REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #295

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ALGARVE INFORMATIVO 12 de junho, 2021

VIVIANE ABRIU APETITE PARA O NOVO DISCO EM LAGOS CAROLINA FONSON | «O FANTASMA DAS MELANCIAS» | «MERCÚRIO RETRÓGADO» 1 INFORMATIVO #295 GEOPALCOS EM ALBUFEIRA | «WINDY» | «ECOSOFIA» | «UNS AMBALGARVE ALTRES»


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70 - «Uns Amb Altres» em Lagos 22 - GeoPalcos em Albufeira

90 - «O Fantasma das Melancias» em Faro 102 - «Mercúrio Retrógado» em Loulé

60 - Carolina Fonson em Loulé 32 - Viviane ao vivo em Lagos

OPINIÃO 112 - Paulo Bernardo 114 - Mirian Tavares 116 - Adília César ALGARVE INFORMATIVO INFORMATIVO #295 #295 ALGARVE

80 - «Windy» em Lagos 10 10


48 - «Ecosofia» em Lagos

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José Gameiro, Isabel Soares, Isilda Gomes, João Neto e Adriana Freire Nogueira

MUSEU MUNICIPAL DE PORTIMÃO RECEBEU MENÇÃO HONROSA PELA RECRIAÇÃO DA DESCARGA DA SARDINHA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina Museu Municipal de Portimão recebeu, no dia 10 de junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, a menção honrosa «Criatividade e Inovação», outorgada pela APOM – Associação Portuguesa de Museologia, pela recriação histórica realizada, a 6 de agosto de 2019, marcando, na altura, a antestreia da ALGARVE INFORMATIVO #295

edição desse ano do Festival da Sardinha ao recordar os tempos de chegada da faina da sardinha à zona ribeirinha e ao cais da cidade. A distinção nacional foi alcançada no âmbito da 25.ª edição dos Prémios APOM, entidade que nasceu, em 1965, para agrupar os profissionais de museologia e instituições equiparadas a museus, segundo os critérios estabelecidos pelo Conselho Internacional de Museus, bem como para promover o conhecimento desta 14


especialização profissional e dos domínios científicos e técnicos que a enformam. De sorriso nos lábios recebeu Isilda Gomes a menção honrosa atribuída pela APOM, mas depressa esclareceu que

“este diploma não é da Câmara Municipal, é de Portimão e dos Portimonenses”. “Quando aqui cheguei ao Auditório Júlio Bernardo lembrei-me das inúmeras vezes em que comi sardinha na «Muralha» e vi descarregar, ao vivo, a sardinha das «enviadas». Um povo sem história e sem memória é um povo sem futuro, pelo que a preservação e o estudo da história é a garantia do futuro de uma comunidade. Uma comunidade que rejeita a sua

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história e património não tem alicerces nem bases de apoio para o futuro”, avisou a presidente da Câmara Municipal de Portimão. “A pesca faz parte de nós, em especial a da sardinha, por isso, estas comemorações do 10 de junho ficarão para sempre nas nossas memórias. Este projeto representa a história de Portimão, dos Portimonenses, e também desta casa”, afirmou a edil, recordando as amarguras que sentiu, juntamente com José Gameiro, em tempos idos, quando era Vereadora da Cultura, para ver nascer o Museu Municipal de Portimão. “Eu e o

professor Gameiro estávamos constantemente à porta dos arquitetos à espera que nos

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Isilda Gomes, presidente da Câmara Municipal de Portimão

entregassem as peças para apresentarmos a candidatura para o Museu”, lembrou. Isilda Gomes não tem dúvidas de que os portimonenses devem sentir um enorme orgulho pelo «seu» Museu, por isso, apesar do ambiente de festa, a autarca não escondeu a tristeza por saber que alguns residentes do concelho ainda não visitaram este equipamento cultural de referência nacional e internacional. Mais satisfeita ficou ao anunciar que, em finais de agosto, o Museu Municipal de Portimão vai ter a sua própria «enviada», a «Moeira», embarcação que ia buscar o peixe ao largo da costa e que depois atracava junto ao cais para este ser descarregado. “E vamos finalmente ALGARVE INFORMATIVO #295

recuperar o «Portugal Primeiro», um sonho antigo desta autarquia”, revelou a presidente da Câmara Municipal de Portimão, manifestando ainda a vontade de se repetir a recriação histórica da descarga da sardinha. “Temos que

guardar a nossa história e levar a nossa memória aos mais jovens, para eles saberem quem verdadeiramente são. Se não soubermos quem somos, dificilmente saberemos para onde vamos”. “Não nos agradeçam por esta distinção, nós é que temos que 16


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João Neto, presidente da APOM

agradecer a Portimão por tudo o que faz pelo seu Museu e pela Cultura”, começou por dizer o presidente da direção da APOM, João Neto. “Tomara que Portugal tivesse

tantos bons exemplos como o Museu Municipal de Portimão. Portimão está sempre na linha da frente e, quando temos bons projetos, temos que os acarinhar e saber desenvolver”, frisou o líder da APOM. “Vocês são um marco importante da museologia, não só portuguesa, mas internacional. A memória, infelizmente, tem sido muito curta e os museus acarinham a memória de uma forma exemplar, ALGARVE INFORMATIVO #295

mas são também fonte de conhecimento, de um conhecimento que temos que garantir para o presente e para o futuro”, defendeu João Neto. Também presente na cerimónia esteve Adriana Freire Nogueira, Diretora Regional de Cultura do Algarve, que aproveitou para endereçar umas palavras especiais para o Grupo dos Amigos do Museu de Portimão, mas também para elogiar a postura da APOM ao percorrer o território nacional para entregar, em mãos, os prémios às entidades que foram galardoadas. “Os museus são

espaços, não apenas de exposição, mas de tudo aquilo 18


Adriana Freire Nogueira, Diretora Regional da Cultura do Algarve

que as musas representavam, e que tem a ver com a ciência, o estudo e a arte. E o Museu Municipal de Portimão é disso um excelente exemplo, porque se aproxima da comunidade onde se insere, escuta o que ela tem para dizer, preserva os seus conhecimentos e saberes. Com o projeto «O museu bate à porta da nossa história», por exemplo, desenvolve um trabalho consistente e permanente de preservação do vasto património, material e imaterial, que existe no concelho de Portimão”, destacou Adriana Freire Nogueira. “Vejo aqui pessoas apaixonadas pelo trabalho que realizam e penso que também 19

era importante que todos os museus tivessem um Grupo de Amigos, cidadão com gosto, interesse e empenho, sobretudo, vontade para se organizarem e apoiarem as atividades do museu que acarinham”, enalteceu. A Diretora Regional de Cultura do Algarve recordou, entretanto, que os Monumentos Megalíticos de Alcalar já passaram a ser geridos pelo Município de Portimão, o mesmo devendo acontecer em breve com as Ruínas Romanas da Quinta da Abicada, e voltou a lembrar que a cultura é segura, deixando o desafio para que as pessoas visitem os equipamentos culturais .

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Armando Mota, Rui M. M. Gregório, Ana Pífaro, José Carlos Rolo e Vítor Aleixo

GEOPALCOS ARRANCOU EM ALBUFEIRA COM MÚSICA E EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina «GeoPalcos Arte.Ciência.Narur eza», programação cultural em rede inserida no «Bezaranha» e na candidatura a Geoparque Mundial da UNESCO do aspirante Geoparque Algarvensis LouléSilves-Albufeira, deu o «pontapé-desaída», em Albufeira, no dia 4 de junho, na Galeria Municipal João Bailote, com a estreia absoluta de «Percurso - 1381 Km2», uma composição musical da autoria do ALGARVE INFORMATIVO #295

maestro Armando Mota que representa os 1.381 quilómetros quadrados dos concelhos do território aspirante a geoparque nos concelhos de Loulé, Silves e Albufeira, e que, neste final de tarde de sexta-feira, serviu de banda sonora para a inauguração da exposição fotográfica «Pelos Trilhos do Algarvensis», de Rui M.M. Gregório, que ficará patente até 30 de julho. O aspirante Geoparque Algarvensis Loulé-Silves-Albufeira é uma área 22


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Rui M. M. Gregório

territorial com limites bem definidos e que possui um património geológico de grande relevo, a nível nacional e internacional, aliando uma estratégia de geoconservação e um conjunto de políticas de educação e sensibilização ambiental à promoção de um desenvolvimento socioeconómico sustentável baseado em atividades de geoturismo e envolvendo as comunidades locais, assim contribuindo para a valorização dos produtos locais.

“O objetivo essencial deste projeto é dinamizar os aspetos cultural, social, demográfico e económico, dando voz a este território do interior do Algarve através da geologia. Obviamente que o móbil principal do turismo algarvio continuará a ser o «sol e praia», mas ALGARVE INFORMATIVO #295

existem muitas outras valências que permitirão diversificar a oferta da região e uma delas é, certamente, o turismo científico, aliado ao turismo de natureza”, afirmou, na ocasião, José Carlos Rolo. O presidente da Câmara Municipal de Albufeira lembrou que vários trilhos têm sido criados na zona do Escarpão no âmbito do aspirante Geoparque Algarvensis Loulé-Silves-Albufeira, com o intuito de se gerar uma nova centralidade no interior do concelho de Albufeira. “Com estes eventos do

GeoPalcos queremos demonstrar à comissão que está a avaliar a nossa candidatura que estamos vivos e que desenvolvemos várias iniciativas para a sua promoção. 24


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Ser Geoparque Mundial da UNESCO é uma tarefa extremamente difícil e exigente, dai existirem equipas a trabalhar arduamente em cada um dos concelhos envolvidos para alcançarmos esta conquista. E, para isso, precisamos da ajuda de todas as pessoas, das que vivem no interior e no litoral, assim como das associações”, frisou o edil albufeirense. “O trabalho irá com certeza dar ALGARVE INFORMATIVO #295

frutos para as gerações vindouras”, acrescentou, antes de passar a palavra a Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé, que não quis faltar ao início da programação do GeoPalcos em Albufeira. “O Geoparque é um

projeto que une três concelhos num único propósito, o de atrair atividade, economia e atenção para uma zona normalmente 26


pouco visitada e alvo de pouca atenção por parte das pessoas e dos investidores. Queremos que este território seja um palco onde a criatividade e as manifestações culturais possam surgir, numa lógica de participação com as populações locais e em lugares cénicos deslumbrantes que existem no interior da nossa região. Existem 27

poucos geoparques mundiais da UNESCO, são áreas protegidas e com um estatuto especial a que estão associadas uma série de exigências e requisitos – normalmente ligados ao desenvolvimento sustentável – e estamos os três muitos entusiasmados e apaixonados por este projeto”, garantiu Vítor Aleixo. ALGARVE INFORMATIVO #295


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VIVIANE LANÇA NOVO DISCO DEPOIS DO VERÃO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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ensivelmente duas semanas depois de Viviane ter recebido o Prémio «Portugal a Descobrir Portugal», atribuído pela Sociedade Portuguesa de Autores, com a canção «Oh! Meu pequeno país», reencontramos Viviane no Centro Cultural de Lagos, ao vivo, com a sua banda, aos saltos em cima de um palco, como tanto gosta de fazer, e a dar um «cheirinho» do que podemos esperar do seu novo disco, que deverá ser lançado após o Verão. A cantora, compositora e letrista portuguesa nascida em França, mas radicada em Olhão há largos anos, ficou para sempre conhecida pela sua participação no grupo «Entre Aspas», entre outros projetos de índole nacional, mas o seu desejo de explorar outras ALGARVE INFORMATIVO #295

sonoridades levou-a a abraçar uma carreira a solo em 2005. Desde então, num percurso firme e coerente, tem espelhado a sua ideia muito pessoal de uma música nova, sem fronteiras, onde o Fado, misturado com outros géneros musicais, é revisto à luz de uma sensibilidade pop apurada, elegante e sofisticada. A este cocktail de sonoridades chamam «Fado Mediterrânico», uma fusão do fado com a guitarra portuguesa e a «chanson française» com o acordeão, à qual se juntam o contrabaixo, as percussões e teclados. E de tudo isso escutamos um pouco na noite de 9 de junho, em Lagos, num dos seus primeiros concertos após a covid-19 ter assolado o mundo. “A pandemia tem

privado os artistas das suas salas de espetáculos, mas, no meu 34


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caso, outras coisas têm, felizmente, acontecido. Em 2020 concorri, na desportiva, ao prémio lançado pela Sociedade Portuguesa de Autores, precisamente para colmatar um pouco este período difícil que os ALGARVE INFORMATIVO #295

artistas estão a atravessar, e fiquei agradavelmente surpreendida por ter vencido. É uma honra muito grande, um reconhecimento da minha carreira e do meu valor enquanto 36


compositora, e não apenas enquanto intérprete”, entende a entrevistada. Uma faceta de compositora que também esteve em destaque com a inclusão de uma canção com letra de 37

Viviane e música de Viviane e Tó Viegas na edição de 2021 do Festival da Canção, canção essa interpretada pela farense Ana Tereza. “Gostava de ter

participado noutro ano, em que pudéssemos conviver mais, num ALGARVE INFORMATIVO #295


ambiente normal. Este ano não podíamos contatar uns com os outros, ninguém se cruzava, era tudo muito limitado por causa da pandemia”, descreve. “De qualquer modo, foi mais uma coisa bastante positiva que me aconteceu em 2021, porque foi a primeira vez que fui convidada para participar no Festival da Canção”. Em fase final de preparação está, conforme referido, o novo disco de Viviane, do qual já se pode escutar, e ver, o primeiro single, «Quando tiveres tempo», “um vídeo muito

interessante porque marca o final ALGARVE INFORMATIVO #295

dos tempos como os conhecíamos”. “Foi realizado na Casa do Povo de Moncarapacho, num baile, e sempre que o vejo fico a pensar que tanta coisa aconteceu desde então”, admite, confirmando que todo o processo de lançamento do álbum sofreu atrasos por causa da covid-19. “Vamos

apresentar, em breve, um novo single, porque as coisas tornaramse bastante efémeras. As pessoas hoje consomem tudo mais rapidamente, um disco dança-se em muito pouco tempo e depois desaparece. A melhor forma de gerir as canções é irmos lançando 38


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primeiro alguns singles, e só depois o álbum”, comenta a artista. Este período foi também aproveitado para amadurecer as canções e Viviane revela que algumas foram mesmo regravadas, porque a vasta experiência diz-lhe que as coisas devem sair quando realmente estão prontas para sair. “Não

há stress, prefiro que o disco seja lançado quando estiver mesmo no ponto”, reforçou, na véspera de subir ao palco do Auditório Duval Pestana, no Centro Cultural de Lagos, em que apresentou um espetáculo com um cenário novo e músicas do novo disco.

“Para mim, cada concerto é sempre especial, já assim era antes da pandemia, sinto um tremendo prazer em partilhar as canções com

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o público. Agora, após muitos meses de afastamento dos palcos, sente-se alguma ansiedade, há regras novas, menos público nas salas e toda a gente com máscara, o que torna o ambiente diferente. Depois dos concertos também não posso ir ter com as pessoas. Estivemos muito tempo parados, mas, quando se começa a cantar, nota-se que o público também está ávido de ver e ouvir os artistas”, descreve a entrevistada. A cantora e compositora acredita, entretanto, que a pandemia não vai influenciar a sua veia criativa, porque nunca assume um tom fatalista quando escreve e prefere olhar para o lado positivo das coisas. “Acho que

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podemos sempre aprender com todas as situações e a minha escrita vai continuar a ser assim, a mostrar que temos que estar mais próximos uns dos outros e da natureza. Já percebemos que a zona de conforto não existe, de repente tiram-nos o tapete e ficamos desamparados, portanto, devemos estar juntos de quem mais gostamos e respeitar as pessoas e o ambiente, enfim, tudo aquilo que está à nossa volta”, defende Viviane. “O disco está recheado de temas alegres e o que nos faz falta a todos nós é voltarmos a sorrir”. Com o Verão ao virar da esquina, a agenda de Viviane vai-se compondo, com concertos seus, mas também de um ALGARVE INFORMATIVO #295

projeto de Renato Júnior em que participa com Ana Bacalhau, Maria João, Luanda Cozetti, Kátia Guerreiro e outras cantoras. “Portugal está a

retomar os seus hábitos culturais com alguma timidez, com espetáculos que tinham sido adiados do ano passado, mais outros que estavam já agendados para este ano. Mais complicadas estão as tournées internacionais, penso que, só em 2022, é que elas voltarão ao normal. Mas a cultura é segura e é um alimento para a alma de que todos precisamos. É a cultura que nos faz sonhar e as pessoas estão desejosas de voltar a ver espetáculos”, assegura Viviane. 42


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Ecosofia Encantou Lagos Texto: Daniel Pina | Fotografia: João Catarino

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e 2 a 4 de junho, a terceira edição do VENTANIA – Festival de Artes Performativas do Barlavento assentou arraiais em Lagos, sendo um dos destaques «ECOSOFIA», de Camila Rojas Cannobbio, interpretado por Bárbara Zamorano e Carlos Pizarro. O Auditório Duval Pestana do Centro Cultural de Lagos acolheu este espetáculo baseado na conceção cosmológica da Ecosofia, uma corrente filosófica que procura contemplar o universo como um todo vivo, originário em cada organismo que nos rodeia. “A obra é

construída a partir de uma narrativa visual que envolve o público numa experiência poética e contemplativa, fundindo acrobacia, dança, projeções e sons. A dramaturgia é composta por pinturas fragmentadas, baseadas principalmente em técnicas circenses, que dialogam com um espaço virtual projetado em duas telas no palco. As coreografias acrobáticas confundem-se com as tecnologias, gerando uma encenação sensível que nos convida a abandonar o nosso olhar antropocêntrico e, ao contrário, a identificarmo-nos como parte do nosso meio”, explica a responsável pelo espetáculo. FICHA ARTÍSTICA Direção: Camila Rojas Cannobbio Elenco: Bárbara Zamorano e Carlos Pizarro Artista Visual: Jorge Guerrero Artista Sonoro: Ignacio Nuñez Composição Musical: Claudio Clavija Desenho: Karina Piña Iluminação: Jose Luis Cifuentes Coprodução: Parque Cultural de Valparaíso, Corporación Cultural de Recoleta e Cia VAYA . ALGARVE INFORMATIVO #295

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CAROLINA FONSON DEU-SE A CONHECER NO AUDITÓRIO DO SOLAR DA MÚSICA NOVA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Jorge Gomes

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as que bela maneira de se terminar mais uma semana, com a atuação de Carolina Fonson, no domingo, 6 de junho, no Auditório do Solar da Música Nova, em Loulé, para dar a conhecer o seu EP de estreia. A jovem lisboeta, amante de Rythm and Blues, ALGARVE INFORMATIVO #295

Soul e Rock e radicada no Algarve há vários anos, apresenta um estilo único criado a partir das suas muitas influências e que já tinha ficado patente nos primeiros singles, «Without Warning» e «Power over me». E que comprovou, em Loulé, com a sua banda, num concerto ao vivo em que conciliou um toque moderno com uma vibe antiga. A seguir com atenção . 62


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TEATRO FÍSICO E CIRCO CONTEMPORÂNEO «INVADIRAM» ESPAÇO JOVEM DE LAGOS Texto: Daniel Pina | Fotografia: João Catarino

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Espaço Jovem de Lagos foi um dos cenários escolhidos para acolher a terceira edição do VENTANIA – Festival de Artes Performativas do Barlavento, recebendo, no dia 3 de junho, «UNS AMB ALTRES», protagonizado pelos espanhóis Pau Portabella e pelo Coletivo Ventania. O espetáculo de teatro físico e circo contemporâneo resultou de um projeto artístico de investigação sobre a ALGARVE INFORMATIVO #295

posição do indivíduo na sociedade. “As

questões de respeito, liberdade, individual e coletiva, sem colocar em causa a liberdade dos outros. Como aceitar o quadro social que nos condiciona e cose o tecido da realidade a que estamos sujeitos sem perder a nossa individualidade, a autenticidade e a liberdade do pensamento individual”, pergunta a produção . 72


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Windy envolveu jovens e artistas de Lagos Texto: Daniel Pina| Fotografia: João Catarino

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steve patente, de 2 a 4 de junho, no Espaço Jovem de Lagos, a instalação artística resultante do processo criativo do WINDY, no qual artistas do Algarve são convidados a criar obras de reflexão ecológica. Deste modo, a terceira edição do VENTANIA – Festival de Artes Performativas do Barlavento, desafiou ALGARVE INFORMATIVO #295

Ricardo Lopes, ceramista, e Carlos Norton, artista multidisciplinar, criador do ASPA – Arquivo Sonoro Paisagístico do Algarve, a desenvolverem uma instalação de arte que fundiu as peças elaboradas na ação de cocriação com a comunidade «A Água na Terra», que envolveu alunos do 3.º ano da Escola EBI e JI de Santa Maria, com ambientes sonoros da autoria de Carlos Norton . 82


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«O FANTASMA DAS MELANCIAS» DEIXOU A PEQUENADA EM DELÍRIO NO TEATRO LETHES Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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Teatro Lethes, em Faro, recebeu, nos dias 5 e 6 de junho, «O Fantasma das Melancias», uma divertidíssima peça de teatro para a infância da responsabilidade da Companhia de Teatro de Almada. Recorrendo ao universo de três autores sul-americanos, mestres do teatro de fantoches, Teresa Gafeira reúne, neste espetáculo, três histórias distintas, designadamente, a «Sopa de Pedras», «O galo quer ter dentes» e «O Fantasma das Melancias». A primeira história descreve o castigo que um cobrador de impostos impôs a um velho muito avarento. Seguiram-se as desventuras de um galo rico e influente ALGARVE INFORMATIVO #295

que vai procurar a ajuda de um urso dentista, convencido de que tem uma cárie num dente. Finalmente, assistimos às diligências de um menino que vive obcecado com a captura de um ladrão de melancias e que não teve quaisquer problemas em pedir ajuda ao público. Três histórias que convidavam à interação entre os atores e as muitas crianças presentes na plateia, num cenário colorido e cheio de surpresas. E a resposta dos mais novos foi imediata, sobretudo quando o ladrão/fantasma das melancias trocava as voltas ao menino. Com textos de Acuña, Claeyssen e Espina, a encenação esteve a cargo de Teresa Gafeira, com interpretação de Inês de Castro, João Farraia e Pedro Walter . 92


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Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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Galeria de Arte do Convento do Espírito Santo, em Loulé, acolhe, até 24 de julho, a Exposição «Mercúrio Retrógrado», de Ana Rostron e Vasco Nascimento. Mercúrio Retrógrado é um fenómeno que ocorre nos céus três vezes por ano, uma ilusão de ótica. O planeta vermelho aparenta, durante estes períodos, mover-se na direção oposta ao seu percurso natural. A observação deste fenómeno tem vindo a suscitar, através do contexto da Astrologia, teorias, crenças de consequências negativas nas ações decorrentes durante este movimento aparente. Ana Rostron e Vasco Marum Nascimento são dois jovens artistas naturais de Loulé, licenciados em Artes Visuais pela Universidade do Algarve. Tendo um percurso muito ligado ao território, conhecedores das suas idiossincrasias, tecem, identificam, estabelecem redes entre o fazer artístico e a comunidade que melhor conhecem. Através da convocação dessas redes, do seu mapeamento e a invocação de antigos saberes e crenças populares, os artistas propõem uma exposição multidisciplinar, um ato de libertação, lançando questões sobre os lugares e objetos de fé e esperança, num desejo de regresso à direção correta que há muito Mercúrio aparenta ter perdido. A exposição pode ser visitada de terça-feira a sábado, das 10h às 16h30. A entrada é livre e as condições de visita estão sujeitas às normas de segurança da Direção-Geral de Saúde, nomeadamente o uso obrigatório de máscara . ALGARVE INFORMATIVO #295

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OPINIÃO António Aleixo – O Aleixo de Bordeira Paulo Bernardo (Empresário ) s seres especiais e diferentes que nos fazem sonhar, pela sua arte, são normalmente esquecidos, neste mundo de pessoas ditas normais, que parece que engoliram um garfo e levam-se muito a sério. Contudo, sempre existiram seres que abdicaram de alguma parte da sua carteira, para alimentar a arte, conhecidos por mecenas, na altura em que não havia benefícios fiscais nem coisas afins, apenas havia a vontade de disfrutar da arte que cada um produzia. Trago aqui algumas histórias que ouvi através dos ouvidos de uma criança curiosa que adorava ouvir os «velhos», entre os quais o meu avô, o tio Varginha (tio poeta e cantor, a quem o Aleixo dedicou uma quadra) e o tio/avô adotivo José Gago «Carocho» de apelido, graças a uma burra ou uma mula (não me lembro bem) que tinha tido em jovem a qual tinha o nome de Carocha. Muitas destas histórias eram ouvidas enquanto acompanhava o meu avô na taberna do Pitó, onde o fumo dos cigarros de enrolar, o cheiro a vinho e as canequinhas de medronho, davam aroma e fantasia às histórias do Aleixo (António Fernandes Aleixo, nasceu em Vila Real de Santo António em 18/2/1899 e faleceu em ALGARVE INFORMATIVO #295

Loulé, a 16/11/1949), onde se discutiam rimas e outras histórias, onde muitas vezes o embalar do vinho levava a algumas discussões mais acesas, sobre se era um «de» ou «da» nos poemas do Aleixo. Mais tarde pela voz de um dos Mecenas, o ti Zé Catrina e seus filhos, ouvi histórias mais de perto. Hoje, a minha mãe e os meus primos Leonardo e Zé Joaquim são as ligações às histórias do Aleixo. Pois o Aleixo pode ser de Vila Real de Santo António, de Loulé ou de Coimbra, mas também é de Bordeira. Bordeira terra que tem uma energia própria que inspira e atrai gente criativa, o Aleixo, deve ter frequentado Bordeira ao longo da sua vida, contudo, escreveu os poemas para a Marcha da Bordeira e o Hino da Sociedade Recreativa, o que o colocam em Bordeira nos anos trinta. Os dois poemas foram musicados pelo seu amigo e grande músico, José Ferreiro (pai). Quando julgamos que hoje fazemos muito, que só nos últimos vinte anos nasceram todos os criativos do mundo, esquecemos que há cem anos tínhamos mais criatividade e arte. Hoje temos muito menos participação coletiva em momentos de criatividade e arte, é 112


importante dizer isto, pois devemos todos estimular mais este lado. Temos por hábito dizer que hoje não existem oportunidade, e que oportunidades existiam nos anos trinta, pegando nas palavras do poeta, nas quadras do hino da Sociedade Recriativa Bordeirense, escrita em 1936, Bordeirense mãos obreiras Nossos calos são brasões Que dão às nossas bandeiras As mais lindas tradições Se são diferentes na cor São todas nossa pertença São filhos do mesmo amor De um só povo uma só crença Bordeira prendes em laços Fraternais todo o teu povo Que sabe honrar seus laços Nas festas do ano novo Festas que trazem lembranças Dos velhos, novos d’outrora Que viram as mesmas esperanças Que os moços veem agora As festas que nos damos em sociedade Lembramo-las com orgulho até morrer São glorias, são saudades Que se ostentam com prazer Mostrando neste sítio a força unida Daqueles que seu fim é trabalhar E tem nesta luta pela vida Os seus dias de festejos p´ra gozar.

Hino escrito no recuperar da grande depressão e no início da guerra civil espanhola, não eram anos fáceis, o poeta tinha trinta e sete anos. Acredito que a época não era fácil para ninguém, mas os Algarvios não esperavam e faziam acontecer, procuravam as oportunidades que hoje dizemos que não temos. Neste poema sobressai-me o trabalho (Nossos calos são brasões), a tolerância (Se são diferentes na cor, São todas nossa pertença), a ligação entre gerações (Dos velhos, novos d’outrora), a união (Mostrando neste sítio a força unida). Apesar das dificuldades da época, o poema fala de uma sociedade empenhada em ter uma comunidade mais justa e perfeita. O que me faz pensar que a sociedade Algarvia era mais evoluída na época que hoje. Uma pena .

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OPINIÃO Do livro de autoajuda Mirian Tavares (Professora Universitária) “Quem me dera ouvir de alguém a voz humana Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!” Álvaro de Campos filho disse que eu deveria escrever um livro de autoajuda. Disse também que sou muito boa a dar conselhos (bem melhor do que a segui-los). Fiquei a pensar nos livros deste género que já li, creio que foram só dois. Um deles, se não me engano, chamava-se Como ser uma cabra. Era um livro muito divertido, e irónico, talvez o melhor do género (não tenho, na verdade, grande capacidade para fazer este julgamento, tendo lido só dois). Pus-me a pensar na ideia de autoajuda em si mesma – algo que nos ajuda a encontrar uma cura para algum mal que nos aflige. Uma cura que virá de nós mesmos, pois somos capazes de lutar, de resistir, de mudar, de vencer. Se falhamos, somos nós os responsáveis pela falha. Foi o nosso comportamento, ação ou inação, que nos conduziu ao lugar dos leitores de livros de autoajuda. Mas vejo aqui um grande problema – nem sempre conseguimos nos autoajudar e, quando isso não acontece, aumenta em nós a sensação de ALGARVE INFORMATIVO #295

falhanço. Se os livros dizem que somos capazes, se milhares de pessoas mudaram as suas vidas, porque não sou capaz? Apregoam-se, em capas chamativas, respostas para todos os males. Da obesidade à depressão, do desânimo aos relacionamentos falhados, da ansiedade à incapacidade de dizermos não. E, sobretudo, apregoa-se a ideia de felicidade possível, quase instantânea. Diria mesmo, obrigatória. E essa felicidade, ou a capacidade de encontrá-la, está em nossas mãos, escrevem os milhares de autores que se multiplicam a cada ano. Muitas das fórmulas difundidas possuem algum lastro científico: a universidade de um lugar qualquer, após testar 100 sujeitos, descobriu que os de cabelo castanho com laivos aloirados são mais capazes de ser felizes. Ou infelizes, depende daquilo que se quer provar. Pois a ciência, como bem sabemos, não é completamente neutra. Muito menos as estatísticas. Se eu fosse escrever um livro de autoajuda, provavelmente seria sobre reconhecermos que precisamos do outro, dos outros, e que sozinhos não somos senhores absolutos do nosso 114


destino. Nem da nossa felicidade. E que podemos falhar, e falhamos, muitas e muitas vezes, e que isso não faz de nós menos fortes, menos inteligentes, menos adaptados. Faz de nós seres humanos. Frágeis, indecisos, assustados. Também fortes, generosos, resistentes. Lembro-me de quando comecei a andar de patins. A primeira coisa que aprendi foi a cair. Quando era mais nova pensava, como pensamos quando temos 20 e poucos anos, que a queda, de patins ou de dentro de nós mesmos, poderia ser fatal. E tentava não cair. E, de tanto tentar, como artista de circo, encontrei um ponto qualquer de equilíbrio, e olhava o chão distante, temerosa. Não sabia eu, como não sabemos tantas coisas aos 20 e poucos anos, que a queda faz parte da vida, dos patins, de nós. E que sempre nos podemos levantar, mesmo com os joelhos esfolados. E que o medo da queda não é um lugar seguro, e que o equilíbrio é um segundo antes do desequilíbrio iminente. É uma impermanência. E fuime deixando cair, de vez em quando, cuidando das nódoas roxas, das feridas. Tentando não cair, mas já sem medo. Buscando o equilíbrio, como um canto sossegado, não como aquele lugar em cima da corda bamba, de onde não se consegue descer porque se sentem vertigens. A queda é inevitável e assustanos. Mas não podemos proteger-nos 115

Foto: Victor Azevedo

sempre. Cair faz parte de viver, da vida ela mesma. Que nem sempre é feliz ou satisfatória. E é normal que nos sintamos tristes, assustados e infelizes. Se eu escrevesse um livro de autoajuda, começaria por aí: ninguém se ajuda sozinho. E diria que precisamos de aceitar a infelicidade e as quedas, não de as evitar a todo o custo. Porque são inevitáveis e gastamos tanta energia em busca da cura, que nos esquecemos de viver os pequenos milagres quotidianos e de gozar as nossas maravilhosas imperfeições . ALGARVE INFORMATIVO #295


OPINIÃO Notas Contemporâneas [17] Adília César (Escritora) “E nós, aqui, a escrevinharmos não sei que coisinhas minúsculas, que, apenas rabeiam um momento sobre o papel, são logo pó imperceptível!... – Você não tem vontade de se atirar a um poço? Eu tenho”. Eça de Queirós (1845-1900), in Notas Contemporâneas (1909, obra póstuma) STRANHO nome para o meu poema magro e áspero, como se a luz amanhecesse desbotada, ausente de pontos cardeais ou de velocidades de ventos. Sem referencial, sigo a marcha do desnorte em câmara lenta, numa bobine antiga de um filme mudo de outra época, com imagens imperfeitas e holofotes sujos de insectos desviados do seu rumo. Estranho sentido para o meu poema, vazio e redundante, como se a luz desistisse dela própria e se transformasse em espiral de escuridão. * UM REFERENCIAL enganador, perdida que estou neste lugar intermédio, em vésperas de nada acontecer. Dizes que és idioma poético. Dizes que tens a verdade dentro de ti. Dizes que és um fazedor de milagres. Brilharias sempre assim nas manhãs indecisas? Ofuscarias humanos e anjos ALGARVE INFORMATIVO #295

por entre instantes da loucura? Luz, um referencial de alegria para o meu poema sombrio. Uma teoria de tudo. Funde-se o verso nessa intensidade. * MAS não existem zonas lúcidas quando o mel escorre em vão. O que é visto nunca nos deixa do outro lado deste pequeno mundo cheio de chapéus pretos sem cabeças dentro. Nas ruas rolam cabeças improváveis, acamadas no mel que dá a volta ao mundo, todas iguais e inúteis, sem pensamentos por dentro. Os chapéus pretos de tamanhos diferentes parecem dominar a paisagem ainda dourada e quente, em veneração ao deus sol, e riem. Oh… como riem. De quê?... Afinal, há uma única verdade, decadente e sem qualquer espécie de humor: aquilo que existe afinal não existe; não há mundos feitos de chapéus pretos; tudo o que vês é a descrição de um caos definitivo, uma gélida planície de cabeças a rolar nas ruínas das ruas 116


desertas. Debaixo dos meus pés, em triunfo, a impermanência da vida.

não: é apenas um episódio surreal, um triste e anónimo poema colado com cuspo.

* * QUERIA não ter medo. Um poema é sempre demente, ainda que calado em murmúrio traiçoeiro. Sustenho a respiração do poema e ele cai em câmara muito lenta. É certo que não há forças de gravidade no plano irracional, mas quando cai o poema parte-se devagar e eu parto-me com ele. Por vezes, conserto o poema com a baba da minha demência e ele aceita o curativo. Entende a sua própria resignação como vitória das palavras humedecidas, mas 117

EU, cada vez mais partida e não consigo consertar-me. O que se afoga é o que ninguém lê. O que se fragmenta é a compreensão avulsa da literatura. Das palavras apenas se deviam erguer as dúvidas, nunca as respostas. Que interessam as certezas se não souberes que pergunta deves fazer? E regresso à profundidade de tudo o que ainda não tem luz: o poço da indiferença . ALGARVE INFORMATIVO #295


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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Ron Isarin A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #295

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