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O MEU INTERIOR

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EXPO 2020 DUBAI

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FRANCISCO VELEZ ROXO,

ECONOMISTA/GESTOR, PROFESSOR NA UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA E PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE ALTER DO CHÃO ECONOMIST/MANAGER, PROFESSOR AT THE PORTUGUESE CATHOLIC UNIVERSITY AND PRESIDENT OF THE MUNICIPAL ASSEMBLY OF ALTER DO CHÃO

MY HINTERLAND

Omisto de reflexão sobre o que somos, queremos e temos é muitas vezes identificado em psicologia e ciências do comportamento, como “o nosso interior”. Nas linhas que se seguem falara muito “o meu interior”, mas sobre “o meu Interior geográfico”, o Interior em que nasci e vivo intensamente, e sobre o qual muitas vezes reflito tendo como eixo central de visão, um velho tema nacional: “Interior para que te quero?”. Fazer Portugal de Norte a Sul num eixo que se situa em média acima dos 50kms da costa, é fazer a única estrada que atravessa o país de norte a sul, pelo interior, a EN2, que proporciona o apreciar diferentes paisagens, tradições e muitas reflexões sobre como Portugal é belo, mas também, sentindo os ventos de Espanha, perguntar: “E até à fronteira que mais há?”. Sabendo-se que para o litoral há muito, variado e belo. Fresco e convivial com mar à vista. Partindo das montanhas em Trás-os-Montes, passando pelos socalcos do Douro, fazendo as curvas das Beiras e vogando depois pelas longas planícies e campos de cultivo no Alentejo até chegar ao barrocal algarvio, fazer a viagem na EN2 é dar um olhar por o que é Portugal, antes de entrar no “interior profundo” até à fronteira. Quando li Torga nos meus tempos de juventude sempre fiquei preso à sua definição comparativa de Trás-os-Montes com o Alentejo onde nasci: “Em Portugal, há duas coisas grandes, pela força e pelo tamanho: Trás-os-Montes e o Alentejo. Trás-os-Montes é o ímpeto, a convulsão; o Alentejo, o fôlego, a extensão do alento”. E, neste quadro de referência, fui sempre aprofundando um maior conhecimento comparativo destas duas regiões integrando também as Beiras (até por ter casado com uma Beirã) e tendo em determinado momento, sobretudo depois de 1974, aderido mais fortemente a uma paixão segmentada pelo Interior. Porque não mais podia conter The mix of reflections on what we are, what we want and what we have is often identified in psychology and behavioural sciences, as “our inner self”. In the following lines, “my inner self” will be covered extensively but rather “the inner part of us in geographical terms”, the hinterland where I was born and where I live intensely and I often reflect upon, based on the central vision, a recurring national theme: “What is the hinterland there for?” Crossing Portugal from North to South, drawing an axis of around 50 km away from the coast, is travelling the only road that crosses the country from the north to the south, through the hinterland, the National Highway 2, enjoying different landscapes, traditions inviting us to reflect on how beautiful Portugal is and to feel the winds of Spain and to ask: “And what is there in between, all the way to the border?”. And we know than when we head to the coast there is a lot to see, both varied and beautiful, fresh and convivial, overlooking the sea. Starting in the mountains in Trásos-Montes, through the slopes of Douro River, the curves of the Beira provinces and wandering through the long plains and the fields of the Alentejo until reaching the Algarve Barrocal, making the journey on the NH 2 is taking a look at what Portugal is, before entering the “deep hinterland” all the way up to the border. When I read Torga in my youth, I was always stuck with the manner how he compared Trás-os-Montes with the Alentejo where I was born: “In Portugal, there are two big things, in terms of both strength and size: Trás-os-Montes and the Alentejo. Trásos-Montes is the impetus, the upheaval; the Alentejo, the breath, the expanse of the will”. And, in this reference framework, I kept deepening my comparative knowledge of these two regions, integrating also the Beira provinces (all the more so as I married a woman from a Beira province) and after a certain point, and particularly after 1974, I developed a growing segmented passion

a revolta perante um abandono e despovoamento notórios. Que se mantêm e nalgumas situações até se aprofundaram. Tendo sempre o meu Alto Alentejo como “coração e paixão”, nos momentos de saudade e por vezes de crises de desalento na “cabeça e bílis” procuro evitar o não acreditar que algum esquecimento poderá parar. E é assim que vou continuando a viver o “meu Interior” e aderindo das mais variadas formas aos esforços para ajudar a melhorar a situação. No final do seculo XIX Portugal era um País que “caminhava na vanguarda das aspirações sociais” apesar de ser um dos Países mais pobres que o resto da Europa Ocidental. O interior do País era despovoado e o sul do País era mesmo um caso angustiante de baixa densidade populacional: em 32.000 km2 viviam menos de 600 000 pessoas, num quadro geral em que Portugal tinha o mais lento crescimento populacional da Europa só acima da França. Com o desenrolar do século XX e passadas as duas guerras mundiais, o Alentejo da “campanha do trigo” e da “exploração de mão de obra agrícola” em grandes propriedades agrícolas, mas também agropecuárias, começou a ouvir falar em “regadio, novas unidades industriais para transformação de matérias-primas como os cereais, a cortiça, azeitona e uvas”. E muitas aconteceram. Mas sempre poucas por comparação com o que se passava na vizinha Extremadura Espanhola. Foi precisa a adesão à União Europeia em 1985 (a então CEE), para que as chamas da esperança e de um novo impulso para o “Meu Interior” ganhassem direito a fortes ecos e, naturalmente dinheiro para investimento e desenvolvimento. Nem sempre bem-sucedidos e aplicados. Centrando-me no Distrito de Portalegre, “O meu Alentejo Interior” que faz a transição para as Beiras, muito entusiasmo constatei. Muita nova agricultura e turismo nasceu. Mas não muitos jovens se fixaram ou voltaram. Para além de os nascimentos terem regredido e os mais velhos terem partido. Cada vez mais velhos é verdade. Mas com pouca qualidade de vida. As Autarquias com os seus mil desafios e dificuldades em competências inovadoras, passaram a ser sobretudo “centros” de emprego administrativo, mas, mesmo assim, têm conseguido conservar algum património arquitetónico e cultural. Ao tradicional triangulo turístico: Portalegre, Castelo de Vide, Marvão, juntou-se o quadrado multifacetado Elvas, Campo Maior, Alter do Chao, Ponde de Sor, para dizer “Presente”. Mas ainda timidamente o resultado é visível, por comparação com os outros Alentejos: Central, Baixo e Litoral. Torga nunca se afastou das raízes do coração agreste de Trás-os-Montes, “léguas e léguas de chão raivoso, eriçado, queimado por um sol de fogo ou por um frio de neve”. Eu, modestamente, mas com coragem intacta, cada vez estou mais próximo de acreditar que “um milagre qualquer” fará do “Meu Alto Alentejo”, do “Meu Alter do Chão” uma galáxia de vilas brancas com ruas empedradas e janelas com grades e sorrisos de matar a sede em que, como Torga genericamente o caraterizou “o vermelho em brasa dos fins de tarde enche de espanto as copas dos sobreiros recortadas na distância.” E as almas dos que acreditam que o Interior será mais Paraíso para os que nele vivem e visitam. Quero eu acreditar. l for the hinterland. Because I could not contain my outrage in light of this notorious abandonment and depopulation. Which is still there and has even increased in some cases. I will always have my Higher Alentejo, my “heart and passion” in those moments of longing and discouragement, in my “head and bile”, and I try to stick to the belief that some of this forgetfulness may pass one day. And I thus keep living “My Hinterland” and I adhere in many ways to the efforts being made to help improve this situation. At the end of the 19th century, Portugal was a country “at the forefront of social aspirations” despite being one of the poorest countries when compared to the rest of Western Europe. The inner regions of the country were depopulated and the south of the country was indeed a distressing case of low population density: less than 600,000 people lived in 32,000 km2 and Portugal had in overall terms the slowest population growth in Europe, just above France. As the twentieth century unfolded and the two world wars ended, the Alentejo of the “wheat campaigns” and “farm labour exploitation” on large farms, but also of agriculture and cattle raising started hearing the words “irrigation, new industrial units for the transformation of raw materials such as cereals, cork, olives and grapes ”. And many of these units did see the light of day. But they were always very little compared to what was happening in the neighbouring Spanish Extremadura province. And only after we joined the European Union in 1985 (then the EEC), did the flames of hope and a new impulse for “My Interior” granted this region the right to have a say and entitled it, obviously, to the funds available for both investment and development. Not always successful and put to good use. As regards the District of Portalegre, “My Hinterland” establishing the transition with the Beira provinces, I did witness a great deal of enthusiasm. A fair deal of new agriculture and tourism projects were started. But few young people settled here or returned to this region. And the number of births decreased and the old departed from this world. There are more and more elderly, that’s a fact. But with a low quality of life. Municipalities, with their thousand challenges and difficulties as regards innovative skills have become above all “centres” of administrative employment. But they have been able, nonetheless, to preserve a fair amount of architectural and cultural heritage. The traditional tourist triangle: Portalegre, Castelo de Vide, Marvão, was joined by the multifaceted cities of Elvas, Campo Maior, Alter do Chão, Ponte de Sôr. But the results are still timidly visible, in comparison with the other Alentejo provinces: Central, Lower and Coastal Alentejo. Torga never abandoned the roots of his wild heart from Trásos-Montes, “miles and miles of angry, bristly ground, heated by a sun that burns like fire and cold snow”. I, modestly, but with intact courage, keep believing that “a miracle” will happen in “My Higher Alentejo”, “My Alter do Chão”, this galaxy of white villages with cobbled streets and windows with iron bars and smiles that quench the thirst in this place which, as Torga generically defined it “the red-hot late afternoon sun fills the tops of the cork trees with astonishment.” A miracle for the souls of those who believe that the Hinterland will be a true Paradise for those who live and visit it. I want to believe. l

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