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ALGARVE INFORMATIVO 5 de fevereiro, 2022
LOULÉ PRESTOU HOMENAGEM A JOAQUIM VAIRINHOS | JOANA GAMA & LUÍS FERNANDES | RUI MATOS 1 «BAÍA DE LAGOS - COMIDA DO MAR» | MEDO DO VATE | RODRIGO LEÃOALGARVE INFORMATIVO #325
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SUMÁRIO OPINIÃO 108 - Paulo Bernardo 110 - Nuno Campos Inácio
82 - «Medo» do VATe da ACTA em Faro
72 - Joana Gama e Luís Fernandes em Loulé 94 - Rodrigo Leão em Loulé
28 - «Baía de Lagos - Comida do Mar» ALGARVE INFORMATIVO #325
52 - Rui Matos expõe em Tavira 8
40 - Mirian Tavares integra Rede Portuguesa de Arte Contemporânea
16 - Loulé prestou homenagem a Joaquim Vairinhos 9
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LOULÉ PRESTOU UMA EMOCIONADA, E MERECIDA, HOMENAGEM A JOAQUIM VAIRINHOS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina oulé festeja, a 1 de fevereiro, o seu Dia da Cidade, mas, em 2022, os 34 anos de elevação ao estatuto de cidade praticamente passaram para segundo plano, com a Autarquia a colocar o seu foco na homenagem a um louletano que contribuiu de forma decisiva para o desenvolvimento e projeção deste território ao longo deste período, o antigo presidente de Câmara Joaquim ALGARVE INFORMATIVO #325
Vairinhos. Deste modo, depois do tradicional hastear da Bandeira Nacional, nos Paços do Concelho, as atenções voltaram-se para o Pavilhão Desportivo Municipal de Loulé, que a partir desta data se passa a chamar Pavilhão Municipal Professor Joaquim Vairinhos, docente de formação que também foi eurodeputado, dirigente associativo, atleta e, mais recentemente, poeta. Foi numa nave central repleta de amigos e antigos colegas de Joaquim 16
Vairinhos – tanto seus camaradas do PS, como adversários políticos de outros partidos – bem como de representantes das forças militares e de segurança, de diversos organismos do poder central, de associações e clubes desportivos, que o atual edil louletano Vítor Aleixo usou da palavra, num discurso ora formal, ora espontâneo, para recordar os 34 anos de progresso e desenvolvimento de Loulé,
vigorosamente todos os dias, com a esperança e a ambição de fazer mais e melhor. Os louletanos são pessoas com uma elevada autoestima, querem sempre estar onde estão os melhores, isso faz parte da nossa maneira de estar no mundo”, referiu.
“de lutas pela preservação do que é nosso, daquilo que nos distingue, dos nossos costumes e tradições, da nossa fé e da nossa cultura”. “É um privilégio ser presidente da Câmara de Loulé, pertencer a esta comunidade que se interessa e se envolve, que participa e que permite que o coração de Loulé continue a pulsar
Vítor Aleixo lembrou-se de uma pequena vila do barrocal algarvio repleta de tradições e costumes, de gente simples e sábia, de sapateiros, oleiros, empreiteiros e caldeireiros, de comerciantes, padeiros e tantos outros ofícios. “Depois chegou o turismo
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que, com o seu choque na nossa vida calma, veio alterar e acelerar tudo. Loulé sempre foi uma cidade repleta de cores e cheiros, de
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pessoas, de conversas e alegria, e de tristezas também, uma comunidade unida que sempre se orgulhou da sua identidade e do potencial da sua terra, do desenvolvimento que se foi concretizando e aumentando ao longo dos anos… e isso muito graças ao empenho, dedicação, trabalho e, sobretudo, ao amor dos louletanos, características que todos reconhecemos no professor Joaquim Vairinhos”, disse, para a primeira, de muitas, ovações da parte da assistência. “Esteve presente em
momentos cruciais quando os dossiers de gestão pública e ALGARVE INFORMATIVO #325
política de repente tomaram outro rumo. Teve sempre a visão e a sensibilidade para perceber qual era o momento histórico que se estava a viver e que ambições era preciso ter para a educação, desporto e cultura”. Joaquim Vairinhos soube, enquanto professor, e nas palavras de Vítor Aleixo,
“interpretar as necessidades, as dificuldades, os sonhos, desta profissão tão extraordinária e tão importante para a nossa comunidade”. “A partir do seu exercício autárquico, os professores passaram a ser atores 18
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fundamentais da vida comunitária do concelho de Loulé. Uma relação que até hoje se continua a desenvolver e a conhecer patamares de cumplicidade sempre crescentes. E podia dizer exatamente o mesmo em relação ao desporto. Loulé é considerada uma referência na região pela capacidade que tem para atrair tanta gente para a prática desportiva”, destacou o edil louletano. “Primeiro foram os jovens, mais recentemente os adultos, o desporto massificou-se. Deixou de ser aquela paixão que sentíamos quando ouvíamos os relatos do futebol ao domingo e passou a ser uma prática diária, e nesse aspeto 21
temos uma grande dívida de gratidão para com o Joaquim Vairinhos”, sublinhou. Vítor Aleixo falou dos três nós da Via do Infante que Loulé possui, da Área Empresarial de Loulé – uma das mais dinâmicas da região – e do Porto de Pescas de Quarteira, três importantes conquistas de Joaquim Vairinhos e das equipas que liderou. “Lutou contra
tudo e contra todos, contra a resistência burocrática do Estado, mas ultrapassou todas as dificuldades, com a sua energia e querer político. E esta homenagem dirige-se, não somente ao autarca, mas também ao professor, ao atleta, ao dirigente desportivo e ao poeta. Nesta última fase da sua ALGARVE INFORMATIVO #325
vida revelou-se um homem de grande sensibilidade criativa e publicou poemas bonitos. O Vairinhos é esta personalidade rica e multifacetada e todos temos a noção do papel decisivo que este louletano teve no desenvolvimento do nosso concelho, da sua afirmação a nível regional e nacional, nos anos 80 e 90 e no despertar deste século XXI”, reforçou, no dia em que o Pavilhão Municipal de Loulé ganhou um novo nome, “com toda a justiça e todo o merecimento”. Embora o momento central do dia fosse a homenagem a Joaquim Vairinhos, houve tempo para falar de algumas realizações positivas recentes e de outras que se encontram em curso na cidade de Loulé, como o ensino público da música, a reabilitação do Palácio Gama Lobo e do edifício do Atlético, a valorização dos Banhos Islâmicos, a construção da nova sede do INEM. “Há uma dinâmica e
uma nova pequena economia que está a surgir e a animar a cidade. Loulé é hoje muito procurada a vários níveis e nós apenas queremos estar à altura dos enormes desafios que temos pela frente e para honrar os nossos melhores exemplos que nos antecederam nestas funções”, declarou Vítor Aleixo. “A vida tornouse mais complexa e, hoje, fazer qualquer coisa leva bastante mais tempo do que há 20 ou 30 anos. Os ALGARVE INFORMATIVO #325
saberes são muitos, aquilo que concorre para a formação da decisão de um projeto, das correções que tem que ter, do escrutínio dos dinheiros públicos quanto à sua alocação e 22
investimento. Tudo isto traz uma característica nova para a democracia que não sei se a beneficia ou prejudica, mas as coisas vão andando em Loulé”, desabafou antes de terminar, porque o mais importante, sem dúvida, era prestar 23
homenagem a Joaquim Vairinhos. “Os
teus amigos estão aqui, o teu nome ficará para sempre connosco. É extraordinário, na tua situação, vires aqui hoje, essa coragem e alegria que nos dás. ALGARVE INFORMATIVO #325
Sabemos que estás num momento difícil, mas nós queríamos dar-te esta alegria”, terminou, de voz trémula, Vítor Aleixo.
“ESTOU NO FIM, MAS NÃO CHORO, VOCÊS É QUE ME FAZEM CHORAR” Perante uma estrondosa e prolongada salva de palmas com toda a gente de pé, Joaquim Vairinhos subiu ao púlpito num dia que certamente ficará marcado na memória de todos os presentes. E as primeiras palavras foram de agradecimento àqueles “que tiveram a coragem de me homenagear”. “O
estar muito mal permite-me usar as palavras que bem me entender e quero agradecer imenso à ALGARVE INFORMATIVO #325
comunidade louletana por me ter dado a oportunidade de descobrir quais eram os meus limites e de os ultrapassar. E, neste dia, não posso esquecer de abraçar o Mendes Bota, que foi quem teve a ideia e lutou para que Loulé fosse elevada a cidade”, afirmou. “Com o aproximar do fim vem à minha memória a certeza de que um homem sozinho não faz nada e lembro-me bem das pessoas com quem discuti muito por Loulé. Lembro-me do José Apolinário, que tratei tão mal politicamente, mas sempre com respeito pelo homem bom que ele era. Lembrome das discussões que tive com o 24
Mendes Bota sobre o PDM de Loulé, quando ele era presidente, com maioria absoluta, na Assembleia Municipal, e eu era presidente da Câmara. O PS e o PSD eram dois partidos que se digladiavam politicamente, mas conseguimos fazer um PDM que foi aprovado por maioria absoluta”, recordou Joaquim Vairinhos. “Será que valeu a pena? Acho que sim, mas sozinho não tinha feito nada”. Joaquim Vairinhos defendeu que é preciso discutir, guerrear, ter adversários e inimigos na política “que nos fazem
ver se realmente estamos no caminho certo”. “Quando cheguei à Câmara Municipal de Loulé e vi o projeto da Via da Infante, convoquei a população para lhes mostrar o que ia aparecer muito próximo da EN 125 e achamos que aquilo não fazia sentido nenhum. Fizemos uma luta contra a Junta Autónoma das Estradas da época, que era um império, um império. Convidamos as entidades para apresentar o nosso projeto e, na discussão da nossa ideia, faltava o diretor da Junta Autónoma das Estradas. A comunicação social esteve sempre ao nosso lado e mostrou as imagens daquela mesa e do lugar vazio. No dia seguinte, recebi um telefone do Diretor da Junta Autónoma das Estradas a 25
dizer-me que iam rever o projeto”, contou Joaquim Vairinhos, com um sorriso, recordando também uma fábrica de óleos e bagaços que existia junto a uma escola. “Foi uma guerra para a
tirar de lá e agora existe outra, que já não é minha, é do Vítor, que é meterem uma espécie de aterro sanitário de segunda classe nos restos das Pedreiras de Loulé. Isso é inadmissível”, disparou. Outras lutas intensas do ex-edil prenderam-se com o Porto de Pesca de Quarteira e com a resolução do antigo bairro de lata que separava Quarteira de Vilamoura, onde hoje existe o Passeio das Dunas. “São memórias de quem
está próximo do fim. Estou no fim, mas não choro, vocês é que me fazem chorar”, disse, de lágrimas nos olhos, as mesmas lágrimas que se vislumbravam a escorrer por debaixo de muitas máscaras na nave central do Pavilhão Municipal Professor Joaquim Vairinhos. “É um momento muito difícil. Obrigado”, acrescentou, antes de deixar um pedido especial a António Clareza. “Quando eu morrer e for
enterrado, quero que toquem aquela música sobre Loulé, que primeiro foi usada numa campanha eleitoral e depois foi utilizada para promover a cidade de Loulé. Ele sabe qual é, não se esqueçam. E se se lembrarem de mim … lembrem-se sempre de mim como um gajo marafado. Obrigado! Obrigado! Obrigado” . ALGARVE INFORMATIVO #325
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Sara Coelho, Nicolas Lemonnier, Patrícia Borges e Hugo Pereira
«BAÍA DE LAGOS – COMIDA DO MAR» DÁ A CONHECER A GASTRONOMIA E AS GENTES, TRADIÇÕES E MEMÓRIAS DE LAGOS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Nicolas Lemonnier e Daniel Pina oi apresentado, no dia 27 concretizada esta missão de de janeiro, no Auditório colocar no papel os pratos que Paços do Concelho Séc. marcam este concelho e que os XXI, em Lagos, o livro residentes e visitantes tanto «Baía de Lagos – Comida apreciam”, referiu Hugo Pereira, do Mar», integrada nas celebrações dos 449 anos sobre a Elevação de Lagos a Cidade. Da responsabilidade de Patrícia Borges (texto) e Nicolas Lemonnier (fotografia), esta edição da Câmara Municipal de Lagos foi criada a pensar na rica gastronomia associada à costa lacobrigense, fazendo igualmente uma homenagem às suas singulares tradições piscatórias. “Foi muito bem ALGARVE INFORMATIVO #325
presidente do Município de Lagos sobre este projeto de “valorização do nosso
mar e da nossa gastronomia, mas também do reconhecimento das nossas gentes, tradições e memórias”. Para o autarca, «Baía de Lagos – Comida do Mar» “é mais do que um 28
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livro de culinária, é também um enaltecimento do nosso mar e de tudo aquilo que ele nos dá, da Meia Praia, do Vale da Lama, da Arte Xávega”. “Há poucos sítios que valorizam a sua gastronomia como Lagos e está aqui demonstrada a riqueza da nossa costa e das nossas gentes que trabalham no mar. É um livro que vai simbolizar, pela diferença, a marca de Lagos e tenho que dar os parabéns aos dois autores pela sua qualidade”, declarou o edil. Depois de já ter feito outros trabalhos em Lagos, Nicolas Lemonnier, responsável pela fotografia da edição, ficou com vontade de realizar uma obra que “retratasse a pesca tradicional
única praticada em Lagos, assim como as receitas que dela resultam, tão representativas de ALGARVE INFORMATIVO #325
Lagos e do Algarve”. Já a autora dos textos e pesquisa do livro, Patrícia Borges, destacou as várias espécies encontradas em Lagos e que acabam por distinguir as receitas retratadas em relação ao resto da região,
“nomeadamente o peixe, os moluscos, bivalves e as tão nossas condelipas”. “Através de um extenso trabalho de investigação, foi compilada informação sobre os costumes, cultura, tradições e artes de pesca, com destaque para a Arte Xávega da Meia Praia, atualmente a única xávega do país a usar a força dos braços”, frisou Patrícia Borges, realçando ainda o contributo precioso de lacobrigenses na produção deste livro, que se tornou
“numa verdadeira homenagem às receitas identitárias da região, mas também um testemunho de mães e da sua experiência com o mar de Lagos” . 30
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“REDE PORTUGUESA DE ARTE CONTEMPORÂNEA PODE BENEFICIAR BASTANTE OS ARTISTAS ALGARVIOS”, ACREDITA MIRIAN TAVARES Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina 11 de maio de 2021, uma Resolução do Conselho de Ministros criou a Rede Portuguesa de Arte Contemporânea, uma estrutura que reúne toda a criação e produção de arte contemporânea portuguesa, transformando-se numa plataforma da arte contemporânea ALGARVE INFORMATIVO #325
portuguesa, não só como uma rede potenciadora da divulgação nacional e internacional dos artistas e criadores portugueses e das diferentes coleções públicas e privadas existentes em Portugal, mas também como uma estrutura de apoio aos artistas e criadores, bem como aos dinamizadores públicos e privados. Seguiu-se a constituição pela Ministra da Cultura, mediante proposta da DGARTES, da 40
equipa consultiva da Rede Portuguesa de Arte Contemporânea, que é coordenada pelo Diretor-Geral da Direção-Geral das Artes, Américo Rodrigues, e inclui, para além do Curador da Coleção de Arte Contemporânea do Estado (CACE), David Santos, um conjunto de personalidades com ampla experiência e trabalho no domínio da arte contemporânea, como Ana Cristina Cachola, Delfim Sardo, Inês Grosso, João Mourão, Jorge Costa, José Alberto Ferreira, José Maçãs de Carvalho, Márcia de Sousa, Marta Mestre e Mirian Tavares, professora da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve e diretora do CIAC – Centro de Investigação em Artes e Comunicação. A Rede pretende congregar instituições dispersas territorialmente, estabelecendo sinergias entre espaços expositivos, 41
colecionadores, programadores, curadores e artistas visuais. A ideia é consolidar o mapeamento das estruturas culturais públicas e privadas existentes a nível nacional nesta área, dinamizar sinergias em rede entre os equipamentos integrantes e apoiar a internacionalização deste universo artístico, para além de apoiar a qualificação, inclusive na vertente da transição digital, dos equipamentos dedicados predominantemente e de forma regular e continuada à promoção de atividades culturais no âmbito da arte contemporânea, assim como a capacitação das suas equipas. “No
fundo, queremos atrair a atenção do público para a arte contemporânea portuguesa, fomentando a circulação das exposições pelo território ALGARVE INFORMATIVO #325
nacional e procurando fortalecer o nome destes artistas para, até mesmo para se criar pontes internacionais. A DGArtes tem funcionado como intermediária em todo este processo, uma vez que é o braço do Estado que dá o apoio financeiro às artes em geral, com exceção do cinema”, indica Mirian Tavares, à conversa no seu gabinete no Campus das Gambelas. Mirian Tavares que, confessa, não estava à espera de ser convidada para integrar a equipa da Rede Portuguesa de Arte Contemporânea, uma chamada que entende como o reconhecimento do trabalho desenvolvido pelo CIAC no passado recente. E a primeira reunião de
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trabalho já teve lugar, em dezembro do ano transato, com a presença da Ministra da Cultura. “À semelhança
do que acontece com a Rede de Teatros, queremos que o Algarve acolha exposições de outros pontos do país – algo que já acontece com regularidade – mas, sobretudo, que os artistas algarvios tenham oportunidade de mostrar o seu trabalho no resto do país, uma tarefa que tem sido quase impossível”, reconhece a entrevistada. “A arte contemporânea tem a característica de ser mais difícil de ser assimilada. Mesmo nos cursos do ensino secundário destinados
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às artes visuais, quando os alunos chegam à História da Arte, abordam a arte até à década 50 do século passado e falam de algumas coisas da pop art, mas não há tempo para terem um conhecimento mais profundo da arte contemporânea e muito menos dos artistas portugueses que ainda estão no ativo ou daqueles que estão agora a começar”, observa a professora universitária. De facto, as artes plásticas ditas mais clássicas são, sem dúvida, expostas mais vezes em galerias e museus e, por inerência, são mais comercializáveis, ao passo que a arte contemporânea surge em locais específicos, quase nichos de mercado, como sucede, no Algarve, com a Galeria TREM, a Artadentro e a Associação 43
289, em Faro, e o LAC, em Lagos. Incentiva-se, por isso, as novas gerações para perseguirem os seus sonhos, para abraçarem a sua veia artística, que normalmente é mais arrojada do que a dos seus antecessores no que toca às técnicas e materiais utilizados, mas não se tem feito o mesmo trabalho ao nível dos públicos. “Esse é um problema
real. Os cursos de artes visuais descolaram-se do modelo das Belas Artes com as suas técnicas mais tradicionais e incentivam os alunos a darem o salto e a experimentarem as novas tendências mais conceptuais. Coloca-se, entretanto, o reconhecimento do que é a arte. A partir do momento em que ela sai dos limites do que é ALGARVE INFORMATIVO #325
expectável de uma obra de arte, quem é que valida esse objeto artístico? E a validação acontece normalmente quando há um circuito de exibição, se há um conjunto de pessoas com algum peso na matéria que reconhe a importância daquela obra de arte contemporânea. A nova Rede Portuguesa de Arte Contemporânea quer que esse sonho dos jovens artistas não se concretize apenas para os que estão melhor localizados em termos geográficos”, adianta Mirian Tavares. A diretora do CIAC lamenta que os portugueses conheçam muito poucos artistas contemporâneos nacionais, e muito pouco daquilo que é feito nas várias regiões, quando são cada vez mais os jovens a terem trabalho para mostrar, assim tenham oportunidades para o fazer. Resta saber se, na hora da verdade, aquilo que é produzido pelas novas gerações é assim tão diferente do que fizeram os grandes mestres de outros tempos, perguntamos. “Uma das questões que
tem sido levantada por todos os elementos da equipa diz respeito à importância do serviço educativo das instituições. Se não há formação de públicos, está-se a fazer arte para quem? A partir da década de 60 do século XX, todos os limites da arte mais convencional – que já tinham sido ultrapassados pelas vanguardas do início do século XX – foram ainda levados ALGARVE INFORMATIVO #325
mais ao extremo, ao ponto de haver uma dissolução da própria ideia do que é a arte. Chegamos a um ponto em que um conjunto de atitudes e experiências de materiais passaram a ser considerados obras de arte e torna-se difícil definir os limites”, analisa Mirian Tavares. “Muitos jovens que se inscrevem em cursos de Artes Visuais tiveram contacto com a Arte Moderna, mas não conhecem essa rutura quase total da arte com o mundo, porque não existe uma formação para a contemporaneidade. Parece que o universo das artes parou nos anos 50. Após a década de 60 mantiveram-se os meios tradicionais, o quadro, a escultura, os suportes tradicionais, mas romperam-se com os motivos e incorporaram os ícones da cultura de massa. Depois, a arte conceptual rompeu com a própria ideia do objeto”.
É MUITO DIFÍCIL PRODUZIR E TRABALHAR COM A ARTE CONTEMPORÂNEA Está visto que a formação dos artistas aconteceu a uma velocidade superior à dos públicos e, no século XXI, o advento do digital veio baralhar ainda mais as contas, com Mirian Tavares a admitir que, neste momento, deixaram de existir limites, mas estes são 44
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necessários. “Quando é que um
objeto que é absolutamente banal e aparentemente não artístico, pode ser visto como um objeto artístico? É difícil saber onde traçar os limites, mas há artistas que, às vezes, fazem algumas experiências que para eles podem parecer uma coisa nova, mas que são repetições de algo que já se realizou no passado. E que foi interessante naquela ALGARVE INFORMATIVO #325
altura, pela novidade, mas esse sentido entretanto esvaziou-se. É muito difícil produzir e trabalhar com a arte contemporânea”, sublinha a docente da Universidade do Algarve, concordando que as artes digitais são quase um capítulo à parte dentro da arte contemporânea. Uma das opções tomadas pela Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve para tentar atenuar esse desfasamento foi 46
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contratar docentes para o Curso de Artes Visuais que fossem eles próprios artistas e que têm, por isso, um conhecimento in loco do que acontece no exterior da Academia. “O universo escolar é um
espaço protegido e os alunos precisam saber o que os espera no mundo real. Para além disso, os jovens têm que ser confrontados com uma história que, apesar de ser recente, já deixou um rasto de mudanças e alterações. Há artistas que eles, consciente ou inconscientemente, acabam por seguir, que servem de referência para desenvolverem a sua própria sensibilidade e forma de apropriação da realidade. As questões da identidade e território e a afirmação de determinados pontos de vista sobre o mundo ALGARVE INFORMATIVO #325
acabam por constituir o discurso da arte contemporânea e neste curso tentamos que os alunos conheçam o que existe e que percebam quais as suas potencialidades e aquilo que verdadeiramente os apaixona”, salienta Mirian Tavares. Nem todos os licenciados em Artes Visuais se tornam, depois, artistas, porque essa tal paixão não se concretizou e porque as saídas profissionais também não abundam nesta área e no Algarve. “Hoje
estamos melhor do que há 10 anos, porque há uma maior circulação de artistas, mas ainda é pouco. Há artistas que fazem exatamente aquilo que querem fazer e que já são considerados um investimento, conseguem ser 48
reconhecidos – nacional e internacionalmente – e viver financeiramente sem fazer concessões, mas o Algarve continua a estar demasiado longe do «reino». Por isso, se não houver circulação dos artistas e da sua obra, torna-se difícil eles dedicarem-se em exclusivo à arte”, lamenta a diretora do CIAC. A expectativa da Rede Portuguesa de Arte Contemporânea é, então, criar mais oportunidades para os artistas, abrir portas, dentro e fora de Portugal, mas é uma tarefa bastante complexa e que vai levar alguns anos a ser realizada, admite a entrevistada. “Entre coleções,
galerias públicas e privadas, museus e associações, existem cerca de 120 49
espaços ligados à arte contemporânea, mas nem todos têm condições expositivas, uma direção de arte, uma curadoria. As pessoas precisam ter formação que lhes permita reconhecer estes artistas, e estes precisam, sem dúvida, de circular e, para isso, os espaços precisam ter condições para acolher as exposições. No Algarve já se verifica uma movimentação mais visível e, quanto maior for a massa crítica, mais fácil o caminho se torna. Acredito que esta Rede pode ser muito benéfica para o Algarve e para as regiões mais periféricas”, finaliza Mirian Tavares . ALGARVE INFORMATIVO #325
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RUI MATOS APRESENTA «CAMINHO – A RECONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA» NO MUSEU MUNICIPAL DE TAVIRA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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Museu Municipal de Tavira – Palácio da Galeria acolhe, até dia 16 de abril, a exposição «Caminho – A reconstrução da memória», de Rui Matos, que revela os vários percursos do trabalho do artista, nos últimos 13 anos, altura em que o ferro e as suas possibilidades construtivas entraram na sua linhagem. A exposição explora, igualmente, a relação entre o corpo da escultura, o desenho na superfície da parede e a sua sombra coreografada. Segundo Rui Matos, “cada escultura
corresponde a um corpo de origem única que cresceu e se desenvolveu a partir de uma tensão interior e pode aceitar objetos exteriores, integrando-os como utensílios”. “Os objetos falam e, por vezes, seguemnos os gestos (como que por mímica). Podemos pensá-los a partir do seu interior, como se estivéssemos dentro de um espaço arquitetónico, ou a partir de uma visão exterior em que eles estabelecem relações de parentesco, organizam sequências ou indicam percursos”, acrescenta o artista, para quem este é um trabalho muito específico enquanto autor, “mas cada
escultura só ficará, verdadeiramente, concluída, quando o observador a completar com a sua visão pessoal, a sua sensibilidade e a sua cultura”. O Museu Municipal de Tavira funciona, de terça-feira a sábado, das 9h30 às 16h30 . ALGARVE INFORMATIVO #325
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JOANA GAMA E LUÍS FERNANDES LEVARAM «THERE’S NO KNOWING» AO CINETEATRO LOULETANO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Jorge Gomes
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esde «Quest», lançado em 2014, que Joana Gama e Luís Fernandes mantêm um diálogo contínuo que aceita ruturas constantes e explorações sonoras novas na sua música. Na harmonia do seu trabalho perfila o encontro de ambas as linguagens, numa comunicação permanente que respeita os seus ritmos e que sabe responder a desafios, como se constatou em «Harmonies», editado em 2016, em que trabalharam a herança de Satie com Ricardo Jacinto, e em «At The Still Point Of The Turning World», de 2018, onde, com José Alberto Gomes, estenderam o seu trabalho a uma orquestra, mas também em «Textures & Lines», de 2020, que cocriaram com o Drumming GP. ALGARVE INFORMATIVO #325
«There´s no knowing», de 2022, abre com o piano de Joana Gama e depois vai surgindo a eletrónica de Luís Fernandes.
“A peça cresce numa espécie de sussurro entre os dois e desenvolve-se num progressivo jogo de proximidade. À medida que se avança em «There´s no knowing», há uma maior interligação entre os elementos e a consumação do que fazemos em conjunto: puxar o melhor de cada um”, explicam os músicos, cujo quinto álbum é uma aventura pulsante, que tem as suas origens no convite para a criação da banda-sonora da série «Cassandra», com direção artística de Nuno M. Cardoso.
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«MEDO – MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA PARA SERES FOFINHOS» É A NOVA CRIAÇÃO DO VATE Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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Teatro Lethes, em Faro, acolheu, de 26 a 30 de janeiro, «Medo – Manuel de Sobrevivência para seres fofinhos», a mais recente criação do VATe – Serviço Educativo da ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve. A peça de teatro para infância tem dramaturgia e encenação de José Manuel Valbom Gil, da S.A. Marionetas, a partir de um conceito original de Jeannine Trévidic, e é protagonizada por Raquel Ançã e Luís Manhita. ALGARVE INFORMATIVO #325
Na peça conhecemos Bia, uma menina que tem medo que os pés cresçam muito e que acredita que dentro do armário está alguém com olhos grandes. Às vezes acorda a pensar que durante a noite o seu nariz ficou todo vermelho, mas para tudo isto vai arranjar solução, com pequenos truques a transformarem estes e outros medos em seres fofinhos. Uma história baseada em marionetas e formas animadas que o VATe pretende levar a todo o Algarve, tendo como público-alvo as crianças do 1.º Ciclo do ensino básico . 84
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RODRIGO LEÃO TROUXE «A ESTRANHA BELEZA DA VIDA» A LOULÉ Texto: Daniel Pina | Fotografia: Jorge Gomes
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Cineteatro Louletano foi palco, no dia 1 de fevereiro, Dia da Cidade de Loulé, de «A Estranha Beleza da Vida», espetáculo em que Rodrigo Leão, sob o nome de «Rodrigo Leão Cinema Project», reúne repertório dos três discos editados em 2020 e 2021 («O Método», «Avis 2020» e «A Estranha Beleza da Vida»), assim como uma seleção outros temas da sua longa e bem-sucedida carreira. Um concerto que, em Loulé, foi ainda mais ALGARVE INFORMATIVO #325
especial, contando com a participação do Coro Juvenil de Loulé. Em palco, Rodrigo Leão (sintetizador e piano e coros) é acompanhado pela sua banda habitual, formada por Ângela Silva (voz, sintetizador e metalofone), Viviena Tupikova (voz, violino e piano), Carlos Tony Gomes (violoncelo) e João Eleutério (guitarra, baixo, sintetizador, percussão, harmónio indiano e coros). À música juntam-se ainda as imagens projetadas em vídeo da autoria de Gonçalo Santos, que integram desenhos do próprio Rodrigo Leão. 96
de esquecer o presente",
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«A Estranha Beleza da Vida» começou a ser desenhada no final de 2020, mais concretamente em outubro, mês em que regressou a Lisboa depois de meses de confinamento no meio do campo. “Senti diferença
descreve o compositor, que sempre se mostrou interessado em explorar géneros diferentes como a valsa, tango, chanson, samba, neoclássico, ambiental e indie, como se os seus discos fossem viagens registadas e atravessadas pelo seu olhar. “É
logo nos primeiros temas, algo mais positivo, mais feliz, diferente dos ambientes do disco anterior. Alguns remetiamme para uma época algo distante da que vivemos agora. Talvez não fosse por acaso e até resultasse de uma tentativa inconsciente
um disco cinemático, uma viagem por canções e ambientes diversos revistos pela modernidade do tratamento a que as submeto, nascidas de momentos de inspiração feliz agarrados a quente”, afirma Rodrigo Leão .
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A água dos meus avós Paulo Bernardo (Empresário) ou neto de Gregório dos Santos Bernardo e de José António Abreu. O meu avô Zé Bernardo como era conhecido, eu nunca conheci, fazia poço e morreu a construir um, caiu dentro do poço. O meu pai, no Dia de Todos os Santos, levava-me ao cemitério de São Brás de Alportel para colocarmos flores na campa menos cuidada, pois quando ele partiu o meu pai tinha cerca de dois anos e não sabíamos onde seria. Já o meu avô Abreu como eu lhe chamava, eu conheci bem, esse fazia cisternas. Na sua profissão era o Mestre Zé Abreu. Não sei se sabem a diferença entre um poço e uma cisterna, presumo que sim. Eu tive a sorte de ser o penúltimo neto a nascer e, por isso, foi o que mais viveu com ele a velhice. Tive a sorte de o ouvir a contar histórias e aventuras, como a ida para França no final da primeira guerra mundial, onde trabalhou um ano e ganhou mil escudos que lhe serviu para pagar a um médico de Estoi para o livrar da ida a tropa, pois a recordação da guerra era muito presente. Geneticamente tenho uma cultura de amar a água, digo eu, pois sempre olhei para a mesma como um bem raro. Tirar água de um poço ou de uma cisterna não é fácil, faz doer os braços, contudo, não é por esse motivo que eu gosto de poupar ALGARVE INFORMATIVO #325
água, sempre senti como a água era um bem precioso e nosso que tínhamos que preservar. Cresci a ver a água a ser aproveitada até a última gota e reaproveitada para que não se desperdiçasse nada. Por isso, a seca de hoje não é um mistério, é uma realidade que sempre foi educado que acontecia. No entanto, nunca tivemos tanta água disponível, nem nunca tivemos tantas entidades a gerir as mesmas. Não deveria acontecer falta de água, pois acredito que os cérebros de hoje sabem bem mais que os meus avós. Podem dizer que hoje regamos mais, que temos a agricultura intensiva, que temos os pomares, que temos o Golf, que temos mais casas, que temos mais pessoas, mas temos também muito mais meios para que a seca seja prevista e acautelada. O respeito pela água desde que me lembro fez-me andar sempre atento a este tema, estudava e estudo modos de poupar, reutilizar e inovar à volta deste tema, apenas como hobby e curiosidade. O meu pai sempre me disse que eu tinha a capacidade de estudar coisas que não interessavam a mais ninguém (ainda não entendi se era uma visão positiva ou negativa). Comecei por pensar como as cisternas 108
podiam ser mais uteis, surgiram os furos hertzianos, acompanhei desde a máquina mais rudimentar que o Albano tinha, até à máquina mais inteligente do Eduardo (para os situar temporalmente, deve ter sido próximo de 1978, tinha oito anos), que teve direito a inauguração com festa, não sei se foi benzida, pois estava lá o Padre Bárbara de Estoi. Foi o primeiro processo de disponibilização de água de forma abundante que conheci, estava maravilhado com a possibilidade de ir buscar água a um local imaginário tipo mil e uma noites, onde a água não acabava. Mas um dia o furo secou e começou-se a corrida para chegar a maior profundidade, primeiro cem metros era bom, depois perdi a conta dos metros necessários. Pelos meus onze anos tive contacto via a disciplina de estudos sociais, do milagre israelita de tirar água das pedras, transformar o deserto verde, mais uma alegria para o pequeno Paulo, estudava em Loulé no velho ciclo preparatório Eng.º Duarte Pacheco, junto ao estádio de futebol e a uma fábrica de telhas. Hoje só resta o estádio. Foi um Verão muito quente e seco, julgo que 1982, não havia água na escola, nem em lado nenhum. Como a história dos israelitas fazia sentido, mas essa nunca chegou de uma forma organizada ao Algarve. Foi o ano em que também aprendi que o deserto do Sahara ia entrar pelo Algarve e no ano dois mil isto iria ser um deserto. Falando mais tarde com um grande amigo bem mais velho, disse-me que tinha aprendido o mesmo, mas que o deserto ia chegar nos anos oitenta. 109
Acompanhei de perto a «Estratégia das Furnazinhas», único programa nacional de combate à desertificação desenvolvido em solo algarvio, participando em várias reuniões com a equipa coordenada por Vítor Louro. Trabalho feito entre Castro Marim e Alcoutim, que, fazendo alguma pesquisa, hoje não se conhece efeitos práticos. Por Israel também me chegou a questão do uso de água do mar para o consumo humano depois de lhe retirado o sal. Processo que muito evoluiu desde que eu comecei a me interessar por estas coisas. Hoje está em cima da mesa uma central dessalinizadora para o Algarve, ainda bem, demorou algum tempo, mas vai chegar. Sou de opinião que cada infraestrutura feita junto ao mar, e temos muitas no Algarve, devia ter a sua própria central de produção de água, pois fica mais fácil a gestão por cada um dos proprietários da sua própria água. Contudo, se não fizemos como o meu avô me ensinou, ou seja, respeitarmos a água, usando-a de uma forma correta e inteligente, a mesma irá sempre faltar . ALGARVE INFORMATIVO #325
O seu voto contou? Nuno Campos Inácio (Editor e Escritor) m todas as Eleições Legislativas milhares de votos seguem directamente para o caixote do lixo da democracia. O sistema actual de eleição dos Deputados da Assembleia da República, dividido em 22 círculos eleitorais, com a aplicação em cada um deles do Método de Hondt, sem a existência de um círculo de compensação que receba os votos expressos que não contribuíram para a eleição de qualquer representante, incentiva a partidarização e a sensação de necessidade do voto útil. No caso concreto do Algarve, apesar de terem sido apresentadas 16 candidaturas, apenas os votos expressos no PS, no PSD e no CHEGA tiveram alguma utilidade prática, sendo que todos os outros resultaram numa perda de tempo. O problema para a democracia é que essa perda de tempo atinge cada vez mais eleitores, criando maiorias absolutas com menos de 40% dos votos expressos. No círculo eleitoral de Faro, 41.340 pessoas fizeram a sua escolha democrática, mas, se não tivessem ido votar, o efeito prático seria o mesmo, porque os eleitos seriam exactamente os mesmos. Isto representa 21,11% dos votos. Aqui coloca-se uma questão:
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quem, efectivamente, tem legitimidade para representar estes eleitores? A política e a constituição de um partido político têm inerentes uma ideologia. Se não a tiverem, não serão partidos políticos, mas meras associações ou grupos de interesses. Significa isto que, quem votou nestes pequenos partidos, como o BE, a CDU, a IL, o PAN, o Livre, o CDS e outros mais pequenos, o fizeram por uma questão ideológica, sendo abusivo considerar que os eleitos socialistas têm a representatividade eleitoral dos bloquistas, dos comunistas, ou dos ambientalistas, da mesma forma que o PSD não tem a representatividade dos liberais, nem o Chega a dos centristas. O combate à abstenção tem de ter inerente a valorização do voto e a opinião de todos, na justa medida do peso político do eleitorado nacional, o que o Método de Hondt, com a actual aplicação em 22 círculos eleitorais, manifestamente não permite. No caso da Região Autónoma dos Açores, as eleições regionais compensam esta injustiça democrática com um círculo eleitoral de compensação, que elege cinco deputados, cerca de 10% do número de deputados. Se este sistema fosse transposto para o continente, poderíamos estar a falar num círculo de compensação de 20 deputados, que 110
aproximariam o Parlamento da realidade expressa pelo universo eleitoral, evitando injustiças como as do CDS que, com mais 17.500 votos expressos do que o Livre, não conseguiu eleger nenhum representante. Outra solução seria a aplicação do método usado para as eleições para o Parlamento Europeu, que têm apenas um círculo eleitoral. Em termos comparativos, para que se perceba a verdadeira adulteração democrática do método actual, sem contarmos com os círculo eleitorais da Europa e do Resto do 111
Mundo, que elegem 4 deputados, já foram eleitos 226 deputados, sendo 117 PS, 71 PSD, 12 Chega, 8 IL, 5 BE, 6 PCP (que teve menos votos do que o BE), 1 PAN, 1 Livre, 3 Coligação PSD-CDS, 2 Coligação PSD-CDS-PPM; com um único círculo eleitoral, a divisão desses 226 deputados seria a seguinte: PS 99; PSD 66, Chega 17, IL 11, BE 10, CDU 10, CDS 3, PAN 3, Livre 3, PSD-CDS 2, PSD-CDSPPM 1, RIR 1 Este seria o verdadeiro reflexo da vontade democrática dos portugueses . ALGARVE INFORMATIVO #325
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