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ALGARVE INFORMATIVO 14 de agosto, 2021
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JOÃO LEOTE | «UMA MULHER NÃO CHORA» | «ARTE ENTRANÇADA» | OSMOSE ALGARVE INFORMATIVO #303 JOÃO FRADE E AENIGMATICUS ORCHESTRA | BENTO ALGARVIO CRIA ASSOCIAÇÃO
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28 - Arte Entrançada de Maria João Gomes 104 - Osmose em Tavira
94 - João Leote no TEMPO
40 - Bento Algarvio criou associação a pensar nos atletas de amanhã
50 - Sardinha em Concertos em Portimão
OPINIÃO 116 - Paulo Bernardo 118 - Mirian Tavares 120 - Nuno Campos Inácio 122 - João Ministro 124 - Lina Messias
66 - João Frade e Aenigmaticus Orchestra no Castelo de Paderne ALGARVE INFORMATIVO #303 ALGARVE INFORMATIVO #303
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80 - «Uma mulher não chora» em Tavira
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MARIA JOÃO GOMES MOSTRA A SUA «ARTE ENTRANÇADA» NO MUSEU DO TRAJE DE SÃO BRÁS DE ALPORTEL Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina stá patente, até final de agosto, no Museu do Traje, em São Brás de Alportel, a exposição «Arte Entrançada», com trabalhos inovadores em empreita da autoria de Maria João Gomes. A proprietária da «Palmas Douradas» organiza, assim, a sua primeira mostra de arte moderna, que foi inaugurada, a 31 de julho, no âmbito do tributo à Feira da Serra de São Brás de Alportel. “Sempre foi isto que quis
fazer, mas não é fácil modificar ALGARVE INFORMATIVO #303
mentalidades e as pessoas continuam a pensar na palma apenas para fazer alcofas que se vendem nos mercados. Cada região tem os seus próprios entrançados e há muito tempo que desejava enaltecer a arte algarvia da empreita de palma”, explica a artesã. Com quadros feitos de empreita, peças de decoração, acessórios como chapéus, colares e pulseiras, e 28
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vestuário de alta-costura, a exposição permite perceber as várias aplicações que se podem dar à palma algarvia, com Maria João Gomes a sugerir, inclusivamente, a substituição das penas de aves que os designers de moda utilizam em algumas das suas peças pelas franjas de empreita.
“Acredito que a fibra vegetal vai ser a única solução que teremos num futuro mais próximo ou mais longínquo e tem um efeito estético ainda mais bonito”, justifica, adiantando que as peças presentes nesta exposição podem ser perfeitamente utilizadas no dia-a-dia, nomeadamente as decorativas. “A minha intenção é,
quando tiver possibilidade, fazer peças mais extravagantes, ALGARVE INFORMATIVO #303
abstratas, mas ainda não cheguei a essa fase. Vejo muitas exposições que são sobretudo projetos de arquitetura, isto é, o criador tem 10 pessoas a trabalhar para ele, dá as indicações e as coisas acontecem depressa. Eu queria algo feito de raiz por mim mesma, arregacei as mangas, fui apanhar as palmas e concebi peças mais conservadoras”, descreve. Não querer «entrar logo a matar», ou seja, criar peças demasiado arrojadas, não significa que Maria João Gomes não tenha inovado e exemplo disso 30
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são, sem dúvida, os quadros feitos de empreita. “Se fossem pintados não ficavam tão bonitos”, garante, sorridente. “São coisas que temos
que ir introduzindo pouco a pouco, para as pessoas irem gradualmente mudando a sua forma de olhar para as tradições, neste caso para os entrançados vegetais. O problema é que também não tenho um atelier com dimensão que me permita fazer peças mais estrambólicas, nem recebo subvenções ou apoios governamentais”, desabafa. Se as peças de decoração são mais facilmente comercializadas, o mesmo não se pode dizer do vestuário feito com empreita, admite Maria João Gomes, considerando tratar-se de peças para
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utilizar em eventos especiais, únicos.
“Nos Oscares vemos roupas extravagantes que, como é óbvio, ninguém vai usar no seu dia-a-dia. As pessoas têm muitas ideias préconcebidas no que toca à utilização da empreita e demora algum tempo até compreenderem tudo aquilo que se pode fazer com a palma”, reforça a entrevistada, algo que já acontece noutros pontos de Portugal e no estrangeiro. “As minhas peças de
decoração, feitas à mão, têm muito sucesso em França e os alemães também valorizam mais tudo aquilo que é fibra vegetal. Continuo a fazer o meu trabalho e
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sempre coisas que não existem, diferentes”. Com marca registada e um design inovador, Maria João Gomes tem vindo a ser rapidamente reconhecida nas grandes metrópoles e para isso contribuiu igualmente a sua participação numa edição do Portugal Fashion. “Há um
antes e um depois do desfile que fiz com o Filipe Faísca, foi um momento que conferiu maior ALGARVE INFORMATIVO #303
seriedade àquilo que faço. As revistas portuguesas também são muito queridas comigo, publicam regularmente reportagens com peças das «Palmas Douradas», o que facilita depois o relacionamento com as grandes marcas. E, assim, as pessoas percebem que me compram produtos únicos, que não existem em mais lado nenhum, não só 34
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pela matéria-prima, mas principalmente por causa do design”, refere a entrevistada. Quanto ao futuro, a ideia era fazer uma itinerância com a exposição «Arte Entrançada», mas o seu sucesso nestas duas primeiras semanas acabou, curiosamente, por impedir que tal aconteça. “A maior parte das peças já
estão vendidas e as restantes devem seguir o mesmo caminho até ao final do mês, o que significa que não terei material para dar uma volta por outros museus, o que também ajudaria a divulgar os entrançados algarvios”, indica,
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acrescentando que valeu a pena não ter desistido e ter ido à luta, “porque
assim transformei um hobby, aquilo que sempre gostei de fazer, na minha profissão”. “E os trabalhos manuais são sempre bons para a mente. Claro que há meses mais difíceis do que outros, o Inverno é bastante calmo e continuo a ter contas para pagar, mas o importante é sermos felizes. E agora tenho este espaço bonito para trabalhar no Museu do Traje, só posso estar agradecida à Santa Casa da Misericórdia de São Brás de Alportel” .
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BENTO ALGARVIO CRIOU UMA ASSOCIAÇÃO A PENSAR NOS ATLETAS DO AMANHÃ Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina últiplas vezes campeão europeu e mundial, nome maior do pugilismo português das últimas décadas, restaurador de móveis antigos e empresário da restauração, João Bento Algarvio continua a dar cartas dentro e fora dos ringues de boxe e a associação que criou, em 2015, prepara-se entrar em velocidade de cruzeiro, depois de ter finalmente escolhido a equipa de ALGARVE INFORMATIVO #303
direção que vai ter a seu lado em mais este «combate». “Arranjar as
pessoas certas nunca é fácil. Há sempre muitas a oferecerem-se para ajudar, mas, depois, na hora do fazer, as ações nem sempre acompanham as palavras. Vai ser uma associação desportiva, social e cultural, e não apenas focada no boxe”, explica, à conversa no restaurante que gere no Grupo Naval de Olhão. “Já corri os quatro 40
cantos do mundo, joguei em 49 países, em muitos deles levantei a bandeira de Portugal e meti a tocar o hino nacional, e sei que os nossos atletas têm um tremendo potencial, contudo, não têm as mesmas oportunidades que os seus colegas estrangeiros. Tanto os profissionais como os amadores. E isso acontece porque o boxe continua a viver dos carolas, de treinadores que são também matchmakers, managers e promotores de eventos”, analisa. Como não se consegue construir um prédio sem bases sólidas, sem bons alicerces, Bento Algarvio pretende, com a sua associação, proporcionar condições aos jovens que pretendam seguir uma carreira no pugilismo, seja olímpico ou profissional, e não esconde o desgosto por constatar que o boxe português anda pelas «ruas da amargura». “É muito
triste ir combater ao estrangeiro e perguntarem-me, admirados, se Portugal tem boxe. E se isto acontece, não é por causa dos atletas, dos treinadores, dos clubes ou das associações”, garante o entrevistado, lamentando que as instâncias superiores não estejam a fazer o que deviam pela nobre arte de esgrimir com os punhos. “Andam todos a
trabalhar arduamente e não conseguem dar o salto para o exterior. Fazer uma carreira profissional é difícil, mas com empenho e apoios tudo se consegue. Agora, amadores terem 41
que pagar todas as despesas para participar em competições ou torneios? Isso não se compreende”, desabafa. Bento Algarvio quer, então, dar o seu contributo para alterar este cenário desanimador e prontamente dispara:
“Não culpem a pandemia por causa do que se passa. A Associação de Boxe do Porto, por exemplo, está a fazer um excelente trabalho, apesar da covid-19. Têm uma seleção regional que, no futuro próximo, provavelmente será o núcleo duro da seleção nacional. Depois, as outras associações vão queixarse de falta de representatividade, mas a culpa é delas porque estão paradas”, aponta, lembrando que a Associação Bento Algarvio já organizou uma sessão com combates de treino, na Herdade dos Grous, no Alentejo, para alguns convidados, e a ideia é, a breve prazo, começar a abrir academias em Olhão e Faro para atrair novos pugilistas. “Mas não vamos cobrar
nada aos clubes ou treinadores para lá darem aulas, isso está fora de questão. Os jovens, para irem para os caminhos nefastos, não precisam pagar, é tudo de graça, até são convidados. A prática desportiva não deve ser paga”, defende. O campeão mundial de boxe avisa também que o desporto, para além da componente física, é fundamental para ALGARVE INFORMATIVO #303
a formação pessoal, cultural e social dos jovens, para que sejam bons atletas, mas também bons homens e mulheres e bons cidadãos. “Quando um restaurante é
bom, os clientes aparecem com naturalidade. No desporto é a mesma coisa e a melhor promoção é o boca-a-boca. Assim que a Associação Bento Algarvio tiver as academias abertas, os treinadores e atletas vão lá ter, não vou precisar ALGARVE INFORMATIVO #303
andar a bater a portas”, garante, com a sua habitual frontalidade.
“Claro que temos várias iniciativas pensadas para captar novos praticantes, principalmente aqueles que não interessam a determinados ginásios ou clubes, por não terem condições financeiras para pagarem mensalidades. A minha associação vai dar «comichão» a muita 42
possibilidade de concorrer a diversos fundos nacionais e europeus, é preciso é saber trabalhar. Arranjar apoios para cobrir as despesas não será complicado, não devemos é fazer isso para proveito próprio. Quando o Zé Povinho está quase enterrado, o português joga sempre a mão para o salvar, somos um povo que gosta de ajudar”, refere, adiantando ainda que todas estas questões burocráticas, legais e administrativas não vão ser um entrave para um homem que está mais habituado a lutar dentro do ringue de boxe. “Eu não posso estar a
gente”, antevê. “O mundo está em constante mutação e temos que nos adaptar todos os dias a essas mudanças, caso contrário, ficamos parados no tempo”, acrescenta. A Associação Bento Algarvio não terá, como é natural, fins lucrativos, mas terá contas para pagar, como também é natural, portanto, de onde virão os apoios, questionamos. “Hoje temos a 43
combater e, ao mesmo tempo, a pensar se o meu médico tem linha, anzol, gelo e adrenalina. Cada macaco no seu galho. Numa associação é a mesma coisa, cada elemento da equipa tem as suas competências e responsabilidades, as áreas em que é especialista, em que se sente à vontade. Por isso é que demorei tanto tempo a constituir a minha equipa”, explica o entrevistado. “As amizades não se escolhem, surgem com naturalidade, as energias positivas atraem-se. Tive muita gente a oferecer-se para integrar a Associação Bento Algarvio, mas tinha que existir um clique e, quando isso sucedia, eu dizia-lhe ALGARVE INFORMATIVO #303
logo que tu vais tratar disto ou daquilo”.
“SEGUIR NÃO É DIFÍCIL, O MAIS COMPLICADO É SABER ESPERAR E DAR CHAPADAS SEM MÃOS” Conforme referido, a Associação Bento Algarvio não se vai dedicar exclusivamente ao boxe, embora essa seja a praia de António João Bento, mas pretende ser multifacetada e bastante inovadora. E isso vai exigir tempo ao seu mentor, de modo que o fim da longa e bem-sucedida carreira desportiva também já está perfeitamente planeado.
“Sempre disse que parava aos 46 anos – e tenho 46 agora – e que depois regressava aos 51 para um derradeiro título mundial, antes de pendurar definitivamente as minhas luvas. Por isto, vou jogar mais uma ou duas vezes em 2021 e, depois, dedicar-me praticamente só aos restaurantes e à associação. Temos vários projetos preparados para arrancar, inclusive excelentes parcerias no Brasil, Argentina, Colômbia e Bolívia, portanto, acredito que, daqui a dois anos, a Associação Bento Algarvio vai estar extremamente forte”, afirma. “Apoios há para quem trabalhar, o problema é que alguns fazem asneiras, outros caem em contos do vigário e já não se levantam. O importante é não desistir, seguir em ALGARVE INFORMATIVO #303
frente. Se não caço com um cão, caço com um gato”. A Associação Bento Algarvio não vai, todavia, ficar parada enquanto os apoios das entidades oficiais não chegarem e, nos primeiros tempos, o principal suporte financeiro será o próprio Bento Algarvio. “Felizmente
que o meu nome e imagem continuam fortes, em Portugal e 44
no estrangeiro, e irei fazer mais eventos de treino e exibição para angariar apoios. O que interessa é que não faltem condições aos mais jovens para fazerem aquilo que gostam”, assume. E quem conhece o trajeto deste algarvio de gema sabe que melhor exemplo de resiliência, de superação das adversidades, de nunca baixar os braços, dificilmente se encontrará. “Só que, na maior parte 45
das vezes, os jovens têm os exemplos à sua frente e não os conseguem ver. Nesse aspeto, os pais desempenham um papel importante. Lembrar-lhes que o Bento Algarvio foi abandonado pelos pais, cresceu na pobreza, sem nada, começou a trabalhar logo em miúdo, e hoje tem o que tem. Mas o mais difícil não é ALGARVE INFORMATIVO #303
seguir, é aguentar, saber esperar e dar chapadas sem mãos. A maior parte das pessoas faz críticas não construtivas e os obstáculos vão sempre surgir no nosso caminho, o que pode gerar saturação e falta de paciência para os saber superar. Eu agradeço aos meus inimigos pelas pedras que me atiraram, fui juntando-as e construi o meu castelo”, refere, com um sorriso. Cabeça para não ir pelos maus caminhos, persistência para não se desistir perante as adversidades, uma crença enorme nas suas capacidades, são alguns dos conselhos que o consagrado pugilista dá aos mais jovens, recordando as muitas vezes que, em miúdo, chegou a casa a chorar por causa de um treino que corria menos bem. “Ficava a olhar
para as estrelas até de madrugada, a limpar as lágrimas à roupa, a pensar na vida, e, pouco a pouco, fui superando tudo e todos. Desistir é uma palavra que não existe no meu vocabulário”, sublinha Bento Algarvio. “Já tenho dois atletas profissionais agenciados, o Bertinho e o Sacadas, um do Algarve e outro do Porto, que nesta recente exibição venceram os seus treinos contra atletas estrangeiros. Até final do ano temos combates programados para a Colômbia, Bolívia, Argentina e Brasil e, em 2022, a Associação Bento Algarvio já deverá ter a sua primeira academia de desporto em funcionamento. Uma academia com ALGARVE INFORMATIVO #303
apoio social para os jovens, um projeto com ATL e cantina. Não é um ginásio com ringue e sacos de boxe”, distingue. “O desporto é uma das melhores coisas que existe para o desenvolvimento intelectual dos jovens, para além de lhes incutir humildade e disciplina. Com o projeto que 46
temos, não vai ser difícil descobrir novos atletas, e não apenas para o boxe. As crianças devem praticar várias modalidades e os pais devem ser inteligentes para perceber se elas estão naquele desporto por gosto ou por obrigação, para fazerem a vontade dos pais. E também devem perceber se os 47
filhos estão num desporto apenas por lazer, por camaradagem, para conviverem com outras crianças, ou se querem mesmo seguir essa carreira, o que acarreta outra exigência”, aconselha o nosso entrevistado, que queria ser dançarino antes de descobrir o seu talento natural para o boxe . ALGARVE INFORMATIVO #303
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NÃO HOUVE FESTIVAL, MAS TIVEMOS «SARDINHA EM CONCERTOS» NA ZONA RIBEIRINHA DE PORTIMÃO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina e Município de Portimão
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e 4 a 8 de agosto, a zona ribeirinha de Portimão foi palco do «Sardinha em Concertos», evento que substituiu o Festival da Sardinha – adiado devido à covid-19 – e que contou com as atuações dos Resistência, Toy, João Pedro Pais, Gisela João e Miguel Araújo. Com organização do Município de Portimão, este conjunto de concertos para toda a família registou lotação esgotada em todas as noites, sempre no cumprimento das regras de prevenção sanitária em vigor, e realizou-se
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precisamente na primeira semana de agosto, quando costuma decorrer o popular evento gastronómico que atrai à cidade largos milhares de apreciadores da boa sardinha assada a pingar no pão. Com esta iniciativa, o Município de Portimão pretendeu manter viva a ligação do concelho e das suas gentes, assim como de quem o visita, à sardinha e às lides relacionadas com a faina pesqueira, impulsionando igualmente o tecido empresarial local em tempos de crise pandémica, nomeadamente a restauração .
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CASTELO DE PADERNE ASSISTIU À ESTREIA MUNDIAL DE JOÃO FRADE E AENIGMATICUS ORCHESTRA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Vico Ughetto
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albufeirense João Frade e a Aenigmatus Orchestra criaram de raiz um espetáculo sonoro a partir dos sons da terra e criatividade e talento foi algo que não faltou no concerto, promovido pelo Município de Albufeira, que se realizou, no dia 6 de agosto, no Castelo de Paderne. O evento foi outra das grandes apostas do Geopalcos, programação que acompanha a candidatura do ainda aspirante Geoparque Algarvensis à rede mundial de geoparques UNESCO, e nada melhor do que convidar o acordeonista, compositor e diretor artístico João Frade para mais uma «aventura» musical plena de sucesso. De narrativa futurista e concebido como um concerto sensorial, este projeto musical não se consegue, no entanto, dissociar de uma matriz mais tradicional e ancestral, quer a nível sonoro, quer a nível visual, enquadrando-se assim no conceito deste evento, onde arte, ciência e natureza se ligam e complementam, tendo como ALGARVE INFORMATIVO #303
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pano de fundo o Geoparque Algarvensis. O «Groove» (balanço/pulsação) foram o fio condutor e uma amarra a esta Terra tão marcada pela história. Assim, eletrónica, samples, acordeão, voz, teclados e trompete uniram-se, emanando e emulando sons alusivos à história «musical» do Geoparque Algarvensis, tentando abrir um pouco deste gigante livro que se dá agora a conhecer. Tudo isto protagonizado por um coletivo constituído por João Frade (Acordeão), Leo Vrillaud (Teclados), Rafael Correia «Sickonce» (Eletrónica/Beats), Sara Badalo (Voz), Filipe Valentim (flauta, saxofones),
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Adriano Alves (Baixo) e Joana Gomes «Camille Leon» (Visuais). O GeoPalcos, recorde-se, é dinamizado pelo aspirante Geoparque Algarvensis Loulé-Silves-Albufeira, através dos três municípios e decorre de uma candidatura intermunicipal, liderada pela AMAL, que junta os 16 municípios algarvios e a Direção Regional de Cultura do Algarve, que criou o Bezaranha – Programação Cultural em Rede, e que assegura parcialmente o financiamento, recorrendo ao Programa Operacional Regional do Algarve (CRESC Algarve 2020) .
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«UMA MULHER NÃO CHORA» JUNTOU ALGUMAS DAS MELHORES VOZES FEMININAS DA ATUALIDADE EM TAVIRA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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o âmbito da programação do «Verão em Tavira», o Parque do Palácio da Galeria acolheu, no dia 7 de agosto, o projeto de Renato Júnior «Uma Mulher não Chora», com Ana Bacalhau, Joana Amendoeira, Rita Redshoes, Viviane, Patrícia Antunes, Patrícia Silveira, Sofia Escobar e Luanda Cozetti. O músico, produtor e compositor juntou, no mesmo palco, algumas das melhores vozes femininas da atualidade e que corporizam em palco o álbum «Uma Mulher não Chora» lançado no final do ano passado e o resultado foi uma belíssima noite desfrutada por uma plateia esgotada. ALGARVE INFORMATIVO #303
Entre as canções que compôs para este disco e a visita (com arranjos próprios) a alguns temas dos repertórios de cada uma das cantoras, foi um concerto único na sua orgânica e com uma dinâmica que não deixou ninguém indiferente. Foi, de facto, cerca de hora e meia em que as cantoras convidadas entraram no universo musical de Renato Júnior, imprimindo, cada uma delas, a sua impressão digital à música do compositor. Mas a partilha foi feita, igualmente, em sentido contrário, com alguns dos temas mais emblemáticos de cada uma das cantoras a ser trazido para o mundo de Renato Júnior e interpretado com arranjos únicos por uma ampla e multifacetada banda de enorme qualidade . 82
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PORTIMONENSE JOÃO LEOTE DEU A CONHECER «REENCONTRO» NO TEATRO MUNICIPAL DE PORTIMÃO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Ricardo Coelho e Vera Lisa
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asa cheia, como seria de esperar, no dia 31 de julho, no TEMPO – Teatro Municipal de Portimão, para se assistir à apresentação do primeiro disco do portimonense João Leote, «Reencontro», no qual o jovem fadista revisitou alguns temas e autores ALGARVE INFORMATIVO #303
em que se inspira para cantar histórias que inspirem também quem as ouve. O concretizar de um sonho, a prova de que trabalhar dá resultado e de que está no caminho certo, confessou, emocionado, João Leote, que se fez acompanhar por André Dias na Guitarra Portuguesa, Flávio Cardoso na Viola de Fado e Frederico Gato no Baixo . 96
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OSMOSE ENCHERAM PALÁCIO DA GALERIA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Miguel Pires (https://www.mpalgarve.com/)
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par dos nomes mais sonantes do panorama nacional, a programação «Verão em Tavira» também dá destaque aos projetos locais e, na noite de 5 de agosto, o parque do Palácio da Galeria acolheu o concerto da Banda Osmose, com uma nova formação que inclui o vocalista Diogo Ramos. Com repertório sobretudo original e cantado em português, o agrupamento liderado ALGARVE INFORMATIVO #303
por Luís Conceição é influenciado pela Música Erudita, Rock, Jazz, Blues e Pop, não faltando nos espetáculos ao vivo muita improvisação e versões instrumentais de temas bem conhecidos do público. Público que encheu o recinto para assistir a mais um belo concerto dos Osmose, formados por Diogo Ramos (voz), Luís Conceição (piano e voz), Valter Estevens (guitarras), Pedro Parreira (baixo), Bruno Maie (bateria) e Kush Lescrooge (saxofone) . 106
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OPINIÃO Aos meus pais Paulo Bernardo (Empresário) ou um tipo com sorte, apesar da mesma dar muito trabalho. Todos nós somos moldados por aquilo que nos ensinam, pela família, amigos e tudo o que podemos ver, tocar, saborear. Quando nasci, já lá vão alguns anos, digamos que cinquenta e um e qualquer coisa, Portugal era um país bem diferente do que hoje temos e, apesar das mil críticas que fazemos, hoje Portugal é um país bem melhor. Sendo o país diferente, obviamente que o Algarve ainda era mais. Na casa em que nasci, na altura a luz elétrica não existia, o telefone também não, nem como o saneamento básico nem a água (podemos dizer que estes últimos também ainda não existem, mas justificase pela baixa densidade populacional). Contudo, em 1969 o homem já tinha chegado à lua, como veem, chegamos primeiro à lua do que a energia elétrica chegou a uma pequena aldeia que fica a cerca de quinze quilómetros da capital do Algarve. No entanto, a eletricidade chegou em 1972 e com ela uma televisão vendida em campanha que acredito que usaram as ALGARVE INFORMATIVO #303
Olimpíadas de Munique para promover a venda. Jogos que ficaram tristemente célebres pelos atentados contra os atletas israelitas, dizemos que o mundo hoje está pior, mas tivemos umas Olimpíadas em Tóquio bem tranquilas. Na altura a televisão era de um único canal e, salvo erro, a emissão tinha início pelas 18 horas e terminava à meia-noite. Como era um único canal, que se manteve único até ao início dos anos oitenta. Assim, a emissão era devorada por mim, começando pelas seis da tarde com os chamados desenhos animados e tudo o que aparecia, Vitorino Nemésio, engenheiro Sousa Veloso e muitos outros. Mas até as seis da tarde tinha duas atividades que muito gostava, brincar pelos campos que circundavam a casa, imaginando mil aventuras, onde uma alfarrobeira podia ser uma caravela e uma pequena oliveira podia ser uma carroça do velho oeste. Quando o tempo não permitia, os livros ocupavam-me as brincadeiras, ainda não sabia ler, mas observava as imagens dos livros e com as mesmas fazia as minhas próprias histórias. Os meus favoritos eram os da coleção dos maravilhosos museus do mundo e mais dois, um sobre os oceanos e outro sobre os animais. Também havia mais uma atividade que eu adorava que era ouvir as histórias 116
contadas pela mãe da minha mãe (como ela dizia, a avó vaite contar o conto, pois histórias não era um termo comum). Como podem ver, o Algarve de hoje não tem nada a ver com o Algarve da década de setenta. Essa falta de quase tudo que hoje é considerado essencial, teve um efeito fantástico sobre mim, pois obrigou-me a desenvolver uma capacidade que hoje se condiciona bastante, a criatividade. A falta de brinquedos (apesar de ter alguns, nada comparado com o que hoje é disponível) fez que eu fosse uma máquina de criar histórias e a imaginação era a minha companheira de mil aventuras. Como diz o ditado, o «engenho aguça a arte», sem dúvida que sim. Sem os livros, sem as árvores e sem as histórias da avó, eu não seria o mesmo, não posso dizer como seria, mas não era o eu que hoje sou.
ternura que os avós, nem a mesma capacidade e paciência para transmitir ensinamentos. Contudo, ambos tiveram uma capacidade ímpar (que eu espero ser assim para a minha filha) que foi sempre me potenciaram a voar, não condicionaram a minha forma de pensar, que acredito que em muitas coisas podiam não concordar totalmente.
Este tema foi vital para o meu crescimento e para a minha capacidade de traçar novos caminhos e, por estranho que possa parecer, também me fez ser capaz de me relacionar facilmente quando chego a um novo destino. Deveria ser ao contrário, mas quiçá a vivência comigo mesmo na infância ajudou-me a ser uma pessoa mais segura em adulto.
Desde muito novo que senti a liberdade, seja para subir às árvores, seja para ir ter com os meus tios ao Canadá.
Os meus pais sempre foram muito presentes, mas os pais não têm a mesma
Obrigado pai pelos livros, sempre os livros .
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Não sei se eles tiveram consciência plena sobre o bem que me fizeram. Obrigado Cácá (mama) e Tátá (papa), assim os tratava eu em criança.
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OPINIÃO Da memória dos lugares Mirian Tavares (Professora Universitária) on cher Paul, Ton père est malade depuis lundi(…)”: assim começa a carta que a irmã de Cézanne escreveu ao sobrinho em outubro de 1906. “Il est resté exposé à la pluie pendant plusieurs heures lundi (…)”. Cézanne veio a morrer três dias depois, antes da chegada da sua mulher e do filho a Aix-em-Provence, sua terra natal e lugar do seu último refúgio, onde pintou, vezes sem conta, o magnífico Mont de la Sainte Victoire, que segundo as histórias que circulam sobre o pintor, este via da sua janela. De facto, via-o da janela da cozinha, e para pintar fazia uma longa caminhada até um platô, nas traseiras do jardim, de onde mirava e admirava aquele maciço tão típico da paisagem provençal. Quando chegamos ao pays provençale, as primeiras coisas que nos saltam aos olhos são os montes que resguardam os campos cobertos de vinhas. Percebi, logo à partida, a paixão que motivou aquele que foi considerado por Picasso como o pai dos pintores modernos. Ao contrário dos seus companheiros Monet e Renoir, Cézanne não tentava fixar o efêmero, mas encontrar a constância que habita em cada objeto do mundo; não a fixidez, mas a essência. Nas muitas cartas que
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trocou com amigos, críticos de arte e com o filho, tentou explicar aquilo a que chamava nova ótica – uma maneira diferente de ver o mundo, de absorver, numa só mirada, os variados ângulos, e aspectos que um mesmo objeto podia oferecer. Numa carta ao amigo Émile Bernard, diz: “L’optique, se développant chez nous par l’étude, nous apprend à voir”. A sua vida foi dedicada a essa obsessão pela pintura que seria capaz de revelar não apenas o visível, mas, sobretudo, o invisível, que era, para ele, a maneira de o artista dotar a obra de personalidade. Quando surgiu o convite para irmos a um casamento no sul da França, eu disse logo: quero ir a Aix. Quero ver o ateliê de Cézanne, quero sentir a mesma atmosfera que o embalou nos últimos anos de vida. Chegámos ao atelier e tivemos de esperar, pois perdemos a nossa hora devido a um atraso provocado por uma manifestação que gerou o caos no trânsito. O motorista do uber, um argelino muito falador, levou-nos ao atelier e lamentou a demora. Ficamos à espera no jardim, grande, mas pouco cuidado, nada de flores ou de canteiros, quase uma mata virgem com pequenos caminhos a meio. O jardineiro de Cézanne foi o seu modelo mais fiel, talvez por isso não tivesse muito tempo para tratar do jardim. Estava ansiosa à espera daquele momento de comunhão 118
com o artista, passado mais de um século sobre a sua morte, esperava ainda encontrá-lo ali. Mas ele não estava. Vi seu casaco, seu chapéu, a bata suja de tinta, os objetos que o rodearam e que pintou, o cavalete, a escada, os pincéis, mas o artista se esvaíra no ramerame de pessoas e de vozes que papagueavam e tiravam fotos à nossa volta. Ir ao ateliê de Cézanne é das visitas turísticas que muitos, como eu mesma, fazemos. Nem todos buscamos o mesmo. Eu buscava o impossível – a presença do artista. Não a encontrei, ficou a ideia de ter pisado o mesmo chão 119
e sentido o calor provençal de que ele tanto se queixava. Picasso, que amava a obra de Cézanne, comprou uma parte do Mont de la Sainte Victoire onde está enterrado. Comprou o original, como disse ao galerista que lhe perguntou qual das versões da pintura tinha adquirido. Dei-me conta de que fotografei muita coisa, mas não fiz uma única foto do monte. Para mim, ele é infotografável, prefiro retê-lo na memória, em mim, num lugar que só eu posso visitar e revisitar, sem marcação e sem pessoas à volta. Um lugar onde o artista habita . ALGARVE INFORMATIVO #303
OPINIÃO Estamos destinados a afundar? Nuno Campos Inácio (Editor e Escritor) o longo de vários séculos, o homem optou por viver afastado do mar. As terras mais arenosas, o excesso de salinidade e brisas marítimas tornavam os solos menos produtivos, numa época em que a principal actividade humana era a agricultura. Junto à costa viviam comunidades de pescadores e em determinados pontos estratégicos algumas cidades portuárias. Os corsos de pirataria e a agressividade do mar em dias de intempéries tornavam insegura a vivência nas localidades marítimas. Assim, apesar do nível das águas do mar estar em permanente ascensão e da linha de costa estar constantemente em derrocada, isso nunca incomodou muito as populações, nem os governantes. No último século este paradigma alterou-se drasticamente e a população deslocou-se maioritariamente para o litoral, fazendo crescer cidades nessas zonas, edificando em terrenos próximos do mar, devido à valorização provocada pelo turismo. Pela primeira vez, o ser humano (profundamente terrestre) passou a estar em confronto directo com o mar, que pretende conquistar terreno. ALGARVE INFORMATIVO #303
Sabemos que o mar avançou, na nossa costa algarvia, centenas de metros desde o período neolítico (c. 10.000 anos) e dezenas de metros desde o período romano. (c. 2000 anos). Pelo mediterrânio encontram-se cidades que ficaram submersas e mesmo aqui no Algarve temos registos de edificações do período romano que, actualmente, estão no fundo do mar, a dezenas de metros da linha da costa (vejam-se os casos de Quarteira e da Boca do Rio, a título de exemplo). No estreito de Gibraltar encontraram em grutas submersas vestígios de utilização pelo homem, numa época em que estavam a seco. Os números apresentados pelos especialistas apontam para uma subida de dois metros do nível do mar até ao final deste século. Parece ser uma projecção realista, que peca por defeito, se se mantiver a aceleração de desgelo actual, misturada com um clima cada vez mais instável. A subida de dois metros do nível do mar, mesmo que gradual, implica a inundação de um vasto território do Algarve, actualmente usado pelo homem, levando ao desaparecimento incontornável das linhas de praia. É cada 120
vez mais visível que o enchimento artificial de praias não produz o efeito desejado e que a areia é praticamente consumida no inverno seguinte. Aqui chegados, colocam-se várias perguntas: Quem tem pensado o Algarve para esta nova realidade que se avizinha? Quem tem procurado defender as populações de zonas de risco para esta realidade? E como é possível, tendo esta consciência, que os responsáveis regionais e locais continuem a aprovar e a projectar serviços públicos, edifícios residenciais e unidades hoteleiras em terrenos com cotas que tornam inevitável a sua inundação a curto ou médio prazo? Onde estão os estadistas do século XXI? 121
Nas últimas décadas assistimos ao surgimento de uma nova classe política e governativa, que poderemos apelidar de reactivos. São incapazes de projectar as cidades, as regiões e os países a 20, 50 ou 100 anos, limitando-se a reagir às questões do presente, do dia-a-dia, do imediato. Quem governa para o presente não tem futuro. Esta classe reactiva, que tem alguns paralelismos com a da Primeira República, submergirá com a sua própria falta de visão e de iniciativa. As gerações futuras, que na verdade são as daqueles que já nasceram, não perdoarão os governantes actuais, quando tiverem de iniciar a sua fuga para o interior . ALGARVE INFORMATIVO #303
OPINIÃO Escola do Território João Ministro (Engenheiro do Ambiente e Empresário) lgumas das memórias mais queridas que guardo do contacto que mantive (e mantenho) com diversas pessoas do interior algarvio, estão relacionadas com o seu vasto conhecimento do território onde viveram (e vivem). São na sua maioria coisas simples do quotidiano rural ou florestal. Pequenas amostras de uma vivência cimentada ao longo de décadas e que revelam um elo muito especial entre o ser humano e o meio envolvente, e a relação harmoniosa e respeitadora do primeiro para com o segundo. Do António Gomes – mestre cesteiro de Furnazinhas, falecido no início do ano – gravei detalhes da sua vida de cesteiro, da forma selectiva como colhia as canas e as tratava, mas também pequenos episódios da sua rotina agrícola. Lembro-me, em particular, como ele colocava, manualmente, ninhos de vespas nas figueiras para promover uma melhor polinização e obter melhores frutos. Ele sabia exactamente quais as vespas, como as posicionar nas árvores e em que época do ano o fazer, para que elas pudessem executar o seu trabalho e fecundar a flor, situada no interior do figo, para dessa forma gerar um belo e suculento fruto.
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Da Jesus Dias, de Querença, ainda tenho a memória gustativa dos seus cozinhadas tão especiais. A forma como ela utiliza as ervas do campo e as mistura em receitas antigas – e modernas ao mesmo tempo – dando aquele toque tão único que só mesmo quem viveu toda uma vida rodeada de campo, flores e tradições o sabe fazer. Também me recordo de vários pequenos agricultores de Querença e a forma como guardavam as sementes selecionadas das suas produções, as trocavam entre si, para garantir boas produções nos anos seguintes. Vivia-se num período em que abundavam as variedades de milho, feijão, grão, tomates, entre outros legumes, hoje já quase extintos. Estes são três pequenos exemplos de uma realidade muito mais vasta, hoje infelizmente quase desaparecida. Os saberes ancestrais, outrora transmitidos de geração em geração, estão em muitos casos no limiar do esquecimento. Saberes esses, hoje amplamente reconhecidos como exemplos de uma vida passada em que a peugada ecológica era menor e o impacto no território mais sustentável. Veja-se a forma como se geria e armazenava a água ou como se tratavam os solos. Ou como se produziam e criavam os objectos utilitários e se reaproveitavam ao máximom evitando desperdícios.
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As gerações actuais estão a deixar perder toda uma cultura secular, cujos conhecimentos associados podem ainda hoje ser muito úteis e valiosos. Mas como evitar essa perda? Como os transmitir? Onde? Em que programas pedagógicos? Em que formato? Com que condições? Precisamos de uma «Escola do Território», um projecto inovador de ensino, assente em abordagens e metodologias disruptivas, mais pragmáticas, integradoras e eficientes. Uma iniciativa regional, independente, mas apoiado unanimemente pelas entidades, onde se ensinem numerosos aspectos relacionados com os recursos do território e a forma sustentável de os usar, sem por isso esquecer o retorno económico. Pelo contrário. Só assim poderemos gerar riqueza, emprego e fixar pessoas no interior. É preciso um projecto onde se ensinem, por exemplo, os antigos ofícios de artesanato, juntando inovação e criatividade. Onde se recuperem as técnicas antigas de construção, incorporando tecnologia e materiais locais verdes, como a cana ou as argilas, as pedras ou a cal, bem como aqueles saberes tão exclusivos da região como a aplicação de escaiola e a criação de platibandas. Onde se aprenda a guardar as sementes de variedades agrícolas locais, preservando as características genéticas das mesmas e ao mesmo tempo a identidade local, as diferenças geográficas e os sabores únicos, sempre numa harmonia com as condições ambientais próprias dos sítios. Onde se ensinem técnicas de agricultura 123
regenerativa, inspiradas nas antigas, mas ajustadas à actualidade, com cuidados especiais no uso de água e do solo. Onde se saiba identificar as plantas do campo, as comestíveis e as tóxicas, as de propriedades medicinais e gastronómicas ou simplesmente as ornamentais e as de valor ecológico. O mesmo para os cogumelos. Precisamos de projecto regional que una o conhecimento acumulado pelos ancestrais com o gerado pelos actuais e tire o máximo proveito dos recursos endógenos, de forma integrada, inovadora e sustentável. Um projecto instalado no interior, que funcione como força motriz do seu desenvolvimento e um exemplo para outros territórios. Se queremos encarar o território de uma outra forma, temos de ensinar a usá-lo de outra forma também. Só assim poderemos ambicionar um futuro mais equilibrado e o mais distante possível das predições trágicas que os recentes estudos sobre as alterações climáticas apontam para as próximas décadas . ALGARVE INFORMATIVO #303
OPINIÃO Feng Shui, como podemos melhorar a vida com esta arte milenar? Lina Messias (Especialista em Feng Shui) situação pandémica que todos vivemos está a mudar a percepção das pessoas em relação às suas casas; com os confinamentos obrigatórios, com a telescola e o teletrabalho como uma tendência, o tempo que as famílias passam em casa é cada vez maior. De acordo com o estudo recente «Impacto da Covid-19 nos critérios da habitação em Portugal», apenas 43 por cento dos inquiridos se sentem satisfeitos com a casa onde vivem. Para a harmonia familiar é muito importante que as Casas sejam o «porto de abrigo» de quem lá vive, o lugar onde podemos ser nós próprios e retemperar energias. A ciência que estuda a influência que os locais onde vivemos têm sobre a nossa Vida é muito antiga e dá pelo nome de Feng Shui. O Feng Shui surgiu nas planícies agrícolas chinesas durante a Dinastia ALGARVE INFORMATIVO #303
Tang (618-907) e a sua aplicação original era identificar a posição mais adequada para os túmulos dos imperadores, em busca da posição perfeita para que as energias fluíssem sem quaisquer obstáculos. Com o tempo e a evolução dessa arte, muitas cidades chinesas começaram a ser construídas com os conceitos do Feng Shui. Os responsáveis pelo projeto consideraram que a construção da nova cidade em local adequado poderia trazer prosperidade, enquanto uma escolha errada poderia ser sinónimo de fome e miséria para o governo e a população. Na sua essência, Feng Shui significa estar «alinhado» com a energia da prosperidade da Terra. «Feng» traduzido significa Vento e «Shui» significa Água. O Vento simboliza o CHI ou o que chamamos de energia e a Água está associada à prosperidade ou boa sorte. Quando falamos em prosperidade, é muito mais do que prosperidade financeira. Um Espaço onde a Energia flui de forma harmoniosa beneficia a nossa Vida em várias áreas: 124
*Saúde e equilíbrio *Prosperidade financeira *Relacionamentos, Amor e Sexualidade *Fama e Reputação *Relações familiares *Concentração para o estudo *Criatividade *Carreira e propósito de Vida
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Por todas essas razões e por resultados comprovados ao longo de todos esses milénios, o Feng Shui é atualmente considerado como uma verdadeira arte de proporcionar bem-estar. Numa consulta de Feng Shui muda-se o que é visível (disposição de mobiliário, cores, objetos, formas, etc.) para melhorar o invisível, ou seja, a energia de prosperidade da família . ALGARVE INFORMATIVO #303
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