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ENTREVISTA | INTERVIEW NINI ANDRADE SILVA

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EXPO 2020 DUBAI

EXPO 2020 DUBAI

A ‘DESIGNER’ QUE CONQUISTOU O MUNDO

THE DESIGNER WHO CONQUERED THE WORLD

SOFIA RAINHO

É CONHECIDA COMO A ‘DESIGNER’ DE INTERIORES DA MADEIRA, MAS NINI ANDRADE SILVA GOSTA DE TUDO O QUE TEM A VER COM A ARTE E COM O PROCESSO DE CRIAR. JÁ PERDEU A CONTA AOS PRÉMIOS, NACIONAIS E INTERNACIONAIS, QUE RECEBEU COM AS LARGAS CENTENAS DE HOTÉIS QUE DESENHOU NOS MAIS VARIADOS PONTOS DO MUNDO. E AFIRMA QUE O SEU ‘HOBBIE’ É TRABALHAR.

SHE IS KNOWN AS THE INTERIOR DESIGNER OF MADEIRA, BUT NINI ANDRADE SILVA LIKES EVERYTHING RELATED TO BOTH ART AND CREATING. SHE HAS ALREADY LOST COUNT OF THE NUMBER OF AWARDS, NATIONAL AND INTERNATIONAL, SHE RECEIVED FOR THE DESIGN WORK SHE DEVELOPED FOR HUNDREDS OF HOTELS IN DIFFERENT PARTS OF THE WORLD. SHE SAYS HER HOBBY IS WORK.

Nini Andrade Silva é uma das mais prestigiadas ‘designers’ de interiores do mundo, com obras espalhadas por diversos continentes. Nascida no Funchal, licenciou-se no Instituto de Artes Visuais, Design e Marketing (IADE), em Lisboa, e trabalhou em países como Nova Iorque, África do Sul, Londres, Paris e Dinamarca. A Madeira é a sua grande paixão e orgulha-se de levar a bandeira portuguesa aos quatro cantos do mundo. Defensora do “made in Portugal”, abraçou recentemente mais um desafio – As marcas de Portugal. Nini Andrade de Silva tem 58 anos e a sua carreira já conta mais de 35 anos. A gargalhada está sempre presente na conversa com a ‘designer’ madeirense e o seu entusiasmo é contagiante. “O meu ‘hobbie’ é trabalhar. (risos) Eu adoro trabalhar”, assume sem hesitações. Há seis anos concretizou o sonho de inaugurar o seu próprio Design Centre no porto do Funchal, no antigo Forte de Nossa senhora da Conceição, onde hoje trabalham 25 funcionários e onde estão expostos os prémios dos hotéis e outros, bem como as primeiras peças da Garouta do Calhau – uma marca de prestígio inspirada nas pedras da Ilha da Madeira (os calhaus), Nini Andrade Silva is one of the most prestigious interior designers in the world, with works spread over several continents. Born in Funchal, she graduated from the Institute of Visual Arts, Design and Marketing (IADE) in Lisbon and worked in places such as New York, South Africa, London, Paris and Denmark. She is passionate about Madeira and she is proud to take the Portuguese flag to the four corners of the world. A big supporter of “made in Portugal”, she recently embraced yet another challenge - The brands of Portugal. Nini Andrade de Silva is 58 years old and she developed her career for more than 35 years now. Laughter is always there in a conversation with this Madeiran designer and her enthusiasm is contagious. “My hobby is working. (She laughs) I love to work ”, she assumes without hesitation. Six years ago, her dream came true, e.g. opening her Design Centre in the port of Funchal, in the old Fort of Nossa Senhora da Conceição, where 25 employees currently work and where the awards for her work in hotels and others are on display, next to the first items for Garouta do Calhau - a prestigious brand

mas que também deu nome a uma causa social com o objectivo de ajudar os mais vulneráveis. Reconhecida, a nível nacional e internacional, como a ‘designer’ de interiores da Madeira, Nini Andrade Silva também pinta, faz arranjos florais, desenha jóias, roupa, peças de cerâmica… Mas o que lhe dá mesmo gozo é tudo aquilo que seja criar e, por isso, quando lhe perguntam, não consegue escolher apenas uma destas artes. “Gosto mesmo muito de criar, seja o que for, ter a ideia e criar”, assume a ‘designer’ e explica “se for um quadro ou uma jóia, algo que depende só de mim, consigo ter muito mais liberdade, quando depende do cliente às vezes há uma luta maior e tenho de convencer o meu cliente de que estou certa”. Curiosamente foram os projectos que pode desenvolver com maior liberdade que lhe trouxeram a maior parte dos prémios até hoje. Nini Andrade Silva já perdeu a conta aos prémios que recebeu. “Todos os anos temos Prémios e já temos muitos. É muito bom porque somos reconhecidos e os prémios trazem-nos mais trabalho”, explica a ‘designer’. O gosto pela pintura herdou-o do pai. “O meu pai era um verdadeiro artista, pintava e cantava. Eu não sei cantar, infelizmente não tenho voz nenhuma (risos) mas sei pintar desde criança. O meu pai antes de morrer disse-me: Nini, tu és uma artista, nunca deixes de pintar, tu és a minha continuação. E nunca me esqueço disso”, recorda. Conta que em criança sempre gostou muito de desporto e fazia ‘ballet’, nadava e praticava patinagem, mas agora, diz Nini Andrade Silva entre risos, “o meu desporto na realidade é criar”. A linha preta ou branca é a sua assinatura e está presente na decoração de muitos hotéis e no seu “design centre”, seja nas carpetes, nas almofadas… “é a linha das estradas, a linha dos aeroportos e é a linha da minha vida”. Em criança já sonhava ser ‘designer’. “Sempre soube que iria para artes, mas também sempre gostei de ajudar as pessoas e de correr atrás de uma causa para ajudar e gostava muito de ser assistente social”, conta Nini. Hoje faz as duas coisas. Nini dá a cara pela associação “A Garouta do Calhau” – uma organização com vários projectos sociais, que apoia jovens e idosos. O nome da associação foi escolhido pela ‘designer’ de interiores e está ligado à sua obra de pintura, que é inspirada nos garotos do calhau – nome pelo qual eram conhecidos os miúdos que há uns anos percorriam as praias de calhaus rolados da ilha da Madeira e iam com os pescadores pedir moedas quando os navios que iam para a África do Sul paravam no porto do Funchal. “Havia um concurso que se chamava a mergulhança, em que o recordista num único mergulho apanhava 16 moedas. Andar ali à procura de 16 moedas no fundo do mar não é nada fácil”, explica Nini. Após a sua primeira exposição, intitulada “As quatro estações” e muito inspirada nas flores da Madeira, a ‘designer’ lembrou-se de começar a pintar calhaus e intitulou-se “A Garouta do Calhau”. Hoje, quando faz palestras ou pinta quadros os lucros revertem a favor de várias causas sociais, inclusive da associação “A Garouta do Calhau”. “É um outro lado meu”, diz. O princípio de tudo e o acesso aos maiores ‘designers’ do mundo Nini Andrade Silva nasceu na Madeira e os seus pais, ambos inspired in the stones of Madeira Island (pebbles) and also a social cause aimed at assisting the most vulnerable named after this brand. Recognized, nationally and internationally, as the interior designer of Madeira, Nini Andrade Silva also paints, makes floral arrangements, designs jewellery, clothes and ceramic objects… But what pleases her most is everything related to the creation and, therefore, when asked about this she says she cannot single out a particular art. “I like creating nearly everything, coming up with an idea and creating”, this designer says and she explains: “if it is a painting or a jewel, something that depends on me alone, I can have far more freedom, but when it’s up for the client to decide sometimes it becomes more difficult as I need to convince my client that I’m right”. Oddly enough the projects she was able to develop on her own and freely brought her most of the awards to date. Nini Andrade Silva has already lost count of the number of awards she received. “There are Awards every year and we have many already. It’s very good because we are recognized and the awards bring more work”, explains the designer. She inherited her taste for painting from her father. “My father was a true artist, he painted and sang. I don’t know how to sing, unfortunately, I don’t have a good voice (she laughs) but I know how to paint since I was a child. My father told me before he died: Nini, you are an artist, never stop painting, you are my continuation. And I will never forget that”, she recalls. She tells us that as a child she always loved sports and ballet, she used to swim a roller skate, but now, says Nini Andrade Silva laughing, “my sport is really creating”. The black or white line is her signature and is there in the decoration of many hotels and her “design centre”, whether in carpets, cushions ... “it is a line of roads, of airports and the line of my life”. As a child, I dreamed of becoming a designer. “I always knew I would study arts, but I always liked helping people and chasing a cause to help people and I thought at some point of becoming a social worker”, says Nini. Today she does both things. Nini heads the association “A Garouta do Calhau” - an organization with several social projects supporting people young and old. The name of the association was chosen by this interior designer and is closely linked to her painting work, inspired in the pebble boys - name after the kids walking on the shingle beaches of Madeira island some years ago and who, together with the fishermen, used to ask for coins when the ships sailing to South Africa stopped in the port of Funchal. “There was a competition called The Dive and the winner had to pick 16 coins thrown to the sea by the ships’ passengers. Searching for 16 coins on the bottom of the sea is not easy,” explains Nini. After her first exhibition, entitled “The four seasons” and inspired to a great extent on the flowers of Madeira, the designer had this idea of painting pebbles and called herself “The Pebble Stone Girl”. Today, when she gives lectures or when she paints the proceeds go to several social causes, including the association “A Garouta do Calhau”. “It’s another side of me,” she says.

CR7 CHAISE-LOUNGE: CADEIRA DESENHADA COM CRISTIANO RONALDO | CHAIR DESIGNED WITH CRISTIANO RONALDO SAVOY PALACE

professores, tinham uma escola. Fez o liceu ainda na Madeira e depois rumou a Lisboa para estudar no IADE. Com 15 anos começou a ir para Nova Iorque com a família Kiekeben, de quem era amiga, e que trabalhavam com grandes ‘designers’ da altura, como David Easton e Stark & Company, e teve a certeza de que queria singrar no mundo do ‘design’ de interiores. “Foi muito bom ter contacto com estas pessoas e com o seu trabalho. Estes arquitectos e ‘designers’ foram uma grande influência para mim”, revela. Quando terminou a licenciatura no IADE, Nini ainda deu aulas durante três meses. Mas sentiu que aquele não era o seu destino e foi para Nova Iorque estagiar e aprender com alguns dos maiores ‘designers’ de então. “Tinha acesso aos grandes, estava no centro do mundo, foi um passo muito grande”, conta. Seguiu-se a África do Sul, onde estudou pintura, e mais tarde a Dinamarca, onde estudou tudo o que tinha a ver com arranjos florais, plantas e flores. “Por isso é que quando faço os hotéis sou eu que trato também dos arranjos de flores e escolho tudo com imensa dedicação e prazer”, explica Nini. Regressou então ao Funchal e decidiu concorrer com o projecto de interiores da sua própria casa ao concurso do grande Andrew Martin – um livro no qual Andrew Martin selecciona e publica os trabalhos dos grandes ‘designers’ de todo o mundo. Na altura, Nini planeava abrir a sua própria empresa e este foi um teste a si própria. “Se não corresse bem, não estava no caminho The start of everything and access to the world’s best designers Nini Andrade Silva was born in Madeira and her parents, both teachers, had a school. She went to high school in Madeira and headed to Lisbon afterwards to study at IADE. At the age of 15 she started travelling to New York with the Kiekeben family she was friends with, and who used to work with great designers at the time, such as David Easton and Stark & Company, and she was sure she wanted to succeed in the world of interior design. “It was great to have contact with these people and their work. These architects and designers were a major influence for me”, she says. After finishing her degree at IADE, Nini was a teacher for three months. But she felt this was not her destiny and travelled to New York for an internship and to learn with some of the best designers of that time. “I had access to the big ones, I was in the centre of the world, it was a big step”, she says. South Africa followed, where she studied painting and later Denmark, where she studied everything related to floral arrangements, plants and flowers. “That is why when I engage in a project for a hotel it’s me who takes care of the flower arrangements and choose everything with immense dedication and pleasure”, Nini explains. She then returned to Funchal and decided to submit the interior design project of her house to a contest held by Andrew Martin - a book where Andrew Martin selects and publishes the works of the best designers from around the world. Nini was planning to

certo e tinha de mudar”, justifica. A casa de Nini Andrade Silva ficou no livro e com este começaram a chegar vários pedidos para trabalhos internacionais, e depois também os prémios internacionais. A primeira loja que Nini Andrade da Silva abriu chamava-se “Espaços Interiores” e ficava fora do Funchal. Abriu, entretanto, outros espaços no Funchal e mais tarde o Atelier Nini Andrade Silva, em Lisboa, hoje com 35 anos, e de seguida rumou a Kuala Lumpur, na Malásia, para abrir mais um espaço. “Fazia as feiras da Europa todas e depois comecei a fazer também as da Ásia e percebi que as coisas eram feitas nalgum lado…”, recorda. Em Kuala Lumpur conheceu, Loui Voon, de quem hoje ainda é amiga, e tornaram-se sócios na Malásia. Na altura abriram um ‘atelier’ naquele país e deslocou vários arquitetos de Portugal para Kuala Lumpur. A ‘designer’de interiores passou os anos a trabalhar em ‘ateliers’ espalhados pelo mundo. Mas ao fim de 2 anos e meio voltou à Rua do Barão e tomou uma DESIGN CENTRE NINI ANDRADE SILVA decisão. “Achei que em vez de ter vários ‘ateliers’ espalhados pelo mundo fazia mais sentido para o ‘design’ de start her own company and this was a big test for her. “If it didn’t interiores ter o ‘atelier-base’ em Portugal e ser convidada para ir go as planned, it meant I was not on the right track and I had to aos outros países”, recorda. change”, she explains. Nini Andrade Silva’s house was included in Estava certa. Hoje, Nini Andrade da Silva está sediada na the book and after that, she was commissioned to develop several Madeira, mas os convites para trabalhos internacionais estão international projects, followed by the international awards. sempre a chegar. Entre os vários projectos que agora tem em The first store Nini Andrade da Silva opened was called Espaços mãos está o projeto de interiores do W São Paulo Hotel, no Interiores and was located outside Funchal. She then opened other Brasil, para a cadeia Marriott. “E a história deste W é muita stores in Funchal and 35 years ago Atelier Nini Andrade Silva in engraçada porque fica na Rua do Funchal, por mais voltas que Lisbon. After that, she travelled to Kuala Lumpur, Malaysia to dê vou parar à Madeira”, conta a ‘designer’ divertida. open another store. “I used to participate in trade fairs in Europe A seu cargo está também neste momento a decoração de dois and later in Asia too and I realized I could do things no matter hotéis Hilton, um no Algarve e outro em Gaia. E recentemente where…” she recalls. In Kuala Lumpur, she met Loui Voon, acabou de fazer uma loja em Singapura e o projeto de uma casa with whom she is still friends today, and they became partners no Japão e outra em Londres. “Fazemos muitas casas grandes in Malaysia. They opened a studio in that country and several mas somos mais conhecidos pelos hotéis porque as casas são architects travelled from Portugal to Kuala Lumpur. privadas e não podemos mostrar”, explica. The interior designer spent the years working in ateliers around Por cá, está a projectar a decoração do Hotel Reis, na Avenida the world. But after two and a half years ago she returned to Rua Almirante Reis, em Lisboa. “É um projecto para uma cadeia do Barão and made a decision. “I thought that instead of having mais irreverente e que vai representar os reis da rua, as várias various ateliers spread around the world it made more sense for raças, as várias pessoas que vivem naquela artéria da cidade. interior design to have the base-atelier in Portugal and be invited É muito interessante porque é um clássico, mas é muito to other countries”, she recalls. atrevido e irreverente. Vão aparecer as tatuagens…”, antecipa a She was right. Today, Nini Andrade da Silva is based in Madeira, ‘designer’. A este hotel juntam-se ainda um outro em São Pedro but invitations to engage in international works keep arriving do Sul, outro na Ilha Terceira, nos Açores, e outro na Madeira. all the time. Among the projects currently ongoing it is worth Apaixonada pela sua ilha, onde continua a viver, assume que highlighting the interior design of W São Paulo Hotel, in Brazil, tem outras paixões além-fronteiras. “Adoro Nova Iorque, sinto-me for the Marriott chain. “And the story of this W is very funny mesmo em casa em Bangkok, e gosto mesmo muito, muito de because it is located on Rua do Funchal, hence no matter where I Bogotá e de Cartagena das Índias. É um sítio que podia viver go I always end up in Madeira,” says the designer in an amusing já amanhã, na Colômbia. Mas eu gosto de tantos sítios que tone. conheço, gosto da África do Sul, gosto do Brasil…”, confessa She is also in charge of the decoration of two Hilton hotels, one in com entusiamo. the Algarve and another in Gaia. And recently she designed a store Nini tem, aliás, uma ligação muito especial à Colômbia. Depois in Singapore and was in charge of designing a house in Japan and de ter desenvolvido o ‘design’ de interiores do primeiro hotel another in London. “We design many big houses but we are better naquele país – o B.O.G., em Bogotá, e com o qual ganhou known for our hotel projects because houses are private and we vários prémios – já fez mais nove hotéis na Colômbia. E can’t show them,” she explains. hoje é a Cônsul Honorária da Colômbia na Madeira. “Tenho In Portugal, she is in charge of decorating Hotel Reis, on Avenida

uma grande paixão por aquele país, é um sítio que eu adoro”, assume. Como uma das mais prestigiadas e premiadas ‘designers’ de interiores a nível internacional, Nini Andrade Silva é considerada uma verdadeira embaixadora do que Portugal tem de melhor em termos de criatividade. E não esconde o orgulho que sente por levar o nome de Portugal aos quatro cantos do mundo. “Nós somos muito grandes e não nos podemos esquecer disso. Costumo dizer que somos descendentes da padeira de Aljubarrota, fomos nós que descobrimos o mundo. Não nos podemos esquecer da nossa grandeza, da nossa herança e da nossa responsabilidade”, defende a ‘designer’, que já foi distinguida pelo governo português com a Ordem de D. Henrique. “Sempre levei de facto o nome da Madeira e de Portugal comigo”, diz. Actualmente, Nini Andrade Silva integra um grupo chamado Marcas de Portugal que pretende mostrar o que de bom se faz em Portugal e que junta empresários e profissionais de vários quadrantes para apoiar e promover as marcas nacionais. E onde vai buscar a sua inspiração? “Eu até sou capaz de ir buscar inspiração a um balde do lixo”, responde divertida. “As pessoas atiram as coisas para o lixo e sem se aperceberem juntam-se cores e formas que são completamente diferentes de tudo”, explica a ‘designer’. Sempre que um cliente a contacta com uma proposta, a Inês Duque Dias, licenciada em gestão cultural e um dos seus braços direitos, vai pesquisar tudo sobre o contexto territorial e país em que se insere o projecto e, depois, faz um ‘briefing’ à ‘designer’ com o essencial. E é nessa fase que Nini Andrade Silva começa o seu processo criativo. “Começo a pensar e faço-o por todo o lado onde ando, 24 horas por dia. Se estiver a ver um filme sou capaz de parar para tirar uma fotografia, vou buscar inspiração ao mar, ao sol, à vida marinha, às plantas, a um balde do lixo… tudo”, revela divertida. Depois, Nini chega ao ‘atelier’ e explica o conceito. Começam então a desenhar, recorrem a várias imagens de referência Almirante Reis, in Lisbon. “It’s a project for a more irreverent chain and will represent the kings of the street, the many races and the different people who live in that avenue of the city. It’s very interesting because it is a classic, but it is very bold and irreverent. There will be tattoos… ”, anticipates the designer, along with this hotel there will be also a hotel in São Pedro do Sul, another in Terceira Island, in the Azores, and yet another in Madeira. She is passionate about her island, where she continues to live but she says she has other passions overseas. “I love New York, I feel at home in Bangkok, and I really, really, really like Bogota and Cartagena de Indias. I wouldn’t mind moving to this place in Colombia tomorrow. But I like so many places I’ve been to, I like South Africa, I like Brazil… ”, she confesses with enthusiasm. Nini, moreover, has a very special connection to Colombia. After developing the interior design of the first hotel in that country - the BOG, in Bogotá, and for which she won several awards - she has worked in further nine hotels in Colombia. And today she is the Honorary Consul of Colombia in Madeira. “I have a great passion for that country, it’s a place that I love”, she assumes. As one of the most prestigious and award-winning interior designers at the international level, Nini Andrade Silva is considered a true ambassador of what Portugal has to offer in terms of creativity. And she does not hide her pride in taking the name of Portugal to the four corners of the world. “We are very big and we cannot forget that. I often say that we are descendants of the baker of Aljubarrota, the female baker who defeated alone Spanish soldiers hiding in her bread oven during that big battle, and with was we who discovered the world. We should never forget our grandeur, our heritage and our responsibility”, claims the designer, who was already distinguished by the portuguese government with the Order of D. Henrique. “I always took the name of Madeira and Portugal with me,” she says. Currently, Nini Andrade Silva is part of a group called Portugal Brands whose aim is to show the best being done in Portugal and bringing together businessmen and professionals from several areas to support and promote national brands. And where do you get your inspiration from? “I can get inspiration even from a trash can,” she replies with amusement. “People throw things away and without realizing it and colours and shapes mix and that is completely different from everything”, explains the designer. Whenever a client contacts her with a proposal, Inês Duque Dias, who has a degree in cultural management and is one of her right hands will research everything about the territorial context and country where the work is to be implemented and, afterwards, she briefs the designer with the essentials. And that’s when Nini Andrade Silva starts her creative process. “I start thinking about it and engage in it everywhere I go, 24 hours a day. If I am watching a film, I stop to take a snapshot, I get inspiration from the sea, the sun, sea life, plants, a trash can ... everything ”, she tells us with amusement.

FOTO: PEDRO CORREIA DA SILVA

para o cliente perceber o conceito e quando têm carta branca do cliente começam a desenhar tudo. “Desenhamos desde o pavimento, aos lavatórios, os puxadores das portas, os candeeiros, gostamos de desenhar tudo”, diz a ‘designer’.

O cacho de bananas da Bordallo Pinheiro e a cadeira do Ronaldo

Há uns anos Nini Andrade Silva foi convidada para desenhar uma colecção para a Bordalo Pinheiro inspirada na Madeira. “A colecção está muito bonita e está a ser um sucesso, até ganhamos um prémio numa feira na Alemanha como o melhor projecto de cerâmica”, conta, revelando que a colecção, inspirada num cacho de bananas prata, tem uma “história engraçada por trás”. A ideia inicial era Nini fazer peças para um serviço de jantar da Vista Alegre. Quando estava em Lisboa pediu a um dos seus colaboradores na Madeira para lhe enviar um pouco de casca da bananeira, uma banana, a flor da bananeira, que dá pelo nome de pinguelo, para poder levar consigo à reunião na Visabeira. “Quando me preparava para entrar na reunião recebi uma caixa enorme. Era um cacho de banana prata e tive de entrar para a reunião com o cacho, já não tinha hipótese. Pus o cacho de bananas em cima da mesa a pensar que iam achar que eu era completamente maluca. O cacho de banana prata é mais pequeno e muito perfeito, para mim era normal, mas para uma pessoa que nunca viu, olhar para aquilo era uma coisa incrível”, conta. Os planos mudaram de imediato. A Vista Alegre estava a desenvolver uma linha com peças para coleccionadores, que já contava com Paula Rego, e pediram à ‘designer’ que lhes fizesse uma peça de ‘design’ para essa colecção com o cacho de bananas. “Resultado, eu tenho uma peça de arte na colecção da Bordallo Pinheiro só porque houve um engano e foi para Lisboa um cacho de bananas”, relata divertida. Também esta peça tem a sua assinatura, a já mencionada linha preta e um calhau das praias da Madeira incrustado. Outro projecto em que deixou a sua assinatura foi uma cadeira desenhada com Cristiano Ronaldo, no âmbito de numa iniciativa da Câmara Municipal de Paredes. “Por incrível que pareça a mim calhou-me o Cristiano Ronaldo, madeirense e por quem tenho uma grande admiração. A cadeira era feita com as medidas, o nome e a história dele. A cadeira foi feita como se fosse uma pedra, veio uma onda dourada que levou o Cristiano para fora da ilha e o transformou no menino de ouro. A estrutura era toda feita com as redes das balizas de futebol e a cadeira era dourada porque o Cristiano é o nosso menino de ouro”, explica. No total foram feitas apenas cinco réplicas dessa cadeira – uma foi vendida pela Christie´s num leilão e foi para Singapura, e o dinheiro reverteu para o ACNUR (apoio aos refugiados), outra ficou com o Cristiano Ronaldo, uma está em exposição no Design Centre de Nini Andrade Silva, no Funchal, a quarta ficou para a Câmara de Paredes e a última dá a volta ao país em exposições. “Na China foi preciso polícia à volta da cadeira porque as pessoas estavam doidas a querer tocar na cadeira do CR7”, conta entre gargalhadas. After that, Nini heads to the atelier and explains the concept. Then they start drawing, they use several images for the client to understand the concept and when they receive carte blanche from the client they start drawing everything. “We design floors and washbasins, door handles, lamps, we like to design everything”, says the designer.

Bordallo Pinheiro’s bunch of bananas and Ronaldo’s chair

A few years ago Nini Andrade Silva was invited to design a collection for Bordallo Pinheiro inspired in Madeira. “The collection is very beautiful and is a major success. We even won an award at a trade fair in Germany for the best ceramic project”, she says, explaining that the collection, inspired by a bunch of silver bananas, has a “funny story behind it”. The initial idea was for Nini to design items for a Vista Alegre dinnerware. When she was in Lisbon, she asked one of her workers in Madeira to send her a piece of banana tree bark, a banana and a banana flower, called pinguelo, to take with her to the meeting at Visabeira. “When I was preparing to enter the meeting, I received a huge box. It was a bunch of bananas and I had to go to the meeting with the whole bunch, there was no turning back. I put the bunch of bananas on the table thinking that they were going to think I was completely crazy. The silver banana bunch is smaller and very perfect, for me it was normal, but for a person who has never seen it, looking at it was incredible”, she says. The plans changed immediately. Vista Alegre was developing a collector’s edition, which featured already Paula Rego, and they asked the designer to make a work of art for them with that bunch of bananas. “Hence, I now have a work of art in the Bordallo Pinheiro collection just because there was a mistake and a bunch of bananas was sent to Lisbon”, she says, amused. This work of art features also her signature, the aforementioned black line and an inlaid pebble from the beaches of Madeira. Another project bearing her signature was a chair designed with Cristiano Ronaldo, as part of an initiative by the City Council of Paredes. “Incredible as it may seem I was paired with Cristiano Ronaldo, also a Madeiran and someone I admire a lot. The chair was made using his body measurements, name and history. The chair was made as if it were a stone and a golden wave came and took Cristiano off the island and turned him into the golden boy. The structure was all made with the football pitch goal nets and the chair was golden because Cristiano is our golden boy”, she explains. In total, only five copies of this chair were made - one was sold by Christie´s at an auction to Singapore, and the money went to UNHCR (support for refugees), another was for Cristiano Ronaldo, one is on display at the Nini Andrade Silva Design Centre in Funchal, the fourth went to the Paredes Town Hall and the last travels the world in exhibitions. “In China, we had to have police around the chair because people were crazy and wanted to touch the CR7 chair”, she laughs.

NINI ANDRADE SILVA

5 PERGUNTAS | 5 QUESTIONS

Qual foi o projecto que lhe deu mais gozo concretizar até hoje?

Eu costumo responder sempre da mesma forma: não se consegue escolher um filho (risos).

Já recebeu vários prémios nos últimos anos. Qual foi o prémio que a fez sentir mais realizada? Qual o mais especial de todos?

Foi o primeiro. É sempre muito bom receber todos os prémios. Mas receber aquele com a minha casa em Londres, num sítio como o Victoria & Albert Museum… esse foi para mim muito especial, porque nunca tinha recebido nenhum antes e aquele era mesmo muito grande para mim. Foi muito bom.

Tem algum hotel ou espaço que gostasse mesmo muito de decorar?

Eu não sei onde será nem qual, mas há um projecto que eu já ando para fazer há muitos anos e quero muito fazer. É um projecto que a nível de interiores seria muito minimalista, mas toda a criatividade seria materializada através de projecções. A sala podia ter umas cadeiras e uma mesa, mas tudo o que estava à volta e tudo o que se passava à volta era com projecção e isso fazia com que o espaço fosse altamente versátil e em permanente mutação. Por exemplo, hoje eu queria fazer uma festa clássica, podia pôr uns castiçais altos de prata, umas cortinas de veludo… mas tudo projectado. Amanhã no mesmo sítio já podia fazer o fundo do mar. Eu acho que tenho de fazer um hotel assim. Até porque o dinheiro para a parte multimédia seria mesmo muito elevado, mas o dinheiro para os móveis não seria quase nenhum. Já ando a pensar nisto há 10 anos, mas ainda não tive ninguém que quisesse avançar. Talvez ninguém saiba que eu quero fazer este projecto. Gostava muito.

Se só pudesse fazer uma coisa para o resto da vida, o que seria?

Criar. Dá-me tanto gozo pintar como criar um objecto…

Qual é o hotel mais bonito onde já esteve?

Não há o hotel mais bonito, há vários hotéis muito bonitos. Se me perguntasse qual era o hotel que tem melhor serviço eu saberia dizer, agora o mais bonito… é muito difícil. O melhor serviço para mim foi o Raffles em Singapura e o Mandarim Oriental em Bangkok. Têm um serviço que é indescritível, é uma coisa espectacular. l

What was the project you loved the most to work on?

I usually give the same answer: you can’t choose a child (she laughs).

You received several awards in recent years. What was the prize that made you feel most accomplished? Which is the most special of all?

It was the first. It’s always great to receive awards no matter which. But to receiving for the house I designed in London, at a place like the Victoria & Albert Museum ... it was very special for me because I had never received an award before and that one was really big for me. It was very good.

Do you have a hotel or a particular space you would like to decorate?

I don’t know where it will be or which, but there is a project that I’ve been wanting to do for many years and I really want to do it. It’s a project that at the interior level would be very minimalist, but creativity would be materialized through projections. The room could have some chairs and a table, but everything around it would be projected images and that would make the space highly versatile and constantly changing. For example, if I wanted to host a classic party today, I could put some tall silver candlesticks, some velvet curtains ... but everything would be projected. And the next day I could project the bottom of the sea. I think I have to make a hotel like this. Especially because the multimedia part would be really expensive but there would not much money involved for the furniture. I’ve been thinking about this for 10 years, but I still haven’t had anyone wanting to move forward. Maybe nobody knows I want to do this project. I would love to do it.

If you could only do one thing for the rest of your life, what would it be?

Create. It gives me as much fun to paint as to create an object...

What is the most beautiful hotel you have ever stayed in?

There isn’t such thing as the most beautiful hotel for me. There are several very beautiful hotels. If you asked me which hotel has the best service I would know how to answer, now the most beautiful... it’s difficult to say? The best service for me was at the Raffles in Singapore and the East Mandarin in Bangkok. They have unparalleled service, it’s spectacular. l

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