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rodolpho parigi  concrete blonde

lindas e loiras

blond and gorgeous

paula braga

paula braga

“A arte acabou, a pintura morreu e eu mesmo não estou passando muito bem.” A piada que circula entre os críticos de arte carrega um dado importante sobre a relação entre o pathos de uma sociedade e sua pintura. Dizer que a pintura morreu é reconhecer que não há mais vontade de continuar. A produção de Rodolpho Parigi sinaliza uma mudança de ânimo. Em sua primeira exposição individual, Rodolpho Parigi cita o Concretismo, configuração da arte brasileira na qual justamente a pintura – ajudada pelas também anciãs artes da música, arquitetura e poesia – impulsionou a arte para um novo estado. Suas novas telas priorizam formas geométricas e fazem referência a estruturas arquitetônicas. O andamento, no entanto, não é mais o da bossa-nova. Na capsula-ateliê onde morou nos últimos meses, Parigi acelerou o tempo para trás e achou tanto metaesquemas quanto Op arte.

“Art is finished, painting has died and I am not feeling very well myself.” This joke told amongst art critics bears an important fact about the relationship between the pathos of a society and its painting. Saying that painting has died is recognising that there is no more will to carry on. Rodolpho Parigi’s work signals a change in mood. In his first individual exhibition, Rodolpho Parigi makes reference to Concretism, the Brazilian art movement in which precisely painting – helped by the also ancient art forms of music, architecture and poetry – drove art to a new state. His new canvasses prioritise geometric shapes and make reference to architectonic structures. The pace, however, is no longer that of bossa nova. In the workshop-capsule where he has lived for the last


Metadilema 2009 -- colagem/collage -- 35 x 70 cm

Em seguida, acelerou-o para frente e entrega-nos essas telas loiras, exageradas em suas cores cítricas e nas formas estilhaçadas pela velocidade: concrete blonde. A velocidade marca a produção de Parigi. Muitas coisas acontecem em cada centímetro quadrado de suas telas, como se o observador estivesse sobrevoando a realidade em um veículo muito rápido. Lá de cima, a paisagem se altera drasticamente a cada segundo. E essa parece ser a perspectiva de quem acompanha a carreira desse artista: em poucos meses, observa-se muitas mudanças. As formas orgânicas da série “Limite” de 2008 se transformaram em paisagens caóticas e geometrizadas nesse início de 2009, como se descrevessem um lugar “que de tão caótico chega a ser orgânico, como a cidade de São Paulo”, segundo o artista. Em “Limite” a composição sugeria uma viagem endoscópica que terminava em uma ruptura violenta. Nas

few months, Parigi rewound time and found both meta-schemes and Op art. He then fast-forwarded to present us with these blonde canvasses, with exaggerated citric colours and shapes splintered by speed: concrete blonde. Speed marks Parigi’s artwork. All sorts of things are going on in each square centimetre of his canvasses, as if the observer were flying over reality in a high-speed vehicle. From up above, the landscape changes drastically from one second to the next. This would seem to be the perspective of those who have accompanied this artist’s career: in the space of a few months, numerous changes are seen. The organic forms of the 2008 series “Limite” are transformed into chaotic and geometric landscapes in this early part of 2009, as if they


telas de “Concrete Blonde” o olho não passeia mais dentro de um organismo, mas parece estar pregado a um corpo em movimento acelerado. A prática diária de Parigi em seu ateliê começa com várias horas de desenho antes de iniciar a pintura. Como um alongamento antes da corrida, esses desenhos esticam e desembaraçam os fios das pesquisas do artista. Na série de desenhos Florais, linhas pretas sobre papel branco exercitam o traço preto que em 2008 Parigi aplicava a paredes brancas. Nos desenhos da série Gold Maps, cabeleiras douradas soltam-se num fundo preto, como uma cabeleira de Berenice

were describing a place “which is so chaotic that it seems organic, like the city of São Paulo”, according to the artist. In “Limite” the composition would suggest an endoscopic journey which would end in violent rupture. When regarding the Concrete Blonde canvasses, one’s eye no longer gazes into an organism, but rather seems to be fixed to a body in high-speed motion. Parigi’s daily practice in his workshop begins with several hours of drawing, before starting to paint. Like stretching before running, these drawings elongate and disentangle the threads of the artist´s researches. In the series Florais, black lines over white paper exercise the black traces Parigi used to apply to walls in 2008. In the drawings from the series Gold Maps, golden wisps of hair flow against a black background, like Berenice´s hair that, against a dark sky, mixes up with straight lines that seem to demarcate constellations. On these golden maps, the reference to a trip crossing a universe full of stars mirrors the research process Rodolpho Parigi carried on within the last months: traveling throughout the world, from Paris to Ouro Preto, the artist stared at the sky of art history and delighted in its shines. The gold of the Gold Maps, for example, was found at the summit of

Limite 8 2007 -- acrílica e óleo sobre tela/acrylic and oil on canvas-- 210 x 135 cm


Gold map 2008 -- caneta dourada sobre papel/golden pen on paper -- 70 x 100 cm

que, num céu escuro, mistura-se com linhas retas que parecem demarcar constelações. Nesses mapas dourados, a referência a uma viagem que cruza um universo cheio de estrelas espelha o processo de pesquisa que Rodolpho Parigi empreendeu nos últimos meses: viajando pelo mundo, de Paris a Ouro Preto, o artista olhou para o céu da história da arte e deliciou-se com seus brilhos. O ouro de Gold Maps, por exemplo, foi achado no apogeu do barroco mineiro, no século XVIII, esse barroco fora de hora que reaparece na produção dos artistas brasileiros de tempos em tempos.

Brazilian Baroque, in the eighteenth century, this delayed Baroque that reappears in Brazilian artists´ productions from time to time. The work on canvasses comes after these disciplined exercises with drawing and, also diligent and time-consuming, reaches a final effect of speed and disorder. The painting Waves is a selfappropriation after the painting Concrete, from 2008, the first raid of Parigi through geometric



Concrete Blonde 2009 -- acr铆lica e 贸leo sobre tela/acrylic and oil on canvas -- 150 x 330 cm




Waves 2009 -- óleo sobre linho/oil on flax -- 210 x 480 cm página anterior/previous page

O trabalho com as telas vem depois dos exercícios disciplinados com o desenho e, também minucioso e demorado, atinge um efeito final de velocidade e desordem. A tela Waves é uma auto-apropriação a partir da tela Concrete, de 2008, a primeira incursão de Parigi pelas formas geométricas. Manipulando uma imagem de Concrete em um programa de computador, Parigi chegou, graças ao acaso, a uma reordenação de cortes verticais da imagem original. Após três meses de trabalho, a imagem digital tomou corpo em óleo sobre linho. Metadilemas, uma homenagem de Parigi aos Metaesquemas de Hélio Oiticica, incita a pintura a sair do plano pela vibração, quase insuportável aos olhos, do encontro entre rosa e verde fosforescentes. As outras telas apresentadas na exposição Concrete Blonde reafirmam essa paleta de cores brilhantes. Parigi espalha pelo campo todo das pinturas os amarelos, verdes e rosas dos marcadores de texto, mas não salienta nenhuma frase, omite foco e centro em composições hiperativas: o campo todo acontece, os eventos são simultâneos, chegam à superfície da tela ao mesmo tempo, como um livro em que todas as linhas estão em highlight. Essas cores extremamente artificiais fazem parte de nossa paisagem cultural e tecnológica. São as cores oferecidas

forms. Using a computer to manipulate an image of Concrete, Parigi achieved, by chance, a reordering of vertical stripes from the original image. After three months of work, the digital image embodied into oil on linen. Metadilemmas, homage to Hélio Oiticica´s Metaesquemas, incites painting to release itself from the plane by deploying the vibration, almost unbearable for the eyes, produced by the encounter of luminous pink and green. The other paintings presented in the exhibition Concrete Blonde reaffirm the palette of luminous colors. Parigi splashes paint across the whole field of the canvasses, with yellows, greens and pinks of highlighter pens, yet does not underline any phrase; there is no focus or centre in these hyperactive compositions: the whole field happens, the events are simultaneous, they reach the surface of the screen at the same time, like a book in which all the lines are highlighted. These extremely artificial colours are part of our cultural and technological landscape. They are the colours offered in the palettes of computer programmes. More than just a pictorial style, what


nas paletas dos programas de computador. Mais do que um estilo pictórico, o que as telas de Rodolpho Parigi mostram é um estilo cognitivo. Compreendemos bem nesse início do século 21 as cores fluoretadas, o apetite voraz por mudanças, o tempo acelerado. Nossos corpos estão habituados a entender drásticas mudanças de paisagem em poucas horas de voo, drásticas mudanças de forma em poucas horas de cirurgia plástica, e a decifrar simultaneamente as informações que recebemos, ao mesmo tempo, do celular, do email, do rádio, do interfone. Nossas patologias são lindas, muito bem maquiadas e altamente high-tech. A arte não morre, e a pintura nem aparenta a idade que tem: Rodolpho Parigi vem tratando-a com cores vitaminadas e muito exercício.

Rodolpho Parigi’s canvasses portray is a cognitive style. In this start of the 21st century we fully comprehend the fluorescent colours, the insatiable appetite for change, time in fast-forward. Our bodies are used to getting to grips with drastic changes of scenery in just a few hours of flight, drastic changes in shape in just a few hours of plastic surgery, and to simultaneously deciphering the information we receive through our mobile phones, email, radio, interphone. Our pathologies are beautiful, with good make-up and extremely high-tech. Art does not die, and painting hardly looks its age. Rodolpho Parigi has been busy treating it with high-vitamin colours and plenty of exercise.

agradecimentos/thanks Melina Valente Fabio Cypriano Eduardo Ortega Vick Garaventa


texto/text paula braga

abertura/opening 05.02.2009 20 > 23h

[capa/cover] detalhe de /detail from Concrete Blonde 2009 -- acrílica e óleo sobre tela/ acrylic and oil on canvas -- 150 x 330 cm

produção/production fernanda engler fotografia/photography eduardo ortega projeto gráfico/graphic design tecnopop

exposição/exhibition 05.02 > 14.03.2009 seg/mon > sex/fri 10 > 19h sáb/sat 11 > 15h

diagramação/design fernanda figueiredo assessoria de imprensa/press agent marcy junqueira tradução/translation ben kohn patrocínio/sponsorship

avenida europa 655

apoio/support

são paulo sp brasil 01449-001 t 55(11)3063 2344 f 55(11)3088 0593 info@nararoesler.com.br www.nararoesler.com.br


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