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ALGARVE INFORMATIVO 27 de novembro, 2021
ANA PAULA MARTINS | LUÍS ENCARNAÇÃO | PROJETO INFINITY 1 ALGARVE INFORMATIVO #317 «LOULÉ INTERFOOD FEST» | OSMOSE | THE BLACK TEDDYS | «MARIDOS»
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90 - «The Black Teddys» 40 - Luís Encarnação
52 - Ana Paula Martins
76 - «Maridos»
18 - «Loulé Interfood Fest» 30 - Projeto Infinity
OPINIÃO 110 - Ana Isabel Soares 112 - Adília César 114 - Lina Messias 62 - Guilherme Gonçalves ALGARVE INFORMATIVO #317
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«LOULÉ INTERFOOD FEST» REALÇOU A IMPORTÂNCIA DA GASTRONOMIA TRADICIONAL E DOS PRODUTORES LOCAIS PARA UM ALGARVE MAIS SUSTENTÁVEL Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina os dias 12 e 13 de novembro, o Algarve recebeu a primeira edição do «Loulé Interfood Fest», dedicado aos produtos e à gastronomia local e que incluiu um mercado de produtores, showcookings, workshops, B2B e aulas de culinária. A ALGARVE INFORMATIVO #317
iniciativa transfronteiriça pretende fomentar a inovação gastronómica baseada na fusão de sabores e saberes dos territórios do Algarve e das províncias de Huelva e Cádiz e teve como palco o Palácio Gama Lobo, em Loulé. O «Loulé Interfood Fest», enquanto evento gastronómico, procurou ser um 18
encontro de consumidores, produtores agroalimentares, chefs de cozinha, agentes de turismo e profissionais de outras organizações públicas e privadas, empenhados na valorização e promoção de produtos locais e da gastronomia do Algarve e Espanha. Para isso contou com um cardápio dividido em seis áreas distintas: o Mercado de Produtores, que contemplou uma variedade de oferta de produtos locais autênticos e de qualidade superior; o espaço Showcookings, com base na fusão de sabores e saberes dos territórios do Algarve e da Andaluzia, contando com a assinatura de chefs de renome; o Laboratório de Gastronomia, espaço privilegiado para aulas de culinária cujas receitas aliaram o tradicional à inovação; o espaço Workshops dedicado a temas como a Dieta Mediterrânica, Slow Food, Circuitos Curtos de Comercialização, Internacionalização de 19
Produtos Alimentares e Turismo Culinário e Enológico; o espaço B2B preenchido por encontros/reuniões entre produtores e potenciais compradores; e o Espaço Demonstração e Degustação Produtos Vitalizar, onde foi possível degustar produtos do território com as demonstrações das escolas profissionais de cozinha, pastelaria, restauração e bar da região do Algarve. Na sessão de abertura, Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé, frisou a importância da produção local e da promoção dos circuitos curtos, “uma economia
que tem cada vez mais terreno para crescer”. “Temos que apostar numa lógica diferente, de sustentabilidade, porque ALGARVE INFORMATIVO #317
sabemos que os recursos são finitos, de modo que alguma coisa terá que mudar nas nossas vidas. A gastronomia é também um fator fortíssimo de diferenciação do Algarve enquanto destino turístico e a Dieta Mediterrânica tem créditos reconhecidos em todo o mundo, constituindo um fator identitário e uma forte alavanca económica”, referiu o edil, para quem faz todo o sentido valorizar algo que faz parte da cultura secular da região e que deve ser mais bem aproveitado do que tem sucedido até agora. “É algo que
nem sequer temos que criar de raiz, está cá, faz parte de nós, apenas precisa de ser trabalhado do ponto de vista da comunicação e do marketing”, reforçou. ALGARVE INFORMATIVO #317
Presente no momento esteve Vítor Neto, presidente do NERA – Associação Empresarial da Região do Algarve, que lembrou o papel decisivo que a região tem tido, ao longo do tempo, na valorização da gastronomia tradicional portuguesa e na dinamização da sua utilização como riqueza. “Foi uma
batalha difícil, do ponto de vista político e cultural, porque se considerava que a gastronomia não tinha a dignidade suficiente para ser património cultural de Portugal, mas existia um trabalho rico de investigação realizado previamente pelas associações da restauração e pela Direção Geral de Turismo, e isso institucionalizou e despertou, na 20
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altura, em todas as regiões, o interesse por este assunto”, recordou o antigo Secretário de Estado do Turismo. “Resistimos um ano e
meio a esta batalha difícil pela qual passamos, há sinais de recuperação da atividade turística e o Aeroporto de Faro é o único do continente que já tem um crescimento de chegadas em relação a 2020, na ordem dos 14,5 por cento. Temos que confiar nas nossas potencialidades, sabendo que vamos atravessar uma época baixa, mas que poderá ser melhor do que a do ano transato. Até março será uma caminhada dura e devemos estar vigilantes, ALGARVE INFORMATIVO #317
pois há dúvidas no transporte aéreo por causa do impacto da subida do custo dos combustíveis nos preços das viagens”, avisou ainda Vítor Neto. Em representação da ODIANA – Associação para o Desenvolvimento do Baixo Guadiana falou Sílvia Madeira, em substituição do presidente da direção Osvaldo Gonçalves, que recordou que a entidade já tinha conduzido, no passado, um projeto na área do agroalimentar e dos produtos endógenos no território do Baixo Guadiana, o «Choose our Food». “Tem
sido para nós um benefício e um privilégio conseguir, no seio do 22
projeto, enaltecer, mostrar, comunicar e trabalhar – juntamente com os nossos produtores – os produtos característicos dos concelhos de Vila Real de Santo António, Castro Marim e Alcoutim, tudo assente numa estratégia conjunta de comunicação dos três Municípios sobre as potencialidades económicas do setor agroalimentar, não só no que toca à venda dos produtos, mas como um atrativo turístico. Este projeto permitiu-nos alavancar este setor numa época pós-covid, com diversas micro ações que potenciam o reiniciar da atividade de várias empresas familiares, pequenos produtores e empresários em nome individual”, 23
destaca a dirigente. “Com estas
ações as empresas vão crescendo, vão-se apresentando e comunicando melhor no mercado, vão acrescentando maior valor aos seus produtos. Esperemos que, no fim, o balanço deste projeto seja positivo e que tenha continuidade”. Depois das intervenções dos parceiros espanhóis, a sessão de abertura do primeiro «Loulé Interfood Fest» chegou ao fim com as palavras de Pedro Valadas Monteiro, Diretor Regional de Agricultura e Pescas do Algarve, um conhecido adepto dos projetos de cooperação transfronteiriça, “espaços de eleição
para aprendermos uns com os ALGARVE INFORMATIVO #317
outros e para tentarmos juntar sinergias”. “Estamos aqui a falar de gastronomia, que é um dos ativos destas duas regiões de forte pendor turístico, e utilizar-se os recursos endógenos do território é um dos caminhos para diferenciarmos cada vez mais o nosso turismo. Sol e mar encontramos em muitas regiões do mundo, algumas delas bastante mais competitivas do que o Algarve nos seus custos de produção, portanto, temos que apostar num turismo diferenciado, que recorra àquilo que de melhor o território possui. E os turistas cada vez mais ALGARVE INFORMATIVO #317
procuram experiências diferentes e a cultura e património dos locais que visitam”, sublinhou Pedro Valadas Monteiro. “Penso que este poderá ser um casamento cada vez mais duradouro entre a procura, o tal exportar cá dentro através do turismo, e aqueles que são os produtores desses recursos endógenos”. O Diretor Regional de Agricultura e Pescas do Algarve chamou ainda a atenção para a necessidade de se reduzir as emissões de CO2 a nível planetário, e de se caminhar para economias hipocarbónicas, sendo a 24
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diminuição da distância entre produtores e consumidores um contributo assinalável. “Os circuitos alimentares
locais e a promoção do território são fundamentais para termos um planeta mais resiliente e sustentável. Por outro lado, estamos numa região que liderou a candidatura portuguesa da Dieta Mediterrânica a Património Imaterial da Humanidade, e que deverá ser, cada vez mais, a nossa bandeira quando falamos de gastronomia, de turismo e de estilos de vida saudáveis”, defendeu, recordando que ela própria incorpora o consumo de produtos sazonais, da época, locais. “Todos os rankings mundiais ALGARVE INFORMATIVO #317
identificam a Dieta Mediterrânica como a dieta nutricional e o estilo de vida mais saudáveis. Por isso, temos tudo para podermos ser felizes e construir uma economia e um território mais sustentáveis, não esquecendo que o Algarve não é apenas o litoral, tem muito interior, onde se verificam problemas sérios de despovoamento e desertificação. Este caminho não é sustentável, precisamos inverter esta marcha”, alertou Pedro Valadas Monteiro, acrescentando que os pequenos produtores agrícolas, florestais e pecuários são essenciais para se ocupar os territórios do interior 26
e para os proteger, inclusive, dos incêndios. “Só que, para isso,
precisam ter uma fonte de rendimento, que pode ser alcançada com estes circuitos alimentares de proximidade e com as redes de produtores. Um território fica vulnerável quando está devoluto e abandonado, portanto, temos todos a ganhar se lá tivermos pessoas e atividades sustentáveis, mas isso só acontece se formos mais engenhosos do que temos sido até agora”, acredita. A organização do «Loulé Interfood Fest» esteve a cargo do Município de Loulé, do
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NERA – Associação Empresarial da Região do Algarve, e da ODIANA – Associação para o Desenvolvimento do Baixo Guadiana, no âmbito do Projeto INTERPYME – Plataforma para Internacionalização das PME’s do Algarve e das Províncias de Cádiz e Huelva, tendo sido cofinanciada pelo Programa Interreg V – A EspanhaPortugal 2014-2020. A parceria do projeto contou com a Diputación de Cádiz, através do IEDT, com a Confederación de Empresarios de Cádiz, o CEEI Bahía de Cádiz, a Universidade de Cádiz, a Cámara de Comercio de Jerez de la Frontera, a Diputación de Huelva, o Município de Loulé, o NERA e a ODIANA .
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INFRAMOURA E LOULÉ DESIGN LAB APRESENTAM AO PÚBLICO PRODUTOS CRIADOS NO ÂMBITO DO PROJETO INFINITY Texto: Daniel Pina | Fotografia: Jorge Gomes Escola D. Dinis, em Quarteira, recebeu, de 22 a 25 de novembro, a exposição subordinada ao tema «Economia Circular – Projeto Infinity», composta por objetos pensados, desenhados e construídos pela equipa de designers e makers do Loulé Design Lab, com materiais em fim de vida, recolhidos pela equipa da Inframoura, no território de Vilamoura e Vila Sol. Os objetos expostos ALGARVE INFORMATIVO #317
serão posteriormente entregues junto das três Instituições Particulares de Solidariedade Social (Casa do Lar Ameixial, Fundação António Aleixo e Associação Humanitária de Doentes de Parkinson e Alzheimer, parceiras do projeto). A mostra pretendia desperte interesse na comunidade e contribuir para a sensibilização ambiental e fomento das boas praticas, promovendo a formação de cidadãos mais conscientes e críticos. Antes disso, 30
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os designers do Loulé Design Lab, em conjunto com a Inframoura, elaboraram um estudo sobre as carências das instituições de solidariedade selecionadas pelo Município de Loulé, com o intuito de serem criados objetos com utilidade e que poderiam fazer a diferença na vida de quem os recebesse. Foram também chamados a este projeto o grupo de trabalhadores da Inframoura que lidam diariamente com a recolha de resíduos e foi inspirado nas suas tarefas e nas suas necessidades diárias que foram também
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criados alguns objetos para auxiliar no dia a dia de trabalho. A grande missão deste projeto é a reintrodução dos resíduos e objetos em suposto fim de vida recolhidos pela Inframoura na economia ou ao serviço de instituições de solidariedade social do concelho. É igualmente intenção da Inframoura e Loulé Design Lab que se mantenha a parceria mesmo após a conclusão da candidatura, dando desta forma continuidade a outros projetos já idealizados .
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TURISMO CULTURAL E DESPORTIVO GANHAM FORÇA NUM CONCELHO DE LAGOA QUE TAMBÉM QUER TER MAIS ESPAÇOS VERDES E MELHOR MOBILIDADE Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina ão foi fácil o mandato 2017-2021 para Luís Encarnação na Câmara Municipal de Lagoa, devido a questões internas que levaram à alteração do executivo, mas também, claro, em virtude da pandemia por covid19, mas o certo é que, a 26 de setembro, ALGARVE INFORMATIVO #317
os lagoenses atribuíram-lhe uma vitória estrondosa em todos os órgãos autárquicos, sendo que um dos adversários foi precisamente o expresidente à frente de um movimento independente. “Passamos a ter uma
disputa a três, ao invés de a dois, como vinha sendo habitual nos últimos tempos em Lagoa. A 40
juntar a tudo isso, um inimigo invisível e inesperado que nos continua a atormentar, pelo que a campanha eleitoral foi o corolário desses tempos difíceis. Foi uma dura batalha, mas que terminou com a população a expressar a sua vontade nas urnas, como a Democracia assim o exige, e a demostrar inequivocamente a quem é que queria deixar entregue o destino deste concelho fantástico para os próximos quatro anos”, comenta o entrevistado.
“Também muitas obras tiveram que ser adiadas ou suspensas, porque todos os autarcas se confrontaram com a escassez de mão-de-obra na construção civil. Tivemos que redefinir a estratégia que tinha sido desenhada para os dois últimos anos do anterior mandato e agora estamos a tentar recuperar o tempo perdido e a retomar os eventos, mas já todos percebemos que a situação muda com bastante facilidade”, admite o edil lagoense.
Uma vitória «sem espinhas», como se costuma dizer, mas que não se traduzirá num mandato «pera-doce», porque a maioria dá estabilidade para se governar sem sobressaltos, mas não retira as dores-de-cabeça inerentes aos tempos que se vivem. “A nossa primeira
prioridade é continuar a luta contra o covid-19, apesar de, por altura das eleições e da tomada de posse, o cenário ser bem diferente do atual. Parecia que tínhamos finalmente ganho a guerra, mas não vai assim tão fácil, e teremos que continuar a proteger Lagoa e os Lagoenses. A segunda prioridade é prosseguir com o estímulo da economia e a criação de emprego, pois nenhum país consegue aguentar sucessivos confinamentos”, afirma Luís Encarnação, não esquecendo os diversos eventos culturais e desportivos que tiveram que ser cancelados, neste concelho, mercê da pandemia. 41
Entre os desígnios definidos para 2021-2025 conta-se a habitação, tanto de carácter social como construção a custos controlados para venda e arrendamento, porque, “enquanto
houver uma família lagoense sem uma habitação condigna, a nossa missão não estará terminada, e porque também é fundamental atrair-se mais residentes para o nosso concelho”. “No pré-covid, as empresas ligadas à hotelaria e restauração já sentiam uma grande dificuldade em captar mão-de-obra para as suas unidades por falta de casas a custos acessíveis”, recorda Luís Encarnação, antes de abordar o segundo desígnio para este mandato, e que diz respeito à substituição das condutas de água no concelho, sobretudo as adutoras, que têm ruturas constantes. “O Algarve ALGARVE INFORMATIVO #317
continua com um problema grave de falta de água que é urgente combater, tanto na entrega em alta como na entrega em baixa. O desafio é enorme, trazer água do Pomarão, avançar decisivamente para a dessalinização, recuperar as águas residuais, há vários modelos em cima da mesa, mas também é preciso poupar água, principalmente quando a perdemos em ruturas em condutas obsoletas. Estamos a trabalhar na expectativa de podermos aceder a fundos comunitários para concretizarmos estes dois desígnios”, assume o presidente da Câmara Municipal de Lagoa. Falta de habitação que se verifica, de forma generalizada, em todo o país, e Lagoa não é exceção, mas a autarquia possui terrenos para construir e já aprovou a sua Estratégia Local de Habitação e o seu Plano Municipal de Habitação. “No âmbito do «1.º
Direito» temos um terreno disponível em Porches já com projetos de arquitetura e especialidades realizados, e outro para o centro de Lagoa, que totalizam cerca de 45 fogos. Comprámos também, no mandato anterior, um terreno em Porches com uma área considerável e que queremos destinar para a construção a custos controlados, depois de encontrarmos um modelo e um parceiro para desenvolver ALGARVE INFORMATIVO #317
esse projeto”, revela o entrevistado, confirmando que, neste concelho, e ao contrário do que se verifica noutros pontos da região, não existem grandes impedimentos no que toca ao ordenamento do território. Mais habitantes é o que se pretende, com a consciência de que isso, depois, irá causar maior pressão sobre outros 42
setores de atividade, nomeadamente na educação e saúde. E Lagoa até já é altamente atrativa em termos de préescolar e 1.º ciclo, recebendo nas suas instituições crianças de outros concelhos.
“Essa atratividade vai diminuindo à medida que avançamos na idade escolar e, quando chegamos ao Secundário, o cenário inverte-se, 43
apesar de, nestes últimos tempos, a situação ter melhorado graças ao trabalho extraordinário realizado pelo Agrupamento de Escolas ESPAMOL. Nenhum autarca gosta de ver os seus melhores alunos ir estudar para os concelhos vizinhos e queremos ALGARVE INFORMATIVO #317
criar condições para que os nossos meninos e meninas permaneçam em Lagoa até ao final do Secundário”, afirma Luís Encarnação. “Estamos preparados para acomodar alguma pressão que possa existir e estamos sempre disponíveis para encontrar, juntamente com as entidades ALGARVE INFORMATIVO #317
competentes, as soluções indicadas para cada momento. Precisamos de casais jovens, de mais gente no nosso concelho, de mão-de-obra para as nossas empresas, e haver mais crianças será, seguramente, uma boa dorde-cabeça”.
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etária é invertida, como sucede no resto do país e um pouco por toda a Europa. No mandato anterior assinámos duas escrituras de aquisição de terrenos com o Centro de Apoio Social de Porches e com a ADR Quinta de São Pedro, na Mexilhoeira da Carregação, para que possam ser construídas novas unidades”, indica Luís Encarnação, que não esconde a irritação perante o que se passa em Lagoa no plano da Saúde. “Estou muito preocupado
“NÃO É ADMISSÍVEL O QUE SE PASSA COM A SAÚDE EM LAGOA” Se na Educação não há problemas de maior para resolver, bem diferente é o que acontece no campo da Saúde e no acolhimento dos mais idosos, verificandose um défice de instituições, espaços e equipamentos vocacionados para a terceira idade. “A nossa pirâmide 45
com as condições de acesso aos cuidados primários de saúde no meu concelho. Já dei nota disso aos responsáveis na região, mas muito em breve teremos que subir mais um patamar e ir diretamente ao Primeiro-Ministro e à Ministra da Saúde, porque é verdadeiramente inadmissível o que se passa neste concelho. Há pouco tempo tivemos a boa notícia da criação de uma Unidade de Saúde Familiar em Lagoa, o que aparentemente resolveria o problema de acesso a um médico de família e aos cuidados de saúde para cerca de 10 ou 11 mil pessoas, e tive logo o cuidado de perguntar se isso teria algum efeito negativo nas Extensões de Saúde de Ferragudo, Parchal, Mexilhoeira da Carregação, Estômbar, Porches e Carvoeiro. Infelizmente, não se compreende ALGARVE INFORMATIVO #317
como é que, no final do primeiro quartel do século XXI, não há um médico ou enfermeiro para prestar cuidados de saúde a quem deles precisa por semanas e semanas a fio”, dispara o presidente da Câmara Municipal de Lagoa. Um cenário que, eventualmente, se poderá alterar quando, em abril de 2022, se concluir o processo de transferências ALGARVE INFORMATIVO #317
de competências do poder central para as autarquias, mas Luís Encarnação não está muito confiante. “Em matéria
de Saúde, as competências prendem-se essencialmente com a manutenção dos equipamentos, pelo que vai ser mais uma dor de cabeça para os Municípios. O Centro de Saúde de Lagoa julgo que só conheceu tinta nas paredes quando foi construído, 46
financeiro para cuidar desses equipamentos”. Uma competência que, entretanto, o Município de Lagoa já tinha assumido no início de 2021 diz respeito à gestão da orla costeira, tema importante num concelho que vive quase exclusivamente do turismo e que é conhecido, por esse mundo fora, pela beleza das suas praias. Um assunto em que os problemas também têm abundado, “porque são tantas as
portanto, estou a antever que, em abril ou maio, já se vai reivindicar essa intervenção, só que às custas da Câmara Municipal. E o mesmo acontece com a Extensão de Saúde do Parchal, com um elevado grau de degradação. Tenho a certeza de que vamos receber a competência, mas não vamos receber, seguramente, o obrigatório e necessário envelope 47
entidades com competência nessa matéria que já sabíamos que teríamos dificuldades para implementar todas as normas e regras”. “É um caminho que se vai fazendo. Temos 17 quilómetros de uma costa magnífica que é um cartão-de-visita do Algarve e de Portugal, mas as especificidades próprias das nossas falésias e praias originam problemas complexos, e também estão sujeitas a uma enorme pressão. Teremos que encontrar, conjuntamente com as entidades responsáveis, uma solução que permita salvaguardar os valores naturais e paisagísticos, bem como a segurança de todos aqueles que nos visitam”, salienta o autarca. Turismo que continuará a ser a mola do concelho, não só o de massas atraído pelo sol e mar, mas também o cultural e desportivo, reconhece Luís ALGARVE INFORMATIVO #317
Encarnação. “A pandemia
demonstrou que é extremamente perigoso ter os ovos todos na mesma cesta e começámos a falar de diversificação da economia como nunca antes tinha acontecido. Só que, nos tempos mais próximos, vai continuar a ser o turismo a impulsionar a economia de Lagoa e do Algarve”, declara o entrevistado, o que não significa que não se possam diversificar os produtos turísticos. “Com
covid ou sem covid continuamos a ter o problema da sazonalidade, mas, em 2019, o turismo desportivo gerou 27 mil e 500 dormidas no nosso concelho, que colocaram 1,8 milhões de euros diretamente na economia local. E isto aconteceu nas épocas média e baixa”, destaca, lembrando igualmente os bons resultados alcançados pelo enoturismo em Lagoa.
“São cada vez mais as pessoas que viajam motivadas pela gastronomia e vinhos, até mesmo mais do que aquelas que o fazem por causa do sol, praia e golfe. É mais uma janela de oportunidade para ajudar a mitigar o problema da sazonalidade”. Lagoa que também era muito procurada por ocasião de eventos como a FATACIL, a «Noite Black & White», o «Mercado de Culturas … à luz de velas» e outros, com Luís Encarnação a esperar que essa dinâmica se possa retomar em 2022.
“Todos estamos desejosos de voltarmos a conviver como o ALGARVE INFORMATIVO #317
fazíamos antes do covid, e isso inclui esses grandes eventos de socialização, só que organizar uma FATACIL requer tempo, normalmente fazia-se de um ano para o outro. É para nós uma grande dor porque, em 2019, tivemos a melhor FATACIL de sempre, quase 200 mil visitantes, cerca de 800 expositores, 48
registámos a maior receita de bilheteira da história do evento”, desabafa Luís Encarnação, acrescentando ainda que muitas pessoas marcavam as suas férias no Carvoeiro para coincidir com a «Noite Black & White». “Vamos
ter a esperança de, em 2022, os conseguirmos voltar a organizar, mesmo que de uma forma diferente. Aliás, uma das nossas preocupações neste mandato passa 49
também pela requalificação do espaço público e da criação de mais espaços verdes para o convívio e confraternização das famílias. A par da água e habitação, a mobilidade, mais parques de estacionamento e parques urbanos, são outras prioridades para 2021-2025”, finaliza o presidente da Câmara Municipal de Lagoa . ALGARVE INFORMATIVO #317
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“IDENTIDADE, PATRIMÓNIO E DIETA MEDITERRÂNICA SERÃO SEMPRE APOSTAS ESTRATÉGICAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE TAVIRA”, GARANTE ANA PAULA MARTINS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina m Tavira, Ana Paula Martins é uma das novas presidentes de câmara do Algarve a ser eleita nas Autárquicas de 26 de setembro, apesar de já ter desempenhado esse cargo após a saída do anterior edil Jorge Botelho para o Governo de António Costa. Uma vitória com maioria na Câmara Municipal e na Assembleia Municipal, o país parecia ter vencido finalmente a luta contra a pandemia, portanto, avizinhavam-se quatro anos de ALGARVE INFORMATIVO #317
muito trabalho, mas não tão penosos como 2020 e 2021. O cenário, entretanto, mudou drasticamente nas últimas semanas, mas Ana Paula Martins conhece bem os cantos à casa e tem a lição bem estudada. “É uma
equipa nova, não transitou nenhum vereador do anterior mandato, mas estamos preparados para abraçar os desafios que temos pela frente. O covid tem sido um problema para todos os autarcas, mas temos 52
conseguido contrariar o aumento desenfreado de casos, procurando constantemente soluções para enfrentar este inimigo invisível e sem deixar cair os nossos projetos, o programa eleitoral que foi sufragado pela população”, refere a entrevistada, em início de conversa. Uma das prioridades para 2021-2025 é a habitação, tanto social como construção a custos controlados e de renda acessível, tendo para isso sido aprovada a Estratégia Local de Habitação e assinado um protocolo com o IHRU – Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana no valor de 15 milhões de euros, no âmbito do «1.º Direito». “O preço geral das
casas em Tavira sempre foi ligeiramente superior à média do Algarve, mas a situação agravou-se bastante nos últimos quatro ou cinco anos, devido também às alterações que se verificaram no mercado de arrendamento. As pessoas não conseguiam comprar casa, mas alugavam uma por 300 ou 400 euros mensais, agora falamos em 750, 800 euros, é incomportável para a maioria dos portugueses”, reconhece Ana Paula Martins. “Nota-se uma maior apetência da parte dos proprietários pelo alojamento local do que pelo arrendamento ao ano, mas não nos podemos esquecer que atravessámos também uma crise imobiliária em que simplesmente não se construiu. E os benefícios fiscais atribuídos aos estrangeiros 53
na aquisição de casas foi outra agravante”, analisa. Para resolver esta situação avança-se então com a Estratégia Local de Habitação, já com algumas dezenas de fogos em processo de construção em terrenos camarários nas freguesias de Cabanas de Tavira, Cachopo e Santo Estêvão. “A nossa vontade é
adquirir terrenos um pouco por todo o concelho para afetar para a construção a custos controlados e para a habitação social, até porque o Plano Diretor Municipal está em revisão. Luz de Tavira, por exemplo, precisa rejuvenescer, temos que fixar lá novas famílias. O problema é que, às vezes, os terrenos municipais não foram destinados para este propósito, o que implica alteração de alvarás e uma série de trâmites legais para cumprir, o que nem sempre é possível”, revela a autarca, reconhecendo que esta escassez de habitação também já está a dificultar a contratação de mão-de-obra para a hotelaria e restauração. “O mesmo
acontece na construção civil, o que depois leva a derrapagens nos prazos das obras públicas”. Com o «1.º Direito» a ter 2026 como horizonte temporal, a que se somam os outros projetos camarários para construção, é expectável então que nos próximos anos Tavira ganhe residentes. O que significa isso, depois, para os setores da educação e saúde, ALGARVE INFORMATIVO #317
questionamos. “A saúde será a nossa
segunda prioridade, precisamos dotar o Centro de Saúde de mais e melhores condições e de mais valências. A sua ampliação estaria referenciada nas verbas do PRR – Plano de Recuperação e Resiliência, aguardo reunião com a ARS Algarve para começar a trabalhar nesse sentido”, declara Ana Paula Martins, adiantando ainda que, no plano da educação, não existem problemas de maior no concelho. “Conseguimos
acomodar praticamente todas as crianças no pré-escolar, no berçário às vezes é mais complicado. E as nossas escolas, principalmente as do 1.º ciclo, têm sido alvo de requalificações. No mandato anterior construímos uma na Horta do Carmo e reabilitamos Santo Estêvão, Conceição e Cabanas. A próxima a ser intervencionada será a da Estação, para Santa Catarina está praticamente finalizado o projeto. Já a Escola Secundária carece de uma requalificação profunda”, admite Ana Paula Martins. Educação que foi uma das competências do poder central que Tavira já tinha assumido, com a presidente de Câmara a lamentar que nem sempre as coisas tenham corrido da melhor forma. “O
dinheiro transferido pelo governo muitas vezes não cobriu as despesas e prevejo que a situação se venha a manter em 2022, quando esse ALGARVE INFORMATIVO #317
processo se concluir a nível nacional. E mais exigências da parte da população significam mais investimentos da parte da autarquia”, sublinha, lembrando que, no plano da Saúde, as competências transferidas dizem respeito à manutenção das instalações e aos assistentes operacionais, não tendo a câmara municipal qualquer influência na gestão dos profissionais de saúde.
“Na área da ação social já 54
fazemos um trabalho imenso, vamos ter apenas mais os protocolos do Rendimento Social de Inserção. O maior problema que antevejo terá a ver com a Escola Secundária de Tavira. Penso que estão previstos 20 ou 25 mil euros para a sua manutenção, quando ela precisa de uma reabilitação de dois milhões de euros”, frisa, preocupada.
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DAR MAIS ATRATIVIDADE AO INTERIOR E INCREMENTAR A VIDA CULTURAL Mais respostas sociais pensadas para a terceira idade são também necessárias em Tavira, com Ana Paula Martins a elogiar o dinamismo da Rede Social local, responsável pela submissão de diversas candidaturas ao PARES – Programa de Alargamento da ALGARVE INFORMATIVO #317
Rede de Equipamentos Sociais, com a autarquia a comprometer-se a apoiar financeiramente a construção das estruturas. “São necessárias, do
mesmo modo que é preciso trabalhar-se a questão do envelhecimento ativo e tentar que as pessoas fiquem o mais tempo possível nas suas residências e com alguma independência. A procura de lares é enorme, já existem alguns projetos de arquitetura e de especialidade aprovados, e espero que se tornem brevemente uma realidade”, diz a entrevistada, antes de virar a conversa para outra problemática transversal a todo o Algarve, a escassez de água. “O abastecimento de água,
o saneamento e o tratamento de resíduos estão sob a alçada da empresa municipal Taviraverde, que tem perdas muito abaixo da média dos municípios, a rondar os 16 por cento. No âmbito do PRR, apresentou uma candidatura para mudar algumas das condutas da cidade e vamos também adquirir contadores de telemetria para a rega dos espaços verdes”. Tavira que está dividida pelo Rio Gilão, com a requalificação da antiga ponte militar que une as duas margens a concretizar-se no anterior mandato. E a requalificação urbana é, de facto, outra das apostas do executivo liderado por Ana Paula Martins, com o desenvolvimento do Parque Verde do Sécua e a contínua melhoria das ALGARVE INFORMATIVO #317
acessibilidades para as freguesias do interior. “Se calhar gastámos, nos
últimos anos, quase 10 milhões de euros na reabilitação de vias, mas ainda restam muitas por pavimentar, só que estão em reserva natural. Estamos a tentar estudar uma forma de desafetar essas áreas ou fazer um 56
reconhecimento de interesse público para as alcatroarmos, porque isso vai potenciar a fixação de mais pessoas no interior do concelho, assim como uma boa cobertura de rede de telemóvel e de internet”, acredita a edil. “Quando vamos aos montes da serra, as 57
pessoas pedem-nos essencialmente a pavimentação das estradas, a internet, o abastecimento de água, necessidades que têm que ser preenchidas para que o interior tenha atratividade para os mais jovens”. ALGARVE INFORMATIVO #317
Outros atrativos de Tavira são a sua história, património e cultura e este mandato deverá ficar marcado pela inauguração do Cine-Teatro António Pinheiro, apesar das obras terem sofrido alguns atrasos, primeiro devido a trabalhos arqueológicos e, depois, pelos constrangimentos provocados pela pandemia e pela escassez de mão-de-obra na construção civil. “Não temos um
equipamento coberto, reinventamo-nos e utilizamos as nossas igrejas, alguns espaços privados e a biblioteca municipal, mas estamos a falar de eventos para públicos mais pequenos. O novo espaço vai permitir que a cultura tenha mais vida ao longo de todo o ano e irá, certamente, incentivar ainda mais o movimento associativo. Também queremos desenvolver o projeto do Museu Fenício, na antiga Casa dos CortesReais, e criar um plano de investimento no extenso património do concelho, algum da câmara municipal, outro pertencente a privados. Para isso é preciso procurar fontes de financiamento e preparar candidaturas”, explica Ana Paula Martins. “Nunca parámos, mas não ter um equipamento cultural coberto é uma limitação. Acaba por existir uma maior dinâmica durante o Verão, só que, em tempos de pandemia, não temos forma de controlar as entradas e saídas na ALGARVE INFORMATIVO #317
Praça da República. Mas, como é óbvio, vamos continuar a apostar na cultura e na nossa identidade, que é aquilo que distingue Tavira das demais cidades e concelhos do Algarve e de outros destinos turísticos. O património e a Dieta Mediterrânica serão sempre apostas estratégicas para desenvolver a nossa economia”. Projetos e vontade não faltam na Câmara Municipal de Tavira e a maioria absoluta no executivo garante estabilidade de governação, mas as transferências do Estado vão sofrer cortes (cerca de 300 mil euros), as receitas correntes também diminuíram devido à crise e as despesas aumentaram para se combater os efeitos da pandemia. Não se perfilam, por isso, quatro anos fáceis, mas nada que desmotive Ana Paula Martins. “A
Câmara Municipal tem algum conforto financeiro e, sobretudo, uma boa capacidade de endividamento, que pode utilizar para financiar os investimentos mais prioritários, se assim for necessário. O que me deixa mais preocupada é o aumento do custo dos materiais e dos combustíveis, o que faz com que muitos concursos fiquem desertos de propostas e que tenhamos que rever o valor da empreitada em 20 ou 30 por cento, e a falta de mão-de-obra, que leva a atrasos nos prazos. Há verbas disponíveis 58
no próximo Quadro Comunitário de Apoio e no PRR, para além dos 300 milhões de euros que foram anunciados para se diversificar a base económica da região, e seria interessante trabalhar-se, por exemplo, a questão das indústrias culturais e criativas”, aponta a entrevistada, acrescentando que a pandemia por covid-19 obrigou os dirigentes a definirem vários planos alternativos para as suas atividades.
“Andamos num género de navegação à vista, nunca sabemos o que podemos ou não fazer, em virtude do evoluir da situação pandémica. Não é bom trabalhar-se nestas circunstâncias, mas temos que saber responder aos desafios que se colocam no dia-a-dia. E, para 59
além do inflacionar dos preços das obras, a contratação pública continua a ser bastante burocrática”, lamenta a entrevistada, que não quis terminar a conversa sem falar de outro grande anseio para este mandato, uma infraestrutura náutica para a cidade de Tavira. “Em tempos
estava previsto um porto de pesca junto ao mercado municipal, depois esse terreno foi cedido ao extinto IPTM e passou posteriormente para a Docapesca. Vamos tentar encontrar, em conjunto, uma solução para ali termos um porto de pesca com a valência de recreio, algo que faz todo o sentido devido à frente de mar e de rio que possuímos” . ALGARVE INFORMATIVO #317
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GUILHERME GONÇALVES FAZ «MEA CULPA» EM QUARTEIRA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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stá patente, até 22 de janeiro, na Galeria de Arte Praça do Mar, em Quarteira, a exposição «Mea Culpa» do artista plástico Guilherme Gonçalves. Com este corpo de trabalho, o quarteirense confessa a sua culpa pelo modo como observa e pensa o mundo ao seu redor, numa mostra que traz à vida real a textura nua e crua dos seus pensamentos e reflexões. Obras que respiram um pouco da rua, que têm o arrepio da sua vida e vivência incutidos, muitos dos momentos que acontecem no seu meio social e pessoal onde o artista adora inspirar-se. A caminhar para os 30 anos, licenciado em Artes Visuais pela Universidade do Algarve, Guilherme Gonçalves assume-se como um contador de histórias e, para tal, ALGARVE INFORMATIVO #317
transforma os rostos de pessoas em personagens às quais atribui um novo conceito, uma nova vida e uma nova história. “Esta exposição individual
é o culminar de um ciclo, um período que se fecha para se iniciar outro. É um «sorry, not sorry», porque eu olho para o universo à minha maneira e não me interessa o que os outros pensam sobre esta minha postura. Quanto a estes rostos, são de pessoas que convivem comigo no meu dia-a-dia. Fotografo aquelas que acredito ter potencial para produzir temas, que são maioritariamente refletivos e sensitivos sobre a minha vida social e privada, e nas 64
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obras estão subjacentes ideias poéticas”, explica o entrevistado.
últimos tempos, sendo que tenho andado a explorar mais a vertente da instalação”, conta
Encerrar um ciclo não quer dizer, entretanto, que vá mudar algo na sua maneira de estar na arte, pois considera ter um estilo e identidade já perfeitamente consolidados. “Durante a faculdade
Guilherme Gonçalves, admitindo que já foi um artista que trabalhava com muito mais peças de parede do que sucede presentemente.
andei à procura de mim próprio e tive a felicidade de, ao experimentar um outro estilo, descobrir aquilo que faço atualmente. Por isso, o próximo passo é apenas introduzir elementos que vão reforçar mais as poéticas e conceitos das minhas peças. Algumas peças desta exposição acompanham-me desde 2016, o tal momento de transição, mais algumas que produzi nos
Com um estilo próprio no qual se identificam algumas características do graffiti e arte urbana, o problema é depois passar a mensagem para o público, mas o entrevistado preocupa-se simplesmente em “deixar as peças respirar”. “Cada opinião é válida.
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Há pessoas que não conseguem atingir aquilo que pretendo passar e explico-lhes o que cada elemento significa. Coloco os meus sentimentos cá para fora e procuro ser a minha pele na pele 66
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de alguém e que alguém seja a sua pele na minha pele”, refere, num conceito difícil de assimilar, “mas a arte, se não tiver sentimento e emoção, não tem sentido”. “A nossa missão enquanto artistas é provocar sensações, mesmo que as pessoas não se identificam com aquilo que fazemos. Sejam sentimentos de aproximação ou de revolta, o que importa é que despoletemos qualquer coisa no seu âmago”, defende o quarteirense. Mexer com o público é uma mais-valia para se ter sucesso na arte contemporânea, mas Guilherme Gonçalves fala igualmente da importância de se ter uma identidade perfeitamente definida, uma técnica consolidada, de não andar a saltar constantemente de um estilo para o outro. “As minhas
texturas e relevos, todo este dinamismo, ilustram a intensidade com que eu vivo e penso a vida”, entende, antes de falar da reação das pessoas que são a matéria-prima para as suas obras. “Sentem-se bem,
algumas até ficam orgulhosas por estarem numa tela minha. Tive apenas uma problemática superficial, não pelo facto da sua imagem estar numa tela numa exposição, mas porque alguém pode comprar o quadro e depois a sua imagem vai parar a casa de outra pessoa. Mas, a meu ver, quando elas passam para a minha tela, deixam de ser essas pessoas e ALGARVE INFORMATIVO #317
tornam-se personagens que utilizo para contar uma história, a minha visão do universo, coisas que me revoltam, frustrações, relacionamentos amorosos”. Apesar desta explicação, Guilherme Gonçalves garante que não tem problemas em expressar os seus sentimentos no dia-a-dia, tanto no seu meio pessoal como profissional. “Sou 68
apologista de que o coração tem que falar. Se temos algo para dizer, dizemos, com as palavras certas e no momento certo. O orgulho estraga vidas e, por muito traído ou mal que me sinta com algo, deito as coisas cá para fora, não guardo rancores”, declara o artista, acrescentando que, “se o coração fala, estamos no nosso estado mais 69
puro, estamos conscientes do que fazemos”. Mas Guilherme também procura que as suas obras sejam apelativas para o cidadão comum, ao ponto de adquirirem as suas telas para as pendurar nas paredes das suas casas.
“Há temas que são mais vendáveis do que outros, rostos que encaixam melhor numa parede do que outros. Não é o facto de olhar para o mundo à ALGARVE INFORMATIVO #317
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minha maneira que me impede de ter essa preocupação”, reconhece. Isto porque, na hora da verdade, todos temos contas para pagar ao fim do mês e ser artista no Algarve, e em Quarteira, não facilita as coisas, apesar de existir um movimento cultural bastante dinâmico nesta cidade do concelho de Loulé.
“Temos artistas fantásticos naturais de Quarteira, só que alguns tiveram que sair de cá para conseguirem ter maior projeção. O Nuno Viegas, por exemplo, é um dos melhores na Europa na street-art, portanto, nada nos deve impedir de sonhar. Primeiro criamos uma linha que nos 71
define e depois, com calma, trabalhando com afinco e determinação, as pessoas acabam por vir ter connosco”, julga Guilherme Gonçalves, mostrandose satisfeito pela arte urbana já ser habitual nas galerias tradicionais.
“Quando andava no 9.º ano, o grafiti ainda não era aceite enquanto arte, embora já se aprovassem algumas paredes para a malta fazer umas coisas bonitas. E a minha professora de História disse-me que, dentro de alguns anos, o grafiti passaria a ser uma parte importante da História da Arte, a constar dos ALGARVE INFORMATIVO #317
livros, e a verdade é que isso aconteceu. A street art foi da rua para as galerias e também há artistas convencionais que «saíram» das galerias para irem pintar para a rua. E, sem dúvida, existe algo de street art no meu trabalho, nos temas que escolho, em elementos que utilizo na minha técnica”. Seja como for, Guilherme Gonçalves ainda não é artista a tempo inteiro, tem uma atividade profissional que acaba por sustentar a sua arte, mas que, como se adivinha, «rouba» tempo à sua criatividade. “Tenho várias
encomendas de trabalhos personalizados, o maior problema é conseguir cumprir com os prazos. Se calhar, já podia viver da arte com um rendimento mínimo, mas ainda
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não é o momento certo para dar esse passo. Acredito muito naquilo que faço, algo que é suportado pelo feedback dos outros. Sei o que tenho nas mãos e o que posso fazer com isto, mas prefiro viver sem pressas e ansiedade”, declara, até porque possui outros projetos com associações e coletivos de artistas, entre as quais a Policromia, que também lhe consomem tempo. “Estamos a fabricar, nos
nossos cérebros, algo que nos vai transcender, que vai ultrapassar todos os limites. A par disso, vou continuar a expor em nome próprio sempre que tiver material sólido e contextualizado para tal, e não apenas para marcar presença”, garante o quarteirense .
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CAPA RECEBEU «MARIDOS» DO TEATROMOSCA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Irina Kuptsova
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21 de setembro de 1970, no programa de televisão «The Dick Cavett Show», o anfitrião recebeu os três atores de «Husbands» com o objetivo de promover o filme realizado por John Cassavetes. Os três convidados – o realizador, acompanhado por Peter Falk e Ben Gazzara – pareciam estar altamente embriagados e, durante 35 minutos, fumaram, rebolaram no chão, dançaram de modo absurdo, beijaram o apresentador, gritaram, ALGARVE INFORMATIVO #317
ininterruptamente, uns com os outros e com o público. Rapidamente, o programa transformou-se num espetáculo caótico. “É em diálogo
com este emblemático filme e com esse estranho evento televisivo, mais inspirados pelo mapeamento do processo criativo do realizador norte-americano, pelos ecos que a sua obra produziu e pelos diálogos que poderá estabelecer com a atualidade, do que propriamente 78
pelo argumento de «Husbands», que nos propomos a construir um espetáculo – protagonizado agora por três atrizes, Leonor Cabral, Joana Cotrim e Carolina Figueiredo”, explica o encenador Pedro Alves. A peça da Teatromosca foi a cena, no CAPa – Centro de Artes Performativas do Algarve, em Faro, no dia 19 de novembro, e centrou-se tanto na discussão em torno 79
dos mesmos temas propostos pela obra de Cassavetes – o subtítulo do filme anunciava mesmo que se tratava de ‘uma comédia sobre a vida, a morte e a liberdade’ – como na dissecação desses instantes em que os corpos se encontram, no cinema e nas artes performativas, assente num terreno fluído onde as fronteiras que tenderiam a separar a vida da arte, a realidade da ficção, o teatro do cinema, são, claramente, desafiadas . ALGARVE INFORMATIVO #317
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CHOQUE FRONTAL AO VIVO VIBROU COM OS THE BLACK TEDDYS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Vera Lisa
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rosseguem os programas do «Choque Frontal ao Vivo» no TEMPO – Teatro Municipal de Portimão, dinamizados por Ricardo Coelho e Júlio Ferreira, da rádio Alvor FM e, depois de Reflect e «Bite The Blue Lemon», foi a vez dos «The Black Teddys» subirem ao palco do Pequeno Auditório, no dia 17 de novembro, mais uma vez para plateia ALGARVE INFORMATIVO #317
cheia. A banda algarvia constituída por Carlos André Favinha, Ricardo Martins, André Brito e Bruno Barras voltou a exibir-se em grande estilo com um indie rock contagiante e eletrizante que não deixou ninguém indiferente e que demonstrou o motivo de serem regularmente convidados para participar em diversos festivais que acontecem na região e noutros pontos do país . 92
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CICLO ILUSTRES DESCONHECIDOS LEVOU OSMOSE AO AUDITÓRIO DO SOLAR DA MÚSICA NOVA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Miguel Pires (Mpalgarve.com)
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nserido no ciclo «Ilustres Desconhecidos», o Auditório do Solar da Música Nova, em Loulé, foi palco, no dia 20 de novembro, de um concerto com os Osmose, projeto que nasceu, em 2015, com a gravação do primeiro CD de originais «Um toque de solidão». Com 13 temas, o disco incidiu em temas de estilo eclético, com a participação de vários artistas convidados, de onde se destaca a cantora portuguesa Wanda Stuart no tema «Estou perdido», a cantora lírica Isobel Barton, o guitarrista Ricardo Martins e o violinista Jan Pipal, entre outros. A banda, atualmente formada por Diogo ALGARVE INFORMATIVO #317
Ramos (voz), Luís Conceição (piano e voz), Valter Estevens (guitarras e voz), Pedro Parreira (baixo) e Bruno Maié (bateria), é bem o reflexo de um desejo de criação inédita, onde a pluralidade de influências musicais se combina de forma efetiva e inesperada. “Uma
ambiência basilar, que apresenta uma estética mesclada de música Erudita, Tradicional, Rock, Jazz, Blues e Funk, com incursões frequentes pelos universos da improvisação aliado à surpresa de algumas versões muito sui generis de temas bem conhecidos do público em geral”, descreve a banda. 102
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Com repertório maioritariamente original, e letras em português, este agrupamento aventura-se também no universo mais recôndito da música instrumental, tentando recuperar e remodelar uma estilística hoje muito pouco divulgada naquilo que é usual chegar à maioria dos portugueses. Sendo que todos os elementos são originários do Algarve, esta banda já se apresentou em várias salas nacionais e conta com um grupo crescente de seguidores de todas
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as classes etárias, de norte a sul do país e também além-fronteiras. Em 2019 aparece o EP «Profecias», produzido por Valter Estevens, que prima também pela viagem por vários estilos e fusões musicais, com uma especial ressalva para a introdução em estúdio de temas instrumentais no repertório da banda. Preparam para 2021 o lançamento do terceiro trabalho discográfico, denominado «Memórias» .
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OPINIÃO Trigésima sétima tabuinha - O joelho Ana Isabel Soares (Professora universitária) iz Jérôme, o personagem de Jean-Claude Brialy em Le Genou de Claire (O Joelho de Claire, Éric Rohmer, 1970), que “Há em cada mulher um ponto mais vulnerável. Para umas, é onde começa o pescoço, a altura, as mãos... – para Claire, naquela posição, com aquela luz... era o joelho”. Naturalmente, para lá da fragilidade feminina e do ponto em que se concentra, diferente de mulher para mulher, o que Jérôme está a enunciar quando afirma, com o ar sapiente de um cientista, é a sua própria vulnerabilidade ao joelho de Claire. Ao ponto em que, em Claire, converge o poder da sua feminilidade, da sua individualidade, corpo e graça. Não terá sido por acaso que Rohmer fixou o sentido de Jérôme naquele lugar específico do corpo de Claire. O joelho é uma porção de aparência nem sempre valorizada – quando canta metonimicamente o corpo das mulheres, a poesia antiga não canta loas a joelhos. Do pescoço ao colo, das mãos, dedos, braços, do rosto, do cabelo aos olhos, até pés e narizes femininos merecem mais versos do que os joelhos. O joelho, porém, tem uma importância vital. Vê-se um ou outro quando se fala ALGARVE INFORMATIVO #317
de um homem a ser armado cavaleiro, por exemplo (porque deve ajoelhar, joelho em terra, pé em terra e outro como apêndice do sinal de submissão). Percebe-se que o joelho é relevante quando se olha para o desenho exato de alguém em oração – ajoelhado, em genuflexórios. Em desenhos da Idade Média, os joelhos dos diabinhos têm rostos de diabo, representam replicações de si mesmos, ecos, espelhos (porque o infernal teria de reforçar-se, redobrar-se nas partes inferiores do corpo?, porque o joelho é, por excelência, o lugar da dobra, da duplicação da perna, como o cotovelo marca a dobra do braço?). Num estudo talvez para um quadro maior, alguém (Jerónimo Bosch?) desenhou uma série de corpos de mendigos, gente deformada e em ato de pedir: quase todos têm deformações nos joelhos – dizem tratados de medicina (Física), que um amputado na Idade Média teria mais hipótese de sobreviver se lhe amputassem a perna abaixo do joelho; ou seja, manter o joelho seria condição de vida. Na epopeia finlandesa, quando o velho herói Väinämöinen aparece diante de um curandeiro, antigo como ele, o bruxo pergunta-lhe ao que vem, que chega com «sete barcos de sangue» a jorrar-lhe do joelho: feriu-se com o fio do machado enquanto construía um barco e pede ajuda ao curandeiro. Este, 110
Foto: Vasco Célio
sem saber como nasceu o ferro não consegue fazer o feitiço para que estanque o sangue – o herói tem de lhe contar da génese das «miseráveis limalhas» para que, inteirado o bruxo, consiga devolver a Väinämöinen a inteireza. É o joelho que limita, é o joelho que possibilita. Por aqui nos entra o vigor, por aqui se nos vão as forças, quando soçobramos. Que todos os joelhos do mundo para sempre se restabeleçam, que tanta falta nos fazem, benditos . *NOTA: Os versos a que me refiro, de Kalevala, estão no canto IX do poema. Na edição da Dom Quixote (2013), da tradução de Merja de Mattos-Parreira e de mim mesma, este Canto pode ser lido entre as páginas 181-190.
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Imagem de domínio público. O original encontra-se no Museu Boijmans Van Beuningen, em Roterdão.
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OPINIÃO Notas Contemporâneas [26] Adília César (Escritora) “Notícias e imagens são assim extractos fortemente concentrados da vida ambiente, que, caindo na nossa imaginação, desenvolvem nela toda a emoção viva que em si contêm, – exactamente como essas gotas de essências, que, entornadas num vaso de água, o repassam do seu sabor, do seu aroma, da sua virtude nociva ou benéfica. O Tempo, o velho da negra fouce, é quem ordinariamente se encarrega de reduzir a notícias e imagens os mais complexos e longos factos do espírito ou da vida”. Eça de Queirós (1845-1900), in Notas Contemporâneas (1909, obra póstuma) Á UMA HISTÓRIA da fotografia que nos acompanha desde 350 a.C., provavelmente conhecida por poucos nesses tempos antigos. Contudo, chegados a 2021, a fotografia é processo corriqueiro e produto banal, onde um burburinho de imagens contrai o tempo e aproxima o passado do presente nas mãos que seguram o smartphone (já nem é necessária a máquina fotográfica). E o futuro? * O BURBURINHO, o tumulto, os pormenores, a eternidade condensada numa imagem do presente que se transforma em passado. E o futuro? A memória também pode fazer esse trabalho de arquivo, mas é falível, ALGARVE INFORMATIVO #317
dependendo do nosso estado mental, da nossa idade, dos nossos traumas. O que queremos, de facto, recordar? Já a imagem, a fotografia, implica um processo de inscrição e permanência num catálogo infinito de dados sobre a vida, a natureza, as pessoas, em suma, um catálogo para o futuro. É tentador fixarmos a nossa imagem numa fotografia. Guardar aquele momento, aquele olhar, quem sabe aquele sentimento… E assim, a memória não nos atraiçoará. * MAS se as fotografias são pegadas do tempo, longo seria o caminho a percorrer para viabilizar a nossa viagem, o nosso trilho diferenciado dos trilhos dos outros. E tiramos selfies, umas atrás das outras; modificamos a imagem inicial com filtros e deturpamos a nossa própria essência. 112
Quem sou eu? A pessoa que vejo ao espelho sem filtros, ou a fotografia melhorada que acabei de partilhar nas redes sociais? E se cada vez mais as fotografias que partilhamos hoje em dias são tornadas públicas e deixam de nos pertencer, as nossas histórias vão-se confundido com os próprios caminhos e resumem-se a um segundo de vida, ou seja, o tempo de visualização na rede. * DE FLASH EM FLASH, as sucessivas fotografias que partilho desmaterializam-me e mostram uma construção psicológica da pessoa que eu quero mostrar aos outros e não necessariamente quem realmente sou. Muitas vezes, são apenas uma execução desafinada da linda melodia que cada um de nós pode ser, um quase súbito de luz que rapidamente se inscreve no escuro e desaparece. Precisamos regressar à época do espanto e da economia das imagens; precisamos olhar para dentro de nós e dos outros com a alma e não com os olhos, e assim compreendermos melhor quem somos e qual o universo de que queremos fazer parte. * 113
A FOTOGRAFIA imobiliza a cena e indicia um contexto visual que nem sempre é «visível» ao observador externo. Isto sou eu ou isto não sou eu. As fotografias que partilho desmaterializam-me e mostram uma construção psicológica da pessoa que eu quero mostrar aos outros e não necessariamente quem sou, naquele flash. O que vês de mim não sou eu, é apenas o pouco que eu te quero mostrar. Tanto do que eu não revelo é tudo aquilo que sou . ALGARVE INFORMATIVO #317
OPINIÃO Quem CASA quer CASA! Lina Messinas (Especialista em Feng Shui) udanças de Casa estão quase sempre associadas a mudanças de Vida. Casar, divorciar, aumentar a família, saída dos filhos de casa, mudar de emprego, são motivos para mudar também de Casa. As Casas acompanham e fazem parte da nossa história, e têm um papel muito importante nas nossas memórias. Quando comecei a estudar Feng Shui e tive outra consciência da importância dos espaços, fiz uma retrospectiva das Casas da minha Vida e até à idade adulta vivi em seis Casas diferentes porque os meus pais assim o decidiram, e depois de casar (lá está 12) mudei mais quatro vezes! Quando penso no meu percurso, penso sempre onde vivi e todas as Casas foram importantes, mas a que mais me marcou foi sem dúvida a Casa da minha infância. A Casa das memórias de família, a Casa onde li o meu primeiro livro, a Casa do cheiro do café de cafeteira acabado de fazer, das refeições em família com os meus avós maternos que tanto contribuíram para a Lina de hoje… As Casas estão sempre associadas a emoções e sensações, mas hoje em dia a ALGARVE INFORMATIVO #317
escolha das CASAS da nossa Vida é totalmente racionalizada. No início de «tudo», os sítios para viver eram escolhidos por razões de sobrevivência, por razões de segurança! Presentemente, essas condições estão minimamente asseguradas e com as mudanças do estilo de Vida das pessoas, o que sentimos quando «conhecemos» uma Casa é desvalorizado. E então, o que é importante hoje? A casa está perto do trabalho e da escola dos filhos? A casa tem espaço de arrumação para toda a tralha que acumulamos e nos acompanha ao longo da vida? A casa fica numa zona «da moda»? A casa é «boa» para mostrar e causar alguma inveja aos familiares e amigos? Quando comprei a Casa onde vivo já era Consultora de Feng Shui; foi a primeira e única Casa que vi quando decidi mudar. Nunca me vou esquecer como me senti quando aqui entrei pela primeira vez, e todos os dias provo e comprovo que foi a decisão certa. Nas minhas consultas de Feng Shui encontro tantas famílias que não se sentem verdadeiramente em «CASA» simplesmente porque não a escolheram 114
com o coração, e essa escolha afecta-as em todas as áreas da Vida. Sentirmo-nos «em casa» é fundamental para criarmos raízes, para activarmos o sentido de «pertença», traz equilíbrio, prosperidade e segurança às famílias, e são esses sentimentos que criam um LAR! Casas são o «abraço» do final do dia, são o «colo» num dia difícil, são as confidentes das mágoas e tristezas, mas também das alegrias e conquistas; são 115
lugares para dançar, amar, rir e chorar. São o único lugar do Mundo onde podemos estar na nossa zona de conforto, onde podemos ser nós próprios sem julgamentos. Assim como escolhemos o Homem ou Mulher para casar e partilhar a Vida, que a escolha das CASAS seja com a voz do CORAÇÃO e não da RAZÃO! .
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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #317
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