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ALGARVE INFORMATIVO 24 de julho, 2021
«PERGUNTO ÀS ESTRELAS SE POSSO DANÇAR?» | RICARDO J. MARTINS TEM NOVO DISCO 1 DOS DINOSSAUROS | PLANO FERROVIÁRIO NACIONAL | MEDICINAALGARVE INFORMATIVO VALE CRESCE NA #300 UALG
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20 - Mestrado Integrado de Medicina
70 - Plano Ferroviário Nacional
80 - «Pergunto às estrelas se posso dançar?» em Loulé
96 - Vale dos Dinossauros em Albufeira
44 - Albufeira vai receber Congresso Nacional da Hotelaria e Turismo
OPINIÃO
62 - «Hamster Clown» em Loulé ALGARVE INFORMATIVO #300
106 - Paulo Cunha 108 - Mirian Tavares 110 - Ana Isabel Soares 112 - Adília César 114 - Fábio Jesuíno 116 - Nuno Campos Inácio 10
52 - Ricardo J. Martins lança «Escapismo…»
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MESTRADO EM MEDICINA DA UALG AUMENTA VAGAS COM APOIO DAS AUTARQUIAS ALGARVIAS E DO ESTADO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina Universidade do Algarve, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) e os Municípios do Algarve assinaram, no dia 8 de julho, no Grande Auditório do Campus de Gambelas, um contrato-programa com vista ao aumento de vagas de Medicina no Algarve. Tendo como objetivos a ALGARVE INFORMATIVO #300
concretização, reforço e alargamento do ensino de Medicina na região, a AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve vai efetuar um investimento de 600 mil euros/ano em todas as componentes da área da saúde, designadamente, equipamentos, pesquisa e desenvolvimento, respostas de serviços de saúde e formação superior e pós-graduada nesta área. O restante esforço financeiro é repartido entre a universidade algarvia, com um 20
Paulo Águas, Reitor da Universidade do Algarve
milhão de euros, e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, com 300 mil euros. O aumento de vagas teve início em 2020/21, quando passou de 48 para 64, número que está previsto subir para 96 no ano letivo 2025/26, contribuindo, a longo prazo para a melhoria da qualidade dos cuidados de saúde prestados na região, bem como para a captação e fixação de profissionais de saúde no Algarve. Simultaneamente, será lançado o Programa MD PhD, entre a Universidade do Algarve e a Fundação Champalimaud, que visa a formação da próxima geração de médicos-cientistas. O programa, pioneiro em Portugal pela sua vertente de duplo diploma (MD + PhD), é desenhado com base nas melhores práticas ao nível internacional, providenciando aos 21
estudantes a oportunidade de obter treino médico fundamental, ao mesmo tempo que incrementam habilidades ao nível da investigação científica que lhe permitirão desenvolver-se enquanto clínicos-cientistas, fazendo a interface entre medicina e ciência. A abrir a cerimónia, Paulo Águas, Reitor da Universidade do Algarve, recordou que a saúde é a área mais recente da Academia, datando os primeiros alunos de 2001/02, da então Escola de Enfermagem de Faro, que esteve na génese da Escola Superior de Saúde. Em 2005/06 foi criada uma licenciatura em Ciências Farmacêuticas e, em 2008/09, iniciou-se o Mestrado Integrado em Medicina, “um
programa inovador no panorama ALGARVE INFORMATIVO #300
Isabel Palmeirim, diretora do Mestrado Integrado de Medicina da UAlg
nacional por apenas permitir candidatos com graduação prévia em áreas como Enfermagem, Ciências Biomédicas, Ciências Farmacêuticas, entre outras”. “A saúde transformou-se numa das áreas com maior número de estudantes da Universidade do Algarve, aproximadamente 1.300 este ano, representando cerca de 15 por cento do número total de estudantes da instituição, uma percentagem que já é superior à que se verifica no conjunto das instituições de ensino superior portuguesas”, frisou Paulo Águas, esclarecendo ainda que a atual oferta é constituída por cursos de licenciatura, pós-licenciatura, mestrado e doutoramento. ALGARVE INFORMATIVO #300
Trata-se, também, de uma área em claro desenvolvimento no que toca às ofertas formativas e, depois de, em 2020/21, ter arrancado a primeira edição do programa doutoral em investigação clínica, segue-se, em 2021/22, a formação do primeiro ciclo em Fisioterapia. “Temos um
contrato-programa de 2009 a 2012 que nos permitiu o lançamento deste curso, na altura com 32 vagas. Fruto do contrato que estamos aqui hoje a assinar já fomos às 64 vagas e, até 2026, há o compromisso mínimo de querermos alcançar as 96 vagas. O que significa que, em oito anos, iremos duplicar o número total de estudantes para cerca de 400”, 22
António Miguel Pina, presidente da AMAL
destacou o Reitor. “Não somos
prestadores de cuidados de saúde, mas temos a possibilidade de contribuir, com a formação de quadros, para que a população algarvia possa beneficiar de melhor saúde. Estamos a viver mais, queremos viver mais, mas também queremos, acima de tudo, viver melhor”, afirmou Paulo Águas, aproveitando para agradecer toda a colaboração existente com o CHUA – Centro Hospitalar Universitário do Algarve e a Administração Regional de Saúde do Algarve. Satisfeita com a assinatura do protocolo estava, como se deve adivinhar, Isabel Palmeirim, diretora do Mestrado Integrado de Medicina e da Faculdade de 23
Medicina em Ciências Biomédicas da Universidade do Algarve. “Em
2024/25 teremos um total de 96 alunos a entrarem, mais 48 que atualmente. E teremos já 16 alunos que terão acabado o Curso de Medicina e que estarão prontos a integrar as fileiras no Algarve. Um grande obrigado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, pelo apoio, e sobretudo à AMAL, porque sei que isto é uma aposta. Fica o nosso compromisso de contribuirmos para as Câmaras Municipais a nível de melhoramento de cuidados de saúde”. ALGARVE INFORMATIVO #300
Câmara Municipais em nome das quais falou António Miguel Pina, presidente da AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve, salientando que o Algarve tem vindo a demonstrar que sabe trabalhar em conjunto, e não apenas no contexto atual de pandemia. “A pandemia
trouxe um incentivo extra porque só mesmo com os autarcas, a Universidade e a Administração Regional de Saúde do Algarve unidos é que fomos capazes de dar a melhor ajuda possível às nossas populações. Esta pandemia trouxe muitas coisas más – destruição de vidas e da economia – mas também trouxe um ABC – Algarve Biomedical Center que se evidenciou e projeção ao Mestrado de Medicina da Universidade do Algarve”, declarou o edil olhanense. Para António Miguel Pina, o Algarve continuará sempre a estar muito assente no turismo, beneficiando de todo o potencial que tem para esta setor económico, “mas devemos continuar
a procurar outros nichos de criação de valor”. “No trabalho desenvolvido na AMAL e muito próximo com a CCDR – Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, temos bem ciente que o futuro do Algarve passa também pelas áreas ligadas à investigação, seja da Saúde ou do Mar, ou nas Engenharias da Motorização e nas Tecnologias de ALGARVE INFORMATIVO #300
Informação. Temos uma Academia a trabalhar com os municípios, a potenciar e a alavancar os investimentos ligados à investigação; e temos uma CCDR Algarve que partilha desta visão e que assume a gestão dos fundos comunitários, tão importantes e determinantes para subsidiar estes investimentos”, enalteceu António Miguel Pina, defendendo que o Algarve terá que crescer naquilo que é o conhecimento, porque trará outro tipo de pessoas e de criação de valor para além do turismo. “E até nas áreas do
turismo há também muito a investigar e a crescer, particularmente no envelhecimento ativo e nas tecnologias de informação”. Em relação ao investimento das autarquias algarvias no aumento de vagas do Mestrado Integrado de Medicina da UAlg, António Miguel Pina pensa que esse financiamento é uma missão do governo, “mas o Algarve
já tem dado muito ao país e agora voltamos a dar mais”. “Apenas um terço dos alunos fica no Algarve, por isso, estamos a financiar a criação de novos médicos para todo o país”, notou o presidente da AMAL, não deixando passar a oportunidade para falar do tão desejado Hospital Central do Algarve.
“Estamos unidos e sabemos o que queremos e não há dúvidas de 24
Manuel Heitor, Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
que o local para o Hospital é aquele onde há alguns anos foi colocada a primeira pedra. É preciso agora construir todas as outras pedras. Este governo está a fazer dois anos de mandato e ainda não disse nada de forma concreta sobre quando começam as obras e sobre o financiamento para o novo Hospital Central do Algarve”, lamentou.
ABC TORNOU-SE UMA REFERÊNCIA NACIONAL E INTERNACIONAL Depois de assinado o contratoprograma pelos vários presidentes de câmara presentes na cerimónia, usou da palavra Manuel Heitor, Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, que realçou o facto da UAlg ser “uma 25
universidade sem muros, aberta para as expetativas e desejos da população”, bem como a mobilização dos 16 concelhos algarvios para este aumento de vagas do Mestrado Integrado de Medicina. “Tenho
percorrido o país de norte a sul, temos feito, assistido, promovido e estimulado acordos nas várias comissões interministeriais, mas nenhum atingiu a dimensão deste acordo e desta mobilização intermunicipal. Este acordo tem, não apenas um simbolismo, mas um pragmatismo daquilo que tem sido, e que deverá ser cada vez mais no futuro, o desenvolvimento de uma região com mais formação, com mais capacidade de atrair talentos e, ALGARVE INFORMATIVO #300
obviamente, com mais capacidade de incrementar a qualidade de vida através da atividade científica, da inovação, da colocação, do emprego qualificado”, apontou o governante. Manuel Heitor elogiou todo o trabalho dos docentes e investigadores coordenados por Isabel Palmeirim “que
ao longo dos anos conseguiram ouvir avaliadores, responder e respeitar a avaliação de pares, fazer um percurso que demora tempo”. “Nem todas as Universidades, nem todos os académicos estão aptos a mudar, a configurar, a respeitar as recomendações das avaliações e a reorganizarem a atividade científica. A Universidade do Algarve, e em particular os docentes e investigadores da área biomédica, reorganizaram completamente a sua orgânica de forma a garantirem um caminho para a excelência científica. Souberam-no fazer internamente, com os pares, mas também o souberam fazer com outras instituições científicas de fora, seguindo as recomendações que pares externos lhes tinham feito. A colaboração com a Fundação Champalimaud reforçou-se de um modo que não é apenas uma parceria entre pessoas conhecidas ou amigas, ou até de uma utilização de nomes para mostrar. Ficou bem claro o conteúdo inovador desta ALGARVE INFORMATIVO #300
parceria que ajudou a reformular a orgânica e a estrutura da atividade científica, mas também a lançar programas de formação avançada, alguns dos quais altamente inovadores, como o programa de formação médica para cientistas, que é bastante diferente da trajetória normal de muitos dos programas de investigação para médicos”, sublinhou. Manuel Heitor considerou igualmente importante este acordo pela presença e reforço do Centro Académico Clínico do Algarve, o ABC, até porque tem existido na Europa um amplo debate sobre como se pode articular melhor a atividade médica com a atividade de investigação e a atividade de formação, sobretudo em Medicina. “Sabemos
que há várias experiências pelo mundo fora e que mesmo a UAlg já experimentou alguns desses modelos, mas sabemos que, no quadro dos agora nove Centros Académicos Clínicos existentes em Portugal, o ABC se tornou uma referência. Aliás, o de Aveiro adotou muita da experiência do Algarve para se formar e os dois novos centros que estão em preparação, em Vila Real e Universidade Católica, estão também a adotar este modelo”, destacou o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior . 26
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FUTURO PLANO FERROVIÁRIO NACIONAL FOI DISCUTIDO EM FARO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, em parceria com o Gabinete do Ministro das Infraestruturas e Habitação e com o Instituto de Mobilidade e Transportes, promoveu, no dia 19 de julho, uma sessão de apresentação das bases do Plano Ferroviário Nacional, sabendo-se que, no Algarve, as Infraestruturas de Portugal têm prevista para 2021 a adjudicação da eletrificação ALGARVE INFORMATIVO #300
da Linha do Algarve, no âmbito do Programa Ferrovia 2020. Sendo 2021 o Ano Ferroviário Europeu, avança o debate sobre o Plano Ferroviário Nacional, um instrumento que irá definir a rede ferroviária de interesse nacional e internacional e com o qual se pretende conferir estabilidade e previsibilidade ao planeamento da rede ferroviária para um horizonte de médio e longo prazo. A adoção de um Plano Ferroviário Nacional está prevista no programa do XXII Governo 30
Constitucional, que também estabelece como objetivos levar a ferrovia a todas as capitais de distrito, reduzir o tempo de viagem entre Lisboa e Porto e promover melhores ligações da rede ferroviária às infraestruturas portuárias e aeroportuárias. Além desses, o Plano Ferroviário Nacional deverá assegurar uma cobertura adequada do território e a ligação dos centros urbanos mais relevantes, bem como as ligações transfronteiriças ibéricas e a integração na rede transeuropeia. Deverá ainda garantir a integração do modo ferroviário nas principais cadeias logísticas nacionais e internacionais.
do Algarve como destino turístico de sustentabilidade. No transporte ferroviário queremos, saudamos e acompanharemos de perto a evolução das obras de eletrificação da linha ferroviária do Algarve, 46 milhões de euros ao longo de 140 quilómetros da linha do Algarve, com 140 empregos diretos na fase de obra, da responsabilidade das Infraestruturas de Portugal, previstas executar nos anos de 2022 e 2023”, declarou José
Na abertura da sessão, José Apolinário, presidente da CCDR Algarve, evidenciou as profundas alterações climáticas, ambientais, económicas, sociais e políticas que vivemos atualmente, pelo que, “como agentes e servidores
Apolinário, lembrando, porém, que falta programar a substituição do material circulante e o reforço da acessibilidade e conectividade digital em todas as estações de comboio, automotoras e composições ao longo da linha ferroviária do Algarve. “Queremos e exigimos
públicos, temos o dever e a obrigação de agir, agir já, para numa escala local e regional contribuirmos para melhorar o Planeta”. Nesse sentido, há que garantir “um modo de transporte amigo do ambiente, sustentável e inteligente, um eficiente meio de mobilidade, e que queremos ainda mais eficiente com a eletrificação da linha ferroviária do Algarve até 2023 e com mais investimento na mobilidade sustentável”. “Como assinala o Comité das Regiões da União Europeia, a melhoria do transporte ferroviário é crucial para um turismo mais sustentável e é estratégico para o posicionamento 31
automotoras e composições mais modernas, permitindo viajar em condições de qualidade e conforto de Lagos a Vila Real de Santo António com redução do tempo de viagem e horários que dispensem o recurso ao modo automóvel”. No seu discurso, José Apolinário falou ainda da reposição da concordância ferroviária de Tunes, e sua eletrificação, de modo a corrigir uma decisão tomada em Lisboa e que prejudica a sub-região do Barlavento do Algarve.
“Queremos e defendemos a possibilidade de realização de comboios intercidades de Lisboa a ALGARVE INFORMATIVO #300
José Apolinário, presidente da CCDR Algarve
Lagos e vice-versa, sem o transbordo de Tunes”, justifica o presidente da CCDR Algarve, para quem também é “claro, essencial e
inadiável assegurar o abastecimento de combustível ao aeroporto, através do modo ferroviário, em solução segura e compatível com o uso de ferrovia ligeira”. “Defendemos uma ligação em ferrovia ligeira, por tram train, desde a estação de Faro até ao Aeroporto Internacional de Faro, Universidade do Algarve, Parque das Cidades (com o futuro Hospital Central do Algarve) e Loulé (poente da cidade, pelo corredor da Franqueira). Um modo de transporte a desenvolver gradualmente, um modo de transporte sustentável neste núcleo ALGARVE INFORMATIVO #300
do Algarve Central. Tal como defendemos a implementação de idêntico modelo tram train entre Tunes e Lagos, mantendo o comboio de longo curso, utilizando a linha que agora vai ser eletrificada, bem como um ramal dedicado até ao Autódromo/ Parque Tecnológico”. A requalificação e modernização da Linha do Sul entre Tunes e Torre Vã é outra obra indispensável para reduzir o tempo de deslocação entre o Algarve e Lisboa, reforçando a competitividade do modo de transporte ferroviário quando comparado com o modo automóvel. E a CCDR Algarve pugna igualmente pelo desenvolvimento do corredor sudoeste ibérico, com uma ligação de velocidade alta entre o Algarve e a Andaluzia, e entre o 32
Frederico Francisco, do Gabinete do Ministro das Infraestruturas e da Habitação
Aeroporto Internacional de Faro e o Aeroporto de Sevilha. “O
desenvolvimento deste corredor tem o apoio dos Municípios do Algarve e dos empresários e suas associações, reforçará o posicionamento do Algarve e do Aeroporto da Região no contexto ibérico e europeu”, afirmou José Apolinário. Para o presidente da CCDR Algarve é ainda preciso avaliar, estudar custos e trabalhar soluções economicamente sustentáveis para concretizar outros desafios, como a mobilidade ao nível intermunicipal, pois é necessário ligar a responsabilidade intermunicipal no transporte rodoviário ao modo ferroviário regional, analisando a viabilidade económica de uma empresa 33
intermunicipal a operar em alguns dos troços. Outras questões prendem-se com a ligação do modo ferroviário a áreas de acolhimento empresarial, designadamente nas áreas logísticas junto à Via do Infante de Faro / MARF e Tunes / Albufeira, para que a região dê o seu contributo na redução dos transportes rodoviários internos de mercadorias; ou com a interoperabilidade com mobilidade suave, com ciclovia e acesso a rede de bicicletas e ciclovias e modo rodoviário a energias renováveis, num trabalho em concertação com as autarquias locais. “Temos de aproveitar os
fundos europeus disponíveis, designadamente no objetivo operativo de resiliência e clima, nas diversas fontes de financiamento ao dispor do País. ALGARVE INFORMATIVO #300
Cristina Grilo, coordenadora do Movimento Mais Ferrovia
A resiliência tem de passar de conceito da ciência de desenvolvimento regional, de termo regulamentar, para a concretização de ações e medidas com o nosso contributo concreto para a redução de emissões de efeito estufa e melhoria da resposta em matéria de alterações climáticas”, defendeu José Apolinário.
“NÃO SE PODE OFERECER TODOS OS SERVIÇOS POSSÍVEIS EM TODA A REDE” Depois de analisar o documento, António Miguel Pina, presidente da AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve destacou a diminuição significativa do tempo de viagem entre Lisboa e o ALGARVE INFORMATIVO #300
Algarve, das três horas e 15 minutos para as duas horas e 15 minutos, e considera ser determinante para uma boa articulação dos serviços públicos de transporte – rodoviário e ferroviário – que estes estejam sob a égide de uma só entidade regional. “A AMAL está
disponível para este desafio, uma vez que já exerce essas funções no que toca ao modo de transporte rodoviário”, assumiu, antes de passar a palavra a Frederico Francisco, do Gabinete do Ministro das Infraestruturas e da Habitação, que apresentou então os contornos do Plano Ferroviário Nacional. “Estamos
a ouvir o país inteiro, quem tem responsabilidades sobre o território, para conhecer as necessidades, reivindicações e ambições das pessoas para o 34
transporte ferroviário. O plano será depois revisto e seguirá para uma fase de consulta pública, com o intuito da versão final ser aprovada em Conselho de Ministros e submetida à Assembleia da República. O Plano Ferroviário Nacional implica também a elaboração, em paralelo, de uma avaliação ambiental estratégica, e o objetivo é que, no final, tenhamos um diploma legislativo que lhe dê o mesmo estatuto que o Plano Rodoviário Nacional”, explicou, recordando que Portugal tem um Plano Rodoviário Nacional desde 1940, que foi posteriormente revisto em 1985, e que tem conferido uma grande estabilidade ao planeamento nestes últimos 35 anos.
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Ora, se em termos de estradas, poucos investimentos faltam por concretizar, o mesmo não se passa no contexto ferroviário, porque, segundo Frederico Francisco, os ciclos de investimento de Portugal estão tipicamente alinhados com os ciclos dos fundos europeus. “Isto significa
que, quando temos que planear onde vamos investir os fundos europeus, começamos novamente com uma folha em branco e a ter discussões que já aconteceram há sete anos, e há 14 anos, sobre as mesmas linhas. Com o Plano Ferroviário Nacional teremos um instrumento de médio e longo prazo que diz qual a rede ferroviária que queremos
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José Caramelo, do Movimento Mais Ferrovia
atingir e assim fica mais fácil selecionar os investimentos a realizar em cada momento”, entende o técnico, avisando que a infraestrutura ferroviária é indissociável dos serviços que depois serão prestados. “Estamos a
falar de investimentos bastante avultados, de muitos milhões de euros por quilómetro, e não se pode planear numa lógica de oferecer um excesso de capacidade suficiente para que todos os serviços sejam possíveis. Construir uma linha para passageiros e mercadorias é diferente de construir uma linha só para passageiros, da mesma forma que construir uma linha para velocidades de 300km/h é diferente do que uma linha para 120km/h. O objetivo é que o Plano Ferroviário ALGARVE INFORMATIVO #300
Nacional defina qual é o padrão de serviço ferroviário de passageiros e mercadorias que melhor serve o país e, em função disso, definir qual a rede de infraestruturas necessária para oferecer esses serviços”, referiu Frederico Francisco. “E estamos a planear uma rede ferroviária num território que já existe, no qual a população está distribuída de uma determinada forma e onde já existe uma rede ferroviária e rodoviária”, acrescentou. O elemento do Gabinete do Ministro das Infraestruturas e da Habitação indicou ainda que o «Ferrovia 2020» corresponde ao ciclo de fundos europeus que está agora a terminar e o Programa Nacional de Investimento 36
corresponde ao próximo ciclo de investimentos, mas a vontade é que o Plano Ferroviário Nacional “seja de
mais alto nível e de mais longo prazo, para várias décadas”. Quanto à rede ferroviária portuguesa, tem uma tipologia em «árvore», ou seja, possui um troco central entre Braga e Faro que depois tem sucessivas ramificações, “o
que torna difícil oferecer bons serviços ferroviários nas pontas da rede”. “Aquilo em que já estamos a trabalhar e que é corporizado nos investimentos previstos até 2030 é começar a transformar esta rede em árvore numa rede em malha, com elevada capacidade e densidade de serviços e elevada velocidade. Portugal será capaz de criar, nesta faixa litoral entre Braga e Setúbal, uma metrópole de escala europeia que irá beneficiar todo o país. Ao criar-se um eixo com uma grande densidade de serviços, um grande volume de passageiros e um grande volume de procura, ganhase capacidade para começar a criar uma estrutura de serviços com horários cadenciados e com grandes interfaces modais que permitem alargar os benefícios deste eixo ao resto do território nacional”, assume Frederico Francisco. Entretanto, com a nova linha de alta velocidade entre Lisboa e Porto, Coimbra ficará a uma distância inferior a quatro horas de Faro, Porto a menos de cinco horas da capital algarvia e Braga a cinco 37
horas de viagem. No que toca à rede ferroviária no Algarve, os principais desafios passam por reduzir o tempo de viagem até Lisboa, a ligação à Andaluzia, a ligação ao Aeroporto de Faro e a acessibilidade às cidades e zonas mais populosas. “Grande parte
da população do Algarve está concentrada no seu litoral, uma faixa que está relativamente longe do local onde passa a linha ferroviária e, por exemplo, Loulé e Quarteira têm a sua estação de comboio a sete quilómetros de distância, o que significa que, na prática, estas duas cidades não são servidas pela ferrovia. A linha no Algarve passa ao lado de cidades importantes como Loulé, Quarteira, Albufeira e Lagoa e o Plano Ferroviário Nacional terá, necessariamente, que abordar esta questão”, reconheceu Frederico Francisco. Já para reduzir o tempo de viagem até Lisboa para as duas horas e 15 minutos, as soluções estão relativamente identificadas, sendo uma delas a modernização da Linha do Sul entre Torre Vã e Tunes e a outra uma nova travessia do Rio Tejo em Lisboa. A finalizar a sua apresentação, Frederico Francisco frisou que o transporte ferroviário pode e deve assumir-se como um elemento estruturante da mobilidade no Algarve, mas só o conseguirá fazer em interligação com os outros modos de transporte, sejam coletivos ou individuais, dando o exemplo da mobilidade ciclável. “Se tenho uma ALGARVE INFORMATIVO #300
Carlos Cabrita, do Movimento Mais Ferrovia
estação de comboios a um quilómetro de distância, posso hesitar em ir a pé, mas, se tiver uma bicicleta, a escolha será mais fácil de tomar. E as estações ferroviárias podem tornar-se polos criadores de novas centralidades nas cidades e servir de pretexto para a requalificação dos espaços públicos nos centros das cidades”, apontou.
“ELETRIFICAÇÃO DA LINHA DO ALGARVE NÃO RESOLVE PROBLEMAS DE MOBILIDADE NA REGIÃO” A par da Universidade do Algarve, Aeroporto de Faro, Turismo do Algarve, NERA, AHETA, AIHSA, ACRAL e Associação Turismo de Portimão, ALGARVE INFORMATIVO #300
participou igualmente na sessão o Movimento Mais Ferrovia, nas pessoas da coordenadora Cristina Grilo, de José Caramelo (especialista em infraestrutura ferroviária e dirigente aposentado da REFER) e de Carlos Cabrita (especialista em material circulante e professor aposentado da Universidade da Beira Interior). E, segundo o MMF, o atual transporte ferroviário já não está ajustado às necessidades de mobilidade da região,
“prestando um mau serviço às populações, não oferecendo um transporte em comboios modernos e confortáveis e um serviço de qualidade e funcional, de alta frequência, com horários alargados, mais paragens de proximidade e serviços complementares de apoio e de informação condizentes”. “A 38
vulgarização do modo automóvel no início da década de 60 do século passado, e a falta de uma oferta dinâmica, moderna e de qualidade do transporte ferroviário, com o abandono de muitos pontos de paragem e de infraestruturas, conduziram à sua degradação nas deslocações intrarregião, tornandoo muito deficiente”, justificam. Apesar deste cenário, o MMF considera que os tempos de viagens de comboio são competitivos quando comparados com outros modos de transporte, como se pode depreender pelo número de passageiros que utilizaram a Linha do Algarve em 2018 e 2019, isto é, cerca de 1,8 milhões e dois milhões, respetivamente, com maior preponderância entre Faro e Vila Real de Santo António do que entre Faro e Lagos.
“Na última década, a REFER procedeu a investimentos de reabilitação da Linha do Algarve, ao ponto de, atualmente, a tornar numa infraestrutura moderna, com passagens de nível dotadas de sistemas de segurança, controlo automático de velocidade, comando central de circulação e de itinerários e tração elétrica, logo que terminada a eletrificação. Paradoxalmente, finalizada a modernização, e quando se anuncia a eletrificação da Linha do Algarve, renasceu nalguns setores de opinião o antigo preconceito contra a presença da ferrovia no centro das cidades/núcleos urbanos. Este 39
preconceito, se era compreensível à luz de paradigmas anteriores, parece hoje obsoleto e desajustado, quando novos valores como a sustentabilidade ambiental, a preservação de valores ecológicos, a preservação do património paisagístico e a diminuição do consumo de combustíveis fósseis, se revelam indispensáveis”, sublinham os elementos do Movimento Mais Ferrovia. Para o MMF, todos estes valores seriam prejudicados com a construção de uma nova via rodoviária longitudinal que colmatasse as insuficiências da EN 125, ou com a construção de um novo corredor ferroviário que relocalizasse a Linha do Algarve, dados os impactos ambientais decorrentes da afetação de novos territórios a estes usos. Para além disso, o traçado da Linha do Algarve proporciona aos viajantes o desfrute de um património ambiental e paisagístico único a considerar em termos de atratividade turística, como sejam o Parque Natural da Ria Formosa, a Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António, foz de rios e ribeiras, sapais, cordão dunar da Meia Praia em Lagos, entre muitos outros. “Contudo, a
eletrificação da Linha do Algarve, per si, não basta e nem irá resolver o grande problema da mobilidade na região”, alertam. Deste modo, o potencial da Linha do Algarve só será plenamente ALGARVE INFORMATIVO #300
Vítor Aleixo, presidente do Conselho Regional da CCDR Algarve
conseguido quando oferecer um transporte de qualidade e condigno, que implique: novo tipo de comboios, mais ligeiros, tipo metro de superfície, adaptados ao transporte suburbano (que permitam, com segurança, o atravessamento da via e adoção de medidas minimizadoras dos impactos negativos derivados da existência da ferrovia em ambiente urbano, onde soluções de reconversão paisagística e embebimento da via ao nível do pavimento poderão ser concebidas, dissolvendo o conceito de barreira que prevalece na opinião pública); frequência elevada, o que exigirá o aumento do número de pontos de cruzamento de comboios; reabertura e/ou criação de novas paragens, aumentando a proximidade de acesso às populações; parques de estacionamento rodoviário (incluindo o ciclável) na proximidade dos pontos de embarque; compromisso entre ALGARVE INFORMATIVO #300
o comboio e o transporte rodoviário (incluindo o ciclável), municipal ou outro, promovendo a distribuição de passageiros até aos destinos finais. Como é natural, o Movimento Mais Ferrovia não esquece o Aeroporto de Faro, aconselhando uma ligação ferroviária ligeira, tipo metro de superfície, desta infraestrutura à Linha do Algarve, destinada ao reencaminhamento dos passageiros do tráfego aéreo que permaneçam na região. “Dado o elevado número
de residentes e de transeuntes na envolvência do aeroporto, também gerado pela proximidade da Universidade do Algarve e, na época balnear, pela proximidade da Praia de Faro, justifica-se que esta ligação sirva o Aeroporto, a Praia de Faro, Montenegro e 40
Gambelas/Universidade e que, em articulação com a Linha do Algarve e com baixos custos ambientais, constitua um forte fator de coesão territorial e, eventualmente, um embrião de mobilidade ferroviária, a expandir no futuro, interessando a toda a região a oeste do Sotavento Algarvio”, preconiza o movimento, que chama ainda a atenção para a proximidade do Algarve ao Alentejo e Andaluzia, três regiões dotadas de infraestruturas aeroportuárias – Aeroportos de Faro, Beja e Sevilha, respetivamente, cuja ligação, por ferrovia, se poderia potenciar. “Através do
Algarve, Portugal poderá fazer parte do corredor ferroviário do Mediterrâneo que atravessa Espanha, França, Itália, Eslovénia, Croácia e Hungria”, realça o MMF. “O Algarve, através dos seus decisores políticos e com responsabilidade no planeamento e desenvolvimento regional, deverá reclamar junto do Governo Central os investimentos necessários para a concretização da Estratégia para a Ferrovia do Algarve 2050”, exige o Movimento Mais Ferrovia. Por sua vez, Vítor Aleixo, presidente do Conselho Regional da CCDR Algarve, lembrou que as perspetivas de desenvolvimento têm que estar, nos dias que correm, fortemente ancoradas nos valores da sustentabilidade ambiental.
“Vivemos momentos de grandes decisões e estamos a falar de coisas estruturantes que são urgentes de 41
realizar. Falou-se, por exemplo, da construção de uma nova estação entre Almancil e Faro, mas ela já existe em São João da Venda, no Parque das Cidades. Apesar da anunciada «bazuca», o dinheiro é sempre um bem escasso e não se prevê que esse cenário se inverta no futuro. Por isso, qualquer investimento requer sempre um sentido de economia”, declarou o presidente da Câmara Municipal de Loulé. “Aquela estação está
equidistante de Faro e Loulé, no Parque das Cidades está o Estádio Algarve e ali vai ficar, mais tarde ou mais cedo, o Hospital Central do Algarve, e ali perto encontrase também um grande complexo comercial que emprega, seguramente, mais de três mil pessoas. Não seria de pensar num green bus, um autocarro elétrico que é tão correto, do ponto de vista ambiental, como um tram train, e que é muito mais flexível? Seria, provavelmente, um investimento muito mais económico e que poderia servir igualmente o polo das Gambelas da Universidade do Algarve e o Aeroporto de Faro”, acredita Vítor Aleixo. “Estamos numa altura em que devemos baixar o nível de artificialização do solo e aproveitar aquilo que já está feito no terreno. Não podemos falhar nestas decisões”, reforçou . ALGARVE INFORMATIVO #300
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ALBUFEIRA ACOLHE CONGRESSO NACIONAL DA HOTELARIA E TURISMO EM NOVEMBRO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina Salão Nobre da Câmara Municipal de Albufeira foi palco, no dia 21 de julho, da apresentação oficial do 32.º Congresso Nacional da Hotelaria e Turismo, que se vai realizar, de 11 a 13 de novembro, no NAU Salgados Palace, sob o lema «O Turismo tem Futuro». O evento é organizado pela AHP – Associação da Hotelaria de Portugal, com o apoio do Município de Albufeira e do Turismo do Algarve, e será o ponto de encontro de todo o Turismo e daqueles que com ele ALGARVE INFORMATIVO #300
trabalham e o momento de reflexão sobre o futuro, sendo esperados cerca de meio milhar de participantes. “O
Algarve é uma região iminentemente turística e Albufeira é conhecida como a capital do turismo, com cerca de 40 por cento da capacidade de camas do Algarve e cerca de 150 equipamentos turísticos. Por isso, faz todo o sentido acolher este 44
José Carlos Rolo, presidente da Câmara Municipal de Albufeira
congresso, em especial numa época baixa que tem que ser atenuada com acontecimentos que tragam pessoas ao concelho”, considerou José Carlos Rolo. O presidente da Câmara Municipal de Albufeira não escondeu que o sector do turismo, e o território que lidera, atravessam uma situação bastante delicada, “mas há que ter esperança
no futuro, que este cenário irá mudar, e que regressaremos ao desempenho de 2019, um ano extraordinário em termos turísticos”. “Os congressos são 45
momentos em que se trocam experiências e conhecimentos e se reflete sobre os problemas dos sectores e temos todas as condições para que sejam três dias muito produtivos e de onde saiam resultados e conclusões que depois sejam frutíferas para o futuro”, acrescentou o edil albufeirense. Na sua intervenção, o presidente da AHP, Raul Martins, frisou que “esta é
a oportunidade de olharmos em frente, de aprender com o que passou e colocar o Turismo na linha na vanguarda da ALGARVE INFORMATIVO #300
Raul Martins, presidente da direção da AHP
recuperação”. “É isso que esperamos deste Congresso, que abra as portas do futuro e que nos posicione, apesar das adversidades, no mundo global em que vivemos. Foi por isso também que escolhemos o Algarve, a maior região turística e a mais aberta ao Mundo, e Albufeira, um dos maiores polos turísticos do país. Os tempos são e serão difíceis e sabemos que o futuro é uma incógnita, mas que começa agora”, afirmou, aproveitando para agradecer o apoio da Autarquia de Albufeira à realização deste congresso que, volvidos oito anos, está de regresso a este concelho. ALGARVE INFORMATIVO #300
Raul Martins confirmou que Portugal vive, há mais de 15 meses, momentos muito difíceis e complexos e que ainda não terminaram, “mas o turismo tem futuro”. “Sabemos bem os
riscos que corremos ao organizarmos o congresso em 2021 e em formato presencial. Muitos poderão pensar que ainda é cedo, sobretudo por estarmos demasiado envolvidos com a temática da pandemia, o que nos poderia levar a focar-nos no passado recente e no presente. Mas também sabemos que é chegado o momento de debater o 46
Cristina Siza Vieira, vice-presidente executiva da AHP
que queremos para o futuro deste sector e é disso que vamos tratar”, garantiu. “Numa altura em que é quase certa a retoma a partir de 2022 – conforme apontam vários organismos e especialistas internacionais – é tempo de analisarmos as lições aprendidas, mas sobretudo apontarmos caminhos que coloquem o turismo na linha da frente da recuperação económica de Portugal, como no passado recente aconteceu”,
Quanto à escolha do Algarve para a realização do 32.º Congresso Nacional da Hotelaria e Turismo, lembrou que a região foi responsável, em 2019, por cerca de 33 por cento das dormidas de estrangeiros no país e com proveitos globais superiores a 1.200 milhões de euros. “Por tudo isto, acreditamos
reforçou.
João Soares, representante da AHP no Algarve, “pelo trabalho que tem
O presidente da AHP antevê que números semelhantes aos alcançados em 2019 só aconteçam a partir de 2024, mas avisa que é preciso preparar o caminho. 47
que iremos ter um grande congresso, que será o ponto de partida para o reencontro de todo o sector da hotelaria e turismo com aqueles que connosco se cruzam”, finalizou, elogiando ainda
desenvolvido, tanto em prol da associação, como na organização deste congresso”, e Mário Ferreira e o Grupo NAU, os anfitriões do evento. ALGARVE INFORMATIVO #300
Na cerimónia foi também apresentada a imagem gráfica do 32.º Congresso Nacional da Hotelaria e Turismo, com Cristina Siza Vieira, vice-presidente executiva da AHP, a referir que “ilustra
duas ideias fundamentais – a da viagem e a da viragem – a importância de olhar em perspetiva aberta para os caminhos que o futuro nos traz”. “2022 será o ano da reabertura, vamos retomar o imenso prazer que é viajar, conhecer o mundo e uns aos outros. Vamos, de facto, voltar ao negócio, mas não será o mesmo negócio de antigamente”, apontou a dirigente. ALGARVE INFORMATIVO #300
O 32.º Congresso Nacional da Hotelaria e Turismo será presidido por Raul Martins, presidente da AHP, sendo a Comissão Organizadora constituída por Cristina Siza Vieira, vice-presidente executiva da AHP, Rodrigo Machaz, CEO do Memmo Hotels, Frederico Costa, Administrador do Pestana Pousadas, Helena Ferreira, Managing Partner da UNIK Management & Investments, Bernardo Trindade, Administrador do Grupo PortoBay, Bernardo D’Eça Leal, Founder do The Independente Collective, e João Soares, Diretor-Geral do Dom José Beach Hotel e representante da AHP no Algarve . 48
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RICARDO J. MARTINS LANÇA «ESCAPISMO…» Texto: Daniel Pina | Fotografia: João Ribeiro e Química Criativa
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scapismo…», assim se chama o terceiro disco de Ricardo J. Martins, o segundo de originais, em que a guitarra portuguesa é a figura principal, mas acompanhada por muitos outros instrumentos, comprovando o gosto que o músico e compositor sãobrasense tem em misturar várias sonoridades. Álbum que começou a ser concebido em 2019, estando o início das gravações previsto para os primeiros meses de 2020, mas a pandemia veio atrasar todo o processo. Por isso, só em maio do corrente ano é que tudo ficou finalizado, daí que alguns dos temas já tenham sido tocados ao vivo, até porque a agenda de Ricardo J. Martins, apesar da covid-19, continua bastante preenchida, seja com o seu trabalho a solo, a acompanhar fadistas ou em projetos com
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outros artistas, como disso foi exemplo o «Casamento na Pedreira» com Vítor Bacalhau. “Mas esta vida nunca é
fácil, pois a guitarra portuguesa ainda continua a ser vista como um instrumento que serve para acompanhar alguém que está a cantar, nomeadamente o fado. Por esse motivo as suas potencialidades ainda não foram totalmente exploradas, mas sempre houve solistas de guitarra portuguesa, como o Carlos Paredes, Armandinho, Jaime Santos ou José Nunes”, comenta o entrevistado. Outro problema é que a música instrumental não é vista, em Portugal, como um estilo nobre, acessível a
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todos os ouvidos, diz-se que é «música de elevador», para criar ambiente. “No
entanto, basta irmos a Espanha e vemos enormes músicos da guitarra flamenca que correm o mundo a apresentar a sua vertente instrumental e não apenas acompanhados por cantores de flamenco”, indica o algarvio, adiantando que é preciso gostar-se mesmo daquilo que se faz para se embarcar na aventura que é gravar um disco em Portugal, sabendo-se, de antemão, que o retorno financeiro, em termos de vendas, dificilmente compensará o investimento efetuado. “Temos aquela vontade de 55
compor e mostrar a nossa música, mesmo estando conscientes que depois, na prática, é complicado arranjar concertos. Vivemos num país pequeno e, às vezes, as mentalidades são do tamanho do próprio país”, desabafa, com um encolher de ombros. A solução para Ricardo J. Martins tem sido o mercado internacional, exportar o seu produto além-fronteiras, recordando a sua passagem, em 2020, pelo Quénia, onde esteve a tocar numa antiga fortaleza portuguesa do século XVI. “Já toquei mais vezes fora de ALGARVE INFORMATIVO #300
Portugal do que fora do Algarve”, confirma, com um sorriso, confessando que não faz muito o seu feitio tocar guitarra portuguesa de uma forma clássica. “Eu comecei na viola e
guitarra elétrica e só aos 20 anos é que me dediquei à guitarra portuguesa, pelo que as minhas influências musicais são outras que não o fado. Em minha casa ninguém ouvia fado e eu só me interessei pela guitarra portuguesa depois de escutar o Carlos Paredes”, conta o são-brasense. “A música que faço sai naturalmente com pitadas de várias sonoridades, do rock ao jazz e música clássica. E saem todas muito diferentes umas das outras, sem que me esforce para tal”, acrescenta. A sua experiência anterior noutros instrumentos depressa lhe permitiu perceber também que a guitarra portuguesa é bastante difícil de dominar.
“Tem uma afinação muito particular, mas certos géneros de fado só se conseguem tocar precisamente por causa disso, é um «pau de dois bicos». Depois, como são cordas de aço e cordas duplas, a execução também fica mais difícil do que numa guitarra clássica. E, claro, é sempre mais complicado tocar um instrumento acústico do que um elétrico”, explica Ricardo J. Martins, antes de abordar outra dificuldade, a de transmitir uma mensagem ou conceito sem o suporte da voz. “Na música cantada a letra faz ALGARVE INFORMATIVO #300
com que o ouvinte pense logo nalguma coisa, é levado por aquela história. Na música instrumental é tudo mais ambíguo e, se ninguém fizer uma apresentação prévia dos temas, cada um sente algo diferente. Neste caso, o próprio título que damos aos temas permite-nos viajar e pensar mais além do que se está a ouvir”, entende o algarvio.
UMA MÚSICA, PARA FICAR NO OUVIDO, TEM QUE SER TOCADA E ESCUTADA Adivinha-se, também, que escutar música instrumental requer, quiçá, um gosto mais afinado, mas Ricardo J. Martins contrapõe que “existe
música boa e música má em qualquer estilo e quem gosta realmente de música consegue ver nela beleza e qualidade, mesmo quando não está habituado a esse género”. “No concerto que fiz com o Vítor Bacalhau para o Geopalcos, se calhar havia pessoas que estavam mais acostumadas ao estilo do Vítor, outras ao meu, e nós misturamos duas coisas que, à partida, seriam difíceis de combinar e sem desvirtuar nenhuma delas”, lembra, reconhecendo que gosta bastante destes «casamentos improváveis», até para marcar a diferença em relação aos 56
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seus colegas. “Hoje encontramos, no
mundo da guitarra portuguesa, músicos bastante distintos. O Ricardo Rocha e o Pedro Caldeira Cabral são mais eruditos, o Ricardo Gordo segue uma onda mais eletrónica, o José Manuel Neto está mais ligado à vertente tradicional.
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Eu, quando componho músicas, não tento que elas sejam muito diferentes do que já existe. Vão sendo construídas de forma inconsciente, mas gosto de pensar nelas como músicas de guitarra portuguesa e não como
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simples «guitarradas», que são mais um exercício técnico”. Misturam-se as sonoridades e misturamse, claro, os instrumentos, portanto, em «Escapismo…», para além da guitarra portuguesa, também lá estão a guitarra clássica, o baixo, o violão, o cavaquinho brasileiro, o bouzouki irlandês, a sanfona, o pandeiro, a flauta transversal, as percussões tradicionais e a bateria, o violoncelo e o acordeão. “Nunca penso
na estrutura simples do fado – guitarra, viola e baixo – mas que outros instrumentos podem tornar os temas ainda mais ricos e belos”, assume Ricardo J. Martins. Quer isto dizer que ser um excelente instrumentista não significa que, depois, se seja também um excelente compositor, questionamos.
“Nem sempre um bom executante tem grande capacidade criativa, ou vice-versa, o que depende também da aprendizagem que tiveram. Há quem se dedique apenas a tocar as peças que foram criadas por outros e não tente fazer algo de raiz, mas um bom professor, por exemplo, também não tem que ser um bom executante. Por outro lado, ser compositor às vezes é muito ingrato, porque as pessoas querem ouvir mais do mesmo”, responde o são-brasense, motivo pelo qual os concertos de homenagem têm sempre público. “Uma música, para ficar no
ouvido, tem que ser tocada e escutada e nem sempre é fácil que ela passe na rádio ou na televisão. 59
As redes sociais e as plataformas digitais tornaram tudo mais acessível, desde que sejamos curiosos para procurarmos as coisas. A música deixou de ser controlada pelas «altas patentes», mas a instrumental será sempre um nicho de mercado”, declara Ricardo J. Martins. Entretanto, as contas para pagar ao fim do mês não olham para estas dificuldades, pelo que a vida do nosso entrevistado é um constante corrupio entre atuações a solo e concertos tradicionais de fado. “Basicamente,
ganho dinheiro a tocar fado para investir nos meus projetos a solo e tenho tido a sorte de conquistar coisas muito importantes com a minha música. Embora a música instrumental não seja tão mediática, já fui a Cabo Verde, ao Quénia, à Ucrânia, à Índia e à China, países onde, a acompanhar o fado, dificilmente iria. Há muita gente a cantar fado, mas poucos têm temas originais, as suas próprias músicas. Temos que criar elementos diferenciadores”, defende Ricardo J. Martins, que tinha agendado diversos concertos no continente africano para dar a conhecer «Escapismo…», mas a pandemia deixou tudo numa incerteza. Certo é que, depois da primeira apresentação oficial ter acontecido, em junho, em Alcácer do Sal, a sua terra natal, São Brás de Alportel, será o destino que se segue, a 14 de agosto . ALGARVE INFORMATIVO #300
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TEATRO DO ELÉTRICO TROUXE «HAMSTER CLOWN» A LOULÉ Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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m palhaço que é um hamster ou um rato que é algo mais que um rato? «Hamster Clown» é a megaprodução do Teatro do Elétrico que esteve em Loulé, de 16 a 18 de julho, no Cineteatro Louletano, sendo que, pela primeira vez a Sul, houve uma sessão com o serviço de áudio-descrição para pessoas cegas ou com problemas graves de visão, através da descrição da peça em direto, mediante a utilização de tecnologia específica para o efeito. A peça surgiu da junção do encenador Ricardo Neves-Neves com o «palhaço» português Rui Paixão, que já trabalhou com o Cirque du Soleil, mas, ao contrário do que se possa pensar, não é teatro infantil. Para além de não ter texto, traz 65
ao palco universos alternativos, como os das drag queens, a identidade de género e algum surrealismo à mistura. O Hamster, nas palavras de Ricardo NevesNeves, pode não ser afinal tão inofensivo quanto parece: “Não vemos
esta personagem como um animal, mas antes como um homem ou uma mulher. Não fechamos o género, e olhamos para ela pensando que, em vez de ter havido uma evolução darwiniana do homem a partir do macaco, houve a partir de um hamster. Penso que qualquer espectador verá ali uma pessoa, com características diferentes e um desvio genético. Depois, a partir desta figura começámos a falar de tudo, do universo de terror, de ALGARVE INFORMATIVO #300
questões ligadas ao drag queen. Aprendi há pouco tempo que drag vem do Shakespeare, «Dressed As Girl», e é isso que fazemos aqui, temos um rapaz vestido de rapariga”, conta o encenador quarteirense, numa entrevista realizada por Gabriela Lourenço para o Teatro São Luiz Ainda de acordo com Ricardo NevesNeves, Rui Paixão apresentou-lhe alguns vídeos da artista britânica Juno Birch,
“que tem um universo muito divertido e, ao mesmo tempo, um rasgo que queima e é ácido”. “Esse humor atraiu-nos, essa possibilidade de termos uma coisa ALGARVE INFORMATIVO #300
azeda em cima do espetáculo. A peça ficou com muito disso, esse verde do podre, do pesadelo, do pântano, uma treva com bactérias. Ao mesmo tempo, é uma coisa meio alienígena, que identificamos, mas que não é do nosso planeta”, explica. Já para Rui Paixão, que carrega às costas do Hamster o peso aparente da ausência da palavra, o desafio de não haver texto pode traduzir-se numa grande vantagem, em termos artísticos. “Para
mim, o teatro físico não é a substituição da palavra. O que as pessoas vão ver em palco não é um texto que não está a ser dito ou que está a ser mimado. O teatro 66
físico existe como uma escrita radicalmente diferente. Se aqui as imagens são as palavras, é normal que elas sejam diferentes para os diferentes criadores e para os espectadores. E ainda bem. O método que o Ricardo tinha para comunicar comigo eram as palavras e o método que eu tinha para comunicar com ele era o meu corpo em movimento. E encontrarmo-nos neste cruzamento foi o desafio deste processo. Aqui estamos a dar imagens que depois quem vê pode ampliar para vários significados. É como a poesia oriental, em que tudo é dito mais por imagens do que por palavras concretas”. 67
Com uma cenografia pensada ao pormenor, recorrendo a cores vibrantes, caracterização levada ao exagero, música intensa e efeitos visuais e sonoros complexos, Hamster Clown é uma peça que não é fácil de encontrar todos os dias. “Gosto dessa ideia de
ser uma coisa fora do comum, estranha, de não ter medo do teatral, de ir ao teatro ver uma coisa que é excecional, fora do quotidiano, que não vejo se não for a uma sala de espetáculos. É para isso que pago bilhete para ir ao teatro, para ver algo que não veria na rua”, conclui Rui Paixão, o clown que dá vida ao hamster «fora da caixa» nesta coprodução do Cineteatro Louletano, Teatro São Luiz e Centro de Arte de Ovar . ALGARVE INFORMATIVO #300
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MILITA DORÉ, CHRISTINE HENRY E TATILDA EXPÕEM NO CONVENTO DE SANTO ANTÓNIO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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naugurou, no dia 16 de julho, no Convento de Santo António, em Loulé, «Pergunto às estrelas se posso dançar?», uma exposição de Christine Henry, Milita Doré e Tatilda com curadoria de Miguel Cheta. Segundo o conhecido artista plástico, “dançar é um ato de
liberdade, a libertação do corpo na procura de movimentos e ritmos ALGARVE INFORMATIVO #300
distintos dos que reproduz no quotidiano”. “O ato de dançar está muitas vezes relacionado com momentos de celebração. A felicidade e a fé parecem retirarnos peso e conduzir-nos a uma dimensão em que exploramos uma sensação momentânea de leveza em que corpo e espírito 82
ao recolhimento, em que o corpo está muitas vezes privado de habitar o espaço público”. “Privados do convívio, privados da ideia essencial de comunidade que só existe quando muitos têm muito em comum”, enfatiza. Consciente de que há muito tempo que as pessoas não têm motivos de celebração e que a música segue solitária, a questão que dá nome à exposição é pertinente, tem um carácter de urgência, anseia por uma escuta, deseja uma resposta que vem sendo constantemente adiada.
“Imaginar uma tal cumplicidade com as estrelas é sondar a profundidade da nossa própria natureza. Questionar a pluralidade dos mundos introspetivos é ouvir uma infinidade de respostas silenciosas”, frisa Miguel Cheta, que convidou Christine Henry, Milita Doré e Tatilda para este dispositivo constituído inteiramente por obras inéditas de escultura, instalação, fotografia e desenho “que desvelam
partilham aparentemente um peso comum. Dançar é um convite à interação entre o corpo e o som, ao convívio de vários corpos sob um só ritmo. Dançamos porque somos seres sociais e necessitamos viver em comunidade e em liberdade”, considera o curador da mostra, lembrando que “vivemos tempos
estranhos, em que somos obrigados 83
a pluralidade de perspetivas propostas pelas artistas para abordarem este desejo de dançar, metáfora para o desejo de um regresso à liberdade conforme a conhecíamos”. Um desejo que não deve ser confundido com a vontade de um regresso à «normalidade», avisa Miguel Cheta, pois as artistas partilham uma ALGARVE INFORMATIVO #300
consciência comum de que esse não será certamente o caminho que a Humanidade deve perseguir numa altura em que vivemos a primeira pandemia do século XXI. “Necessitamos de uma via que
não esgote os recursos naturais e que, com eles, não se esgotem direitos e liberdades arduamente conquistados. As artistas recorrem a múltiplas técnicas e materiais para dar corpo aos objetos que constituem esta delicada mise en scéne. Letras delicadamente bordadas sobre toalhas gritam intimidade. Objetos pesados aparentam levitar ao encontro de lugares impossíveis. Construções em madeira e betão transportamnos a metrópoles silenciadas. Peças ALGARVE INFORMATIVO #300
de roupa penduradas perfilam-se sem um corpo que as habite, numa espécie de teatro de marionetas estáticas, delicadas e burlescas, uma estranha dualidade. Esta e outras dualidades coexistem no espaço expositivo. As vibrantes cores e a exuberância na utilização de materiais que reinterpretam jogos de sedução, atração e morte observados entre insetos e plantas no mundo natural contracenam com a contenção formal e cromática dos objetos representativos da ação humana”, descreve o curador. 84
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Ainda de acordo com Miguel Cheta, Christine Henry, Milita Doré e Tatilda têm um forte e distinto alfabeto visual, o que posiciona este encontro na categoria do improvável. “As artistas pertencem a
duas gerações, os seus percursos pessoais e artísticos encontram-se em estados bastante diferentes, assim como diferentes são os seus referenciais. Os mundos que habitam – ainda que tenham Loulé como lugar-comum – não são os mesmos. Mas agora, neste momento em que a realidade tem tanto de ficção, não será difícil que encontrem um lugar-comum. O lugar de todos nós. A dança do mundo aguarda o nosso próximo passo”, finaliza Miguel Cheta . ALGARVE INFORMATIVO #300
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DINOSSAUROS «INVADEM» ALBUFEIRA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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té ao dia 22 de agosto, o Parque do Ribeiro, à entrada de Albufeira, está transformado no habitat natural de 14 dinossauros, espaço que tem recebido bastantes visitas durante o dia e que à noite se torna ainda mais impressionante. ALGARVE INFORMATIVO #300
A exposição, de entrada livre, permite oferecer, nestas férias de Verão, uma experiência única aos mais pequenos que, em família, podem aprender de forma divertida e segura tudo sobre a vida e desaparecimento de algumas das espécies animais mais temíveis que habitaram o nosso planeta durante mais de 200 milhões de anos . 98
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OPINIÃO Os justiceiros do teclado Paulo Cunha (Professor) erá a justiça um conceito abstrato? Tendo um significado bastante amplo, pode estar sujeita a várias interpretações e a diferentes conotações. Entre vários exemplos de correntes filosóficas que evidenciaram a necessidade de implementar o justo, o Jusnaturalismo, o Positivismo e o Realismo são alguns dos exemplos que visam alcançar o bem-estar da comunidade. Mas será legítimo fazer justiça «pelas próprias mãos»? No passado, já assistimos a muitas situações em que tal aconteceu. O resultado não foi o esperado e por essa razão fomos mudando e adaptando o nosso sistema jurídico ao longo do tempo. Os (pseudo) justiceiros do século XXI são pessoas comuns que têm uma única coisa em comum: o seu «senso de justiça». Da mesma forma que não devemos reagir passivamente ao presenciar um ato de barbárie na via pública, também não devemos ficar insensíveis e impassíveis aos «linchamentos públicos» que, cada vez mais, assistimos nas redes sociais. Havendo muita gente que confunde aquilo a que chama «politicamente correto» com cobardia, medo e subordinação, relembro que podemos atingir os mesmos intentos e objetivos ALGARVE INFORMATIVO #300
através do civismo, da educação e do humanismo. Não é difícil avaliar a criatividade dum texto depois dele estar visível e disponível para quem o quiser ler. Difícil é antevê-lo, descrevê-lo e construí-lo antes de ele o ser. Isso dá trabalho! Não há nenhum motor de busca que ensine a pensar, a selecionar a informação, a distinguir o essencial do acessório. Não é fácil, hoje, navegar entre os escolhos da mentira, da desinformação e do marketing para selecionar o que é verdadeiro e relevante no universo digital. As redes sociais reforçam os enviesamentos e estimulam as discordâncias em vez de estimular a interrogação sobre as convicções. O «seguidismo» prolifera e persegue quem não partilha as mesmas ideias e ideais. As pessoas agrupam-se por certezas que desencorajam a experiência de pensar ou pensar diferente. As próprias redes sociais estimulam os «seguidores», aqueles que estão dispostos a subscrever seja o que for, desde que venha de alguém que aprenderam a acreditar e a adorar, não pelos atos, mas pelas palavras (endeusadas) ditas e escritas. Hoje, metade da população mundial tem, por vontade própria, acesso às 106
redes sociais. Sem saber como nem se dar conta, é manipulada, manietada e usada por pessoas que se escondem em perfis falsos ou se metamorfoseiam nas produções fotográficas, currículos e/ou cargos institucionais e corporativos que apresentam. Adaptando os discursos às circunstâncias, arvoram-se como os lutadores contra todos as maleitas do mundo. Males que dão protagonismo aos interesses que defendem e são meio caminho andado para o populismo!
competência, nos desrespeita. E são tantos!
Desde cedo, aprendemos que devemos respeitar a opinião dos outros. Sim, quando as opiniões provêm de pessoas que têm a preparação necessária para emitir uma opinião devidamente fundamentada e ajuizada. Doutra forma, caímos na esparrela de andarmos a gastar o nosso precioso tempo a respeitar quem, por falta de formação, informação, reflexão, experiência e
Ter opinião dá muito trabalho e não é no Google, nas redes sociais ou nos órgãos de comunicação que a adquirimos. Quando muito, as redes sociais poderão ser um ponto de partida e não de chegada. Será um sítio virtual, onde certos «amigos»/seguidores exercem uma espécie de justiça popular produzida e criada à medida dos seus ocultos e obscuros interesses, um local recomendável? Jamais! .
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Mas como detetar e assim filtrar as opiniões e informações destes justiceiros que, sem retirarem os dedos do teclado, e sabe-se lá como e em que condições, tentam fazer justiça pelas próprias mãos? Mais uma vez, volto a bater na mesma tecla: é na Escola que se ensina a importância de perguntar, mais do que responder.
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OPINIÃO Manu Menezes - Project Room Associação 289 (29 de julho a 8 de agosto) Mirian Tavares (Professora Universitária) “Recuerdo (creo) sus manos afiladas de trenzado. Recuerdo cerca de esas manos un mate, con las armas de la Banda Oriental; recuerdo en la ventana de la casa una estera amarilla, con un vago paisaje lacustre. Recuerdo claramente su voz; la voz pausada, resentida y nasal del orillero antiguo, sin los silbidos italianos de ahora (…)”. Jorge Luís Borges m Funes, el Memorioso, Borges conta-nos a história do magnífico e inimitável Ireneo Funes, um jovem que, ao sofrer uma queda que o deixou imobilizado, foi ao mesmo tempo presenteado com uma memória miraculosa. Funes era capaz de se lembrar de cada minuto do dia, “(…) el presente era casi intolerable de tan rico y tan nítido, y también las memorias más antiguas y más triviales”. Aos 19 anos, a sua vida transformou-se num processo de rememoração infinito, passou a habitar as memórias do visível e, num certo sentido, passou a viver de trás para frente. “Pensó que en la hora de la muerte no habría acabado aún de clasificar todos los recuerdos de la niñez”. A memória é um tema que sempre interessou ao escritor argentino – esta capacidade que temos de reviver momentos que já cá não estão, mas que, ao mesmo tempo, podem impedir de vermos o que temos no preciso instante diante de nós. É um paradoxo, que a arte, nas suas diversas modalidades e aceções, ALGARVE INFORMATIVO #300
tem tentado resolver ao longo dos séculos. Regis Debray afirma que a criação das imagens é fruto do desejo humano de permanecer: sabendo que nossa memória não é infinita, como a de Funes, as imagens existem para nos ajudar a reviver o passado, a torná-lo presente e visitável. Manu Menezes é uma jovem artista que faz da memória o fio condutor da sua obra. Esse fio não é apenas metafórico, mas é a matéria a que recorre para construir objetos, frutos de suas vivências, das memórias transmitidas por gerações de mulheres, que, antes dela, fizeram do bordado uma ocupação, muitas vezes uma obrigação – uma função feminina de entre as muitas que a mulher foi obrigada a ocupar ao longo dos anos. Enquanto Ulisses navegava em mares bravios e desbravava o desconhecido, Penélope esperava e tecia. A tessitura da vida está também nas mãos de três mulheres, as Moiras ou Parcas, que decidem quando esticar ou cortar o fio que nos sustenta neste mundo. Tecer, bordar e coser são ações associadas ao mundo feminino. Mesmo na arte, muitas são as 108
mulheres que usaram os fios como ferramenta e matéria para construir discursos plásticos. Também alguns homens, como o artista brasileiro Leonilson, recorreram ao bordado para dar vida ao gesto artístico. No seu caso, bordava palavras e construía novos sentidos, desviando os tecidos e as rendas do lugar mais doméstico e expondo com eles, e através deles, as suas mais íntimas (e por isso universais) feridas. É esta tessitura desvirtuada, feita em croché, que respira na falsa delicadeza das peças de Manu Menezes – objetos desviados da sua função doméstica e convocados como discurso artístico. Cadeiras, molduras, mesas de canto. Lugares de memória e também espaço de ausências. O croché é feito de pontos que se compõem de cheios e de vazios e este vazio é acentuado, pela artista, quando deixa a peça incompleta, com a linha à espera, de algo ou de alguém que componha o retrato, que preencha os vazios, que reconduza o fio ao princípio, onde tudo começou. Uma lata de biscoitos que a avó guardava no armário, que todas as avós guardavam nos armários que habitam as casas dos avós, é recoberta com um naperon, ou uma teia, que uma aranha laboriosa teceu à volta. Um sinal do tempo, uma marca da resistência dos objetos, mesmo os mais inúteis, como essa lata de biscoitos, que se fixam na nossa memória e fazem parte de nós. Retrato de Família, O vazio que não vi chegar, O espelho das gerações passadas são nomes das obras que, interligadas entre si, compõem um cenário íntimo e acolhedor, mas profundamente nostálgico. Seria a nostalgia, palavra tão pesada quanto bela, possível numa artista tão jovem? É tão possível que uma das obras se chama Talvez 109
lembrar seja pesado demais. Para combater esse peso, Manu Menezes atua com leveza – as peças de croché, ora penduradas, ora encaixadas noutras peças, são ligeiras e aconchegantes. Funcionam como um catalisador de lembranças, contam-nos histórias – e, com as suas histórias insinuadas, a artista pretende que o espectador entre na obra, convocando memórias próprias. É inegável a presença do elemento dialógico que nos remete, invariavelmente, para uma amplificação do conceito criado por Nicolas Bourriaud da estética relacional: a arte só funciona quando habitada e vivenciada. Entro no universo de Manu Menezes como entrava, nas tardes quentes de Verão, na sala da casa dos avós que só era aberta às visitas. Resguardada por cortinas espessas, portas fechadas e silêncio. Aquela sala que, em criança, ia espreitar enquanto todos dormiam a sesta. Tanto calor, a casa parecia vazia, pé ante pé, andava por ali, sem fazer barulho. E tudo parecia diferente, novo. Outra casa na mesma casa, desabitada àquela hora do dia. Não me comovo com facilidade, mas a obra de Manu Menezes toca-me no lugar mais sensível – o das ausências. Aquele lugar que a só arte é capaz, muitas vezes, de preencher . ALGARVE INFORMATIVO #300
OPINIÃO Vigésima oitava tabuinha - Dia Individual da Mulher; ou Dia da Mulher no Verão; ou Dia da Arte Ana Isabel Soares (Professora Universitária) os dias 8 de março, por regra, celebrase no mundo o Dia da Mulher. É daquelas ocasiões sobre as quais se diz que não deveria ser necessário – mas ainda é; por quanto tempo se sentirá que é preciso, aqui ao Sul de um país do Sul da Europa, noutros lugares? Sou mulher: no acaso de ter nascido assim, e de assim continuar a sentir-me, sou mulher. Desconheço se essa condição me torna mais sensível ao que é relativo às mulheres, das mulheres, feito por, com, para mulheres. Porventura, será. Mas, conscientemente, aquilo que com mais frequência assumo para justificar os meus pendores, os lados para onde a pulsão da beleza me transporta, relaciona-se com o lugar onde cresci e onde vivo, este Sul do Sul. Quase a meio do caminho da vida que levo, norteei um bocadinho: seis anos, ou sete, passados em Lisboa deram-me aquilo que, no começo dos anos 90 do século passado tinha dificuldade em achar no Algarve: filmes que ver, concertos e exposições a que ir, peças e companhias de teatro que conhecer, livrarias que visitar. (O Dia Mundial da Arte celebra-se, assim com a ALGARVE INFORMATIVO #300
pompa de UNESCO e tudo, ainda nem há dez anos, desde 2012. Ter-se-á tornado numa coisa necessária, lembrar a Arte, como lembrar a Mulher?). Hoje mesmo, no sábado em que este texto é publicado (aqui ao lado, também no Algarve Informativo, escrevem outras mulheres – que aqui vivem, que conhecem há mais ou menos tempo o lugar, que o constroem e habitam), sem me deslocar muito na geografia desta tira de terra, zona da costura de continentes, rasgão de rochas que o movimento e a água foram calcificando – num raio de 50 quilómetros, vá –, querendo, e falando só, que o espaço é pequeno, em artes visuais, posso dar de caras com a arte de algumas mulheres: umas a solo, outras acompanhadas (de gente Mulher e gente Homem), é uma fartura só boa: neste dia 24 termina «Mercúrio Retrógrado», nome que Vasco Marum Nascimento e Ana Rostron deram à exposição na Galeria do Convento do Espírito Santo, no centro de Loulé; em Loulé também, noutro «dessacralizado» (mas não desumanizado) convento, o de Santo António, à saída da cidade em direção a Oeste, Milita Doré, Tatilda e Christine Henry expõem várias peças sob uma interrogação comum – «Pergunto às 110
Foto: Vasco Célio
Estrelas se Posso Dançar!?». Até ao começo de setembro podem ver-se as obras delas. A Milita mostra ainda maravilhas de cor e habitação espacial na Fonte da Benémola, a Norte de Loulé, as suas «Colheitas», até final de agosto. Por baixo da cidade (não a Sul, mas 230 metros abaixo, na Mina de Salgema), Christine Henry, com Miguel Cheta e João Caiano, formam o «Osso do Mar», também visitável até 31 do mês que vem. Por Faro, só na cidade está até 1 de agosto aberta no Museu Municipal a exposição de Maria José Oliveira, «Estamos aqui porque Voámos» (imagino esta mostra a solo, que se apresenta no plural, dialogar com a coletiva que no antonino convento de Loulé faz perguntar se se pode pedir às estrelas 111
para dançar; chegam as mulheres aos lugares altaneiros, apresentam-se, “estamos aqui porque voámos,” e, olhando umas para as outras, há alguém, impaciente, que se interroga – “pergunto às estrelas se posso dançar?”); e na Galeria Trem, traseiras da linha de caminho de ferro, a que corta a cidade da ria, de cinco pintores, três são mulheres: Ana André, Jill Stott e Meinke Flesseman (com Vasco Vidigal e Jeffrey Gaylord Carter): «One Stop Away» pode ser vista até 18 de setembro. Só mais uma, se rumar a Tavira até fim deste tão querido mês de agosto: Lia Ferreira mostra desenhos e pintura nas paredes da casa Álvaro de Campos. Nunca chega, nunca basta. Mas que alegria, quanta arte, quanta mulher! . ALGARVE INFORMATIVO #300
OPINIÃO Notas Contemporâneas [20] Adília César (Escritora) “Meu caro, dizia-me ele muitas vezes, quando se critica os outros, é necessário ser-se irrepreensível”. Eça de Queirós (1845-1900),
ECHO os olhos, e o pensamento acende-se. A luz desliza pela coluna vertebral e espalha-se pelos órgãos internos, como uma sensação de dor a preencher as células. A pele fica às escuras. Fecho os olhos. Abdico de todos os episódios de transtorno, essas sombras de intensidade ainda média. Fecho os olhos, mas qualquer semelhança com a noite é pura coincidência. * ACORDO às 08:38. Não é a primeira vez que isto acontece. Acredito que toda a organização do universo se baseia na elaboração de uma estrutura matemática, através de um padrão repetitivo, sem erro nem desvio. O meu corpo acorda às 08:38. É domingo. Não tenho a certeza se existe alguma obrigatoriedade de funções para o dia de hoje: talvez ficar na cama e dormir, mas decido acordar o espírito. Começo a ler um livro escolhido ao acaso. Leio epígrafes sem consequências. O livro é ALGARVE INFORMATIVO #300
desinteressante e abandono a leitura. Não tenho forças para escolher outro, e adormeço. São 09:00. * OS DESVIOS foram inventados pelos humanos – as estradas de cimento ao longo da terra; os apartamentos sobrepostos sobre o lugar de ninguém; as barragens a impedirem o movimento dos caudais que antes eram livres; as pontes entre margens perdidas no horizonte. E as máscaras de contenção da doença. Sejamos práticos: afinal, já não somos humanos, transformámo-nos em «seres potencialmente pandémicos». Temos sucesso em todos os domínios de destruição e o nosso mantra é consumir e apagar todas as pistas de arrependimento; dizer adeus ao futuro é o novo lema. * OS ESPECIALISTAS trabalham por turnos. Cada um tem a sua teoria e cada teoria tem o seu contrário. Este processo dialéctico desenvolve-se ao longo de um período 112
de tempo pré-determinado. Às vezes, vão trabalhar todos ao mesmo tempo. Logo, os especialistas não se entendem, não coordenam os seus tempos de antena e confundem os espectadores. Criticam-se mutuamente e invalidam teorias que acabam por nidificar no caos informativo. O que resta? * FAÇO DE CONTA que a tolerância é um valor a ser resgatado ao lixo ético a que me vou habituando. Sou tolerante em relação às atitudes dos outros e que ganho eu com isso? Sou tolerante com a corrupção, a demagogia e a restrição velada dos meus direitos? Sou tolerante em relação aos sintomas paradoxais das notícias? Não, não posso ser tolerante: “Às vezes, é preciso desobedecer” (Salgueiro Maia). * ACREDITAR em contos de fadas pode ser fatal. O Lobo Mau anda por aí. A Bruxa Malvada está à espreita. O Dragão insiste no fogo pelo fogo. E a Fada Madrinha é uma espécie em vias de extinção. O que resta? De repente, o Príncipe Encantado surge numa esquina do dia, a trautear uma canção requisitada nos termos de serviços mínimos, tendo em conta a evolução da espécie humana: É o Fungagá/ Fungagá da Bicharada/ É o Fungagá/ Fungagá da Bicharada! Não – é a palavra mágica. Criticar – é o verbo sábio para acolher o livre arbítrio. Porque haveria de querer a barbárie de «regressar à normalidade»?! 113
Porque haveria de me sujeitar às mentiras de outrora? * EU QUERO é ser feliz, de dentro para fora. Ser outra vez humana no avesso das coisas. Ser humana como nunca fui antes. Acordo às 08:38. Ainda é domingo? Apetece-me criticar abertamente os objectos do meu desprezo, mas hesito e nego o impulso, por agora. “No catálogo dos direitos humanos não existe o direito a não ser ofendido; se existisse, ninguém poderia dizer ou escrever uma palavra” (Salman Rushdie). E calo-me. Por agora. São 09:00. O tempo que passou tentou demitir-me das minhas funções, mas não conseguiu. O que resta? Tenho a resposta na ponta da língua: sei o que não quero . ALGARVE INFORMATIVO #300
OPINIÃO Como atrair startups para os territórios do interior? Fábio Jesuíno (Empresário) ecossistema de startups portuguesas está a crescer nos últimos anos, actualmente podemos ver que existem vários casos de sucesso, como a Farfetch, a Outsystems, a Talkdesk e a Feedzai, que já atingiram a categoria de unicórnios, startups que apresentam uma valorização superior a mil milhões de dólares. Todos estes exemplos são prova que o nosso país tem um potencial para o desenvolvimento de startups, nesse sentido podem ser criadas condições para que seja possível atrair startups mais pequenas para os territórios do interior e existem várias formas para o fazer. 1 - Melhorar a cobertura de internet Boas condições de internet são um factor fundamental para muitas startups, principalmente na área tecnológica. É claramente uma lacuna que inviabiliza a fixação de empreendedores no interior. Este problema pode ser resolvido com a melhoria da cobertura móvel através de incentivos para instalação de antenas. ALGARVE INFORMATIVO #300
Outra das soluções é a utilização de sistemas de internet por satélite, podendo haver um apoio financeiro na contratação deste tipo de serviços de forma a ser mais viável a sua utilização. 2 - Melhorar as acessibilidades Portugal é o país da Europa com mais auto-estradas per capita, principalmente localizadas no litoral, e continuamos a construir mais, deixando o interior na maioria das vezes fora desses investimentos. A criação de novas estradas no interior é fundamental e urgente, outros países europeus já o fazem com resultados muito positivos. 3 - Incentivos fiscais É necessário haver incentivos fiscais para atrair startups para o interior para um reforço da competitividade. Estes incentivos podem estar ligados à contratação de colaboradores, sendo uma forma eficaz para o desenvolvimento da actividade. Uma maior coesão territorial é um fator determinante para o desenvolvimento sustentável, onde o ecossistema das startups é um grande contributo para esse objectivo . 114
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OPINIÃO Os «milhardários» do turismo Nuno Campos Inácio (Editor e Escritor) niciei a minha vida laborar aos 16 anos, na indústria hoteleira. Ao longo de uma década trabalhei em bares, esplanadas e restaurantes, em Armação de Pêra, Portimão e Praia da Rocha. Certo dia, há cerca de 30 anos, o bar onde trabalhava começou a ser frequentado por um grupo de italianos. Nos primeiros dias não fizeram qualquer reclamação, mas, depois de passarem pelo supermercado e verem o preço das garrafas de bebida, começaram a entrar no bar a gritar: «Buongiorno milhardários!». Faço este preâmbulo porque, nos últimos tempos, a ideia de que os empresários da hotelaria são uns usurpadores «milhardários», generalizou-se em Portugal. O sector hoteleiro da restauração, mas, principalmente, do sector dos bares e discotecas foi aquele que sofreu maiores quebras de negócio, sendo, inclusive, impedidos de trabalhar. No entanto, quando pedem apoios extraordinários pelos dois anos de inatividade, são vistos como um grupo de malfeitores, exploradores de clientes, que fazem fortuna às custas dos incautos, que só pretendem um momento de lazer. Não raras vezes há quem diga que não merecem qualquer apoio e que devem passar a gastar o que amealharam ao ALGARVE INFORMATIVO #300
longo dos anos. Esta ideia generalizada resulta do mesmo efeito que, há 30 anos, impressionou os italianos: a comparação de preços de uma garrafa, com uma dose de bebida. Ao longo de mais de 30 anos de contacto com a indústria hoteleira, onde vários familiares e amigos trabalham, nunca conheci nenhum que tivesse enriquecido exclusivamente com o negócio da Restauração e Bebidas, sendo que a esmagadora maioria vive exclusivamente da gestão do seu negócio, não são traficantes, nem facilitadores. Não têm redes para cobranças difíceis, nem se dedicam à prostituição ou ao tráfico humano. Na esmagadora maioria, são empresário sérios, que se levantam às 7 horas da manhã para irem à praça comprar os produtos mais frescos, para ligarem a máquina de café e prepararem a «mise en place», que lhes permita abrir as portas. Na esmagadora maioria, são empresários que vivem razoavelmente bem, mas sem luxos, agarrados ao trabalho, que não sabem o significado de ir de férias, mas conhecem as dificuldades de gerir um negócio. Nestes 30 anos, conheci largas dezenas de empresários que se arruinaram porque fizeram a mesma comparação que os
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italianos: uma dose custa o mesmo preço de uma garrafa. A verdade é que não é assim. Essas contas estão mal feitas. Uma dose poderá ser vendida ao mesmo preço de uma garrafa, mas uma dose não custa o mesmo que uma garrafa. Tem inerente uma série de custos associados que, quem está sentado a consumir, não 117
contabiliza. Abrir um bar é assumir uma panóplia de custos fixos durante todo o ano, para trabalhar durante três meses. A garrafa, mesmo que comprada no supermercado, ou mais barata do que no supermercado, terá de suportar o consumo da dose da bebida, mas diluir o valor de uma renda mensal de um espaço cujo valor seria proibitivo para qualquer outra atividade legal; terá de ALGARVE INFORMATIVO #300
suportar o valor do salário do trabalhador que está a servir, mesmo que o bar não tenha clientes; da taxa da esplanada, mesmo que esteja vazia; da obrigação legal prevista no código dos direitos de autor e direitos conexos (Passmúsica); da taxa do audiovisual, mesmo que a televisão esteja desligada; dos produtos de higiene, mesmo que a casa-de-banho esteja a ser usada por alguém que não consumiu nada; da taxa dos toldos, mesmo que estejam recolhidos; da água, da luz, da taxa dos direitos de autor, o custo das desinfestações, dos seguros obrigatórios, da segurança e saúde no trabalho, da HACCP, dos extintores, da internet ilimitada, da TV Cabo, dos aparelhos de medição de ruído, das avarias permanentes de equipamentos, contabilistas, advogados, publicidade e marketing. Se evoluir e tiver música ao vivo, arrisca-se a entregar todo o lucro da noite à banda que contratou, se quiser transmitir um jogo em canal codificado, arrisca-se a ter de pagar a transmissão e ser o único a assistir. E é preciso esquecer que 23% do whisky vendido, ou seja, ¼ da garrada, é convertido em IVA para os cofres do estado. Se o empregado se enganar e servir o whisky com gelo quando era puro, ou com cola em vez de água lisa, pode perder o lucro da garrafa. E, quantas vezes, o café e o copo de água se traduzem em prejuízo… Se é assim com os bares, piora na restauração. A necessidade de ter em stock os produtos que lhes permitam confecionar cada um dos pratos da ALGARVE INFORMATIVO #300
ementa, transforma muitos dos produtos em perdas. Quem come uma dose de sardinhas e compara o preço da dose com o de um quilo na praça, esquece-se que, além das sardinhas, o restaurante teve de comprar o carvão, a guarnição, teve de pagar ao assador, à empregada da copa e ao empregado de mesa, teve de pagar as mesmas taxas e taxinhas e a renda do espaço. Teve de pagar pelo uso do chão público onde está comodamente sentado. O negócio da restauração, quando tem subjacente apenas a atividade da restauração, não cria «milhardários», mas tão só pessoas empenhadas a garantir a manutenção do seu trabalho e o sustento dos que dele dependem, seja o senhorio, os empregados, os fornecedores, a banca, ou o estado. A esmagadora maioria dos bares, discotecas e restaurantes que frequentei ao longo dos últimos 30 anos já fecharam ou mudaram de mãos. Muitos antigos empresários, são hoje empregados por conta de outrem, ou mudaram de ramo de atividade. Olhar para uma classe e acusá-la de ter muitos benefícios é abrir caminho para que seja destruída. Infelizmente, parece que o desejo de destruição está a chegar àqueles que noutros tempos garantiam a convivência entre as pessoas. Só ainda não percebi se o que o que efetivamente querem destruir são os empresários, ou a convivência humana na sua essência . 118
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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #300
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