tomie ohtake
o elogio da linha, a carne da cor
the praise of the line, the flesh of color
agnaldo farias
agnaldo farias
Na presente exposição de Tomie Ohtake, como raramente acontece, pinturas e esculturas, todas de produção recente, aparecem juntas, uma situação que, somada a seleção de um conjunto particularmente heterogêneo de pinturas, faz com que a mostra ganhe a força de um balanço, como se a artista resolvesse repassar alguns dos caminhos percorridos nas duas últimas décadas, avaliando os resultados obtidos em cada um dos meios, as aberturas e os intercâmbios que eles propiciaram e que confluíram nos extensos limites de sua obra. A presença das esculturas aqui é uma decisão importante. Embora Tomie Ohtake a venha praticando há pelo menos três décadas e com mais ênfase nos últimos anos, sobretudo a partir de sua sala especial na 23ª. Bienal de São Paulo, em 1996, a maior parte de suas esculturas é pública, obras no geral de grande escala, implantadas em cidades distantes uma das outras, fora da vista de
The current exhibition of works by Tomie Ohtake is a rare event at which her recent paintings and sculptures come together. Enhanced by the particularly heterogeneous selection of paintings, this circumstance imparts to the show the nature of a balance, as if the artist had meant to revisit some of the paths that she treaded over the two past decades, and to appreciate the results attained by each of her media, namely the new developments and interchanges made possible through them, which yielded the far-reaching limits of her oeuvre. The attendance of sculptures in this show represents a significant decision. Although Ohtake has been practicing sculpture over at least three decades and, with greater emphasis, in the past few years – particularly as from her special room at
Sem título/Untitled 2008 -- tinta automotiva sobre aço carbono tubular/automotive paint on carbon steel
quem freqüenta suas exposições em museus e galerias. A opção por apresentar ao lado de pinturas um pequeno mas significativo números de esculturas lineares realizadas em tubos metálicos pintados de branco, termina por evidenciar a agilidade do raciocínio da artista, a maneira desenvolta com que ela lida com linha, uma das protagonistas recorrentes de sua obra, fazendo-a transitar do espaço plano da tela para o espaço do ambiente, saltando de um para o outro, conquistando seu lugar no mundo. Acompanhando a perspectiva de súmula dessa mostra de agora, a reunião de pinturas e esculturas justificase também como uma estratégia capaz de amenizar o apagamento do processo embutido dentro de quase todas exposições. Conhecer obras de arte através de exposições realizadas em museus e galerias, por continuadas vezes que elas sejam visitadas, é muito diferente de vivenciar sua produção, acompanhar as mudanças ocorridas, registrar
the 23rd São Paulo International Biennial, in 1996 --, for their better part her sculptures are large-scale public works installed in different cities, far from the view of visitors who come to her exhibitions in museums and galleries. The option for presenting, side by side with paintings, a small and yet significant number of linear sculptures made with metal tubes painted white demonstrates the agility of the artist’s reasoning and the unencumbered manner in which she handles the line (a recurrent protagonist in her oeuvre), making it shift from the flat canvas surface to three-dimensional space, moving back and forth and conquering its place in the world. In step with the abridgment proposed in the present exhibition, the gathering of paintings and sculptures is also justified as a strategy capable
Sem título/Untitled 2008 -- acrílica sobre tela/acrylic on canvas -- 150 x 150 cm
os vários impasses, as diferenças entre o que se pretendia e o que efetivamente se obteve, os cancelamentos e os êxitos, assistir ao nascimento de obras geradas a partir de problemas suscitados por aquelas que a precedem, enfim, a consideração e o equacionamento equilibrado de um grande número de variáveis. No caso dessa exposição o confronto entre pinturas e esculturas atenua esse problema; diante de uma e de outra infere-se, entre outros aspectos, alguns a serem tratados mais adiante, a distância entre os gestos fixados por lápis ou pincel, cuja desinibição e habilidade traduzem-se em linhas de extração múltiplas, de uma outra família de gestos, convocados para a manipulação de arames ou chapas finas de metal dos quais a artista se vale para fabricar suas maquetes, base de suas esculturas. De um lado a linha descrita na superfície de um tecido, um plano bidimensional retesado num chassis de madeira, definindo formas fechadas, sugestões de sementes, corpos e vórtices de energia,
of softening the fading of the process inherent in nearly all art shows. To view works of art in exhibitions held at museums and galleries, no matter how many times, is quite different from living through the experience of their production, checking new changes, taking note of the various deadlocks and differences between what was aimed and what was actually attained, the failed attempts and the successes; and witnessing the birth of works generated by issues brought up by preceding works. In other words, it is to take into consideration the balanced combination of a large number of variables. In the case of this exhibition, to a certain extent the confrontation between paintings and sculptures lessens this problem. When faced with one and the other, the viewer infers, among other aspects, a few issues to be addressed further down the line, the distance between gestures inscribed by brush or pencil, the uninhibited nature and ability of which are translated into lines of multiple extraction. These are gestures from another family, called upon to manipulate wires and thin metal sheets that the artist uses to build her models, the base for her sculptures. On the one hand, there is the line drawn on the surface of a fabric, a two-dimensional plane
Sem título/Untitled 2008 -- acrílica sobre tela/acrylic on canvas -- 125 x 125 cm
ou abertas como as bordas cambiantes de um território continuamente alagado; linhas que, em todos os casos, poderão flutuar, dividir ou submergir nos planos coloridos confeccionados em soluções distintas, da fatura homogênea e inconsútil à textura vaporosa, manchada e atmosférica. De outro lado os gestos miúdos e destros frutos da conversa das mãos com os materiais; um exercício executado na escala de objetos dos quais resultam essas esculturas com pouca massa, quase que só profundidade; que abraçam o ar através de torções, envergamentos e estiramentos sutis, dir-se-ia que inconclusos. Explorando a potencialidade do material através de formas claras e concisas, limpas ou beirando o emaranhamento, demonstrando a persistente plasticidade do espaço, sua infinita maleabilidade, a artista lança mão de matéria pouca, pedaços de arame finos, como maneira de sugerir que elas prosseguem pelo invisível. A presença das duas modalidades expressivas freqüentadas por Tomie Ohtake reforça assim a propriedade de seus gestos e, indo além disso, até porque sua poética não se resume ao jogo com a linha, demonstra a amplitude de sua poética, o modo como ela opera a relação entre cor, plano e linha, engendrando situações tão diversas quanto surpreendentes. Destaque-se que para essa exposição, como já foi dito, a artista optou por uma seleção imprevistamente heterogênea, ainda que a primeira vista, em razão da habilidade patente nos resultados obtidos, ela nos sugira coesão e calma.
stretched on a wooden chassis, defining closed forms, suggestions of seeds, bodies and vortexes of energy, or yet opened as the shifting borders of a continually flooding land -- a line that, in all cases, can be split, float or submerge in the color surfaces built with different solutions: from an homogeneous and seamless making, to a vaporous, blotched, and atmospheric texture. On the other hand, there are the small and skillful gestures generated from the conversation between hands and media, an exercise performed in object scale to produce sculptures with little bulk and practically all depth -- sculptures that embrace the air with subtle and possibly unconcluded twists, bends, and stretches. Whether exploring the potential of the materials through clear, clean and concise forms, or bordering on entanglement, thereby demonstrating the persistent plasticity of space and its infinite
Correndo o risco de uma afirmação paradoxal, afinal tratase de uma pintora que nada tem de conceitual e cujas esculturas, conquanto frequentemente enxutas, possuem materialidade inequívoca, a invisibilidade sempre foi um predicado da obra de Tomie Ohtake. Dito de outro modo, e agora em relação a sua pintura, é notável a sutileza de sua fatura, o modo com que ela, com a proximidade do olhar e o conseqüente exame vagaroso, desacelerado, contraria aquilo que se apreende de um só golpe. A homogeneidade tonal resulta de mesclas cromáticas em alguns casos dificilmente perceptíveis, como se fora resultante de um lento processo de decantação. E se o desenho nítido obtido pelo jogo entre formas e cores é algo que se resolve à distância, pela via de uma gestalt clara e singularmente compacta de que a artista é uma mestra reconhecida e admirada, o avizinhamento progressivo do olhar revela justamente o contrário: uma misteriosa unidade entre a luz e a cor dissolvida numa gama
malleability, the artist resorts to small amounts of matter (pieces of thin wire) as a means to suggest that her sculptures follow the way of the invisible. Thus, the attendance of two of Tomie Ohtake’s expressive media reasserts the adequacy of her gestures and reaches further, as her poetics is not limited to the play with the line: it demonstrates the breadth of her poetics, the way in which she handles the relations between color, plane and line, engendering situations that are as diverse as they are surprising. It should be noted that, as we have mentioned, here the artist has opted to show an unpredicted heterogeneous selection, even if at first sight, given the artist’s manifest ability, the final result may suggest cohesion and calm. At the risk of constituting a paradoxical statement, as Ohtake is a painter that shuns the conceptual and whose sculptures, albeit clean for their most part, boast an unequivocal materiality, invisibility has always been a predicate in her work. Put in a different way, and now in relation to her painting, the subtleness of her rendition is remarkable, in particular because the spectator’s close-up gaze and slow, attentive examination counters all that is apprehended from the piece at first sight. The tonal homogeneity results from color mixes that in some cases are hardly perceptible, as if resultant from a slow decantation process. And if the clear drawing obtained through a game of forms and colors is something discernible from the distance -- through a clear and uniquely compact Gestalt at which the artist is a renowned and celebrated expert --, the progress of approximation of the gaze reveals the complete opposite: a mysterious combination of light and color dissolved Sem título/Untitled 2008 -- acrílica sobre tela/acrylic on canvas -- 150 x 150 cm
irisada de subtons ou mesmo de tons contrastantes. Cada pintura é dotada de uma vibração interior, mais ou menos ostensiva, como seria com um teatro de sombras submerso na penumbra. Este é o caso de duas pinturas horizontais, um formato que se diferencia das outras, pautadas em variações em torno do quadrado. Tirando partido dessa característica que favorece as pinturas que retratam paisagens, Tomie Ohtake ocupa diagonalmente os três metros de extensão, o que impede a sensação de estabilidade que uma linha horizontal poderia garantir. Três linhas inclinadas atravessam a tela da esquerda para a direita, de baixo para cima, em ondulações suaves e desencontradas. Embora caminhem juntas, uma ao lado da outra, o desenho formado por cada uma acusa o modo particular com que sofrem o delicado impacto de uma força que lhes é transversal. Há algo de vista aérea nessa pintura, semelhante ao que se vê quando, à beira mar, colocamo-nos rente a água, apreciando de cima o chão sob os nossos pés, o sutil vaivém das ondas convertidas em lâminas finas, executando na areia um desenho acidentado, composto de bordas curvas, ininterruptamente destruído e reconfigurado. Por baixo das três linhas, sem se confundir com elas, ainda que com o mesmo sentido de movimento diagonal, distinguem-se três planos cor de rosa – um claro e dois mais escuros. Não são três mas quatro. Um deles, situado na parte inferior e do lado direito da tela, só se adivinha de perto e com a vista atenta: trata-se uma tonalidade rosa um grau abaixo do tom vizinho. O rosa, em razão de associações variadas e de seu uso banalizado, é uma cor evitada por pintores, salva quando se trata de gente como Volpi, Tomie Ohtake e, entre os mais jovens, Paulo Pasta. Consciente desse problema a artista cuida em refreá-lo, aproximando-o, ainda que longinquamente, do terra. Travado, o rosa corre baixo, rente ao chão, sem que sua efusividade seja comprometida. O plano mais claro, um rosa leitoso, mais extrovertido, chama a atenção para si, convertendo-se na fonte aparente do movimento que anima a tela. Mas não se trata só dele: o movimento do conjunto
in an iridescent range of subtones or even in contrasting tones. Each painting on show has been endowed with a more or less ostensive inner vibration, somewhat like a theater of shadows shrouded in dimness. Such is the case with two paintings that stand out for their horizontal format, and that feature a series of variations of the square. While taking advantage of this characteristic that favors landscape painting, Tomie Ohtake developed a three-meter long diagonal, thereby checking the notion of stability that a horizontal line could offer. Three inclined lines traverse the canvas from left to right, from bottom to top, in gentle undulations in disarray. Despite proceeding together sideby-side, the drawing formed by each of these lines denounces the particular manner in which they suffer the delicate impact of a force that is transversal to them. This picture brings aerial painting to mind, something similar to what we see when we go to the beach and stand on the waterline, looking down at our feet and the subtle to and fro motion of the waves turned into fine sheets, and rendering on the sand an uneven design with curved edges, which is continually destroyed and reconfigured. Under the three lines and without becoming one with them despite conveying the same diagonal movement, there are three pink planes, one of which is relatively light and the other two, darker. In fact, they are not just three planes, a fourth one situated on the bottom right part of the canvas is only glimpsed by alert eyes, from the close distance: it is rendered in a hue of pink that lies just below the neighboring pink tone. On account of both, the various mental associations it evokes and its banalized use, pink is a color that painters avoid, except when these painters are people such as Volpi, Tomie Ohtake
Sem título/Untitled 2008 -- acrílica sobre tela/acrylic on canvas -- 70 x 150 cm
emana sobretudo do desencontro entre linhas e planos; animadas do mesmo modo, linhas e planos não se fundem, evoluem em separado, dotados de autonomia. Esse mesmo princípio, segundo o qual a linha fica desobrigada de cumprir a função de contorno, adstrita e portanto confinada às bordas do plano, é reiterado na segunda tela horizontal e a rigor está presente em muitas das telas aqui apresentadas. A segunda tela horizontal apresentada nesta exposição, pintura que acompanha o mesmo raciocínio da primeira, distingue-se daquela não só pelas cores, nela as linhas brancas sobrepõem-se a três planos, um preto e dois cinzas, mas especialmente porque as cores, não todas, não são aplicadas homogeneamente. Enquanto os planos intermediários, preto e cinza, comportam-se do mesmo modo que os da primeira pintura, os planos
and, among the younger peers, Paulo Pasta. Aware as she is of this issue, the artist strives to curb it by approximating the pink dye, even if remotely, to an earthen tone. Thus refrained, the pink brushwork lies low, closer to the floor, without having its effusiveness jeopardized. The lighter plane is rendered in a more extrovert milky pink; it draws the viewer’s attention and becomes the apparent source of movement that animates the canvas. Yet this is not all: above all, the movement of the entire composition emanates from the incongruity between lines and planes. Similarly animated, lines and planes do not meld; they are developed separately as independent elements. This same principle according to which the line is
das extremidades superior esquerda e inferior direita, diversamente, são manchados. E é justamente aí que reside um dos pontos fortes dessa grande artista: as qualidades da cor exploradas de acordo com o modo de aplicá-la sobre a tela. A variedade e a correspondente consciência da potencialidade de cada um dos pincéis utilizados são os verdadeiros responsáveis pelos planos perfeitamente homogêneos, como também por aqueles manchados, difusos, compostos por planos sobrepostos, leves e translúcidos mas que também podem ser dotados de gravidade, limpos e contínuos ou integralmente dilacerados, como um mosaico formado por cacos pequenos e que de longe simulam uma unidade que não existe. Tomie Ohtake explora a versatilidade do instrumento demonstrando-o parceiro inestimável na obtenção de cores, uma vez que uma cor, qualquer que seja ela, varia consoante o material em que for aplicada, numa pedra, folha de papel ou chumaço de algodão, como também de acordo com a maneira como é aplicada: dissolvida e suscetível aos acidentes do suporte em que se deposita; empastada a ponto de converterse ela mesma num fenômeno topográfico; fraturada pelo confronto com outras cores ou convivendo placidamente com elas; flutuando acima de uma outra cor ou pesandolhe em cima, abafando-a, velando-a; perturbada por outras cores aplicadas abaixo de si e aí por diante. Em todos os casos, passíveis de ser avaliados nesta exposição, essas possibilidades são devidamente exploradas em associação com linhas, desenhos mais ou menos evidentes, mais ou menos secos, mais ou menos abstratos, sempre a disputar a nossa atenção. Nesse ponto convém rememorar o princípio clássico: pintura/cor é luz e atmosfera, desenho/gesto é estrutura e concentração. Tomie Ohtake lida igualmente com as duas
Sem título/Untitled 2008 -- acrílica sobre tela/acrylic on canvas -- 125 x 125 cm
freed from its role of contour (and hence restricted by and confined to the plane edges) is reiterated in the second horizontal painting, and in fact informs many of the canvases featured in this exhibition. The second horizontal canvas presented at this exhibition is a painting that follows the same reasoning of the first one. Yet, its differentiating features are not only the colors, but the fact that here the white lines are superimposed on three planes, one black and two gray. As to the colors, some of them are not applied in homogeneous manner. Whereas the intermediate planes -- the black and one of the gray ones – behave in like manner as those of the first painting, the planes at top left and bottom right are blotched. This is precisely where one of the strong points of this great artist resides: in the exploration of color qualities as she applies colors on canvas. The variety and respective potential of Ohtake’s paintbrushes are actually what create the perfectly
Sem título/Untitled 2008 -- acrílica sobre tela/acrylic on canvas -- 125 x 125 cm
instâncias, a ponto de não sabermos mais se é uma pintora que desenha ou o contrário. Especialmente após ela haver desencadeado sua copiosa produção escultórica. Se num primeiro momento o seu desenho colocava-se em relação com suas pinturas, a partir de um determinado momento as linhas foram para o espaço tendo como fundo a arquitetura dos ambientes ou a paisagem em que foram colocadas. Visitar essa exposição na Galeria Nara Roesler equivale a se deparar, a cada passo, com esse problema. É assim com a pintura quadrada escura confeccionada com pinceladas curtas e de orientação divergente sobre uma imperceptível base vermelha e em cuja parte inferior, insinua-se serpenteante uma linha vermelha álacre, ponta do iceberg oculto. O mesmo se dá com a grande tela quadrada em que sobre um fundo preto homogêneo pairam planos marrons alongados e transparentes de bordas sinuosas, rodeando
homogeneous surfaces, as well as the blotched and diffuse areas made up by the overlayering of light and translucent planes. In turn, the planes may also be laden with gravity, clean and continuous, or yet entirely lacerated, like a mosaic from shards, and that from the distance appear to have a (nonexistent) unity. Tomie Ohtake explores the versatility of the instrument, acknowledging it as her treasured partner when it comes to color making, given that a color, whatever it be, varies according with the material in which it is applied -- a stone, a paper sheet or cotton ball -- and also with the application procedure. A color may be dissolved and susceptible to the surface features of the support in which it is applied; it may be used in thick layers so that the pigment becomes a topographic feature in and of itself; it may be fractured in the clash with other colors, or it may coexist peacefully with them; it may float above other colors, or it may push them down, thereby stifling them, or shrouding them; it may be disturbed by other colors applied underneath it, and so forth. Whatever the case, all of them submitted for appreciation in this exhibition; these possibilities are duly explored in association with lines and drawings that are more or less evident, more or less dry, and more or less abstract, in their dispute for the viewer’s attention. Here the classical principle comes up as especially noteworthy: painting/color is light and atmosphere, a drawing/gesture its structure and concentration. Tomie Ohtake deals equally well in the two instances, to the point that we wonder whether she is a painter who draws, or the contrary, particularly after she unleashed her copious sculptural production. If at first her drawing
o centro da pintura, foco de um redemoinho provocado por finas linhas marrons que se expandem circularmente até esbarrarem nos limites da tela. O caso mais complexo será talvez a tela em preto, cinza e branco, povoada de formas orgânicas, cheias ou reduzidas a linha de contorno, aglomeradas e empilhadas até o limite superior. Oscilantes, as formas desprendem o discreto movimento de vegetais submarinhos, sensíveis às correntes de água, ventos espessos e invisíveis. Enquanto as pretas são afetadas pela gravidades, as cinzas elevamse, despregando-se do chão, embora não tanto quanto as brancas, mais aladas. Enquanto isso de cima abaixo flutuam as formas ocas, reduzidas à pele, evoluindo sobre a atmosfera silenciosa de um céu nublado. As formas que habitam essa tela, como é comum nas telas de Tomie Ohtake, são nítidas, estão no limite entre geometria como um puro produto da mente ou um resultado da contemplação das formas do mundo. Situadas entre um e outro, convertemse em enigmas. Próximas e fascinantes, ainda assim indecifráveis.
Sem título/Untitled 2008 -- tinta automotiva sobre aço carbono tubular/automotive paint on carbon steel
are related with her paintings, beginning at a certain point her lines shifted into space, having architecture or landscape for background. To visit this exhibition at Galeria Nara Roesler is to be confronted, step-by-step, with this issue. This holds true with the dark square painting made with brief brushstrokes applied in different directions on an imperceptible red base at the bottom part of which a winding and cheerful red line is insinuated, possibly the tip of a hidden iceberg. The same holds true for the large square canvas in which extended and transparent brown surfaces with sinuous edges hover over a homogeneous black background and surround the center of the painting, the focus of a vortex generated by fine brown lines that expand in circles to the canvas limits. The most complex case, perhaps, is that of the black, gray and white canvas peopled with organic forms that are either filled or reduced to contour lines, gathered together and piled up to the top edge. These oscillating forms bring to mind the discreet sway of marine plants that are sensitive to water currents, as well as invisible and thick winds. While the black ones are affected by gravity, the gray ones rise up away from the floor, although not as much as the white and more airborne elements. In the meantime, hollow forms reduced to skin float from top to bottom, as they develop in the silent atmosphere of a cloudy sky. As usually is the case with paintings by Tomie Ohtake, the forms that inhabit this canvas are clearly distinct; they stand in the borderline between geometry as a pure product of the mind and the result of the artist’s contemplation of forms and the world. Verging on one and the other, the paintings become enigmas. Close and fascinating enigmas, and even so, indecipherable.
abertura/opening 08.12.2008 19 > 23h
texto/text agnaldo farias produção/production teresa halfin fernanda engler
[capa/cover] Sem título/ Untitled 2008 -- acrílica sobre tela/acrylic on canvas -- 150 x 150 cm
exposição/exhibition 09.12 > 10.01.2009 seg/mon > sex/fri 10 > 19h sáb/sat 11 > 15h
fotografia/photography ding musa projeto gráfico/graphic design tecnopop diagramação/design fernanda figueiredo assessoria de imprensa/press agent marcy junqueira
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tradução/translation izabel burbridge patrocínio/sponsorship
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