REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #319

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ALGARVE INFORMATIVO 18 de dezembro, 2021

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FESTIVAL CONTRAPESO | FESTIVAL MOMI | DIA DA CIDADE DE PORTIMÃO ALGARVE INFORMATIVO #319 JOSÉ CARLOS ROLO | VOLUNTARIADO EM LOULÉ | FESTIVAL SOM RISCADO


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94 - «TravessiaS» no Som Riscado de Loulé 104 - «Romance» de Lígia Soares

82 - «El Cuoco» de Pedro Filipe Mendes

64 - «Un Poyo Rojo» no Festival MOMI

56 - António Zambujo em Olhão

24 - Banco Local de Voluntariado de Loulé

OPINIÃO

44 - «This is not about me» no MOMI ALGARVE INFORMATIVO #319

112 - Mirian Tavares 114 - Ana Isabel Soares 116 - Alexandra Rodrigues Gonçalves 118 - Júlio Ferreira 8


36 - José Carlos Rolo, presidente da Câmara Municipal de Albufeira

16 - Dia da Cidade de Portimão 9

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“ESTE SERÁ UM MANDATO DE CONCRETIZAÇÃO DE OBRAS, PROJETOS E INVESTIMENTOS”, AFIRMA ISILDA GOMES Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina e Município de Portimão 11 de dezembro comemorou-se o 97.º aniversário da elevação de Portimão à categoria de cidade, com o programa festivo, adaptado à situação de pandemia, a começar com o tradicional hastear de bandeiras no Largo 1º de Maio. Seguiu-se a sessão solene do Dia da Cidade no Salão Nobre dos Paços do Concelho, em formato online, ALGARVE INFORMATIVO #319

que contou com os discursos da presidente da Câmara Municipal de Portimão, Isilda Gomes, e de Isabel Guerreiro, presidente da Assembleia Municipal, bem como de profissionais que continuam ativos no combate à Covid-19 e diversos momentos musicais a cargo do Barlavento Ensemble. Isilda Gomes começou por recordar que a elevação de Portimão a cidade ocorreu pelas mãos do «filho da terra» Manuel Teixeira Gomes, na altura 16


Presidente da República. “Foi um

homem à frente do seu tempo e a sua carreira académica levou-o a Coimbra, Lisboa e Porto, mas a sua vida levou-o muito mais longe. Em missões comerciais e diplomáticas viajou pela Europa e pelo Mediterrâneo e, republicano convicto, foi Embaixador e Presidente da República. Mais do que uma data avulsa no calendário, hoje resgatamos a sua memória, para homenagear quem se elevou e ficou para sempre gravado na memória coletiva do seu povo e da sua terra”, referiu a presidente da Câmara Municipal de Portimão. Dirigindo-se à população através do Facebook do Município, devido a “um

inimigo invisível com o poder de fazer de nós armas contra os que mais amamos”, Isilda Gomes reconheceu que ninguém imaginara ou antecipara que, de um momento para o outro, o estilo de vida das pessoas viesse a sofrer uma tal disrupção que colocasse em risco, para além da saúde, a educação, a segurança, o emprego e a economia.

“Se é verdade que não pudemos prever este ataque contra as nossas vidas, não é menos verdade que a forma como reagimos é da nossa inteira responsabilidade. Portimão foi uma das primeiras autarquias a lançar-se ao combate contra esta pandemia, onde já investimos cerca de oito milhões de euros do Orçamento Municipal”, sublinhou a 17

edil portimonense, lembrando que, na pior fase da pandemia, no Inverno de 2020, Portimão montou um hospital de campanha onde estiveram internadas 170 pessoas provenientes de todo o país, “tendo sido patente a nossa

solidariedade para com aqueles que mais sofriam e mais precisavam”. Isilda Gomes recordou igualmente o Centro de Vacinação onde se aplicaram mais de 73 mil vacinas a portimonenses, aproveitando para anunciar que, a partir do dia 13 de dezembro, se iria começar a montar um novo espaço no Parque de Feiras de Exposições de Portimão. “Queremos

continuar a dar resposta à necessidade de, em condições condignas, se administrar a terceira dose da vacina, assim como vacinar as nossas crianças. E, ao contrário do que gostaríamos, ele não funcionará no Pavilhão Gimnodesportivo, pois tal privaria milhares de jovens portimonenses da prática desportiva, algo fundamental para a sua saúde física, social e psicológica”, justificou, admitindo que todos estes apoios extraordinários representaram um esforço inesperado no Orçamento Municipal, contudo, “se

a competência pode ser medida pelo rigor na gestão das contas públicas, a solidariedade só pode ser aferida pela forma como

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apoiamos os mais frágeis nas suas horas de desespero”.

salientou, o que se traduz num alívio fiscal de 1,5 milhões de euros para os portimonenses todos os anos. “A

Nesse sentido, vão-se manter medidas de auxílio às empresas e famílias como isenções de ocupação da via pública, publicidade, apoios ao arrendamento e aos medicamentos, tarifas sociais, moratórias para o pagamento da água e o Cartão Solidário para a Alimentação. “E

pandemia condicionou toda a nossa gestão autárquica, o que não nos impediu de termos em execução projetos no valor de cerca de 11 milhões de euros e que estão à vista de todos. Estou a falar da tão esperada reconversão da antiga Lota de Portimão, da primeira fase da repavimentação da V6 e da V5 entre a Penina e a Cruz da Parteira, e da demolição das barracas junto ao Mercado Municipal de Portimão. Em Alvor temos em curso a requalificação do edifício do Instituto de Socorros a Náufragos e a construção de uma nova Casa Mortuário. Também em curso encontra-se a construção de ossários e catacumbas no Cemitério de Portimão”, adiantou.

voltaremos a lançar o programa «Valorizar o Comércio Local» com 50 mil euros em prémios a sortear entre aqueles que fizerem compras no comércio local, porque é preciso dinamizar a nossa economia”, revelou Isilda Gomes, que foi novamente eleita presidente da Câmara Municipal de Portimão nas Autárquicas de 26 de setembro. “Vivemos tempos

extremamente complexos e os desafios que nos são colocados diariamente exigem uma entrega e dedicação sem paralelo”, avisou. No seu terceiro e último mandato à frente dos destinos de Portimão, Isilda Gomes antevê quatro anos de concretização de projetos, após oito anos difíceis. “Os primeiros quatro anos

que passei convosco foram de saneamento financeiro das contas do Município. Foram tempos muito duros, mas os resultados compensaram o esforço, ao ponto de termos sido autorizados a descer o IMI, coisa que os Municípios que têm acordo com o FAM – Fundo de Apoio Municipal não podem fazer”, ALGARVE INFORMATIVO #319

O terceiro mandato será, então, de concretização de obras, projetos e investimentos em todo o concelho,

“porque Portimão não pode ficar à espera que o vírus desapareça miraculosamente”. “Os portimonenses precisam, necessitam e merecem que o poder político que os representa e governa não poupe esforços na prossecução da suprema missão do poder local, que é deixarmos aos nossos filhos uma 18


comunidade melhor do que aquela que encontramos”, declarou Isilda Gomes, razão pela qual, no começo de 2022, serão lançados projetos que significarão um investimento aproximado de 30 milhões de euros. “Iniciaremos as

demolições necessárias na Rua Júdice Biker e no Largo do Dique para construirmos uma nova via rodoviária que melhorará significativamente a fluidez do trânsito; faremos uma requalificação dos passadiços da Praia da Rocha; requalificaremos a zona envolvente da Igreja Matriz, bem como da antiga Lota de Alvor; iniciaremos a construção do novo Centro de Recolha Animal para os nossos amigos de quatro patas; e de 200 fogos a custos controlados no Vale do Lagar, que representam um investimento privado superior a 23 milhões de euros; e lançaremos 19

concursos com vista à construção do novo Parque Urbano junto ao Mercado Municipal e à requalificação do Parque da Juventude. Será ainda em 2022 que terá início a construção do novo Cemitério de Portimão”, revelou. Isilda Gomes fez ainda questão de garantir que, caso os efeitos da pandemia se mantenham ou piorem, a Autarquia não hesitará em canalizar para o seu combate todos os recursos disponíveis, “porque as pessoas estão primeiro”. Em final de discurso, a edil portimonense deixou um apelo para que todos sejam responsáveis nos seus comportamentos individuais e coletivos. “Evitem aglomerações e

ajuntamentos desnecessários e vacinem-se assim que puderem. Sabemos que as vacinas não ALGARVE INFORMATIVO #319


impedem o contágio, mas impedem o desenvolvimento de formas mais graves da doença e cada vida privada é sempre uma tragédia familiar que é fundamental evitar por todos os meios. Antes de terminar, quero ainda deixar um profundo agradecimento ao movimento associativo, que, mesmo enfrentando as atuais dificuldades, organizou um ALGARVE INFORMATIVO #319

conjunto de eventos de celebração deste nosso feriado municipal, mas sempre garantindo as condições de segurança. E se há algo que todos os portimonenses conhecem da nossa longa e digna história é que, às nossas horas mais sombrias, sempre sucederam os nossos mais gloriosos dias” .

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LOULÉ LANÇOU PLATAFORMA DO BANCO LOCAL DE VOLUNTARIADO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina ara assinalar o Dia Internacional do Voluntariado, comemorado a 5 de dezembro, a Câmara Municipal de Loulé promoveu, no dia 7 de dezembro, no auditório da Escola ALGARVE INFORMATIVO #319

Secundária de Loulé, mais um momento de convívio com todos os voluntários do concelho que, durante o presente ano civil, exerceram esta nobre atividade no território. A ocasião serviu igualmente para dar a conhecer a nova Plataforma do Banco Local de Voluntariado de Loulé, uma ferramenta 24


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digital que estará ao alcance de todos e que irá beneficiar a ação, quer das entidades promotoras de voluntariado, quer dos próprios voluntários.

instituições de economia social do concelho que trabalham com pessoas em risco de exclusão social, nas mais variadas funções.

A iniciativa traduz-se na dinamização de uma bolsa de voluntários e serviços de voluntariado, através de uma plataforma digital interativa desenvolvida de raiz por dois jovens louletanos com o intuito de criar um instrumento diferenciado de gestão, monotorização e divulgação do voluntariado, tanto na facilitação de inscrição dos voluntários, como na divulgação das ações. Esta plataforma permitirá a realização de programas ou pequenas ações de voluntariado em

Para prestar uma homenagem e reconhecimento a todos os que, de forma voluntária e altruísta, têm disponibilizado o seu tempo a várias causas, a Autarquia de Loulé organizou um programa de animação com apontamentos culturais a cargo da Escola Contemporânea Fusion – Gym Artbody e do Conservatório de Música de Loulé Francisco Rosado. Na ocasião, a vice-presidente da Câmara Municipal de Loulé, Ana Machado, e Carlos

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Gomes, presidente da Assembleia Municipal de Loulé, enalteceram o esforço de todos aqueles que doam um bem precioso e cada vez mais escasso nas nossas vidas, o tempo, e que dessa forma muito têm contribuído para atenuar as disparidades sociais e promover a necessidade de ajudar o próximo. O Banco Local de Voluntariado do Concelho de Loulé tem permitido a colocação de voluntários nas áreas de maior carência identificadas pelas instituições particulares de solidariedade social, de forma a auxiliá-las a colmatar as

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principais necessidades e a ultrapassar alguns obstáculos com que se deparam no seu quotidiano. Por outro lado, a sua ação pode ser desenvolvida em todos os domínios da atividade humana como sejam a cidadania, ação social, saúde, educação, ciência, cultura, defesa do património e do ambiente, defesa do consumidor, cooperação para o desenvolvimento, emprego e formação profissional, reinserção profissional, proteção civil, desenvolvimento da vida associativa e da economia social, solidariedade social, desporto, entre outros .

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JOSÉ CARLOS ROLO QUER FAZER DE ALBUFEIRA O MELHOR SÍTIO DO MUNDO PARA SE VIVER Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina leito presidente da Câmara Municipal de Albufeira a 26 de setembro, José Carlos Rolo deixou logo expressa a sua vontade de fazer deste concelho o melhor sítio do mundo para se viver, depois de já ser um dos mais procurados destinos turísticos do planeta. Palavras que não são vazias de intensão, até porque aumentar a população residente é bastante importante para a dinamização ALGARVE INFORMATIVO #319

da economia local. “A pandemia

teve, e continua a ter, aspetos extremamente negativos e desastrosos, mas também originou algumas mudanças positivas, nomeadamente o aumento da utilização das tecnologias de comunicação para a realização de reuniões e eventos à distância, em formato online, e do teletrabalho. E Albufeira, por 36


exemplo, tem excelentes condições para cativar nómadas digitais para aqui se fixarem, de forma permanente ou temporária, ao mesmo tempo que trabalham para outra parte qualquer do mundo”, indica o autarca. “Já temos a beleza natural das nossas praias e falésias, vamos agora apostar num espaço público mais agradável e simpático para as pessoas, mas nunca podemos, como é óbvio, esquecer os albufeirenses, por isso, vão-se manter, ao longo deste mandato, os apoios aos mais carenciados e aos idosos”, acrescenta o entrevistado. Para atrair novos residentes, e para impedir o êxodo dos naturais do concelho, é necessária, porém, mais habitação, um trabalho de casa que já vem sendo realizado pelo Município de Albufeira há alguns anos. “Estamos a

acabar 40 moradias em Paderne e temos mais três projetos quase em vias de lançamento de concurso: um de 72 ou 73 frações nas Fontainhas, mais 30 na Samora Barros e 29 ou 30 nos Caliços. Tudo isto envolve cerca de 12 milhões de euros. Ao mesmo tempo, fomos adquirindo alguns apartamentos em Albufeira e estamos a preparar a aquisição de terrenos na Guia, só que este processo foi afetado pela quebra das receitas municipais e por todos os apoios extraordinários que temos concedido para se combater 37

a pandemia”, aponta José Carlos Rolo, explicando que a grande prioridade é criar soluções para os albufeirenses que queiram, e precisam, comprar casa a preços acessíveis.

“Evidentemente que só estes projetos não chegam para suprir todas as necessidades, é um trabalho que teremos que continuar a fazer ao longo dos próximos anos, seja na habitação social ou na construção a custos controlados”. Maior disponibilidade de terrenos para construção deverá, entretanto, ser uma realidade após concluída a revisão do Plano Diretor Municipal, mas José Carlos Rolo lamenta que alguns proprietários especulem nos preços e lembra que a Autarquia não pode comprar acima do valor que resulta da avaliação.

“Queria implementar um Parque Industrial e Comercial no concelho e o dono do terreno pedia seis milhões de euros, quando a avaliação apontava para dois milhões”, exemplifica. Com a habitação a ser alvo de uma atenção constante, não menos importante é a pasta da Educação, estando a ser atualmente construídas mais salas de aulas em duas escolas do 2.º e 3.º ciclo e projetadas a ampliação de mais quatro jardins-de-infância. Já na Saúde, José Carlos Rolo indica que se vai iniciar o procedimento para a construção de um novo Centro de Saúde em Albufeira. “Para além de

serem instalações criadas de raiz, ALGARVE INFORMATIVO #319


verifica-se também a necessidade de equipamentos mais atuais, enfim, de melhores condições de trabalho. Está também praticamente a terminar o concurso para uma Unidade de Cuidados Continuados e as Extensões de Saúde têm desempenhado o seu papel sem grandes percalços, mas o mais importante é a colocação dos recursos humanos. Não adianta termos instalações boas e com tudo o que existe de melhor se, depois, não tivermos médicos e enfermeiros”, avisa, um problema que se coloca igualmente nas escolas. “Com a transferência de competências temos apenas responsabilidades na manutenção dos espaços e na contratação do pessoal auxiliar, não de médicos, enfermeiros ou professores. E até neste aspeto é importante ter um parque habitacional atrativo para estes profissionais que normalmente chegam de outras zonas do país”, reforça. Ainda na habitação, José Carlos Rolo antevê também sérias dificuldades para a própria hotelaria e restauração conseguir alojar os funcionários que pretender contratar para a próxima época alta do turismo. “As empresas não têm mão-

de-obra suficiente para ombrear com a procura que têm da parte dos clientes. Antigamente, as grandes empresas tinham bairros para alojar ALGARVE INFORMATIVO #319

os seus trabalhadores, como sucedia com a FACEAL, EDP, CP, CUF ou Corticeira Amorim. Se calhar temos que começar a pensar nisso outra vez, mas com um modelo mais atual, como as residências que existem para os estudantes universitários”, entende o presidente da Câmara Municipal de Albufeira. 38


CONTINUAR A ENRIQUECER E DIVERSIFICAR A OFERTA TURÍSTICA Prosseguindo com a conversa, e de olhos postos no Terceiro Setor, José Carlos Rolo lembra que existem várias associações muito ativas no concelho, que são responsáveis por alguns lares e centros de dias. Um novo lar vai entrar em funcionamento, em 2022, nos Olhos d’Água, mais um está aprovado para as Fontainhas e vai-se rever o projeto antigo 39

de outro nos Caliços. “Existem lares

na Guia, Paderne e Quinta da Palmeira, para além do da Santa Casa da Misericórdia, e, com esses três novos espaços, acredito que a procura irá ficar praticamente toda satisfeita. Quanto às carências alimentares, não foram uma novidade da pandemia, já existiam antigamente, de modo ALGARVE INFORMATIVO #319


que apoiamos financeiramente as IPSS do concelho para que, depois, elas possam prestar auxílio a quem precisa”. Depois de se falar, resumidamente, daquilo que Albufeira precisa, abordamos o que Albufeira tem para oferecer e, como bem se sabe, nessa matéria domina o turismo e pouca margem de manobra há para grande diversificação da base económica. “Albufeira continuará a

dedicar-se principalmente à atividade turística, que se pode, e deve, diversificar a ela própria, e o destino turístico tem que ser constantemente enriquecido com novos elementos, porque não podemos ficar à espera que as pessoas nos visitem somente por causa das nossas praias, falésias e arribas, e pela nossa gastronomia”, defende José Carlos Rolo. “Albufeira é um concelho com uma área geográfica reduzida, mas há alguns locais do interior onde se pode dinamizar mais a agricultura, até porque o setor primário produz muito daquilo que o turismo consome. Estamos também numa zona de confluência de vias de comunicação, da A2 e da A22, e próximos do Aeroporto Internacional de Faro, pelo que se podem atrair investimentos de outras naturezas. E, ainda no turismo, podemos crescer mais na vertente desportiva, na organização ALGARVE INFORMATIVO #319

de eventos e no acolhimento de estágios de equipas. Aliás, num futuro não muito longínquo, queríamos ser Capital Europeia do Desporto, face ao conjunto de atores que existem no concelho. Era algo que serviria igualmente de incentivo aos mais jovens”, acredita o entrevistado. José Carlos Rolo não esquece, entretanto, o aspirante Geoparque Algarvensis Loulé-Silves-Albufeira a 40


Geoparque Mundial da UNESCO, bem como a Área Marinha Protegida de Interesse Comunitário do Algarve que inclui a costa de Albufeira, Lagoa e Silves, que poderão constituir dois importantes focos de desenvolvimento do concelho, e fala ainda de um Museu Submerso com peças de uma central termoelétrica desativada. “Temos em mente vários

projetos que poderão ajudar bastante Albufeira no curto e médio prazo”, assume o edil albufeirenses, admitindo ainda que o mundo pós41

pandemia dificilmente será igual ao que existia antes do surgimento do covid19. “Assim que entrarmos no novo

«normal», vamos ter as mesmas festas, mas vamos ter que reinventar outros eventos culturais, porque a cultura está sempre ligada ao turismo. Infelizmente, neste momento, ninguém sabe como vai ser o dia de amanhã e andamos a fazer uma governação à vista” . ALGARVE INFORMATIVO #319


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«THIS IS NOT ABOUT ME» PARODIOU DISCURSOS DE POLÍTICOS FAMOSOS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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his is not about me», interpretado pela checa Micha Ela Dašková no Gimnásio Clube de Faro, no dia 27 de novembro, no âmbito do MOMI – Festival Internacional de Teatro Físico do Algarve, pretende ser a exposição física de um narrador que utiliza expressões contemporâneas de poderosas figuras políticas, bem como comentários sobre o mundo, com a sua voz, gesto e corpo. “A

produção move-se numa linha ténue entre a paródia e a crítica, enfatizando e revelando subtilmente o que nem sempre é visível. Baseia-se em casos políticos concretos e comummente conhecidos, que têm uma mensagem universal e geralmente refletem os valores e ações que são promovidos em vários ambientes e sistemas sociais”, explica a produção, adiantando que

“o corpo do narrador se transforma sob a influência de várias narrativas políticas, fazendo malabarismos, gritando, gaguejando, rugindo, onde a voz flui pelo espaço, fugindo, rastejando ou endurecendo”. Nascida em 1985, Micha Ela Dašková é bailarina, atriz, artista plástica e pedagoga. Estudou na ALGARVE INFORMATIVO #319

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DICA – Schule für Neue Tanz, Improvisation und Performance, Freiburg im Breisgau, na Charles University, Praga, VUT em Brno (Faculdade de Belas Artes), na UJEP Em Ústí nad Labem (Faculdade de Arte e Design Estúdio de Materiais Naturais), Estúdio de Escultura da Faculdade de Bellas Artes do Porto. Ensina movimento e improvisação de dança e teatro físico e é membro convidado da Řekni Ř, associação de artistas dedicada à produção, criação e

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ensino teatral, e da associação Trikular zs, que reúne o trabalho de criadores de belas-artes, cinema e teatro. O MOMI foi organizado pelo Colectivo JAT – Janela Aberta Teatro, com o apoio da Direção-Geral das Artes, Município de Faro, Iberescena Artes Escénicas Iberoamericanas, Acción Cultural Española, Direção Regional de Cultura do Algarve e Região de Turismo do Algarve .

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ANTÓNIO ZAMBUJO TROUXE «DO AVESSO» AO AUDITÓRIO MUNICIPAL DE OLHÃO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Irina Kuptsova

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ntónio Zambujo apresentouse, no dia 4 de dezembro, no Auditório Municipal de Olhão, acompanhado por Bernardo Couto (guitarra portuguesa), Diogo Costa (contrabaixo), João Moreira (trompetes), José Conde (clarinetes), Luís Figueiredo (piano) e Nuno Rafael (guitarras e percussão), num espetáculo que serviu para dar a conhecer o seu oitavo álbum, «Do Avesso», mas onde também não faltaram temas mais antigos conhecidos de todos. Zambujo, com este trabalho, voltou a reinventar-se e alargou as fronteiras da sua linguagem musical, recorrendo à participação da Orquestra Sinfonietta de Lisboa e ao contributo de três dos mais talentosos músicos e produtores nacionais: Filipe Melo, Nuno Rafael e João Moreira. O espetáculo de Olhão convidou o público a celebrar as canções de «Do Avesso», bem como a conhecer novos arranjos dos temas que já se tornaram clássicos na carreira de Zambujo, mas houve ainda tempo para algumas canções do seu novo trabalho discográfico. Lançado em abril deste ano, «Voz e Violão» inspira-se no nome de um dos discos da sua vida, «João Voz e Violão», de João Gilberto, editado em 1999.

intérpretes contemporâneos da música e da língua portuguesas, e um dos seus mais notáveis embaixadores no mundo. Na infância passada no Alentejo, António Zambujo cresceu com forte ligação à música: começou por estudar clarinete com apenas oito anos, mas foi sobretudo a tradição viva do cante alentejano e do fado que o fizeram músico .

Natural de Beja, António Zambujo é um dos maiores artistas, autores e ALGARVE INFORMATIVO #319

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«UN POYO ROJO» DEIXOU TEATRO LETHES DE BOCA ABERTA E EM DELÍRIO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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MOMI – Festival Internacional de Teatro Físico do Algarve trouxe até Faro espetáculos verdadeiramente surpreendentes e um dos mais arrojados e inesquecíveis foi, sem margem para dúvida, «Un Poyo Rojo», que foi a palco, no dia 27 de novembro, numa das mais emblemáticas salas da região, o Teatro Lethes, que esgotou por completo. A companhia argentina com o mesmo nome levou o público ao êxtase com a magistral atuação de Alfonso Barón e Luciano Rosso, que mereceram, no final, uma ALGARVE INFORMATIVO #319

estrondosa salva de palmas de pé, uma experiência a que a dupla já está acostumada, porque o espetáculo já foi a cena mais de mil vezes ao longo de mais de uma década e um pouco por todo o globo. Em palco assistiu-se a uma criação carregada de sensualidade e repleta de frenéticos movimentos físicos que frequentemente se fundem nos dois corpos. Uma história que acontece num balneário de um banal ginásio que pode estar localizado em qualquer parte do mundo, aliás, o cenário é constituído essencialmente por adereços das próprias salas de 66


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espetáculos, nomeadamente os cacifos, bancos e armários. A eles se junta uma rádio que sintoniza, em direto, o que vai passando nas estações locais, neste caso de Portugal, o que dá azo a diversas situações improvisadas. Depois, sucedemse as disputas entre Alfonso e Luciano, como que a quererem demonstrar qual deles é o maior macho, só que depressa se percebe que a personagem interpretada por Luciano tem uma queda especial pela protagonizada por Alfonso.

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Resumindo, estivemos perante um daqueles espetáculos que perdura na nossa memória por muitos anos, num evento organizado pelo Colectivo JAT – Janela Aberta Teatro, com o apoio da Direção-Geral das Artes, Município de Faro, Iberescena Artes Escénicas Iberoamericanas, Acción Cultural Española, Direção Regional de Cultura do Algarve e Região de Turismo do Algarve .

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PEDRO FILIPE MENDES FOI «EL CUOCO» NA CASA DA MÁKINA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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associação cultural Mákina de Cena organizou, no início de dezembro, o Festival Contrapeso, com a parceria institucional da República Portuguesa – Ministério da Cultura (Programa Garantir Cultura) e com o apoio da Câmara Municipal de Loulé, Cineteatro Louletano, Sul Sol e Sal, Casa do Meio Dia, Loulecópia e Gráfica Comercial. Com total enfoque em solos, no dia 2 a Casa da Mákina acolheu «El Cuoco», ou «O Cozinheiro», uma história de busca de identidade e a viagem de uma estranha criatura em perene movimento à descoberta de si própria no mundo, dos seus significados e dos seus valores, que se desenrola em tentativas. “Consigo leva apenas uma ALGARVE INFORMATIVO #319

pequena mala, tesouro secreto de um mundo que a precede. Entre a recusa e a incompreensão dos outros, o Cozinheiro aguça o seu olhar através da máscara que endossa, que lhe permite deixar fora o supérfluo, concentrando-se só no que é necessário”, descreve Pedro Filipe Mendes. Pedro Filipe Mendes é ator, criador e professor, licenciado e Mestre em Teatro pela Universidade de Évora. Enquanto ator-pesquisador criou o Laboratório de Pesquisa e Criação Teatral – Workshop de corpo e movimento aplicado à voz e à criação artística, e desenvolveu e dirigiu trabalhos na área do teatro físico e a presença do performer . 84


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CINETEATRO LOULETANO ACOLHEU TRAVESSIAS DO FESTIVAL SOM RISCADO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Jorge Gomes

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ebater-se consigo no mundo é o mote para a travessia de uma mulher nua em si, que procura e se procura, uma viagem que os espetadores do Festival Som Riscado tiveram oportunidade de vislumbrar, no dia 27 de novembro, no Cineteatro Louletano, em Loulé. “Uma mulher

que está só e é polvo. Ela é tudo e tudo é parte dela. Uma mulher que ALGARVE INFORMATIVO #319

se revela, desdobrando-se em múltiplas linguagens e, pondo a descoberto facetas, estados e emoções, baralha-as e combinaas, numa tentativa incessante de se perceber. Joga com as suas perspetivas como se joga a vida”, descreveu a artista Marta Jardim. «TravessiaS» é um trio para palco, de Intermedia Art, com ponto de partida a 96


dança contemporânea. É um apelo à reflexão sobre a importância do autoconhecimento, a importância de cada individuo se pôr em perspetiva e enfrentar as suas «camadas». “Reflete

também de uma forma poética e sensorial, como o ser humano é um ser social e vive em interdependência ao cruzar constantemente o seu caminho com o dos outros. E como o seu caminho muda, enriquece, se acrescenta com 97

o cruzamento do caminho dos outros, mesmo que não seja um cruzamento sem toque”, indica Marta Jardim, acrescentando que «TravessiaS» visa explorar também a capacidade do material de pesquisa de estúdio, junto com a riqueza poética do interior de cada um integrante na peça, ser suficiente para nutrir uma peça, sem recorrer ao «exterior» fora de estúdio, fora de nós próprios . ALGARVE INFORMATIVO #319


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CONTRAPESO ARRANCOU COM A LEITURA DE «ROMANCE» DE LÍGIA SOARES Texto: Daniel Pina | Fotografia: João Catarino

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Clube de Leitura Teatral de Loulé é uma iniciativa da Mákina de Cena | MdC Teatro, que organiza mensalmente leituras informais de textos teatrais, orientadas pelo próprio/a autor/a, tendo por objetivo a divulgação e promoção da dramaturgia contemporânea nacional. A derradeira sessão de 2021 foi conduzida por Lígia Soares, com a leitura do seu monólogo «Romance», naquele que foi igualmente o início da primeira edição do ALGARVE INFORMATIVO #319

Festival Contrapeso, dedicado a formatos performativos a solo. Lígia Soares é uma coreógrafa e dramaturga portuguesa que tem vindo a questionar o espaço cénico como um espaço distanciado. Já o Festival Contrapeso foi uma iniciativa da Mákina de Cena, com a parceria institucional da República Portuguesa – Ministério da Cultura (Programa Garantir Cultura) e com o apoio da Câmara Municipal de Loulé, Cineteatro Louletano, Sul Sol e Sal, Casa do Meio Dia, Loulecópia e Gráfica Comercial . 106


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OPINIÃO É Natal Mirian Tavares (Professora Universitária) “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que retine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria”. Carta de S. Paulo aos Coríntios

i Dickens, pela primeira vez, através de uma versão feita por Walt Disney num livro ilustrado, acompanhado de um disco de vinil colorido recheado de canções. Era o seu famoso «Conto de Natal», encarnado pelos personagens que povoaram a minha infância – Tio Patinhas, Pato Donald, Margarida e os sobrinhos. Tinha uns sete anos, na altura, e lembro-me de chorar quando ouvia as canções – “Hoje a noite é bela, juntos eu e ela, vamos à capela, felizes a cantar (…)”. Na verdade, choro sempre que ouço algumas canções que me tocam num nervo profundo, num nervo oculto e nostálgico que só é acionado por algumas músicas, que nem são as minhas preferidas, mas são aquelas que enlevam, sabe-se lá porquê. Li e reli a história do fantasma dos natais passados que levava um velho rezingão a fazer as pazes com o presente, e com a vida ela mesma, bem mais vasta e bem melhor do que aquilo que ele imaginava, ou guardava na memória. Eu guardo na ALGARVE INFORMATIVO #319

memória alguns natais, fragmentos de natais – uma noite em que recebi a boneca que tanto queria, a preparação do presépio, que levava muitos dias, os bolos, a casa da avó. Mas lembro-me ainda mais dos natais na casa dos tios, da expectativa do presente, da ceia sempre farta e da autorização expressa para irmos dormir mais tarde. Depois, o Natal foi se fazendo ao longe, noutras cidades, com os amigos e com a sensação de ausência – sensação que cresceu com a morte dos pais, de alguns tios, do mano mais velho. Com a morte de uma ideia de família que me acompanhou por muitos anos, que eu alimentei e guardei com carinho, como uma boa memória, como uma memória visitável. Se calhar, o Natal é mesmo a altura em que os fantasmas saem para nos visitar, para dizer da sua presença etérea e eterna dentro e fora de nós. Tenho muitas memórias do Natal, algumas são apenas pedaços de memórias, ou vislumbres – um cheiro, uma cor, uma imagem. São quasememórias. Que não me impedem de viver o Natal presente, com suas 112


Foto: Victor Azevedo

idiossincrasias, com sua novidade, com suas presenças e ausências. Porque o Natal foi ontem. Mas também é hoje e será amanhã. Sempre que houver família, amigos e amor. Sempre que houver vontade de estar ao lado dos outros, de comungar certezas e 113

incertezas, de partilhar essa onda de boa vontade que nos devia invadir todos os dias do ano. Espero que nos invada, pelo menos no Natal e que sejamos verdadeiramente felizes pela possibilidade de estarmos vivos e de estarmos juntos . ALGARVE INFORMATIVO #319


OPINIÃO Trigésima nona tabuinha - Joelho (III) Ana Isabel Soares (Professora universitária) inda de joelhos, lembro-me de uma palavra que retomei, de um lado esconso e fundo do vocabulário: genuflexório. Há miseráveis maleitas que correm a vida de uma pessoa antes mesmo de se nascer: ou melhor, andam no mundo, as maleitas, e uma pessoa vem a ele e encalha com elas, são como esferas gigantes que um desmedido escaravelho intergaláctico laboriosamente tenha arredondado e que rolam no universo. Os mais desatentos, é o caso aqui, deixam-se por elas abalroar, caem em sendo novos, pequenos, despensam nas quedas e se descuidam, e as malevolentes molezas vão ficando na carne até que elas, afinadas no afilado correr dos anos, ousam mostrar-se em dor, espampaneiam-se nos dias mais batidos do vento, ou quando a humidade baixa para mais próximo do chão. Artroses, coisas assim de ruins, bichas de doses sem dó que acenam mesmo quando estão os ossos em repouso. Remédio...? Doses outras, de indesejadas drogas, que ferem a ossada e as dobras, mas deixam em paz e sucesso a esfera enorme da doença. Isso, ou encarapaçar de força os lugares desdefendidos do corpo, aqueles aonde a bola aponta, os que mais doem. Faço-o com exercícios, ALGARVE INFORMATIVO #319

ginástica física, coisa mesma de mexer o corpo, além do reforço da consciência, moleza que se põe fina e olha a esfera de frente, em desafio. No ginásio uso, sobre o retângulo estreito do tapete, um outro tapetinho, dois palmos de longo por um de alto, um genuflexório. Assento nessa dobrada suavidade os meus pobres giolhos, em sendo momento de os assentar. Sou a única da turma a fazê-lo e o professor rise, chama-lhe «almofadinha» e diz-me que nunca se recorda do nome que lhe dei – “Não o inventei, eu: é uma almofada para fletirmos nela os joelhos, um mais do que próprio genu- flexório”, e ele acha graça. Fico a pensar (depois de o meu fundo filológico se endireitar e fazer peito) como soam aos outros as palavras que descobrem, como os sons – que na minha ideia têm vidas extensas de sentido e delidas as sonoridades – aparecem novos, inesperados (*«genú»), em saltos consonânticos (*«flekss»), pataretas nas associações («-ório» de simplório, de magnório, quem há de lembrar-se de velório, ainda mais nos dias de hoje?). Vida boa, meus sons belos. Vida boa a vossa, quando ressurgem, revivem do vosso sono de igreja e, além do conforto a que ajudam o espírito quando ele se agacha a rezar, afofam as fracas, doridas e mal lubrificadas ossadas em esforço e em movimento . 114


Foto: Vasco Célio

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OPINIÃO Turismo 2021. Turismo 2022? Alexandra Rodrigues Gonçalves (Diretora da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo da Universidade do Algarve) ais um ano que não descolou da Pandemia. Continuou confuso, incerto, num sentimento geral de insegurança, que contagiou todos os que fazem esta constelação de serviços enriquecer as nossas vidas. De incerteza em incerteza foi-se tentando lidar com os factos: não se conseguiu voltar aos números prépandemia; perderam-se recursos humanos que resolveram mudar de vida e deixar a inconstância do turismo, da hotelaria e da restauração; fecharam-se algumas unidades hoteleiras, restaurantes e similares; a animação turística reconfigurou-se e abraçou novos desafios; estimulou-se o consumo na hotelaria e turismo com medidas tributárias especiais; definiram-se medidas excecionais de apoio aos vários subsetores; entre muitas outras coisas. Enfim, tudo parece acontecer numa velocidade furiosa, mas muito marcada por ciclos de 10 a 15 dias, que correspondem aos períodos atribuídos de isolamento e de avaliação de novos contágios. Para além dos adereços diários dos testes rápidos, das máscaras e do gel desinfetante, que teimam em permanecer, ALGARVE INFORMATIVO #319

muito pouco se consegue planear no nosso dia-a-dia. É fundamental o apoio à inovação em turismo Todavia, temos uma enorme resiliência e continuamos a acreditar que somos uma região de excelência. A massificação de um turismo de monocultura tem estado na origem de alguma estagnação, que necessita de permanente esforço de inovação e empreendedorismo que promovam uma atividade económica mais sustentável. E assim melhor qualidade de vida para as nossas comunidades. A sazonalidade da atividade turística, a flutuação e as caraterísticas da força de trabalho, a fragmentação da propriedade e um tecido empresarial de pequenas e médias empresas tornam fundamental o apoio à inovação em turismo. São prementes o desenvolvimento de abordagens multissectoriais, que, por exemplo, envolvam agentes e empresas de diferente natureza, como é o caso dos artesãos que com a introdução do design nos ofícios tradicionais se traduzem em propostas de workshops criativos para turistas, mas também de inovação da produção regional. Outras propostas como novos tours que combinam percursos históricos com experiências gastronómicas locais e provas de vinhos renovando uma 116


oferta de base local que se diferencia pela aposta nas receitas tradicionais e nos produtos locais. A tecnologia tem também um papel central e as respostas serem integradoras, não será já suficiente possuir várias aplicações de telemóvel que permitem visitas virtuais guiadas pelo território, proporcionando oportunidades de construção personalizada das visitas consoante a disponibilidade de tempo dos turistas e as suas preferências, mas sobretudo plataformas integradas de reserva de experiências online. Os destinos da Bacia do Mediterrâneo, grandemente dependentes do turismo costeiro baseado no sol e praia, estão a procurar crescentemente estratégias de diferenciação, que se relacionam com os seus territórios. O Algarve tem de investir em infraestruturas de apoio à inovação no sector que possibilitem a sua regeneração, revitalização e reinvenção, sob pena de

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perder atratividade e competitividade face aos mercados concorrentes. Este é um trabalho que começa a ter enfoque central na estratégia regional e que se espera rapidamente implementado, com suporte financeiro adequado para as ações que o RIA (Região Inteligente Algarve) e a Visão «Smart» para o Algarve está a procurar definir em conjunto. Termino afirmando que a Universidade do Algarve tem um papel essencial como grande motor de desenvolvimento regional, no ensino, na investigação e no desenvolvimento desta relação para um Turismo +inovador, +criativo, +inteligente, +sustentável . P.S. Caros leitores, que esteja época Natalícia seja plena de muita esperança, saúde e alegria, e que o Ano Novo traga oportunidades de explorar a vida e o Mundo! ALGARVE INFORMATIVO #319


OPINIÕES, REFLEXÕES E DEMAIS SENSAÇÕES A minha carta ao Pai Natal… Júlio Ferreira (Inconformado Encartado) uerido Pai Natal ...”, aliás “Caro Pai Natal”, porque isto de chamar “querido” a um velho que não conheço de lado nenhum, não faz qualquer sentido. Ainda por cima, não sei se já reparaste que durante o resto do ano não fazes nada? Não produzes, não tens mérito próprio e és incapaz de resolver alguma coisa sozinho? Vives de aparências, entras nisto à «pála» de uma cunha da Coca-cola (ganda tacho) e ficas com os créditos do trabalho alheio. Ano após ano, damos o corpinho ao manifesto para que tu, na hora H, saias em ombros. Andamos um ano inteiro a vergar a mola, mas quando o trabalhinho aparece feito, quem foi!? Foi o «Pai Natal». Pior que isso, só mesmo o facto de haver muita gente como tu, uns com mais barba e barriga, outros com menos, mas vai dar no mesmo. E como é tão legítimo acreditar em ti Pai Natal, como em Deus ou nos glutões, aqui vai esta carta. Vamos a isto antes que encoste as beiças a um Sumol de Ananás, para dar sinal ao fígado que estão encerradas as festividades do natal.

Q

Há quanto tempo! Como tens passado? ALGARVE INFORMATIVO #319

Quanto a mim, não te preocupes. Cá vou aguentando o barco. Nos momentos em que não há ondas e nos momentos de tempestade. Cada vez mais percebo que há coisas contra as quais não podemos lutar. Acontecem quando têm que acontecer. E nessa altura há que remar, remar, remar… Não penses que com isto pretendo mostrarte que sou um homem fraco ou forte. Nada disso. Mas é a minha forma de encarar a vida. Claro que não te vou dizer que comi a sopa toda. Mentia se o fizesse. Aliás, sabes tão bem como eu, que sopa não é das coisas de que mais gosto, principalmente as de grão. Também não te vou dizer que fui um menino bem-comportado. Mais uma vez, mentia se o fizesse. Tentei ser sempre bem-comportado, juro que em todas as circunstâncias, tentei. Nisto não te minto. Mas a verdade é que cometo os meus erros. E não me custa admitir que os cometi. Por isso, as minhas desculpas. Acho que se pode dizer que serei uma eterna criança. E isso é um dos meus maiores orgulhos. Espero nunca deixar de ser assim. Se conseguires ajudar nisso, deixas-me muito feliz. Mas também podes ajudar noutra coisa. É que há muito tempo, sinto que tenho uma vocação brutal para ser multimilionário, agora só falta alguém acreditar no meu potencial e dar-me 118


essa oportunidade. Podes ser tu mesmo que eu não me importo, é que já estou farto de pedir às estrelas cadentes e até já pedi ao «outro», ao verdadeiro pai do menino, ao dono disto tudo (como tu sabes, já não é o Salgado) … “You Know What I Mini? Anyway!!” Sei que já não esperavas esta carta. Os «meninos da minha idade» nunca as escrevem, mas há sempre uma primeira vez para tudo. Com isto tudo, espero que não existam ressentimentos entre nós. É que tu só apareceste muito mais tarde na minha vida, depois de ser pai. Confesso que nesses tempos vivi verdadeiramente o Natal patrocinado pela tua figura e pelo refrigerante que te criou e confesso que o fiz de forma 119

intensa. Lembro-me tão bem de nesta altura começar a ficar ansioso e incentivar aquelas maravilhosas criaturas a escrever cartas dizendo quais os brinquedos mais desejados! Quanto ao resto, não te preocupes, eu ao longo destes anos tenho feito o melhor que posso e sei para que eles entendam que os presentes mais importantes estão presentes todos os dias do ano. Que os presentes mais importantes não se vendem em lojas, nem se amontoam em caixas coloridas debaixo da Árvore de Natal. Sabes, é que eu ainda sou do tempo em que os nossos pedidos natalícios, eram dirigidos ao «outro», ao menino Jesus. Púnhamos a meia ou o sapatinho na chaminé (ou sob a árvore de Natal), e esperava-se até à manhã seguinte pela generosidade da criança nascida na manjedoura de Belém. Sim, aquele mesmo menino que cresceu e fez montes de milagres e multiplicou pães e vinho. Do milagre da Maria, mãe de Jesus, é que pouco se fala. Quer dizer, fala-se, mas ainda assim é um milagre secundário comparado com os do seu filho ou com os teus. A mulher engravidou mantendo-se virgem o que, convenhamos, é ainda mais incrível do que renas a voar. Da multiplicação do pão e do vinho já não digo nada, porque quando a coisa mete vinho pelo meio é comum começar a ver a dobrar. Pois é… foram precisos mil e tal anos para apareceres tu para o bater aos pontos em termos de popularidade. Para além de teres renas voadoras, puseste milhões de pessoas, um pouco por todo o mundo, a gastar dinheiro que não têm para comprar coisas que não precisam. ALGARVE INFORMATIVO #319


Mais do que perder religiosidade, a simplicidade, a quadra apesar da festa, da união, mesmo que isso signifique negociação, diálogo, entendimento e outras cenas, tornou-se uma espécie de pacto de não agressão. Tenta-se o mínimo denominador comum, pode ser o bacalhau ou a missa do galo, um estandarte ou um Pai Natal a trepar estupidamente por uma varanda ou janela… para conseguir ultrapassar todas as diferenças, todas as faltas. Negoceia-se para chegar ao acordo que é a noite de dia 24, quando a paz é convocada por todos. Por minutos que seja. Mas hoje e sempre o Natal cresce quando chega uma criança e esmorece um bocadinho quando parte alguém. Ninguém resiste à alegria de uma criança quando rasga desalmadamente um embrulho. Mas não ignoramos, entre os mais velhos a falta que nos faz, de quem não está. Nessa medida, o Natal acaba por constituir um momento de confronto e luta entre o melhor que a quadra tem e a memória que não nos deixa viver tranquilamente com a falta, a ausência, o luto que esta pandemia veio trazer a muitas famílias. É um conflito de sentimentos, felizmente sempre vencido pelas crianças, que nos obrigam a renascer todos os dias. O Natal pode ter uma história banal. Mas é nessa história, uns anos mais sofrida do que noutros, que está a paz que procuramos todo o ano. E a vida, por instantes, parece feita de novo à nossa medida. À medida da família e dos amigos, que é a massa de que se faz o pão de todos os dias. Este ano, não quero nada para mim! Não faças essa cara, que isto não é tão ALGARVE INFORMATIVO #319

simples como aparenta. É que as Crianças precisam mais do que nunca de magia. Já que são cada vez menos, os que acreditam naquele menino da manjedoura, talvez tu possas ajudar para que as crianças tenham mais tempo para ser… crianças. Peço-te que neste Natal consigas distrair as crianças da realidade deste mundo cada vez mais doente, enlouquecido, para que elas possam rir com sua respiração em vez de soluçar com suas lágrimas. Principalmente aqueles que cuidam de familiares ou que sofrem de doenças, fome ou pobreza. Especialmente aqueles que lutam todos os dias por um naco de pão, aos que se escondem em prédios enquanto chovem bombas ou são entregues a um barco, tremendo de medo ou frio, para escapar de desastres ambientais ou de guerra. Por favor, ajuda a iluminar seus mundos com um momento de alegria e esperança como só tu consegues. E para que saibas, este presente não precisa de vir embrulhado com papel vermelho e laço dourado. Para terminar, aviso-te que vou tratar de armadilhar a minha chaminé com uns espigões movidos por movimento e eletrifiquei os alumínios das janelas porque este ano só entras pela chaminé e se apresentares certificado de vacinação e teste negativo. Se tudo estiver tudo ok de acordo com as recomendações da DGS, prepara-te… porque te vou dar aquele forte e caloroso abraço. Espero que o menino que nasceu na manjedoura, não fique chateado comigo! BOAS FESTAS!!! . 120


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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #319

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