muralha, implantado com maior rigor por António Manuel Lima98, que admite a possibilidade do sítio ter tido mais que uma cintura de muralhas99, bem como o eventual alargamento da cerca, a sul, para envolver o forum e as termas, e a possibilidade do centro cívico ter sido complementado com os edifícios do teatro e do anfiteatro100. Aproveitando um novo ciclo de valorização da Área Arqueológica,
nomeadamente
através da abertura de um centro interpretativo, com exposição permanente, em 2016101, António Manuel Lima tem vindo a revalorizar as origens indígenas do povoado, do que é exemplo o desdobrável editado nessa altura com uma reconstituição pedagógica da cidade nos finais do século I, acolhendo dentro da muralha, não só uma área de urbanismo relativamente ordenado, com edifícios de tipo romano, como também um “bairro indígena”, com Reconstituições hipotéticas do forum e do centro monumental de Tongobriga, segundo Charles Rocha95, Lino Tavares Dias96 e António Manuel Lima97 (Ilustração de Charles Rocha | César Figueiredo | Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón sobre fotografia de José António Muñiz).
construções castrejas organizadas em núcleos familiares; extramuros, ficavam o complexo termal, as necrópoles e o forum, representando-se ainda o edifício do teatro, ambos ainda em construção102. Aliás, a verificação de que as construções indígenas de planta circular se espalhariam por toda a área do povoado103, agrupando-se por vezes em núcleos familiares, semelhantes aos que se detetam noutros castros do norte de Portugal, tem levado também aparentemente Lino Tavares Dias, em publicações recentes, a assumir mais assertivamente a fundação do “castro romano” no período da dominação de Augusto104, que aliás aproxima do povoado do Monte Mózinho, Penafiel105, talvez na sequência da sugestão de Jorge de Alarcão, que salientara já a aparente coetaneidade dos dois castros e, porventura, algum paralelismo nas respetivas circunstâncias fundacionais106. A ênfase na transformação cultural representada pela urbanização e monumentalização do castro de Tongobriga é também o mote da exposição permanente, significativamente intitulada “Mudar de Vida”107. A necessidade de produ-
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zir conteúdos e “interpretações” destinados ao grande público, envolvendo, por exemplo, filmes com reconstituição de ambientes indígenas e romanos, tem vindo a suscitar um esforço de reapreciação da informação, através de uma nova leitura dos registos de décadas de escavações, aberta a diferentes propostas e hipóteses, que beneficia, também, de novos dados sobre o sítio, quer resultantes de escavações em pontos estratégicos, quer provenientes de datações radiométricas. Tal como a “especulação fundamentada”, resultante da colaboração transversal com a arquitetura, enriqueceu sobremaneira o debate sobre Tongobriga; novos contributos têm vindo a trazer para a agenda outras perspetivas sobre o povoado indígena e a cidade romana. Em estudo recente, António Manuel Lima108 traz a público “novos dados e novas perspetivas” sobre Tongobriga. Após historiar a investigação sobre o sítio, interroga-se sobre a localização e as razões que terão levado à implantação de uma cidade romana naquele local, recordando as dificuldades levantadas pela orografia ao traçado de um urbanismo geométrico e planificado109. Admite, contudo, a possibilidade da “criação dos bairros habitacionais e dos edifícios públicos monumentais ter sido antecedida da planificação de um urbanismo tão regular quanto a topografia o permitisse”, mas não à escala da cidade, tão só através de “planos menores de ordenamento para cada uma das áreas urbanizáveis ou já anteriormente urbanizadas”110, mas não deixando de evidenciar a fragilidade das evidências apresentadas por Charles Rocha, designadamente no que respeita ao núcleo habitacional poente, demonstrando que o tratamento das quatro construções como um bloco modular, resultante de um planeamento ordenado111, só seria admissível, talvez, no século IV, uma vez que os quatro edifícios ali articulados apresentam larga diacronia construtiva112 e os muros de cronologia flávia não autorizam praticamente qualquer leitura de ordenamento conjunto113. Em contrapartida, na linha da revalorização dos antecedentes proto-históricos de Tongobriga, António Manuel Lima refere os resultados das escavações de 2004-2005, feitas em conjunto com a Brown University114, que permitiram a exumação de um conjunto de construções de planta circular, aparentemente organizadas num núcleo familiar115, levando-o a sugerir a possibilidade de Tongobriga ter conhecido, na sua fase indígena, um “proto-urbanismo” similar a outros povoados dos finais da Idade do Ferro no norte de Portugal, assente na “organização das unidades domésticas em bairros subdivididos em núcleos familiares, dispostos ao longo dos principais eixos de circulação que atravessam os grandes castros”116. Neste contexto, avançam-se informações que parecem obrigar a recuar a fundação do povoado indígena – que Lino Tavares Dias sempre defendeu como de época augustana117 – para período significativamente anterior, com base quer em peças de cerâmica e ourivesaria datáveis dos séculos II ou III a.C.118 quer, sobretudo, num conjunto de datações de radiocarbono, como as obtidas a partir de sementes de uma lareira de uma construção circular, na acrópole do povoado, que aponta para a sua utilização entre os séculos III e I a.C., ou de materiais orgânicos do interior da muralha, que sugerem a sua edificação entre a 2ª metade do século II a.C. e a 1ª metade do século I a.C.119, se bem que a publicação destas datas de Carbono 14 não tenha ainda sido feita integralmente.
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Forum de Tongobriga. Configuração correspondente às ruínas atualmente visíveis: A – Muro perimetral; B – Entrada Nascente; C – Ábsides; D – Plataforma elevada; E – Escadas de acesso às termas (E1) e à plataforma elevada (E2, E3, E4) (2018, DRCN-Estação Arqueológica do Freixo©, ilustração de António Freitas)
Outro importante contributo trazido por este texto de António Manuel Lima tem a ver com a revisão crítica do conjunto monumental de Tongobriga, em particular no que se refere à área do forum, reabrindo a discussão sobre a configuração da “praça” e respetivos acessos, a questão dos eventuais porticados e a própria cronologia e faseamento construtivos120. Lembrando a particular topografia daquela área aberta, com um perfil claramente abaulado no seu eixo norte-sul e um desnível de perto de 8 metros no eixo nascente-poente (elementos que facilitam a drenagem mas naturalmente dificultam a edificação de um complexo monumental de rigor clássico), António Manuel Lima nota, também, que apenas uma entrada (a nascente) é por ora evidente, não passando de propostas outros acessos que vêm sendo apontados, o que sugere fortemente, face à evidência arqueológica, estarmos na presença de um recinto fechado com uma única abertura, ideia pouco consentânea com o carácter público e aberto de um forum urbano convencional121. Discute-se também a proposta de reconstituição monumental do forum e das duas ou três linhas de colunatas ultimamente sugeridas122, sublinhando, quer a quase total inexistência de vestígios arquitetónicos monumentais (bases ou fustes de colunas, pedras lavradas ou outras), como a ausência arqueológica de restos de telhados na área do forum; quer ainda a interpretação, e mesmo a evidência, de corresponderem a sapatas de colunas os entalhes no solo, de que aliás só reconhece um alinhamento123. Por fim, manipulando graficamente os mesmos silhares e pedras molduradas que Lino Tavares Dias e Charles Rocha aproximam do podium de um templo124, António Manuel Lima reconstitui-as, hipoteticamente, como a base de um altar com cerca de 4,30 metros de lado, com paralelos augustanos noutros fora peninsulares ou mesmo no castro romano, próximo, do Mòzinho125.
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Em síntese, sustentado nos dados arqueológicos, revistos à luz de outros cenários concetuais, António Manuel Lima interpreta o forum de Tongobriga como um espaço fechado, dotado de uma porta a nascente (embora admita a possibilidade de ter possuído outros acessos), com uma colunata no lado Norte, sim, mas com postes de madeira e eventual cobertura feita em materiais perecíveis, abrindo também a possibilidade da existência de outras estruturas em madeira – porventura para armazenamento de géneros alimentares – o que justificaria um vasto conjunto de entalhes alongados feitos no solo natural que ocorrem em vários pontos e parecem invadir Panorâmica do terreiro do forum, visto de poente. Em primeiro plano, silhares moldurados, atribuídos à base de um templo ou de um altar (2005, fotografia de Manuela Ribeiro©).
o espaço da “praça” central126. Ou seja, não deixando de considerar a possibilidade de terem existido projetos de monumentalização do forum em época flávia, porventura no quadro da mudança de estatuto da cidade, a proposta de António Manuel Lima é a de aquele conjunto arquitetónico datar da primeira metade do século I e constituir, essencialmente, um forum pecuarium, ou seja, a sede de uma importante feira de gado e outros produtos127, porventura na sequência de longa prática anterior no local mas, seguramente, com grande perduração no tempo, pois no Freixo se realizou até aos começos do século XX uma importante feira regional que, até ao século XVII, ocuparia, precisamente, o espaço do forum romano128. Estas estruturas, de função essencialmente económica, mas não só, pois a componente religiosa e certamente outras seriam naturalmente inerentes a estes equipamentos coletivos de incidência regional, começam ultimamente a ser melhor conhecidas na Hispânia, inclusive em cidades do vale do Douro como Tiermes e Confloenta/Duratón – como lembra António Manuel Lima, com bibliografia pertinente129 – usualmente entendidas por Lino Tavares Dias como podendo fazer parte de um plano integrado de afirmação do domínio romano no norte peninsular após a extensão do ius Latii130. Prosseguindo a análise da zona monumental, António Manuel Lima debruçou-se, mais recentemente, sobre a organização, funcionamento e cronologia do edifício termal, e nomeadamente a sua relação com o forum e com o povoado pré-existente131. No que respeita, especificamente, às termas, propõe uma interpretação relativamente distinta da que se encontrava publicada acerca da distribuição, funcionalidade e alterações dos diferentes espaços durante o período de utilização do complexo132 – aspeto sobre o qual não vamos agora deter-nos, por economia de texto – embora não questione a cronologia flaviana da sua edificação133.
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No que fundamentalmente António Manuel Lima diverge das concluVista geral das ruínas do complexo termal (2018, DRCN – Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de José António Muñiz).
sões de Lino Tavares Dias é na prioridade fundacional das termas em relação ao forum, considerando – com base nos resultados das suas escavações de 20142015 – que o projeto primitivo desta estrutura é anterior ao do complexo termal, cujo desenho terá sido inclusivamente condicionado por essa prioridade134, invertendo assim, e porventura ampliando, o desfasamento proposto de trinta ou quarenta anos que Lino Tavares Dias135 sugeriu para a sucessiva construção das termas e do conjunto foral. Por outro lado, no que se refere à relação das mesmas termas com o pré-existente balneário castrejo que se lhe encontra “adossado”, enquanto Lino Tavares Dias defende que este terá estado em uso apenas até ao último quartel do século I, tendo nessa ocasião sido abandonado e, já no século IV, definitivamente aterrado136; António Manuel Lima propõe que esse “entaipamento” não terá sido completo, e que a estrutura de raiz indígena terá tido qualquer uso (certamente distinto do original) até ao período pós-imperial137. Mas interessa mais particularmente à perspetiva abrangente deste ensaio o debate sobre as leituras espaciais dos monumentos arqueológicos da aldeia do Freixo. Com base nos resultados das intervenções arqueológicas mais recentes, como referido138, e numa nova interpretação arqueoastronómica da orientação axial do forum, António Manuel Lima enfatiza, no texto que vimos usando, a implantação claramente excêntrica do conjunto monumental em relação ao núcleo muralhado. Esta “marginalidade”, aliás, é admitida por Lino Tavares Dias e outros autores139; porém, atendendo a que no espaço exterior à muralha nunca se encontraram vestígios residenciais romanos ou pré-romanos140, António Manuel Lima não encontra evidência do alargamento da mesma muralha para sul, por forma a englobar o conjunto monumental, como defendem Lino Tavares Dias141 e Charles Rocha142.
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Deste modo, considerando “as termas e os restantes edifícios públicos romanos (…) exteriores ao espaço habitado e à malha urbana respetiva, (…) o forum e, por consequência também as termas que lhe estão anexas, não ocupam um lugar central na estruturação do espaço urbano, nem sequer estão nele incluídos”143. Na verdade, segundo este autor, a axialidade do conjunto forum/termas obedece, tão simplesmente, à orientação do pôr-do-Sol no dia 2 de fevereiro, data que ficou marcada na história multissecular da aldeia pela celebração da sua padroeira, Nossa Senhora da Purificação, em honra da qual sai usualmente procissão com itinerário que inclui o antigo forum, festividade coincidente com a Feira da Quaresma, ali realizada até ao século XVII, como está documentado144. Nesta linha interpretativa, e no desenvolvimento de texto anterior145, este investigador entende a funcionalidade do complexo termal de Tongobriga não tanto como dirigida aos habitantes da cidade mas, primordialmente, para “uma população flutuante que aí se deslocava para frequentar as feriae e nundinae que periodicamente” tinham lugar nesse multifuncional forum pecuarium146. Desta forma, a “complexa e extraordinária estrutura que é o forum de Tongobriga”147, englobando-se as termas neste conjunto monumental, abrem-se, após quatro décadas de estudos, a novos cenários interpretativos. Diríamos mesmo, a um diferente modelo e distintas narrativas. Estas novas leituras dos dados arqueológicos e históricos, marcam uma rutura assinalável, sobretudo se observarmos as reconstituições tridimensionais usadas como recurso pedagógico e auxiliar de investigação148; mas naturalmente coincidem em alguns aspetos essenciais. Na verdade, a vocação comercial de Tongobriga como polo de atração regional, potenciada pela construção da via que ligava Emerita a Bracara, tem sido desde há muito valorizada por Lino Tavares Dias, ainda que o faça num contexto essencialmente flaviano, ao expressar a nova cidade como “um organismo socioeconómico que concentra não só elementos ‘residenciais’, mas também uma produção artesanal especializada e, certamente, atividades sistemáticas de troca que justificavam a construção do fórum”149. A possibilidade de esse centro de troca ter raízes indígenas, potenciadas sob o domínio romano pela edificação de um forum pecuarium150 surge na discussão como elemento perfeitamente razoável e, só por si, razão suficiente para a urbanização e posterior monumentalização do povoado, se outras não houvesse. A este propósito, parece oportuna a sugestão de António Manuel Lima de antecipar a data da construção do troço da via principal que servia Tongobriga, dos inícios do século II, como defendeu Lino Tavares Dias151, para o século primeiro152. Por outro lado, António Manuel Lima não questiona a planificação urbanística ou a modulação do povoado – com a nuance já assinalada e que corresponde ao princípio da adaptação à topografia salvaguardado por Lino Tavares Dias e Charles Rocha – nem porventura que tenham sido sujeitos à métrica e proporções clássicas o recinto ferial e o eventual projeto da sua remodelação posterior153, sendo também próximas as duas “narrativas” sobre Tongobriga no que se refere à cronologia da monumentalização da cidade e da sua eventual promoção a caput ciuitatis.
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Oferecem-se assim à discussão dois paradigmas interpretativos da génese e evolução de Tongobriga, distintos na sua conceção e significado. O modelo, subscrito pelo principal responsável pela investigação da Área Arqueológica, de uma urbe romana fundada à luz de um projeto político imperial, quase ex-nihilo154, em finais do século I, e que terá sido objeto de um plano de monumentalização (com paralelo, por ora, apenas na capital conventual, Bracara Augusta), ganhou, nos últimos anos, particular notoriedade com o desenvolvimento de estudos transdisciplinares no âmbito da arquitetura clássica, através da colaboração com Pedro Alarcão e Charles Rocha155. O trabalho deste último autor, assumido sempre como um ensaio académico – Charles Rocha não tem dúvidas em documentar os diferentes passos do seu processo reflexivo e mesmo as hipóteses alternativas que acaba por abandonar156 – evidencia claramente as potencialidades do desenho arquitetónico como “instrumento de análise e concepção”157. Nesta linha, constitui uma poderosa ferramenta interpretativa da pesquisa arqueológica, considerando-se a restituição gráfica “como uma interpretação da arquitetura, elaborada a partir de hipóteses desenvolvidas até ao limite do que a investigação arqueológica pode confirmar”158, se bem que este investigador advirta que a restituição em desenho, permitindo “multiplicar as hipóteses e defender as que são mais admissíveis”, é demasiado arriscada como suporte, por exemplo, de uma eventual reconstrução material159. As recentes análises e propostas de reconstituição arquitetónica dos ambientes urbanos de Tongobriga, da autoria destes últimos autores, fundam-se em dados arqueológicos de consistência muito variável, correspondendo, como expressou um deles, a “hipóteses formuladas entre a razão e a intuição”160. Todavia, a poderosa força do desenho e a materialização, ou visualização, da sua tridimensionalidade material – feitos para “permitir formular novas questões, esclarecer antigas dúvidas e arriscar novas hipóteses”161 – oferecem aos sentidos a sedutora imagem de um “como poderia ter sido”, que o arqueólogo sabe não ser definitiva, mas que, na prática, e humanamente, pode condicionar o processo de análise e reconstituição histórica próprio da ciência arqueológica. Importa assim, por vezes, regressar à ruína, nela valorizando a presença como respeitando a ausência, num diálogo em que o convite à reconstituição não seja a única via para a sua inteligibilidade162. Terão sido estes, talvez, o desafio e o dilema de António Manuel Lima, de cujo trabalho começam a emergir novas e “perturbadoras163 narrativas” sobre Tongobriga, um povoado indígena, provavelmente com raízes na Idade do Bronze164, que, entre os últimos séculos da Idade do Ferro e o período de Augusto, se desenvolveu até atingir um padrão de ordenamento das construções que podemos designar como urbano ou proto-urbano165, à semelhança de outros do norte do país. Esta citânia terá potenciado a sua anterior centralidade comercial durante a dinastia júlio-cláudia, levando à construção do forum pecuarium e exibindo outros sinais de renovação e monumentalização, de que, pelo menos, o complexo termal e várias residências urbanas com plantas itálicas constituem exemplos indiscutíveis.
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O esclarecimento de muitas das questões aqui sintetizadas – ou seja, o encontro destes modelos e narrativas com a História – está, provavelmente, no chão de Tongobriga, e até poderão não ser necessárias escavações muito extensivas para que algumas dúvidas se dissipem.
Importaria, neste momento, aproveitar a maturidade de quatro décadas de investigação, ultimamente refrescada com desafiantes propostas, para relançar um renovado programa de pesquisa científica, sustentado e sustentável. Por um lado, para projetar a singularidade deste Monumento Nacional, sem dúvida estratégico para a compreensão da evolução das sociedades indígenas proto-históricas, sob o estímulo da potência conquistadora, e a sua integração e transformação nessa nova realidade a que, por vezes, se chama a Galécia meridional romana; por outro, acreditamos, para cumprir a vocação de uma Área Arqueológica rica e complexa como a do Freixo (e certamente, cremos também, o sonho e a visão de quem há quatro décadas ousou “desinquietar” a “capela dos mouros”): ser mais questão que lição; interpelar o futuro; construir Memória e Património.
NOTAS
DIAS, Lino Tavares - Quantas paisagens culturais podemos ver da nossa janela?
1 DIAS, Lino Tavares – Tongobriga. Breves reflexões. Porto: Instituto Português
In Paisagem Antiga, sua Construção e (Re)usos, Reptos e Perspetivas Porto: Fa-
do Património Arquitectónico (IPPAR), 2003.
culdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) - CITCEM, 2017. pp. 57-71.
DIAS, Lino Tavares – Gestão integrada da Área Arqueológica do Freixo - Tongobri-
DIAS, Lino Tavares - Ano zero, Ano 100 no Territorium de Tongobriga. In Construir,
ga: contributo para abordagem à estratégia de intervenção entre 1980 e 2010.
Navegar, (Re)usar o Douro da Antiguidade. Porto: Faculdade de Letras da Univer-
Al-madan. Almada. 16: 2ª série (2008) 82-91.
sidade do Porto (FLUP) - CITCEM, 2018. pp. 125-144.
DIAS, Lino Tavares - Ano zero, Ano 100 no Territorium de Tongobriga. In Construir,
COSTA, António; PACHECO, Elsa; SOARES, Laura; DIAS, Lino Tavares – O uso
Navegar, (Re)usar o Douro da Antiguidade. Porto: Faculdade de Letras da Univer-
inteligente do território para a mobilidade na romanização. In VIEIRA, António;
sidade do Porto (FLUP) - CITCEM, 2018. pp. 125-144.
JULIÃO Rui P. (coord.) – ‘A Jangada de Pedra’. Geografias Ibero-Afro-Americanas.
LIMA, António Manuel; ARAÚJO, Jorge – Interpretar Tongobriga a partir do seu
Atas do XIV Colóquio Ibérico de Geografia. Guimarães: Associação Portuguesa
“Centro”. In Centros Interpretativos: técnicas, espaços, conceitos e discur-
de Geógrafos/ Departamento Geografia da Universidade do Minho, 2014. pp.
sos. [Património a Norte, N.º 03]. Porto: Direção Regional de Cultura do Norte
1553-1558.
(DRCN), 2019. pp. 113-133.
3 Para análises mais abrangentes ou direcionadas, consulte-se a exaustiva biblio-
2
grafia sobre Tongobriga publicada neste mesmo volume.
DIAS, Lino Tavares (1989) – Tongobriga (Freixo, Marco de Canaveses). Os ca-
minhos romanos que ali chegavam. Arqueologia. Porto. 19 (1989) 143-146.
4
Páginas 25-28 de DIAS, Lino Tavares – Tongobriga. Lisboa: Instituto Portu-
DIAS, Lino Tavares – Povoamento romano na bacia do Douro: a criação de cida-
guês do Património Arquitectónico (IPPAR), 1997.
des. Tongobriga e o Territorium. In Actas do Congresso Internacional «Património
Páginas 9-11 de DIAS, Lino Tavares; SOARES, Rosa – Tongobriga. Contributo Do-
Cultural y Território en el Valle del Duero». Valladolid: Junta de Castilla y Leon,
cumental. Porto: Instituto Português do Património Arquitetónico (IPPAR - Escola
2010. pp. 33-52.
Profissional de Arqueologia (EPA), 1999.
DIAS, Lino Tavares – Tongobriga civitas transduriana na Tarraconense. In VILAR, Jordi
5
López (coord.) – Congrés Internacional D’Arqueologia i Món Antic, August i les
Boletim de Architectura e de Archeologia da Real Associação dos Architectos
Provícies Occidentals – 2000 aniversari de la mort D’August [Tarraco Biennal, 2].
Civis e Archeologos Portugueses. Lisboa. 2ª Série. Tomo 4, nº 4, 5 e 7 (1883-
Páginas 70 e 105 de SARMENTO, Francisco Martins – Inscripções ineditas.
Tarragona: Fundació Privada Mútua Catalana, 2015. pp. 67-74.
198
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1884) 58-59, 69-70, 105-106.
Património Arquitectónico (IPPAR), 1997.
Página 246 de SARMENTO, Francisco Martins – Antiqua. Apontamentos de Ar-
20 Ibidem.
queologia (Leitura e organização de António Amaro das Neves). Guimarães: Socie-
21 Idem, ibidem.
dade Martins Sarmento, 1999.
22 Idem, página 66.
Reproduzimos a leitura de Armando Redentor, que compila as fontes e leituras
23 Idem, página 67.
anteriores (páginas 97-98 de REDENTOR, Armando José Mariano – A cultura epi-
24 Idem, ibidem.
gráfica no Conventus Bracaraugustanus (Pars Occidentalis). Percursos pela socie-
25 Idem, página 65.
dade brácara da época romana. Volume 2. Coimbra: Imprensa da Universidade,
26 Idem, página 66.
2017.).
Citando, a propósito do edifício de Clunia, PALOL, Pedro – Los edifícios de culto en
6 Página 236 de SARMENTO, Francisco Martins (1887) – Para o Pantheon Lusi-
la ciudad de Clunia. Anas. Mérida. 2-3 (1989-1990) 37-56.
tano. Revista Lusitana. Porto. 1 (1887-1889) 227-240.
27 Idem, página 75.
7 Páginas 14-62 de DIAS, Lino Tavares; SOARES, Rosa – Tongobriga. Contri-
Em apoio desta tese, Lino Tavares Dias sugere poderem estar relacionadas com
buto Documental. Porto: Instituto Português do Património Arquitetónico (IPPAR
este espaço um conjunto de tegulae com a marca ST, que interpreta como abre-
- Escola Profissional de Arqueologia (EPA), 1999.
viatura de um eventual senatus de Tongobriga, (Dias, 2016: 66-67), abrindo a pos-
8
Para além da bibliografia do sítio arqueológico, veja-se para uma cronologia
sibilidade do edifício que admite ter existido naquele local ter servido igualmente
das principais descobertas, interpretações e fases da investigação sobre Tongobri-
de Curia. Em publicação anterior, todavia, apontava uma cronologia tardia (séculos
ga, LIMA, António Manuel – Tongobriga - Santa Maria do Freixo [Projeto de In-
IV-V) para aquela marca cerâmica, que aliás ocorre em telhas aparecidas no núcleo
vestigação Arqueológica para o Quadriénio 2014–2017]. Memória descritiva
habitacional poente e em outros locais distintos do povoado (Dias, 1997: 131).
e justificativa. Marco de Canaveses: Secretaria de Estado da Cultura - Direção
28 Páginas 77-78 de DIAS, Lino Tavares – Tongobriga. Lisboa: Instituto Portu-
Regional de Cultura do Norte (DRCN), 2013 (policopiado).
guês do Património Arquitectónico (IPPAR), 1997.
(disponivel em http://www.academia.edu/8284208)
29 Idem, páginas 78-80 e 186187. 30 Páginas 121-134 de DIAS, Lino Tavares – Necrópoles no territorium de Tongobriga. Conimbriga. Coimbra. 32-33 (1993-1994) 107-136. Páginas 119-126 e 221 de DIAS, Lino Tavares – Tongobriga. Lisboa: Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR), 1997.
9
DIAS, Lino Tavares – Estação Arqueológica de Freixo – Marco de Canaveses.
31 Páginas 127-137 de DIAS, Lino Tavares – Tongobriga. Lisboa: Instituto Portu-
Arqueologia. Porto. 9 (1984) 86-90.
guês do Património Arquitectónico (IPPAR), 1997.
10 DIAS, Lino Tavares – Área Arqueológica do Freixo. Informação Arqueológica.
32 Idem, páginas 239-281.
Lisboa. 4 (1984) 77-85.
33 Páginas 29-30 de DIAS, Lino Tavares – Tongobriga. Lisboa: Instituto Portu-
11 Páginas 79-80 de DIAS, Lino Tavares; SOARES, Rosa – Tongobriga. Contri-
guês do Património Arquitectónico (IPPAR), 1997.
buto Documental. Porto: Instituto Português do Património Arquitetónico (IPPAR
Páginas 761-763 de DIAS, Lino Tavares – Tongobriga. In RODRIGUÉZ COLME-
- Escola Profissional de Arqueologia (EPA), 1999.
NERO, António (coord.) – Los orígenes de la ciudad en el Noroeste Hispánico.
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36 Idem, ibidem.
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37 Página 30 de DIAS, Lino Tavares – Tongobriga. Lisboa: Instituto Português do
19 Página 65 de DIAS, Lino Tavares – Tongobriga. Lisboa: Instituto Português do
Património Arquitectónico (IPPAR), 1997.
TO N G O B RI GA : CO L E TÂ NE A DE E STUDOS COM E M OR ATIVOS DE 4 0 A NOS DE INV E STIGAÇÃO
199
38 Idem, página 283.
nico (IPPAR)/Escola Profissional de Arqueologia (EPA), 1999. pp. 77-107.
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44 Idem, páginas 325-326.
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45 Idem; ibidem.
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48 Idem, passim.
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751-778.
DIAS, Lino Tavares – Tongobriga, a cidade que há no futuro. In ROCHA, Charles;
50 Ibidem; Ibidem.
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52 1995-2013.
Congreso Internacional. Vol. 2. Lugo: Diputación Provincial, 1999. pp. 751-778.
53 LIMA, António Manuel – Os mosaicos da Igreja de Santa Maria do Freixo e
58 DIAS, Lino Tavares – Novos contributos sobre o Forum de Tongobriga. In Car-
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los Alberto Ferreira de Almeida. In Memoriam. Porto: Faculdade de Letras da Uni-
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versidade do Porto, 1999. pp. 279-285.
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55 Página 102 de DIAS, Lino Tavares – A urbanização do Noroeste Peninsular: o
Páginas 120-121 de DIAS, Lino Tavares – O momento e a forma de construir uma
caso de Tongobriga. In DIAS, Lino Tavares; ARAÚJO, Jorge M. M. (coord.) - Actas
cidade no Noroeste da Hispânia, periferia do Império romano e fronteira atlântica.
da Mesa Redonda “Emergência e Desenvolvimento das Cidades Romanas no
Revista da Faculdade de Letras. Ciências e Técnicas do Património. Porto. 12
Norte da Península Ibérica”. Porto: Instituto Português do Património Arquitectó-
(2013) 113-126.
200
TO N GO BR I GA : CO L ETÂ N EA D E ES T UD O S CO M EM OR ATIVOS DE 4 0 A NOS DE INV E STIGAÇÃO
60 Página 78 de DIAS, Lino Tavares – O “momento” e a “maneira” de construir
Tongobriga. In ROCHA, Charles; DIAS, Lino Tavares; ALARCÃO, Pedro – Tongobri-
uma cidade no Noroeste da Hispânia, periferia atlântica do Império. Portugal Ro-
ga. Reflexões sobre o seu desenho urbano. Porto: Faculdade de Letras da Univer-
mano.com – Revista de arqueologia romana. I: 2 (2012, Junho) 74-82.
sidade do Porto (FLUP) - CITCEM/Edições Afrontamento, 2015. pp. 31-187.
(disponível em https://issuu.com/terraeantiqvae/docs/revista_portugalromano-n-
69 Página 32 de ROCHA, Charles – Reflexões sobre o desenho urbano de Ton-
2-vers_1_1)
gobriga. In ROCHA, Charles; DIAS, Lino Tavares; ALARCÃO, Pedro – Tongobriga. Reflexões sobre o seu desenho urbano. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) - CITCEM/Edições Afrontamento, 2015. pp. 31-187. 70 Mas que, todavia, se resumem a cinco elementos junto à parede norte do forum e a apenas três junto à plataforma sul.
61 Página 103 de DIAS, Lino Tavares – A urbanização do Noroeste Peninsular: o
71 Idem, páginas 100-106.
caso de Tongobriga. In DIAS, Lino Tavares; ARAÚJO, Jorge M. M. (coord.) - Actas
72 E até o desfasamento cronológico entre as construções do lado norte e sul do
da Mesa Redonda “Emergência e Desenvolvimento das Cidades Romanas no
forum, que aqui não podemos discutir.
Norte da Península Ibérica”. Porto: Instituto Português do Património Arquitectó-
73 Páginas 102-106 de ROCHA, Charles – Reflexões sobre o desenho urbano de
nico (IPPAR)/Escola Profissional de Arqueologia (EPA), 1999. pp. 77-107.
Tongobriga. In ROCHA, Charles; DIAS, Lino Tavares; ALARCÃO, Pedro – Tongobri-
62 Página 50 de ROCHA, Charles (2015) – Reflexões sobre o desenho urbano de
ga. Reflexões sobre o seu desenho urbano. Porto: Faculdade de Letras da Univer-
Tongobriga. In ROCHA, Charles; DIAS, Lino Tavares; ALARCÃO, Pedro – Tongobri-
sidade do Porto (FLUP) - CITCEM/Edições Afrontamento, 2015. pp. 31-187.
ga. Reflexões sobre o seu desenho urbano. Porto: Faculdade de Letras da Univer-
74 Página 88 de DIAS, Lino Tavares – A urbanização do Noroeste Peninsular: o
sidade do Porto (FLUP) - CITCEM/Edições Afrontamento, 2015. pp. 31-187.
caso de Tongobriga. In DIAS, Lino Tavares; ARAÚJO, Jorge M. M. (coord.) - Actas
63 Páginas 30-31 de DIAS, Lino Tavares – Tongobriga. Lisboa: Instituto Portu-
da Mesa Redonda “Emergência e Desenvolvimento das Cidades Romanas no
guês do Património Arquitectónico (IPPAR), 1997.
Norte da Península Ibérica”. Porto: Instituto Português do Património Arquitectó-
64 Página 50 de ROCHA, Charles – Reflexões sobre o desenho urbano de Ton-
nico (IPPAR)/Escola Profissional de Arqueologia (EPA), 1999. pp. 77-107.
gobriga. In ROCHA, Charles; DIAS, Lino Tavares; ALARCÃO, Pedro – Tongobriga.
75 Página 106 de ROCHA, Charles – Reflexões sobre o desenho urbano de Ton-
Reflexões sobre o seu desenho urbano. Porto: Faculdade de Letras da Universida-
gobriga. In ROCHA, Charles; DIAS, Lino Tavares; ALARCÃO, Pedro – Tongobriga.
de do Porto (FLUP) - CITCEM/Edições Afrontamento, 2015. pp. 31-187.
Reflexões sobre o seu desenho urbano. Porto: Faculdade de Letras da Universida-
65 Páginas 22-23 de MARTINS, Manuela; DELGADO, Manuela – História e ar-
de do Porto (FLUP) - CITCEM/Edições Afrontamento, 2015. pp. 31-187.
queologia de uma cidade em devir: Bracara Augusta. Cadernos de Arqueologia.
76 Possibilidade para a qual dá como paralelos os fora de César, em Roma, e o de
Braga. 2ª série, 6-7 (1989-1990) 11-39.
Smyrne, na Turquia.
Páginas 59 e 70 de MARTINS, Manuela – A urbanização do Noroeste peninsular: o
Páginas 183-184 de ROCHA, Charles – Reflexões sobre o desenho urbano de
caso de Bracara Augusta. In DIAS, Lino Tavares; ARAÚJO, Jorge M. M. (coord.) - Ac-
Tongobriga. In ROCHA, Charles; DIAS, Lino Tavares; ALARCÃO, Pedro – Tongobri-
tas da Mesa Redonda “Emergência e Desenvolvimento das Cidades Romanas no
ga. Reflexões sobre o seu desenho urbano. Porto: Faculdade de Letras da Uni-
Norte da Península Ibérica”. Porto: Instituto Português do Património Arquitectó-
versidade do Porto (FLUP) - CITCEM/Edições Afrontamento, 2015. pp. 31-187.
nico (IPPAR)/Escola Profissional de Arqueologia (EPA), 1999. pp. 53-76.
77 Idem, páginas 114-118.
Página 22 de MARTINS, Manuela – Arqueologia urbana em Braga: uma experiên-
78 Página 67 de DIAS, Lino Tavares – Tongobriga. Lisboa: Instituto Português do
cia multidisciplinar em busca de Bracara Augusta. In GUITART i DURAN, Josep;
Património Arquitectónico (IPPAR), 1997.
PERA i ISERN, Joaquim (ed.) – Primer simposi Patrimoni i Turisme Cultural. Ar-
79 Páginas 120-121 de ROCHA, Charles – Reflexões sobre o desenho urbano de
queologia Viva de les Ciutats de l’Antiguitat. Guissona: Patronat d’Arqueologia de
Tongobriga. In ROCHA, Charles; DIAS, Lino Tavares; ALARCÃO, Pedro – Tongobri-
Guissona, 2004. pp. 17-40.
ga. Reflexões sobre o seu desenho urbano. Porto: Faculdade de Letras da Univer-
66 Páginas 80-82 de ROCHA, Charles – Reflexões sobre o desenho urbano de
sidade do Porto (FLUP) - CITCEM/Edições Afrontamento, 2015. pp. 31-187.
Tongobriga. In ROCHA, Charles; DIAS, Lino Tavares; ALARCÃO, Pedro – Tongobri-
80 Página 122 de ROCHA, Charles – Reflexões sobre o desenho urbano de Ton-
ga. Reflexões sobre o seu desenho urbano. Porto: Faculdade de Letras da Univer-
gobriga. In ROCHA, Charles; DIAS, Lino Tavares; ALARCÃO, Pedro – Tongobriga.
sidade do Porto (FLUP) - CITCEM/Edições Afrontamento, 2015. pp. 31-187.
Reflexões sobre o seu desenho urbano. Porto: Faculdade de Letras da Universida-
67 DIAS, Lino Tavares – Urbanization and Architecture on the outskirts of the
de do Porto (FLUP) - CITCEM/Edições Afrontamento, 2015. pp. 31-187.
Roman Empire. In NOGALES, Trinidad; RODÁ, Isabel (eds.) - Roma y las provincias:
81 Idem, ibidem.
modelo y difusion. Vol. 2. Mérida/Roma: Universidad de Sevilla, 2011. pp. 707-
82 Página 144 de DIAS, Lino Tavares – Tongobriga (Freixo, Marco de Canaveses).
713.
Os caminhos romanos que ali chegavam. Arqueologia. Porto. 19 (1989) 143-146.
Páginas 86-87 de ROCHA, Charles – Reflexões sobre o desenho urbano de Ton-
83 Páginas 126-127 de ROCHA, Charles – Reflexões sobre o desenho urbano de
gobriga. In ROCHA, Charles; DIAS, Lino Tavares; ALARCÃO, Pedro – Tongobriga.
Tongobriga. In ROCHA, Charles; DIAS, Lino Tavares; ALARCÃO, Pedro – Tongobri-
Reflexões sobre o seu desenho urbano. Porto: Faculdade de Letras da Universida-
ga. Reflexões sobre o seu desenho urbano. Porto: Faculdade de Letras da Univer-
de do Porto (FLUP) - CITCEM/Edições Afrontamento, 2015. pp. 31-187.
sidade do Porto (FLUP) - CITCEM/Edições Afrontamento, 2015. pp. 31-187.
68 Páginas 88-89 de ROCHA, Charles – Reflexões sobre o desenho urbano de
84 Idem, página 126.
TO N G O B RI GA : CO L E TÂ NE A DE E STUDOS COM E M OR ATIVOS DE 4 0 A NOS DE INV E STIGAÇÃO
201
85 Ibidem.
100
Idem, mapas 3.2 e 3.4.
86 Idem, página 132 e seguintes.
101
LIMA, António Manuel; ARAÚJO, Jorge – Interpretar Tongobriga a partir
87 MARTINS, Manuela; MAR, Ricardo; RIBEIRO, Jorge; MAGALHÃES, Fernanda
do seu “Centro”. In Centros Interpretativos: técnicas, espaços, conceitos e dis-
– A construção do teatro romano de Bracara Augusta. In RIBEIRO, Maria C.; MELO,
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Arnaldo S. (coord.) – História da Construção: arquiteturas e técnicas construti-
(DRCN), 2019. pp. 113-133.
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102
MARTINS, Manuela; MAGALHÃES, Fernanda; RIBEIRO, Jorge; MARTINEZ PEÑIN,
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Raquel; MAR, Ricardo – El teatro romano de Bracara Augusta y la urbanización del
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LIMA, António Manuel; MENCHÓN I BES, Joan (dir.) – Tongobriga. O
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89 Ibidem.
103
90 Idem, páginas 148-154.
Freixo [Projeto de Investigação Arqueológica para o Quadriénio 2014–2017].
91 Sob direção de Lino Tavares Dias (DRCN) e Rudolf Winkes (Brown University).
Memória descritiva e justificativa. Marco de Canaveses: Secretaria de Estado da
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Cultura - Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN), 2013 (policopiado).
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(disponivel em http://www.academia.edu/8284208)
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104
Câmara Municipal de Baião, 2016.
truir uma cidade no Noroeste da Hispânia, periferia do Império romano e fronteira
95 Página 153 de ROCHA, Charles (2015) – Reflexões sobre o desenho urbano
atlântica. Revista da Faculdade de Letras. Ciências e Técnicas do Património. Por-
de Tongobriga. In ROCHA, Charles; DIAS, Lino Tavares; ALARCÃO, Pedro – Ton-
to. 12 (2013) 113-126.
gobriga. Reflexões sobre o seu desenho urbano. Porto: Faculdade de Letras da
Página 70 de DIAS, Lino Tavares – Tongobriga civitas transduriana na Tarraconense.
Universidade do Porto (FLUP) - CITCEM/Edições Afrontamento, 2015. pp. 31-
In VILAR, Jordi López (coord.) – Congrés Internacional D’Arqueologia i Món Antic,
187.
August i les Provícies Occidentals – 2000 aniversari de la mort D’August [Tar-
96 Página 89 de DIAS, Lino Tavares – Baião, em torno do ano zero. Baião: Câma-
raco Biennal, 2]. Tarragona: Fundació Privada Mútua Catalana, 2015. pp. 67-74.
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Página 79 de DIAS, Lino Tavares – Baião, em torno do ano zero. Baião: Câmara
Página 117 de DIAS, Lino Tavares – O momento e a forma de cons-
97 Página 33 de LIMA, António Manuel; MENCHÓN I BES, Joan (dir.) – Ton-
Municipal de Baião, 2016.
gobriga. O Espírito do Lugar. Guia Arqueológico Visual. Porto: Direção Regional
105
de Cultura do Norte (DRCN)/ Câmara Municipal do Marco de Canaveses, 2018.
Câmara Municipal de Baião, 2016.
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
106
Ilustração de Javier Torres e Jan Vallès.
In DIAS, Lino Tavares; ARAÚJO, Jorge M. M. (coord.) - Actas da Mesa Redonda
Página 67 de DIAS, Lino Tavares – Baião, em torno do ano zero. Baião:
Página 253 de ALARCÃO, Jorge de – Algumas questões para debate.
“Emergência e Desenvolvimento das Cidades Romanas no Norte da Península Ibérica”. Porto: Institutuo Português do Património Arquitectónico (IPPAR)/Escola Profissional de Arqueologia (EPA), 1999. pp. 251-254. 107
LIMA, António Manuel (coord.) – Mudar de vida. Tongobriga: exposição
98 Arqueólogo que, desde 2014 até recentemente, coordenou os trabalhos de
permanente. Porto: Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN), 2016
campo e de divulgação na Estação Arqueológica do Freixo.
[Exposição].
99 Página 21 de LIMA, António Manuel – Tongobriga - Santa Maria do Freixo
108
[Projeto de Investigação Arqueológica para o Quadriénio 2014–2017]. Memória
Perspectivas. In MARTÍNEZ CABALLERO, Santiago; SANTOS YANGUAS, Juan;
descritiva e justificativa. Marco de Canaveses: Secretaria de Estado da Cultura -
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Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN), 2013 (policopiado).
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(disponivel em http://www.academia.edu/8284208)
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Historica, 2. Segovia: Museo de Segovia (Junta de Castilla y Léon) y Asociación de Amigos del Museo de Segovia, 2018. pp. 343–365. (disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
202
TO N GO BR I GA : CO L ETÂ N EA D E ES T UD O S CO M EM OR ATIVOS DE 4 0 A NOS DE INV E STIGAÇÃO
Novos Dados, Novas Perspectivas. In MARTÍNEZ CABALLERO, Santiago; SANTOS YANGUAS, Juan; MUNICIO GONZÁLEZ, Luciano J. (ed.) – El Urbanismo de las Ciudades Romanas del Valle del Duero. Actas de la I Reuníon de las Ciudades Romanas del Valle del Duero, Segovia, 20 y 21 de Octubre del 2016. Anejos de 109
Página 345 de LIMA, António Manuel – Tongobriga Romana. Novos
Segovia Historica, 2. Segovia: Museo de Segovia (Junta de Castilla y Léon) y Aso-
Dados, Novas Perspectivas. In MARTÍNEZ CABALLERO, Santiago; SANTOS
ciación de Amigos del Museo de Segovia, 2018. pp. 343–365.
YANGUAS, Juan; MUNICIO GONZÁLEZ, Luciano J. (ed.) – El Urbanismo de las
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
Ciudades Romanas del Valle del Duero. Actas de la I Reuníon de las Ciudades Romanas del Valle del Duero, Segovia, 20 y 21 de Octubre del 2016. Anejos de Segovia Historica, 2. Segovia: Museo de Segovia (Junta de Castilla y Léon) y Asociación de Amigos del Museo de Segovia, 2018. pp. 343–365. (disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
116
Idem, página 345.
117
Página 32 de DIAS, Lino Tavares – Contributo para a análise do orde-
namento romano do território marginal do rio Douro, entre o Tâmega e o Corgo. Douro – Estudos e Documentos. Porto. 1:2 (1996) 31-56. Página 21 de DIAS, Lino Tavares – Tongobriga. Lisboa: Instituto Português do 110
Idem, ibidem.
Património Arquitectónico (IPPAR), 1997.
Concordando em parte com as dificuldades igualmente sentidas por Charles Ro-
Página 82 de DIAS, Lino Tavares – A urbanização do Noroeste Peninsular: o caso
cha, que levaram este autor à admissão de uma dupla grelha ordenadora do urba-
de Tongobriga. In DIAS, Lino Tavares; ARAÚJO, Jorge M. M. (coord.) - Actas da
nismo, desfasada, como referimos (páginas 92-95 de ROCHA, Charles – Reflexões
Mesa Redonda “Emergência e Desenvolvimento das Cidades Romanas no Nor-
sobre o desenho urbano de Tongobriga. In ROCHA, Charles; DIAS, Lino Tavares;
te da Península Ibérica”. Porto: Instituto Português do Património Arquitectónico
ALARCÃO, Pedro – Tongobriga. Reflexões sobre o seu desenho urbano. Porto:
(IPPAR)/Escola Profissional de Arqueologia (EPA), 1999. pp. 77-107.
Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) - CITCEM/Edições Afronta-
118
mento, 2015. pp. 31-187.).
Tongobriga: exposição permanente. Porto: Direção Regional de Cultura do Norte
111
(DRCN), 2016 [Exposição].
Página 89 de ROCHA, Charles – Reflexões sobre o desenho urbano de
Páginas 13-15 de LIMA, António Manuel (coord.) – Mudar de vida.
Tongobriga. In ROCHA, Charles; DIAS, Lino Tavares; ALARCÃO, Pedro – Tongobri-
Página 348 de LIMA, António Manuel – Tongobriga Romana. Novos Dados, No-
ga. Reflexões sobre o seu desenho urbano. Porto: Faculdade de Letras da Univer-
vas Perspectivas. In MARTÍNEZ CABALLERO, Santiago; SANTOS YANGUAS,
sidade do Porto (FLUP) - CITCEM/Edições Afrontamento, 2015. pp. 31-187.
Juan; MUNICIO GONZÁLEZ, Luciano J. (ed.) – El Urbanismo de las Ciudades
112
Páginas 186-187 de DIAS, Lino Tavares – Tongobriga. Lisboa: Instituto
Romanas del Valle del Duero. Actas de la I Reuníon de las Ciudades Romanas
Português do Património Arquitectónico (IPPAR), 1997.
del Valle del Duero, Segovia, 20 y 21 de Octubre del 2016. Anejos de Segovia
113
Historica, 2. Segovia: Museo de Segovia (Junta de Castilla y Léon) y Asociación
Página 345, figura 4 de LIMA, António Manuel – Tongobriga Romana.
Novos Dados, Novas Perspectivas. In MARTÍNEZ CABALLERO, Santiago; SANTOS
de Amigos del Museo de Segovia, 2018. pp. 343–365.
YANGUAS, Juan; MUNICIO GONZÁLEZ, Luciano J. (ed.) – El Urbanismo de las
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
Ciudades Romanas del Valle del Duero. Actas de la I Reuníon de las Ciudades Romanas del Valle del Duero, Segovia, 20 y 21 de Octubre del 2016. Anejos de Segovia Historica, 2. Segovia: Museo de Segovia (Junta de Castilla y Léon) y Asociación de Amigos del Museo de Segovia, 2018. pp. 343–365. (disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
LIMA, António Manuel – As Termas Públicas de Tongobriga (Marco de Canaveses, Portugal. In NOGUERA CELDRÁN, José M.; GARCÍA-ENTERO, Virginia; PAVÍA PAGE, Marta (eds.) – Actas del Congreso Internacional Termas Públicas de Hispania (Murcia – Cartagena, 19 – 21 de abril de 2018). Murcia-Cartagena: Museo Arqueologico de Murcia y Museo del Teatro Romano de Cartagena, (no prelo).
114 Ver https://www.brown.edu/Departments/Joukowsky_Institute/
119
fieldwork/tongobrigaexcavations
Dados, Novas Perspectivas. In MARTÍNEZ CABALLERO, Santiago; SANTOS
[consultado em 2020.06.13].
YANGUAS, Juan; MUNICIO GONZÁLEZ, Luciano J. (ed.) – El Urbanismo de las
Página 348 de LIMA, António Manuel – Tongobriga Romana. Novos
Ciudades Romanas del Valle del Duero. Actas de la I Reuníon de las Ciudades Romanas del Valle del Duero, Segovia, 20 y 21 de Octubre del 2016. Anejos de Segovia Historica, 2. Segovia: Museo de Segovia (Junta de Castilla y Léon) y Asociación de Amigos del Museo de Segovia, 2018. pp. 343–365. 115
Página 346, figura 3 de LIMA, António Manuel – Tongobriga Romana.
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
TO N G O B RI GA : CO L E TÂ NE A DE E STUDOS COM E M OR ATIVOS DE 4 0 A NOS DE INV E STIGAÇÃO
203
Norte/ Câmara Municipal do Marco de Canaveses, 2017. (disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
120
Idem, página 351.
121
Idem, página 353.
122
ROCHA, Charles – Reflexões sobre o desenho urbano de Tongobriga. In
129
Página 361 de LIMA, António Manuel – Tongobriga Romana. Novos
ROCHA, Charles; DIAS, Lino Tavares; ALARCÃO, Pedro – Tongobriga. Reflexões
Dados, Novas Perspectivas. In MARTÍNEZ CABALLERO, Santiago; SANTOS
sobre o seu desenho urbano. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto
YANGUAS, Juan; MUNICIO GONZÁLEZ, Luciano J. (ed.) – El Urbanismo de las
(FLUP) - CITCEM/Edições Afrontamento, 2015. pp. 31-187.
Ciudades Romanas del Valle del Duero. Actas de la I Reuníon de las Ciudades
DIAS, Lino Tavares – O momento e a forma de construir uma cidade no Noroeste
Romanas del Valle del Duero, Segovia, 20 y 21 de Octubre del 2016. Anejos
da Hispânia, periferia do Império romano e fronteira atlântica. Revista da Facul-
de Segovia Historica, 2. Segovia: Museo de Segovia (Junta de Castilla y Léon) y
dade de Letras. Ciências e Técnicas do Património. Porto. 12 (2013) 113-126.
Asociación de Amigos del Museo de Segovia, 2018. pp. 343–365.
Página 80 de DIAS, Lino Tavares – Baião, em torno do ano zero. Baião: Câmara
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
Municipal de Baião, 2016. 123
Página 355 e 356 de LIMA, António Manuel – Tongobriga Romana. No-
vos Dados, Novas Perspectivas. In MARTÍNEZ CABALLERO, Santiago; SANTOS YANGUAS, Juan; MUNICIO GONZÁLEZ, Luciano J. (ed.) – El Urbanismo de las Ciudades Romanas del Valle del Duero. Actas de la I Reuníon de las Ciudades
130
Romanas del Valle del Duero, Segovia, 20 y 21 de Octubre del 2016. Anejos de
construir uma cidade no Noroeste da Hispânia, periferia do Império romano e
Segovia Historica, 2. Segovia: Museo de Segovia (Junta de Castilla y Léon) y Aso-
fronteira atlântica. Revista da Faculdade de Letras. Ciências e Técnicas do Pa-
ciación de Amigos del Museo de Segovia, 2018. pp. 343–365.
trimónio. Porto. 12 (2013) 113-126.
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
Páginas 78-79 de DIAS, Lino Tavares – Baião, em torno do ano zero. Baião: Câma-
Páginas 114-115 de DIAS, Lino Tavares – O momento e a forma de
ra Municipal de Baião, 2016. 131
LIMA, António Manuel – As Termas Públicas de Tongobriga (Marco de Ca-
naveses, Portugal. In NOGUERA CELDRÁN, José M.; GARCÍA-ENTERO, Virginia; PAVÍA PAGE, Marta (eds.) – Actas del Congreso Internacional Termas Públicas de Para o qual António Manuel Lima, pelo contrário, não vê nem indícios
Hispania (Murcia – Cartagena, 19 – 21 de abril de 2018). Murcia-Cartagena: Mu-
arqueológicos, nem sustentação cronológica face aos resultados da escavação da
seo Arqueologico de Murcia y Museo del Teatro Romano de Cartagena, (no prelo).
área (Página 355 de LIMA, António Manuel – Tongobriga Romana. Novos Dados,
Agradecemos a este investigador a gentileza de nos ter facultado e autorizado o
Novas Perspectivas. In MARTÍNEZ CABALLERO, Santiago; SANTOS YANGUAS,
uso deste texto original.
Juan; MUNICIO GONZÁLEZ, Luciano J. (ed.) – El Urbanismo de las Ciudades
132
Romanas del Valle del Duero. Actas de la I Reuníon de las Ciudades Romanas
133
del Valle del Duero, Segovia, 20 y 21 de Octubre del 2016. Anejos de Segovia
guês do Património Arquitectónico (IPPAR), 1997.
Historica, 2. Segovia: Museo de Segovia (Junta de Castilla y Léon) y Asociación de
134
124
Idem. Página 44 de DIAS, Lino Tavares – Tongobriga. Lisboa: Instituto Portu-
LIMA, António Manuel – As Termas Públicas de Tongobriga (Marco de Ca-
Amigos del Museo de Segovia, 2018. pp. 343–365.).
naveses, Portugal. In NOGUERA CELDRÁN, José M.; GARCÍA-ENTERO, Virginia;
125
Idem, página 355
PAVÍA PAGE, Marta (eds.) – Actas del Congreso Internacional Termas Públicas de
126
Idem, página 356, passim.
Hispania (Murcia – Cartagena, 19 – 21 de abril de 2018). Murcia-Cartagena: Mu-
127
Idem, páginas 359-361.
seo Arqueologico de Murcia y Museo del Teatro Romano de Cartagena, (no prelo).
128
Idem, ibidem.
135
Páginas 40 e 64 de DIAS, Lino Tavares – Tongobriga. Lisboa: Instituto
LIMA, António Manuel (coord.) - Freixo Antigo e Moderno. A Feira da Quaresma
Português do Património Arquitectónico (IPPAR), 1997.
I – Séculos XV a XIX. Porto: Direção Regional de Cultura do Norte/ Câmara
136
Municipal do Marco de Canaveses, 2017.
tuguês do Património Arquitectónico (IPPAR), 1997.
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
137
Páginas 33-34 de DIAS, Lino Tavares – Tongobriga. Lisboa: Instituto Por-
Página 359 de LIMA, António Manuel (coord.) - Freixo Antigo e Moder-
no. A Feira da Quaresma II – Documentos para a Sua História. Porto: Direção Regional de Cultura do Norte/ Câmara Municipal do Marco de Canaveses, 2017. (disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
LIMA, António Manuel (coord.) - Freixo Antigo e Moderno. A Feira da Quaresma II – Documentos para a Sua História. Porto: Direção Regional de Cultura do
204
TO N GO BR I GA : CO L ETÂ N EA D E ES T UD O S CO M EM OR ATIVOS DE 4 0 A NOS DE INV E STIGAÇÃO
138
Realizadas nos anos de 2005-2008 no âmbito do protocolo de cola-
seo Arqueologico de Murcia y Museo del Teatro Romano de Cartagena, (no prelo).
boração com a Universidade americana de Brown (direção de Rudolf Winkes) e
144
2014-2015, sob direção do próprio António Manuel Lima.
LIMA, António Manuel (coord.) - Freixo Antigo e Moderno. A Feira da Quaresma
139
Página 65 de DIAS, Lino Tavares – Tongobriga. Lisboa: Instituto Portu-
Ibidem.
I – Séculos XV a XIX. Porto: Direção Regional de Cultura do Norte/ Câmara
guês do Património Arquitectónico (IPPAR), 1997.
Municipal do Marco de Canaveses, 2017.
Página 9 de DIAS, Lino Tavares – Reflectir em 1999 sobre velhas centralidades no
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
Norte da Península. In DIAS, Lino Tavares; ARAÚJO, Jorge M. M. (coord.) - Actas da Mesa Redonda “Emergência e Desenvolvimento das Cidades Romanas no Norte da Península Ibérica”. Porto: Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR)/Escola Profissional de Arqueologia (EPA), 1999. pp. 7-13. Página 8 de ROCHA, Charles; DIAS, Lino Tavares; ALARCÃO, Pedro - Tongobriga.
LIMA, António Manuel (coord.) - Freixo Antigo e Moderno. A Feira da Quaresma
Reflexões sobre o seu desenho urbano. Porto: Faculdade de Letras da Universida-
II – Documentos para a Sua História. Porto: Direção Regional de Cultura do
de do Porto (FLUP) - CITCEM/Edições Afrontamento, 2015.
Norte/ Câmara Municipal do Marco de Canaveses, 2017.
140
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
Páginas 348-349 de LIMA, António Manuel – Tongobriga Romana. No-
vos Dados, Novas Perspectivas. In MARTÍNEZ CABALLERO, Santiago; SANTOS YANGUAS, Juan; MUNICIO GONZÁLEZ, Luciano J. (ed.) – El Urbanismo de las Ciudades Romanas del Valle del Duero. Actas de la I Reuníon de las Ciudades Romanas del Valle del Duero, Segovia, 20 y 21 de Octubre del 2016. Anejos de Segovia Historica, 2. Segovia: Museo de Segovia (Junta de Castilla y Léon) y Aso-
145
ciación de Amigos del Museo de Segovia, 2018. pp. 343–365.
Perspectivas. In MARTÍNEZ CABALLERO, Santiago; SANTOS YANGUAS, Juan;
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
MUNICIO GONZÁLEZ, Luciano J. (ed.) – El Urbanismo de las Ciudades Ro-
LIMA, António Manuel – Tongobriga Romana. Novos Dados, Novas
manas del Valle del Duero. Actas de la I Reuníon de las Ciudades Romanas del Valle del Duero, Segovia, 20 y 21 de Octubre del 2016. Anejos de Segovia Historica, 2. Segovia: Museo de Segovia (Junta de Castilla y Léon) y Asociación de Amigos del Museo de Segovia, 2018. pp. 343–365. 141
DIAS, Lino Tavares – O “momento” e a “maneira” de construir uma cidade
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
no Noroeste da Hispânia, periferia atlântica do Império. Portugal Romano.com – Revista de arqueologia romana. I: 2 (2012, Junho) 74-82. (disponível em https://issuu.com/terraeantiqvae/docs/revista_portugalromanon2-vers_1_1) 146
Idem, ibidem.
147
Idem, página 356.
148
O modelo vitruviano sugerido por Charles Rocha e Lino Tavares Dias
pode apreciar-se na reconstituição, prudentemente esquemática: Páginas 118-120 de DIAS, Lino Tavares – O momento e a forma de construir uma
Página 153 de ROCHA, Charles – Reflexões sobre o desenho urbano de Tongobri-
cidade no Noroeste da Hispânia, periferia do Império romano e fronteira atlântica.
ga. In ROCHA, Charles; DIAS, Lino Tavares; ALARCÃO, Pedro – Tongobriga. Refle-
Revista da Faculdade de Letras. Ciências e Técnicas do Património. Porto. 12
xões sobre o seu desenho urbano. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do
(2013) 113-126.
Porto (FLUP) - CITCEM/Edições Afrontamento, 2015. pp. 31-187.
Página 70 de DIAS, Lino Tavares – Tongobriga civitas transduriana na Tarraconense.
Ou, num desenho mais livre, do ilustrador César Figueiredo:
In VILAR, Jordi López (coord.) – Congrés Internacional D’Arqueologia i Món Antic,
Páginas 88-89 de DIAS, Lino Tavares – Baião, em torno do ano zero. Baião: Câma-
August i les Provícies Occidentals – 2000 aniversari de la mort D’August [Tar-
ra Municipal de Baião, 2016.
raco Biennal, 2]. Tarragona: Fundació Privada Mútua Catalana, 2015. pp. 67-74.
A proposta de António Manuel Lima apresenta-se em vários recursos pedagógicos
142
recentes, nomeadamente num guia do sítio arqueológico:
Página 56 de ROCHA, Charles – Reflexões sobre o desenho urbano de
Tongobriga. In ROCHA, Charles; DIAS, Lino Tavares; ALARCÃO, Pedro – Tongobri-
Página 33 de LIMA, António Manuel; MENCHÓN I BES, Joan (dir.) – Tongobriga.
ga. Reflexões sobre o seu desenho urbano. Porto: Faculdade de Letras da Univer-
O Espírito do Lugar. Guia Arqueológico Visual. Porto: Direção Regional de Cul-
sidade do Porto (FLUP) - CITCEM/Edições Afrontamento, 2015. pp. 31-187.
tura do Norte (DRCN)/ Câmara Municipal do Marco de Canaveses, 2018.
143
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
LIMA, António Manuel – As Termas Públicas de Tongobriga (Marco de Ca-
naveses, Portugal. In NOGUERA CELDRÁN, José M.; GARCÍA-ENTERO, Virginia; PAVÍA PAGE, Marta (eds.) – Actas del Congreso Internacional Termas Públicas de Hispania (Murcia – Cartagena, 19 – 21 de abril de 2018). Murcia-Cartagena: Mu-
TO N G O B RI GA : CO L E TÂ NE A DE E STUDOS COM E M OR ATIVOS DE 4 0 A NOS DE INV E STIGAÇÃO
205
149
Página 29 de DIAS, Lino Tavares – Tongobriga. Lisboa: Instituto Portu-
populações”, segundo o testemunho de Estrabão (página 70 de DIAS, Lino Tava-
guês do Património Arquitectónico (IPPAR), 1997.
res – Tongobriga civitas transduriana na Tarraconense. In VILAR, Jordi López (coord.)
Página 83 de DIAS, Lino Tavares – Gestão integrada da Área Arqueológica do
– Congrés Internacional D’Arqueologia i Món Antic, August i les Provícies Oc-
Freixo - Tongobriga: contributo para abordagem à estratégia de intervenção entre
cidentals – 2000 aniversari de la mort D’August [Tarraco Biennal, 2]. Tarragona:
1980 e 2010. Al-madan. Almada. 16: 2ª série (2008) 82-91.
Fundació Privada Mútua Catalana, 2015. pp. 67-74, e página 127 de DIAS, Lino
150
Página 347 de LIMA, António Manuel – Tongobriga Romana. Novos
Tavares - Ano zero, Ano 100 no Territorium de Tongobriga. In Construir, Navegar,
Dados, Novas Perspectivas. In MARTÍNEZ CABALLERO, Santiago; SANTOS
(Re)usar o Douro da Antiguidade. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do
YANGUAS, Juan; MUNICIO GONZÁLEZ, Luciano J. (ed.) – El Urbanismo de las
Porto (FLUP) - CITCEM, 2018. pp. 125-144.
Ciudades Romanas del Valle del Duero. Actas de la I Reuníon de las Ciudades
155
Romanas del Valle del Duero, Segovia, 20 y 21 de Octubre del 2016. Anejos de
flexões sobre o seu desenho urbano. Porto: Faculdade de Letras da Universidade
Segovia Historica, 2. Segovia: Museo de Segovia (Junta de Castilla y Léon) y Aso-
do Porto (FLUP) - CITCEM/Edições Afrontamento, 2015.
ciación de Amigos del Museo de Segovia, 2018. pp. 343–365.
156
Idem, páginas 163-164.
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
157
Página 27 de ALARCÃO, Pedro – O traçado oculto da cidade romana
ROCHA, Charles; DIAS, Lino Tavares; ALARCÃO, Pedro - Tongobriga. Re-
de Tongobriga. In ROCHA, Charles; DIAS, Lino Tavares; ALARCÃO, Pedro – Tongobriga. Reflexões sobre o seu desenho urbano. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) - CITCEM/Edições Afrontamento, 2015. pp. 25-29. 158 151
Página 321 de DIAS, Lino Tavares – Tongobriga. Lisboa: Instituto Portu-
Página 19 de DIAS, Lino Tavares – Tongobriga civitas transduriana na Tar-
raconense. In VILAR, Jordi López (coord.) – Congrés Internacional D’Arqueologia i
guês do Património Arquitectónico (IPPAR), 1997.
Món Antic, August i les Provícies Occidentals – 2000 aniversari de la mort D’Au-
Com base na cronologia de Trajano e posterior demarcação deste troço da via
gust [Tarraco Biennal, 2]. Tarragona: Fundació Privada Mútua Catalana, 2015. pp.
com miliários (Páginas 635-639 de RODRÍGUEZ COLMENERO, Antonio; FERRER
67-74.
SIERRA, Santiago; ÁLVAREZ ASOREY, Rúben D. – Miliarios e outras inscricións
159
viárias romanas do Noroeste hispânico (conventos bracarense, lucense e asturi-
ruína ao construído. In DIAS, Lino T.; ALARCÃO, Pedro (coord.) – Actas do Semi-
cense). Santiago de Compostela: Consello da Cultura Galega, 2004.).
nário Internacional de Arquitectura e Arqueologia – FAUP 2008. Interpretar a
152
Ruína. Contribuições entre campos disciplinares. Porto: Faculdade de Arquitetura
Na linha, aliás, de Vasco Mantas, que considera de origem augustana esta
Página 130 de DIAS, Lino Tavares – Interpretar o processo destrutivo; da
importante rota, sublinhando até o papel da fundação de Bracara Augusta na sua
da Universidade do Porto (FLUP), 2011. pp. 125-132.
promoção (Páginas 235 e 246 de MANTAS, Vasco G. – As Vias Romanas da Lusi-
160
tânia. Mérida: Museo Nacional de Arte Romano, 2012.).
de Tongobriga. In ROCHA, Charles; DIAS, Lino Tavares; ALARCÃO, Pedro – Ton-
153
Mesmo a proposta de orientação arqueoastronómica do forum e termas
gobriga. Reflexões sobre o seu desenho urbano. Porto: Faculdade de Letras da
– aparentemente arrojada mas, a nosso ver, muito bem fundamentada – não invia-
Universidade do Porto (FLUP) - CITCEM/Edições Afrontamento, 2015. pp. 25-29.
biliza, dependendo da cronologia do reordenamento urbanístico do castro (fosse
161
global, ou através de “planos de pormenor”), que esta orientação tenha sido repli-
cidade romanizada de Conimbriga. Porto: Faculdade de Arquitetura da Universi-
cada num padrão ordenado e metricamente adaptado ao modelo vitruviano.
dade do Porto, 2009. Tese de Doutoramento em Arquitetura (policopiado).
154
162
Esta ideia, sugerida por Lino Tavares Dias nos seus trabalhos mais antigos,
Página 28 de ALARCÃO, Pedro – O traçado oculto da cidade romana
Página 389 de ALARCÃO, Pedro – Construir na ruína. A propósito da
Página 7 de DIAS, Lino Tavares; ALARCÃO, Pedro – Apresentação. In
tem vindo a ser matizada em resultado das novas evidências arqueológicas:
DIAS, Lino Tavares; ALARCÃO, Pedro (coord.) – Actas do Seminário Internacional
Página 32 de DIAS, Lino Tavares – Contributo para a análise do ordenamento
de Arquitectura e Arqueologia – FAUP 2008. Interpretar a Ruína. Contribuições
romano do território marginal do rio Douro, entre o Tâmega e o Corgo. Douro –
entre campos disciplinares. Porto: Faculdade de Arquitetura da Universidade do
Estudos e Documentos. Porto. 1:2 (1996) 31-56.
Porto (FAUP), 2011. pp. 7-8.
Página 21 de DIAS, Lino Tavares – Tongobriga. Lisboa: Instituto Português do
163
Património Arquitectónico (IPPAR), 1997.
a ciência.
Página 82 de DIAS, Lino Tavares – A urbanização do Noroeste Peninsular: o caso
164
de Tongobriga. In DIAS, Lino Tavares; ARAÚJO, Jorge M. M. (coord.) - Actas da
RA-BRIÓN, Andrés; LÓPEZ-DÓRIGA, Inés; LIMA, António; ALMEIDA, Rubim –
Mesa Redonda “Emergência e Desenvolvimento das Cidades Romanas no Nor-
Agriculture in NW Iberia during the Bronze Age: A review of archaeobotanical data.
te da Península Ibérica”. Porto: Instituto Português do Património Arquitectónico
Journal of Archaeological Science: Reports. 10 (2016) 44-58.
(IPPAR)/Escola Profissional de Arqueologia (EPA), 1999. pp. 77-107.
(disponível em https://doi.org/10.1016/j.jasrep.2016.07.011)
No sentido do questionamento, ou mesmo de rutura, que fazem avançar
TERESO, João P.; BETTENCOURT, Ana M. S.; RAMIL-REGO, Pablo; TEI-
Em estudos mais recentes, o mesmo autor resume a sua interpretação sobre as origens de Tongobriga pela fundação de um “castro romano (…) em torno do ano zero (..) que resultou certamente da deslocação de populações dos oppida vizinhos” (página 79 de DIAS, Lino Tavares – Baião, em torno do ano zero. Baião: Câmara Municipal de Baião, 2016.), “fruto da nova política de motivação à mobilidade das
206
Página 359 de LIMA, António Manuel – Tongobriga Romana. Novos Dados, No-
TO N GO BR I GA : CO L ETÂ N EA D E ES T UD O S CO M EM OR ATIVOS DE 4 0 A NOS DE INV E STIGAÇÃO
vas Perspectivas. In MARTÍNEZ CABALLERO, Santiago; SANTOS YANGUAS, Juan; MUNICIO GONZÁLEZ, Luciano J. (ed.) – El Urbanismo de las Ciudades Romanas del Valle del Duero. Actas de la I Reuníon de las Ciudades Romanas del Valle del Duero, Segovia, 20 y 21 de Octubre del 2016. Anejos de Segovia Historica, 2. Segovia: Museo de Segovia (Junta de Castilla y Léon) y Asociación de Amigos del Museo de Segovia, 2018. pp. 343–365. (disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
165
A profundidade e alcance desse reordenamento dependem ainda muito
– em nosso entender – do alargamento das escavações arqueológicas. Só elas poderão determinar se estamos perante um caso de urbanismo castrejo (SILVA, Armando C. Ferreira da – A Cidade Castreja – análise de um processo de proto-urbanização. In TAVARES, Maria J. Ferro – A Cidade: Jornadas inter e pluridisciplinares. Lisboa: Universidade Aberta, 1993. pp. 11-26.) de matriz hipodâmica, ainda que estimulado pelas autoridades imperiais; ou se, porventura, um novo “desenho de cidade” traduziu maior vontade ou capacidade de intervenção (página 127 de DIAS, Lino Tavares - Ano zero, Ano 100 no Territorium de Tongobriga. In Construir, Navegar, (Re)usar o Douro da Antiguidade. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) - CITCEM, 2018. pp. 125-144.).
TO N G O B RI GA : CO L E TÂ NE A DE E STUDOS COM E M OR ATIVOS DE 4 0 A NOS DE INV E STIGAÇÃO
207
9 A ESCOL A PROFISSIONAL DE ARQUEOLOGIA FOR M AÇÃO
Ana Maria Dias Mascarenhas Diretora da Escola Profissional de Arqueologia e Coordenadora da Área Arqueológica do Freixo amascarenhas@culturanorte.gov.pt Ana Maria Dias Mascarenhas, natural de Macedo de Cavaleiros. É licenciado em História, variante de Arqueologia, em 1987, pós-graduada em Museologia, em 1995, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Ingressou nos quadros da Direção Regional de Cultura do Norte em 2007. É diretora executiva da Escola Profissional de Arqueologia desde 2011 e coordenadora da Área Arqueológica do Freixo desde 2019. Conta com vários trabalhos publicados sobre a Sericicultura em Trás-os-Montes.
Francisco Fernandes
Susana Nunes
Formador Técnico na Escola Profissional de Arqueologia
Formadora da Área Técnica e Coordenadora do Curso de Assistente de Arqueólogo na Escola Profissional de Arqueologia
franciscocfernandes@epa.pt Francisco Rui de Carvalho Fernandes é natural de Matosinhos. É licenciado em História, variante de Arqueologia, ramo educacional, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto desde 2000. Trabalhou de 2000 a 2005 na empresa Mola Olivarum, assumindo diversas direções científicas de trabalhos arqueológicos. Atualmente é formador na Escola Profissional de Arqueologia, onde ingressou em 2005, lecionando diversos módulos técnicos do curso de assistente de arqueólogo.
susananunes@epa.pt Susana Nunes é licenciada em História, variante de Arqueologia (2000), com mestrado em Arqueologia Pré-histórica (2003). Possui larga experiência ao nível da arqueologia de campo e de gabinete, tendo dirigido e/ou codirigido até ao momento mais de 50 intervenções arqueológicas de norte a sul do país. Participou como oradora em 12 congressos e outras reuniões científicas, e é autora ou coautora de 14 artigos em revistas da especialidade. Atualmente é formadora na Escola Profissional de Arqueologia desde o ano letivo 2012-2013, acumulando as funções de coordenadora do curso de assistente de arqueólogo desde o ano letivo 2015-2016. Nos últimos anos tem vindo a desenvolver uma série de atividades no âmbito da mediação cultural, mais concretamente ao nível da divulgação da arqueologia e do património arqueológico, através da conceção de exposições, oficinas, recriações e materiais pedagógicos para a Escola Profissional de Arqueologia.
Memórias e Futuro: a Escola Profissional de Arqueologia
O PROJETO EPA
Em outubro de 1990, um grupo de 15 jovens integrava a primeira turma do curso profissional de assistente de arqueólogo, iniciando assim uma nova etapa nas suas vidas na aldeia do Freixo, Marco de Canaveses, um projeto que iria mudar as suas vidas, mas também a própria aldeia e as ruínas de Tongobriga, deixando uma marca incontornável no património cultural e no ensino profissional do país.
A criação deste curso profissional que está na génese da Escola Profissional de Arqueologia (EPA), é o resultado de uma conjuntura favorável que exigia mudanças, com a vontade de várias pessoas, que souberam entender o momento e o tempo que se vivia, um tempo de modernização do país, através da qualificação escolar e profissional, face à recente entrada na então Comunidade Económica Europeia. De um lado, a vontade do Ministério da Educação que, face à alteração da Lei de Bases do Sistema de Educativo de 1986 (Lei n.º 46/1986 de 14 de outubro), previa agora uma modalidade especial de educação escolar, além do ensino regular, como forma de acesso às profissões; passando a educação tecnológica, artística e profissional a ser uma prioridade do ministério. Para conceber, organizar e coordenar esta nova modalidade de educação escolar, foi criado em 1988, através do Decreto-Lei n.º 397/1988 de 8 de novembro, o Gabinete para a Educação Tecnológica, Artística e Profissional (GETAP). No ano seguinte, inicia-se o processo de criação das escolas profissionais de âmbito do ensino não superior, através do DeEscola Profissional de Arqueologia, Freixo (2020, Escola Profissional de Arqueologia©).
creto-Lei n.º 26/1989 de 21 de janeiro.
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A esta ação do Ministério da Educação, vem aliar-se o desejo da Direção Regional do Porto do Instituto Português do Património Cultural (IPPC), instituto público criado pelo Decreto-Lei n.º 59/1980 de 3 de abril, direção regional que desenvolvia, desde 1980, a investigação arqueológica nas ruínas da cidade romana de Tongobriga, coordenadas pelo arqueólogo Lino Tavares Dias. Os resultados promissores deste projeto de investigação arqueológica levaram, logo em 1986, à classificação como Monumento Nacional da Área Arqueológica do Freixo, uma área de 50 hectares centrados nas ruínas de Tongobriga, tendo Aspeto dos trabalhos de escavação na zona das Termas de Tongobriga pela 1ª turma do curso de assistente de arqueológo (1992, DRCN – Estação Arqueológica do Freixo©).
sido instalados na aldeia do Freixo serviços da Direção Regional do Porto, com uma equipa permanente de colaboradores. Esta dinâmica imprimida à investigação em Tongobriga rapidamente levou à constatação que existia no país uma falta de técnicos intermédios com formação adequada, que realizassem tarefas específicas inerentes ao trabalho arqueológico.
Foi desta necessidade de mão-de-obra qualificada sentida pelos serviços da Cultura, aliada ao desejo de fomentar a educação profissional pelo Ministério da Educação, que nasceu a EPA, um projeto pioneiro e único no país, aliando as vontades destas duas áreas, passando a aldeia do Freixo e as ruínas de Tongobriga a funcionarem como um laboratório de investigação e formação ao nível do património cultural. A Área Arqueológica do Freixo acolheu assim a escola, que passa aqui a ter as suas instalações, “passando também a Área arqueológica a servir-se da escola para desenvolver a sua atividade” (Lino Tavares Dias1). O primeiro curso criado é o de assistente de arqueólogo, integrando aquela turma de 1990, 15 jovens de ambos os sexos, com idades compreendidas entre os 15 e os 27 anos, oriundos dos mais diversos locais do país, uns motivados pela paixão da arqueologia, outros pelo gosto da diferença e pelo trabalho prático. A gestão e organização da EPA, a definição do seu projeto educativo, seus objetivos e valências, é fruto do trabalho conjunto dos serviços da cultura e da educação, personificados respetivamente em Lino Tavares Dias e Rosa Tavares Maria Cunha Soares, os mentores e iniciadores deste projeto. A parceria educação/cultura espelhou-se também no grupo de formadores deste primeiro curso, composto por professores com vínculo ao Ministério da Educação e técnicos superiores de arqueologia dos serviços regionais de cultura do Porto, estes últimos utilizando os diversos trabalhos que os próprios serviços realizavam para enriquecer e complementar a formação prática dos formandos na modalidade de contexto de trabalho. Em setembro de 1992, aproveitando a experiência acumulada dos dois primeiros anos de funcionamento, ao qual se junta a inauguração do edifício sede e laboratórios da escola, localizados num imóvel reabilitado mesmo no coração da
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aldeia do Freixo, inicia o seu percurso formativo a 2ª turma do curso profissional de assistente de arqueólogo. A abertura desta nova turma e do novo espaço de funcionamento da escola, coincide com a criação do Instituto Português do Património Arquitectónico e Arqueológico (IPPAR), criado através do Decreto-Lei n.º 106-F/1992 de 01 de junho, refletindo a importância que o património cultural arquitetónico e sobretudo o arqueológico começam a ter no panorama cultural português. Em setembro de 1994, a EPA lança um novo curso profissional, o de técnico de património cultural – gestão e divulgação, juntando-se este ao de assistente de arqueólogo. A escola alarga a esfera da sua formação, passando além da investigação arqueológica à preparação de técnicos intermédios com competências na gestão e divulgação do património cultural português. Paralelamente a este alargamento da oferta formativa, a rede de protocolos de colaboração da escola também se diversifica, integrando, além dos protocolos com instituições da tutela, muitos gabinetes municipais de arqueologia ou património, passando alguns destes técnicos superiores especializados a incorporar os formadores técnicos da escola. Três anos depois, em 1997, a escola completa o alargamento da oferta formativa, com a abertura de uma turma de assistente de conservação do património cultural, completando a oferta formativa em três áreas chave do património cultural, a investigação, a conservação e a divulgação, numa estratégia de crescimento, adotada pela direção da escola, em perfeita consonância com a realidade e as necessidades que o país vivia e sentia, expressas na criação do Instituto Português de Arqueologia, através do Decreto-Lei n.º 117/1997 de 14 de maio, após toda a polémica e movimentação da sociedade portuguesa em torno da defesa das gravuras rupestres do Vale do Côa. Este é o período de afirmação da arqueologia portuguesa, em consonância com as políticas que a maioria dos países europeus estavam a adotar, após a assinatura da Convenção Europeia para a Proteção do Património Arqueológico, realizada em LaValleta, Malta, em janeiro de 1992, ratificada depois na nossa Assembleia da Equipa de escavação de Tongobriga formada por alunos da EPA do curso de assistente de arqueólogo e alunos de arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) (1997, DRCN – Estação Arqueológica do Freixo©).
República a 16 de dezembro de 1997. É também o período de enorme crescimento do volume de trabalhos arqueológicos, em que a arqueologia deixa se ser efetuada apenas por equipas de investigação ligadas à tutela, a instituições ou docentes do ensino superior ou a gabinetes municipais, e surgem as empresas privadas do sector, de forma a responder a esta crescente necessidade de trabalhos, especialmente ao nível da arqueologia de prevenção e salvaguarda.
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A visão que esteve na criação da EPA, através do curso profissional de assistente de arqueólogo, encontrava-se perfeitamente ajustada ao período que se vivia, colhendo-se agora os frutos de uma aposta formativa única em toda a Europa, com muitos dos técnicos aqui formados a serem absorvidos pelo então ainda IPPAR, municípios ou integrando as empresas de arqueologia que surgiam, fruto das competências adquiridas ao longo de uma formação especializada e bastante completa ao nível da componente técnica. A afirmação da EPA, o reconhecimento da sua experiência e do contributo do seu projeto pedagógico na formação de jovens na área da arqueologia e do património, encontra-se expressa na publicação da Portaria n.º 795/2000 de 20 de setembro, passando a escola a integrar a rede pública de estabelecimentos de ensino, substituindo esta portaria o contrato-programa estabelecido ao abrigo do Decreto-lei n.º 26/1989 de 21 de janeiro, que regulamentava o funcionamento desta instituição. Desde aí, a escola foi propondo duas turmas em cada ano letivo, abrindo sempre a oferta formativa de assistente de arqueólogo e alternando os cursos profissionais de técnico de património cultural – gestão e divulgação e assistente de conservação de património cultural.
Em 2002, no âmbito das mudanças operadas pelo Ministério da Educação, primeiro com a publicação da Lei-Orgânica do Ministério da Educação (Decreto-Lei n.º 205/2002 de 7 de outubro) e em 2004 com diplomas centrados na organização e gestão curricular ao nível do ensino secundário, o ensino profissional sofre mudanças profundas com a publicação de vários diplomas, como a Portaria n.º 550-C/2004 de 21 de maio, o Despacho nº 14 758/2004 de 23 de julho e depois a Portaria n.º 797/2006 de 10 de agosto. Estas mudanças visaram generalizar o ensino profissional nos estabelecimentos de ensino públicos, tendo ocorrido uma reorganização curricular de todos os cursos profissionais. A EPA participa diretamente com a Agência Nacional Para a Qualificação e o Ensino Profissional (ANQEP) nesta reorganização curricular dos cursos de assistente de arqueólogo e nos novos cursos de técnico de museografia e gestão do Trabalhos de conservação no Mosteiro de Santo André de Rendufe (Amares, Braga) pela turma de assistente de conservação (2001, Escola Profissional de Arqueologia©).
património e o assistente de conservação e restauro, estes últimos substituindo os anteriores técnico de património cultural – gestão e divulgação e assistente de conservação do património cultural. Contudo, estas alterações trouxeram novos desafios à EPA. Estes diplomas implicaram mudanças, como a concorrência de cursos profissionais por parte de todas as escolas com nível secundário, o que obrigou estratégias de divulgação mais consistentes; a adaptação ao limite de 18 anos de idade dos formandos à data da matrícula, o que conduziu a um decréscimo da idade média dos alunos; a necessidade de negociação com outras escolas e municípios, para a concertação da rede de ensino profissional.
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A escola respondeu a estes novos desafios, abrindo anualmente o curso de assistente de arqueólogo, juntamente com mais uma turma dos outros cursos e aventurando-se, em novas formações, como o curso profissional de técnico de recuperação do património edificado em 2010; o curso EFA (Educação e Formação para Adultos) de técnico de desenho da construção civil em 2011; o curso vocacional de técnico operacional do património e turismo em 2015 e formações em património para adultos, em regimes de UFCD´s (Unidades de Formação de Curta Duração), em parceria com os municípios de Penafiel, Resende, Lousada e Marco “Dia Aberto” na EPA (2010, Escola Profissional de Arqueologia©).
de Canaveses. Já em 2016, aproveitando a experiência em ensino básico dos cursos vocacionais, a escola abre um curso CEF (Cursos de Educação e Formação) de operador de fotografia, lançando em 2018 e 2019 novas formações: o técnico de animação em turismo e técnico de fotografia. Esta diversidade de oferta formativa nunca deixou que a EPA perdesse a sua essência e identidade, que é formar técnicos de excelência na área do património cultural preparados para ingressar o mercado de trabalho ou o ensino superior. De forma a cumprir esta missão, desde junho de 2019 que a direção executiva da escola passou a gerir também a Área Arqueológica do Freixo, por nomeação do Diretor Regional de Cultura do Norte, numa perspetiva de otimização dos recursos existentes em ambos os serviços, criando assim as sinergias fundamentais para a potencialização do carácter formativo do sítio arqueológico que é Tongobriga.
ENSINO E APRENDIZAGEM NA EPA A ação da atual direção está alinhada com a mudança de paradigma que a legislação sobre o ensino e a aprendizagem implica, pertencendo a EPA ao grupo de escolas-piloto que implementou o Projeto de Autonomia e Flexibilidade Curricular. A EPA integrou também sem dificuldades os princípios da educação inclusiva (Decreto-Lei n.º 54/2018; Decreto-Lei n.º 55/2018), a Autonomia e Flexibilidade Curricular e o Perfil do Aluno à Saída do Ensino Obrigatório, pois esta formação adaptada a cada formando sempre foi uma das marcas mais presentes na escola. Os documentos fundamentadores e orientadores da ação educativa da EPA são concretizados pelo trabalho colaborativo entre professores e alunos das diferentes áreas de formação, enquanto estratégia pedagógica centrada no aluno, em que ele constrói as suas próprias aprendizagens.
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Para a promoção do sucesso e diminuição do abandono/ absentismo escolar, a direção e equipa pedagógica estão alinhadas na procura de modalidades diferenciadas de apoio que suportem a aprendizagem que os alunos exigem, com projetos inovadores, em colaboração estreita com entidades externas, algumas delas futuros empregadores. Esta ligação entre escola e o mundo do trabalho é fundamental para que esse carácter inovador seja efetivo, útil, implicando permanentemente uma monitorização e avaliação pelos nossos “stakeholders”: Direção-Geral do Património Cultural e Direções Momento formativo na Área Habitacional 1 de Tongobriga (2019, fotografia de Ricardo Raminhos©).
Regionais da Cultura, municípios, empresas do sector, museus, entre outros. Todo o Projeto Educativo da EPA tem como missão “sermos uma escola de referência e excelência na área do património. Tem ainda como princípio a preparação de cidadãos dotados dos valores estruturantes da nossa sociedade e das necessárias competências para um bom desempenho profissional ou uma correta opção em termos de formação superior. Procuramos, para além da formação científica e tecnológica, desenvolver valores da democracia e do humanismo, como a solidariedade, a tolerância, a responsabilidade e o rigor”2.
PROJETOS DA EPA
A divulgação do património cultural tem vindo a reinventar-se ao longo do tempo, apostando em novos formatos e abrangendo outras áreas do património. Obedecendo a esta lógica, a EPA lançou uma série de projetos que se encontram em operacionalização, projetos esses que elencamos de seguida. No ano de 2015 a EPA inicia o Programa de Educação Patrimonial “A Arqueologia vai à escola”, direcionada para alunos do 3º ciclo do ensino básico e secundário. Este programa incluiu duas ações: “O Arqueólogo vai à escola”, com a apresentação dos trabalhos realizados em sítios arqueológicos do concelho, nomeadamente na Capela de Fandinhães, na Igreja de Santa Maria de Vila Boa do Bispo e na igreja de São Martinho de Várzea do Douro, e mostra de materiais arqueológicos provenientes desses Apresentação dos trabalhos arqueológicos realizados na Igreja de Santa Maria de Vila Boa do Bispo, Igreja de São Martinho de Várzea do Douro e Capela de Fandinhães no âmbito da ação “O arqueólogo vai à escola” (2015, Escola Profissional de Arqueologia©).
locais3; e o “Arqueólogo por um dia”, oficina prática com introdução ao trabalho do arqueólogo e à prática simulada de todos os procedimentos inerentes à escavação arqueológica, tratamento preliminar de espólio arqueológico e interpretação de resultados, em “áreas de sondagem arqueológica” portáteis. Este projeto proporcionou estas ações a mais de mil crianças e jovens, inseridas no plano anual de atividades das escolas ou no âmbito de atividades de ocupação de tempos livres.
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Oficina “Arqueólogo por um dia”, instalações da EPA (2016, Escola Profissional de Arqueologia©).
Painel explicativo: “Tongobriga, cidade romana”, criado para a exposição “Elementos da Cultura Romana, em Portugal” (2016, Escola Profissional de Arqueologia©).
Painel explicativo: “Escavação arqueológica: um laboratório a céu aberto”, criado para a exposição “Elementos da Cultura Romana, em Portugal” (2016, Escola Profissional de Arqueologia©).
Em 2016 a EPA concebeu a exposição “Elementos da Cultura Romana, em Portugal”, realizada na Escola Básica e Secundária Rodrigues de Freitas no Porto4. Com recurso à produção de materiais pedagógicos originais, foram criadas duas áreas: uma dedicada à apresentação das diferentes fases do trabalho em arqueologia; e uma outra dedicada à cidade romana de Tongobriga, com particular incidência nas técnicas e materiais de construção, incluindo uma pequena mostra de materiais que podiam ser manuseados pelos visitantes.
Recriação de uma cena de fabrico de objetos de adorno durante a Iª recriação pré-histórica no dólmen 1 de São Cristóvão, Resende (2016, Escola Profissional de Arqueologia©).
Nesse mesmo ano, colaborou com a Câmara Municipal de Resende na recriação pré-histórica no dólmen 1 de São Cristóvão (Felgueiras, Resende) atra-
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vés da consultoria científica e produção de réplicas de materiais arqueológicos, participando ainda formadores e alunos na recriação de umas horas na vida de uma comunidade agro-pastoril do Neolítico/ Calcolítico em torno do respetivo monumento. Esta atividade é um exemplo de um projeto colaborativo com uma entidade externa que fomentou a aprendizagem dos alunos e desenvolveu competências específicas dos cursos, pois os alunos participaram na pesquisa sobre as várias cenas, na produção dos vários materiais e na própria atividade, inserida no período da Formação em Contexto de Recriação da cerimónia de enterramento de um membro da comunidade durante a Iª recriação pré-histórica no dólmen 1 de São Cristóvão, Resende (2016, Escola Profissional de Arqueologia©).
Trabalho do 10º ano dos cursos de assistente de arqueólogo e técnico de museografia e gestão do património. Na segunda edição deste evento, que decorreu nos dias 9 e 10 de junho de 2017, a EPA produziu ainda o texto para um pequeno vídeo de divulgação sobre o evento destinado à comunidade educativa do município.
Esta colaboração com o município de Resende resultou, em 2019, na conceção e montagem da exposição “Resende: Terra Megalítica”, onde se faz a interpretação do património arqueológico da Serra de Montemuro e a organização de oficinas de modelação de recipientes cerâmicos, no Centro de Apoio ao Turismo Ativo no Montemuro – Felgueiras. Filme de divulgação do Evento “Recriação histórica no dólmen 1 de São Cristóvão” produzido pelo Município de Resende, com texto da EPA (2016, Município de Resende©).
Em 2016 a EPA concorre à 14ª Edição do Prémio Fundação Ilídio Pinho “Ciência na Escola” com o projeto “Arqueopólio”, um jogo de tabuleiro criado para dar a conhecer o Património Cultural Português, com uma configuração baseada no “Monopólio”, tendo ficado entre os 100 finalistas. Este projeto interdisciplinar foi desenvolvido em contexto de sala de aula, numa lógica da aprendizagem por projetos. Os alunos do curso de técnico de museografia e gestão do património e de assistente de arqueólogo participaram desde a conceção à apresentação final e disseminação, fomentando as aprendizagens indutoras do desenvolvimento de competência.
Nesse mesmo ano são criadas novas oficinas direcionadas para o pré-escolar e o 1º ciclo do ensino básico: oficina de mosaicos Painel de abertura da exposição “Resende: Terra Megalítica” patente ao público no Centro de Apoio ao Turismo Ativo no Montemuro – Felgueiras (2019, Escola Profissional de Arqueologia©).
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romanos; restauro de peças arqueológicas, onde os participantes reconstroem diferentes materiais arqueológicos através de puzzles; e desenho de simetrias, onde os participantes reproduzem simetricamente modelos de artefactos arqueológicos.
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Em 2017 a EPA é desafiada por um parque temático para conceber uma exposição com o tema: “Arqueologia. Ciência que estuda o passado”. A exposição permitiu aos visitantes conhecer o trabalho desenvolvido pelos arqueólogos, quer em campo, quer em gabinete, através da recriação de uma pequena escavação e de um laboratório de tratamento e estudo de materiais. Os visitantes puderam ainda observar uma mostra de artefactos arqueológicos, do Paleolítico à Época Contemporânea, provenientes de vários locais do país, cedidos por entidades públicas e privadas. Incluiu ainda uma área Jogo de tabuleiro “Arqueopólio”, desenvolvido no âmbito da 14ª Edição do Prémio Fundação Ilídio Pinho “Ciência na Escola” (2017, Escola Profissional de Arqueologia©).
dedicada à cidade romana de Tongobriga, sendo que toda a visita podia ser feita com o recurso a um audioguia. Além da exposição, era possível a visualização de pequenos vídeos e realização de várias atividades e jogos relacionados com o tema. Face ao impacto positivo que a exposição teve por parte do público infantojuvenil, ela foi já replicada em três outros locais: Biblioteca Municipal de Lousada Museu Carmen Miranda de Marco de Canaveses e Museu Municipal de Resende, adaptando os conteúdos expositivos de forma a incluir e evidenciar o património arqueológico de cada concelho.
Vídeo de apresentação do jogo de tabuleiro “Arqueopólio” (2017, Escola Profissional de Arqueologia©).
Todo este trabalho foi realizado em contexto formativo. Os alunos do curso de técnico de museografia e gestão do património aprenderam a conhecer as várias etapas de montagem de uma exposição: desde as medidas do espaço vazio à escolha das peças a expor; da conceção do “layout” das etiquetas ao acondicionamento e transporte das peças. Os alunos do curso de assistente de arqueólogo descreveram e fotografaram as várias peças expostas e montaram o laboratório de arqueologia. Os nossos alunos exerceram ainda a função de guia. Em 2017 a EPA organizou as Ias “Olimpíadas da Antiguidade”. Este projeto tem como objetivo divulgar e vivenciar Tongobriga, pois as atividades realizam-se no Fórum da cidade, através da prática da atividade física. As Olimpíadas são compostas por 5 modalidades: stadio (prova de corrida de velocidade com o comprimento do Fórum de Tongobriga, cerca de 60 m); lampadedromía (prova de corrida de estafetas (4X60m); dískos (prova de lançamento de um disco); ákon (prova de lançamento de um dardo); pédema (prova de salto, com os pés juntos, sem correr e com pesos nas mãos); tal como se fazia na antiguidade clássica.
Poster apresentado no âmbito da conferência: “Cultura, Indústrias Criativas e Empreendedorismo” (Projeto “SHADOWS”), que decorreu na Biblioteca Municipal de Lousada, em 6 de setembro de 2018.
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Para além das provas físicas, estas Olimpíadas integram também um torneio de jogos de tabuleiro romanos - CENTURIUM®5. Com a participação de alunos das escolas do concelho, está prevista a IV edição em 2021. Em 2017 nasce também o Projeto “Museus pelo Mundo”, um projeto de divulgação de património cultural “Arqueologia em casa” (2019, Escola Profissional de Arqueologia©).
que pretende angariar o maior número possível de postais de museus para constituir uma coleção de postais de todo o mundo, depois trabalhados em sala de aula por diferentes disciplinas das diferentes componentes dos cursos. Em 2018 este projeto é reconhecido pela Associação Portuguesa de Museologia (APOM), que atribui à EPA a Menção Honrosa na categoria de Comunicação On-line. Neste momento, a coleção conta com mais de 700 postais de todos o mundo, enviados por cidadãos, entidades públicas e privadas. Em setembro de 2019, fruto da revisão do modelo de gestão atual do sítio, realizada através do Despacho n.º 6241/2017 de 8 de julho, foi concebido um novo espaço pedagógico na Área Arqueológica do Freixo.
Inauguração da exposição “Arqueologia. Ciência que estuda o passado” na Biblioteca Municipal de Lousada. Visita guiada por alunos do curso de técnico de museografia e gestão do património (2017, Escola Profissional de Arqueologia©).
Este objetiva a ideologia da salvaguarda de uma área arqueológica, monumento nacional, a valorização do profissional em arqueologia e sua ligação à sociedade civil.
Para além de uma exposição que permite conhecer todos os aspetos diretamente relacionados com a investigação arqueológica, desde os trabalhos de campo à divulgação dos resultados, este espaço engloba uma oficina de simulação de escavação arqueológica, inserida na zona habitacional de Tongobriga. Esta recria três momentos de ocupação do sítio e
Poster de divulgação da inauguração da exposição “Arqueologia. Ciência que estuda o passado” no Museu Carmen Miranda de Marco de Canaveses (2018, Escola Profissional de Arqueologia©).
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Prova de stadio (ákon) durante as 2as “Olimpíadas da Antiguidade” (2018, Escola Profissional de Arqueologia©).
Poster de divulgação das Ias “Olimpíadas da Antiguidade” (2017, Escola Profissional de Arqueologia©).
inclui réplicas de estruturas e materiais arqueológicos. Atualmente, a EPA e a Área Arqueológica do Freixo proporcionam um conjunto de oficinas pedagógicas que podem ser realizadas nas suas instalações ou levadas às escolas: oficina de escavação arqueológica, oficina de mosaicos, desenho de artefactos, desenho de estruturas arqueológicas, oficina de arte rupestre e oficina de douramento de peças. Criadas com o objetivo principal de divulgar o património cultural, estas oficinas permitem, simultaneamente, a capacitação dos nossos alunos para essa divulgação, uma vez que os alunos nelas participam de forma ativa, desde a conceção e produção dos materiais, ao acompanhamento dos participantes durante a sua realização.
Destacam-se ainda os projetos “EPA-MissionLab”, um projeto de programação para recolha de imagens por satélite de sítios arqueológicos; e o “1 Perfil-2 Escolas”, em colaboração com a escola secundária de Paços Postal do Museu Cargaleiro, enviado pelo próprio artista (2017, Escola Profissional de Arqueologia©).
de Ferreira, que procura realizar um ponto de contacto entre o desenho técnico em arqueologia e o desenho artístico de artes visuais. Toda a divulgação destas atividades e projetos é realizada nas redes sociais e no novo canal do “Youtube”, denominado “Ensinar com o Património”, numa perspetiva de ensino aberta a opiniões e sugestões da comunidade civil.
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Vídeo de divulgação do projeto “Museus Pelo Mundo” (2018, Escola Profissional de Arqueologia©).
Vídeo de divulgação do projeto “Museus Pelo Mundo” (2018, Escola Profissional de Arqueologia©).
Passados 30 anos após a abertura da EPA, este é um momento fulcral de reafirmação do papel desta parceria singular e produtiva, entre o Ministério da Educação e o Ministério da Cultura. Este trabalho colaborativo efetuado entre os dois ministérios permitiu dotar o país de um conjunto de profissionais de Património Cultural que foram maioritariamente absorvidos pelo mercado de trabalho nesta área. Estes 30 anos permitiram deixar uma Marca no Património, uma marca adaptada aos dias de hoje sempre em prol da educação e cultura.
Espaço pedagógico de Tongobriga – Exposição: maquete do painel dedicado à interpretação e divulgação (2019, Escola Profissional de Arqueologia©).
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Oficina de simulação de escavação incluída na Zona Habitacional de Tongobriga, utilizada também nas aulas práticas do curso de Assistente de Arqueólogo (2019, Escola Profissional de Arqueologia©).
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“Flyer” de divulgação das oficinas pedagógicas realizadas pela EPA e a Área Arqueológica do Freixo (2019, Escola Profissional de Arqueologia©).
Atividade de análise dos materiais recolhidos na oficina de simulação de escavação incluída na Zona Habitacional de Tongobriga (2019, Escola Profissional de Arqueologia©).
Canal do Youtube “Ensinar com o Património” (Escola Profissional de Arqueologia©).
NOTAS 1
Citação retirada de https://noticiasdearqueologia.blogs.sapo.pt/tag/t%-
Várzea e Torrão), direção científica de Susana Nunes e Francisco Fernandes. Estas
C3%A9cnicos+de+arqueologia
intervenções integraram, em diversos momentos, alunos do Curso Profissional de
2
Assistente de Arqueólogo no âmbito da sua Formação em Contexto de Trabalho.
Projeto Educativo da Escola Profissional de Arqueologia, triénio 2018-2021,
4
p. 6.
Exposição realizada no âmbito dos “Encontros com a Cultura Clássica - Jogos
Estas intervenções arqueológicas foram realizadas com o suporte institucio-
de Tabuleiro com História(s)”, inaugurada a 13 de fevereiro de 2016 numa parce-
nal da EPA, que assumiu o papel de entidade enquadrante, e foram realizadas em
ria com o Museu D. Diogo de Sousa, Braga, e Escola Profissional de Arqueologia/
direção ou codireção por formadores da EPA, a saber: Igreja do Mosteiro de San-
Direção Regional Cultura Norte.
ta Maria de Vila Boa do Bispo (Vila Boa do Bispo), direção científica de Francisco
5
Fernandes e Diana Cunha; Igreja de Santa Maria de Vila Boa do Bispo – Son-
tabuleiro ancestrais. Mais informações em https://www.centurium.pt/.
3
O “CENTURIUM” é um programa educativo, que tem por base jogos de
dagens e Acompanhamento (Vila Boa do Bispo), direção científica de Francisco Fernandes e Susana Nunes; Trabalhos arqueológicos na Capela de Fandinhães (Penhalonga e Paços de Gaiolo), direção científica de Mónica Corga, Hélder Mota e Luís Sousa; Igreja de São Martinho de Várzea do Douro (Alpendorada,
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10 O ENSINO BÁSICO E SECUNDÁRIO E A FORMAÇÃO CONTÍNUA FOR M AÇÃO
Elsa Paula Correia CFAE MarcoCinfães (Centro de Formação de Associação de Escolas dos Concelhos de Marco de Canaveses e Cinfães) diretora@cfaemarco-cinfaes.net Elsa Paula Correia, natural de Lisboa, residente em Marco de Canaveses, casada, dois filhos. É licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, pela Universidade de Coimbra (1983), mestre em Educação, com especialização em Desenvolvimento Curricular, pela Universidade do Minho (2001), pós-graduada em Liderança e Gestão de Formação pela Universidade Aberta (2014) e doutorada em Educação, com especialização em Supervisão Pedagógica, pela Universidade Portucalense (2015). É professora do quadro do Agrupamento Escolar n.º 1 de Marco de Canaveses, no qual exerceu funções letivas e diversas funções de gestão e coordenação pedagógica e, desde 2008, exerce funções de Diretora do Centro de Formação de Associação de Escolas de Marco de Canaveses e Cinfães.
Jorge M. S. Martins Araújo
António Manuel Lima
Direção Regional de Cultura do Norte
Direção Regional de Cultura do Norte
jaraujo@culturanorte.gov.pt
amlima@culturanorte.gov.pt
Jorge M. S. Martins Araújo (Penalva do Castelo, 1958) é licenciado em História pela Universidade de Coimbra (1984). Lecionou durante 22 anos em escolas do ensino público e profissional. Professor na Escola Profissional de Arqueologia de 1990 a 1997 e em 2000. Técnico Superior da Direção Regional de Cultura do Norte, exerce funções na Área Arqueológica do Freixo/Tongobriga desde 1995.
António Manuel de Carvalho Lima (Porto, 1965) é Licenciado em História, variante de Arqueologia, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (1988) e Mestre em Arqueologia pela mesma faculdade (1994), com uma dissertação sobre os “Castelos Medievais do Curso Terminal do Douro (Séculos IX – XII)”, orientada pelo Professor Doutor Carlos Alberto Ferreira de Almeida. É investigador do CITCEM - Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória (Universidade do Porto) e do IEM - Instituto de Estudos Medievais (Universidade Nova de Lisboa). Exerce funções na Direção de Serviços de Bens Culturais (Direção Regional de Cultura do Norte). Foi Coordenador da Estação Arqueológica do Freixo / Tongobriga, entre maio de 2014 e maio de 2019. Entre as suas mais recentes obras sobre Tongobriga, destacam-se “Mudar de Vida - Catálogo da Exposição Permanente do Centro Interpretativo de Tongobriga” (2016); “A Feira da Quaresma (Séculos XV a XIX)” (2 vol., 2017); e “Tongobriga- O Espírito do Lugar. Guia Visual” (2018).
Tongobriga e o Património cultural local nos currículos dos ensinos básico e secundário e na formação contínua de docentes: completar o ciclo de conhecimento (20172019)
INTRODUÇÃO
“Obrigada! Têm aqui uma joia preciosa, tão bem guardada, cheia de segredos fantásticos para descobrimos aos poucos com os nossos alunos. Volto ainda este ano!” Foi com este comentário, empolgado e satisfeito, que uma professora de inglês do concelho de Paredes se despediu, já depois da meia-noite, no final duma visita guiada às ruínas de Tongobriga, na Noite Europeia dos Museus, em maio de 2019. O concelho de Paredes fica muito próximo do concelho de Marco de Canaveses e, à partida, até pareceria estranho que esta professora não conhecesse a Área Arqueológica do Freixo. Mas não parecerá tão estranho se se pensar que, apesar dos esforços do Gabinete da Área Arqueológica do Freixo/DRCN e da autarquia, uma grande parte da população de Marco de Canaveses ou nunca ouviu falar ou apenas tem uma vaga ideia do que é a Área Arqueológica do Freixo ou, simplesmente, “o Freixo”. “Acho que a minha Avó já lá foi, há muito tempo. Eu não, eu gosto é de ir a Lisboa nos passeios da escola!” confessa Filipe, 16 anos, aluno do 11º ano, reproduzindo a opinião de muitos dos seus colegas para quem uma visita de estudo “a sério” implica uma grande viagem de autocarro, de preferência com uma noite fora de casa, oportunidade rara de convívio com colegas de escola, em vidas nem sempre tão emocionantes como desejado. Mas de todos os lados do país e mesmo de outros países, chegam outros autocarros, transportando idades e motivações muito diversificadas. E Tongobriga lá está, indiferente a esta teia de percursos e vontades cruzadas, despojada na simplicidade das pedras e da terra deixadas pelo quotidiano de todos os que por lá passaram e, simultaneamente, grandiosa e avassaladora nos tais segredos e histórias que envolvem e deslumbram quem a visita. As questões que vamos levantar e a que queremos dar resposta neste texto, a partir de experiências profissionais realizadas, são as seguintes: como se atraem mais visitantes locais e, dentro deles, públicos específicos, a um monumento reconhecido a nível nacional e internacional como um dos mais importan-
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tes na sua área? Como é que o património cultural local se articula com a política educativa em vigor, nomeadamente, com a operacionalização dos princípios, visão e áreas de competências definidas no Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória e com a Educação para a Cidadania, ao longo de toda a escolaridade obrigatória, capacitando os alunos para o exercício de uma cidadania plena? Quais as potencialidades e as lógicas existentes entre a investigação permanente na área do património cultural local e a formação contínua de docentes realizada pelos Centro de Formação de Associação de Escolas (CFAE)?
TONGOBRIGA: A DESCOBERTA PERMANENTE
Em abril de 2017, a comunidade educativa de Marco de Canaveses e da região envolvente recebeu um convite do Centro de Formação de Associação de Escolas de Marco de Canaveses e Cinfães (CFAE MarcoCinfães)1 para participar num evento de dois dias designado por “Encontro de Boas Práticas: a Escola do Sucesso”, parte integrante do plano bienal de formação da instituição e momento de lançamento oficial do mesmo. Todo o programa do Encontro, tal como todo o plano de formação, foi construído sob a égide do Programa Nacional da Promoção do Sucesso Escolar (PNPSE), do Ministério da Educação, no qual se pressupõe que “são as comunidades educativas quem melhor conhece os seus contextos, as dificuldades e potencialidades, sendo, por isso, quem está melhor preparado para encontrar soluções locais e conceber planos de ação estratégica, pensados ao nível de cada escola, com o objetivo de melhorar as práticas educativas e as aprendizagens dos alunos”2. De acordo com este pressuposto, o referido plano de formação tinha sido organizado em função de necessidades identificadas nos Planos de Ação Estratégica e nos Planos Plurianuais de Melhoria (escolas TEIP)3 das nove escolas e agrupamentos dos dois concelhos envolvidos, assegurando-se, dessa forma, uma resposta formativa adequada aos contextos locais. Do programa do Encontro de Boas Práticas faziam parte dois momentos culturais: uma visita guiada à Igreja de Santa Maria de Marco de Canaveses, conhecida internacionalmente pelo seu projeto de arquitetura com assinatura de Siza Vieira, e outra a Tongobriga, o sítio arqueológico ex-libris do concelho do Marco de Canaveses e destino de visitas de estudo e outras oriundas de todo o país e também do estrangeiro. A escolha destes dois monumentos justificou-se pelo valor artístico e beleza dos mesmos mas, acima de tudo, pela correspondência aos pressupostos da construção de todo o plano de formação do CFAE e aos objetivos específicos do evento em causa, a saber: “(…) promover a formação de professores e de educadores através da análise e debate de temáticas relevantes para os projetos educativos das escolas e agrupamentos associados; promover a colaboração institucional numa lógica de rede territorializada”; partilhar experiências de inovação no âmbito da escola e da sala de aula; partilhar experiências e práticas que contribuam para a melhoria do serviço educativo; adquirir conhecimentos sobre estratégias, métodos e instrumentos de promoção do sucesso escolar.”4 Estiveram igualmente subjacentes os princípios e objetivos de atuação do CFAE, tal como estão em todas as suas iniciativas, destacando-se, neste caso, a relevância da articulação com os parceiros locais5.
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A visita à Área Arqueológica do Freixo foi a opção que registou o maior número de inscrições, perto de 50, entre formandos dos concelhos de Marco de Canaveses e Cinfães, formandos oriundos de outros concelhos da região e alguns dos oradores convidados. A visita, guiada pelo Responsável Pedagógico, Jorge Araújo, seguiu os padrões habituais, com interrupções significativas e bem ilustrativas da condição de quem, no papel de formando docente, se encontra permanentemente a projetar experiências e conhecimentos adquiridos para a sua prática educativa.
Visita ao Centro Interpretativo de Tongobriga – Encontro de Boas Práticas CFAE MarcoCinfães, 2017 (2017, fotografia de Manuela Martinho©).
A visita iniciou-se com a apresentação do sítio através de um pequeno documentário, com aproximadamente 5 minutos (“teaser” de um documentário com um pouco mais de 55 minutos, reservado para visitantes com disponibilidade de tempo ou a pedido expresso de escolas e outros grupos) no Centro Interpretativo de Tongobriga, em funcionamento desde 22 de julho de 2016. Seguidamente, deu-se início à visita da exposição permanente “Mudar de Vida”, igualmente no Centro Interpretativo, cujo fio condutor é, com base nos testemunhos materiais arqueologicamente trazidos à luz, a mudança que, de modo mais ou menos rápido e permanente, se traduziu na adoção de modos de vida pelos autóctones impostos pelo romano invasor. Já no exterior, das ruínas da zona habitacional castreja e romana poente, passou-se pela zona da atual igreja de Santa Maria do Freixo, a qual se sobrepõe a uma basílica paleocristã. Desta, para além de várias estruturas construtivas, restam belíssimos panos de mosaicos multicolores, os quais não são visíveis pelo público por se encontrarem cobertos pelo soalho da igreja atual.
Atravessando a aldeia do Freixo, passou-se por outra área habitacional castreja/romana, muito próxima de um pano restaurado de muralha e, imediatamente a seguir, formandos e guia encontraram-se na zona de necrópoles. As ruínas monumentais do forum e das termas romanas – incluindo um balneário castrejo cujas salas foram escavadas na rocha - foram as seguintes áreas de Tongobriga visitadas. Um número muito significativo dos formandos do Encontro de Boas Práticas 2017, quase todos não residentes em Marco de Canaveses, nunca tinha visitado Tongobriga; os formandos do conVisita à zona habitacional de Tongobriga - Encontro de Boas Práticas CFAE MarcoCinfães 2017 (2017, fotografia de Manuela Martinho©).
celho admitiram que há muito tempo não visitavam a Área Arqueológica, registando-se casos de alguns professores que, tendo integrado grupos recentes de visitas de estudo, voltavam sem os alunos para, nas suas palavras, “libertos das preocupações da vigilância de alunos e prevenção de episódios disciplinares” poderem desfrutar do que viam e das explicações do técnico.
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De facto, as perguntas sucederam-se, alternando entre pedidos de explicações mais aprofundadas sobre aspetos históricos mais gerais e outros mais diretamente relacionados com pormenores da vida diária dos habitantes de Tongobriga nas eras pré-romana, romana, medieval e moderna. Em paralelo, os docentes iam comentando, entre si, possibilidades de integração curricular do manancial de recursos patrimoniais que lhes ia sendo apresentado e, aproveitando a presença da Diretora do Centro de Formação e de alguns dos formadores do Encontro de Boas Práticas, solicitando formação Visita às termas romanas - Encontro de Boas Práticas CFAE MarcoCinfães, 2017 (2017, fotografia de Manuela Martinho©).
que os preparasse devidamente para essa prática.
A certificação do Encontro de Boas Práticas como curso de formação para efeitos de avaliação e progressão na carreira docente estava dependente, para além da verificação da assiduidade do formando, da entrega pelo mesmo de um relatório crítico incidindo sobre uma das sessões em que tivesse participado e que tivesse considerado particularmente relevante para o seu desenvolvimento profissional. Com o objetivo de deixar bem vincado junto dos docentes e da comunidade educativa o elevado estatuto atribuído pelo CFAE MarcoCinfães à relação com os parceiros do mesmo e à valorização do património cultural local como conteúdo curricular transversal, o CFAE MarcoCinfães informou que as duas visitas de estudo poderiam ser alvo de reflexão crítica para efeitos de avaliação e certificação, tal como qualquer uma das sessões do Encontro em Auditório. A visita à Área Arqueológica do Freixo foi escolhida por 5 dos 49 formandos que integraram a visita: 2 docentes do 1º ciclo do ensino básico, 1 docente do 2º ciclo do ensino básico e 2 docentes do ensino secundário. Não podendo reproduzir neste espaço a totalidade do conteúdo dos relatórios e salvaguardando o anonimato dos docentes envolvidos, transcreve-se, de seguida, um excerto que se julga bem ilustrativo duma dimensão que, tal como era sugerido no “Guião para elaboração do Relatório Final” enviado pelo Centro aos formandos, deveria assumir o lugar de centralidade no documento, a saber, a reflexão e previsão do impacto da formação realizada sobre a atividade profissional do docente: “(…) Já tinha ido à Área Arqueológica do Freixo há uns anos, numa visita com familiares (…). Na altura não tive a sorte de ter um guia tão preparado e tão entusiasta como o que tivemos no Encontro de Boas Práticas. Fez toda a diferença pois transportou-nos para outras épocas e respondeu a todas as nossas perguntas com muita segurança e credibilidade. Irei partilhar em reunião de departamento tudo o que aprendi e propor, não só que integremos visitas a Tongobriga para todos os anos de escolaridade, mas também que trabalhemos o tema de forma transversal entre várias disciplinas. É importante que os nossos alunos se orgulhem do património que têm (…). O meu contributo deste ano para o Plano de Formação do meu Agrupamento, em conjunto com o da outra colega que também participou neste Encontro, vai ser a organização de ações de formação no CFAE MarcoCinfães para preparação deste trabalho. (…)”6 O contributo acima referido deu entrada no Centro, através dos circuitos devidos, e encontrou eco no respetivo plano de formação, como adiante se verá.
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TONGOBRIGA: O PATRIMÓNIO CULTURAL E A GESTÃO FLEXÍVEL DO CURRÍCULO DOS ENSINOS BÁSICO E SECUNDÁRIO - LÓGICAS DE INVESTIGAÇÃO E COLABORAÇÃO No final do ano letivo 2016-2017 (agosto), as escolas e os docentes portugueses dirigiam uma atenção especial para um documento de trabalho emanado pelo Ministério da Educação, intitulado “Currículo do Ensino Básico e do Ensino Secundário- Para a Construção de Aprendizagens Essenciais Baseadas no Perfil dos Alunos”7. No contexto duma redefinição do currículo dos ensinos básico e secundário, a qual viria a ter enquadramento legal cerca de um ano mais tarde, através da publicação do Decreto- Lei nº 55/2018 de 6 de julho, e na sequência da recente publicação do Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória (PASEO), em 26 de julho de 20178, e da já acesa discussão à volta das Aprendizagens Essenciais (AE), o documento referido acentua a importância da realização de aprendizagens orientadas para o PASEO e articuladas entre si, a nível horizontal e vertical. Tendo por referência documentos internacionais como o “Projeto Educação 2030, OCDE”, “Repensar a Educação, UNESCO, 2016” e “Resumo de Políticas, UNESCO 2017”, deles mantém o pendor mais orientador e menos prescritivo, deixando antever a criação de espaços para o exercício da autonomia das escolas a nível de planeamento e desenvolvimento curricular. No âmbito das AE, é clarificado que as mesmas seriam definidas por ciclo, ano e disciplina, constando também dos documentos especificações relativas aos conhecimentos, capacidades e atitudes a desenvolver pelos alunos, tendo sempre presente a definição clara do contributo da disciplina para a consecução do PASEO e o objetivo último do processo de reformulação curricular em curso: a formação de cidadãos para o século XXI. Os documentos contendo as Aprendizagens Essenciais dos Ensinos Básico e Secundário viriam a ser publicadas cerca de um ano mais tarde9.
Este documento de trabalho de agosto de 2017 apresenta um instrumento que começou a ser utilizado pelos docentes, em vários contextos, particularmente nas diversas escolas que integraram o Projeto-Piloto Autonomia e Flexibilidade Curricular no ano letivo de 2017/201810 - a grelha para operacionalização das Aprendizagens Essenciais, a qual constitui uma sugestão para a integração das orientações apresentadas no documento, à luz do Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória.
Apresenta-se, como exemplo, e pela sua relevância para a temática deste trabalho, uma das áreas de competências e respetivos descritores operativos, constantes do PA, “Sensibilidade estética e artística”, salvaguardando que as áreas de competências são combinações complexas de conhecimentos, capacidades e atitudes,
Aprendizagens Essenciais (AE): Grelha para operacionalização.
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são complementares entre si, não apresentando uma relação hierarquizada, e pressupõem o desenvolvimento de literacias múltiplas11. No âmbito do contexto aqui descrito e na sequência das solicitações registadas durante a visita à Área Arqueológica do Freixo no Encontro de Boas Práticas 2017, a Diretora do CFAE MarcoCinfães, Elsa Correia, contactou o Coordenador da Área Arqueológica do Freixo, António Manuel Lima, formador acreditado pelo Conselho Científico- Pedagógico da Formação Contínua, com experiência prévia de formador naquele Centro, e o Responsável Pedagógico, Jorge Araújo, no sentido de articular as valências, missões e objetivos das duas instituições a favor da educação e cultura do concelho e da região. A coordenação do serviço permanente que a Direção Regional de Cultura do Norte tinha instalado na Área Arqueológica do Freixo implicava o compromisso de, em articulação direta e sob supervisão da Divisão de Gestão Financeira e Recursos Humanos (até janeiro de 2015) e da Direção de Serviços de Bens Culturais (a partir dessa data12) prestar um serviço público de qualidade. Esse serviço público incluía, entre muitos outros Aprendizagens Essenciais (AE): documento enquadrador (páginas 13 e 14).
aspetos, a conceção e desenvolvimento de ações de sensibilização e divulgação de boas práticas para a defesa e valorização do património cultural, bem como a implementação de uma programação cultural digna de um Monumento Nacional. Sem nunca perder de vista os principais destinatários de tudo isto, o Coordenador da Área Arqueológica do Freixo e o Responsável Pedagógico desse mesmo Serviço não prescindiram da contínua e atenta observação da forma como decorriam as visitas escolares a Tongobriga, refletindo sobre os problemas com que professores/educadores, estudantes e guias se iam deparando ao longo das visitas. Da parte dos estudantes, cujas preocupações naturalmente divergem das dos docentes, foram sobretudo apontadas as dificuldades em recriar mentalmente os edifícios que agora são ruínas, em compreender as funções dos objetos que já foram úteis e que agora estão reduzidos a fragmentos, em imaginar vida e movimento em espaços que são agora feitos de silêncio e pedras inertes. Da parte dos guias, a incontornável dificuldade em prender a atenção das crianças que veem na visita uma oportunidade de ouro para escapar à rotina, dando asas a uma energia infindável; mas também a complexa tarefa de ajudar a encarar a ruína como património, que é como quem diz, a dar valor ao que outros abandonaram. Ações de Formação em Tongobriga localização do Auditório (2018, DRCN – Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de Jorge Araújo).
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Já da parte dos docentes, empenhados em encarar os não raros problemas de indisciplina e desinteresse como sintomas de um problema e não como o problema em si, deixaram clara uma lacuna que, para os técnicos da Área Arqueológica do Freixo, constituiu, pelo menos parcialmente, uma surpresa: a falta de preparação específica para a exploração do património cultural e da história local como recursos fundamentais para o reforço da identidade própria dos alunos e suas famílias, para a interiorização das aprendizagens e para a verdadeira gestão flexível dos curricula dos ensinos básico e secundário que é um desígnio impossível sem uma formação (e informação) de base que permita adaptar as estratégias de ensino ao meio local. O empenho da Área Arqueológica do Freixo para cumprir uma das facetas mais importantes da sua missão era total e todos os meios podiam ser mobilizados para este fim. Assim, CFAE e DRCN passaram a trabalhar em sintonia para criar um plano de formação que proporcionasse aos docentes uma ou mais ações de curta duração sobre esta temática, as quais constituíssem também oportunidades para promover uma reflexão conjunta sobre o papel que um serviço cultural como o da Estação Arqueológica do Freixo pode ter na formação dos professores e educadores. A primeira dessas ações, levada a cabo no Auditório e ruínas da Área Arqueológica do Freixo em março de 2018, intitulou-se “Área Arqueológica do Freixo: O Património Cultural e a Gestão Flexível do Currículo” e teve como formadores António Manuel Lima e Jorge Araújo, da Área Arqueológica do Freixo e, como formador convidado, um especialista em Teoria e Desenvolvimento Curricular, Eusébio André Machado, Docente da Universidade Portucalense, entidade parceira do CFAE MarcoCinfães. O fio condutor dessa ação foi a afirmação do Património Cultural e da História Local como geradores de criação de identidades e interiorização de aprendizagens, no quadro da autonomia e flexibilização curricular. Desmontaram-se “pré-conceitos”: a convicção de que “o melhor de um Divulgação de ação de formação - março 2018 (2018, DRCN – Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de Jorge Araújo).
museu é o que ele tem guardado” e a de que “o património tem valor per si, mesmo que esse valor não seja reconhecido”; a ideia de que a visita de estudo serve apenas para “ilustrar” o que se aprende nas aulas e que os seus participantes têm um papel passivo, limitando-se a “aprender aquilo que outros descobriram”; a noção de que é quase um “sacrilégio” tocar no objeto arqueológico ou passear entre
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as ruínas; a falsa premissa de que, em contexto de visita, os alunos nada precisam de procurar pois tudo lhes é oferecido, sem mais esforço, pelo guia e pelos professores. Discutidas as “variáveis de mudança” (das quais se destacam a pertinência, a oportunidade, o tempo disponível, a preparação, a motivação, a participação, o acompanhamento, a linguagem, a estratégia de apresentação, a adequação à idade/nível de aprendizagem, o número de intervenientes, os aspetos lúdicos e os mecanismos de avaliação) foi debatida a necessidade de uma mudança de paradigma sobre o papel do património cultural e da História local nos curricula e na aprendizagem: - A visita a um monumento como a Área Arqueológica do Freixo não deve ser encarada como uma mera ilustração do que se aprende nas aulas, como se de uma cedência aos que consideram necessário ver para crer se tratasse. Pode e deve servir para contrastar as sínteses dos manuais escolares com a riqueza e diversidade das situações concretas vividas por cada comunidade, em cada tempo e em cada espaço, deixando claro que a realidade histórica nunca é redutível às generalidades. - Essa visita não deve ser encarada como uma forma de aprender o que os outros descobriram, mas antes como uma forma de descobrir o que os outros aprenderam. - As experiências de aprendizagem podem ser substancialmente melhoradas estimulando a criação de impressões pessoais sobre o sítio, o que só se conseguirá entrando na ruína, tocando no objeto e aproximando o visitante do objeto da visita. A ação de formação para docentes, que teve a duração de um dia e contou com 19 participantes, foi avaliada globalmente pelos mesmos como “excelente”, com uma pontuação de 4,8 em 5, destacando-se as seguintes respostas à pergunta de resposta aberta constante do inquérito de opinião passado no final da ação: “Ação extremamente elucidativa, consegui perceber finalmente o que é a autonomia e flexibilidade curricular com a mais-valia de integrar o património local”; “Ainda bem que alguém se preocupa em valorizar o património local; temos de divulgar o que temos de melhor junto dos nossos alunos.”; “Irei experimentar na escola, com os colegas dos outros departamentos, as práticas de articulação curricular aqui sugeridas. Obrigada pela disponibilidade.”13 Estes resultados encontram eco nos dados constantes no Relatório de Avaliação do Plano de Formação do CFAE MarcoCinfães 2017-2018 elaborado pela Universidade do Minho, “(…) podemos afirmar que os formandos fazem uma apreciação muito positiva do programa de formação ao nível da qualidade das ações e da sua importância no desenvolvimento de competências profissionais, e muitos expressam a sua predisposição para mudar práticas em dimensões relevantes da qualidade do ensino e da aprendizagem, potencialmente promotoras do sucesso educativo.“14
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No respeitante à avaliação do impacto da formação a médio e longo prazo, algo que se reveste sempre de um elevado grau de complexidade, o contexto vivido no sistema educativo em 2018-2019 e a manutenção da parceria com a Área Arqueológica do Freixo criaram condições para que a mesma fosse feita em clima de grande proximidade com os formandos, como de seguida se verá.
EDUCAR PARA A CIDADANIA EM TONGOBRIGA: UMA HISTÓRIA PARA TODOS E CADA UM
Em setembro de 2017, ano de grandes desafios reflexivos para a comunidade educativa em Portugal, como tem vindo a ser referido ao longo deste trabalho, o Ministério da Educação publica a Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania (ENEC)15, a qual, no Decreto- Lei nº 55/2018 de 6 de julho viria a ser definida como “(…) a estratégia que visa o desenvolvimento de competências para uma cultura de democracia e aprendizagens com impacto na atitude cívica individual, no relacionamento interpessoal e no relacionamento social e intercultural, através da componente de Cidadania e Desenvolvimento.”16. Entre os pressupostos e pontos de partida do documento, destacaria, pela sua relevância para o presente trabalho, a ênfase colocada nas parcerias locais e nas vivências na comunidade e respetiva valorização, evidentes nos seguintes trechos: “(…) O percurso ziguezagueante do estatuto da Educação para a Cidadania no currículo escolar, durante as últimas décadas, não tem permitido a apropriação da visão e das boas práticas na cultura escolar, nem o envolvimento dos alunos e das alunas e de outros parceiros em atividades com a comunidade educativa local e na sociedade em geral. (…) A constatação de que a Cidadania não se aprende simplesmente por processos retóricos, por ensino transmissivo, mas por processos vivenciais. (…) A valorização das especificidades e realidades locais em detrimento de abordagens de temáticas abstratas e descontextualizadas da vida real – importância do diagnóstico local.”17. Como já foi referido no presente texto e no âmbito do articulado do projeto Autonomia e Flexibilidade Curricular, em cada escola, respeitando a sua identidade, deverão ser operacionalizados os princípios, visão e áreas de competências definidas no Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória recorrendo à transdisciplinaridade, à interdisciplinaridade, ao trabalho colaborativo, de forma a promover aprendizagens relevantes e significativas para todos os alunos. Carlinda Leite (2012), num artigo no qual defende que as aprendizagens têm mais probabilidades de ocorrer quando são significativas, ou seja, quando ocorrem através de processos de articulação curricular e por referência a conhecimentos e situações que já são familiares aos alunos, conclui: “(…) Estas ideias lembram-nos o que já neste texto sustentámos quando afirmámos que os projetos curriculares devem ter como ponto de partida o que é próximo e familiar aos alunos a quem se destinam, e isto pelas condições de base que criam para que cada aluno faça novas aprendizagens socialmente reconhecidas como relevantes. Mas, para isso, e admitindo a importância de processos de articulação organizacional, curricular e pedagógica, há que trabalhar, pelo menos, nas seguintes di-
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mensões: definição e estabelecimento de relações entre conteúdos das disciplinas que constituem os diferentes níveis de ensino; conhecimento dos contextos em que se situa cada escola; cooperação entre docentes, quer da mesma área disciplinar, quer dos que trabalham com os mesmos alunos, quer ainda dos que fazem parte da mesma comunidade educativa; realização de atividades entre a escola e a comunidade; envolvimento das famílias na responsabilização pelo ato de educar e formar as suas crianças e jovens (…).”18. Do mesmo modo, o texto da ENEC aponta para a importância de experiências reais de participação e de vivência de cidadania, as quais deverão ser articuladas com as áreas de competência previstas no PASEO. E, ao contrário do que aconteceu durante as últimas décadas e que pode estar na origem das já referidas dificuldades registadas nas anteriores tentativas de implementação da Educação para a Cidadania na Escola, sob diversos nomes, as aprendizagens esperadas neste domínio devem ser claramente explicitadas, isto porque a cidadania não é um conceito abstrato. As competências essenciais no âmbito da mesma são identificáveis e o seu desenvolvimento pode e deve ser planificado, implementado e avaliado. Cabe às escolas, anualmente, organizar os domínios de Educação para a Cidadania, de acordo com o seu Projeto Educativo e por decisão do Conselho Pedagógico, ouvidos todos os responsáveis. Para além dos domínios constantes da ENEC, as escolas podem optar por um outro domínio de acordo com as necessidades diagnosticadas. É neste espaço de autonomia que a componente de Património cultural local pode ser integrada, com base na já referida lógica de construção dos projetos curriculares a partir do que é próximo e familiar aos alunos. Foi neste enquadramento e, igualmente, na sequência das necessidades constantes dos Planos de formação das escolas e agrupamentos associados e dos resultados francamente positivos obtidos nas ações de formação anteriormente realizadas em parceria com a Área Arqueológica do Freixo, que surgiu a proposta para um novo evento formativo: a ação de curta duração “Freixo, inícios do séc. XIX: em tempo de mercadores, abadessas e capitães” - A Área Arqueológica do Freixo como recurso para a Educação para a Cidadania”, no dia 25 de abril de 2019, mais uma vez da responsabilidade de António Manuel Lima e Jorge Araújo. Tratando-se de um dia feriado, os 19 formandos foram convidados a fazer-se acompanhar pelas famílias. Tal como referido acima, o riquíssimo património histórico e cultural da Área Arqueológica do Freixo e os resultados dos permanentes trabalhos de pesquisa aí desenvolvidos constituíram-se como objeto de reflexão e partilha, pretexto e instrumento de trabalho e desenvolvimento profissional, grelha de ideias e parcerias entre escolas.
Foram alvo de debate com os formandos os novos circuitos temáticos de visita ao sítio, apoiados em publicações e mapas ilustrados abordando a sua vida ao longo da Idade Média, Época Moderna e Época Contemporânea. Abordou-se, em concreto, a “Feira da Quaresma” e “António de Serpa Pinto 1767 – 1834”, duas exposições temporárias que, mais do que contar a história de um sítio, contam a história da região e do país, partindo de pretextos da vida local de Santa Maria do Freixo.
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A exemplo das ações anteriores, registou-se uma grande variedade nos grupos disciplinares presentes, o que favoreceu o trabalho a nível do debate das várias possibilidades de operacionalização curricular de Cidadania e Desenvolvimento, nomeadamente a nível dos Domínios de Autonomia Curricular (DAC), tendo o património local, nomeadamente, a Área Arqueológica do Freixo como domínio. A ação de formação que se seguiu decorreu em maio de 2019 e foi integrada nas atividades com que a Estação Arqueológica do Freixo assinalou a “Noite Europeia dos Museus”. Por isso, à vertente pedagógica e didática da sessão que decorreu no Auditório da Estação Arqueológica do Freixo, juntou-se uma outra vertente, lúdica e aprazível, que constou da animação noturna das ruínas e de um momento musical, ambos protagonizados pelos alunos dos cursos profissionais da Artâmega – Academia de Artes do Marco de Canaveses. “Aprender com o passado: a arte de bem fazer da tradição popular uma arma. A história local na Educação para a Cidadania” Cartaz (2019, DRCN – Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de Jorge Araújo).
Debruçou-se esta ação sobre um tema tão significativo quanto incomum: “A Arte Intemporal de Bem Fazer das Tradições uma Arma”. O ponto de partida foi a História multissecular da aldeia em que se desenrolou a ação: Santa Maria do Freixo. E o mote foi a abordagem de diversos processos históricos, desfasados no tempo, mas todos reportados à História local e com uma característica em comum: a manipulação das tradições locais pelos sucessivos poderes externos que já se cruzaram com as vidas dos que habitaram neste sítio ao longo de dois mil anos. Na plena consciência de que não há tradição que se deixe vencer pela força das armas, as próprias tradições tornaram-se armas, por via da sua assimilação e transformação. Assim aconteceu, sucessivamente, com o papel do Estado centralizado em época romana na transformação das comunidades autóctones da Idade do Ferro; com o papel da Igreja e da religião cristã, na Idade Média e Época Moderna, na absorção do modo de vida e da cosmovisão das sociedades rurais; e por fim, com o papel da burguesia terrate-
“Aprender com o passado: a arte de bem fazer da tradição popular uma arma. A história local na Educação para a Cidadania” - junto à muralha de Tongobriga (2019, DRCN – Estação Arqueológica do Freixo©, fotografia de Jorge Araújo).
nente que, nos séculos XVIII a XX, dominou por completo a propriedade agrícola e todos aqueles que dela dependiam. Procurou-se, desta forma, desconstruir o modelo comum de apresentação dos conteúdos dos manuais do ensino básico e secundário, que por comodidade e/ou necessidade, apresentam o devir histórico repartido por blocos artificiais e estanques, como se as marcas civilizacionais de cada época resultassem de uma criação ex novo e não da transformação – não raras vezes manipulada em proveito dos poderes instituídos – de traços culturais transversais às diferentes épocas e conjunturas. Já dizia Lavoisier…
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Nas duas ações os formandos fizeram uma avaliação global de 4,9 em 5 e a avaliação máxima foi atribuída aos parâmetros “Relação dos formadores com o grupo de formandos” e “Os formadores demonstraram dominar os conteúdos tratados”. Na ação de formação “Freixo, inícios do séc. XIX: em tempo de mercadores, abadessas e capitães” - A Área Arqueológica do Freixo como recurso para a Educação para a Cidadania”, destacaram-se os comentários: “Adorei a organização da ação desde o início ao final. Foi excelente! O orador capta a atenção e a curiosidade de quem o ouve. Mais ações deste género. Espero pela próxima.”; “Excelente este momento passado neste espaço onde ficámos a saber um pouco mais sobre o Freixo e a sua arqueologia. Melhor só se fossemos percorrer os diferentes espaços assim como conhecer outros locais históricos do concelho.” Na avaliação da ação “Aprender com o passado: a arte de bem fazer da tradição popular uma arma - a história local na Educação para a Cidadania”, os comentários mais eloquentes dos 18 formandos docentes da ação foram: ”Excelente sugestão para tratar a história local em Cidadania e Desenvolvimento. Aguardo pela oficina de formação.”; “Parabéns ao CFAE e à Área Arqueológica do Freixo pela iniciativa. Precisamos deste dinamismo no Marco de Canaveses.”19. Os resultados obtidos no Encontro de Boas Práticas e nas três ações desenvolvidas em parceria com a Área Arqueológica do Freixo, os dados da avaliação feita pelos formandos e formadores e as dinâmicas criadas pelo processo de implementação da Cidadania e Desenvolvimento nas escolas levaram a Diretora do CFAE MarcoCinfães a solicitar aos técnicos da Área Arqueológica do Freixo, António Manuel Lima e Jorge Araújo, a criação duma oficina de formação subordinada ao tema “A Área Arqueológica do Freixo: o património cultural local como domínio para a Educação em Cidadania e Desenvolvimento”. Nesta oficina, com 25 horas presenciais e 25 horas não presenciais, seria dada uma relevância especial ao processo de preparação das visitas de estudo, em articulação com o Coordenador pedagógico da Área Arqueológica do Freixo e ao processo de acompanhamento dos docentes/alunos após a visita (“follow-up”). Ficou igualmente previsto que, 3 a 4 meses após o final da formação, se constituiriam momentos presenciais ou “online entre os formandos e formadores permitindo a avaliação da formação, o esclarecimento de dúvidas, a partilha de práticas, a identificação e resolução de dificuldades e a identificação de novas necessidades de formação. Encontra-se igualmente em aberto a possibilidade da criação de uma comunidade de prática, com recurso a uma plataforma digital a definir.
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CONCLUSÃO
S e
é verdade que, sem valor, o Património não
é, verdadeiramente, Património, também é verdade que não é por decreto que esse valor será reconhecido pelas gerações mais novas, cada vez mais itinerantes e abertas ao mundo, cada vez menos enraizadas, tentadas a procurar qualidade de vida noutros suportes que não o Património e muitas vezes levadas a prescindir de referências identitárias e memórias. E, sem memórias, não há monumentos 20. Das breves mas elucidativas experiências relatadas no presente trabalho, julgamos ser possível inferir que, estando reunidas as condições propícias a um convívio agradável e, eventualmente, com uma componente familiar no caso do horário escolhido o permitir, o público específico constituído por docentes locais é muito recetivo a convites para participar em atividades culturais realizadas na Área Arqueológica do Freixo, particularmente se estas forem estruturadas de forma a reunirem os requisitos necessários à sua certificação como formação contínua de docentes. Estes momentos, constituem, por sua vez, um processo de levantamento de necessidades de formação desses docentes, frequentemente por autodiagnóstico, e, simultaneamente, um delinear coletivo da estratégia de atuação dos próprios, ao nível das escolas, no sentido da divulgação e integração curricular do Património cultural local à luz dos respetivos Projetos Educativos. E, sem pretender de forma alguma, desvalorizar todos os tipos de aprendizagens informais e espontâneas que ocorrem na vida das crianças e jovens, por vezes também na escola, aquela é a forma mais indicada para fazer acontecer aprendizagens sobre Património. As aprendizagens realizadas em contexto de escola revestem-se de intencionalidade e são monitorizadas e avaliadas a nível interno e externo e decorrem no seio duma instituição que define como sua missão a capacitação de alunos para o exercício de uma cidadania plena. O Património cultural local, pela proximidade com cada um dos alunos, dos seus núcleos familiares, dos seus círculos sociais, pelas possibilidades que abre a nível de interligação de conhecimentos adquiridos nas diversas disciplinas e nas práticas, promoverá aprendizagens relevantes, significativas e duradouras para todos os alunos, contribuindo para o desenvolvimento das competências previstas no PASEO. No âmbito do Projeto de Autonomia e Flexibilidade Curricular de cada escola e como domínio de Educação para a Cidadania, o Património cultural local, neste caso, as diversas vertentes da Área Arqueológica do Freixo integram-se no ciclo de conhecimento que consta do título deste texto:
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1- A investigação permanente realizada pela equipa da Área Arqueológica do Freixo referida e que se traduziu, entre outros, por um documentário de nível internacional, intitulado “Tongobriga. O Espírito do Lugar”, cujo original tem 55 minutos de duração e inclui reconstituições tridimensionais de alta definição dos principais edifícios e componentes da Tongobriga pré-romana e romana; este documentário dispõe também de um guia visual21 e de uma versão “curta” que constitui um “appetizer” para uma mais demorada visita a Tongobriga. Além desta produção cinematográfica, que já mereceu exibição internacional, foram disponibilizados ao público dois mapas ilustrados, um sítio de internet com materiais e informação de apoio à preparação da visita, seis edições de conteúdo informativo e réplicas de materiais arqueológicos. Todo este trabalho de bastidores, orientado para que fosse possível proporcionar ao visitante uma experiência enriquecedora, não descurou o trabalho de manutenção corrente e permanente valorização do sítio, quer ao nível das próprias ruínas, quer dos percursos de visita e espaços de lazer22. 2- A formação de professores e educadores, numa parceria entre a Área Arqueológica do Freixo e o CFAE MarcoCinfães, nos moldes em que a mesma aqui foi explicitada, ressalvando que a parceria institucional, a permanente monitorização de processos e a divulgação de boas práticas são elementos essenciais à consolidação e alargamento da experiência. 3- As crianças e os jovens, no papel de alunos, as suas famílias e a comunidade. E, com estes destinatários, este ciclo de conhecimento encerra-se, provisoriamente, porque, entretanto, muitos outros se abrem, com pequenas nuances e com grandes espaços de liberdade. Porque Tongobriga será sempre um lugar de histórias para todos e cada um.
NOTAS 1
O Centro de Formação de Associação de Escolas de Marco de Canaveses
indisciplina, o abandono e o insucesso escolar mais se manifestam. São objetivos
e Cinfães (CFAE MarcoCinfães) é um organismo do Ministério da Educação que
centrais do programa a prevenção e redução do abandono escolar precoce e do
tem a seu cargo a formação contínua do pessoal docente e não docente de todos
absentismo, a redução da indisciplina e a promoção do sucesso educativo de
os agrupamentos de escolas e escolas não agrupadas públicas, incluindo as esco-
todos os alunos”. (Direção Geral de Educação, Ministério da Educação).
las profissionais, dos concelhos de Marco de Canaveses e de Cinfães. Com sede
(disponível em https://www.dge.mec.pt/teip) [acedido em 1 de junho de 2020].
na Escola Secundária de Marco de Canaveses, serve uma população de cerca de 1.130 docentes e 430 não docentes e existe desde 2008, ano em que se deu a fusão dos centros de formação de professores de Marco de Canaveses (Focomarco) e de Cinfães. Para uma melhor explicitação dos objetivos, organização e regras de funcionamento dos CFAE, ver Decreto-Lei nº 127/2015, de 7 de julho.
4
2
cesso”, folheto de divulgação, 2017 (adaptado), arquivos do CFAE MarcoCinfães.
Resolução do Conselho de Ministros nº23/2016, Diário da República, n.º 70,
Objetivos do curso de formação “Encontro de Boas Práticas: a Escola do Su-
1.ª Série, de 11 de abril de 2016 [cria o Programa Nacional de Promoção do Su-
5
cesso Escolar].
(disponível em https://dre.pt/web/guest/pesquisa/-/search/69736208/details/
3
normal?q=%22Decreto-Lei+n.%C2%BA%20127%2F2015%22)
Territórios Educativos de Intervenção Prioritária - “O Programa TEIP é
Para mais detalhes, recomenda-se a consulta do Decreto-Lei n.º 127/2015.
uma iniciativa governamental, implementada atualmente em 137 agrupamentos de escolas/escolas não agrupadas que se localizam em territórios económica e socialmente desfavorecidos, marcados pela pobreza e exclusão social, onde a violência, a
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6
in Relatório final de formanda participante no Encontro de Boas Práti-
16 Página 2930, artigo 3º, alínea g) de Decreto-Lei nº 55/2018, Diário da Repú-
cas “A Escola do Sucesso”, 2017, arquivos do CFAE MarcoCinfães.
blica, n.º 129, 1.ª Série, de 6 de julho de 2018 [estabelece o currículo dos ensinos
7
básico e secundário, os princípios orientadores da sua conceção, operacionalização
Disponível em https://dge.mec.pt/sites/default/files/Curriculo/
Projeto_Autonomia_e_Flexibilidade/ae_documento_enquadrador.pdf
e avaliação das aprendizagens, no âmbito das competências previstas no Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória]. 17 Disponível em (página 6) https://dge.mec.pt/sites/default/files/Projetos_ Curriculares/Aprendizagens_Essenciais/estrategia_cidadania_original.pdf
8
Disponível em https://dge.mec.pt/sites/default/files/Curriculo/Projeto_Au-
tonomia_e_Flexibilidade/perfildos_alunos.pdf
18 LEITE, Carlinda - A Articulação Curricular como Sentido orientador dos Projetos Curriculares. Educação Unisinos. 16(1) (janeiro/abril 2012) 87-92. 19 Dados do tratamento estatístico dos inquéritos de opinião passados aos for9 Disponível em (páginas 7) https://dge.mec.pt/sites/default/files/Curriculo/
mandos das ações “Freixo, inícios do séc. XIX: em tempo de mercadores, abadessas
Projeto_Autonomia_e_Flexibilidade/ae_documento_enquadrador.pdf
e capitães” - A Área Arqueológica do Freixo como recurso para a Educação para
10 Disponível em https://www.dge.mec.pt/aprendizagens-essenciais-ensino-
a Cidadania” e “Aprender com o passado: a arte de bem fazer da tradição popu-
-basico;
lar uma “arma”- a história local na Educação para a Cidadania”(2019, Arquivos do CFAE MarcoCinfães). 20 Almeida, Carlos Alberto Ferreira de – “Património – Riegl e Hoje”, História. Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 10, Porto, 1993. 21 LIMA, António Manuel; MENCHÓN I BES, Joan (dir.) – Tongobriga. O Espírito
Disponível em https://www.dge.mec.pt/aprendizagens-essenciais-ensino-se-
do Lugar. Guia Arqueológico Visual. Porto: Direção Regional de Cultura do Norte
cundario
(DRCN)/ Câmara Municipal do Marco de Canaveses, 2018. (disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
11 Disponível em (páginas 10-11) https://dge.mec.pt/sites/default/files/Curriculo/Projeto_Autonomia_e_Flexibilidade/perfil_dos_alunos.pdf
22 Este programa de visitas foi publicado, sem indicação de autoria, em Atividades 2013/2014., Freixo: DRCN - Área Arqueológica do Freixo, 2014, página 4 e seguintes.
12 Despacho n.º 1326/2015, Diário da República, n.º 27, Série II, de 9 de fevereiro de 2015 [determina que o serviço sediado no Mosteiro de Tibães fique a funcionar na dependência hierárquica direta do Diretor Regional e o serviço dependente sediado na Área Arqueológica do Freixo fique a funcionar na dependência hierárquica direta da Direção de Serviços de Bens Culturais]. 13 Dados do tratamento estatístico dos inquéritos de opinião passados aos formandos da ação “Área Arqueológica do Freixo: o Património e a Gestão Flexível do Currículo” (2018, Arquivos do CFAE MarcoCinfães). 14 Vieira, F. (2018) Relatório de Avaliação do Plano de Formação do CFAE MarcoCinfães 2017-2018, Braga: Universidade do Minho (arquivos do CFAE MarcoCinfães). 15 Disponível em https://dge.mec.pt/sites/default/files/Projetos_Curriculares/ Aprendizagens_Essenciais/estrategia_cidadania_original.pdf
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11 GENIUS LOCI
M ED I AÇÃO
António Manuel Lima Direção Regional de Cultura do Norte amlima@culturanorte.gov.pt António Manuel de Carvalho Lima (Porto, 1965) é Licenciado em História, variante de Arqueologia, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (1988) e Mestre em Arqueologia pela mesma faculdade (1994), com uma dissertação sobre os “Castelos Medievais do Curso Terminal do Douro (Séculos IX – XII)”, orientada pelo Professor Doutor Carlos Alberto Ferreira de Almeida. É investigador do CITCEM - Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória (Universidade do Porto) e do IEM - Instituto de Estudos Medievais (Universidade Nova de Lisboa). Exerce funções na Direção de Serviços de Bens Culturais (Direção Regional de Cultura do Norte). Foi Coordenador da Estação Arqueológica do Freixo / Tongobriga, entre maio de 2014 e maio de 2019. Entre as suas mais recentes obras sobre Tongobriga, destacam-se “Mudar de Vida - Catálogo da Exposição Permanente do Centro Interpretativo de Tongobriga” (2016); “A Feira da Quaresma (Séculos XV a XIX)” (2 vol., 2017); e “Tongobriga- O Espírito do Lugar. Guia Visual” (2018).
José António Muñiz
Filipe C. Silva
Digivision, Diretor-Geral
Digivision, Relações Internacionais
jam@digivision.com.es
filipe.silva@digivision.com.es
Diretor, Produtor e fundador da Digivision, uma empresa audiovisual em operação há mais de duas décadas e baseada em Réus – Catalunha (Espanha). O desafio a que se propôs de produzir e realizar a série documental “Engenharia Romana” permitiu que toda a capacidade criativa, técnica e visual mobilizada para esse projeto fosse também usada na produção de “Tongobriga. Genius Loci”.
Comandante de Longo Curso da TAP Air Portugal. Devido a ser multilingue e à sua capacidade organizativa, bem como ao seu gosto particular por História e Arqueologia, juntou-se à Digivision em 2013, ficando incumbido da Coordenação de Produção Internacional. Nessas funções, integrou desde o seu início a equipa que levou a bom porto a realização de “Tongobriga. Genius Loci”, cuja produção se proporcionou na sequência dos trabalhos de preparação do documentário “Engenharia Romana”.
Genius loci: o desafio de tentar representar a “alma” de um lugar Em memória de Álex Salmerón Galindo
Em 2014, no quadro de um projeto cofinanciado pela União Europeia, a Direção Regional de Cultura do Norte e a Câmara Municipal de Marco de Canaveses entenderam promover a edição de um documentário sobre Tongobriga. Para o efeito, foi contratada a Digivision, uma empresa com sede em Réus (Barcelona), que já então contava com larga experiência, de qualidade publicamente reconhecida, na criação e realização deste género de produtos cinematográficos1. Pretendia-se a produção de um documentário com qualidade cinematográfica em alta definição e capacidade de visualização em TV, cinema, DVD e “Blu Ray Disc”, com uma duração entre 50 e 60 minutos, rodado em Ultra HD e incluindo banda sonora de qualidade orquestral. O conceito pretendido para a produção baseava-se na obtenção de um documentário de ritmo intenso e dinâmico, empregando música de orquestra de grande qualidade, mesclando imagens reais obtidas in loco, imagens virtuais produzidas em computador e recriações históricas realizadas com atores.
A visualização do documentário deveria permitir ao espectador uma associação intuitiva entre os diferentes espaços, edificações e ruínas existentes e observáveis na atualidade com o aspeto que esses mesmos espaços e edificações teriam em época romana e/ou épocas posteriores. Deveria ainda ilustrar os principais passos da investigação histórica e arqueológica que permitem fundamentar as propostas de reconstituição histórica, apresentados numa perspetiva dinâmica e diacrónica. A espetacularidade obtida com o uso dos recursos técnicos e humanos atrás referidos deveria ser equivalente à de produções cinematográficas.
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Teria como objetivo o máximo rigor histórico possível com os adereços e cenários utilizados nas recriações com atores, para o que seria assegurado o respeito por critérios de rigor científico e a permanente coordenação com os serviços da Estação Arqueológica do Freixo / Direção Regional de Cultura do Norte.
O documentário “Tongobriga. O Espírito do Lugar”, com 53 minutos de duração, teve a sua estreia pública a 22 de julho de 2018 no Auditório da Casa das Artes, no Porto. Em simultâneo com a estreia, durante a qual foi possível desfrutar de uma experiência de realidade virtual com smartphone e óculos 3D, decorreu a apresentação pública de um guia, com mais de 100 páginas profusamente ilustradas, que resultou da necessidade de compilar e atualizar o essencial da informação de que dispúnhamos sobre Tongobriga. Intitulado “Tongobriga. Guia Arqueológico Visual”, constituiu uma forte aposta no impacto visual das reconstituições tridimensionais elaboradas para o documentário, das quais foram selecionadas cerca de uma dezena que, uma vez impressas em vinil, foram sobrepostas a imagens atuais das ruínas observáveis nos mesmos locais.
Cartaz do documentário “Tongobriga. O Espírito do Lugar” (2018, Digivision / CMMC / DRCN©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón).
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Auditório da Casa das Artes, Porto. Estreia do documentário. (2018, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de António Freitas).
Tinham decorrido quase quatro anos desde o momento em que se deram os primeiros passos neste trabalho. O primeiro signatário destas linhas, então a iniciar funções como Coordenador da Estação Arqueológica do Freixo, aceitou o desafio de assumir a direção científica do documentário, garantindo a ligação institucional entre a DRCN, a Câmara Municipal de Marco de Canavezes e a Digivision. Tratando-se de uma produção em alta definição, em que todas as reconstituições gráficas são feitas à escala e totalmente georreferenciadas, o rigor e o detalhe requeridos pelo documentário constituíam uma tarefa exigente, mas previsivelmente muito facilitada pela profusão de informação que havia sido acumulada ao longo de dezenas de anos sobre este importante sítio arqueológico. Com efeito, Tongobriga já contava com 34 anos de investigação arqueológica contínua e um discurso interpretativo consolidado, o qual, suportado em ampla bibliografia publicada em Portugal e no estrangeiro, tinha permitido definir uma mensagem e projetar uma imagem e uma mensagem – ambas bastante claras – sobre as quais o sítio construiu a forma como se afirmou, não só junto da comunidade científica, mas também da comunidade local e do seu público-alvo, essencialmente estudantil.
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“Tongobriga. Guia Arqueológico Visual”. Contracapa (2018, Digivision / CMMC / DRCN©, desenho e composição gráfica de Javier Torres e Jan Vallès).
TONGOBRIGA, UMA CIDADE
Ao mesmo tempo que a produção do documentário dava os seus primeiros passos, Tongobriga atingia o auge da sua afirmação pública, quer no seio da comunidade científica e académica, quer no imaginário coletivo daqueles que, vivendo em Santa Maria do Freixo ou suas proximidades, nutrem sentimentos de posse e orgulho sobre as ruínas que existem numa aldeia que – dizem-lhes os arqueólogos – outrora foi cidade. Com efeito, já desde os anos 80, mas sobretudo após a publicação da tese de doutoramento de Lino Tavares Dias2, que Tongobriga havia conquistado um lugar no restrito conjunto das antigas cidades romanas do Noroeste peninsular, assim reconhecidas por arqueólogos e académicos, muito à custa do que era então designado “centro cívico da urbe”, um magnífico conjunto de ruínas correspondentes ao que havia sido um enorme forum de invulgares proporções e um conjunto termal cuja imponente volumetria resistira a quase dois milénios de existência. Porém, só com o trabalho conjunto de arqueólogos e arquitetos, cujos frutos se tornaram particularmente visíveis na segunda década do nosso século, é que foi possível ao comum dos visitantes dispor de propostas gráficas de reconstituição tridimensional desse mesmo conjunto, bem como de perspetivas gerais do que teria sido o ordenamento urbano das áreas residenciais3. Quem, a partir de então, visitasse Tongobriga, tinha possibilidade de recriar mentalmente a vida que outrora animara as ruínas que podiam ser observadas, dando largas à imaginação individual, sem a qual a experiência do visitante sempre saberia a pouco. Tongobriga, cujos edifícios e espaços públicos de época romana já eram, mesmo em ruína, monumentais, ganharam volume e impacto visual mais condicente – e convincente – com o estatuto de uma civitas, capital de um territorium e possivelmente, como tal, sede de um populus; passando desta forma a coincidir a imagem projetada com a realidade observada.
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Para os mais exigentes que, além de quererem conhecer as propostas de reconstituição formal e funcional das ruínas, esperam também compreender a razão de ser da existência daquilo que veem, foram igualmente dados passos significativos no sentido de explicar a presença, naquele inusitado sítio, de um centro urbano ao qual se reconheciam funções de capitalidade. O Noroeste peninsular, no que à parte atualmente integrada em Portugal dizia respeito, e que até então dispunha apenas de duas cidades romanas – Bracara Augusta e Aquae Flaviae – correspondentes a outras tantas cidades atuais – Braga e Chaves – passou a dispor de uma terceira cidade, que, ao contrário das suas congéneres, chegou até nós sob a forma de uma pequena aldeia. Sucessivos trabalhos de Lino Tavares Dias destacaram a importância, para a criação e desenvolvimento da urbe tongobricense, da proximidade de uma via terrestre de interesse transrregional ligando Bracara Augusta a Emerita Augusta, bem como a inclusão de Tongobriga na estratégia imperial de promoção de uma série de centros urbanos ao longo do vale do Douro e no quadro da província a que o célebre “Édito de El Bierzo” apelida de “transduriana”. Assim sendo, Tongobriga não só ganhava forma e conteúdo, como também ganhava sentido. O impacto desta visão sobre o sítio não se ficou pelos investigadores, estudiosos ou simplesmente curiosos. Mercê da dinâmica do próprio serviço da Direção Regional de Cultura do Norte, mas também do apoio das autarquias locais – sobretudo a Câmara Municipal de Marco de Canaveses e a Junta de Freguesia do Marco – e do envolvimento da Associação de Amigos de Tongobriga – quer como catalisadora de vontades e disponibilidades, de outra forma dispersas e desaproveitadas, quer como promotora e dinamizadora de eventos – a mensagem “Tongobriga. Cidade Romana”, traduzida em orgulho coletivo e sentimento de posse comunitária, acabou por se afirmar.
Uma afirmação que se tornou notória, quer a nível local e municipal, quer na sua dimensão nacional e internacional. A nível local, os seus habitantes mobilizaram-se e passaram, eles próprios, a integrar a recriação dos momentos que, no imaginário coletivo, representaram tempos áureos da vida da aldeia, por contraponto com a atualidade, em que a desertificação marca pontos e as casas da aldeia ameaçam passar rapidamente a ruínas arqueológicas.
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A nível concelhio, Tongobriga passou a fazer parte do restrito conjunto de valores com os quais se eleva o brio e amor-próprio de uma comunidade, se constrói a identidade e a consciência coletiva, e se afirma, do ponto de vista político, quer para dentro, quer para fora, a imagem do município. A nível nacional e internacional, essa afirmação fez-se sobretudo ao nível académico e científico.
O QUE FIZEMOS. MOSTRAMOS O QUE FOI TONGOBRIGA?
Tentar traduzir em filme a vida de um sítio é, mais do que qualquer outra coisa, tentar captar instantâneos do que pensamos ter sido a sua evolução, que por natureza, é contínua. Nesses instantâneos, cristalizamos momentos “ideais”, que certamente jamais existiram, sendo que todos os modelos resultam da evolução permanente dos anteriores. E os novos modelos que lhes hão de suceder nunca esperarão pela total consumação do precedente para começarem a emergir. Não obstante, cremos que a inclusão desses momentos cristalinos – porque, efetivamente, representam a perfeição de uma ideia já feita realidade estática – num discurso evolutivo coerente e contínuo, veiculado pela voz “off” que acompanha todo o documentário, permite ultrapassar de forma satisfatória, o “pecado original” de que padece qualquer documentário.
Escolhemos, por isso, quatro momentos, correspondentes a outras tantas “Tongobrigas” diferentes: Pré-Romano, Romano, Baixo Império / Antiguidade Tardia e, por fim, Idade média.
Porque a generalidade das ruínas que estão disponíveis para visita e observação pertencem ao primeiro, e, sobretudo, ao segundo desses momentos, muito naturalmente a aposta das reconstituições virtuais recaiu em especial sobre esses dois primeiros modelos. O momento fundacional de um povoado com características proto-urbanas em Tongobriga, não poderia prescindir de uma proposta de reconstituição do seu perímetro, materializado na construção de uma muralha, bem como da organização interna dos espaços habitados.
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Estes últimos, vistos à lupa, teriam, também eles, por sua vez, que ser alvo de uma abordagem mais fina, quer no que diz respeito à tipologia das suas construções, quer no que se refere ao seu agrupamento em núcleos domésticos de caráter familiar como aqueles que há muito são apontados para outros povoados congéneres e que, nos últimos anos, foi possível identificar também em Tongobriga. Por fim, não poderíamos deixar de apresentar uma perspetiva do que pensamos poder ter sido o aspeto original do balneário castrejo e o seu funcionamento interno, não só porque o monumento é, justamente, um dos ex-libris do sítio, mas também porque já existem propostas consistentes e devidamente fundamentadas que permitem suportar, em termos científicos, a sua reconstituição. Relativamente à “cidade ideal” de Tongobriga, que haveria de dar forma, volume, cor, textura e movimento à época romana – do modo como tal época por cá foi pensada e vivida – desde logo foi programada a reconstituição virtual do seu perímetro e da sua organização interna. Tal como acontecia com o povoado castrejo, também aqui se impunha a necessidade de observar bem mais de perto a organização da vida quotidiana e doméstica correspondente ao uso de habitações construídas com base em modelos ou protótipos de origem itálica, importados desse ou de outros pontos do Império Romano, e adaptados de forma muito peculiar e original, à realidade local dos tongobricenses. Foram, para este último efeito, escolhidas as três domus romanas que, em Tongobriga, permitiam sustentar melhor uma proposta virtual de reconstituição da sua arquitetura e do seu interior: as chamadas “Casa das Escadas”, “Casa do Poço” e, sobretudo, a “Casa do Impluvium”. Sem, em caso algum, descartar a priori qualquer proposta acerca da arquitetura dos principais edifícios públicos de época romana, não deixamos de ensaiar a reconstituição do circo, do teatro e do anfiteatro que constam da bibliografia já anteriormente publicada4. De igual forma, também não descartamos a possibilidade de tais obras públicas terem sido planeadas, e, até, eventualmente iniciadas, mas jamais concluídas, fazendo jus às preocupações para com as obras de construção civil, em especial as promovidas pela administração estatal, que, sendo também muito atuais, já eram manifestadas por Plínio-o-Jovem há dois mil anos5.
Naturalmente, a maior parte do nosso tempo e esforço foi investida na reconstituição virtual do edifício termal e do forum. As termas públicas romanas, além de serem, do ponto de vista volumétrico, o mais monumental edifício de Tongobriga imperial, têm também um significado muito especial, quer para a população local, quer para os arqueólogos que aí trabalham há quarenta anos, pois foi por aí que começou a redescoberta de Tongobriga. Pesou também a abundante bibliografia já publicada sobre este edifício, na sua quase totalidade da autoria de Lino Tavares Dias, que o escavou e estudou, e, sobretudo, o facto de ser o edifício que dispunha de propostas de reconstituição mais sólidas e fundamentadas.
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O Baixo Império e a Antiguidade Tardia foram também alvo da nossa atenção, através de uma proposta de reconstituição virtual do edifício pavimentado com mosaicos polícromos que jaz sob a atual igreja de Santa Maria do Freixo. Não havendo, até à data, nenhum edifício datável deste período que esteja acessível ao visitante, esta reconstituição, naturalmente focada nos mosaicos geométricos que jazem sob o adro, nave, capela-mor e sacristia da igreja de Santa Maria, constituía um primeiro passo para uma visita virtual futura, através de um PVV (Ponto de Visualização Virtual), cuja produção e implementação estavam planeadas e chegaram a ser iniciadas. Por fim, no que à Idade Média Plena diz respeito, e na impossibilidade de fazer propostas fundamentadas de reconstituição de qualquer um dos seus edifícios, foi decidido transformar a abordagem desta época num epílogo digno para o documentário. Na realidade, se hoje existe uma aldeia de Santa Maria do Freixo; e se até nós chegaram, como chegaram, as ruínas de edifícios cuja configuração original é datável dos séculos que imediatamente precederam ou sucederam ao início da era cristã; é porque na Idade Média – tal como na Idade Moderna e até já na época contemporânea – esses edifícios estavam longe de ser meras ruínas. Pois, se o que leva um edifício à ruína é a cessação da sua utilidade e consequente fim do seu uso, só em tempos muito recentes – chegamos, talvez, século e meio atrasados – a Tongobriga romana passou a ser vista, pelos que com ela diariamente conviviam, como verdadeira ruína.
Caso pudesse vir a ser concretizada uma eventual “segunda temporada” desta aventura que constituiu criar um documentário sobre Tongobriga, o seu foco talvez fosse, por estes motivos, já não tanto retratar, época a época, a vida do lugar, mas, sobretudo, abordar aquilo que é transversal a todas as épocas 6, já que, na realidade, é nessa transversalidade que verdadeiramente reside o “espírito do lugar”.
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TONGOBRIGA PRÉ-ROMANA
Como já aqui foi referido, o facto de dispormos de um discurso consolidado sobre o sítio e de propostas gráficas sobre o que teriam sido a sua organização interna e a configuração dos seus principais edifícios públicos, constituía um ponto de partida fundamental para a construção do documentário. Tendo em conta a experiência da Digivision no campo das reconstituições gráficas tridimensionais de cidades e edifícios, bem como na reconstituição virtual do seu uso em época romana, adivinhava-se que a parte mais desafiante e trabalhosa do documentário, no que se refere à reconstituição de diferentes ambientes e distintas arquiteturas, fosse a que dizia respeito ao período pré-romano, ou, para usar de maior rigor, aos momentos que precederam as alterações mais radicais no modus vivendi dos tongobricenses, às quais, por mera comodidade, chamamos “romanização”.
Com as peças de ourivesaria e escultura pré-romana que Tongobriga já revelou, às quais se juntou a criatividade estética de uma estilista profissional, Laura Folch Ferré, foram desenhadas, de raiz, várias peças de indumentária castreja; com a disponibilidade e simpatia de instituições como as Câmaras Municipais de Baião, Famalicão e Póvoa de Varzim – através dos respetivos Museus Municipais e/ou Gabinetes de Arqueologia 7 – que já dispunham de consideráveis guarda-roupas para o mundo castrejo; com a amabilidade da Câmara Municipal de Póvoa de Lanhoso, que cedeu e preparou espaços e reconstruções castrejas para a filmagem de cenas do quotidiano pré-romano; com a imensa alegria e empenho da Associação de Amigos de Tongobriga e dos habitantes da aldeia do Freixo, a quem devemos a quase totalidade dos figurantes; com o apoio logístico da Direção Regional de Cultura do Norte e Câmara Municipal de Marco de Canaveses, que promoveram esta produção; com o profissionalismo da equipa técnica da própria Digivision; e, last but not least, com o entusiamo e dedicação dos funcionários da Estação Arqueológica do Freixo; a tarefa de construir a componente pré-romana do documentário tornou-se muito mais fácil e, sobretudo, muito mais agradável.
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Do ponto de vista científico, não obstante o facto de todas as reconstituições terem por base as propostas que constam da bibliografia da especialidade e serem totalmente compatíveis com os vestígios arqueológicos existentes, não deixamos de ter de fazer opções que, enquanto tais, comportam sempre algum risco, por mais calculado que este seja. Assim aconteceu, sobretudo, com a estrutura proto-urbana do povoado castrejo. Foram utilizados modelos adequados à realidade observada em Tongobriga, em especial a partir do momento em que aqui foi possível observar a existência de núcleos familiares constituídos por um conjunto de construções circulares, uma com átrio, outra não, integradas em recintos fechados, definidos por um muro perimetral, cuja superfície interior, pelo menos parcialmente lajeada, dispunha de um sistema próprio de aproveitamento e drenagem das águas pluviais e sua canalização para o exterior. Um sinal claro do que terá sido o módulo que esteve na base da organização do espaço construído, antes da sua profunda transformação inspirada no mundo romano.
Vista geral do povoado castrejo (reconstituição). (2017, Digivision / CMMC / DRCN©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón).
Embora tenhamos evidências de que este tipo de construções e esta organização se espalham por todo o interior do perímetro amuralhado do povoado castrejo, não deixamos de, em conjunto com a equipa técnica que sempre trabalhou sobre levantamentos aerofotogramétricos de precisão, ter em consideração que a topografia da colina de Tongobriga, pela excessiva inclinação de algumas das suas áreas, está muito longe de ser totalmente passível de construção.
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Povoado castrejo (vertente oeste) (2017, Digivision / CMMC / DRCN©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón).
Por isso, uma vez estabelecidas as condições topográficas mínimas necessárias para serem transformados em áreas habitadas, de construção organizada, no que a inclinações máximas diz respeito, foram definidos vários espaços do interior do perímetro amuralhado que foram excluídos da tentativa de reconstituição virtual da organização proto-urbana de Tongobriga castreja, e, como tal, apresentadas como espaços não construídos. Elementos estruturais, como o coroamento e entradas das muralhas, das quais só conhecemos a base; e/ou de pormenor, tais como o material construtivo usado na parte superior das construções, foram sendo resolvidos com recurso às propostas veiculadas pela bibliografia da especialidade e também à observação dos diferentes núcleos e construções castrejas que já foram objeto de reconstituição material, umas mais antigas – Briteiros, Santa Tecla – outras mais recentes – Lanhoso, São Lourenço, e, sobretudo, Sanfins. Quanto ao balneário castrejo, que muitos conhecem sobretudo pela sua laje de separação entre a antecâmara de acesso e a câmara de sauna – umas vezes mais formosa e decorada, outras vezes, mais simples, como a de Tongobriga – e não obstante algumas características quase únicas do exemplar tongobricense, como o facto Balneário castrejo. Vista geral (sul–norte) (2017, Digivision / CMMC / DRCN©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón).
de ser totalmente escavado na rocha granítica, o trabalho de reconstituição foi imensamente facilitado pela existência prévia de propostas gráficas e, sobretudo, de trabalhos de arqueologia experimental que culminaram, pelo menos num caso, na reconstrução física e integral de uma estrutura do género8.
Balneário castrejo. Vista geral (norte–sul) (2017, Digivision / CMMC / DRCN©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón).
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Balneário castrejo. Entrada para a câmara de sauna (2017, Digivision / CMMC / DRCN©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón).
De tal forma que a originalidade das nossas propostas residiu, sobretudo, na adaptação de tais modelos a uma estrutura totalmente enterrada, e à demonstração do seu funcionamento, quer ao nível do abastecimento de água, quer no que respeita ao método de produção de vapor, ambos baseados nos inúmeros negativos talhados no granito que ainda hoje são observáveis em torno do balneário propriamente dito.
Balneário castrejo. Sistema de abastecimento de água à câmara de combustão (2017, Digivision / CMMC / DRCN©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón).
Balneário castrejo. Sistema de abastecimento de água (2017, Digivision / CMMC / DRCN©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón).
Balneário castrejo. Entrada para a câmara de combustão (2017, Digivision / CMMC / DRCN©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón).
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TONGOBRIGA ROMANA Atendendo às propostas existentes para a reconstituição dos edifícios públicos mais monumentais da Tongobriga romana; e à experiência anterior da Digivision no mesmo tipo de trabalhos em cidades romanas hispânicas com a dimensão e complexidade de Tarraco e Cartagena, entre outras; o desafio de reconstruir virtualmente Tongobriga, tal como ela seria de acordo com os modelos e proporções vitruvianas, parecia exequível em alguns meses, algo que a verdadeira complexidade do trabalho veio desmentir.
Com efeito, do ponto de vista da investigação arqueológica, uma das maiores virtudes do trabalho com modelos tridimensionais e georrefenciados, é o facto de exigir ao arqueólogo que abandone a sua costumeira postura de observador e intérprete, e se coloque, quase de carne e osso, no papel de utilizador / usufrutuário dos espaços e edifícios que estuda. Aquilo que, à primeira vista, parece ser, apenas, uma simples mudança de perspetiva, é, na realidade, uma mudança radical: o rigor e precisão com que as reconstituições são realizadas, permitem não só avaliar a usabilidade dos projetos arquitetónicos, como até testar, em ambiente virtual, a estabilidade, resistência e exequibilidade dos edifícios, tal como eles são apresentados nas propostas gráficas que abordam a sua arquitetura. A fiabilidade dessas reconstituições permite ir ainda mais longe, pois, em ambiente virtual, podem ser gerados modelos preditivos. Isto é, imagens tridimensionais que, conjugando vários tipos de elementos – tais como vestígios arqueológicos previamente reconhecidos, protótipos e arquétipos de edifícios e/ou conjuntos urbanos, malhas urbanas, proporções e medidas reconhecidas como ideais e levantamentos topográficos de precisão – podem ser sobrepostas à realidade, sugerindo a existência de construções de outra forma indetetáveis e/ou a localização precisa de edifícios cuja implantação era incerta. O que verdadeiramente transforma estes trabalhos numa importantíssima ferramenta ao serviço da investigação arqueológica. Haja, pois, vontade de usar essa ferramenta. E, ao transformar a equipa técnica que nelas trabalha, em virtuais utentes das termas, visitantes do forum e habitantes de uma domus, obriga-os a avaliar, não só a possibilidade real de construção e utilização dos espaços e edifícios, como a pertinência dos materiais de construção que pensamos terem sido usados, e também a própria comodidade das instalações e equipamentos, o sentido prático e utilitário do seu mobiliário, a estética da sua decoração, e a adequação dos circuitos de uso / circulação nos edifícios às finalidades para que foram construídos. Tudo isto partindo do obrigatório respeito pelo que se conhece dos padrões, modelos, necessidades e gostos de cada época.
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O trabalho de reconstituição virtual dos espaços residenciais e edifícios públicos romanos de Tongobriga passou por inúmeras experiências gráficas até ser atingida a configuração final que consta do documentário e do guia visual.
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Termas públicas. Áreas de serviço, hipocausto e caldarium (2017, Digivision / CMMC / DRCN©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón).
Termas públicas. Da esquerda para a direita: cisterna, caldarium, tepidarium e frigidarium. Em primeiro plano, áreas de serviço (2017, Digivision / CMMC / DRCN©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón).
Áreas residenciais. Reconstituição da “Casa das Escadas” e “Casa do Impluvium”, ao nível do 2º piso (2017, Digivision / CMMC / DRCN©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón).
Áreas residenciais. Reconstituição da “Casa das Escadas” e “Casa do Impluvium”, ao nível das coberturas (2017, Digivision / CMMC / DRCN©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón).
Áreas residenciais. Reconstituição da “Casa do Poço”, ao nível do 2º piso (2017, Digivision / CMMC / DRCN©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón).
Áreas residenciais. Reconstituição da “Casa do Poço”, ao nível da cobertura (2017, Digivision / CMMC / DRCN©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón).
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Casa do Impluvium. Interior. Perspetiva do 2º para o 1º piso (2017, Digivision / CMMC / DRCN©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón).
Casa do Impluvium. Interior. Perspetiva do 2º para o 1º piso (2017, Digivision / CMMC / DRCN©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón).
Casa do Impluvium. Interior. Átrio (2017, Digivision / CMMC / DRCN©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón).
Conjunto “Casa das Escadas” / “Casa do Impluvium” / “Casa do Poço”. Estudos Prévios (2017, Digivision / CMMC / DRCN©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón).
Não nos iremos deter aqui de forma prolongada sobre as justificações técnicas e científicas das opções que foram tomadas, pelas quais o seu diretor científico assume integral responsabilidade. A essa reflexão sobre os modelos gráficos que foram propostos, já foram dedicados dois artigos de investigação, ambos publicados nas atas de reuniões científicas da especialidade, realizadas em Espanha. Casa do Impluvium. Interior. Átrio (2017, Digivision / CMMC / DRCN©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón).
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Uma primeira realizada em Segóvia, em 2016, dedicada às cidades romanas da Península Ibérica, onde abordamos as problemáticas relativas à própria estrutura urbana de Tongobriga, dando também ênfase ao seu forum9. E uma outra realizada em Múrcia, em 2018, especificamente dedicada às termas públicas da Hispania, na qual expressamos as nossas convicções sobre o edifício termal que, há 40 anos atrás, ainda passava por ser uma “capela [do tempo] dos mouros”10.
Configuração original do forum pecuarium. Proposta preliminar (2017, Digivision / CMMC / DRCN©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón).
Termas públicas. Reconstituição de exteriores (2017, Digivision / CMMC / DRCN©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón).
Termas públicas. Estudos para estrutura de coberturas (2017, Digivision / CMMC / DRCN©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón).
Termas públicas. Natatio (2017, Digivision / CMMC / DRCN©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón).
Termas públicas. Apodyterium (2017, Digivision / CMMC / DRCN©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón).
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Termas públicas. Frigidarium (2017, Digivision / CMMC / DRCN©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón).
Termas públicas. Tepidarium (2017, Digivision / CMMC / DRCN©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón).
Por isso, remetemos o leitor interessado em obter essa informação de cariz técnico e científico para a leitura dos dois artigos referidos. Aqui, limitar-nos-emos a elencar as opções mais “fraturantes” relativamente às propostas previamente existentes: – Reconhecemos não ter, com base nos dados disponíveis até ao momento, elementos sólidos para garantir que tenham efetivamente sido construídos um teatro, um anfiteatro e um circo romanos em Tongobriga; muito menos, temos elemenTermas públicas. Caldarium (2017, Digivision / CMMC / DRCN©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón).
tos que permitam afiançar uma proposta de reconstituição gráfica dos mesmos, embora essa reconstituição, do ponto de vista meramente teórico e académico, seja possível; – Sem descartar a possibilidade, ainda não confirmada, da existência de mais do que um circuito amuralhado, não reconhecemos a existência de uma segunda muralha – muito menos temos indícios que suportem uma proposta gráfica para a sua configuração – tal como ela tem sido sugerida11, em forma de “bolsa”, construída a sul, no sopé da colina, de forma a envolver o conjunto forum / termas no perímetro amuralhado, e ampliando de 13 para cerca de 20 hectares a área de Tongobriga no período pós-flaviano; – Atendendo à acidentada topografia de Tongobriga e aos dados atualmente disponíveis sobre a implantação das suas construções de cariz residencial, não podemos garantir que
Termas públicas. Latrinas (2017, Digivision / CMMC / DRCN©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón).
tenha sido planeada – e muito menos executada – uma malha urbana única, de traçado hipodâmico, que abrangesse todo o perímetro amuralhado. Sem menosprezar a capacidade excecional da engenharia romana para transformar o relevo, seriam inúmeros os espaços em que esse plano seria inexequível e não se reconhecem, no terreno, trabalhos de alteração global da topografia de forma a criar essa planimetria única numa colina de acidentado relevo com cerca de 1,5 km. de eixo maior.
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A sobreposição, em época romana, de um reticulado uniforme global à organização proto-urbana do povoado castrejo, além de esbarrar em complicados obstáculos, não só topográficos, mas também e sobretudo de natureza social, está longe de estar pro-
Conjunto “Casa das Escadas” / “Casa do Impluvium” / “Casa do Poço”. Proposta final (2017, Digivision / CMMC / DRCN©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón).
vada. E para a cronologia flávia, à qual se tem vindo a atribuir essa planificação, os dados por agora disponíveis são tão escassos que se torna difícil deles extrair qualquer conclusão. Sem pôr em causa o facto de a criação dos bairros habitacionais e edifícios públicos monumentais ter sido antecedida da planificação de um urbanismo tão regular quanto a topografia o permitisse, muito mais sensata – e exequível – seria a criação diacrónica de planos menores de ordenamento para cada uma das áreas urbanizáveis ou já anteriormente urbanizadas, mediante uma integração flexível na ideia geral de espaço urbano.
Casa do Impluvium. Coberturas (2017, Digivision / CMMC / DRCN©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón).
– Atendendo a tudo o que já ficou dito, bem como ao facto de, em época romana, o qualificativo de “cidade” não corresponder apenas ao reconhecimento de uma determinada dimensão e organização urbana, mas sim a um determinado estatuto jurídico, fiscal e administrativo; e atendendo ainda à ausência de provas de ter sido formalmente reconhecido tal estatuto a Tongobriga, evitamos insistir na ideia de “cidade”, preferindo dar ênfase à ideia de núcleo urbano, cuja categoria oficial, por agora, efetivamente desconhecemos; – Por absoluta falta de elementos que apontem nesse sentido, descartamos a possi-
Casa do Impluvium. Coberturas. Vista para o interior (2017, Digivision / CMMC / DRCN©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón).
bilidade de integrar o conjunto edificado “forum / termas”, bem como toda a área extramuros, nas áreas habitadas de Tongobriga que, como tal, estariam rodeadas por construções residenciais enquadradas em bairros de planimetria regular e atravessadas pelos principais eixos viários urbanos; sem com isso negar que aquele conjunto, de per si, tenha sido alvo dessa planificação e preocupação para com o respeito pelas proporções e medidas entendidas como adequadas;
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– Embora ensaiada, numa primeira fase da produção do documentário, acabamos por descartar a possibilidade de representação do forum de Tongobriga como uma praça – que não é – atravessada por ruas – que não se conhecem – optando pela ideia de “recinto fechado”, mais adequado à ideia de forum pecuarium, tal como este tipo de estruturas tem vindo a ser reconhecido em vários pontos da Península Ibérica; – Em consonância com essa mesma interpretação estrutural e funcional do forum de Tongobriga, e com suporte na total ausência de elementos arquitetónicos como bases, fustes ou capitéis e/ou materiais construtivos no seu interior, optamos pela não representação de porticados nem de um templo, remetendo as peças avulsas a este último atribuídas, para a reconstituição de um altar ou podium destinado a receber uma estátua; – Reconhecemos não dispor, de momento, de elementos suficientes para fazer propostas seguras para a reconstituição das construções com materiais perecíveis que, pensamos, terão ocupado de forma extensiva o interior Casa do Impluvium. Piso superior (2017, Digivision / CMMC / DRCN©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón).
do recinto. Está ainda por esclarecer a forma e a função das construções que, à superfície, se sobreporiam aos alinhamentos de negativos talhados no afloramento granítico que, paralelamente aos muros perimetrais do forum, parecem acompanhar todos os seus lados, para além de possivelmente se estenderem para o espaço central. Embora as semelhanças dessas estruturas negativas com as que compõem a infraestrutura dos horrea seja manifesta. Uma intervenção arqueológica em área no forum de Tongobriga, metodologicamente orientada para a deteção desse tipo de construções, será certamente suficiente para alterar de forma muito significativa a ideia que atualmente temos da organização do seu espaço interno; – Até que essa intervenção seja possível e oportuna, mais
Casa do Impluvium. Cubiculum (2017, Digivision / CMMC / DRCN©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón).
não pudemos fazer do que, partindo da representação planimétrica das estruturas negativas já detetadas e da impossibilidade física de elas terem correspondido a estruturas do género porticado, estáveis e exequíveis, sugerir que também elas possam ter sido feitas com materiais perecíveis, para o que foram usados modelos provenientes de macella.
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TONGOBRIGA, DO BAIXO IMPÉRIO À IDADE MÉDIA Um documentário sobre Tongobriga não poderia ficar completo sem a reconstituição virtual do único edifício que, até à data, revelou a presença de pavimentos revestidos a mosaico polícromo.
Interior da igreja de Santa Maria do Freixo e reconstituição dos pavimentos musivos (2017, Digivision / CMMC / DRCN©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmerón).
O facto de esse edifício, que jaz sob a igreja de Santa Maria, ser arqueologicamente datável dos finais do Império, permitiu-nos usá-lo como pretexto para a ilustração do que foi o fim de uma época histórica e o início de outra. E apesar de a limitação, em área, da escavação arqueológica que o pôs a descoberto, não permitir avançar com uma proposta para a sua reconstituição planimétrica e volumétrica integral – esclarecendo, de uma vez por todas, a sua função – isso não nos impediu de focar essa reconstituição nos pavimentos musivos, reservando a experiência de “caminhar” virtualmente no interior do edifício para o PVV (Ponto de Visualização Virtual).
EM JEITO DE “MAKING OF”
A complexidade da produção de um documentário desta natureza é tal, que uma parte muito significativa do tempo de trabalho, da capacidade de esforço e do empenho de todos os envolvidos – desde a equipa técnica da Digivision aos funcionários da Direção Regional de Cultura do Norte, afetos à Estação Arqueológica do Freixo – foi, durante anos, dedicada a esta hercúlea tarefa.
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Para além do desenvolvimento dos conteúdos e da preparação do guião12, o documentário implicou a rodagem de reconstituições históricas de várias cenas com atores e figurantes. Estas, por sua vez, implicaram adereços, indumentária e criação de ambientes e cenários. Ao contrário da rodagem das cenas correspondentes ao período romano, que bem podiam – como efetivamente aconteceu – aproveitar todo o “know how” da produtora e a experiência acumulada de atores profissionais habituados a este tipo de recriações, as cenas do quotidiano pré-romano, por serem mais específicas desta região, foram realizadas no Norte de Portugal, com atores voluntários locais, em especial Reconstituição de cenas do quotidiano castrejo. Reunião inicial com os atores (2017, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de António Freitas).
os próprios habitantes da aldeia de Santa Maria do Freixo, os membros da Associação de Amigos de Tongobriga e os próprios funcionários da Estação Arqueológica do Freixo.
Reconstituição de cenas do quotidiano castrejo. (2017, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de António Manuel Lima).
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Reconstituição de cenas do quotidiano castrejo (2017, Digivision©, fotografia de Filipe C. Silva).
Quanto à reconstituição em 3D dos principais edifícios e espaços de Tongobriga em diferentes momentos da sua história, a captação de imagens das ruínas obrigou a uma mobilização de meios humanos, técnicos e materiais sem precedentes. Essa captação realizou-se, no terreno, com recurso a uma grua telescópica e equipamento de grande sofistiEquipa no final da reconstituição das cenas do quotidiano castrejo (2017, Digivision©, fotografia de Filipe C. Silva).
cação e complexidade, que para o efeito viajou de Barcelona até Tongobriga. Foram também utilizados um helicóptero e vários drones para captação de imagens aéreas. A fim de tornar exequível a rodagem, a equipa de manutenção da Estação Arqueológica do Freixo procedeu à remoção de todas as coberturas que estavam instaladas sobre as ruínas, quer na área das termas, quer nas zonas habitacionais de Tongobriga, as quais, por razões ligadas à conservação das estruturas, foram parcialmente repostas após as filmagens. Só o trabalho de remoção e recolocação das coberturas representou centenas de horas de trabalho, muito
Reconstituição de cenas de época romana (2017, Digivision©, fotografia de Filipe C. Silva).
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suor, e, no final, uma reconfortante sensação de dever mais que cumprido.
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Captação de imagens nas ruínas de Tongobriga (2017, Digivision©, fotografia de Filipe C. Silva).
Disponível, desde 2018, para visualização no Centro Interpretativo ou no Auditório da Área Arqueológica do Freixo 13 – afinal, que outra coisa mais desejamos do que atrair pessoas ao monumento? – “Tongobriga. O Espírito do Lugar” está também disponível, na sua versão inglesa, para visualização “online”, por cortesia da Digivision, que dele detém os direitos de exibição internacional 14. Um “trailer” da versão portuguesa está também à disposição de todos os que queiram aceder a uma pequena amostra daquilo que pode ser visto – e, ao vivo, visitado – em Santa Maria do Freixo 15.
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O documentário termina como nós gostaríamos que começasse. Este, ou o que se lhe podia seguir, se esta produção constituísse, como desejamos, uma alavanca para a divulgação e promoção de Tongobriga junto de um público cada vez mais vasto. Neste sentido, os primeiros passos já foram dados, quer com a sua exibição pública no Porto e em Marco de Canaveses, quer com a sua transmissão na TVE, atingindo um público muito mais vasto do que qualquer outra coisa que jamais tenha sido feita sobre este sítio arqueológico16.
Captação de imagens nas ruínas de Tongobriga (2017, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Luís Correia).
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Na realidade, a sua produção teve uma virtude que vai muito além de todas as outras virtudes que os espectadores lhe possam, porventura, reconhecer: obrigou a uma profunda reflexão sobre o conhecimento que temos, ou pensamos ter; e levou-nos a reconhecer o que achamos ser o genius loci – o espí-
Trabalhos de desmontagem e montagem de coberturas das ruínas (2017, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
rito de um lugar tão extraordinário como Tongobriga – não tanto na monumentalidade de alguns dos seus edifícios nem no engenho, na arte e na pujança económica que alguns investimentos nela feitos revelam, mas muito mais na perenidade das vocações manifestadas pelo sítio, as quais, pela sua transversalidade, se revelaram intemporais e verdadeiramente definidoras da identidade do lugar.
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NOTAS
1 Vejam-se vários exemplos no canal Youtube da Imageen:
LIMA, António Manuel; MENCHÓN I BES, Joan (dir.) – Tongobriga. O Espírito
https://www.youtube.com/channel/UCLLASdbC8h5PljEtawkZl-g
do Lugar. Guia Arqueológico Visual. Porto: Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN)/ Câmara Municipal do Marco de Canaveses, 2018. (disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
2
DIAS, Lino Tavares – Tongobriga. Lisboa: Instituto Português do Património
Arquitectónico (IPPAR), 1997. 3 Veja-se, sobretudo, ROCHA, Charles; DIAS, Lino Tavares; ALARCÃO, Pedro -
7 Queremos, a este propósito, manifestar aqui a nossa gratidão para com a inesti-
Tongobriga. Reflexões sobre o seu desenho urbano. Porto: Faculdade de Letras da
mável colaboração pessoal de Carla Stockler (Museu Municipal de Baião), Felisbela
Universidade do Porto (FLUP) - CITCEM/Edições Afrontamento, 2015. As primei-
Oliveira (Câmara Municipal de Famalicão), Orlando Fernandes (Câmara Municipal
ras propostas gráficas de reconstituição das termas de Tongobriga encontram-se
de Póvoa de Lanhoso) e Deolinda Carneiro e José Flores (Museu e Câmara Muni-
nas páginas 152–156 de DIAS, Lino Tavares – Tongobriga. Lisboa: Instituto Portu-
cipal de Póvoa de Varzim).
guês do Património Arquitectónico (IPPAR), 1997.
8 SILVA, Armando Coelho Ferreira da – Pedra Formosa. Arqueologia experimen-
4
tal em Vila Nova de Famalicão, Vila Nova de Famalicão: Câmara Municipal de Vila
DIAS, Lino Tavares – Tongobriga. Lisboa: Instituto Português do Património
Arquitectónico (IPPAR), 1997.
Nova de Famalicão e Museu Nacional de Arqueologia, 2007.
5 Página 55 de ALARCÃO, Jorge de – A cidade romana em Portugal. A formação
9 LIMA, António Manuel de Carvalho – Tongobriga Romana. Novos Dados, No-
de “lugares centrais” em Portugal, da Idade do Ferro à Romanização. In Cidades e
vas Perspectivas. In MARTÍNEZ CABALLERO, Santiago; SANTOS YANGUAS, Juan;
História: ciclo de conferências promovido pelo Serviço de Belas Artes em No-
MUNICIO GONZÁLEZ, Luciano J. (ed.) – El Urbanismo de las Ciudades Romanas
vembro de 1987. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1992. pp. 35–71.
del Valle del Duero. Actas de la I Reuníon de las Ciudades Romanas del Valle del
6 LIMA, António Manuel (coord.) - Freixo Antigo e Moderno. A Feira da Quares-
Duero, Segovia, 20 y 21 de Octubre del 2016. Anejos de Segovia Historica, 2.
ma I – Séculos XV a XIX. Porto: Direção Regional de Cultura do Norte/ Câmara
Segovia: Museo de Segovia (Junta de Castilla y Léon) y Asociación de Amigos del
Municipal do Marco de Canaveses, 2017.
Museo de Segovia, 2018. pp. 343–365.
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
LIMA, António Manuel (coord.) - Freixo Antigo e Moderno. A Feira da Quaresma II
10 LIMA, António Manuel – As Termas Públicas de Tongobriga (Marco de Cana-
– Documentos para a Sua História. Porto: Direção Regional de Cultura do Norte/
veses, Portugal. In NOGUERA CELDRÁN, José M.; GARCÍA-ENTERO, Virginia;
Câmara Municipal do Marco de Canaveses, 2017.
PAVÍA PAGE, Marta (eds.) – Actas del Congreso Internacional Termas Públicas de
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
Hispania (Murcia – Cartagena, 19 – 21 de abril de 2018). Murcia-Cartagena: Museo Arqueologico de Murcia y Museo del Teatro Romano de Cartagena, (no prelo). 11 Página 125, figura 1 de DIAS, Lino Tavares – O momento e a forma de construir uma cidade no Noroeste da Hispânia, periferia do Império romano e fronteira atlântica. Revista da Faculdade de Letras. Ciências e Técnicas do Património. Por-
LIMA, António Manuel - A Feira da Quaresma. Exposição comemorativa dos 500
to. 12 (2013) 113-126.
anos do mais antigo documento sobre a Feira da Quaresma. Freixo: Direção Re-
12 Os conteúdos desenvolvidos em 2014 para constituírem a base do guião do
gional de Cultura do Norte (DRCN) / Junta de Freguesia do Marco, 2018.
documentário estão disponíveis em https://flup.academia.edu/AntonioLima
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
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13 Alguns excertos do documentário, produzidos com o objetivo de poderem
Termas: Caldeira: https://youtu.be/0_oIjkrlW28
vir a integrar a exposição permanente do Centro Interpretativo de Tongobriga, podem ser visualizados no canal de Youtube da Área Arqueológica do Freixo: Povoado Castrejo: https://youtu.be/Wi4WyYno9Pc
Termas: Exterior: https://youtu.be/l_Wk-2utQUQ
Núcleo familiar castrejo: https://youtu.be/m7rzYMC-hKI
Termas: Frigidarium: https://youtu.be/fw7Zzf08cOo
Balneário castrejo: https://youtu.be/ldxStMStMqU
Termas: Latrinas: https://youtu.be/khWkzIqZypI
Muralha: https://youtu.be/45iCRCQM870
Termas: Natatio: https://youtu.be/lQ-pRsAeOKA
Domus: https://youtu.be/EBprl02jgYU
Termas: Tepidarium: https://youtu.be/eoNr-jMjJAk
Forum: https://youtu.be/Bws1J5hb420
14 https://www.youtube.com/watch?v=1HxuCsYcvHU&feature=youtu.be
Termas Romanas: https://youtu.be/Eph5yvATivU
15 https://youtu.be/5pngCACa-vk
Termas: Apodyterium: https://youtu.be/uO1AaKEcMrI
16 A emissão do documentário “Tongobriga. O Espírito do Lugar” na TVE2, pelas 19h35 do dia 30 de novembro de 2019, foi considerada a estreia mais destacada do dia em toda a televisão espanhola. Terá obtido um share de audiência de 2,9%, Termas: Caldarium: https://youtu.be/MDMy_G3dPk8
correspondente a 332.000 espectadores, para além de 1.130.000 contactos. Cfr. https://www.barloventocomunicacion.es/audiencias-diarias/sabado-30-noviembre-2019/
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12 DOIS ESPAÇOS – UM SÓ OLHAR
M ED I AÇÃO
Manuel Araújo Fotógrafo araujo_photo@hotmail.com Licenciado em Design de Comunicação – Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Autor fotográfico de várias obras, das quais destaca: “A Casa de Santiago em Vila Franca”, “Leça da Palmeira no final do século XIX”, “Percursos - A Pintura do Ateneu Comercial do Porto” e “Os Estuques do Porto”. Fotografou para inúmeros catálogos de exposições entre os quais: “Suggia, o violoncelo”, “O Porto e as Invasões Francesas” e “Frescos de Dordio Gomes”. Tem trabalhos em diversas publicações periódicas, com destaque para: “Encontros”, “2 Pontos” e “O Tripeiro”. Integrou, como fotógrafo, a equipa da Intervenção Arqueológica da Casa do Infante. Foi Docente de Fotografia na Escola Artística Árvore, na ESAP – Escola Superior Artística do Porto e na Universidade Portucalense. Coordenou um projeto Europeu de jovens fotógrafos de França, Grécia, Alemanha e Portugal. Pertence ao Quadro Técnico do Arquivo Histórico Municipal do Porto.
Dois espaços – Um só olhar
Depois da visualização de uma imagem, um vídeo ou até de uma maqueta, é fácil entrarmos numa área arqueológica e deixarmos o imaginário levar-nos para o ambiente vivido na época. O fotógrafo, ao entrar num destes espaços, depara-se com uma tarefa diferente. Fotograficamente, não pode captar o que imagina mas, e isso sim, só consegue captar aquilo que vê. E o que vê e tem à sua frente como matéria-prima são: ruínas!
Sem realizar um registo meramente documental e sem deixar de assumir ângulos mais alargados, a opção para o resultado final foi a da procura de pormenores e de alguns “pontos de vista” diferentes, imprimindo o romantismo característico destes espaços através da monocromia das imagens. Para a aldeia do Freixo, mantendo a coerência do trabalho, e dadas as suas características, as opções tomadas foram similares deixando registado em alguns quadros o convívio harmonioso entre o antigo e o moderno ali presentes.
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Tongobriga
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aldeia do Freixo
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13 TONGOBRIGA (RE) VISITADA M ED I AÇÃO
António Manuel Lima Direção Regional de Cultura do Norte amlima@culturanorte.gov.pt António Manuel de Carvalho Lima (Porto, 1965) é Licenciado em História, variante de Arqueologia, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (1988) e Mestre em Arqueologia pela mesma faculdade (1994), com uma dissertação sobre os “Castelos Medievais do Curso Terminal do Douro (Séculos IX – XII)”, orientada pelo Professor Doutor Carlos Alberto Ferreira de Almeida. É investigador do CITCEM - Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória (Universidade do Porto) e do IEM - Instituto de Estudos Medievais (Universidade Nova de Lisboa). Exerce funções na Direção de Serviços de Bens Culturais (Direção Regional de Cultura do Norte). Foi Coordenador da Estação Arqueológica do Freixo / Tongobriga, entre maio de 2014 e maio de 2019. Entre as suas mais recentes obras sobre Tongobriga, destacam-se “Mudar de Vida - Catálogo da Exposição Permanente do Centro Interpretativo de Tongobriga” (2016); “A Feira da Quaresma (Séculos XV a XIX)” (2 vol., 2017); e “Tongobriga- O Espírito do Lugar. Guia Visual” (2018).
Jorge M. S. Martins Araújo Direção Regional de Cultura do Norte jaraujo@culturanorte.gov.pt Jorge M. S. Martins Araújo (Penalva do Castelo, 1958) é licenciado em História pela Universidade de Coimbra (1984). Lecionou durante 22 anos em escolas do ensino público e profissional. Professor na Escola Profissional de Arqueologia de 1990 a 1997 e em 2000. Técnico Superior da Direção Regional de Cultura do Norte, exerce funções na Área Arqueológica do Freixo/Tongobriga desde 1995.
Tongobriga (re)visitada
TONGOBRIGA REDESCOBERTA
Em 1979, as ruínas de uma antiga povoação cujo nome já ninguém lembrava, pareciam condenadas a cruel destino, o mesmo que está reservado para muitas das suas congéneres, cuja existência, por vezes, nem chega sequer a ser conhecida. Porém, no ano seguinte, uma feliz conjugação de fatores e atores permitiu contrariar esse fado. Chamado a estudar a “Capela dos Mouros” que – dizia-se – ali estava enterrada, um arqueólogo verificou que tais ruínas não só eram excecionais como estavam excecionalmente bem conservadas. A partir de então, durante mais de 30 anos, sob a liderança de Lino Tavares Dias, foi construído um discurso interpretativo sobre o sítio, baseado na afirmação de Tongobriga como cidade, capital de um territorium, exemplo da arte e do engenho da arquitetura romana, da concretização das proporções vitruvianas e da estratégia política da administração imperial. A par da criação de condições de acolhimento dos visitantes e da existência de uma estrutura capaz de garantir a manutenção e permanente tratamento de espaços e ruínas, estava dado o passo mais importante no sentido de integrar Tongobriga no restrito conjunto de sítios arqueológicos visitáveis em Portugal. Pois a existência de um discurso interpretativo coerente é condição sine qua non para a organização de um sistema de visitas guiadas a um monumento.
Aliás, em abono da verdade se diga, uma visita guiada mais não é do que, in loco, contar “uma” história de um sítio, entre muitas “histórias” possíveis. Mais ainda o é quando o público alvo é essencialmente um público estudantil. Uma vez consolidado esse discurso, estavam, pois, criadas as condições para que Tongobriga passasse a ser alvo de um sistema estruturado de visitas.
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TONGOBRIGA REVISITÁVEL
Mercê da publicação de vasta bibliografia, quer a nível nacional, quer a nível internacional, e da afirmação de Tongobriga como um raro e bem-sucedido exemplo de gestão patrimonial, professores e estudantes de nível universitário revelaram especial interesse por este sítio, o que se traduziu, entre muitas outras coisas, na apresentação de vários trabalhos académicos 1. Se, pela sua prolixidade, se destacou o público universitário, pela expressão numérica – que se traduzia em mais de 90% das visitas anuais – Visita a Tongobriga – Ensino Pré-Escolar (2015, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
afirmou-se o público estudantil do ensino básico e secundário. Tongobriga acabou por conquistar um merecido lugar no restrito conjunto de sítios arqueológicos de Portugal com os quais se ilustram os manuais escolares e se documenta o ensino da História na escolaridade dita “obrigatória”, isto é, até ao 12º ano. A força com que a mensagem veiculada pelas suas ruínas ia ao encontro dos conteúdos lecionados nesses níveis de ensino acabou mesmo por se refletir nos enunciados do Exame Nacional de História 2, o que demonstrava de forma clara que a mensagem estava a passar, em especial, para a classe docente.
Visita a Tongobriga – 1.º Ciclo do Ensino Básico (2002, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
Visita a Tongobriga – 2.º Ciclo do Ensino Básico (2015, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
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Curiosamente, e de forma paradoxal, os recursos de que o serviço dispunha para apoiar as
Visita a Tongobriga – 3.º Ciclo do Ensino Básico (2014, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de António Manuel Lima).
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Visita a Tongobriga – Ensino Secundário (2015, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
Visita a Tongobriga – Ensino Superior (2014, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
“Tongobriga Convida” - folheto (2016, Direção Regional de Cultura do Norte©, conceção e ilustração de Jorge Araújo).
visitas e os estudos dos alunos do ensino superior eram incomparavelmente mais e melhores do que aqueles que eram postos à disposição dos mais jovens. Na realidade, para além de algumas publicações cuja leitura muito difiGuia de Visita a Tongobriga - capa (2002, IPPAR©).
cilmente poderia atrair uma criança do 1º ou 2º ciclos do ensino básico ou mesmo um jovem estudante do 3º ciclo ou do secundário, o sítio apenas tinha para oferecer gratuitamente aos visitantes um desdobrável (em quatro línguas: português, espanhol, francês e inglês) e um pequeno, mas atrativo, folheto sugestivamente intitulado “Tongobriga (con)vida”. Ao alcance dos que pudessem dispor de uma verba simbólica, havia ainda uma coleção de postais e um guia impresso, sintético e ilustrado, que continha a informação essencial sobre o sítio. Um vídeo, editado em VHS – sistema já em desuso – completava o conjunto de materiais de divulgação à disposição do visitante.
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TONGOBRIGA REVISTA Em maio de 2014, quando o primeiro signatário destas linhas assumiu a coordenação da Estação Arqueológica do Freixo – um serviço da Direção Regional de Cultura do Norte, sediado na própria aldeia do Freixo, a quem competia a gestão deste Monumento Nacional – a afirmação de Tongobriga no seio da comunidade científica que se dedica à arqueologia clássica no nosso país era um processo consolidado. Com mais de meia centena de publicações, entre livros e artigos, uma das missões do serviço estava a ser plenamente cumprida. Sem dúvida, havia que dar continuidade à investigação, pelo que foi posto em marcha um projeto de quatro anos 3 que, à luz dos resultados produzidos e publicados, não desmereceria o que havia sido feito até então. Mas, para além de dar continuidade a essa capacidade de produção de conhecimento – sem a qual Tongobriga não seria o que é – havia que completar o ciclo, processando esse conhecimento de forma a torná-lo acessível a todos os visitantes, independentemente da idade, da formação académica ou das motivações de cada um. E, se é verdade que uma das principais missões das Direções Regionais de Cultura é “a criação de condições de acesso aos bens culturais” 4, e que essas condições podem ser entendidas como os requisitos físicos e materiais necessários à sua fruição (acessibilidade, manutenção, segurança, conforto, etc.), também é verdade que esse tipo de condições de nada servirão se ao visitante não for proporcionado o acompanhamento profissional e a informação necessária, nos suportes e locais adequados, para que ele possa conhecer e dar valor ao que vê. Por isso, dedicámos também uma parte significativa do nosso emGuia de visita a Tongobriga (1999, IPPAR©, textos de Lino Tavares Dias e Jorge Araújo; grafismo Jorge Araújo).
penho à criação deste segundo tipo de condições, as quais passaram, sobretudo, por dois vetores: a diversificação dos recursos postos à disposição do visitante para que ele possa, à sua maneira, interpretar e dar sentido ao que observa; e a multiplicação da oferta cultural, de forma a “fidelizar” o visitante, que, sabendo ter sempre algo de novo, se sente motivado para voltar e para fazer com que outros voltem também. Entendendo os pontos menos fortes como oportunidades para melhorar o serviço público que era prestado, identificámos os seguintes objetivos como aqueles que, prioritariamente, deveriam ser alcançados e/ ou melhorados, no que aos visitantes diz respeito: a) A conceção, montagem e abertura ao público do Centro Interpretativo como peça fundamental da relação do visitante com o monumento, no qual se disponibilizasse uma exposição “permanente” com um discurso expositivo abrangente, e também uma oportunidade para um primeiro contacto
Vídeo em formato VHS sobre Tongobriga capa (1999, IPPAR©, arranjo gráfico de Jorge Araújo).
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com o processo de construção do conhecimento arqueológico naquilo que veio a chamar-se “espaço-oficina”;
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b) A diversificação dos temas e circuitos de visita, de forma a proporcionar, a um mesmo visitante, novas e diferentes experiências, sem que se repetisse o respetivo conteúdo; revelando, por outro lado, novas e importantes facetas deste extraordinário sítio; c) A associação da visita a Tongobriga à visita a outros monumentos da região, se possível com a integração do sítio em circuitos culturais e turísticos de mais amplo alcance;
d) A diversificação dos tipos de visita, de forma a ir ao encontro das expectativas de todos, com um conjunto de respostas adequadas aos diferentes tipos de público;
e) A criação de exposições temporárias, temáticas, de forma a ir além dos ex-libris do monumento, revelando ao público a densidade histórica de um sítio habitado ao longo de mais de três milénios;
f) A criação de uma “Agenda Cultural” própria, com um calendário de eventos tão rico e preenchido quanto possível, que fosse capaz de criar hábitos de frequência do monumento por parte de um público cada vez mais diversificado;
g) A valorização dos espaços de lazer no interior da área classificada, como forma de transformar, tanto quanto possível, os visitantes esporádicos em frequentadores assíduos; h) A diversificação dos recursos postos à disposição do visitante, adequando o suporte, o tipo e a quantidade de informação às caraterísticas particulares de cada visitante ou grupo de visitantes; i) A valorização de mais e diferentes espaços com ruínas, de forma a criar novos polos de atração e de aprendizagem diferenciada nos 50 hectares classificados como “Monumento Nacional”; j) Por fim, talvez a mais complexa de todas as tarefas: os resultados da nossa própria investigação conduziram-nos à apresentação de novas propostas de interpretação do sítio, resultantes da reflexão sobre os dados já existentes e da aquisição de novos dados, propostas essas que questionavam o discurso interpretativo em que se baseava a própria afirmação de Tongobriga no panorama dos sítios arqueológicos visitáveis e requeriam, consequentemente, uma revisão da forma como o sítio era apresentado aos visitantes.
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TONGOBRIGA REVISITADA Eis, sucintamente, o resultado de cinco anos de trabalho, no que à qualidade do serviço prestado aos visitantes a Tongobriga diz respeito: a) Conceção e montagem do Centro Interpretativo de Tongobriga O Centro Interpretativo de Tongobriga foi inaugurado a 22 de julho de 2016. Tirando partido da tripartição do edifício, foram criados três espaços: - A receção - loja, pela qual se acede aos espaços expositivos e através da qual se acede às ruínas de uma das áreas habitacionais de Tongobriga.
- A sala menor recebeu um conjunto de apresentações de índole pedagógica e uma pequena oficina de trabalho, na qual o visitante podia, se o quisesse fazer, experimentar a sensação de pegar num objeto, de assistir ao seu tratamento laboratorial, ou até mesmo tentar a reintegração de vários fragmentos numa só peça. Podia esta sala ser facilmente adaptada – como efetivamente o foi – a espaço de exposições temporárias.
A sala maior recebeu uma exposição que considerámos de caráter permanente, embora tenha sido pensada para ser versátil e poder incorporar novas peças e novas informações à medida que a investigação prosseguisse e produzisse novos resultados. A versatilidade foi, aliás, a principal inovação da exposição que intitulamos “Mudar de Vida”: mais do que retratar um momento singular da já longa vida de Tongobriga, retratou-se um processo de mudança, com que os seus habitantes, reinventando-se, sobreviveram, fazendo jus à máxima darwiniana de que só vinga quem consegue adaptar-se.
Inauguração do Centro Interpretativo de Tongobriga (2016, fotografia de Jorge Araújo).
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Colaboradores da Área Arqueológica do Freixo celebrando a inauguração do Centro Interpretativo (2016, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de António Manuel Lima).
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Esta exposição, infelizmente, jamais chegou a ser terminada, ficando a aguardar novos “recursos”: a ala relativa ao mundo pré-romano, se bem que simbolicamente parca em informação – porque ainda jaz, em grande parte, desconhecida, em contraponto com a abundância de elementos relativos à época romana – não chegou a receber os objetos que merecia e que tinha à sua disposição: escultura, ourivesaria e cerâmica castreja. Loja-Receção do Centro Interpretativo (2016, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
Uma única frase, curta nas palavras, mas de efeito que se pretende prolongado, faz a transição, simbolicamente marcada pelo contraste, entre um espaço escuro – no qual se retrata uma época que, em Tongobriga, permanece, em larga medida, desconhecida – e um espaço profusamente iluminado, pela luz e pelo conhecimento. Na ala dedicada ao triunfo do modo de vida romano, retratou-se o ciclo de vida do tongobricense já romanizado – e não do romano, pois deste não há evidência de aqui ter habitado. Tendo como tema um percurso de vida, desde o nascimento à morte, cinco vitrines temáticas receberam dezenas de peças. O catálogo, porém, contém muitas mais, pelo que
Espaço-oficina / Sala de exposições temporárias, no dia da inauguração do Centro Interpretativo de Tongobriga (2016, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
se tornaria possível renovar a exposição, substituindo umas peças por outras que cumprissem igual função, sem que se perdesse a coerência do discurso expositivo e a mensagem a ele subjacente.
Nenhuma peça foi legendada na própria vitrine, remetendo o visitante para um conjunto de dispositivos multimédia que, colocados no final da exposição, punham à disposição de todos toda a informação necessária, sem que se prescindisse da ação do visitante, que teria de tomar a iniciativa de a proEspaço-oficina / Sala de exposições temporárias: Exposição temporária “António de Serpa Pinto – 1767-1834” (2018, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
curar e encontrar. Uma vez mais, ficou aqui patente a versatilidade que procurámos, pois seria possível inserir novas peças e respetiva informação, sempre que tal fosse considerado desejável. No final, os mais interessados eram ainda convidados a assistir, na versão integral ou numa versão reduzida, a um documentário que produzimos sobre Tongobriga, e do qual falaremos mais adiante.
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b) Diversificação dos circuitos de visita Uma vez garantida a existência de um espaço digno de acolhimento, no qual se faz a primeira apresentação do que de mais relevante o sítio tem para contar, foi tempo de tornar mais rico o leque de opções posto à disposição do visitante, o qual dificilmente se tornaria “revisitante” se o sítio esgotasse, numa primeira visita, as mensagens e experiências que tem para oferecer. Exposição Permanente “Mudar de Vida” (ala do período romano) (2016, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
Esta diversificação da oferta, em termos de circuitos de visita, ia também ao encontro dos resultados que a nossa própria investigação ia proporcionando. Justificadamente – atendendo à monumentalidade e excecionalidade das ruínas postas a descoberto nas décadas anteriores – a visita a Tongobriga sempre havia dado merecido destaque e quase exclusiva atenção ao urbanismo e arquitetura de época romana. Porém, esse destaque remetia para um plano secundário aquilo que em nosso entender era a mais importante mensagem que Tongobriga /Freixo podia transmitir: - A capacidade de um sítio se reinventar sucessivas vezes ao
Exposição Permanente “Mudar de Vida” (ala do período pré-romano) (2020, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
longo de mais de dois mil anos, mantendo sempre, através de diferentes épocas e conjunturas, um fio condutor que lhe deu uma identidade própria e lhe garantiu perenidade. Uma capacidade de sobrevivência que a sua falta de especiais recursos naturais não faria prever. Longe de ser um sítio topograficamente vocacionado para se afirmar como centro urbano, ordenado e infraestruturado; e desde sempre, como ainda hoje, com sérias dificuldades em fixar uma população residente estável e numerosa, Tongobriga sempre foi lugar de encontro – que continua a ser – e de passagem – que já foi mais – independentemente dos duradouros motivos ou ocasionais pretextos que levassem as pessoas a reunirem-se aí.
Exposição Permanente “Mudar de Vida” (tela de transição entre alas pré-romana e romana) (2020, Direção Regional de Cultura do Norte©, texto de António Manuel Lima, fotografia de Jorge Araújo).
Na realidade, é esta a mensagem que está subjacente a todos os circuitos de visita de que o sítio passou a dispor: - Um dedicado à Feira da Quaresma, que ao longo da sua multissecular história de vida, deixou marcas em toda a Área Arqueológica do Freixo, de um extremo ao outro dos seus quase 2 quilómetros de eixo maior; - Um outro dedicado ao século XIX, intitulado “Em tempo de Mercadores, Abadessas e Capitães”, um tempo do qual nos ficou uma parte muito significativa das construções da atual aldeia de Santa Maria do Freixo, incluin-
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do o seu maior edifício – o Solar dos Serpa Pinto, hoje família dos Serpa Marques – e a mais modesta, mas não menos significativa, “Casa do Capitão”, antecessora do solar que lhe está adjacente. Ambos os circuitos, apoiados em sinalética própria, passaram a dispor de um mapa ilustrado para orientação do visitante. Estavam em adiantada fase de produção dois outros circuitos, sem os quais a abordagem da longa diacronia desta aldeia ficaria longe de ser tão abrangente quanto o sítio merece. Centro Interpretativo de Tongobriga: o ciclo de vida de um tongobricense romanizado (2020, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
Falamos de um terceiro circuito, cujo conteúdo foi descrito em 2018 (e é neste volume publicado) dedicado à perspetiva da arqueoastronomia sob o lema “Os Mistérios Luminosos de Tongobriga”; e ainda de um quarto circuito, dedicado à vida e ao legado do Capitão António de Serpa Pinto (1767–1834), por ocasião do 250º aniversário do seu nascimento. Este último já dispunha do apoio de uma exposição temporária e de uma pequena brochura, ambas resultado de uma profícua parceria com a Junta de Freguesia do Marco. Levar-nos-ia, através do PR6 – Caminhos de Tongobriga 5 – até ao lugar de Covas, onde o Capitão nascera em pobre berço, e permitiria a integração da visita ao sítio arqueológico num percurso que incluiria outros monumentos e sítios, o que nos remete para o ponto seguinte.
c) Integração em circuitos turísticos de nível local ou regional Se bem que as óbvias vantagens do trabalho em rede – no que toca à integração da visita a Tongobriga na oferta cultural em circuitos turísticos locais e regionais – não carecem de explicações adicionais, nunca nos pareceu adequada a simples divulgação, sem mais, de Tongobriga como “mais um produto cultural” à disposição dos turistas que visitem a região. Brochura sobre a Feira da Quaresma (2018, Direção Regional de Cultura do Norte e Junta de Freguesia do Marco©, textos de António Manuel Lima, arranjo gráfico de Jorge Araújo).
Como serviço de uma Direção Regional de Cultura, entendíamos que era nosso dever dar sentido cultural – e não apenas geográfico ou de mera oportunidade – à oferta, isto é, não nos limitarmos a preencher a agenda do turista / potencial visitante, sem que este percebesse a razão de lhe ser sugerida a visita a Tongobriga antecedendo ou sucedendo à visita a um outro monumento ou museu.
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Neste sentido, a integração de que falamos teve de ser antecedida da respetiva contextualização. Desde logo, outros quatro museus, monumentos, sítios e paisagens da região mereceram a nossa atenção como prioritários neste trabalho: - O rio Douro; o Campo Arqueológico da Serra da Aboboreira e Museu Municipal de Baião; Canaveses e a ponte sobre o Tâmega; e a Citânia do Monte Mozinho e Museu Municipal de Penafiel. E porque nem só de arqueologia, arquitetura e paisagem é feito o património, tentámos ainda implementar a ligação da visita a Tongobriga com a cada vez maior afluência turística às casas que confecionam os justamente famosos “Doces do Freixo”. A interligação com o turismo fluvial, quer o proveniente do Alto Douro Vinhateiro, quer o procedente do Centro Histórico do Porto, também ele Património Mundial, seria naturalmente feita com base na antiga estrada romana que deu sentido à existência de Tongobriga e seu multissecular mercado pecuário, estrada essa que, do nosso ponto de vista, mais do que qualquer outra ligação, dava acesso a essa importantíssima via que era o próprio rio Douro. Porém, a efetivação Mapa ilustrado: “Tongobriga há 1900 anos…” (2018, Direção Regional de Cultura do Norte©, conceção de António Manuel Lima, infografia / ilustração de Anyforms, Design de Comunicação).
deste eixo de ligação exigiria um trabalho conjunto – nomeadamente com os operadores turísticos e administrações de cais fluviais – que nunca chegou a concretizar-se. A ligação do Freixo ao Museu Municipal de Baião e Campo Arqueológico da Serra da Aboboreira – o qual constitui a última linha de horizonte a nascente de Tongobriga – ganharia sentido histórico com a publicação de uma série de estudos que só agora irão ser dados à estampa, o que nunca impediu a informação mútua que sempre foi prestada aos visitantes de um e de outro, fomentando o efeito multiplicador desta profícua colaboração. A ligação a Canaveses e à ponte sobre o Tâmega, também ela sustentada pela velha estrada romana, ganharia ainda mais sentido com um projeto conjunto que pusemos em marcha com a Digivision, S.A. e a Câmara Municipal de Marco de Canaveses, o qual, a ter sido concluído, destacaria um dos momentos fortes da história de Santa Maria do Freixo e da própria ponte de Canaveses: a primeira década do século XIX, marcada pela construção do Solar do Capitão António de Serpa Pinto no Freixo, e
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pela atuação deste militar de carreira na defesa da ponte de Canaveses, aquando das Invasões Francesas. Do ponto de vista histórico e arqueológico, a ligação à Citânia do Monte Mozinho faria todo o sentido, e até havia um canal apropriado para o estabelecimento dessa ligação, que passaria pela integração de Tongobriga na Rede de Castros do Noroeste, uma intenção que nunca passou de reuniões preparatórias. Não só porque “pela boca morre o peixe”, mas também e sobretudo pelo seu significado histórico, a ligação às casas que atualmente confecionam e comercializam os famosos “Doces do Freixo” – todas elas situadas a escassos metros e dentro da zona de proteção da Área Arqueológica do Freixo – foi efetivamente desenvolvida, quer disponibilizando informação sobre os doces aos visitantes do sítio arqueológico 6, quer informando e procurando promover a visita a Tongobriga por parte dos turistas que se deslocam propositadamente ao Marco de Canaveses para provar e levar consigo esses pequenos pecados de açúcar. O motivo para esta ligação está longe de se cingir à proximidade geográfiMapa ilustrado: “Freixo no século XIX: Em tempo de Mercadores, Abadessas e Capitães” (2018, Direção Regional de Cultura do Norte©, conceção de António Manuel Lima, infografia / ilustração de Anyforms, Design de Comunicação).
ca ou a uma questão de oportunidade. Os doces do Freixo, de origem claramente conventual, foram, durante séculos, confecionados e vendidos na acrópole da antiga Tongobriga, em especial por alturas da já extinta Feira da Quaresma, primeiramente explorada pelas freiras do Convento de São Salvador de Tuías e mais tarde pelas de São Bento de Avé-Maria da Cidade do Porto.
Brochura evocativa do nascimento de António de Serpa Pinto (2018, Direção Regional de Cultura do Norte©, textos de António Manuel Lima, arranjo gráfico de Jorge Araújo).
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d) A diversificação dos tipos de visita Em 2014, ensaiamos, através da colaboração numa pequena brochura , a diversificação dos tipos de visita à Área Arqueológica do Freixo, pro7
curando ir ao encontro das expectativas e necessidades de um público que se revelava, também ele, cada vez mais diverso. A oferta passou a contemplar a possibilidade de visitas livres, acompanhadas ou guiadas; visitas singulares, familiares ou em grupo; visitas diurnas e noturnas; visitas adequadas a público júnior e a público sénior; visitas com e sem refeição incluída no Restaurante “Tongobriga”, para além de outras ofertas suplementares. A adesão do público aos novos serviços e tipos de visita ficou muito aquém do que seria desejável, sobretudo porque o seu sucesso dependeria muito de um forte investimento na sua divulgação. Alguns anos depois, no contexto da conceção do novo sítio de internet da Estação Arqueológica do Freixo 8, voltamos a apostar nesta diversificação. As parcerias locais foram alargadas e ao Restaurante “Tongobriga” juntaram-se produtores locais na área da doçaria conventual – com ligações históricas a Santa Maria do Freixo – mas não só. Além das visitas temáticas, já aqui abordadas, e das visitas “gourmet”, o sítio passou a dispor de todas as condições para poder implementar visitas apoiadas por QR-Codes e visitas apoiadas por PVV’s (“Pontos de Visualização Virtual”), estas últimas em parceria com a Digivision e Câmara Municipal do Marco de Canaveses. 9
e) Criação de exposições temáticas Como já aqui referimos, entendemos que o foco de atenção dos visitantes de Tongobriga deve ser direcionado para a longa diacronia histórica de Tongobriga / Santa Maria do Freixo e para a perenidade funcional e simbólica dos seus principais edifícios e espaços, bem como do próprio sítio. Em cada época histórica, o sítio tem uma interessante história para contar, cuja relevância extravasa a simples curiosidade ou interesse local, podendo cada uma dessas épocas e histórias ser enquadrada numa “longa-metragem” cujo fio condutor é apreensível pelo visitante, quer assista à versão integral dessa História, quer se deixe atrair apenas por uma parte dela.
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Se a época romana deve merecer natural destaque – pela monumentalidade dos seus edifícios, pela profundidade das suas transformações e pelas marcas que ainda hoje são reconhecíveis em todos os cantos deste sítio – razão pela qual mereceu que lhe fosse dedicada uma parte muito significativa da exposição permanente -, havia que encontrar formas alternativas para abordar todas as outras épocas históricas.
A principal dessas alternativas foi a conceção de um conjunto de exposições temáticas, pensadas para poderem ser facilmente montadas/desmontadas e, enquanto tal, passíveis de itinerância. Não podemos deixar de destacar, neste aspeto, a extraordinária colaboração da Junta de Freguesia do Marco 10, não só na criação de condições materiais para a materialização dessas exposições, mas também na sua divulgação e organização de visitas, sobretudo escolares, mas não só. Duas destas exposições e respetivas brochuras informativas foram concluídas. Uma lançada em 2017, por ocasião do 250º aniversário do nascimento do Capitão António de Serpa Pinto, nascido e criado no Freixo; e uma outra em 2018, por ocasião do 500º aniversário do mais antigo documento conhecido sobre a Feira da Quaresma. Ambas estiveram patentes no Auditório da Área Arqueológica do Freixo, bem como em outros locais do Marco de Canaveses. Cada uma das exposições foi pensada para dar origem a um novo circuito de visita temática à Área Arqueológica do Freixo, pelo que existe uma estreita interligação entre umas e outros. Assim, tal como estavam em preparação novos circuitos temáticos, estavam também em preparação novas exposições temáticas, uma das quais já pronta para entrar em fase de produção e montagem: a que versaria sobre a compreensão da razão de ser de Tongobriga do ponto de vista da Arqueoastronomia.
f)
Criação de uma “Agenda Cultural” própria
Desde que foi criada, a Área Arqueológica do Freixo sempre teve iniciativas de cariz cultural, para o que dispõe de magníficos espaços. Entre eles, sobressaem o forum, que, pelas suas dimensões, ambiente patrimonial e acústica, se adequa a espetáculos e concertos musicais; e o Auditório, que está vocacionado para acolher conferências, apresentações e reuniões, científicas ou não. Uma das missões da Estação Arqueológica do Freixo sempre foi proporcionar iniciativas culturais aos seus visitantes, sob a forma de eventos de variada índole, destinados a todos os tipos de público, e explorando todas as valências que a Área Arqueológica permite: música, dança, teatro, gastronomia, lazer, desporto e, naturalmente, divulgação científica e envolvimento da comunidade local 11.
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Contudo, nunca foi consolidada uma agenda cultural com periodicidade regular, que permitisse fidelizar um público que sabemos existir, sempre pronto a acolher as iniciativas que lhe forem proporcionadas. Nos últimos anos, mercê da dedicação e iniciativa da Associação de Amigos de Tongobriga e do apoio das autarquias locais, começou a esboçar-se um programa regular, sobretudo à custa da realização do “Mercado Romano” 12 – mais tarde “Festival Romano” – e das celebrações equinociais, também elas da iniciativa da Associação de Amigos de Tongobriga. Porém, e sem desmerecer o mérito de tais iniciativas, o sítio continuava a carecer de uma “agenda cultural” própria, que pudesse ter, enquanto tal, a devida divulgação.
Sessão de apresentação da Exposição sobre a Feira da Quaresma (2018, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
Exposição sobre a Feira da Quaresma, no edifício da antiga Junta de Freguesia do Freixo (2018, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
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Exposição sobre a Feira da Quaresma (2018, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
Exposição sobre a Feira da Quaresma, na aldeia do Freixo (2018, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de António Manuel Lima).
Apresentação do livro (em 2 tomos) “Freixo Antigo e Moderno”, de António Manuel Lima, no Auditório da Área Arqueológica do Freixo (2017, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Luís Correia).
Exposição sobre a Feira da Quaresma, no Solar dos Serpa Marques (2018, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de António Manuel Lima).
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Exposição sobre a Feira da Quaresma. Visita guiada noturna (2018, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de António Manuel Lima).
Visitas guiadas com momentos teatrais e animação de espaços (2019, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de António Manuel Lima).
Feira do Vinho Verde, no forum de Tongobriga (2017, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
Visitas guiadas com momentos teatrais e animação de espaços (2019, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de António Manuel Lima).
Percursos pedestres na Área Arqueológica do Freixo (2017, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
“Partilhar Memórias”. Celebração das Jornadas Europeias do Património nas ruínas de Tongobriga (2018, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de António Manuel Lima).
“Partilhar Memórias”. Celebração das Jornadas Europeias do Património nas ruínas de Tongobriga (2018, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de António Freitas).
Jornadas Europeias do Património nas ruínas de Tongobriga. (2018, Direção Regional de Cultura do Norte©, rearranjo gráfico de Jorge Araújo).
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“Partilhar Memórias”. Celebração das Jornadas Europeias do Património nas ruínas de Tongobriga (2018, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
Distribuição de publicações da Área Arqueológica do Freixo às escolas do concelho de Marco de Canaveses, no Salão Nobre da Câmara Municipal (2018, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
Trail Tongobriga (2015, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
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“Noite de Fados ao Luar”, uma iniciativa da Cercimarco no forum de Tongobriga (2015, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
Noite Europeia dos Museus. Visita noturna guiada às ruínas de Tongobriga e aldeia de Santa Maria do Freixo (2019, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
Prova de BTT na Área Arqueológica do Freixo (2015, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo). Visita noturna guiada às ruínas de Tongobriga e aldeia de Santa Maria do Freixo (2019, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
Trail Tongobriga (2018, Fotosport©, fotografia de Fernando Honrado).
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Forum de Tongobriga. “Mercado Romano” (2011, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
Forum de Tongobriga. “Mercado Romano” (2014, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo). Forum de Tongobriga. “Mercado Romano” (2015, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
Celebração do Equinócio de Outono, uma iniciativa da Associação de Amigos de Tongobriga (2018, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de António Manuel Lima).
Foi o que ensaiamos aquando da conceção e criação do sítio de internet para Tongobriga, no qual já se previa um conjunto de realizações de periodicidade regular, cobrindo, na medida do possível, a totalidade de cada ano e com uma abrangência temática suficientemente vasta para satisfazer os diferentes tipos de público. Assim, foi concebida uma agenda essencialmente baseada em dois tipos de eventos: - Por um lado, os eventos de ar livre, pensados para terem lugar na própria aldeia, nos diferentes espaços com ruínas visitáveis e, sobretudo, no forum. Os eventos âncora, destinados a uma participação pública em grande escala, seriam o “Mercado Romano”, já ensaiado em anos anteriores, e a revitalização da “Feira da Quaresma”, os quais preencheriam os tempos de Primavera e Verão, sem prejuízo de, nessa época, se organizarem concertos – de boa memória, atendendo às experiências anteriores – e promoverem outros eventos como os que já haviam sido proporcionados pelas parcerias com a Câmara Municipal de Marco de Canaveses, Junta de Freguesia do Marco e Cercimarco, entre outras entidades.
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- E por outro, os eventos destinados a um público mais reduzido, com realização prevista para o Auditório da Área Arqueológica, como as “Conferências de Outono”, fazendo jus à tradição de divulgação científica com que Tongobriga justamente se afirmou. Porém, o evento maior do sítio não poderia, nunca, deixar de ser a celebração do dia 2 de fevereiro. Aliás, do ponto de vista religioso, jamais deixou de o ser. Atendendo à forma como a celebração dos inícios de fevereiro sempre marcou a história deste sítio ao longo de mais de dois mil anos, desde que a época marcava a celebração do início da Primavera até ser transfigurado num festival de meia-estação; e atendendo ainda à forma como marcou a conformação dos principais edifícios – antigos e modernos – da aldeia de Santa Maria do Freixo e de Tongobriga sua antecessora; a não consideração deste momento anual como uma época de especial celebração do genius loci de Tongobriga, equivaleria à negação da sua própria identidade.
Celebrações do dia 2 de fevereiro em Tongobriga (2019, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Luís Correia).
Celebrações do dia 2 de fevereiro em Tongobriga. Observação do pôr-do-Sol (2019, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Luís Correia).
g) Valorização dos espaços de lazer Por ser aqui que reside, essencialmente, a diferença entre ser um espaço que se visita – quantas vezes com o tempo contado ao segundo – e ser um espaço em que se passa (bem) uma manhã, uma tarde, um dia inteiro, nem só sobre as áreas com ruínas incidiram as nossas preocupações.
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Tongobriga dispõe de magníficos espaços de lazer. Entre eles, naturalmente se destacam aqueles que permitem passear entre as ruínas. Mas o sítio dispõe igualmente de vários espaços ajardinados, de acesso público, e magnificamente mantidos e tratados por uma equipa de funcionários que, há décadas, faz de Tongobriga aquilo que ela é 13. Quanto a esta vertente de fruição, contemplação e lazer, as imagens falam por si. Aqueles que diariamente cuidam dos espaços e ruínas de Tongobriga, continuam a dar tudo de si para que esta sétima missão seja exemplarmente cumprida. Bem hajam por isso.
Espaços de fruição na Área Arqueológica do Freixo (2008, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
Espaços de fruição na Área Arqueológica do Freixo (2008, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
h) A diversificação dos recursos postos à disposição do visitante Dois mapas ilustrados de orientação e interpretação, para serem usados durante a visita à aldeia de Santa Maria do Freixo e às ruínas de Tongobriga; sinalética adequada às diferentes temáticas de visita ao sítio; um guia visual, profusamente ilustrado e com uma linguagem de exposição acessível para a generalidade dos visitantes; um documentário de nível internacional, com quase uma hora de duração, incluindo reconstituições tridimensionais de alta definição para todos os principais edifícios e espaços da Tongobriga romana e pré-romana; um centro interpretativo com uma exposição permanente na qual se podem apreciar os mais significativos objetos arqueológicos e onde se podem encontrar os elementos gráficos e as informações necessárias para compreender as ruínas; vários dispositivos multimédia com abundante informação sobre as mais significativas peças encontradas durante quase quarenta anos de escavações arqueológicas; exposições temporárias e respetivas brochuras de apoio; vários artigos de índole científica, publicados em Portugal, Espanha, Holanda e Turquia, à disposição dos mais exigentes em matéria de informação sobre o sítio; várias outras publicações, umas destinadas à divulgação junto do grande público, outras mais apropriadas a públicos com interesses mais específicos e especializados…
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Mapa do novo sí+o de internet dedicado a Tongobriga / Santa Maria do Freixo
1. Página inicial 2. Conhecer
se a dispor de um sítio próprio de internet, que não só agregasse conteúdos, mas também fosse, ele próprio, um verdadeiro
2.1. Área Arqueológica do Freixo: O Monumento 2.1.1. Apresentação 2.1.2. As origens de Tongobriga 2.1.3. Tongobriga Romana 2.1.4. Santa Maria do Freixo 2.2. Estação Arqueológica do Freixo: O Serviço 2.2.1. Equipa 2.2.2. Enquadramento insGtucional 2.2.2.1. Direção Regional de Cultura do Norte 2.2.2.2. Parceiros de referência 2.2.2.2.1. Associação de Amigos de Tongobriga 2.2.2.2.2. Câmara Municipal de Marco de Canaveses 2.2.2.2.3. Cercimarco 2.2.2.2.4. CFAE Marco - Cinfães 2.2.2.2.5. Escola Profissional de Arqueologia 2.2.2.2.6. Junta de Freguesia do Marco 2.2.2.2.7. Universidade de Brown (Rhode Island, EUA) 2.2.3. Publicações 2.2.3.1. Edições próprias 2.2.3.2. Sugestões bibliográficas 2.2.4. Espaços, Serviços e Equipamentos 2.2.4.1. Aldeia de Santa Maria do Freixo 2.2.4.2. Centro InterpretaGvo 2.2.4.3. Auditório 2.2.4.4. Restaurante – Cafetaria 2.2.4.5. Laboratórios e Reservas 2.2.4.6. Aluguer / Cedência de espaços 2.2.4.6.1. Enquadramento legal 2.2.4.6.2. Preçário
3. Visitar
2.2.4.6.3.
Parece muito, para cinco anos de trabalho. Mas saberia sempre a pouco se não conseguíssemos que Tongobriga passas-
guia para o visitante. Adjudicada, pela Direção Regional de Cultura do Norte, a vertente técnica de construção do sítio a uma entidade externa, os dois técnicos superiores a exercer funções na Estação Arqueológica do Freixo trabalharam durante mais de um ano na conceção da estrutura e elaboração dos conteúdos do que viria a ser o tongobriga.pt Distribuídos por cinco grandes temas, acessíveis a partir
Solicitar uGlização
da página inicial – Conhecer, Usufruir, Contactar, Visitar, Cola-
3.1. Tipos de visitas 3.1.1. Visitas TemáGcas 3.1.1.1. Tongobriga castreja e romana 3.1.1.2. A Feira da Quaresma 3.1.1.3. O Freixo e as Invasões Francesas 3.1.2. Visitas Gourmet 3.1.2.1. Pequeno-almoço no Restaurante Tongobriga 3.1.2.2. Almoço regional no Restaurante Tongobriga 3.1.2.3. Almoço volante para grupos de crianças e/ou jovens 3.1.2.4. Degustação de doçaria conventual e vinhos verdes 3.1.2.5. Degustação de padaria e charcutaria regional (fabrico local) 3.1.2.6. Serviço de chá com biscoitos regionais (serviço sénior) 3.2. Marcar uma visita 3.3. Preparar a visita 3.3.1. Como chegar a Tongobriga 3.3.2. Onde pode estacionar 3.3.3. Onde se deve dirigir 3.3.4. Materiais de apoio à visita 3.3.5. Indicações úteis 3.4. Horários e preços
borar, Comprar – passaram a estar à disposição dos visitantes
4.1. Eventos periódicos 4.1.1. Concertos de Primavera 4.1.2. Conferências de Outono 4.1.3. Feira da Quaresma 4.1.4. Mercado Romano 4.1.5. Noite de Fados ao Luar 4.1.6. Trail de Tongobriga 4.2. Exposições temporárias 4.2.1. António de Serpa Pinto (1767 – 1834). Evocação dos 250 anos do seu nascimento 4.2.2. A Feira da Quaresma (1518 – 2018). Evocação dos 500 anos do mais anGgo documento 4.3. Documentários e apresentações 4.3.1. Documentários 4.3.1.1. Tongobriga. O Espírito do Lugar (trailer) 4.3.1.2. Escrito na pedra. O Mistério da Casa do Poço (RTP) 4.3.2. Apresentações 4.3.2.1. António de Serpa Pinto e as Invasões Francesas 4.3.2.2. A Feira da Quaresma: espaços e produtos 4.3.3. Trabalhos de arqueologia 4.3.4. Núcleos visitáveis de ruínas 4.4. Onde dormir: Alojamento e Turismo Rural 4.5. Onde comer: Restaurantes 4.6. Circuitos pedestres e espaços verdes 4.6.1. Circuitos pedestres 4.6.1.1. Caminhos de Tongobriga (PR6) 4.6.1.2. Estrada dos Almocreves 4.6.1.3. Via romana de Braga a Mérida (troço Freixo – Douro – Montemuro) 4.6.2. Espaços verdes
também mencionar a presença no mundo digital, em especial
4. Usufruir
– os que já eram e, sobretudo, aqueles que gostariam de vir a ser – todos os meios necessários para preparar uma visita a Tongobriga, sabendo como lá chegar, onde comer, onde dormir, e, principalmente, como tirar bom partido de tudo aquilo que o sítio tinha para oferecer. Permita-se-nos que aqui se destaque a grande quantidade de recursos pedagógicos e didáticos que por esta via foram disponibilizados aos docentes e estudantes. No que à disponibilização de novos recursos de apoio à visita à Área Arqueológica do Freixo, não podemos deixar de com a disponibilização de materiais de divulgação e apoio à interpretação do sítio e do trabalho que nele se faz 14. Nesta oitava missão, todas as expectativas foram excedidas. E Tongobriga ficou ao alcance de um pequeno gesto, a partir de qualquer ponto do mundo.
5. Colaborar 6. Contactar
i)
A valorização e abertura ao público de mais e diferentes espaços com ruínas
Mapa do sítio tongobriga.pt
Desde que, ainda nos anos 80 do século XX, Tongobriga começou a ser alvo de visitas organizadas, sempre houve dois núcleos de ruínas, separados por umas centenas de metros, nos quais o visitante era levado a demorar-se mais: a chamada “Área Habitacional Poente” e o conjunto monumental constituído pelo balneário castrejo, forum e termas romanas. Justificadamente assim era, não porque não houvesse outros locais de interesse ou espaços com ruínas, mas porque esses outros locais não estavam convenientemente sinalizados nem dispunham de informação ade-
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quada, e porque os restantes espaços com ruínas não estavam convenientemente tratados. Nos últimos anos, todos os espaços e edifícios mais significativos da aldeia de Santa Maria do Freixo passaram a dispor de informação e sinalética, com especial incidência nos que se situam no percurso entre os diferentes núcleos de ruínas visitáveis. Às áreas onde já se encontravam valorizadas as
Sinalética de apoio a visitas temáticas. Percurso dedicado ao Freixo no Século XIX (2020, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
habitações de época romana e os principais edifícios públicos da mesma época, juntaram-se duas novas áreas, que deixaram de estar, simplesmente, à margem dos circuitos de visita, e passaram a integrar esses mesmos circuitos. Referimo-nos, em concreto, a um núcleo doméstico pré-romano, com construções de planta circular; e a um extenso pano de muralha, ambos localizados na encosta nascente da colina de Tongobriga. Depois de realizados os necessários trabalhos de conservação, restauro e tratamento de terrenos, foi possível “preencher” todo o trajeto de visita entre os pontos extremos
Novos espaços com ruínas, preparados para visita: núcleo doméstico pré-romano (2016, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
da mesma, ao longo de mais de um quilómetro de extensão, com espaços condignamente tratados e aptos a serem usufruídos pelos visitantes. Até mesmo as áreas com ruínas que já estavam abertas ao público foram alvo de trabalhos pontuais de tratamento dos pavimentos e das estruturas que tiveram por objetivo permitir o acesso do visitante ao interior das domus e a compreensão das estruturas postas a descoberto pelos arqueólogos. Foi o caso da chamada “Casa do Poço”, que passou a estar acessível ao público por ocasião da visita dos Senhores Secretários de Estado da Cultura e da Educação à Estação
Novos espaços com ruínas, preparados para visita: muralha (2016, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
Arqueológica do Freixo, em fevereiro de 2019.
j)
Apresentação de novas propostas de interpretação do sítio Tongobriga nasceu da investigação arqueológica. Afirmou-se no pano-
rama científico e cultural e nacional pelos resultados dessa investigação. Como serviço público, consolidou-se porque foi capaz de proporcionar aos visitantes, por via das suas ruínas – entretanto valorizadas como património e parte integrante de um Monumento Nacional –, uma experiência de conhecimento e fruição que nenhum outro sítio podia proporcionar. Só sobreviverá continuando a renovar-se, a produzir conhecimento e a saber transmiti-lo.
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Novos espaços com ruínas, preparados para visita: “Casa do Poço” (2016, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
Porém, a renovação permanente acarreta riscos. Os arqueólogos constroem imagens dos sítios que investigam. E essas imagens, uma vez projetadas para o exterior, criam expectativas nos visitantes e fomentam sentimentos de posse e orgulho nos conterrâneos.
Essas expectativas não podem ser frustradas nem os sentimentos podem ser feridos, sob pena de se perderem todas as bases de sustentação da vida de um sítio e do serviço que o mantém. Mas não podemos cair na tentação de ajustar o discurso ao que achamos que o visitante gostará de ouvir. Reconhecer que o conhecimento evolui, mudar as mensagens que transmitimos e a forma como tentamos cativar os visitantes, são desafios enormes.
O segredo para a sobrevivência estará, pois, na capacidade que o sítio tenha para encontrar um correto equilíbrio entre a desejável e contínua revisão do conhecimento científico – conhecimento esse que pode e deve ser questionado – e a imagem que sobre ele foi construída. Esta última missão, que julgamos a principal, está, pois, longe de concluída. Desejavelmente, nunca o estará. Tongobriga. Cidade Romana. Sinalética da IP – Infraestruturas de Portugal (2020, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
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NOTAS 1
Se enumerarmos os trabalhos académicos que resultaram do trabalho
10 A colaboração de todo o executivo da Junta de Freguesia do Marco, com
conjunto de arqueólogos e arquitetos em meio universitário, corremos o risco
especial destaque para o seu Presidente, Senhor Celso Santana, e para o Sr. João
de, por desconhecimento, falhar algum. Preferimos, por isso, destacar aqui,
David e Sr. Sousa, foram absolutamente inexcedíveis. A todos, o nosso sincero
justamente, a tese de Charles Rocha (2015) e remeter o leitor interessado para os
agradecimento.
trabalhos de Lino Tavares Dias.
11 Apraz-nos aqui destacar uma noite memorável, durante a qual, celebrando
2 http://www.iave.pt/images/arquivo_de_provas/2018/EFN_HST-A_1F/EX-
as Jornadas Europeias do Património de 2018, tivemos o privilégio de partilhar
HistA623-F1-2018-V1_net.pdf Consultado em 01.06.2020
as memórias de algumas das pessoas que há mais tempo habitam na aldeia do Freixo: D. Amélia, D. Angélica, D. Antónia, D. Fernanda e D. Nazaré. São parte fundamental da alma deste sítio. Bem hajam. Veja-se um excerto da nossa conversa ao luar aqui: https://youtu.be/TnZVIC1_86A
3
LIMA, António Manuel – Tongobriga / Santa Maria do Freixo. Projeto de
Investigação Plurianual em Arqueologia 2014-2017. Porto: Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN), 2014. (policopiado). (disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
12 Um dos espetáculos teatrais inseridos no programa cultural do Mercado Romano pode ser observado aqui: https://youtu.be/QtpMdfEtcWM
4
Artigo 2º (Missões e Atribuições das Direções Regionais de Cultura) do
Decreto-Lei n.º 114/2002, Diário da República, n.º 102, Série I, de 25 de maio de
Uma panorâmica geral do evento durante o período noturno pode também ser
2002. [aprova a orgânica das Direções Regionais de Cultura].
apreciado aqui: https://youtu.be/bx3U2SBx9UE
5 https://www.cm-marco-canaveses.pt/wpfd_file/pr6-caminhos-detongobriga/
13 Embora o trabalho daqueles que cuidam do sítio arqueológico esteja à vista de todos, os seus nomes, injustamente, ficam por norma esquecidos. Àqueles Consultado em 01.06.2020 6
que, na área da manutenção e cuidado, fazem diariamente do Freixo aquilo que
LIMA, António Manuel – Freixo. Doces com Sabor a História [em linha].
ele é, o nosso sincero agradecimento: Alberto Nogueira, Guida Fernanda Couto,
Porto: Ed. do Autor, 2017.
Joaquim Vieira, Jorge Pereira, José Monteiro e Maria Emília Pinto.
(disponível em https://flup.academia.edu/AntonioLima)
14 Como exemplos: Trailer do Documentário “Tongobriga. O Espírito do Lugar”: https://www.youtube. com/watch?v=y2PHFV6fDQ4
7
Páginas 4-15 de LIMA, António Manuel (coord.) – Tongobriga, há 1900
anos… Porto: Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN), s.d. [Desdobrável]. 8
www.tongobriga.pt
Material pedagógico de apoio à exposição sobre a Feira da Quaresma: https://youtu.be/wOSLBw5IllQ
9 Uma parte dos pontos de visualização virtual cuja produção foi iniciada encontra-se disponível no sítio de internet da Imageen
Material pedagógico de apoio à exposição sobre o Capitão António de Serpa
https://www.imageen.net/web/imageen-vr-web/monument/62/termas-de-
Pinto: https://www.youtube.com/watch?v=Rnd7wKY-ckQ
tongobriga/
Canais dedicados a Tongobriga: https://www.imageen.net/web/imageen-vr-web/monument/63/domus-de-
https://www.youtube.com/channel/UCaqhvUgGVrhEF9rvsNKtSBg; https://
tongobriga/
www.youtube.com/channel/UCmWenjiWX4RdvVi2--TUOqA
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ROTEIRO
Conteúdos por António Manuel Lima e Jorge M. S. Martins Araújo.
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Centro Interpretativo de Tongobriga O Centro Interpretativo de Tongobriga (CIT) dispõe de duas salas de exposição. Na maior, está montada a Exposição Permanente, que se intitula “Mudar de Vida” e procura ilustrar as mudanças radicais operadas no modo de vida da população autóctone na sequência da integração da antiga Callaecia no Império Romano. Na primeira parte da exposição, o mundo pré-romano é retratado na ótica dos escritores romanos, os quais, naturalmente, nos deixaram descrições pitorescas, impregnadas de um profundo complexo de superioridade, que chegam a roçar a ridicularização dos “selvagens” que por aqui encontraram. Na segunda parte, o mundo indígena, já romanizado, é retratado através de uma sequência de sete expositores, cinco dos quais contendo peças originais. Os primeiros seis mostram-nos todo o Ciclo de Vida de um “roman(izad)o”, desde o nascimento até à morte, assim repartido: “Nascer: O Princípio da Vida”; “Sobreviver: Assegurar a Vida”; “Viver: Organizar a Vida”; “Desfrutar: Exaltar a Vida”; “Orar: Pensar a Vida”; “Morrer: Para além da Vida”. Termina com um miniauditório no qual se pode desfrutar da projeção de documentários e/ou apresentações alusivas a Tongobriga. Centro Interpretativo de Tongobriga (2018, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
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Habitações castrejas
“Casa das Escadas”
Desde as primeiras escavações arqueológicas realizadas em Tongobriga, foram reconhecidas várias construções que habitualmente se encontram nos povoados a que chamamos “castros”, característicos da época em que se deu a integração desta região no Império Romano. Essas construções pétreas de planta circular surgiam aparentemente isoladas e dispersas, desmanteladas até ao alicerce ou reduzidas a meros negativos talhados na rocha granítica. A destruição a que tinham sido sujeitas, em época romana, pela intensa urbanização do espaço disponível, impedia que se tivesse melhor perceção da sua organização e distribuição espacial. Hoje sabemos que o interior do perímetro amuralhado de Tongobriga esteve, até ao século I, quase integralmente preenchido com construções graníticas de planta circular, com e sem vestíbulo (também chamado “átrio” ou “caranguejo”, por ter a forma aproximada das suas tenazes), e outras construções menores de formas diversas, que tinham pátios em seu redor, por vezes lajeados, e estavam cercadas por muros, correspondendo a núcleos familiares dispostos ao longo dos caminhos que estruturavam o povoado. A sua cobertura, em colmo, assentava sobre uma estrutura em madeira, que, por sua vez, era suportada por um poste central. Por vezes, surgem vestígios de lareiras no interior. Ainda hoje se discute se as paredes destas construções circulares seriam totalmente em granito; ou se só a sua base era de pedra, como forma de dar maior solidez aos elementos constituídos por materiais perecíveis. A julgar pelos cálculos já realizados para outros povoados de dimensões semelhantes, Tongobriga poderia albergar cerca de quatro dezenas destas unidades domésticas, acomodando mais de dois mil habitantes no seu interior.
A chamada “Casa das Escadas” foi assim designada devido à particularidade que a distingue de todas as outras até hoje identificadas em Tongobriga: a existência de um lanço de escadas na sua entrada principal, que reforça a possibilidade – já colocada relativamente a outras casas – de ela ter tido dois pisos. Esta casa distingue-se também pelo facto de ter planta quadrangular e não retangular, como é mais habitual, e por ter dimensões inferiores às suas congéneres. De resto, deverá ter tido uma estrutura semelhante às casas que a rodeiam: um conjunto de seis compartimentos rodeiam um pátio central, que deveria ser descoberto, no qual se situaria um tanque (impluvium) – que já não existe - onde se recolhia a água da chuva para fins domésticos. Esta casa destaca-se ainda por um outro motivo: no compartimento situado no canto sudeste, foi encontrado um tesouro de mais de 400 moedas de bronze que deverá ter sido ocultado num pequeno pote escondido numa das paredes pelo seu proprietário, nos inícios do século V. Por motivos desconhecidos, o seu possuidor não mais voltou para recuperar as suas economias e o tesouro acabou por cair juntamente com a parede quando a casa entrou em ruína. “Casa das Escadas” (2018, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
Habitações castrejas (2018, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
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Ortogonalidade do urbanismo romano
“Casa do Impluvium”
Em locais de acidentada topografia e, especialmente nos sítios com densa ocupação anterior, como Tongobriga, deveriam ser imensas as dificuldades que se punham à aplicação prática dos princípios ideais definidos por Vitrúvio, o mais célebre dos arquitetos romanos. Em consonância com a promoção de Tongobriga a capital de civitas, há autores que defendem que terá sido delineado um projeto global de transformação urbana assente na criação de uma malha urbana de traçado hipodâmico, cujos eixos perpendiculares entre si (tanto quanto possível) teriam uma orientação norte-sul / este-oeste. Essa “grelha” terá, a partir de então, sido alvo de um intenso processo de urbanização. Nas ruas que passam a partir de então a definir o tecido das áreas habitacionais romanas, destacam-se a rede de drenagem de águas pluviais e, nalguns casos, o lajeado granítico do seu pavimento, ainda hoje observável nalguns pontos. Essa malha urbana teria abrangido cerca de 13 hectares de área amuralhada e habitada, acrescidos do espaço onde se implantaram os edifícios públicos e monumentais, num total que ultrapassa os 20 hectares. A sua modulação teria por base unidades de medida romanas como o actus (35,52 m) e o actus quadratus (1261,44 m2), confirmando as proporções vitruvianas do planeamento de que Tongobriga terá sido alvo a partir de finais do século I. A estandardização do modo romano de planear e executar o urbanismo reflete, mais do que qualquer outra coisa, uma mudança profunda no modelo de vida do habitante de Tongobriga. Ortogonalidade do urbanismo romano em Tongobriga (2015, CITCEM / Direção Regional de Cultura do Norte©, segundo proposta de Charles Rocha, Lino Tavares Dias e Pedro Alarcão).
Esta domus romana recebeu a designação de “Casa do Impluvium”, não por ser a única que dispõe de uma estrutura desse género – o impluvium é um tanque pouco fundo que recebe as águas pluviais no centro de um átrio descoberto –, mas por esse tanque estar em excelente estado de conservação e ser totalmente revestido com lajes de granito, o que é caso único. Embora tenha uma planta que se inspira claramente em modelos importados da península itálica, distingue-se pela simplicidade do seu desenho e pelo uso exclusivo de materiais locais, ao contrário do que é usual nas cidades romanas da Península Ibérica, nas quais se empregam materiais exóticos como o mármore e o calcário, mesmo em regiões onde estas matérias-primas não existem. A disposição dos seus compartimentos obedece a um esquema comum: - O já referido impluvium, rodeado por colunas que suportam o telhado, encontra-se no centro de um átrio que por sua vez é também o centro da habitação. À sua volta, existe um corredor a partir do qual se tem acesso a todos os compartimentos do piso térreo. A presença de um espaço interpretado como vão de escada sugere a existência de um piso superior. Alguns dos seus compartimentos possuíam soalho de madeira e outros apresentam restos de lajeado granítico. O corredor estaria revestido a opus signinum. Ainda se conservam vestígios de estuque na face interior de algumas das suas paredes. Possui uma canalização subterrânea que permite a drenagem da água, canalização essa que foi aberta num estrato datado dos séculos II–I antes de Cristo. Numa primeira fase, datável dos tempos da dinastia flaviana (69-96), a casa deveria ter uma configuração diferente da que é visível, a qual deverá datar já do século II. Nos finais do século III ou inícios do século IV o soalho já tinha ardido e a habitação foi objeto de reconstruções de fraca qualidade. Nos inícios do século V, já a casa tinha sido abandonada.
6 Via lajeada com rede de drenagem de águas Nem todas as ruas com as quais se estruturava a malha urbana de Tongobriga seriam lajeadas. Atendendo aos casos já conhecidos, pensamos que a maior parte delas teria um pavimento em terra batida, embora ainda hoje sejam observáveis alguns pequenos e raros troços de rua revestida com grossas lajes de granito, as quais provavelmente só seriam usadas nas áreas mais sujeitas à acumulação de água. Em época romana, uma das coisas que melhor nos revela o planeamento que antecedeu a urbanização do espaço habitado é a existência de uma cuidada e eficaz rede de drenagem das águas pluviais, baseada na construção de condutas – grande parte delas subterrâneas – capazes de garantir o escoamento dessas águas, evitando que as mesmas tornassem as ruas intransitáveis ou acabassem por ir parar ao interior das habitações. Há casos em que a rede pública de drenagem de águas pluviais passa sob as próprias casas e outros em que ela é aberta na rocha granítica, a uma cota superior às habitações, de forma a evitar que as águas escorressem pela colina abaixo, criando sérios problemas de infiltrações. Porém, a maior parte das condutas de drenagem – algumas das quais ainda hoje são plenamente funcionais – foi construída no subsolo das ruas, tal como hoje sucede nas nossas cidades. É provável que essas águas fossem conduzidas para um qualquer reservatório ou cisterna, localizado a cotas mais baixas, numa área que ainda não foi objeto de escavações arqueológicas. Via lajeada com rede de drenagem de águas (2015, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
“Casa do Impluvium” (2015, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
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“Casa do Poço” A chamada “Casa do Poço” é, talvez, aquela que melhor ilustra o destino final das domus romanas de Tongobriga. A sua planta obedece ao mesmo esquema construtivo das outras domus que a rodeiam: - Um pátio central, descoberto, marca o centro da casa e permite obter luz natural em todos os seus compartimentos e, ao mesmo tempo, recolher a água da chuva para fins domésticos. Esse pátio é rodeado por uma colunata que suporta o telhado que cobre o corredor que existe à sua volta, dando acesso às diferentes salas e quartos da habitação. Além de, muito provavelmente, ter tido dois pisos, devido à escadaria que ainda se conserva no seu interior, a “Casa do Poço” é a única, até hoje descoberta em Tongobriga, que poderá ter tido um peristilo. O poço, que é a estrutura que lhe deu o nome, não fazia, porém, parte da construção original, uma vez que está localizado dentro de um compartimento que seria, para os romanos, um cubiculum, ou quarto de dormir. Hoje sabemos que grande parte das ruínas romanas de Tongobriga esteve visível até finais do século XVIII, ou até mesmo durante uma parte do século XIX. Só com a moderna privatização dos terrenos é que se iniciou um gigantesco trabalho de transporte de terras para o topo da colina, com o intuito de dar profundidade aos campos agrícolas e aumentar a sua produtividade sem que o arado ficasse sistematicamente preso nos muros que eram atribuídos ao “tempo dos mouros”. Até então, não foi só a pedra das ruínas que foi usada para novas construções. Foram as próprias casas romanas que – modificadas, parcialmente alteradas e reconstruídas, ou simplesmente aproveitadas – serviram para guardar animais e alfaias agrícolas e até mesmo como modestas habitações de pobres lavradores. “Casa do Poço” (2019, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
Panorâmica do troço norte da muralha O facto de Tongobriga se situar numa colina, a mais de 300 metros de altitude, permite-nos usufruir de uma vasta panorâmica sobre os vales dos rios Sousa e Tâmega, só limitada pela serra de Luzim (Penafiel) a poente, e pelas serras de Buriz (Vila Boa de Quires, Marco de Canaveses), Campelos (Lousada) e Monte de Santana (Felgueiras) a norte. Mesmo assim observam-se várias povoações dos concelhos de Marco de Canaveses (Maureles, Vila Boa de Quires, Constance, Livração e a própria cidade do Marco), de Penafiel (Pinheiro, Abragão, Recezinhos e Castelões), de Amarante (Vila Caiz), de Lousada (Torno) e de Felgueiras (Serrinha), assim como vários santuários bem conhecidos: Castelinho, no Marco de Canaveses; Bom Jesus de Barrosas, em Felgueiras; e Senhora dos Perdidos, em Lousada. Por não nos encontrarmos no ponto mais alto desta colina, que é o Outeiro das Castanhas, o horizonte visual para o lado nascente é limitado pelas construções que foram erguidas no século XIX para albergar alguns dos locais de venda da antiga “Feira da Quaresma”. Em noites de céu limpo, podemos contemplar a Estrela Polar, a mais de 400 anos-luz de distância. Bem mais perto, nesta direção, pouco menos de mil milhas (1.591 quilómetros) nos separam dos confins do Império Romano e da muralha que as legiões, ao serviço do Imperador Adriano, ergueram nos confins da Britannia, criando aquela que passou a constituir a mais setentrional das fronteiras imperiais. Mais perto ainda, a cerca de 200 metros, podemos observar a penedia sobre a qual passava o tramo norte da muralha que circundava Tongobriga. Tendo noção que essa penedia marcava o limite norte do perímetro amuralhado e que no seu limite sul a muralha ainda se encontra visível e marcada no pavimento da estrada, podemos ter uma ideia mais concreta dos cerca de 13 hectares que eram habitados pelos tongobricenses nos primeiros séculos da era cristã.
9 Rua dos Judeus A “Rua dos Judeus” tem um nome que recorda o tempo em que, ao longo dela, os comerciantes judaicos estabeleciam as suas tendas, aquando da realização da famosa “Feira da Quaresma”. A faixa de paralelos de cor amarelada, marcada no pavimento da rua, corresponderá ao alinhamento das tendas ao longo da rua. José Augusto Vieira, um escritor que em 1886 ainda presenciou a realização dessa antiquíssima feira – que se fez aqui pela última vez em 1905 -, fez jus ao nome da rua, ao afirmar que “a feira era muito concorrida dos negociantes de raça semítica que vinham de Bragança”. No entanto, vários outros autores falam de muitos outros comerciantes provenientes de outras regiões: - Em 1692, dizia-se que a ela “acorrem mercadores de mais de cinquenta léguas”, o que equivale à distância entre o Freixo e Lisboa; em 1726, afirmava-se que a ela “acode muita gente e vários mercadores de diversas partes do reino”; em 1758, deu-se notícia que aqui vinham “castelhanos com seus cobertores” e que para aqui eram trazidas por barco, Douro acima, as “fazendas que vêm da cidade do Porto”. Para citar só alguns exemplos. A designação de “Rua dos Judeus” só surgiu no século XIX. Até então, era chamada “Rua dos Mercadores”. Do lado poente, situavam-se a Casa do Feitor e a Residência do Senhor Padre Cura. Do lado nascente, vendia-se retrosaria e, na confluência da Rua dos Judeus com o adro e a viela da igreja, situava-se a Praça do Peixe (hoje localizada em terrenos privados). Rua dos Judeus (2011, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
Panorâmica do troço norte da muralha (2018, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
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Aldeia do Freixo
Auditório da Área Arqueológica do Freixo
Igreja de Santa Maria do Freixo
A aldeia de Santa Maria do Freixo ocupa praticamente todo o espaço disponível no interior do perímetro amuralhado de Tongobriga. O seu centro – a igreja paroquial de Santa Maria e o respetivo adro – é também o centro do povoado castrejo, do núcleo urbano romano e da aldeia medieval. Organiza-se ao longo de uma estrada que constitui o seu eixo principal, o qual foi, até finais do século XIX, a única estrada de ligação entre Canaveses / travessia do Tâmega e a Régua / travessia do Douro. Esta situação só se alterou com a abertura de um novo troço da estrada nacional Porto – Régua, que passou a nascente da aldeia, retirandolhe o sentido e o sustento. A nova estrada polarizou o estabelecimento de casas comerciais, condenando as antigas “vendas” e “lojas” da aldeia ao encerramento. Como todas as povoações cuja fisionomia se deve à passagem de uma rua ou estrada principal, tem uma planta alongada, sendo que a quase totalidade das suas construções se situa à face dessa estrada. A maior parte das construções da aldeia é em granito local, muito dele reciclado dos edifícios romanos de Tongobriga. Quase todos datam entre finais do século XVIII e inícios do século XX. A época de maior construção, na aldeia, foi o século XIX. Poucas edificações datam já do século XX.
O Auditório da Estação Arqueológica do Freixo é um equipamento cultural, vocacionado para apresentações, conferências, reuniões de trabalho ou exibição de filmes e documentários. Trata-se de um projeto da autoria do Arquiteto Miguel Tomé. No seu interior, dispõe de 80 lugares sentados. Dispõe também de um espaço ajardinado, no qual é possível servir degustações de produtos gastronómicos locais e pequenos cocktails. Auditório da Área Arqueológica do Freixo (2012, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
A igreja de Santa Maria do Freixo é fruto de mais de dois mil anos de história, que se concentram num pequeno espaço que já é considerado sagrado, pelo menos, desde o início da era cristã. Parece situar-se na intersecção entre dois dos principais eixos da malha urbana da antiga Tongobriga. Desta área, são provenientes três inscrições romanas, uma delas dedicada aos “Deuses protetores de Tongobriga” (Genio Tongobricense), outra a Júpiter Óptimo Máximo e outra funerária. A antiga pia batismal tinha por base um capitel romano. O edifício atual é o resultado de uma reconstrução realizada em 1968. Porém, ele decalca a planta da igreja medieval e, em parte, a de uma domus romana, cuja planta está marcada no pavimento do adro com pedra de tom amarelado. Todo o seu interior estava revestido a mosaico polícromo, com motivos geométricos e vegetalistas, datável da segunda metade do século IV ou já da centúria seguinte. A torre sineira foi construída no século XVIII e a sacristia no século XIX. A sul da igreja é ainda possível observar as ruínas de uma outra domus romana e parte de uma das ruas com que se estruturava a malha urbana. Igreja de Santa Maria do Freixo (2014, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
Aldeia do Freixo (2004, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
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Mosaicos da Igreja de Santa Maria do Freixo
“Casa do Adro”
Laboratórios da Área Arqueológica do Freixo
Embora já houvesse notícia da observação de “pedrinhas coloridas” por ocasião das grandes obras realizadas na igreja em 1968, o mosaico que jaz sob o adro e a igreja de Santa Maria do Freixo só foi descoberto com as escavações arqueológicas realizadas em 2001-2002. Trata-se de um edifício tardo-romano, possivelmente uma domus, cuja planta integral não é ainda conhecida, e que poderá ter servido funções não habitacionais na Antiguidade Tardia. Até ao momento, foram identificados três compartimentos – contíguos, alinhados e comunicantes entre si – todos eles revestidos a mosaico. O mosaico da nave da igreja e do adro têm uma composição ortogonal de octógonos irregulares, secantes e adjacentes, determinando quadrados e hexágonos oblongos. Os hexágonos são preenchidos com florões (trifólios e cálices de flores de lótus). Sobreposta a esta composição desenha-se uma outra constituída por um florão de oito pétalas. Os espaços quadrangulares são preenchidos com nós de Salomão, quadrilóbulos entrelaçados e um tabuleiro de xadrez. A separação dos motivos geométricos faz-se com meandros fracionados. Na nave, a orla é preenchida com uma banda de “florzinhas em cruz”, que começa, a norte, por ser dupla, e termina, a sul, apenas com meia cruz, cremos que apenas por inépcia do executante. No adro, a orla é preenchida por tesselas de barro. Não é possível determinar a composição do mosaico que se encontra na Capelamor. A sua orla, dupla, é preenchida por tesselas de barro e bandas de motivo em xadrez.
A construção a que chamamos “Casa do Adro” foi assim designada por abranger, em parte, o espaço que mais tarde foi utilizado como adro e cemitério da igreja de Santa Maria do Freixo. Trata-se de uma típica domus romana, cujos compartimentos se distribuem em volta de um átrio central descoberto. É provável que esse átrio possuísse um tanque, ou impluvium, rodeado por colunas, tanque esse que servia para recolher a água da chuva para fins domésticos. Mas, se o teve, ele foi desmantelado e a sua pedra usada para outros fins. No espaço correspondente ao átrio, hoje vemos apenas uma canalização que originalmente estaria enterrada, e, como tal, não estaria visível. Essa canalização tem saída direta para uma rua, da qual é possível observar um pequeno troço. A sua localização, num espaço que foi usado como cemitério desde a Alta Idade Média, levou a que uma parte dos seus muros fosse desmontada para a abertura de sepulturas. Uma dessas sepulturas – uma das mais antigas sepulturas cristãs de Tongobriga, provavelmente datável do período suevo (411-585) – tem uma forma trapezoidal, com o fundo revestido por tegula, e está totalmente incrustada num dos muros da domus, que foi desmontada para esse efeito. O facto de esta casa se prolongar na direção da igreja e, como tal, ter sido obrigatoriamente desmontada, pelo menos em parte, para a construção de uma outra domus com pavimentos em mosaico, leva-nos a datar o seu abandono em época anterior a meados do século V.
A Estação Arqueológica do Freixo, um serviço da Direção Regional de Cultura do Norte, tem a sua sede numa habitação tradicional da aldeia, que foi recuperada em 1986, com projeto do Arquiteto Fernando Maia Pinto, para nela serem instalados os gabinetes de trabalho, os laboratórios e uma área na qual se guardam materiais arqueológicos, quando estes se encontram em estudo, tratamento (acondicionamento, conservação, restauro) e/ou em trânsito para o edifício dos Armazéns–Reservas. O atendimento e receção ao visitante são feitos no edifício do Centro Interpretativo.
Mosaicos da Igreja de Santa Maria do Freixo (2018, Digivision, S.A. / Direção Regional de Cultura do Norte©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmeron, sob coordenação científica de António Manuel Lima).
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Laboratórios da Área Arqueológica do Freixo (2004, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
“Casa do Adro” (2018, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
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“Casa do Capitão”
Solar dos Serpa Marques
Panorâmica da encosta nascente: Serra da Aboboreira
António, filho de pai incógnito, nasceu em meio muito pobre, na modesta aldeia de Covas (Freixo). Foi registado, aquando do seu batismo, em 2/2/1767, como António, «filho natural de Maria, solteira». Parecia condenado a passar ao lado da História com uma existência humilde, não fosse o facto de o seu pai biológico – casado, reputado militar, Cavaleiro professo na Ordem de Cristo e respeitado pai de família em Ferreiros de Tendais – ter reconsiderado e assumido a paternidade. Esse reconhecimento permitiu a António, sem mais, assumir o apelido da família paterna – Serpa Pinto – o que lhe abriu as portas de uma carreira militar de sucesso e lhe permitiu a frequência dos mais conceituados meios sociais e familiares de Canaveses em finais do século XVIII. Dessa socialização, resultou o seu casamento com a herdeira da ilustre Casa da Ordem, em Canaveses. Porém, ainda antes de casar, e ainda antes de granjear fama e recursos, mudou-se com sua mãe da aldeia de Covas para a do Freixo. Aqui, nos subúrbios do lugar, instalou-se em pequena e humilde casa, ao lado da qual viria mais tarde a construir o seu solar de família. Essa casa ainda hoje é conhecida como “Casa do Capitão”, na qual, consta, ainda vagueia a sua alma, preocupada com a defesa do povo, que de outra forma ficaria à mercê das infames ações do Marechal Soult, do seu temido General Loison, o célebre “Maneta”, e dos soldados franceses às suas ordens.
A sua construção foi iniciada por António de Serpa Pinto nos últimos anos do século XVIII. Foi certamente pensado como habitação de família, constituída em 1797, por via do seu casamento com D. Maria Miquelina Vieira da Silva, habituada ao conforto da ilustre Casa da Ordem, propriedade de seus pais em Canaveses. Um primeiro projeto, datado de 1795, jamais foi concluído. Três anos depois, em 1798, António de Serpa Pinto já está casado, já é pai, e também já é proprietário de, pelo menos, uma parte dos terrenos em que, ao longo de todo o século seguinte, iria crescer o Solar que ainda hoje está na posse dos seus descendentes. O núcleo central do Solar ainda se deveu a António de Serpa Pinto (1767 – 1834). A seu filho, Luís Máximo (1800 – 1877), deve-se a sua ampliação para sul, através da construção de um novo módulo, de volumetria distinta (1853). Ao seu neto, Agostinho de Serpa Pinto (1841 – 1925), deve-se a capela privada, dedicada, por isso, a Santo Agostinho (1878), e o muro, gradeamento e portão do terreiro frontal (1885).
Do alto da colina de Tongobriga, na direção do sol nascente, cinquenta séculos de História podemos contemplar. A serra que marca o nosso horizonte visual chama-se, hoje, Aboboreira. Porém, nem sempre se chamou assim. A abóbora só chegou à Europa nos inícios do século XVI e o seu cultivo ainda demorou a disseminar-se, ao ponto de dar o nome a uma das serras mais altas do distrito do Porto. 28 metros apenas, a separam do quilómetro de altitude. Neste distrito, só o Marão chega mais perto do céu. Na Idade Média, chamava-se mons genestaxo, porque, antes da abóbora e depois dela, foram e são as giestas que marcaram e marcam a sua paisagem. O seu planalto é uma enorme necrópole – chamar-lhe-íamos gigantesco cemitério, se as mais de três dezenas de sepulturas coletivas que nele se encontram fossem cristãs, o que não são. São monumentos megalíticos. Para os pastores, além de abrigos, são casinhas ou fornos dos mouros. Um pouco mais abaixo, observa-se a silhueta de um monte onde, nos séculos XI e XII, existiu um castelo medieval. Era o castelo de Gestaço (não confundir com Gestaçô), centro militar da terra que, fazendo jus ao antigo nome da serra, tinha o seu nome. Mais abaixo ainda, um edifício branco se destaca no verde da encosta: é a grande Casa da Quintã (Soalhães) que simboliza toda uma época em que as rendas do extenso património fundiário da nobreza permitiam a construção de grandes solares como o que hoje podemos apreciar. No fundo do vale, o rio de Galinhas..
“Casa do Capitão” (2018, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
Solar dos Serpa Marques – Aldeia do Freixo (2017, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
Panorâmica da encosta nascente de Tongobriga: Serra da Aboboreira (2018, © fotografia de Jorge Araújo).
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Área Habitacional Nascente
Muralha
Necrópole
Embora, aos olhos do visitante, possa parecer que estamos perante mais um núcleo de casas romanas e pré-romanas, distinto dos restantes, na realidade este espaço habitado mais não é do que a continuação de todos os outros nos quais podemos ver ruínas de habitações. Aqui podemos observar o que resta de uma domus romana – cuja estrutura em nada se distingue de todas as outras – e um núcleo familiar castrejo -, este sim com características que não se podem ainda observar em nenhum outro ponto de Tongobriga. Este conjunto tem a particularidade de nos mostrar um caso em que a construção de uma domus romana, de planta quadrangular ou retangular, parece ter respeitado o espaço ocupado por um grupo de casas de planta circular, castrejas, integradas num núcleo familiar rodeado por um muro, com um pátio interior parcialmente lajeado. Embora não tenham escapado ao desmantelamento quase total, estas casas castrejas não foram sobrepostas por qualquer outra construção posterior. Uma das casas castrejas é de planta circular simples. A outra dispõe de um átrio frontal, definido por dois muros em forma de “tenazes”, que justificam a designação dada a este tipo de habitação (“casas de caranguejo”). Esta última ainda dispunha de um tríscelo esculpido em granito, um tipo de escultura comum nos povoados castrejos, associado ao culto solar e com valor apotropaico. Estas casas tinham cobertura de colmo, assente sobre uma estrutura de madeira que por sua vez era suportada por um poste de madeira situado no centro da casa. Todos os espaços descobertos, que compunham o recinto que dava forma ao núcleo familiar, dispunham de eficazes sistemas de drenagem das águas pluviais, compostos por cavidades e canais escavados na rocha, que conduziam a água para um reservatório situado a cota inferior.
Pela sua monumentalidade, extensão e configuração arredondada, como que abraçando toda a aldeia do Freixo, a muralha de Tongobriga manteve-se à vista de todos, pelo menos, até finais do século XVIII, sem que se tenha perdido, sequer, a noção da sua função original. Este circuito amuralhado delimitava uma área que excede os 13 hectares e tinha um perímetro total de aproximadamente 1,5 quilómetros, assente numa estrutura com cerca de 1,7 metros de espessura, de paramento duplo com miolo constituído por pedra miúda. Era acompanhado, pelo exterior, por um fosso, ainda observável nas vertentes norte e sul. Até ao momento não se identificou com absoluta certeza nenhuma das portas que se abriam nesta cintura de muralhas. O prolongamento dos principais eixos norte-sul e este-oeste que ainda permanecem na topografia e no ordenamento da atual aldeia do Freixo apontam para a possível existência de quatro portas: a norte e a sul coincidindo com os pontos em que a rua principal interseta a linha amuralhada e a este e a oeste no prolongamento de um caminho perpendicular àquele, que passa sensivelmente no centro do perímetro amuralhado. A confirmação da existência de mais muralhas em Tongobriga carece ainda de estudos mais aprofundados. A topografia e a orientação das construções sugerem a possibilidade de um outro circuito, em torno do núcleo central da aldeia. E alguns autores têm apontado como certa a existência, na encosta sul, de um outro circuito, mais exterior, em forma de bolsa, construído como forma de abranger a área em que se situam o forum e as termas.
Embora Tongobriga pudesse ter mais de uma necrópole, até agora só foi aqui identificada uma, com diferentes núcleos que sugerem uma utilização preferencial de um ou outro espaço em diferentes épocas. Para os mortos foi reservada uma extensa área que se estende pela encosta nascente, ao longo da principal estrada. Garantia-se, desta forma, que os mortos não cairiam no esquecimento e manter-se-iam sempre perto do olhar dos viandantes, a quem se pedia que lhes desejassem que a terra lhes fosse leve. Crentes na vida para além da morte, os romanos depositavam oferendas nas sepulturas. Algumas dessas oferendas parecem destinadas a garantir a satisfação das necessidades básicas do defunto. Outras, mais íntimas, quase nos permitem reviver o sentimento de dor de quem perdeu um ente querido. Outras ainda, são invulgares objetos de luxo, sinais de que a hierarquia social se mantém no outro mundo. Todas as sepulturas até agora identificadas em Tongobriga são de cremação. Quanto mais próximas da muralha, mais antigas são. As primeiras, datáveis de meados do século I, são simples covachos abertos no solo, nos quais se deposita a urna que continha os restos da cremação e um ou outro pequeno objeto, na maioria dos casos adereços da roupa que o defunto usava. Muito perto destas, foram também identificadas sepulturas de finais do século I e inícios do século II, em caixas quadrangulares definidas por tegulae, contendo apenas uma ou duas peças de terra sigillata. As sepulturas situadas mais longe das muralhas, são datáveis do século IV e contêm conjuntos mais ou menos numerosos de peças de cerâmica comum e por vezes também moedas.
Muralha (2016, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
Necrópole (2006, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
Área habitacional nascente de Tongobriga (2018, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
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Restaurante
Pórtico e forum
Recinto central do forum / Altar ou templo
O Restaurante - Cafetaria de Tongobriga é da autoria do Arquiteto Jorge Romualdo. Foi construído para serviço dos visitantes da Área Arqueológica do Freixo e não só, tendo sido inaugurado em 2009. Tem capacidade para 72 pessoas no interior e igual número na esplanada. Funciona em regime de concessão a privados.
Desde a sua revelação nos anos 80 do século XX, o forum de Tongobriga destacou-se, pelas suas dimensões, como uma estrutura invulgar: 139 metros de comprimento por 68,5 de largura, uma área de quase 10.000 m2. Mais tarde, a identificação da muralha e a definição do espaço habitado permitiram também perceber que o forum não só tinha uma localização periférica, mas também exterior ao perímetro urbano e à área habitada. Contrariamente à ideia de forum como “praça pública”, por natureza um espaço aberto, em Tongobriga foi construído um “recinto” fechado, com uma só entrada, de acesso controlado, definido por um muro perimetral que o encerra. Tudo indica que Tongobriga tenha recebido um grande espaço de mercado, aliás condicente com o primitivo significado da palavra forum, de cronologia possivelmente júlio-cláudia (27-68), bem antes das transformações urbanas promovidas com a dinastia flávia (69-96). Nesse espaço de funções essencialmente comerciais onde se poderiam promover reuniões periódicas de âmbito regional – eventualmente de todo um populus –, fazia sentido a promoção do culto imperial, já que ele é um instrumento fundamental para a afirmação da administração romana e para a difusão de um novo modelo de vida. Nestes fora, as funções de espaço lúdico e de reunião, de santuário e de mercado, surgem sempre interligadas. Em Tongobriga, merece destaque a função de mercado, dada a extensão e quantidade de estruturas possivelmente relacionadas com o armazenamento (horrea) e com áreas destinadas à compra e venda de produtos. Um recinto fechado é muito mais condicente com a função de forum pecuarium, enquanto espaço de transação e armazenamento de bens e produtos, e local de realização das feriae e nundinae (mercados locais permanentes de frequência periódica).
Restaurante/cafetaria (2018, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
Pórtico e forum (2018, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
Segundo Lino Tavares Dias, a quem se devem as escavações arqueológicas que revelaram Tongobriga, os períodos correspondentes às dinastias dos Imperadores Flávios e Antoninos seriam marcados por fortes investimentos que se traduziram em vários edifícios monumentais. Na sequência dos trabalhos desenvolvidos em parceria com Charles Rocha e Pedro Alarcão, o forum é descrito por Lino Tavares Dias como “um espaço afirmado e envolvido por quatro pórticos, cada um com três colunatas. O corpo central do forum dividia-se em dois espaços: o espaço da praça com 1 actus de largura e 1,5 actus de comprimento, e o espaço do templo. (…) O templo inscrevia-se num retângulo de 11,84 metros por 23,68 metros, correspondendo à proporção de oito por dezasseis passus. (…). A frontaria do templo tinha a largura de oito passus e foi possível identificar a inserção das escadas que teriam a largura de quatro passus, 5,92 metros”. É também possível que as peças molduradas, hoje utilizadas na reconstituição do templo, tenham feito parte de um plinto que poderia ter funcionado como altar, semelhante a outros da época do Imperador Augusto, que se destinavam a albergar uma estátua equestre, embora em Tongobriga jamais tenham sido encontrados elementos de uma tal estátua. Neste espaço onde se poderiam realizar reuniões periódicas, comerciais, religiosas ou outras, de âmbito regional, fazia sentido a promoção do culto imperial, já que ele é um instrumento fundamental para a afirmação da administração romana e para a difusão de um novo modelo de vida. Recinto do forum. Altar provavelmente destinado a estátua equestre (2018, Digivision, S.A. / Direção Regional de Cultura do Norte©, imagem virtual de Javier Torres, Ángel Veloso e Álex Salmeron, sob coordenação científica de António Manuel Lima).
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Plataforma sul do forum
Absides
Balneário Castrejo
A sul do recinto central do fórum de Tongobriga, existe uma plataforma elevada, acessível através de três lanços de escadas. Esta plataforma de 8,9 metros de largura e a toda a extensão do eixo maior da praça foi inicialmente interpretada como espaço porticado com funções comerciais. Vários fatores apontam para que a construção da plataforma elevada seja um acrescento ao projeto original. Além de introduzir assimetria, retirando equilíbrio ao conjunto, os elementos que a compõem apresentam notórios desfasamentos relativamente ao resto: a nascente, a plataforma prolonga-se alguns metros além do muro perimetral do fórum, atingindo um total de 147,76 metros de comprimento; e, ao centro, a abside quadrangular está claramente desalinhada relativamente ao eixo central do recinto e à sua congénere, mais pequena, do muro perimetral norte. A opção de construir a plataforma sul a uma cota mais elevada foi claramente uma opção consciente e deliberada dos seus construtores, pois não seria tecnicamente difícil construí-la à cota do recinto principal. A sua elevação poderá estar relacionada com a vontade de criar um espaço visualmente destacado, de grande efeito cenográfico. Confirmandose que o contexto sociopolítico que justifica a construção desta plataforma é a promoção municipal de Tongobriga, com a consequente necessidade de dotar uma estrutura pré-existente das áreas e edificações inerentes ao forum de uma capital de civitas, não é difícil deduzir as possíveis funções do espaço quadrangular central, com 6 pes de lado (cerca de 79 m2), que duplica a largura útil da plataforma. Mas, mais uma vez, esbarramos na ausência de indícios seguros de que tal espaço tenha sido dotado de cobertura, a qual, à falta de melhor hipótese, poderia ser removível. Realce para o facto de na extremidade poente desta plataforma terem sido identificados vários silos da Idade do Bronze.
O único elemento que torna assimétrico o recinto central do forum de Tongobriga é a existência de um conjunto de três absides – uma quadrangular e duas semicirculares – que se abrem no seu muro perimetral norte. É possível que elas não fizessem parte do projeto inicial do fórum, cujo recinto central seria, nesse caso, um retângulo perfeito. Há ainda a possibilidade de terem sido projetadas uma ou mais absides simétricas no muro perimetral sul, as quais, ou jamais foram construídas, ou foram anuladas pela plataforma elevada que hoje aí se observa, a qual sabemos ser obra mais tardia. Em qualquer dos casos tratar-se-á de espaços destinados à celebração de atos de caráter religioso, um facto que é reforçado por nelas terem sido encontradas duas aras votivas: - Uma ara é dedicada a Júpiter. Foi encontrada na abside quadrangular, juntamente com o derrube do muro da própria abside; - A outra ara é consagrada às Matres. Foi encontrada na abside semicircular nascente e ainda apresenta vestígios de um turíbulo de prata encastoado no topo. A existência destes espaços é comum numa estrutura como o forum, reforçando a ideia de que ele era um espaço multifuncional. Embora nalguns fora, como o de Tongobriga, possa prevalecer a função comercial e noutros as funções administrativas e judiciais -, como no caso dos que possuem cúria e basílica – a dimensão religiosa está sempre presente, seja pela existência de templos e / ou altares, seja pela presença de absides como as que aqui vemos.
O mais emblemático edifício de Tongobriga pré-romana que chegou até aos nossos dias é um balneário, construído pouco antes da era cristã, que se terá mantido em uso até ao último quartel do século I. Trata-se de um edifício destinado a banhos, que corresponde aos locais onde, segundo Estrabão (autor romano do século I), se tomavam “banhos de vapor produzido por pedras aquecidas”. É possível que fossem de acesso restrito, limitado aos que tivessem lugar na celebração de rituais de iniciação, marcados pela função purificadora da água, de que será sinal a serpente esculpida na rocha do pavimento da sala de entrada. Era constituído por quatro espaços distintos: - Um primeiro espaço aberto, um pequeno pátio lajeado através do qual se acedia a uma primeira câmara subterrânea; - Essa primeira sala, escavada na rocha, dispunha de bancos e era uma antecâmara de espera para o acesso à sauna. A separação entre esta sala e a seguinte é a que costuma receber as tão famosas “pedras formosas” que deram o nome a este tipo de monumentos; - Pela “pedra formosa” acedia-se a uma segunda câmara interior, retangular, que era o espaço de sauna propriamente dita, na qual teriam lugar os rituais já referidos. No lado oposto, uma abertura para a última câmara, permitia a passagem do vapor; - Por fim, um terceiro espaço, de planta circular, interpretado como “fornalha” ou câmara de produção de calor. Nela seriam depositadas pedras previamente sobreaquecidas, que serviam para produzir vapor quando sobre elas fosse vertida água fria.
Abside semicircular no forum (2018, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
Balneário castrejo (2015, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
Plataforma sul do forum (2018, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
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1 Foricae 2 Entrada 3 Natatio 4 Vestibulum
6 Frigidarium 7 Tepidarium 8 Caldarium 8 Áreas de serviço
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Latrinas públicas
Termas públicas
Necrópole II
A existência de latrinas públicas constitui um dos mais importantes avanços sanitários desenvolvidos com a civilização romana. Por requererem água corrente para se manterem em condições de utilização, as latrinas públicas exigiam o desenvolvimento de sistemas de abastecimento de água e a construção de sifões, esgotos e outras infraestruturas. Porém, a sua construção nas proximidades das termas e sobre o esgoto delas, permitiu minimizar o esforço de construção das latrinas. As latrinas públicas de Tongobriga terão sido construídas em simultâneo com o edifício termal, mas eram acessíveis pelo exterior, podendo assim servir também os utentes do fórum. Permitiriam o uso por três pessoas em simultâneo, não havendo qualquer separação por sexos. O seu uso em separado, por homens e mulheres, poderia ser conseguido através de horários diferenciados, como acontece em várias termas do Império Romano. Dispunham de água corrente, proveniente das termas, que mantinha o esgoto limpo, a ainda de uma canalização destinada a lavar os escovilhões de limpeza. Pertencerá muito provavelmente às latrinas um labrum (pequeno tanque) em granito, que permitiria lavar as mãos. Uma particularidade destas latrinas foi o achado de uma lucerna de bronze num nicho de uma das paredes, lucerna essa que se destinava a iluminar o compartimento quando não houvesse luz natural.
Uma vez chegados às termas, vindos diretamente do forum ou não, os utentes teriam acesso ao vestibulum. Daí poderiam aceder ao apodyterium, uma sala munida de hipocaustum, que pelo menos no inverno seria aquecida. Era então altura de se untarem e decidirem se começavam por uma ida ao caldarium para um banho quente, não esquecendo, obviamente, a paragem no tepidarium – sala seca e aquecida – para que o corpo se pudesse adaptar com mais facilidade ao ambiente quente e húmido do caldário; ou por uma sessão de exercícios físicos (alguma corrida, exercícios de ginástica, algum pugilato ou luta livre…) na palaestra. Após o exercício físico, os utentes poderiam dirigir-se ao frigidarium para um banho frio. Outros iriam para o tepidarium suar um pouco mais, seguindo depois para o caldarium. Este circuito e estas atividades no interior do edifício e na área da palaestra não tinham uma sequência obrigatória. Aliás, durantes as várias horas de permanência nas termas, os utentes usavam todas as salas por mais de uma vez, alternando entre o exercício, os banhos quentes e os banhos frios. Conversar era uma atividade constante, assim como comer e beber. O período de verão tinha ainda mais uma atividade do agrado dos utentes: os banhos de água fria, na piscina de ar livre (natatio). Importantes nas termas eram as zonas de serviço: corredores e áreas de aquecimento da caldeira que servia os alveii com água quente, bem como a área dos praefurnia dos hipocaustos do tepidário e do caldário; armazenamento de lenha; manutenção de temperatura das águas da caldeira vertical que abastecia os tanques do caldário; manutenção do fogo nas fornalhas que aqueciam os fornos, os quais, por sua vez, aqueciam o chão e as paredes do caldário e do tepidário; limpeza dos fornos e fornalhas; renovação de águas do frigidarium e natatio, etc. eram tarefas executadas por dezenas de escravos.
Crentes na vida para além da morte, os romanos depositavam oferendas nas sepulturas. Algumas dessas oferendas parecem destinadas a garantir a satisfação das necessidades básicas do defunto. Outras, mais íntimas, quase nos permitem reviver o sentimento de dor de quem perdeu um ente querido. Outras ainda, são invulgares objetos de luxo, sinais de que a hierarquia social se mantém no outro mundo. Todas as sepulturas até agora identificadas em Tongobriga são de cremação. Quanto mais próximas da muralha, mais antigas são. As primeiras, datáveis de meados do século I, são simples covachos abertos no solo, nos quais se deposita a urna que continha os restos da cremação e um ou outro pequeno objeto, na maioria dos casos adereços da roupa que o defunto usava. Muito perto destas, foram também identificadas sepulturas de finais do século I e inícios do século II, em caixas quadrangulares definidas por tegulae, contendo apenas uma ou duas peças de terra sigillata. As sepulturas situadas mais longe das muralhas, como é o caso das que aqui foram encontradas, são datáveis do século IV e contêm conjuntos mais ou menos numerosos de peças de cerâmica comum, como pratos, tigelas, bilhas e pequenos copos, que em nada se distinguem das peças de uso quotidiano no serviço de mesa que existiria numa casa romana. Por vezes também são depositadas moedas, que são interpretadas como meio de pagamento para custear a viagem de barco com a qual se fazia a travessia “para o outro mundo”. É o chamado “Óbolo a Caronte”.
Latrinas públicas junto das termas e do forum (2017, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Jorge Araújo).
Necrópole II (1993, Direção Regional de Cultura do Norte©, fotografia de Lino Tavares Dias).
Termas públicas. Esquema funcional dos seus compartimentos (2018, Direção Regional de Cultura do Norte©, ilustração de Jorge Araújo).
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BIBLIOGRAFI A
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