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ALGARVE INFORMATIVO 25 de dezembro, 2021
FESTIVAL CONTRAPESO | FESTIVAL MOMI | BUBBA BROTHERS | FADISTAS LOULETANOS 1 ALGARVE INFORMATIVO #320 CUCA ROSETA | FESTIVAL DO CONTRABANDO | «UN ENCUENTRO COM MIGUEL HERNANDÉZ»
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28 - Festival do Contrabando em Alcoutim 10 - Escola EB 2,3 D. Dinis em Quarteira
50 - Festival Contrapeso em Loulé
36 - «Varredor de Marés» em Faro
60 - «Becoming MA» em Faro 20 - Bubba Brothers
70 - Cuca Roseta em Loulé ALGARVE INFORMATIVO #320
104 - VI Gala dos Fadistas Louletanos 6
OPINIÃO 112 - Ana Isabel Soares 114 - Adília César 116 - Fábio Jesuíno 118 - Nuno Campos Inácio
92 - «Un encuentro com Miguel Hernandéz» em Faro
80 - «Monólogos do Pénis» em Lagos 7
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ANTÓNIO COSTA INAUGUROU INVESTIMENTO DE 6,5 MILHÕES DE EUROS NA REQUALIFICAÇÃO DA ESCOLA D. DINIS DE QUARTEIRA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina ara a comunidade escolar de Quarteira, o 17 de dezembro foi um dia muito especial, com a vinda do PrimeiroMinistro, António Costa, à Escola EB 2,3 D. Dinis para inaugurar a obra de requalificação levada a cabo neste estabelecimento de ensino e que constituiu um dos mais significativos investimentos ao nível da rede de equipamentos escolares algarvios, não só pela dimensão do projeto, mas também ALGARVE INFORMATIVO #320
pelo seu valor, na ordem dos 6,5 milhões de euros. O edifício, localizado entre Quarteira e Vilamoura, foi construído em 1985 e encontrava-se em avançado estado de degradação. Após a sua demolição total, nasceu uma «nova» escola que possui 24 salas de aula, duas salas de Educação Visual e Tecnológica, uma sala de Educação Visual, duas salas de Tecnologias de Informação e Comunicação, duas salas de Música, dois laboratórios, uma sala polivalente com bancada retrátil e refeitório, centro de recursos, gabinete 10
Manuel Nora, diretor da Escola EB 2,3 D. Dinis médico e de psicologia, entre outras valências. Naquele que foi o derradeiro dia de aulas antes das férias de Natal e o fim do primeiro período letivo, muitos alunos não esconderam o seu entusiasmo na receção ao governante, que se vez acompanhar pelo Ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues. Durante a visita ao novo espaço, António Costa conheceu os projetos educativos que ali são desenvolvidos, tendo como foco a comunidade envolvente, com o objetivo de criar uma escola cada vez mais inclusiva. E, a partir deste momento, iniciativas como a leitura assistida por animais, o clube de aeromodelismo ou o acompanhamento a crianças com 11
necessidades especiais ganham um impulso suplementar com as novas condições que este equipamento moderno e funcional irá proporcionar, ao mesmo tempo que vai “ajudar a
alterar os ambientes de aprendizagem”, referiu o diretor da Escola EB 2,3 D. Dinis, Manuel Nora. Num universo de 600 alunos marcado pela multiculturalidade, 31 por cento dos estudantes têm diferentes línguas maternas, coexistindo 52 nacionalidades, pelo que é “com a
participação de todos, comunidade envolvente, alunos, pais e encarregados de educação, forças vivas da terra, forças políticas, Câmara Municipal de ALGARVE INFORMATIVO #320
Loulé e Junta de Freguesia de Quarteira, que é possível desenvolver aqui um projeto educativo criado por pessoas no território”, destacou Manuel Nora, para quem esta diversidade sociolinguística e cultural constitui “uma enorme
riqueza que vinca de forma indelével este projeto pedagógico”. A criação de uma identidade bilingue na Escola EB 2,3 D. Dinis, que passa pela sinalética identificadora dos espaços apresentada em português e inglês, incluída durante os trabalhos de remodelação, ou pelo projeto do ensino na língua inglesa, mas também o ensino experimental das Ciências debruçado sobre a questão da transição climática e ALGARVE INFORMATIVO #320
todo o desenvolvimento das literacias científicas, culturais ou tecnológicas, são alguns dos exemplos do que está a ser feito neste estabelecimento de ensino do concelho de Loulé. “Toda a
nossa atividade é consubstanciada na participação cidadã dos nossos alunos na vida social e educativa da escola”, adiantou Manuel Nora, visão partilhada pelo Ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, que considera a Escola EB 2,3 D. Dinis como uma escola
“absolutamente inclusiva, com sorrisos de quem entende verdadeiramente porque é que tem que estar aqui, onde as árvores são centrais, onde a 12
Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé
cidadania é absolutamente fundamental e que não faz nada sem pensar na comunidade em que está envolvida”. A «nova» escola está agora plenamente adaptada aos novos tempos do ensino e à melhoria das aprendizagens, com o edifício a encontrar-se na vanguarda da tecnologia e com uma forte aposta nas energias renováveis, nomeadamente ao nível da climatização das salas, com painéis solares e fotovoltaicos. A par dos trabalhos, o Município de Loulé foi também responsável pela instalação de mobiliário, material didático e equipamento e execução dos acessos e 13
infraestruturas de suporte ao funcionamento da escola, numa obra que foi cofinanciada pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, no âmbito do Portugal 2020, ao abrigo do Programa Operacional CRESC Algarve 2020. Numa ocasião em que mais uma vez administração central e local estiveram de mãos dadas, o presidente da Câmara Municipal de Loulé sublinhou a importância da inauguração da Escola EB 2,3 D. Dinis. “São investimentos
na educação que ficam para o futuro, para as novas gerações. Tínhamos aqui uma escola muito ALGARVE INFORMATIVO #320
degradada, sem condições de trabalho para os professores e com condições medíocres também para os meninos que, para poderem ter uma educação com sucesso, precisam de ter um bom ambiente escolar. E este investimento veio criar essas condições”, frisou Vítor Aleixo, visivelmente satisfeito pela concretização de um projeto que passou por diversas peripécias. Por sua vez, António Costa falou dos três pilares fundamentais da política educativa do Governo e que estão também traduzidos no modelo seguido neste estabelecimento de ensino. ALGARVE INFORMATIVO #320
“Desde logo a autonomia das escolas, isto é, a capacidade de cada escola se organizar, gerir, ser capaz de mobilizar os recursos e de se inserir na comunidade, mas também a flexibilidade curricular que permite compreender que o conhecimento não é compartimentando”, indicou o Primeiro-Ministro, frisando ainda a descentralização, ou seja, “a partilha
com os municípios daquilo que é a contribuição pública para o funcionamento, a gestão e a condução da escola”. “O contributo da Autarquia de Loulé 14
Tiago Brandão Rodrigues, Ministro da Educação
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O Primeiro-Ministro ALGARVE INFORMATIVO António#320 Costa
foi absolutamente decisivo para que esta escola possa hoje ter condições que a antiga escola não tinha”, assumiu o governante, que assim veio ao concelho de Loulé, pela sexta vez, enquanto Primeiro-Ministro, “para a
inauguração de grandes investimentos públicos, num valor total de 16,5 milhões de euros”, recordou Vítor Aleixo. De facto, António Costa marcou presença nas inaugurações da primeira fase do Passeio das Dunas, do ALGARVE INFORMATIVO #320
Conservatório de Música de Loulé, das instalações regionais da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil na «cidadela da segurança de Loulé» e da Base de Apoio Logístico de Quarteira, mas também foi à aldeia dos Vermelhos, na freguesia do Ameixial, para uma ação de boas práticas para a gestão da floresta e prevenção dos fogos florestais, e participou na sessão comemorativa do Dia da Criança, no Parque Municipal de Loulé. E marcou, agora, o início de uma nova etapa do ensino na cidade de Quarteira . 16
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BUBBA BROTHERS INSTALARAM-SE NOS TOPS MUNDIAIS DA MÚSICA ELETRÓNICA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina e Bubba Brothers êm sido, de facto, meses alucinantes para os Bubba Brothers, a dupla algarvia de djs constituída por Eliseu Correia e Justino Santos que, a partir do Montenegro, e sob a chancela da «Mossdeb Sounds», passou a ser uma constante nas principais playlists e plataformas digitais de música eletrónica, nomeadamente na vertente de house. Um sucesso que é reflexo de muito trabalho, mas que, verdade seja dita, ALGARVE INFORMATIVO #320
acabou por surpreender o próprio Eliseu Correia, sobretudo pela velocidade a que tudo tem sucedido.
“Mas o êxito não nos subiu à cabeça, até porque a nível nacional somos praticamente ignorados, ninguém nota o que está a acontecer”, desabafa o conhecido empresário do setor do turismo. Bem feitas as contas, os Bubba Brothers têm há largas semanas três 20
músicas, a «Kharma», «No Name Song» e «Loco», nos tops mundiais da Tracksource, Beatport e EDM Charts, num crescendo avassalador sobretudo a partir de maio do corrente ano. “Em maio
estávamos em quatro playlists com um alcance de cerca de oito mil pessoas. Há uns dias atingimos as 230 playlists com um alcance de cinco milhões de pessoas. Existem imensos djs nacionais e internacionais com muitos mais anos de carreira, com mais repertório e reconhecimento do que nós, e que não apresentam estes números”, destaca Eliseu Correia. “Em média, temos cerca de 12 mil ouvintes por mês, quando nem sequer somos profissionais, mas já somos escutados em 142 países de todo o mundo. É realmente espantoso”, acrescenta o entrevistado. O percurso dos Bubba Brothers é ainda mais de enaltecer por se encontrarem no Algarve e não em Lisboa e Porto, onde a vida noturna é bastante mais agitada, o que confere maior visibilidade aos seus protagonistas. “Muito
provavelmente, se tivéssemos outra cobertura mediática, as coisas seriam diferentes, ou se tivéssemos um manager ou uma grande editora atrás de nós, porque isso ajuda na contratação para os festivais. Mas tudo a seu tempo … e também não somos os primeiros, nem os segundos ou terceiros, a terem um maior reconhecimento no 21
estrangeiro do que no seu próprio país. Veja-se os exemplos da Joana Vasconcelos, da Fátima Lopes ou do Pauleta”, comenta Eliseu Correia. “Nós somos muito conhecidos no Algarve, no resto do país não temos ainda grande expressão, mas o facto é que somos convidados para tocar nas rádios do Reino Unido ou Estados Unidos. Nos rankings do Spotify, Portugal é apenas o 32.º país onde se ouve mais Bubba Brothers, o que não deixa de ser uma enorme tristeza”. O tremendo sucesso no mundo digital não é, depois, traduzido no mundo real porque, como bem sabemos, a animação noturna tem-se dividido, nos dois últimos anos, entre estar completamente parada ou a funcionar a meio gás, mas isso acaba por atestar ainda mais a qualidade da música dos Bubba Brothers. “Sofremos do
mesmo problema que todos os djs ou artistas de qualquer género musical, houve muito pouco palco neste Verão, apesar de ter sido melhor do que em 2020. Claro que, com o impacto que as nossas músicas estão a ter alémfronteiras, em condições normais se calhar estaríamos a tocar noutros sítios e mais vezes”, entende Eliseu Correia, adiantando que a agenda para o Verão de 2022 já está a ficar muito bem composta. “Não
sabemos como é que o covid vai ALGARVE INFORMATIVO #320
evoluir ou não, e, apesar de ser giro estarmos nos tops e sentirmos um enorme orgulho pelas pessoas gostarem da nossa música, aquilo que mais nos apaixona é atuarmos ao vivo. Há djs que são essencialmente produtores de estúdio e que não «curtem» o público, mas nós não somos assim”, assume, sem rodeios. Não há tantas atuações ao vivo como se desejaria, mas tal acaba por deixar mais tempo livre para a vertente da produção e prova disso é que os Bubba Brothers têm lançado mais temas, nestes últimos meses, do que nos outros seis anos de existência. “O mais difícil não é
chegarmos a estes números nem termos este alcance, mas sim ALGARVE INFORMATIVO #320
mantermos o nível, e isso exige uma maior dedicação para estarmos constantemente a «alimentar» esta onda. Em 2021 houve mais tempo para ouvir música, para trocar ideias e para criar, mas, para sermos honestos, os Bubba Brothers só em 2019 é que começaram a apostar a sério nos originais, com o «Carla’s Beat»”, reconhece Eliseu Correia. “As músicas espalham-se pelas redes digitais, mas principalmente pelo contacto humano, e o facto de não tocarmos em mais lados prejudicou-nos. Sinceramente, acredito que o «Kharma», o «No Name Song», o «Loco» e agora o «Loud», iriam passar com 22
frequências nos grandes clubes”, afirma, sem falsas modéstias. “Em Inglaterra houve uma pseudo normalidade que não se repetiu noutros países, nem na própria Ibiza, e as músicas dos Bubba Brothers andaram por lá a bombar”, acrescenta. E contra aqueles que julgam que o sucesso da dupla algarvia é um mero acaso, uma questão de sorte, a verdade é que já são vários os temas a alcançarem os tops mundiais no espaço de poucos meses. “As más-línguas e a inveja
fazem parte do «job description» e da forma de estar em Portugal. Aliás, quando isso deixar de acontecer em relação aos Bubba
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Brothers, vou ficar muito preocupado”, responde, com um sorriso. “Excetuando uma música que, hoje, se calhar não editava, todos os nossos temas entraram nos tops. Ninguém nasce ensinado, estamos cá para aprender todos os dias, e, em 2021, não devemos ter muitos colegas nacionais que apresentem os mesmos resultados que nós obtivemos”, frisa, anunciando que mais temas estão na forja, mas que serão lançados no momento certo. “Sabemos que há
um certo receio de não cairmos no esquecimento e até uma pressão das rádios e playlists para saírem mais músicas, mas não nos
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vamos precipitar, porque a responsabilidade agora também é maior. O «Loud», por exemplo, obteve em poucos dias o mesmo alcance que o «Kharma», «No Name Song» e «Loco» demoraram algumas semanas a atingir. Há playlists que adicionam automaticamente os novos temas dos Bubba Brothers assim que são lançados, o que é um orgulho imenso para dois algarvios que começaram nisto na brincadeira”. Amadores com um desempenho de fazer inveja a muitos profissionais com largos anos de carreira, até onde podem então chegar os Bubba Brothers, perguntamos. “Neste momento não
me arrisco a dizer nada, porque ainda não tivemos um ano normal desde que isto se tornou mais sério. ALGARVE INFORMATIVO #320
Vamos ver o que pode acontecer quando a indústria musical e de eventos recuperar”, responde. “Sou um sonhador por natureza, não há impossíveis, e podemos chegar onde nos levarem, não há limites. A nossa grande vontade é tocar na meca da música eletrónica, em Ibiza. A nossa música já lá está, falta chegarmos lá fisicamente. Em 2022 podem surgir várias oportunidades para os Bubba Brothers atuarem no estrangeiro, o que demonstra que nunca é tarde para se sonhar. Eu vou fazer 54 anos, o Justino 56, somos quase uns Rolling Stones dos djs, e ainda vamos dar muitos alegrias aos nossos seguidores”, finaliza, com uma risada .
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TRÁFICO DE ARTES NO GUADIANA REGRESSOU PARA DEIXAR A SUA MARCA NO TERRITÓRIO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Município de Alcoutim quinta edição do Festival do Contrabando decorreu, mais uma vez sob o mote de «Tráfico de Artes no Guadiana», nos dias 17, 18 e 19 de dezembro, com um programa eclético e instalações que deixaram a sua marca no concelho de Alcoutim. “É importante dar
continuidade a este projeto e ALGARVE INFORMATIVO #320
potenciar a valorização do território, sem esquecer que é fundamental, apesar do contexto de pandemia em que vivemos, continuar-se a apostar na realização de iniciativas que, cumprindo as orientações da DGS, permitam levar até aos cidadãos eventos que, com um carácter inovador, promovam a cultura e a identidade alcoutenejas, quer na 28
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vertente presencial como online”, referiu o presidente da Câmara Municipal de Alcoutim, Osvaldo Gonçalves. Continuando a apostar no fomento e na divulgação artística, e com um programa simples, mas especial, artisticamente rico e diversificado, houve lugar a teatro, música, arte, contos, estátuas vivas, caricaturas e palhaço, com transmissões online num formato adaptado ao contexto de pandemia para minimizar os riscos de proximidade e concentração de gente. O programa arrancou com o ato oficial de inauguração «de Artes no Guadiana», pela Associação Satori, no Museu do Rio, em Guerreiros do Rio,
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seguindo-se «Frases do Contrabando», por Isabel Ferreira das Cerâmicas de Alcoutim, na Avenida de Espanha. Depois, ao longo do fim-de-semana, os residentes puderam assistir a diversos espetáculos e performances como o Quinteto Alcatifa, Retratos Impressionistas na rua por Xicassa, Don Roberto Contrabandista pelo Teatro Clássico Don Roberto, «Cupido» por Clown Enano, «Peace & Love» por Selway Statues, «Zambombá» pelo Grupo Navidad Flamenca, «De Boca em Boca – histórias a nutrir comunidades» por Rita Sales e Pedro Bravo Faria, Farra Fanfarra e Encontro do Mosto, entre outras propostas .
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«VARREDOR DE MARÉS» SENSIBILIZOU PÚBLICO PARA A IMPORTÂNCIA DA BIODIVERSIDADE Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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ncenado por Rita Neves e com interpretação a cargo de André Canário, Laura Pereira e Pedro Monteiro, «Varredor de Marés», da te.Atrito, foi o representante algarvio, e português, no MOMI – Festival Internacional de Teatro Físico Algarve, e esgotou por completo o auditório do Instituto Português do Desporto e Juventude, em Faro, na manhã do dia 28 de novembro.
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A peça conta a história de um mar tão grande, tão grande, mas tão grande, que era de toda a gente, de todos os peixes e de todas as algas. Até que, um dia, alguém disse que o mar era seu e que, por isso, podia fazer tudo o que quisesse. “Esse alguém (que era
muita gente) apanhou demasiados peixes e usava o mar como se de um grande caixote do lixo se tratasse. Até que o Varredor de Marés acordou com
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um balde em cima da cabeça e não quis acreditar no que observou”, descreve a companhia. Dois atores, música e um mar de pano juntam- se num espetáculo sem palavras, mas onde tudo é fácil de compreender e se transmite a mensagem que o mar é de toda a gente e não é de ninguém. “A
Europa e o Mundo estabeleceram como objetivo para 2010 travar a perda de biodiversidade, naquele que foi o Ano Internacional da Biodiversidade. Numa região com profundas ligações culturais, sociais e económicas ao mar e à Ria Formosa, pensamos que era importante criar um espetáculo que 39
alertasse as novas gerações para a acelerada perda da biodiversidade, com profundas consequências para o mundo natural e para o bem-estar humano, nomeadamente no que se refere às questões ambientais e ao degradar da riqueza que se levantam à volta do tema «Mar»”, reforça o te.Atrito, grupo de teatro fundado em 2015 e que conta já com 23 produções próprias e mais de 500 espetáculos realizados em parceria com associações, grupos de teatro, escolas, câmaras municipais e juntas de freguesias, e muitas outras instituições públicas e privadas .
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FESTIVAL CONTRAPESO TROUXE MÚSICOS DE ELEIÇÃO A LOULÉ Texto: Daniel Pina | Fotografia: João Catarino
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s primeiros dias de dezembro foram marcados, em Loulé, pela realização da primeira edição do Festival Contrapeso, da responsabilidade da Mákina de Cena. A par das performances teatrais que tiveram lugar na Casa da Mákina, a associação cultural sedeada em Loulé levou também música de qualidade superior ao Auditório do Solar da Música Nova, pelas mãos de Mário ALGARVE INFORMATIVO #320
Delgado, Carlos Barretto e Óscar Marcelino da Graça. Mário Delgado é um dos guitarristas mais solicitados nos vários quadrantes da música portuguesa, sendo notório o seu uso de recursos menos óbvios através de manipulação eletrónica ou de outras sonoridades acústicas pouco formais, para além de se poder mover em qualquer área estilística. Quando se fala de jazz em Portugal, o nome de Carlos Barretto é uma referência de mérito incontornável, mas tem levado a sua música a muitos destinos, tanto na 52
Europa como no resto do mundo, sempre com rasgados elogios por parte da crítica especializada. Quanto a Óscar Marcelino da Graça, é pianista e compositor licenciado pela Escola Superior de Música de Lisboa, tendo frequentado, entre outras, a Berklee College of Music (onde foi bolseiro). É doutorando em Música na Universidade de Aveiro e professor na Escola Superior de Música de Lisboa, na Escola de Jazz 53
do Hot Clube de Portugal Luiz Villas-Boas (Lisboa), entre outras. O Festival Contrapeso foi uma iniciativa da Mákina de Cena que contou com a parceria institucional da República Portuguesa – Ministério da Cultura (Programa Garantir Cultura) e com o apoio da Câmara Municipal de Loulé, Cineteatro Louletano, Sul Sol e Sal, Casa do Meio dia, Loulecópia e Gráfica Comercial . ALGARVE INFORMATIVO #320
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YUKO KOMINAMI E TANIA GARRIDO CRIARAM «BECOMING MA» PARA O FESTIVAL MOMI Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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«
ecoming MA» foi criado pela espanhola Tania Garrido e pela japonesa Yuko Kominami especialmente para o MOMI – Festival Internacional de Teatro Físico Algarve durante uma residência artística que aconteceu no Gimnásio Clube de Faro, tendo o resultado final sido apresentado ao público na tarde de 27 de novembro.
específico de espaço negativo. Nas artes e cultura tradicionais japonesas, ma refere-se à interpretação artística de um espaço vazio, muitas vezes tendo tanta importância quanto o resto de uma obra de arte e focando o observador na intenção de espaço negativo numa obra de arte. Esta performance nasceu, então, do encontro criativo e original das duas artistas que trabalharam o conceito de Ma por via da dança, do movimento e do corpo .
Ma («lacuna», «espaço», «pausa») é um termo para um conceito japonês ALGARVE INFORMATIVO #320
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CUCA ROSETA RECORDOU AMÁLIA NO CINETEATRO LOULETANO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Jorge Gomes
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Cineteatro Louletano foi palco, no dia 30 de novembro, de «Amália por Cuca Roseta», um espetáculo único e marcante que celebra, de uma forma irrepreensível e magistral, tudo o que Amália Rodrigues nos deixou e que, nesta ocasião, contou com a participação especial do fadista algarvio Amabélio Pereira. 73
Segundo a produção, “a morte só
mata quando deixamos e, enquanto celebrarmos a vida que a antecedeu, pode ser contrariada e menorizada”. “A vida enquanto percurso, enquanto afirmação, enquanto legado e enquanto força capaz de inspirar outros a fazerem o seu próprio caminho. É isso que está por detrás do disco «Amália por Cuca Roseta», que, ALGARVE INFORMATIVO #320
mais do que uma homenagem de Cuca Roseta à maior voz do fado, trata-se de um agradecimento pessoal a uma mulher e a uma obra que, desde o primeiro momento, se tornaram um alicerce fundamental para o seu crescimento artístico enquanto fadista”. Recorde-se que Amália Rodrigues faleceu a 6 de outubro de 1999, mas, volvidos 21 anos, “o seu génio é
demasiado flagrante para que deixe de ser celebrado e nunca será de mais lembrar uma obra que partiu do fado, virou o fado do avesso e convocou também outras músicas populares para o seu universo”, ALGARVE INFORMATIVO #320
entende a produção. “É essa enorme
vastidão de registos que Cuca Roseta leva também para o palco, celebrando um reportório que só ao ser reinterpretado pode manter-se vivo e capaz de conquistar novos públicos. Ao celebrar o seu encontro com a obra de Amália, Cuca Roseta celebra também a vida e os seus encontros. Aqueles que, em cada momento, fazem de cada um de nós aquilo que somos. E a quem, muitas vezes, falta dizê-lo assim, com todas as letras: Obrigado, Amália. Para não esquecer nunca o porquê de estarmos aqui” . 74
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CENTRO CULTURAL DE LAGOS ESGOTOU COM SESSÃO DUPLA DE «MONÓLOGOS DO PÉNIS» Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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Centro Cultural de Lagos esgotou por completo, nos dias 7 e 8 de dezembro, para assistir a «Monólogos do Pénis», protagonizado por Ricardo Castro e Ricardo Carriço, peça que ilustra, de forma nua e sem tabus, aquilo que os ALGARVE INFORMATIVO #320
homens conversam quando se juntam à volta de uma mesa num bar. No espetáculo descobrimos, então, aquilo que os homens silenciam quando as mulheres estão presentes, os seus desejos, preferências e inquietações. Ricardo Castro é Guilherme, um simples vendedor de automóveis, Ricardo Carriço é 82
Santiago, um sofisticado jornalista e escritor, e as experiências de vida de cada um dos dois amigos dão o mote para um diálogo em que falam abertamente e refletem sobre a alma feminina e o corpo da mulher. “É um retrato de
comportamentos através de dois discursos bem distintos. Vamos ouvir questões relacionadas com sexo, o desempenho na cama, vantagens e desvantagens do casamento e do divórcio, fetiches, conquistas e desejos que envolvem 83
detalhes anatômicos, entre outros temas em torno do sexo”, adianta a produção. Com texto original de Carlos Eduardo Novaes, a peça foi um fenómeno de audiências no Brasil, tendo sido vista por mais 1,5 milhões de espectadores ao longo de mais de uma década. A adaptação do texto à atualidade portuguesa foi entregue a Luís Filipe Borges, estando a encenação a cargo de Paulo Cintrão . ALGARVE INFORMATIVO #320
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TEATRO LETHES ASSISTIU A «UN ENCUENTRO CON MIGUEL HERNÁNDEZ» Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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Teatro Guirigai regressou ao Teatro Lethes, em Faro, no dia 7 de dezembro, com a peça «Un encuentro com Miguel Hernández», em que três intérpretes convidam o espectador a encontrar-se com os momentos vitais deste poeta e dramaturgo espanhol, desde a sua infância e adolescência aos primeiros amores, da sua chegada a ALGARVE INFORMATIVO #320
Madrid à emoção perante a criação da República, dos dramas da guerra à sua prisão. Miguel Hernández morreu com 31 anos e o espetáculo mostra o percurso vital de um jovem cheio de energia e talento, implicado na transformação do seu país, com dramaturgia e direção de Agustín Iglesias e interpretação de Magda Gª Arenal, Raúl Rodriguez e Jesús Peñas . 94
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FADISTAS LOULETANOS VOLTARAM A ATUAR NA MAIOR SALA DE ESPETÁCULOS DO CONCELHO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Jorge Gomes
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fado voltou a escutar-se bem alto, no dia 5 de dezembro, no Cineteatro Louletano, com a sexta edição da Gala dos Fadistas Louletanos. O evento ALGARVE INFORMATIVO #320
reuniu, pelas mãos do músico Valentim Filipe, nomes como André Catarino, Alexandra Viana, Cesar Matoso, Isa de Brito, Rui de Sousa e Ruben Alexandre, numa tarde de domingo recheada de emoção ao sabor de temas clássicos interpretados por novas vozes e com novos olhares . 106
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OPINIÃO Quadragésima tabuinha - Almofadas Ana Isabel Soares (Professora universitária) ue viagens farão as palavras, que só de vez em quando lhes vislumbro a passagem? Luzem, cativam sem se deixarem prender e prosseguem, troçando de quem as quer segurar para olhar mais de perto. É que fazem magias e não se compreende: alguém (em Portugal, alguém português) está em casa descansado a ver uma série, falada em língua inglesa, na televisão – e ouve a palavra «bleach», que conhece, que reconhece significar lixívia e, no mesmo segundo em que percebe a palavra, sente o cheiro da alvejante solução. “Como raio me cheira a lixívia, como foi que entrou pelo ouvir o cheiro?”. Porque sabem que as não acompanho nas viagens que fazem, as palavras deixamme pequeninos passaportes para inventar as minhas. Assim é com «almofada». Parece que me lembro do momento em que passei de moça pequena a outra coisa: de um estatuto que nem me apercebia de ter (centrada na existência de mim, convencida – mas sem o saber – de que o mundo todo existia porque eu o via e pensava, que as invenções da minha vontade eram tão reais como qualquer ALGARVE INFORMATIVO #320
outra coisa que existisse) para uma relação com o mundo em que me vejo como um átomo descentrado e sem centro, migalha de universo, floco de ar como outro que, alegre porque o sabe, vagueie nestes espaços de mistério. Nesse tempo, brincava com o meu mano João e a minha mana Gabriela e o nosso jogo preferido era construir casas para os gnomos. (Os gnomos eram famílias cujos elementos representavam variedades de tipologia, tamanha, escala, cor, proveniência: poderia ser um pai boneco de Lego, uma tia brinde das caixas de farinha torrada, um filho da coleção do Bana e Flapi comprada nalguma saída à minúscula e preenchidíssima loja da Zulmira, uma Tucha ou Barbie prima direita: as diferenças evidentes não impediam jamais que formassem parte do mesmo núcleo familió-genético e que, nele, se alegrassem e padecessem como em qualquer outra comunidade). Era para esta população que construíamos casas complexas, tudo em plano que víamos desde cima, criadores daquele céu, daquela terra, as paredes uns muretes com peças igualmente díspares, mas que asseguravam o conforto e a proteção que lhes era exigido que assegurassem – iguais aos que, mais tarde, reconheci em lugares arqueológicos e sobre cujos restos de paredes, agora tocos baixos, se alça uma perna e mais outra para 112
Foto: Vasco Célio
passar de uma divisão à próxima. Parece que me lembro de passar desse mundo de invenção de mini-casas dos gnomos para imaginar construir ou habitar um espaço para mim, lugar em que passava eu a ser criação e deixava de ter quem, de cima, me observasse e, comigo entre um indicador e um polegar, me fizesse caminhar aos saltos pequenos por uma casa sem telhado. Nesse lugar primeiro 113
imaginado para mim, haveria quase nada de mobílias: só todo o chão coberto de almofadas onde se sentaria e habitaria uma multidão de gente amiga, pessoas reais que desejava ter ao meu lado, numa mesma casa em que as paredes por igual acolheriam. Ouço «almofada» e é este o sonho que o meu pensamento projeta . ALGARVE INFORMATIVO #320
OPINIÃO Notas Contemporâneas [28] Adília César (Escritora) “Bem fazes tu! Colhes apenas a flor das cousas que pode ser roxa e melancólica ou amarela e festiva, mas é sempre uma flor; enquanto nós nos dobramos a analisar as raízes que são negras, que são feias, e vêm sujas de terra rude em que mergulham e sugam”. Eça de Queirós (1845-1900), in Notas Contemporâneas (1909, obra póstuma) NATAL outra vez. Um certo tédio ou talvez melancolia. As cores são sempre as mesmas das de outros Natais, mas são também diferentes. Este Natal não tem cor ou então é uma sombra doentia, um papagaio lançado ao céu, feito de papel de embrulho e fitas. Olhamos para ele e vemos o que nunca deveríamos ter visto: a decadência da civilização. O papagaio de papel arrasta com ele máscaras, gel desinfectante, testes antigénio e PCR, zaragatoas e uma multidão de pequenas criaturas bem embrulhadas em SARS-CoV-2. A febre. Decididamente, este papagaio não se presta a brincadeiras, identifica-se mais com uma arma de extermínio humano.
É *
É NATAL outra vez. Um certo receio ou talvez tristeza. Os hábitos são sempre os mesmos: comprar presentes inúteis, comer o pobre peru, doces até enjoar e ALGARVE INFORMATIVO #320
beber para esquecer. Olhamos para a mesa da Consoada e os restos que sobram sabem a saudade. Já houve pelo menos um Natal Feliz? Sim, houve. Agora, não sei. O peru morreu e a alegria dura pouco na lâmpada que repentinamente se funde. No escuro, não sabemos onde pousar a inquietação. * A MÃE é uma velhinha de cabelos brancos. Está cansada de viver. Continua a rezar todos os dias, mas a convicção já não é a mesma: esta pandemia é o diabo!, diz ela. As cataratas reorganizam-se nas suas pupilas para que os olhos não desmascarem a face da civilização, que ela tão bem conhecia noutros tempos menos ambíguos. A mãe queria estar sozinha: isto já não tem volta a dar… olha filha, já que vens jantar comigo, trazme um bolo-rainha daqueles com frutos secos, que as frutas cristalizadas do bolorei dão-me náuseas. * 114
O MENINO JESUS não vai ser adorado, este ano. Os ajuntamentos de pessoas estão proibidos e existe o perigo real de infectarmos o recém-nascido com COVID-19 ou então a criança poderá infectarnos a nós. A inocência da infância deveria ter outro nome, como «estrela cadente» ou «mistério». Assim, é melhor guardarmos as devidas distâncias neste Natal, mais uma vez (até quando?), de acordo com este miserabilismo de sermos agentes transmissores de uma doença real à escala global. * MAS e a flor? São capazes de ver a flor desta coisa recorrente a que chamamos Natal? A estrela da esperança que brilha sem esmorecer, o sorriso dos meus netos durante o ritual de abrir as prendas, as maravilhosas broas da Dona Angélica… Ao longe, ouve-se distintamente o som do sino a apregoar as horas natalícias. E recebo um telefonema: o jantar de Natal está cancelado porque uma das filhas está infectada. O resto da família fecha-se nas suas casas e todos se preparam para serem testados no dia seguinte. Enquanto esperam, esgaravatam na terra suja à procura das raízes da vida que tinham antes. Antes? Antes do quê? * SINTO O ABRAÇO invisível das pessoas nos votos de Boas Festas que me dirigem. Respondo o que 115
se espera que eu responda e calo o que não se espera que eu diga. Tanto num caso como no outro, o discurso é indelével e ao mesmo tempo efémero. No final da conversa de circunstância dizemos: Com muita saúde! E a expressão de sentido duvidoso não se vai embora, fica por ali a pairar no tempo até que apareça o maldito arcoíris. Apesar de tudo, a esperança também pode ser uma doença, ao não aceitarmos o que ainda está para vir, como se ainda não tivéssemos percebido que as consequências sucedem os actos. O planeta está doente, os homens e as mulheres são seres corrompidos, e só o Amor não basta. Mas é Natal e nasceu um Menino. As crianças transformam-se em flores, unidas desde as raízes, porque sabem que são a salvação do mundo . ALGARVE INFORMATIVO #320
OPINIÃO Livros para inspirar empreendedores em 2022 Fábio Jesuíno (Empresário) om a chegada do Ano Novo criei uma lista de livros para inspirar empreendedores a alcançarem sucesso nos seus negócios e projectos. O processo criativo O primeiro livro que recomendo é «O processo criativo» de Seth Godin, que mostra que todos podemos desenvolver capacidades criativas. Explica que a criatividade não é um talento, mas sim uma competência que pode ser desenvolvida por todos. Menciona alguns segredos para desenvolvermos as nossas capacidades criativas e como elas podem ser um factor determinante para o sucesso profissional. “Praticar. Praticar. Praticar. E repetir. É esse o segredo para o sucesso”. Unicórnios Portugueses
Talkdesk. Neste livro podemos conhecer e aprender com os desafios destas startups portuguesas. Startup Este é sempre um livro que recomendo para qualquer empreendedor, principalmente no início da sua caminhada. O seu autor, Chris Guillebeau, mostra através de exemplos como não é necessário um grande investimento para criarmos um negócio de sucesso. Comprova que ideias simples podem-se tornar em verdadeiros projetos altamente lucrativos. Nas suas viagens de pesquisa, já encontrou mais de 1.500 pessoas que criaram os seus negócios com investimentos muito baixos, mas que alcançaram rendimentos de mais de 40 mil euros anuais, neste livro selecionou 50 casos mais fortes. Estes são os três livros que recomendo para o próximo ano, cheio de energia empreendedora e muitos sucessos .
Este livro da jornalista portuguesa Ana Pimentel fala sobre algumas histórias dos unicórnios portugueses, startups de mil milhões de dólares. Podemos saber mais sobre a Farfetch, o primeiro unicórnio português fundado por José Neves, e exemplos da OutSystems ou a ALGARVE INFORMATIVO #320
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OPINIÃO O Natal é quando o homem quis! Nuno Campos Inácio (Editor e Escritor) ornou-se frequente o uso da expressão «O Natal é quando o homem quiser», para justificar uma comemoração fora da época correcta. No entanto, essa expressão parece remeternos para uma outra realidade mais oculta, que se prende com a escolha do dia 25 de Dezembro para a comemoração do nascimento de Jesus Cristo. É evidente, mesmo para o maior dos crentes, que Jesus Cristo não nasceu no dia 25 de Dezembro. O cenário descrito nas Sagradas Escrituras remetenos para uma Natividade primaveril, que muitos estudiosos colocam entre os meses de Março/Abril. Nesse caso, porque foi estipulado o dia 25 de Dezembro para o festejo do Natal? A fixação da data para a celebração da Natividade entre os católicos foi realizada em meados do Século IV, pelo Papa São Júlio I (337-352), na sequência de um dos concílios que convocou (no de 340 ou no de 350, ambos realizados em Alexandria). Essa escolha, que os teólogos e historiadores mais antigos associam ao actual território algarvio, tem muito pouco de religioso. Passando em revista alguns textos antigos sobre essa ligação, ALGARVE INFORMATIVO #320
encontramos o texto de São João Crisóstomo (349-407), que nos diz: “... não de outra sorte este dia (do nascimento do Senhor), sendo conhecido desde o princípio pelos habitadores do Ocidente, e havendo finalmente passado a nós, há poucos anos (353), de repente se insinuou tão frutuoso, como se está vendo na cerca das nossas moradas recalcada pela multidão, para que o Templo todo é estreito” - in Servatoris nostri Jesu Christi diem Natalem. Este texto, escrito poucas décadas depois da fixação do dia 25 de Dezembro para as comemorações do Natal, é claríssimo ao afirmar que esses festejos passaram do Ocidente para o Oriente. Importa, no entanto, perceber que «Ocidente» era este. Essa resposta encontra-se na obra do Padre Vicente Salgado, que esclarece: “Desde a primitiva Cristandade foi celebrada neste Ocidente do Algarve a Festa do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, e daqui é que passou ao Oriente no Quarto Século. (...) O sítio das terras Ocidentais assina o mesmo Doutor, dizendo ser os Gades, que contém a enseada Gaditana desde o Promontorio Sacro até Gibraltar”. Quase 17 séculos passados sobre estes acontecimentos é difícil de conceber que 118
a região do Algarve/Andaluzia pudesse ter, nessa época, uma influência religiosa capaz de convencer toda a cristandade a seguir o seu exemplo. No entanto, importa recordar que os documentos mais antigos sobre a comunidade cristã no sul da Ibéria datam de 182 e retratam situações de heresia praticadas por essas comunidades que, certamente, tinham uma visão diferente do culto cristão. No Concílio de Elvira, realizado no ano 304, já participaram os bispos de Mérida, Ossónoba (Faro/Algarve) e de Évora. O prestígio das comunidades cristãs do sudoeste ibérico viria da sua antiguidade, dimensão e vanguardismo. 119
Esse vanguardismo, visto como herético no Século II, estaria relacionado com a forma como os cristãos da região assimilavam as tradições e comemorações pagãs. Muitas datas festivas do cristianismo resultam da aculturação religiosa de festejos pagãos e mitológicos, como acontece com o Natal. Vejamos: No dia 25 de Dezembro realizavam-se as tradicionais «férias de inverno», em homenagem a Saturno, o Deus da agricultura, também conhecido como «Deus Sol». Era também o dia das festividades a Hórus, o deus egípcio, ALGARVE INFORMATIVO #320
filho de Osíris e de Ísis, o Deus da fertilidade; o dia dos sacrifícios a Baal, o Deus-Sol dos fenícios; das festividades a Dionísio/Baco, o deus dos ciclos vitais, das festas e do vinho; das festividades a Mithra, o DeusSol da mitologia persa; resumindo, o dia 25 de Dezembro era o dia da celebração do «Sol Invictus». Quando se converteram ao cristianismo, os povos da região algarvia mantiveram a tradição da celebração ao nascimento do Sol, substituindo-o simbolicamente pelo nascimento de Jesus Cristo. Deste modo, Jesus transformava-se simbolicamente no «Sol» dos crentes; na nova luz que guia e ilumina os que nele acreditam; na força divina que protege e cuida das coisas terrenas e dos homens. Para os novos crentes a vida e a mensagem de Jesus Cristo substituía na perfeição todos os atributos de todas as entidades que eram adoradas pelos gentios. Não sabemos que argumentos terão sido usados pelos prelados ocidentais nesse concílio, mas esta ou outra mensagem semelhante foi bem acolhida e permitiu uma maior penetração da fé cristã nos territórios do próximo e do médio oriente, pela ligação que fazia às principais divindades das mitologias greco-romana, egípcia, fenícia e persa.
adorações ao «Sol» renascido após o equinócio do Inverno, o dia 25 de Dezembro continua a festejar a «Luz», a fé dos homens no transcendental, o renascimento, o reinício de uma etapa, de uma vida… Por isso, o Natal é das crianças, que estão no início da sua caminhada terrena. Também por isso, o Natal é quando o homem quiser renascer, festejar a vida, comemorar a sua existência e a sua fé. Neste dia de renascimento, desejo a todos os leitores da Algarve Informativo um novo ano cheio de boas realizações.
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