REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #323

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ALGARVE INFORMATIVO 22 de janeiro, 2022

DANIEL PIRES ASSINA PELO FARENSE | «COCHINCHINA» | «CREDO» | GNR 1 ALGARVE INFORMATIVOVIDA #323 TEATRO LETHES APRESENTOU NOVA PROGRAMAÇÃO | «CASTRO MARIM (COM)


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SUMÁRIO OPINIÃO 124 - Mirian Tavares 126 - Ana Isabel Soares 128 - Alexandra Rodrigues Gonçalves

16 - «Castro Marim (COM) Vida»

108 - «Credo» da ArQuente

40 - Teatro Lethes apresenta programação

28 - Cavaleiro Daniel Pires assina pelo Farense

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66 - «Cochinchina» de Sandra Barata Belo

54 - GNR ao vivo no Cineteatro Louletano

88 - «Diferente-Mente» em Lagoa

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«CASTRO MARIM (COM) VIDA» VAI A MEIO DO CAMINHO E ESTÁ A SUPERAR AS EXPETATIVAS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Associação Odiana m jeito de celebração do Dia Internacional do Riso, que se comemora a 18 de janeiro, o «Castro Marim (COM) Vida» está de regresso ao terreno com o «Riso aos Montes», mais uma vez integrado na programação da «Bibliomóvel Perto de Si» do Município de Castro Marim, desta feita com o objetivo de animar os seniores e despoletar gargalhadas com sketches humorísticos e um rol de ALGARVE INFORMATIVO #323

anedotas à mistura. Esta é, porém, apenas uma das muitas ações do projeto CLDS 4G «Castro Marim (COM)Vida», promovido pela autarquia castromarinense e coordenado pela Associação Odiana, cofinanciado pelo CRESC Algarve 2020, Portugal 2020 e União Europeia, através do Fundo Social Europeu. De facto, do «menu» do «Castro Marim (COM) Vida» fazem parte ações de informação e sensibilização para famílias, 16


com foco nos beneficiários RSI; sessões de ioga para famílias; aulas online de ginástica e culinária; atendimentos individuais a crianças/jovens e famílias para promoção de competências de resolução das dificuldades apresentadas, em articulação com o Agrupamento de Escolas de Castro Marim, a CPCJ e o Instituto da Segurança Social; ações de capacitação dirigidas a famílias sobre temas da atualidade e do seu interesse para reforçar e potenciar as suas competências familiares; ações específicas para agregados familiares mais vulneráveis, maioritariamente de etnia cigana, para apoio e capacitação no acesso ao ensino online; ações lúdicas e recreativas de ocupação dos tempos livres para crianças e jovens, como

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ateliers de Verão e de Natal, o Dia da Alimentação, percursos na natureza e o Dia da Criança; vídeos com testemunhos sobre os desejos e sobre a terceira idade; vídeos online com seniores a falar sobre saberes tradicionais e sabores característicos da região, com temas ajustados à época; a peça de teatro de revista «Sal e Sombra», protagonizada pelo Grupo de Teatro Amador do Centro de Cultura e Desporto de Pessoal da Câmara Municipal de Castro Marim; Noites de Cinema e Convívio de São Martinho, entre muitas outras. “O

«Castro Marim (COM) Vida» inserese nos Contratos Locais de Desenvolvimento Social, com o Instituto da Segurança Social a

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lançar o convite às Câmaras Municipais para dinamizarem projetos desta natureza nos seus concelhos, tendo depois a Odiana sido desafiada pela Autarquia de Castro Marim para estruturar e desenvolver estas ações”, explica a coordenadora técnica Sílvia Lourenço. O convite formal aos municípios aconteceu no início de 2019 e o aviso formal do CRESC Algarve 2020 foi publicado já no segundo semestre desse ano, tendo então sido criados grandes grupos de ação, desde intervenção com crianças, adultos e idosos à promoção do envelhecimento ativo, tudo de acordo com os diagnósticos que já tinham sido realizados pelos membros da Rede Social de Castro Marim. Entre o desenhar do programa e a sua aprovação entra-se, ALGARVE INFORMATIVO #323

entretanto, em 2020, surge a pandemia e houve que fazer um compasso de espera.

“Foram momentos de grande incerteza, não sabíamos o que podíamos ou não fazer, foi necessário reformular praticamente todo o plano de ação. Os objetivos globais permaneceram os mesmos, mas tivemos que adequar, quase semana a semana, as iniciativas que iam acontecer no terreno, porque tinham que ser também articuladas com o Delegado de Saúde e com as equipas de Proteção Civil”, recorda a técnica da Odiana. Com financiamento de 405 mil e 600 euros para um horizonte temporal de três 18


anos, de 1 de julho de 2020 a 30 de junho de 2023, o «Castro Marim (COM) Vida» está então a meio do seu percurso e abrange todas as freguesias do concelho, o que é, por si só, mais um desafio, devido à extensão do território. “São

apenas quatro freguesias – há outros concelhos com mais freguesias – mas estamos a falar de quase uma centena de montes muito distantes uns dos outros. Privilegiamos os locais do interior que estão mais afastados do centro do concelho, por estarem mais isolados e por ali se encontrarem as pessoas mais idosas e com menos oportunidades de convívio. Existe um autocarro semanal para eles virem à vila fazer as suas compras 19

ou para irem às suas consultas, a autarquia tem uma política de proximidade e de ação social muito importante, nós incidimos mais na animação sociocultural”, indica Sílvia Lourenço, recordando que a primeira ação do «Castro Marim (COM) Vida» foi para sensibilizar os mais idosos em relação aos cuidados a ter com as ondas de calor. “Foram 30 dias no

pico do Verão de 2020 a ir para os montes, enquanto que as instituições que atuam mais em malhas urbanas têm os seus destinatários ali «à mão de semear», em creches ou centros de dia”, compara Sílvia Lourenço. A reação destes idosos foi, como se pode imaginar, bastante positiva, ALGARVE INFORMATIVO #323


confirma a coordenadora técnica do «Castro Marim (COM) Vida», mas houve a preocupação de envolver, numa primeira fase, a GNR e a Unidade Móvel de Saúde.

“Achamos que era importante aparecermos com rostos que eles já conhecessem do dia-adia, devido aos problemas de insegurança e às pessoas que andam por aí a dizer que são o que não são. Regra geral ficam muito sensibilizados com a nossa visita, por nos lembrarmos de ir a um monte onde, se calhar, só vive uma pessoa. Claro que não conseguimos ir todos os dias a todos os sítios, as visitas são mais Sílvia Lourenço com a mãe espaçadas no tempo do questão da vacinação – mas que aquilo que gostaríamos”, também sobre burlas, violência admite a entrevistada, acrescentando doméstica, toma de medicação, que a animação sociocultural não se limita a bailaricos e peças de teatro. prevenção de quedas. Há coisas “Mesmo antes da pandemia que, para nós, são banais, mas que aparecer não tínhamos planeado são mais complicadas para quem muitas ações desse género, demos está mais longe dos serviços e não preferência a ações de informação está habituado a determinados e sensibilização, inclusive sobre a conceitos”, sublinha Sílvia Lourenço. covid-19 – quais os sintomas, como usar o gel e a máscara, a ALGARVE INFORMATIVO #323

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HÁ INICIATIVAS QUE PODEM PARA O FUTURO Os destinatários estão satisfeitos com o «Castro Marim (COM) Vida», mas também os seus familiares e a população em geral, até porque, esclarece a coordenadora técnica, muitas ações são vocacionadas para outras faixas etárias e não apenas para os mais idosos. “Temos

realizado sessões de informação focadas na parentalidade, na alimentação, nas atividades em família, no mindfulness, para além do apoio da psicóloga da Odiana a quem tem dúvidas e a pessoas que nos sejam encaminhadas pelos nossos parceiros sociais. As parcerias são bastante 21

importantes para o «Castro Marim (COM) Vida», com o grupo de acompanhamento dos RSI, a ação social do Município, a CPCJ, o Agrupamento de Escolas”, frisa Silvia Lourenço. “Para as crianças temos atividades de cariz lúdicorecreativo, sobretudo durante os períodos escolares. Durante as férias escolares já existe o programa do Município de Castro Marim, muito bem implementado e com bastante sucesso”, justifica a entrevistada. E porque o «Castro Marim (COM) Vida» vai a meio, qual é o balanço até à data, tendo em mente que o projeto inicialmente desenhado teve depois que ser adaptado, e continua a adaptar-se, à ALGARVE INFORMATIVO #323


situação epidemiológica do país? “Em

termos globais temos oito grupos de atividades que chegam, entre crianças, adultos e idosos, a 1.400 destinatários, o que implica uma carga administrativa e logística imensa. Honestamente, estou surpreendida com os resultados alcançados, porque a pandemia limitou-nos bastante a tipologia de ações a desenvolver no terreno. Apesar disso, a maior parte das atividades tem uma taxa de execução superior a 70 por cento”, salienta Sílvia Lourenço, adiantando que as atividades de informação e sensibilização para a segunda metade do projeto incidirão sobre temáticas diferentes, mas a rotina vai permanecer a ALGARVE INFORMATIVO #323

mesma, monte a monte, local a local, para chegar ao máximo de castromarinenses. “As ações de animação

serão do mesmo género – cinema, teatro, acordeão e fado – e mais concentradas nas noites de Verão, se assim for possível, para além de algumas surpresas. E não posso esquecer o «Dois Dedos de Conversa», com voluntários a conversar, via telefone, com idosos que estavam mais isolados e carentes de apoio durante as fases de confinamento. Essa ação já terminou formalmente, mas eles continuam a falar uns com os outros todas as semanas, ficou a amizade”. 22


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Porque é impossível ficar indiferente ao contato constante com estes destinatários, Sílvia Lourenço sente que o «Castro Marim (COM) Vida» está a ter um impacto que vai perdurar no tempo, algo que já tinha sucedido com a Odiana com outro Contrato Local de Desenvolvimento Social desenvolvido há sensivelmente uma década. “Quando

os programas chegam ao fim notase uma quebra nas intervenções, porque é praticamente impossível continuar a fazer-se tudo o que estava a ser feito, mas acredito que uma ou outra atividade se vai manter e fazer a diferença. Isto depende tudo das equipas técnicas, dos recursos humanos e dos financiamentos associados, ALGARVE INFORMATIVO #323

mas o objetivo da Odiana é estar sempre a dinamizar projetos nos concelhos de Castro Marim, Alcoutim e Vila Real de Santo António”, garante a entrevistada. “Na esmagadora maioria das vezes é muito gratificante dinamizar estas iniciativas junto dos mais idosos, porque às vezes não estão habituados a ter esta atenção. Depois, há algumas situações que nos deixam tristes, porque nos ultrapassam, não as conseguimos resolver… nesses dias chegamos a casa mais cabisbaixos”, desabafa em final de conversa, mas já a pensar nas próximas ações do «Castro Marim (COM) Vida» . 24


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CAMPEÃO DE DRESSAGE DANIEL PIRES ASSINA PELO FARENSE Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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da performance em pista do cavaleiro. m início de mais um ano civil rumamos a São Brás de Alportel para conhecer o centro equestre de Daniel Pires, o «Baixa Lusitana», espaço onde o profissional de dressage treina e dá aulas. Um projeto que andava a ser preparado há muitos anos e que viu finalmente a luz do dia no Verão de 2021, tendo contribuído igualmente para a melhoria ALGARVE INFORMATIVO #323

“Antigamente tinha uma pista bastante pequena, cerca de 32 metros por 18, quando o tamanho oficial é 60x20. Hoje, consigo treinar todos os dias num contexto real de competição, o que é bastante positivo para mim e para o cavalo”, explica. Natural de Faro, mas radicado em São Brás de Alportel desde adolescente, 30


posição. Fui Vice-Campeão praticamente com os mesmos pontos do Campeão Nacional, com um dos cavalos mais novos da série, o que me deixou bastante satisfeito”, analisa Daniel Pires, que em 2020 já tinha sido Vice-Campeão da Taça de Portugal, a prova-rainha nacional, onde foi considerado o melhor lusitano da série, uma vez que o vencedor montou uma égua cruzada. “Acabei com uma

média de 72,82, um score muito elevado nesta modalidade. Eram mais de 20 exercícios aleatórios com, pela primeira vez, música incorporada, o que torna tudo mais exigente”, conta o entrevistado.

Daniel Pires com o PSL Jaguar

Daniel Pires concluiu 2021 com a conquista da medalha de ouro do Campeonato Regional Sul de Dressage, que agrega toda a zona a sul de Lisboa, tendo disputado igualmente o Campeonato de Portugal de Dressage, em Vilamoura. “Foram três dias de

competição, andei os dois primeiros no topo da classificação, mas uma prestação menos conseguida no último dia fez com que terminasse na segunda 31

A transição de amador para profissional trouxe, entretanto, várias mudanças, mesmo a nível pessoal, mas permite-lhe estar mais concentrado no treino e nos objetivos delineados para a época desportiva, assim como desenvolver outras atividades em torno da dressage, como é o caso da criação. “O meu

treinador está um pouco distante, mas falamos constantemente sobre as minhas rotinas diárias e quais as competições em que vou participar. Cada profissional tem a sua forma de trabalhar, eu utilizo aquilo que aprendi nos 20 anos em que fui futebolista. Quando tenho competições mensais, treino praticamente todos os dias, tirando um ou outro dia em que o cavalo fica a descansar na box, ou o colocamos no paddock em ALGARVE INFORMATIVO #323


liberdade, ou fazemos um trabalho leve de guia. Na parte física, faço bicicleta, corrida, natação, massagens e sou acompanhado por uma osteopata, devido as tensões que acumulamos no corpo por causa da postura em cima do cavalo”, descreve Daniel Pires. “No final de cada temporada prevalece o descanso. Desligo, deixo o animal perder ligeiramente a forma física também para não o saturar psicologicamente, e depois retomamos a preparação para a nova temporada”. É neste entremeio que Daniel Pires aproveita para pensar em novos projetos, arranjar novas parcerias – como é o caso da recentemente assinada com o Sporting Clube Farense – e para decidir quais as provas em que vai entrar, com que cavalos e em que nível, porque não se pode ir a todas, por questões financeiras.

“A dressage é um desporto muito caro e o facto de estar no Algarve e as competições nacionais acontecerem normalmente no centro e norte do país complica ainda mais a gestão do orçamento. Como cavaleiro profissional algarvio que sou, faço questão de participar nas provas que se disputam na minha região, para as pessoas poderem avaliar os resultados do trabalho realizado, tanto os meus como os dos meus alunos. De há uns anos para cá tenho colocado também na ALGARVE INFORMATIVO #323

agenda algumas provas nacionais, como a Golegã e o Festival Internacional, mas as grandes distâncias implicam mais despesas de deslocação e estadia”, reconhece Daniel Pires, que aproveita para agradecer o apoio financeiro das pessoas que têm estado ao seu lado neste trajeto.

“Neste momento tenho em mãos o «Diamante das Postas», um cavalo jovem, hanoveriano, uma raça alemã com grande potencial 32


desportivo, sem nunca prescindir do nosso puro-sangue lusitano, o «Jaguar», com quem tenho construído todo este projeto. O «Diamante das Postas» faz três anos em abril e vai começar a ter um planeamento de treino mais regular para, em 2023, entrar em competições. Foi adquirido por mim a meias com uma investidora e temos muitas expetativas em 33

relação ao seu futuro. Quero participar em provas nacionais e internacionais para divulgar ainda mais o meu trabalho, ser visto por juízes internacionais, e quiçá apurar-me para o Campeonato do Mundo para cavalos novos”, assume. Diz-se, nos negócios, que não é aconselhável apostar tudo no mesmo cavalo, será que é assim também na ALGARVE INFORMATIVO #323


dressage, perguntamos a Daniel Pires, sobretudo quando se tem a ambição de ir mais longe em termos desportivos. “Um

cavaleiro top normalmente tem dois cavalos no nível máximo para competir e mais dois ou três que estão a entrar em níveis inferiores, mas com o objetivo de ir subindo patamares. Temos que respeitar a condição física e psicológica do animal, não se consegue entrar em todas as competições com o mesmo cavalo, já para não falar de possíveis lesões”, justifica o entrevistado. “Depois, quando um cavalo atinge o pique de forma e de ensino, torna-se também mais atrativo para investidores e a parte comercial muitas vezes deixa-nos descalços. Eu ambiciono o Grande Prémio, é para isso que trabalho todos os dias, mas sinto a necessidade de realizar dinheiro, o que me obriga a abdicar de cavalos que me podem levar mais além em termos desportivos. Só assim é que esta estrutura se tornou realidade, mas agora desejo trabalhar com um cavalo mais maduro, com 11, 12, 13 anos, para atingir um patamar superior”.

Com naturalidade Daniel Pires tornouse igualmente treinador de dressage, com cerca de 15 alunos a evoluírem nas ALGARVE INFORMATIVO #323

instalações da «Baixa Lusitana», sendo que as crianças fazem a sua iniciação com Cárin Andres, que foi medalha de ouro em 2021 no seu nível, com o objetivo de que os pupilos se tornem melhores atletas do que o próprio mestre. E a aluna Anais Marques sagrou-se, inclusive, vicecampeã regional em juniores em 2021.

“Sou um treinador chato, exigente, que tento sempre melhorar a cada dia, olhando para todos os pormenores. A minha vontade é transmitir aos meus alunos aquilo que aprendi ao longo dos anos, graças à minha aptidão natural e aos muitos erros cometidos”, declara o entrevistado, que não se pode dedicar a mais do que cinco ou seis jovens sob perigo de, depois, prejudicar a componente desportiva e administrativa do projeto.

“Não quero ter quantidade, mas sim qualidade. E quero ajudar o próximo, tanto que a «Baixa Lusitana» tem cerca de 10 alunos da Associação Existir ao abrigo de um protocolo assinado entre ambas as partes, e o Nuno está também a trabalhar connosco há vários meses, na lide e preparação das boxes”, aponta Daniel Pires. Claro que não é fácil ser praticante de dressage, há custos envolvidos, mas também não é necessário ser-se filho de um milionário para crescer na modalidade, esclarece. “O Algarve

tem muito potencial, mas faltam mais apoios financeiros, porque somos lesados devido à distância 34


Nuno Contreiras, Cárin Andres e Daniel Pires com o «Diamante das Postes»

que nos separa das provas nacionais. Apesar disso, temos um dos melhores campeonatos regionais de Portugal e aquele que apresenta maior número de cavaleiros. Há jovens algarvios que já obtêm resultados interessantes a nível nacional e espero que esse desempenho continue a melhorar”, diz o cavaleiro profissional e treinador, que também é criador. “A Núbia, a primeira puro-lusitano a nascer em São Brás de Alportel, vai fazer cinco anos, já foi montada durante um ano e agora está prenha. A criação surge da paixão que nutro pelos cavalos e fasciname cruzar as linhas que idealizo na minha mente de acordo com os 35

objetivos a que me proponho e depois ver o desenvolvimento deles desde que nascem até à altura em que os começamos a montar. A «Baixa Lusitana» tem três éguas da minha propriedade, duas delas estão «cheias» e uma delas é minha criação, a PSL sãobrasense Núbia, que foi inseminada com um dos melhores cavalos lusitanos, o «Jasmim Plus», pontuado como garanhão e uma referência na raça”, revela. Outra ambição de Daniel Pires é que a «Baixa Lusitana» tenha o seu próprio ferro e dê origem a produtos de excelência, o que poderá motivar mais investimentos no centro equestre para a ALGARVE INFORMATIVO #323


vertente de reprodução. “Neste

momento o espaço está mais focado no treino do dia-a-dia e na competição, mas sou um homem de projetos e sonho ter cavalos da minha criação em competição. Mesmo aqueles que não nascem para ser atletas podem ser excelentes noutras vertentes”, assegura, adiantando que um dos próximos passos deverá ser a formalização da equipa da «Baixa Lusitana» na Federação Equestre ALGARVE INFORMATIVO #323

Portuguesa. Entretanto, o Daniel Pires Dressage acabou de assinar um protocolo com o Sporting Clube Farense, emblema que representou enquanto jovem futebolista e que agora entra no mundo do hipismo. “É um orgulho enorme

ser o primeiro cavaleiro a defender as cores do Farense, sendo que o Sporting, Benfica e Porto já têm esta modalidade. Agradeço imenso a confiança do clube e do presidente João Rodrigues e a curto e médio prazo poderemos 36


a viver. “Hoje já não estou sozinho

nesta caminhada, pelo que, enquanto treinador, me vou focar em alguns alunos, estando o resto do tempo destinado ao treino do dia-a-dia e às competições. Em termos de provas, ainda não sabemos bem com aquilo que contamos, mas estou concentrado no PSL «Jaguar», com quem quero entrar na Taça de Portugal, no nível São Jorge. Com o «Nobre das Postas» quero participar no Campeonato Regional Sul e, em paralelo, desenvolver o «Diamante das Postas», para 2023 atacar o nível internacional”, adianta. No que toca à vertente de criador, há primeiro que esperar pelos dias dos nascimentos antes de traçar mais planos, pelo que o grosso do dia é dedicado aos alunos e clientes da «Baixa Lusitana». “Graças a

avançar para uma equipa, até porque estamos a poucos minutos de distância da academia de futebol que o Farense está a construir em São Brás de Alportel. É uma parceria superinteressante que pode dar muitos frutos”, acredita. Quanto a 2022, quais os objetivos de Daniel Pires, assumindo que a época desportiva decorra com normalidade, apesar da pandemia em que continuamos 37

Deus, a pior parte já passou, que foi construir e abrir o espaço durante uma pandemia. Por estes dias tenho mais oxigénio, consigo respirar de forma diferente, embora ainda haja muita coisa para fazer no espaço. Tudo foi possível graças ao meu currículo, aos títulos que conquistei, e à ajuda dos clientes e outros apoiantes, agora quero continuar a progredir como atleta e a obter resultados comerciais que me permitam investir mais no centro equestre”, conclui Daniel Pires . ALGARVE INFORMATIVO #323


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TEATRO LETHES COMEÇOU A DESVENDAR A SUA PROGRAMAÇÃO PARA 2022 Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina e ACTA ALGARVE INFORMATIVO #323

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Teatro Lethes, em Faro, apresentou, no dia 15 de janeiro, a sua programação para o primeiro quadrimestre de 2022, numa noite que foi abrilhantada por um miniconcerto da cantautora Teresa Aleixo, acompanhada à viola por Tércio Freire e na bateria por Paulo Franco. E, apesar do público ficar a conhecer apenas as propostas até abril, Luís Vicente, diretor da ACTA — A Companhia de Teatro do Algarve, explicou que a programação está concluída até ao final do ano. “O

fenómeno da pandemia levou a que, por prudência, repetíssemos a estratégia do ano passado, anunciando somente o programa para estes primeiros quatro meses. ALGARVE INFORMATIVO #323

Em 2020 fomos surpreendidos pela covid-19, que levou a que programação fosse toda corrompida, e mesmo agora em dezembro tivemos que cancelar dois espetáculos no mesmo fimde-semana”, explicou o ator e encenador, deixando o desejo de que a programação cultural desenhada para 2022 possa ser cumprida sem grandes sobressaltos. A programação arranca no fim-desemana de 21 a 23 de janeiro com a peça de teatro «A Noite de Molly Bloom», a partir do último capítulo de «Ulisses» de James Joyce, obra que a ACTA estreou, no Teatro Lethes, em 2021, em formato online, e que depois andou em digressão pelo resto do país. Em Faro, porém, esta

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será a primeira oportunidade para se assistir à peça ao vivo. Entre 26 e 30 janeiro, o VATe — Vamos Apanhar o Teatro, o serviço educativo da ACTA que tem como público-alvo as crianças do 1.º Ciclo do Ensino Básico, dá a conhecer «Medo — Manual de sobrevivência para seres fofinhos», uma peça com marionetas e formas animadas. Segue-se, de 9 a 19 de fevereiro, «O Silêncio de Sara», monólogo interpretado por Tânia da Silva e baseado no testemunho pessoal de uma jovem mulher que, no princípio da adolescência, se viu mergulhada num pesadelo de abusos e violações. “Um tema que,

infelizmente, continua atual, daí termos avançado para esta reposição”, justificou Luís Vicente. 43

No dia 24 de fevereiro, às 19h, tem lugar o Concerto de Carnaval pela Orquestra Clássica do Sul, integrado no ciclo «Lethes Clássico», que remete para a folia e a fantasia das máscaras carnavalescas, “para contrariar a

ideia de que a música clássica é uma coisa chata”, comentou o diretor da ACTA. A Companhia de Teatro de Braga traz ao Teatro Lethes, no dia 26 de fevereiro, pelas 21h, «Hamlet», a partir da tragédia de William Shakespeare. Entre 3 e 5 de março, às 21h, acontece o Festival de Cinema Ambiental, da responsabilidade da Sciaena, uma organização nãogovernamental portuguesa de conservação marinha criada, em 2006, por alunos da Universidade do Algarve. ALGARVE INFORMATIVO #323


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O teatro regressa ao Lethes, de 24 de março a 3 de abril, com «À Deriva», pelas companhias de teatro do Algarve e de Braga, que reporta um caso verídico ocorrido durante o regime do apartheid na África do Sul, adaptado à nova realidade dos migrantes. Depois, é a vez da Companhia de Teatro de Almada apresentar, a 6 e 7 de abril, uma versão divertida da peça «O Barbeiro de Sevilha», representada por marionetas e direcionada para o público infantojuvenil. Rao Kyao e Custódio Castelo juntam-se no palco do Lethes a 9 de abril, às 21h, para um concerto muito aguardado de flauta e guitarra portuguesa. Segue-se o teatro espanhol com «Autorretratos de Pluma y Espada», pelo grupo Karlik Danza Teatro, no dia 16 de abril, às 21h. Nos dias 20 e 21 de abril, o Panapaná/Lama Teatro 45

leva à cena «Loop», uma criação própria com encenação de Neisse Encarnação, pensada para o público mais novo. A dança tem presença assegurada no dia 23 de abril, às 21h, através da Companhia de Dança do Algarve, com «Matriosca», coreografia que tem por base as bonecas de madeira russas que se encaixam umas nas outras, por ordem decrescente de tamanho. A 26 de abril, o Cegada Grupo de Teatro leva a Faro «O Príncipe Feliz», sobre o conto infantil de Oscar Wilde, com exibições às 10h, 12h e 14h. A Orquestra Clássica do Sul reúne-se para o Concerto da Primavera, no dia 28, às 19h, e, no dia 30, a compositora e cantautora Teresa Aleixo regressa com «Quanto a mim», às 21h .

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GNR EM GRANDE FORMA NO CINETEATRO LOULETANO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Jorge Gomes

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anda incontornável na história da música portuguesa, os GNR rumaram a Loulé, no dia 16 de janeiro, para dar um fantástico concerto no Cineteatro Louletano, integrado na digressão «40 (e 1) anos de carreira». De facto, são quatro décadas de trajeto de Rui Reininho, Jorge Romão e Tóli César Machado recordadas ALGARVE INFORMATIVO #323

com um ano de atraso devido à pandemia, recheadas de canções de sucesso e por inúmeros momentos que fazem parte da cultura e da música lusitana. Temas com «Dunas», «Efetivamente» ou «Pronúncia do Norte», entre tantas outras, que levaram o público algarvio à loucura, numa bela tarde de domingo na cidade de Loulé . 56


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CINETEATRO LOULETANO RECEBEU ESTREIA NACIONAL DE «COCHINCHINA» DE SANDRA BARATA BELO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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programação de 2022 do Cineteatro Louletano arrancou da melhor forma, no dia 15 de janeiro, com a estreia nacional de «Cochinchina», com dramaturgia, adaptação e encenação de Sandra Barata Belo a partir de um texto de Afonso Cruz e interpretação de Vítor D´Andrade, Margarida Vila-Nova e Patrícia André. Na peça, um homem vive na dualidade entre o que está dentro da sua porta e para além dela. “O estrangeiro tanto o inibe

como o fascina, até ao dia em que uma empregada da Cochinchina vem trabalhar para sua casa e quebra com todas as fronteiras

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criadas primeiramente pelo pai e depois por ele. A partir daqui, há uma luta constante entre o amor e a desilusão, a coragem e a cobardia, entre ir ou ficar, e estranhamente está tudo certo”, explica Sandra Barata Belo. “No fim da sua vida, quando não há mais para adiar, restando-lhe apenas a morte, parte para o Oriente em busca de uma filha que nunca o irá conhecer e escreve‐lhe uma carta, revelando a sua história, que é também a base do nosso Portugal em contrários e com os seus antónimos”, acrescenta a encenadora .

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«DIFERENTE-MENTE» EMOCIONOU AUDITÓRIO CARLOS DO CARMO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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oi um final de tarde, início de noite, de emoções à flor da pele, de lágrimas nos olhos, de muitos sentimentos à solta, com a subida ao palco do Auditório Carlos do Carmo, em Lagoa, de «DiferenteMente», no dia 15 de janeiro. O projeto engloba duas criações, «Ser DiferenteMente» e «Viram a Ana?», numa coprodução da ARTIS XXI e Questão Repetida que assinalou igualmente a ALGARVE INFORMATIVO #323

estreia da Companhia D’Algibeira – Teatro e que, no dia 16 de janeiro, foi também a cena no Centro Cultural de Lagos. Concebido por Albina Petrolati e Francisca Marinheira, com apoio à criação de Paulo Azevedo, Maria Conceição Gonçalves e Rita Machado, o espetáculo foi interpretado por Paulo Azevedo, Francisca Marinheira, Rita Machado, Alexandre Silva, Inês Pires, Nuno Encarnação, Wilson Santana, Rogério 90


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Miguel Glória, André Fernandes, Lucélia Glória, Maria Luísa Vieira, Cristina Silva, João Antão Santos, Paulo Rodrigues, Dinis Pacheco, Andreia Pereira e Raquel Correia, com música ao vivo de David Mathei e figurinos e cenografia de Ana Baleia. “«Diferente-Mente»

pretende criar espaço para a reflexão sobre em que medida a sociedade, atenta e preocupada, olha para a inclusão e de que forma esta se manifesta na comunidade artística. Refletimos enquanto fazemos arte, movidos pela necessidade de alertar para a situação profissional dos artistas com deficiência e a urgência de ALGARVE INFORMATIVO #323

criar experiências artísticas no seio da comunidade escolar inclusiva. Queremos também trazer as artes para as nossas escolas públicas e permitir que os alunos com deficiência se expressem e beneficiem da alegria incomensurável que as artes podem proporcionar. Queremos igualmente colmatar a falta de oportunidades profissionais e de espaços de atuação acessíveis que são essenciais para promover a inclusão dos profissionais com deficiência nas artes cénicas”, explicam os responsáveis . 92


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ARQUENTE ESTREOU «CREDO» NO CINETEATRO LOULETANO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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associação ArQuente apresentou, em estreia nacional, no dia 21 de janeiro, no Cineteatro Louletano, a sua mais recente criação, «Credo», que junta em palco três intérpretes, «uma bailarina e duas performers», que “questionam e desafiam as suas crenças”. Carolina Cantinho, Fúlvia Almeida e Teresa Silva, num movimento contínuo, revelam as suas

“personagens invulgares, feitas de múltiplas personalidades, fundidas num só corpo”, conforme descreve a ArQuente esta criação que foi preparada ao longo de três residências artísticas que decorreram no Palácio Gama Lobo, em Loulé.

«Credo» ensaia “uma resposta ao

fenómeno da crença, no qual questões religiosas e hábitos sociais confluem no estabelecimento de noções pessoais de transcendente”, explica Luís Marrafa, diretor artístico da peça, que está apoiado na banda sonora do filme de terror «Suspira», de 2018, e na experiência de vida das três intérpretes. “A peça revela que os

modos e as estruturas da crença, da fé ou do milagre subjazem a uma coreografia que investiga, na expressão dos corpos, a natureza desse sentimento singular que transforma o improvável em algo de absolutamente verdadeiro”, realça o diretor artístico .

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Caiu – exposição do atelier fala, do atelier corpo e de Nuno M. Sousa Mirian Tavares (Professora Universitária) “Isso aqui é fruto de uma curiosidade para descobrir materiais. Sinto-me como um cientista que fica no seu laboratório o tempo todo fazendo experiências. Só que isto daqui é só o físico, mas existe algo nele que só eu sei, que é energia”. Leonilson

GAMA RAMA é uma mistura de atelier, galeria e espaço de residências artísticas. É, sobretudo, um espaço de resistência – as artes e os artistas necessitam dar-se a ver/conhecer. A próxima exposição que irão receber é fruto da colaboração de dois ateliers, corpo e fala com o artista Nuno M. Sousa. A arquitetura é a linha com que essa exposição é cosida. Uma arquitetura feita de linhas delicadas e de projetos, de ocupação de espaços reais e virtuais, de espaços pré-existentes e de espaços futuros ou utópicos, é uma arquitetura feita de e com arte. Nos últimos anos, o conceito de arquitetura expandiu-se, mais que uma disciplina voltada para o projeto de criação de novos espaços, tem-se pensado na arquitetura como uma disciplina do espaço e do tempo, que se espraia pelo território, que promove novos olhares sobre o construído e sobre os restos de uma urbanização, muitas vezes, falhada. Para o arquiteto italiano Francesco ALGARVE INFORMATIVO #323

Careri, “caminhar continua a ser importante para renomear e transformar o mundo”. Nos seus livros Walkscapes. O caminhar como prática estética e Caminhar e Parar, Careri faznos lembrar da importância de percorrer os territórios, habitados ou desabitados das cidades em que vivemos e transformar essa caminhada em ocupação estética e concreta de lugares que antes passavam despercebidos ou que, simplesmente, habitam as periferias e por isso são invisibilizados. A arquitetura expansiva, proposta por Careri, é uma maneira de pensar sobre o que se fez e o que se pode fazer na e das cidades. A arquitetura, composta de linhas e de desenhos que se confrontam, da exposição Caiu, é uma maneira de levar-nos a todos a pensar sobre a impermanência - mesmo daquilo que julgávamos permanente – os edifícios, ou espaços edificados e também de dar-nos a ver a linha como ponto de partida e de chegada, como desenho e como percurso, como traço/marca/rasto. O que nos espera é o movimento – um vir-a-ser, um princípio. Trata-se de mecânica, como escreveu o curador da exposição. E 124


Foto: Victor Azevedo

a mecânica trata das relações e das conexões entre os mecanismos, a mecânica dá vida ao inerte. O artista brasileiro Leonilson, para quem a linha era o início e o percurso, e era também o seu instrumento de trabalho, disse, sobre sua própria obra: “As pessoas botam chassi para proteger o trabalho. Eu, não. Se acontece alguma coisa com minhas telas, aconteceu, acabou. Se tem um rasgo, dou uma costuradinha. Entendo a tela como objeto e não apenas como pintura para pôr na parede. A pintura interage: se está calor, ela «engruvinha»; se está frio, ela estica, sai um pouco da parede, volta. (…). Há trabalhos que eu começo a fazer e que vão ficando 125

malfeitos, malfeitos, malfeitos e aí penso: 'Não posso tentar fazer alta-costura. Isso não é Balenciaga. Isso é meu trabalho'. Antes eu pensava que a costura tinha que ser perfeita. E até tentei, só que eu apanhei tanto! Vi que é diferente quando um estilista faz uma roupa e quando um artista costura. São duas atitudes irmãs, mas bem diferentes”. Tudo o que o artista faz é diferente, pois a sua intenção é alcançar a arte e não procurar a perfeição, porque a arte é essa busca e esse encontro. E é de encontros e de processos que se trata a exposição Caiu na GAMA RAMA - um lugar onde a arte acontece . ALGARVE INFORMATIVO #323


Quadragésima segunda tabuinha Joelhos (V) Ana Isabel Soares (Professora Universitária) ecebi a oferta de um caderninho em branco: pautado com linhas muito finas, quase invisíveis, reproduz na capa uma pintura que, num relance, me pareceu que poderia ser de Francisco de Goya. (Ando a reler e reler páginas sobre Diderot, Mozart, Lichtenberg e Goya, zanza-me perto do pensamento). Na pintura, vê-se uma espécie de sofá castanho com um grande coxim encarnado, desenhos orientalistas (chinoiseries) nas paredes e uma menina deitada sobre tudo isso, abanando-se com um leque maior do que o seu rosto, vestido branco com uma larga fita rosa na cintura, meias – soquetins – brancos e, à vista, porque o vestido os não cobre, os dois joelhos um nada dobrados. Na pintura, as coxas que deles sobem são a cor mais escura, de sombreados em comparação com as canelas que de lá descem, por estarem estas mais diretamente expostas ao foco imaginário da luz. A ilusão de redondez de daca um dos joelhos é perfeita. Para mim, naquele relance, foi Goya: a parede pouco definida, o sofá salpicado de manchinhas coloridas, o tom oriental, até a expressão da moça. Mas vi-lhe os joelhos e paroume o reconhecimento: não são joelhos de Goya, na limpidez com que aparecem, na ALGARVE INFORMATIVO #323

nudez contrastante, no claro traço em que se destacam. Vira eu, a Goya, alguns joelhos? Vi-lhe gente de joelhos, isso sim: há o desenho de um homem manietado, há o de uma mulher, de joelhos também, a chorar um moribundo. Há, de frente, os joelhos de um homem no mais célebre de todos os Caprichos de Goya: a gravura número 43, com a legenda «El sueño de la razón produce monstruos», do pintor aragonês Francisco de Goya y Lucientes, dá a ver um homem debruçado sobre uma banqueta ou cubo de pedra (onde se inscreve a legenda). Toda a gravura é um hino à ambiguidade. Desde logo, é difícil decidir se o homem está a dormitar ou a proteger-se (a cabeça entre os braços, escondendo o rosto) de pássaros e outros bichos de asas (mochos e morcegos?); estes podem estar a aproximar-se ou a afastar-se do homem – prestes a atacálo, ou tendo terminado uma investida, de que ele se protegeria? Atrás dele, a olhar para o homem, um gato ou lince tem expressão de susto ou de vigília. Este pobre personagem humano pode estar a sofrer o mais terrível dos ataques (mesmo que seja simbólico, é o sofrimento de um pesadelo) ou a entregar-se à paz do sono (há quem durma sentado). Mas, mesmo sentado, tem as pernas desenhadas como se estivesse de pé, numa inclinação só ligeira, as canelas trocadas e as calças a terminar nos joelhos – cobrindo-as, mas 126


Foto: Vasco Célio

revelando-as. É nessas dobras que começam a multiplicar-se os sentidos, é dali que parte o não saber de quem o vê, a decisão entre susto e sono. Na capa do caderninho, pormenor de um quadro maior, a moça deitada está numa tela de sinais – mas a parte das 127

pernas que tem a descoberto não traz qualquer dúvida: os joelhos não são de Goya nem de 1799 (dobra de século), mas de 1874, numa tela em que Mariano Fortuny y Marsal representou os seus filhos «en el salón japonês» .

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A viagem ao/do futuro Alexandra Rodrigues Gonçalves (Diretora da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo da Universidade do Algarve) início de 2022 foi sem o glamour e sem o sentimento de passagem habitual. Fizeram-se votos de um ano melhor e sobretudo de libertação da Pandemia, mas temos os olhos postos na esperança e no futuro. A propósito de uma história de vida de sucesso de uma jovem profissional da hotelaria surgia na sua reflexão em evidência a ideia de que o crescimento do turismo tornaram-na a primeira vítima do seu sucesso. Esta sábia forma de colocar a questão fez-me parar um pouco mais para pensar. A viagem do futuro por um lado reflete a preocupação com as formas de viajar e os processos de inovação e a evolução tecnológica. Mas a viagem do futuro é também a da incerteza que nos está reservada, nesta pandemia sem fim e nos seus efeitos devastadores que estão a perturbar tanto as nossas inabaláveis certezas e que começam agora a fazer-se sentir de forma mais profunda. Aprendemos, e esquecemos rapidamente, que nada deve ser dado como certo. A que ano demos as Boas-Vindas? A quem damos as Boas-Vindas? Estamos num ano de eleições legislativas. Coisa que também não estava prevista, mas ALGARVE INFORMATIVO #323

que foi cuidadosamente antecipada. Nos corredores do poder dizia-se que haviam lugares prometidos na Europa, e que o PR sabia, o que terá precipitado a votação contra ao Orçamento de Estado. Alguns pensam que se acrescentou crise à crise e que quem o fez foi irresponsável. Sobre isto limito-me a ouvir e a escutar os comentadores que procuram explicar as suas convicções e não observar os factos reais e objetivos, pois isso implica neutralidade, e é fácil perceber que os nossos media sociais e o ecrã televisivo ganharam força num período em que a proximidade física está condicionada. Reconheço a minha falta de neutralidade neste assunto, por isso, não dedicarei mais qualquer espaço na crónica a este assunto. Funcionamos a duodécimos nas organizações da administração pública, o que é bom para os gestores financeiros, pois permite um controle maior da despesa com a desculpa de não haver Orçamento de Estado aprovado. No Ensino, sobressaem as fragilidades e desigualdades entre os agrupamentos, os níveis de ensino, as zonas geográficas, os estudantes. Todavia, a União Europeia acabou de fazer sair as linhas estratégicas gerais para as Universidades e anuncia o reforço da investigação, a consolidação das carreiras académicas e de investigação, a qualidade das competências, as práticas 128


(falamos claro da Saúde e das Tecnologias, em particular).

democráticas e de inclusão, os valores fundamentais e os valores académicos. Como outros objetivos a Comissão Europeia aponta também as Universidades como atores-chave para a transição digital e climática/ambiental (twin green); e o reforço das Universidades como motores do desenvolvimento e liderança Europeia. A resposta para alcançar aqueles desígnios estará na estreita cooperação transnacional e interinstitucional, na criação de alianças, de qualificações conjuntas reconhecidas em cotutela por várias Universidades e no desenvolvimento de mobilidades fáceis e constantes no espaço europeu. O sonho de qualquer estudante, vamos ver a sua concretização administrativa e científica, pois conhecemos com o Processo de Bolonha semelhantes preocupações. A facilidade de estar nesta aproximação estratégica aos desígnios europeus não é igual para todos, sobretudo para as universidades mais periféricas, mas há que trabalhar as áreas de afirmação do ensino e da investigação, pois nem só de duas dimensões das ciências vive a Humanidade 129

Isto leva-nos ao «machine learning», ao «Big Data» e à inteligência artificial. As cidades inteligentes, os destinos inteligentes, querem ser mais integradores, acessíveis e amigas do ambiente. Um relatório de Dezembro de 2021 da UNWTO* (Organização Mundial do Turismo para as Nações Unidas) discute que o «Big Data» será tão mais útil quanto o seu contributo para a sustentabilidade do território e para a melhoria das condições de vida dos residentes. No documento descreve-se mesmo este momento como a oportunidade de fazer «reset» ao turismo atual e redefinir um novo turismo que assente na gestão de recursos, na criação de valor e de mais benefícios, para todos. Em conclusão, aguardemos o novo Governo para a próxima legislatura para vermos se há ou não vontade em iniciar uma viagem com futuro para o Ensino Superior, para o Turismo e para a Região, e que não esqueça que para além de números há muita informação de qualidade a extrair da investigação. Um excelente 2022! . * UNWTO (2021) Big Data for Better Tourism Policy, Managemente, and Sustainable Recovery from Covid-19

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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #323

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