REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #270

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ALGARVE INFORMATIVO Revista semanal - 31 de outubro, 2020

O MARAVILHOSO «ARDENTE» DA ACTA PAULO MURTA É O TREINADOR DO ANO | «QUANDO» DO LAVRAR O MAR | «MONDA» SOFIA ESCOBAR | CAMPEONATO NACIONAL DE FUTEVÓLEI | 1.º DIREITO EM LOULÉ 1 ALGARVE INFORMATIVO #270


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30 - Paulo Murta é o Treinador do Ano de Fundo, Meio-Fundo e Marcha

18 - Programa «1.º Direito» avança em Loulé ALGARVE INFORMATIVO #270

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OPINIÃO 120 122 124 126

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Mirian Tavares Ana Isabel Soares Júlio Ferreira Augusto Pessoa Lima

68 - Final do Campeonato Nacional de Futevólei em Albufeira

80 - Sofia Escobar em Loulé

106 - «Quando» do Lavrar o Mar em Marmelete

94 - MONDA em Lagos 11

46 - «Ardente» da ACTA no Lethes ALGARVE INFORMATIVO #270


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PROGRAMA «1.º DIREITO» GARANTE MAIS 320 NOVOS FOGOS NO CONCELHO DE LOULÉ Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina Primeiro-Ministro António Costa deslocou-se, no dia 23 de outubro, a Loulé para participar na celebração de um acordo entre a autarquia louletana e o IHRU – Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana para a criação de 320 fogos, ao abrigo do Programa «1.º Direito». Acompanhado pelo Ministro das ALGARVE INFORMATIVO #270

Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, e pelos Secretários de Estado da Habitação, Marina Gonçalves, e da Descentralização e Administração Local, Jorge Botelho, o líder governamental marcou presença no Cineteatro Louletano para testemunhar um momento importante para o desígnio nacional de se comemorarem os 50 anos do 25 de Abril, em 2024, tendo assegurado às 26 mil famílias que ainda não têm 18


habitação condigna, essa habitação, sendo que Loulé é o sétimo município português a firmar este protocolo. Um passo considerado também particularmente significativo para este concelho por Vítor Aleixo, que confessou que, “em sete anos que estou como

presidente da Câmara Municipal de Loulé, nenhum outro momento me realizou tanto como este que hoje estamos aqui a viver”. “Garantir 320 soluções habitacionais a quase mil dos nossos concidadãos é razão que justifica, por si só, estar na política para servir aqueles que precisam de nós. Todos sabemos que estamos a falar de um direito consagrado na nossa Constituição e de um bem indispensável a uma vida decente a 19

que muitas famílias de portugueses ainda hoje não tiveram o gosto de aceder. Por insuficiência de rendimentos das famílias, ou por incapacidade de resposta do mercado, ou por falta de políticas públicas consistentes para assegurar o acesso a todos a uma habitação condigna. Neste contexto de carência, a nossa visão é servir cerca de 1.400 agregados no acesso à habitação até 2030”, afirmou o edil louletano. Loulé está, deste modo, no pelotão da frente no que respeita à segunda geração de políticas de habitação lançada pelo governo português, em 2018, consubstanciada na Estratégia ALGARVE INFORMATIVO #270


Local de Habitação de Loulé, aprovada em maio de 2019. Neste caso concreto, o acordo de colaboração com o IHRU prevê diferentes soluções habitacionais, como a construção de prédios ou empreendimentos habitacionais; a reabilitação e/ou aquisição de frações ou prédios habitacionais; e a aquisição de terrenos e construção de um empreendimento em regime de habitação a custos controlados. O investimento total rondará os 44 milhões de euros, com uma comparticipação não reembolsável do IHRU de 15 milhões de euros, vindo o restante montante de um empréstimo bonificado (25,5 milhões de euros) e de fundos próprios camarários na ordem dos 2 milhões e 770 mil euros. Neste quadro financeiro encontram-se ainda previstos 100 agregados familiares, enquanto beneficiários diretos, que poderão contar também com o apoio do ALGARVE INFORMATIVO #270

IHRU, por exemplo, caso sejam proprietários de um prédio degradado. Vítor Aleixo lembrou ainda que, a par deste programa de apoio público desenvolvido pelo Governo, a Câmara Municipal de Loulé tem em curso outros projetos para resolver os problemas habitacionais do concelho, seja através do arrendamento apoiado ou do arrendamento acessível. Para esse efeito, promoveu uma consulta para a aquisição e arrendamento de imóveis destinados a habitação pública e adquiriu, em Loulé, oito lotes de terreno para a implantação de 128 focos habitacionais para arrendamento apoiado e acessível, assim como imóveis no centro histórico de Loulé para reabilitação destinados a este programa de habitação. A autarquia tem igualmente objetivos e projetos 20


para vários pontos do concelho com vista a solucionar os problemas habitacionais dos seus munícipes, nomeadamente em Almancil, Quarteira, Boliqueime, Ameixial, Alte, Salir ou União de Freguesias de Querença, Tôr e Benafim. Aliás, numa das próximas reuniões camarárias será lançado o concurso público para a construção de 17 fogos no âmbito do projeto de moradias unifamiliares em Salir para renda apoiada e acessível, enquanto que, na cidade de Loulé, destaca-se a reabilitação do Bairro Municipal Frederico Ulrich (antigo bairro operário), composto por 48 fogos. A par de pretender assegurar uma habitação para a população mais carenciada, o objetivo deste programa passa também por criar condições de acesso à habitação em arrendamento 21

acessível à classe média, em particular às novas gerações, estando mobilizados, para o «1.º Direito», 1.251 milhões de euros. “É um programa

ambicioso que chegou no momento certo para se finalmente completar a construção de um verdadeiro Estado Social, sem o qual a democracia poderá, a prazo, colapsar. Estamos numa corrida contra o tempo e no meio de uma tempestade avassaladora. Queremos, nos 50 anos do 25 de Abril, ter o problema da habitação razoavelmente resolvido, como também já foi publicamente assumido pelo Primeiro-Ministro. Vamos fazer a nossa parte para ALGARVE INFORMATIVO #270


levar justiça e felicidade às pessoas para quem trabalhamos, mas ter chegado aqui deu bastante trabalho”, sublinhou, antes de deixar um aviso à oposição: “Vamos entrar, em breve, em ano de eleições autárquicas e não faltarão as vozes daqueles que fazem tudo, sempre bem e depressa, e em qualquer circunstância. A esses peço que critiquem, porque é esse o vosso papel, mas façam-no com elevação e honestidade. A Democracia agradece”, apelou Vítor Aleixo. “Quero pedir aos munícipes louletanos que tenham confiança. Para nós, a habitação é uma prioridade, está no ALGARVE INFORMATIVO #270

nosso ADN político preocupar-nos com o Estado Social e, dentro de um ano, aproximadamente, se tudo correr bem, estaremos a realojar as primeiras famílias”, antevê o presidente da Câmara Municipal de Loulé.

LOULÉ É UM EXEMPLO PARA TODO O PAÍS Depois de assinado o acordo, o Ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, reconheceu que “a Câmara

Municipal de Loulé foi muito para lá daquela que era a política pública enquadrada no «1º 22


Direito»”. “O trabalho que fizeram foi excelente do ponto de vista de estudo do mercado, da procura, do envolvimento da população, olhar para lá do próprio concelho. Loulé fez um trabalho extraordinário que gostávamos que servisse de exemplo para o país e também para o Algarve, que é a região mais afetada em termos de habitação, a par da zona metropolitana de Lisboa”. O governante sublinhou ainda que a promoção da habitação gerará igualmente outros efeitos positivos na região, como o reativar da atividade económica, a criação de emprego, o melhoramento das condições para a coesão social e territorial, em suma, 23

tornará o Algarve mais atrativo e com maior capacidade para fixar população. Pedro Nuno Santos lembrou que são as autarquias quem melhor conhecem as carências reais dos cidadãos, pelo que serão fundamentais para o sucesso do «1.º Direito». E admitiu que Loulé é dos concelhos de Portugal onde as dificuldades de acesso à habitação mais se fazem sentir, devido aos elevados preços praticados pelo mercado. “Isso

torna ainda mais premente a necessidade de resposta pública a um problema ao qual o país, na Democracia, nem sempre lidou da melhor maneira. Fizemos um trabalho fabuloso em termos de saúde pública e da escola pública, edificamos um sistema público de ALGARVE INFORMATIVO #270


pensões, mesmo com todas as dificuldades de um país que não é rico. Na habitação não tivemos o mesmo sucesso”, admitiu o Ministro. “Ninguém consegue planear e estruturar uma vida, pensar no quer que seja, se não tiver um lar. Loulé foi o primeiro Município do Algarve a ter uma Estratégia Local de Habitação aprovada, gostávamos que servisse de exemplo para os restantes concelhos algarvios e que, na medida das suas possibilidades, pudesse mesmo dar apoio a alguns dos seus colegas”, pediu o Ministro das Infraestruturas e da Habitação. “Se todos nos envolvermos como Loulé, vamos conseguir dar resposta a este desígnio lançado pelo Primeiro-Ministro”. O problema da habitação atingiu, no entanto, uma dimensão tal em Portugal que mesmo pessoas com rendimentos médios sentem dificuldade em ter casa própria. “São centenas de milhares

de jovens que querem autonomizarse, saírem de casa dos seus pais, constituírem família, e não conseguem, mesmo pertencendo à classe média”, salientou Pedro Nuno Santos. “As políticas públicas do Estado Social não têm que dar resposta apenas às minorias com mais dificuldades, mas a toda a população. Por isso, temos também o Programa de Arrendamento Acessível. A habitação é o último ALGARVE INFORMATIVO #270

pilar do Estado Social que falta edificar, mas, em Portugal, apenas 2% do parque habitacional é público”.

“ALGARVE VAI TER MAIS DINHEIRO PARA FAZER FACE À CRISE”, GARANTIU ANTÓNIO COSTA Numa altura em que o Algarve é uma das regiões mais atingidas pela crise económica em que o país mergulhou desde o início da pandemia da covid-19, devido, sobretudo, à quebra sentida no turismo, o Primeiro-Ministro anunciou, em Loulé, o aumento dos apoios financeiros à região. “O Algarve vai

ver reforçado o seu Plano Operacional Regional com uma dotação própria que lhe permitirá, na prática, duplicar, nos próximos sete anos, o acesso a fundos comunitários. O Algarve é uma região de transição há vários quadros comunitários e tem sido das regiões de Portugal, a par de Lisboa, que menor volume de fundos comunitários tem conseguido mobilizar. Nesse sentido, no próximo quadro financeiro plurianual, vamos passar dos 300 milhões de euros, para mais de 600 milhões de euros de dinheiros europeus destinados ao desenvolvimento do Algarve”, revelou. “No entanto, como sabemos que o Algarve tem 24


desafios muito específicos, no Programa de Recuperação e Resiliência – um programa de natureza excecional desenvolvido pela Comissão Europeia para responder à crise económica que estamos a viver – elegemos também o Algarve como destinatário de um programa especial, na área do Ambiente, para responder à eficiência hídrica da região, no valor de 200 milhões de euros. E isto seja pela necessidade de combater as perdas da rede, ou pela necessidade de encontrar novas formas de abastecimento,

designadamente pelo recurso à dessalinização. Ou seja, entre o próximo quadro financeiro plurianual e o Programa de Recuperação e Resiliência, o Algarve vai dispor de mais 500 milhões de euros, que acrescem ao que tem sido habitual nos últimos anos, ou seja, o recurso a 300 milhões de fundos comunitários, para executar ao longo de sete anos. Isto sem excluir a oportunidade que as autarquias e empresas do Algarve têm de aceder a outros programas específicos”, explicou António Costa.

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Na cerimónia de assinatura do acordo entre a Câmara Municipal de Loulé e o IHRU – Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana no âmbito do Programa «1.º Direito», António Costa declarou que o governo tem a obrigação acrescida de contribuir para a diversificação da base económica do Algarve, “de forma a que a região

possa ser mais resiliente a crises cíclicas que possam atingir o setor do turismo, sem que, naturalmente, deixe de trabalhar para continuar a ser um dos grandes destinos turísticos à escala mundial”. “Sabemos bem as dificuldades que o Algarve sente, dai o nosso esforço em apoiar iniciativas que procuram ir animando a atividade da região, como a realização do Grande Prémio de Fórmula 1 e do MotoGP”, exemplificou, não esquecendo algumas carências estruturais da região, como a eletrificação da linha ferroviária, o desenvolvimento do projeto do novo Hospital Central e a revisão do tarifário das portagens na Via do Infante. “Existe

da nossa parte um compromisso muito sério com o Algarve, uma região fundamental para o desenvolvimento de Portugal. Para a generalidade dos portugueses, o Algarve é um local de veraneio onde aparentemente só há boas casas e hotéis de luxo, para além das boas praias, do excelente peixe e da simpatia dos algarvios. Mas depois há um «outro» Algarve que os ALGARVE INFORMATIVO #270

veraneantes não conhecem, aquele onde vivem e trabalham as pessoas 365 dias por ano”, indicou António Costa. Resolver os problemas de quem vive permanentemente no Algarve, mas também daqueles que é necessário atrair para a região, é, portanto, uma prioridade para o governo português, aludindo às dificuldades sentidas na colocação de novos professores, médicos ou enfermeiros. “Esta é uma

das regiões onde muito claramente as políticas públicas de habitação são absolutamente centrais. A Democracia Portuguesa esgotou o seu esforço da política de habitação com o programa de erradicação das barracas, na segunda metade da década de 90, e depois, fruto, ou do congelamento das rendas, ou do crédito fácil e barato, foi-se entendendo que o acesso à habitação estava assegurado”, comentou o Primeiro-Ministro. “Como é evidente, o congelamento das rendas não era sustentável e o acesso à habitação por via do endividamento das famílias não foi saudável e criou um enorme fator de imobilidade. Era, portanto, imperioso termos uma segunda geração de políticas de habitação, que privilegiasse o arrendamento em detrimento da habitação própria, que privilegiasse a reabilitação em 26


detrimento da construção nova, que respondesse às carências de habitação social que não ficaram todas resolvidas com a erradicação das barracas, mas também às necessidades da classe média e das novas gerações”, frisou António Costa. O Primeiro-Ministro realçou a importância das parcerias com as autarquias locais para o êxito do «1.º Direito», por conhecerem, melhor do que ninguém, as necessidades das suas populações, mas recordou que se trata de uma verdadeira corrida contra o tempo.

“Para executarmos os 1.251 milhões de euros destinados pelo Programa 27

de Recuperação e Resiliência ao «1.º Direito», temos três anos para chegar à fase de assunção de compromissos e temos mais três anos, no máximo, para poder executar. Agora não existem desculpas. Há um objetivo perante o qual já nos tínhamos comprometido, as autarquias estão a trabalhar na elaboração das suas estratégias municipais e temos agora recursos financeiros que antes não tínhamos. É tempo de arregaçarmos as mangas e trabalhar”, reforçou António Costa .

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PAULO MURTA É O TREINADOR DO ANO NO MEIO-FUNDO, FUNDO E MARCHA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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erça-feira, final de tarde, início de noite, temperatura já pouco agradável para se andar na rua, nada que atemorize a dezena e meia de jovens atletas do Clube Oriental de Pechão que treinavam afincadamente num dos parques de estacionamento do Estádio do Algarve, às ordens de Paulo Murta. Um pechasense que foi recentemente eleito, pela ATAP – Associação de Treinadores de Atletismo de Portugal, como Treinador do Ano do Setor de Meio-Fundo, Fundo e Marcha, modalidades onde existem, sem dúvida, mais atletas no país. E se já ter sido nomeado para os três finalistas – a par de Sameiro Araújo, do Sporting Clube de Braga, e de Rui Silva, medalha olímpica e campeão do mundo em pista coberta que ALGARVE INFORMATIVO #270

agora é treinador de jovens atletas do Benfica e Sporting – tinha sido uma enorme surpresa para Paulo Murta, maior foi o seu espanto quando venceu mesmo o prémio. Uma distinção que, diga-se de passagem, só é mesmo uma surpresa para quem não conhece o trajeto deste algarvio que há mais de duas décadas se dedica, de corpo e alma, ao atletismo, nomeadamente ao meio fundo e marcha, em paralelo com a sua atividade profissional do dia-a-dia. “Na

província, somos todos treinadores de atletismo, ao passo que, nos clubes de maior dimensão das grandes cidades, os treinadores estão divididos por setores – corrida, saltos, barreiras, velocidades, 32


lançamentos, etc.”, explica Paulo Murta, lembrando que o Clube Oriental de Pechão prossegue a sua atividade no atletismo há 42 anos sem interrupção, um caso único na região. “Não é sócio

fundador da Associação de Atletismo do Algarve, mas é o associado que tem mais anos consecutivos de prática e com muitos atletas filiados. Aliás, na última década, só houve um ano em que não ultrapassamos a fasquia da centena de atletas federados”, enaltece o entrevistado, enquanto os seus pupilos iam fazendo o aquecimento nesta noite friorenta de Outono.

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De facto, na época desportiva 2019/2020, o Clube Oriental de Pechão contou com 122 federados, depois de, na anterior, ter batido o recorde com 128 federados, e toda esta quantidade se traduz, felizmente, em bastante qualidade. “O Pechão foi dos

poucos clubes do país que ganhou medalhas, em marcha, nos Campeonatos Nacionais, em Sub18, Sub20, Sub23 e Seniores”, destaca Paulo Murta, assim se comprovando que a olímpica Ana Cabecinha, apesar de ser o grande porta-estandarte do clube, não é a única a suplantar a concorrência no plano nacional. “Temos o Pedro Dias

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e a Maria Bernardo… mas também o Etson Barros, que representa o Benfica há duas épocas e que foi 4.º classificado no Campeonato da Europa de Juniores e ganhou dois títulos em pista coberta e outro ao ALGARVE INFORMATIVO #270

ar livre. Como é óbvio, o clube não podia «cortar as pernas» a um dos seus jovens, mas ele optou por continuar a treinar comigo. Este ano tivemos também sete ou oito atletas em pista coberta, nos 34


O prémio de Treinador do Ano da ATAP vem juntar-se a uma série de outros como melhor Treinador do Algarve e a várias distinções entregues pelo Município de Olhão e outras entidades regionais, com Paulo Murta a realçar, contudo, aquele que recebeu, em 2016, da Associação Europeia de Atletismo. “Claro que ser

reconhecido como o melhor treinador de um determinado sector a nível nacional me enche de orgulho e demonstra que, apesar do Benfica e Sporting serem os clubes portugueses mais visíveis neste momento, existem muitos outros que, não tendo futebol, são grandes no atletismo”, sublinha, embora admita que, em emblemas de maior dimensão que dispõem de melhores condições de trabalho, seja mais fácil os resultados aparecerem. “Penso que, neste

800 e 1.500 metros. Curiosamente, até nem ganhamos muitas medalhas nesta temporada, porque nem se realizaram os Campeonatos Nacionais de Marcha e Corta-Mato por causa da pandemia”, conta o entrevistado. 35

prémio, contou muito a meu favor o facto de eu, com dois ovos, conseguir fazer uma omelete grande, quando os outros têm cinco ovos para fazer a mesma omelete. Em Pechão não temos pista de atletismo, recorremos frequentemente às pistas municipais de Faro e de Vila Real de Santo António, ou a privadas, como a do hotel na Aldeia das Açoteias. Mas temos uma coisa fundamental, as condições naturais do Algarve para a marcha e corta-mato”. ALGARVE INFORMATIVO #270


Outra dificuldade com que se debate o Clube Oriental de Pechão é o facto de estar bastante longe dos locais onde se disputam as competições oficiais, com Paulo Murta a falar em cerca de 20 a 30 mil quilómetros percorridos todos os anos para ir às provas. “Apesar disso, o

Pechão está no Top 10 no atletismo nacional. Numa disciplina ou outra estamos mais à frente, noutras estamos mais atrás, mas, no global, somos dos clubes com mais atletas desde a formação à alta competição. Neste momento, temos duas atletas a lutar por uma vaga nos Jogos Olímpicos”, diz o treinador, referindo-se a Ana Cabecinha e Edna Barros. Predicados que justificam a preferência de atletas provenientes de ALGARVE INFORMATIVO #270

diversos concelhos algarvios, casos de Faro, São Brás de Alportel, Tavira e Loulé. “Evidentemente que a

maioria são do concelho de Olhão, mas, destes 122 federados, só 14 é que são mesmo da Freguesia de Pechão. Optam pelo Clube Oriental de Pechão pela qualidade do trabalho que se faz e, acima de tudo, pelo espírito de grupo, pela amizade, por se sentirem bem na equipa. Esta noite, por exemplo, estão aqui seis raparigas de São Brás de Alportel e quatro rapazes de Faro”, aponta Paulo Murta, já com os atletas a treinarem fervorosamente no parque de estacionamento do Estádio do Algarve. 36


PECHÃO É UM DOS «GRANDES» DO ATLETISMO NACIONAL Títulos coletivos não faltam, sem dúvida, ao Clube Oriental de Pechão, tanto em pista coberta como ao ar livre, mas Paulo Murta revela que, em 2020, a aposta se direcionou mais para as capacidades individuais dos atletas do que para a performance geral da equipa, por se estar em Ano Olímpico. “As baterias

precisam estar apontadas para aqueles dois ou três atletas que podem ir aos Jogos Olímpicos. A Ana Cabecinha está praticamente

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garantida, porque vão participar 60 atletas, já há 27 com mínimos olímpicos e ela está a apenas quatro segundos dessa marca. A Edna Barros também poderá entrar, perfeitamente, através do ranking global, se fizer três provas de bom nível”, indica o entrevistado. Ana Cabecinha que é, de facto, o exemplo perfeito de amor à camisola do Clube Oriental de Pechão, uma vez que, ao longo da sua carreira, muitos foram os clubes de maior envergadura que a tentaram contratar. “Decidiu

manter-se por Olhão e pelo

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Algarve, para o que contou, como é óbvio, o apoio da autarquia local. A Ana é uma bandeira do Clube e de Município e ninguém duvida que a ela se deve o elevado número de atletas que temos na equipa, os muitos jovens que vêm de outros concelhos para Pechão, porque querem ser como ela”, assume, sem rodeios, Paulo Murta. “A Ana Cabecinha mantém-se no Pechão ALGARVE INFORMATIVO #270

devido ao respeito e carinho que nutre pelo clube e por todas as pessoas que a ajudaram, desde a formação até atingir a alta competição, mas também pela ajuda financeira que recebe da Câmara Municipal de Olhão por representar o concelho nas provas internacionais, nomeadamente nos Jogos Olímpicos. E isso faz com que não 38


se justifique ir para outro clube, até porque o Pechão já é considerado por muitos como um dos «grandes» do atletismo nacional”. Seja como for, Paulo Murta volta a dizer que o Clube Oriental de Pechão não «corta as pernas» a ninguém, até porque é permitido aos atletas defenderem as cores de um clube e serem orientados por outros treinadores, como sucede com Etson Barros. “Nós temos as

melhores condições para treinar meio-fundo, fundo e marcha, há inúmeros percursos na praia, no campo, na estrada, para além de pistas de atletismo. Por isso, há muitos atletas algarvios que pertencem a clubes de outros pontos do país, mas continuam a viver e treinar no Algarve. Às vezes, por 200 ou 300 euros não se justifica mudarem, porque aqui, nas suas terras, têm o reconhecimento permanente da população, da freguesia, da câmara municipal”, entende, admitindo, todavia, que o caso é mais complicado quando os jovens atingem a idade de rumar ao ensino superior. “A universidade não está

preparada para o desporto de alto rendimento, as duas coisas raramente se conseguem conciliar. Há atletas que tiram a sua licenciatura, mas estão num atletismo de menor grau de exigência, outros estão na alta-roda e demoram mais uns anos a completar o curso. E, quando alguns 39

vão para faculdades de Lisboa e Porto, já não regressam”, lamenta Paulo Murta. “Mas eu quero sempre o que for melhor para eles, que tenham estudos, que sejam melhores homens e mulheres no futuro. Se conseguirem tirar rendimento desportivo em simultâneo, ótimo, se não conseguirem, têm de seguir as suas vidas”.

COVID-19 MUDOU TUDO NO ATLETISMO A conversa vai prosseguindo com algumas pausas, momentos necessários para Paulo Murta dar mais indicações aos seus atletas e para conferir os tempos realizados. E, por breves momentos, quase nos esquecemos de que vivemos numa pandemia. “Está a ser uma

experiência única. A 12 de março fechamos o clube, ficaram apenas quatro a seis atletas de alto rendimento a treinar, porque não sabíamos o que ia acontecer a seguir. Fomos adiantando os objetivos, ‘talvez isto’, ‘talvez isto’. Disputaram-se campeonatos nacionais em pista, com distâncias adaptadas, inclusivamente na marcha e no meio-fundo, mas o pior é agora. Recomeçamos os treinos há cerca de mês e meio e a Associação de Atletismo do Algarve quer organizar provas, ALGARVE INFORMATIVO #270


assim o permita a Direção-Geral de Saúde, nomeadamente as de recinto onde se consegue controlar a afluência de público. Já nas provas de estrada, corta-mato ou trails não podemos evitar que as pessoas apareçam. É certo que não há muito público no atletismo, mas é algum”, refere o entrevistado, lembrando que o Campeonato Nacional de Corta Mato está agendado para 28 de novembro, numa povoação próxima de Aveiro, e que o Campeonato Nacional de Marcha está previsto acontecer, em Olhão, a 20 de ALGARVE INFORMATIVO #270

dezembro. “Se calhar com menos

atletas, num local onde não haja público e com maiores margens de segurança, mas é uma prova fundamental para a qualificação olímpica”. Com a formação parada, uma vez que a época desportiva 2020/21 está em stand-by, as atenções focam-se, sem dúvida, nos Jogos Olímpicos, que foram adiados para 2021, mas Paulo Murta garante que a preparação está a ser completamente diferente do que sucederia em circunstâncias normais. 40


“Não podemos, por exemplo, treinar em grupo como antigamente e já tivemos provas em contrarrelógio. Para se poder bater uma marca, um atleta puxa nesta volta, outro puxa naquela volta, é toda uma dinâmica coletiva diferente. E, se a parte teórica muda, quanto mais a prática”, esclarece, mostrando-se preocupado, sobretudo, com os mais jovens.

“Ficaram seis, sete, oito semanas em casa, sem treinar, o que é complicado. Em julho começamos com grupos separados de 10 atletas, paramos em agosto, regressamos em setembro, com grupos até 15 atletas. E isto veio dificultar ainda mais a utilização das pistas de atletismo existentes na região. Ninguém coloca em causa as recomendações da Direção-Geral de Saúde, por isso, estamos aqui a treinar num parque de estacionamento, o que se pode traduzir num atraso de alguns segundos em certas provas. No entanto, o mais importante é estarem ativos, puderem fazer aquilo que gostam, estar com os amigos e colegas, sempre cumprindo todas as normas de segurança do distanciamento, do uso de máscara e da higienização. Quando chegam ao treino é logo medida a temperatura, mas, mesmo em grupos profissionais que fazem 41

a tal «bolha», aparecem casos de covid-19”, diz, preocupado. Os cuidados são muitos e a inquietação tornou-se uma constante no dia-a-dia, mas Paulo Murta alerta que está em risco toda uma nova fornada de atletas. E notaram-se logo as quebras de desempenho nos jovens que ficaram em casa durante o período de confinamento. “Verificou-se um

retrocesso em algumas das suas qualidades naturais, como o ser ágil, o saber a lateralidade, o saltar, coisinhas básicas que se perderam. Porque, não havendo atividade física, ficam dependentes das redes sociais, dos telemóveis, tablets e computadores. Estão muito bem a mexer os dedos, mas o resto do corpo está parado”, avisa o treinador, já para não falar das questões psicológicas. “Vemos

miúdos que não falam com ninguém, não veem o sorriso dos outros, não há contatos físicos ou brincadeiras. Como educador, temo que isto, no futuro, possa deixar marcas na sociedade”. Levar Ana Cabecinha e Edna Barros aos Jogos Olímpicos é o grande desejo do Clube Oriental de Pechão, mas Etson Barros também seria um candidato natural a uma medalha no Campeonato da Europa de Corta-Mato na categoria de juniores, prova que, entretanto, foi cancelada. E se o calendário de 2021 é conhecido de ALGARVE INFORMATIVO #270


todos, Paulo Murta só tem plena convicção da realização dos Jogos Olímpicos, tudo o resto é uma incógnita.

“Não há possibilidade de se adiar, poderão é ter menos atletas – todos a serem testados e ficarem isolados na Aldeia Olímpica – e com pouco ou nenhum público. Quanto aos outros campeonatos internacionais, não estou tão certo”, comenta. Entretanto, no plano nacional, o treinador do Clube Oriental de Pechão recorda que se realizaram, em julho e agosto, os campeonatos das várias categorias, mas em locais diferentes para evitar as deslocações dos atletas. “Chegamos a

fazer campeonatos em sete pistas em simultâneo e depois juntavamse rapidamente os tempos e as distâncias, mas não é a mesma coisa. Em primeiro lugar, as condições atmosféricas não são iguais em todo o lado, o que beneficiou uns resultados e prejudicou outros. Mais afetada foi, todavia, a parte tática em algumas disciplinas. Há atletas que são excelentes em campeonatos porque sabem «ler» a prova, posicionar-se da melhor forma para atacar no momento exato, tendo em conta o desempenho dos adversários. Mas foi um mal menor, era pior não se terem realizado provas nenhumas”, reconhece Paulo Murta. De volta ao início da conversa, ser Treinador do Ano é bom para o ego, enche o pechasense de orgulho, mas o ALGARVE INFORMATIVO #270

quotidiano prossegue exatamente igual. “O que conta é o futuro, o

passado fica para trás. Não é um prémio que me enriqueça financeiramente, que me dê melhores condições de trabalho ou que me dispense da minha atividade profissional para me dedicar mais aos treinos. Claro que o reconhecimento é sempre bom e agradeço imenso à ATAP pelo prémio, porque o país inteiro falou de Pechão. Só que o prémio não é do Murta, é de toda a minha equipa de trabalho”, assegura, não esquecendo os restantes técnicos, para além do fisioterapeuta, do psicólogo e do biomecânico que ajudam na preparação dos atletas de alto rendimento. “Até mesmo do

motorista do clube que leva os atletas para os treinos, assim como os pais e mães, porque o atletismo é uma modalidade familiar e para a vida. E o atletismo só existe em Pechão porque temos o apoio do Município de Olhão e das Freguesias de Pechão, Quelfes, Olhão, Moncarapacho e Fuzeta, da Lusitânia Seguros, que é nosso patrocinador há muitos anos, e outros sponsors regulares para as nossas atividades. A todos eles se devem as centenas de medalhas que o Clube Oriental de Pechão conquistou nestes 42 anos” . 42


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«ARDENTE» - O DRAMA DE PEDRO E INÊS DE PORTUGAL NUM ESPETÁCULO SIMPLESMENTE MARAVILHOSO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #270

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stá em cena no Teatro Lethes, em Faro, até dia 8 de novembro, «Ardente – Memorial para Pedro e Inês de Portugal», um espetáculo da ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve com características muito diferentes e com direção de um dos mais conceituados criadores teatrais europeus, Leszek Mądzik. Em palco temos um teatro sem palavras, no qual a narrativa é construída pela música, pelo ALGARVE INFORMATIVO #270

silêncio, pela luz e ausência dela, e pela gestualidade dos atores. “É um

teatro que investe na plasticização das emoções”, explica a ACTA, sobre esta peça que fala da tragédia de Pedro e Inês, que, de acordo com a generalidade dos estudiosos, é o terceiro tema mais abordado pelas Artes e Literaturas de todo o mundo, só atrás de Jesus Cristo e de Napoleão.

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A ACTA convidou o encenador polaco Leszek Mądzik, que conheceu a tragédia de Pedro e Inês nos bancos do liceu, para trabalhar num espetáculo que refletisse a sua própria experiência interior de contacto com este tema que o acompanha há mais de cinquenta anos.

“Cheguei a Alcobaça e, no templo dos monges de Cister, reparo nos dois túmulos. A fria pedra branca une-os com misteriosos laços. Os 49

catafalcos parecem dois leitos coroados com dois corpos de pés virados um para o outro. Sugerem que, no momento da ressurreição, virão a unir-se num amplexo. O desejo de permanecerem juntos após a morte vem da grande força do seu amor”, conta o encenador. A imaginação de Leszek Mądzik quebra então estes imóveis, silenciosos ALGARVE INFORMATIVO #270


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e adormecidos blocos de pedra, pretendendo chegar ao princípio desse amor marcado pelo drama, pelo êxtase e pelo ardente sentimento de desejo entre estes dois jovens. “Para eles, o deleite

de estar juntos continuará eternamente e nunca mais será ameaçado. Sei que o fio da felicidade se quebrou de maneira brutal e traiçoeira e deixou Inês morta nos braços de Pedro; que o tempo levou aqueles que cometeram o brutal crime contra a bela castelhana. Só o poder do amo «ressuscita» o cadáver de Inês coroado pelo seu amante”, descreve o polaco, lembrando o que um monge de Cister escreveu a propósito: “Mandou o

rei descobrir o cadáver e assentá-lo 51

no trono. O abade trouxe uma coroa de ouro e o rei organizou uma estranha cerimónia de beijar a mão fria de Inês como de uma rainha. E todos tiveram de estar presentes. Esta imagem leva-me a crer que, um dia, ambos vão ressuscitar dos mortos e, unidos pela nudez dos seus corpos, entregues ao seu amor ardente, deixarão a fria pedra dos túmulos. Penso por imagens e por imagens vou contar esta história”. «Ardente – Memorial para Pedro e Inês de Portugal», que estreou no dia 24 de outubro, tem uma estratégia narrativa livre, pois não pretende seguir o roteiro histórico do tempo e da ALGARVE INFORMATIVO #270


tragédia em questão, inclinando-se, sim, para uma abordagem de pendor mítico, por um lado, e para uma reflexão sobre o Amor e a Morte, por outro. De acordo com Luís Vicente, Diretor da ACTA, a mensagem gravada no túmulo de Inês – Até ao fim do Mundo – constitui o ponto de partida para uma narrativa que projeta algumas particularidades do par de amantes, o carácter transgressor da sua ALGARVE INFORMATIVO #270

relação e a decisão de Pedro em desenterrar Inês para a coroar rainha.

“Mas estes são aspetos de circunstância. A alusão ao tema de Pedro e Inês é usada para significar um amor incondicional, para além da morte. Por isso, o espetáculo começa com Pedro e Inês já nos túmulos. A partir 52


daqui, convida-se cada espetador a convocar os arquétipos, esses lugares da densidade e mistérios, de simplificação e clareza”, afirma Luís Vicente. Com Criação Cénica de Leszek Mądzik e Coordenação e Dramaturgia de Andrzej Kowalski e Direção Musical de Zé 53

Eduardo, «Ardente – Memorial para Pedro e Inês de Portugal» conta com a interpretação maravilhosa de Bruno Martins, Carlos Pereira, Cátia Alhandra, Glória Fernandes, Luís de A. Miranda, Luís Manhita, Tânia da Silva e Ricardo Correia. Simplesmente, imperdível, uma experiência para não mais esquecer . ALGARVE INFORMATIVO #270


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MIGUEL PINHEIRO E NELSON PEREIRA SAGRARAM-SE CAMPEÕES NACIONAIS DE FUTEVÓLEI EM ALBUFEIRA Texto: Daniel Pina| Fotografia: Vítor Pina/Federação Portuguesa de Futevólei

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iguel Pinheiro e Nelson Pereira, a dupla mais titulada e com maior palmarés do futevólei nacional, recuperaram o título perdido em 2019, após terem sido campeões nacionais durante cinco anos consecutivos. A Fase Final do Campeonato Nacional de Futevólei de 2020 disputou-se, de 23 a 25 de outubro, na Praia dos Pescadores, em Albufeira, e contou numa primeira fase (23 outubro) com nove equipas no qualifying de acesso, com quatro vagas em discussão para o quadro principal na prova. Conhecidos os 16 finalistas, a prova principal iniciou-se na manhã do dia 24, com as equipas divididas em quatro

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grupos, perfazendo um total de 24 jogos para apurar diretamente as primeiras quatro equipas para os quartos de final, sendo que as outras quatro seguiram para os Oitavos de Final, que tiveram lugar até ao anoitecer. O domingo foi o dia decisivo da 15.ª edição da principal prova nacional da modalidade, com quatro jogos de extrema importância para as oito equipas ainda em prova. Depois de uns Quartos de Final plenos de espetáculo e emoção no areal da capital do turismo, seguiram-se as Meias Finais, onde os campeões nacionais de 2019, Beto Correia e Filipe Santos, acabariam por sair derrotados frente aos seus compatriotas do CD Póvoa, perdendo assim a oportunidade de revalidar o título. No outro jogo das meias, os experientes Alan Cavalcanti e

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Pedro Salvador não conseguiram levar a melhor sobre os compatriotas da EF Alan Cavalcanti. O derradeiro lugar no pódio foi encontrado num jogo disputado em um único set, com Beto Correia/Filipe Santos a serem mais eficazes, vencendo Alan Cavalcanti/Pedro Salvador por 18 x 14. Dois cenários estavam em aberto para o derradeiro jogo: a reconquista por parte dos consagrados Miguel Pinheiro/Nelson Pereira, representantes do CD Póvoa; ou a estreia de Ruben Santos, que vem perseguindo há vários anos o lugar mais alto do pódio, a par com o estreante Bruno Menezes, representando a EF Alan Cavalcanti. Após um primeiro set verdadeiramente alucinante e bastante disputado, com o marcador a parar a sua 71

marcha nos 19 x 17, o segundo set viu uma dupla poveira mais segura no seu habitual jogo, defendendo bem e atacando melhor, pelo que conseguiram a vantagem suficiente para fechar o jogo em 18 x 13. Venciam assim a partida e, consequentemente, sagraram-se os campeões nacionais de 2020. Miguel Pinheiro soma agora sete títulos nacionais, conta ainda com dois títulos europeus e Nelson Pereira chegou ao 10.º título nacional, contando ainda com um título europeu no seu palmarés. A organização foi da Federação Nacional de Futevólei, com o apoio do Município de Albufeira, Sports Partner e de outros parceiros locais . ALGARVE INFORMATIVO #270


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SOFIA ESCOBAR E DOCENTES DO CONSERVATÓRIO DE LOULÉ NUM ENCONTRO MUSICAL INÉDITO NO CINETEATRO LOULETANO Texto: Daniel Pina| Fotografia: Jorge Gomes

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Cineteatro Louletano foi palco, no dia 24 de outubro, de um dos momentos musicais mais aguardados do ano a sul, com a internacionalmente aclamada cantora Sofia Escobar a juntar-se pela primeira vez a um ensemble de nove docentes do Conservatório de Música de Loulé Francisco Rosado para um concerto encomendado pelo Cineteatro em que participaram Luís Lopo (arranjos e direção), Sérgio Leite (piano), Rui Mourinho (guitarra), Rui Travasso (clarinete), João Lourenço (flauta transversal), José Gomes (violino), André Fresco (viola arco), Bárbara Santos (violoncelo) e Vasco Ramalho (percussão). O concerto, inserido no ciclo programático «O Longe é Aqui», seguiu-se ao encontro, também integrado na mesma rubrica, que juntou Jorge Palma com o Trio de Jazz de Loulé, evento que marcou a comemoração do Dia Mundial da Música. Sofia Escobar é uma das cantoras mais conhecidas em Portugal. Nasceu em 1981, em Guimarães, e no final do curso, no Conservatório do Porto, onde estudou canto clássico, decidiu arriscar tudo e pediu um empréstimo para poder estudar canto e representação na Guildhall School of Music and Drama, uma das mais conceituadas escolas de artes europeias. Mais tarde, conseguiu o papel de atriz suplente para a personagem principal de ALGARVE INFORMATIVO #270

«O Fantasma da Ópera», peça de Lloyd Webber, onde assumiu o papel principal. Ganhou o prémio para «Melhor Atriz num Musical» nos Whatsonstage Theatregoer’s Choice Awards e foi nomeada na mesma categoria nos Laurence Olivier Awards pela sua performance em West Side Story. Foi jurada do Got Talent Portugal 82


entre 2015 e 2016. Atualmente divide a sua vida entre Londres, Madrid e Lisboa. O Conservatório de Música de Loulé – Francisco Rosado, inaugurado em setembro de 2018, é a primeira escola pública de ensino de Música a Sul de Lisboa e é o reflexo de uma aposta vincada da autarquia louletana nas áreas da Educação e da Cultura, estando 83

instalado no emblemático (agora reabilitado) edifício do Solar da Música Nova. Tem atualmente diversas classes de conjunto entre coro, orquestras de cordas, de guitarras e de madeiras, ensembles de percussão, metais e sopros, música antiga, acordeão e piano, computando um total de 250 alunos e 35 docentes, com direção de Sérgio Leite . ALGARVE INFORMATIVO #270


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MONDA LEVARAM CANTE ALENTEJANO A LAGOS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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Centro Cultural de Lagos assistiu, na noite de 26 de outubro, a uma deliciosa viagem pelo Cante Alentejano, pelas mãos dos MONDA, agrupamento constituído por Jorge Roque, Pedro Zagalo e Herlander Medinas, a que se juntaram, neste concerto, João Tiago Oliveira e João Ferreira e o super convidado especial Vitorino. E os ingredientes de que é feita a inspiração que distingue este coletivo estão bem evidentes em cada uma das canções registadas no primeiro disco, lançado em 2016, onde se verifica uma nítida aproximação às novas tendências musicais, sem barreiras ou fronteiras demarcadas e próxima das gerações mais novas. O projeto MONDA criou, deste modo, uma abordagem contemporânea ao Cante Alentejano, considerado, a 27 de ALGARVE INFORMATIVO #270

novembro de 2014, como Património Imaterial da Humanidade, pela UNESCO, misturando a composição tradicional com os novos sons da world music. E as raízes, sentimentos e emoções que caracterizam a sua música têm um calor muito próprio.

“Porque MONDA é tudo o que as planícies do Sul nos oferecem: serenidade, força e distinção”, descrevem. Ao vivo, em Lagos, assistiu-se à celebração do Cante Alentejano, com uma nova cor e roupagem, num ambiente de festa genuína, apesar das restrições impostas pela pandemia da covid-19, com o público a deixar-se embalar frequentemente pelo ritmo e a juntar a sua voz às dos artistas. Um belíssimo espetáculo que fez parte das comemorações do Dia da Cidade de Lagos, assinalado a 27 de outubro . 96


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MARMELETE TRANSFORMOU-SE NUMA INSTALAÇÃO VIVA EM «QUANDO» Texto: Daniel Pina | Fotografia: João Mariano 1000Olhos

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«Lavrar o Mar» levou a cabo, de 15 a 18 de outubro, no Lugar da Rocha, em Marmelete, mais um impactante espetáculo inserido no programa cultural «365 Algarve», intitulado «QUANDO». A criação de Madalena Victorino fala sobre o poder fundador da fala, é sobre a terra, ALGARVE INFORMATIVO #270

e foi concretizado por um coletivo artístico constituído por Madalena Victorino, João Tuna, Joana Guerra, Remi Gallet, Pedro Salvador, Ricardo Machado, Rita Rodrigues, José Torres, António Torres, Rosário Pinheiro, Ana Costa, Maria Costa, Mariana Costa, Matilde Real, Inês Faria, Joana Martins, Sofia von Metzingen, Rezart Asllani, Alma Givon Whitelegg, Arménio 108


e esculpem-se ideias pela noite. Vamos devolver aos animais a sua transumância. Com o tempo, os rios da ficção e da realidade confluem numa difusa matéria de hipóteses”, descreve a encenadora e colíder do «Lavrar o Mar». No espetáculo, “fragmentos crus

da vida real são metamorfoseados pela máquina de filmar em objetos de ficção, transformando fronteiras que se tinham levantado para projetar um futuro”. Por isso, “QUANDO é uma enorme instalação viva e misteriosa cheia de acontecimentos que saltam fora dos ecrãs da vida para entrar no coração do público”. “É um trabalho em curso que procura a terra como elemento primordial e como lugar do existir”, acrescenta Madalena Victorino.

Raimundo, Marcin Osmański e Valentim Valentim. Segundo Madalena Victorino, existe uma sala no bosque onde os arquivos respiram e em que as palavras fossilizadas nas páginas “são como pedras que nos cortam o fôlego”. “No sossego

agitado das crateras, que são casas de terra, escavam-se possibilidades 109

Com imagem de João Tuna, Direção Técnica e Desenho de Luz de Joaquim Madaíl, Fotografia e Vídeo de Diogo Grilo e Pavel Tavares, «QUANDO» teve a participação especial de Alice Neves, Duarte Gama da Fonseca, Sasha Guru e Gaia Gorjão e os Guias foram Carolina Reis, Inês Melo Sousa, Marta Luz, Rebeca Vendrell e Vasco Almeida. Mais um produto com a enorme qualidade a que já nos habituou o «Lavrar o Mar» de Madalena Victorino e Giacomo Scalisi .

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OPINIÃO Até ao nosso encontro - Rúben Gonçalves Mirian Tavares (Professora Universitária) “A primavera é quando ninguém mais espera E desespera tudo em flor A primavera é quando ninguém acredita E ressuscita por amor (…)” José Miguel Wisnik

artista pede-me um texto para acompanhar o trabalho que produziu durante a quarentena. Não é um trabalho, fruto do excesso de tempo, que levou muitos a buscarem ocupações outras. O artista era artista antes, e o foi durante o período em que estivemos confinados, separados uns dos outros, enfrentando, muitas vezes, apenas a nós mesmos numa grande solidão. O inverno findava e a primavera chegou intramuros – vimos florescer, ao longe, dias e noites que deixaram de nos pertencer. Passeios vigiados, contidos. Encontros e abraços interditados, museus e galerias de portas fechadas e a arte a tentar exibir-se pelos ecrãs - distante, virtual, sem textura ou cheiro: sem presença. Quando vi as obras, mesmo através do ecrã, consegui sentir entre os meus dedos a aspereza, as ALGARVE INFORMATIVO #270

reentrâncias, os relevo das peças; as composições que se expandem de um quadro a outro, que se repetem, às vezes, que dialogam entre si, como se quisessem assim preencher o espaço entre as pessoas, entre as linguagens, o espaço que exige novos códigos e comportamentos: onde havia proximidade hoje impera o distanciamento social. As obras de Rúben Gonçalves, feitas para esta exposição e durante o confinamento, versam sobre a ideia de estarmos encerrados e provocaram em mim um grande impacto. Bloom fala-nos, daquele jeito que só poucas obras nos costumam falar, da primavera não desfrutada, que floresceu fora, mas também dentro de nós – as flores brotaram apesar de e por causa do isolamento, do momento em que fomos obrigados a ficar em nós, em nossos pequenos, ou grandes mundos/casas/lugares. Conspicio, do latim – compreender, mas também 120


Foto: Victor Azevedo

enfrentar, mirar, conjuga uma rima plástica com Bloom e dá o mote da exposição, composta por obras com títulos que evocam a experiência de estar confinado, longe da luz, a enfrentar as memórias e a absorver as distâncias que se converteram, de um dia para o outro, em intransponíveis. Rúben Gonçalves convoca a memória e percorremos com ele, obra a obra, um caminho que nos leva da escuridão à luz e nos traz de volta ao princípio, onde floresce a arte. 121

O artista pede-me um texto que ilumine o seu trabalho, que o traduza numa linguagem verbal, porque as imagens falam, mas nem todos conseguimos compreender. A única maneira de percebê-la é ultrapassar a distância que nos separa, é ir ao seu encontro. É mirá-la e deixar que a obra, por sua vez, olhe de volta para cada um de nós .

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OPINIÃO Terceira Tabuínha - Reconhecimento Ana Isabel Soares (Professora universitária) aquele dia – o dia de um ofício necessário e triste – estava Lisboa a seduzir. O céu abriase sobre as folhas novas da avenida, os perfumes misturavam-se no ar primaveril, uma secura instalava-se e calcava a humidade que o Inverno abandonara semanas antes. Cumprida a tristeza, libertava-se o pensamento para a felicidade de reencontros. “Iremos a pé”, decidi, e assim disse à amiga que me acompanhou (a que, indefetível e grande, almofadou a dor) – e descemos desde o final mais raso do Parque Eduardo VII até à Rua dos Correeiros, até à Paralelo W. “Mas o que vai acontecer lá?”, perguntou-me. Seria noutro lugar o benévolo trabalho do dia; na discreta rua da Baixa, encontraríamos primeiro dois livreiros, dois amigos, depois o autor de um livro que eu apresentaria passadas algumas horas, José Francisco Azevedo. “Não, ainda não o conheço”, respondilhe. “Vamos conhecê-lo agora”. O Paralelo W era uma livraria que era uma casinha: apartamento mínimo ao cimo de dois lances de escada, num prédio velho, sobre o turístico de restaurantes para onde nos chamavam a brandir menus. Uma livraria de porta ALGARVE INFORMATIVO #270

fechada, como era o salão de cabeleireira do mesmo piso, de onde se ouviam sobretudo vozes de mulheres, conversas, o som dos secadores. Tocavase a campainha e esperava-se que alguém viesse para abrir. Entrava-se para um corredor estreito – tão estreito que não passavam nele duas pessoas lado a lado, entrava-se como numa pequena procissão individual, como no passo justo de uma catacumba, os passos dos pés silenciados pela alcatifa e o cheiro ao fumo do tabaco. O cortejo começava em sorrisos largos: quem abria a porta entregava-os a quem a via aberta; quem a via aberta entregava-os a quem a abria. Era essa a chave. Foi a Inês Dias quem abriu, nesse dia, porta e sorriso, e anunciou que “O Zé Francisco está lá dentro”. Pensei, ainda a sorrir, que ia gostar de ver, por fim, o homem que fotografara os Mistérios, as imagens do livro que entretanto lera, que motivara os textos que sobre ele e nele se haviam imprimido (da Inês, do Manuel de Freitas, do Emanuel Cameira, do Pedro Candeias Gil), sobre o que dali a poucas horas falaria a um público igualmente próximo, igualmente benfazejo. Desvanecia-se a cada momento o meu Inverno. No fim do corredor havia a sala dos livros: uma mesa a meio, coberta por eles, rodeava-se de estantes que eles enchiam (do lado de lá, outra porta, 122


de vidro, dava para uma espécie de marquise que abria para o lugar entre prédios, para os ecos, as paredes e uma nesga de céu). À direita, ficava a saleta: uma divisão que eram duas, separadas só por um vão aberto: na primeira divisão, à esquerda de quem entrava, um sofá e uma pequena mesinha em frente dele; do lado direito da entrada (junto ao qual se ajeitava outra mesa pequenina, com exemplares do Cão Celeste), um espelho a toda a parede; de novo à esquerda, a seguir ao sofá e antes da janela, erguiase no pé alto um candeeiro – em frente, uma cadeira de baloiço. Na divisão mais afastada da porta ficava como que um escritório: a secretária a meio, cadeiras sob o vão e do lado de lá, janela para o mesmo saguão. Por cima da secretária, até ao teto, mais estantes, tantos livros. De frente para a secretária, de costas para a divisão primeira de quem entrava, havia um armário envidraçado, vidrado paralelepípedo na Paralelo, a guardar mais volumes, páginas mais cuidadas ainda. Lembro-me bem, se me lembrar que o Zé Francisco estava sentado na cadeira de baloiço? Na minha memória, foi ali que o vi, depois de quantas vezes antes o ter encontrado, a balouçar entre o desconhecido que ia ver e o familiar rosto de tantas horas, no Paralelo, no Bartleby, a chave do sorriso sempre na mão: “Ah, és tu!?”. (Os nomes eram os 123

Foto: Vasco Célio

nossos, mas, afinal, desconhecíamos que nossos eram – só os rostos nos pertenceram.) A Gabriela, a amiga que me segurou o dia, foi o pilar da ligeireza; a Inês e o Manel, outros tão doces amigos, a promessa do ar leve. O Zé Francisco disse-me com o olhar: “Não sumiste de nós. Vejo-te agora de novo como num dia novo. Reconheço-te”. (Que o céu, a terra – o que haja –, que tudo te seja leve, Zé Francisco, como o ar que leve tornaste em cada um dos dias em que te vi) . Apresentei Mistérios, de José Francisco Azevedo, na tarde de 25 de maio de 2018 na livraria Leituria, na Rua D. Estefânia, em Lisboa. É uma edição da Averno, com capa, paginação e arranjo gráfico de Pedro Santos. Foi organizada a partir de um convite do autor a Emanuel Cameira, Inês Dias, Manuel de Freitas e Pedro Candeias Gil. As fotografias de JFA foram tiradas entre 2013 e 2017. Sobre ele publiquei depois um pequeno ensaio no Cão Celeste derradeiro, o nº 13. ALGARVE INFORMATIVO #270


REFLEXÕES, OPINIÕES E DEMAIS SENSAÇÕES… Esquemático! Júlio Ferreira (Inconformado Encartado) ota aos digníssimos leitores que têm a coragem de ler as coisas que escrevo (sim, estou a falar com vocês os dois). O texto que se segue é baseado sobre as notícias que todos os dias nos chegam aos ouvidos sobre os chamados «esquemas». Seja sobre o Covid-19, na política, no desporto, na banca, internet, financeiros, esquemas na saúde, educação, enfim, existem esquemas para todos os gostos e feitios, em todo o lado. Basta estarmos atentos, é impressionante a quantidade e variedade de esquemas que diariamente são anunciados nas televisões ou nas páginas dos jornais, e quando isso acontece sabemos que se tratam de esquemas mal feitos, porque os esquemas bem feitos e bem montados são como os crimes perfeitos, ninguém os topa. Bom… pelo menos até serem apanhados. Sei é que este país é explorado por uma «Cosanostra» assumida, embora não saiba que «cosa» fazem para que a fatura seja sempre «nostra». ALGARVE INFORMATIVO #270

Deve ser uma das coisas em que nos tornamos peritos, arrisco mesmo a escrever que alguns tugas são mesmo imbatíveis. Para além de nós, não deve existir no mundo, povo que consiga produzir tantos esquemas em tão poucos quilómetros quadrados. Se estão a pensar nos brasileiros, esqueçam. Apesar de terem aprendido connosco a arte e de serem muitos mais do que nós, não nos chegam aos calcanhares quando analisamos a quantidade de esquemas per capita. Temos sempre aquela estranha impressão de que muito do que acontece nesta novela faz parte de um esquema qualquer, iniciado por alguém, para benefício próprio ou para prejudicar alguém. Todos nós sabemos que este pais à beira mar plantado continua a ser um espetáculo divertido onde o bilhete para assistir é caríssimo, mas há sempre quem arranje maneira de assistir de outra maneira que não seja a pagar, isso é para este «parvo» que escreve e para vocês os dois que com coragem e sacrifício continuam aí desse lado. Estamos tão habituados a viver neste esquema que já não ligamos para a 124


Normalmente quem está envolvido em grandes esquemas e é apanhado, goza de uma espécie de glorificação bacoca e sai normalmente impune do esquema, o que leva a crer que há uma espécie de respeito e admiração por quem é um grande esquemático (veja-se o caso do hacker). Aqui, neste rectangulozinho, é prestigiante enganar muita gente. Ao contrário, o pequeno esquema (também designado por esquemazinho) é altamente penalizado. O lema parece ser «se roubares, rouba com estilo e em grande».

maior parte dos esquemas. É como se fizessem parte do esquema. São os chamados esquemas habituais. Para quem os pensa e coloca em prática, acontecem tão naturalmente como o ar que respiram e não alinhar neles é capaz de os sufocar. Aquilo pelos vistos em primeiro estranha-se e depois entranhase de tal forma que nem com detergente «Presto» atestado de «glutões» (os mais novos podem pesquisar) lá vai. A dimensão do esquema também é importante nesta telenovela. 125

Temos finalmente uma classe de esquemas que parecem estar diretamente relacionados com a necessidade de protagonismo mediático que os portugueses de classe média têm vindo a desenvolver na última década, são os esquemas marados (também designados por esquemas do caraças). O objetivo destes esquemas é dar nas vistas, tentando assemelhar-se aos grandes esquemas, numa tentativa vã e desesperada de poderem ser considerados inteligentes, com o decorrente prestígio que daí advém. É claro que isto só denota a estupidez de quem os cria, é tido e sabido que um esquema, para ser grande, tem que ser acima de tudo muito discreto. E os esquemas marados têm invariavelmente a discrição de um elefante numa loja de cristais… Estão a ver o esquema? . ALGARVE INFORMATIVO #270


OPINIÃO A diferença enorme entre Cozinhar e fazer comida Augusto Pessoa Lima (Cozinheiro, Consultor e Formador) m termos gerais e analisando sem grande ou nenhum estudo, poderiam até alguns pensar que ambas são a mesma coisa, mas nada mais errado. Fazer comida é um acto artesanal básico, ligado ao instinto de sobrevivência, da necessidade de ingerir nutrientes – o que nutre a vida, que se iniciou no princípio, com o recolector, com a ingestão do que colhia e ainda de pequenos animais que consumia crus. Com o domínio do fogo, o homem descobriu que a carne, colocada junto a ele, era mais saborosa e que o tempo que demorava a digerir, era menor. Mas ainda não estava descoberta o acto de cozinhar, nem mesmo no início da utilização de utensílios rudimentares de barro em conjunto com a água quente e da aprendizagem de como ela transformava a carne e outros alimentos de forma parecida ao fogo, pois ele percebia, mas não entendia. Qualquer pessoa consegue alimentarse, cozinhando ou não. Se ela o fizer transformando os alimentos através do ALGARVE INFORMATIVO #270

calor, simplesmente, apenas verificando se está pronto, ou não, pela cor castanha ou a queimado, ou ainda pela dureza do alimento, estará a cozinhar, mas de forma básica, sem conhecimentos maiores ou detalhados. Pessoas assim não têm a capacidade de distinguir verdadeiramente um alimento bem, ou mal cozinhado, nem diferenciar o gosto de um ou de outro. Em crónica atrasada chamei a este processo – A Apologia do mau, no que refere ao alimento e à sua transformação, obviamente. Mau de mal cozinhado, de mau gosto. E tão mau como mau, é o que está a meio, em terra de ninguém e sem definição concreta. O acto de cozinhar engloba saber o porquê dos alimentos se transformarem através do calor ou da química, e de como atua nas diferentes proteínas e nas diferentes formas de cozinhar, denominadas de técnicas. Cozinhar é química pura. Os alimentos têm durezas diferentes e são cortados em tamanhos diferentes. Alimentos cozinhados inteiros ou cortados em pedaços actuam de forma diferente nas diferentes técnicas. Às diferentes técnicas estão associadas 126


diferentes proteínas e cortes ou mesmo aplicadas a peças inteiras. O tempo de cozedura que a minha mãe dava a uma peça de carne de vaca, de terceira categoria, como o chambão, não se equipara agora, passados quase quarente anos, pelo facto de a grande maioria dos animais serem criados em modo intensivo e a carne já não ter a mesma estrutura muscular. As escolas formam cozinheiros com categoria de 2.ª, técnicos de cozinha que precisam entrar no mercado de trabalho, para colocar o aprendido em prática, evoluindo no seu dia-a-dia, com erros que custam dinheiro, que colocam em causa a gestão desses locais. Como o saber não nasce connosco, ele é fruto de muita experienciação, vontade e trabalho. Tenho comparado ao longo dos anos as artes de cozinha e pastelaria com as Artes Marciais. Depois de obter o cinturão negro, a aprendizagem continua e alguns anos mais tarde, verificamos uma evolução natural de quem continuou a trabalhar a técnica aprendida. Em cozinha passa-se o mesmo. Cozinhar é muito mais para além de ler uma receita e executá-la. Temos que saber interpretar, verbo essencial para o sucesso. E em se tratando de receitas antigas, temos que saber adaptá-la ao tipo de calor usado e alimentos utilizados. Uma receita antiga, apenas porque é antiga, pode muito bem não ser boa, não ter sido bem escrita ou ter omitido um ou outro processo. Saber perceber isso faz toda a diferença. 127

E Tenho obrigatoriamente que falar no ensino da Cozinha. As escolas formam cozinheiros sem matérias importantes como História, Botânica, Biologia, ou Artes, Desenho Escultura. Mais grave é ver Cursos de Cozinha anunciados como Cursos de Chefes de Cozinha onde a duração é de 15 dias e o Módulo de Cozinha Internacional é de 24 horas, por exemplo. Cozinhar era um acto reservado aos Cozinheiros profissionais ou às Cozinheiras domésticas, muitas delas, a trabalhar em casas senhoriais, as Sopeiras, excelentes cozinheiras de mão cheia, com saberes passados pelas mães e avós, de forma oral, em aulas diárias, às quais pertenciam colher, escolher, temperar. E o saber vinha pela experimentação, pela asneira grossa sem remédio, mas com a possibilidade de não ser repetida no dia seguinte . ALGARVE INFORMATIVO #270


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