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ALGARVE INFORMATIVO 19 de fevereiro, 2022
UM OLHAR SOBRE A DEMÊNCIA | BÁRBARA TINOCO | «A IMAGEM QUE EMERGE» 1 ALGARVE INFORMATIVO «LOCALARTE» | «PERFEITOS DESCONHECIDOS» | ALGARVE TECH HUB #327
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SUMÁRIO OPINIÃO 112 - Mirian Tavares
90 - «LocalARTE» em Lagos
28 - Falou-se de demência em Quarteira 20 - Algarve Tech Hub Summit
64 - «Perfeitos Desconhecidos» em Lagos
72 - «A Imagem que Emerge» em Faro ALGARVE INFORMATIVO #327
50 - Bárbara Tinoco em Lagoa 10
38 - Dino d’ Santiago traz «Badiu» a Loulé 11
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ALGARVE QUER SER UMA REGIÃO DIGITAL RECONHECIDA À ESCALA GLOBAL Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina Universidade do Algarve e as associações Algarve STP e Algarve Evolution têm vindo a desenvolver uma estratégia comum com o intuito de reforçar o Ecossistema Tecnológico Regional, por via da consolidação de uma marca regional forte e representativa designada por «Algarve Tech Hub». O objetivo é promover o Algarve como um hub tecnológico global e competitivo, atrativo para empresas, instituições e indivíduos, e capaz de o tornar numa região digital reconhecida à escala global. Assumindo a importância do envolvimento institucional dos principais ALGARVE INFORMATIVO #327
players regionais, as entidades dinamizadoras da marca «Algarve Tech Hub» pretendem levar a cabo um Plano de Desenvolvimento que permita um trabalho articulado e colaborativo, no fomento de novos projetos e iniciativas em colaboração ativa entre todos os agentes do ecossistema, nomeadamente, instituições de ensino e entidades de investigação, instituições públicas e privadas de suporte e infraestruturas tecnológicas. “A singularidade do
Algarve Tech Hub reside no facto de ter sido lançado pela comunidade e empresas tecnológicas privadas da região em colaboração com as autarquias locais, o governo central e a 20
Paulo Águas, Reitor da Universidade do Algarve
universidade, a que se junta o foco estratégico tecnológico do país desde o início de 2010, especificamente no que respeita à estratégia tecnológica nacional, à promoção tecnológica internacional, à organização de eventos à escala internacional, tais como o Web Summit, e vários benefícios fiscais e investimentos públicos e europeus disponíveis para apoiar as empresas e o desenvolvimento tecnológico”, explicam os promotores. O propósito principal da Universidade do Algarve, da Algarve STP e da Algarve Evolution é agregar e consolidar o know21
how em áreas tecnológicas específicas, criando um potencial intelectual que permita a conceção e o desenvolvimento de projetos com uma possibilidade real de sucesso na cena internacional.
“Deste modo, é fundamental que o ecossistema do Algarve Tech Hub reúna intervenientes fortes, incluindo incubadoras, aceleradores, academias, centros de consultoria personalizada, centros de know-how, centros de serviços de nearshoring e outsourcing. Enquanto sistema aberto, a sua estruturação será determinada por decisão voluntária das várias entidades inseridas no tecido tecnológico, ALGARVE INFORMATIVO #327
Francisco Serra, presidente da Algarve STP
promovendo, sempre que possível, a convergência das respetivas atividades, nomeadamente Talentos, Empresas Internacionais, Redes de Incubadoras, Aceleradores, Business Angels e Capitais de Risco, Universidades e outras associações verticais”, entendem. Tendo tudo isto em mente, foi apresentado, no dia 9 de fevereiro, pela consultora Blackbird, o Mapeamento do Setor Tecnológico do Algarve, “com
vista a uma caraterização e análise crítica dos contributos necessários para o desenvolvimento futuro do ecossistema tecnológico na região do Algarve, e que engloba uma ALGARVE INFORMATIVO #327
análise estatística do setor TIC e um retrato das empresas tecnológicas do Algarve, bem como um olhar prospetivo dos atores estratégicos regionais”, explicou Hugo Pinto. E, de acordo com o estudo, países como Reino Unido, Alemanha, Estados Unidos da América, Espanha e Brasil lideram o ecossistema TIC no Algarve e são estas as apostas a reforçar, a que se juntam outros, como o México, China, Marrocos, Rússia e Canadá. Na sessão online foi igualmente dada a conhecer a Algarve Tech Hub Summit, que irá decorrer, de 28 de março a 3 de abril, e que quer juntar em diferentes palcos de Faro e Loulé oradores nacionais e internacionais de diversas áreas da 22
Miguel Fernandes, da Algarve Evolution
inovação e tecnologia, desde o Turismo, Mar, Saúde e Energia à Digital, Arte e Cultura. “Durante o evento, um
vasto conjunto de ações, conferências, exposições, artes digitais e sessões de networking vão apresentar o Algarve Tech Hub ao mundo e colocar a região no roteiro tecnológico internacional e de destinos preferenciais de lifestyle para nómadas digitais, remote workers, estudantes, talentos, empresas e investidores com interesse em fazer do Algarve a sua base para o mundo”, adiantou Vanessa Nascimento, da Algarve Evolution. A Algarve Tech Hub Summit engloba iniciativas como uma Conferência de Arte 23
Digital (MUSEU ZERO), a Conferência Internacional INOVA ALGARVE 2.0 (NERA), a Transição Digital – Business, drinks & talks (ANJE), o 1.º Encontro da Rede Ibero Americana de Parques de Ciência e Tecnologia (Algarve STP), a Missão Empresarial Tech México – Algarve (NERA), o Disrupt 22 Algarve Tech Hub – Ideathon & Start-up Competition (Algarve STP & Algarve Evolution), Science-to-business Meetings (Algarve STP), um debate sobre Sistemas Alimentares Sustentáveis (AMAL) e um Espaço Descoberta Empreendedora – Economia Circular (CCDR Algarve). Ao todo, serão sete dias que envolvem, para já, 12 entidades e mais de 50 oradores provenientes de 10 países, para demonstrar as aptidões do Algarve para se tornar o melhor destino de lifestyle da Europa.
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Vanessa Nascimento, da Algarve Evolution
Durante a sessão de apresentação do evento, o reitor da Universidade do Algarve, Paulo Águas, sublinhou que “a
Universidade tem responsabilidades na dinamização deste tipo de atividades que visam a diversificação da economia regional e a transferência de conhecimento e que pretendem tornar o Algarve numa região interessante, não só para estudar, mas também para trabalhar”. Já Miguel Fernandes, presidente da Algarve Evolution, reforçou a importância de se estreitar relações entre as entidades do setor público e privado para que o Algarve alcance outro patamar de reconhecimento enquanto destino. “Só ALGARVE INFORMATIVO #327
assim, em conjunto, com uma marca coesa, teremos força suficiente para quebrarmos este gelo a nível internacional. Isolados é muito mais complicado”, garantiu, acrescentando que, “com objetivos traçados para os próximos nove anos, a ideia é que quem escolha o Algarve para trabalhar não sejam meros consumidores, mas que fiquem vinculados ao ecossistema local e potenciem o conhecimento e o talento através de parceiras”. Por sua vez, o presidente da Algarve STP, Francisco Serra, enquadrou o projeto KCITAR, no âmbito do qual foi desenvolvido o estudo apresentado por Hugo Pinto, da Blackbird . 24
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Margarida Ferreira, do Núcleo do Algarve da Alzheimer Portugal
ESPAÇO SAÚDE 360º ALGARVE FOI A QUARTEIRA FALAR DE DEMÊNCIA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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aúde em Dia: Vamos falar sobre a Doença de Alzheimer» foi o tema da sessão informativa dinamizada pelo Espaço Saúde 360º Algarve, em parceria com a Associação Portuguesa de Familiares e Amigos dos Doentes de Alzheimer – Núcleo do Algarve, no dia 15 de fevereiro, no Anfiteatro da Junta de Freguesia de Quarteira. O objetivo foi promover a
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literacia em saúde sobre as demências, através de informação credível, simples e objetiva, ao mesmo tempo que se pretende contribuir para uma mudança na forma como estas patologias são encaradas pela sociedade. Analisar as causas e formas de prevenção da doença, abordar o seu impacto no comportamento e na qualidade de vida do doente e família, e conhecer os recursos atualmente 28
Ricardo Valente Santos, do Espaço Saúde 360º Algarve existentes para apoiar estes doentes e cuidadores, de forma a aliviar o impacto da patologia, foram alguns dos assuntos abordados na sessão conduzida por Ricardo Valente Santos, psicólogo e gestor do projeto Espaço Saúde 360º Algarve, e por Margarida Ferreira, Neuropsicóloga do Núcleo do Algarve da Associação Portuguesa de Familiares e Amigos dos Doentes de Alzheimer, com gabinetes em Portimão e Lagoa. Um dos fatores mais associados à demência é o avançar da idade, algo a que nenhum de nós pode escapar, uma vez que as nossas células e os nossos tecidos vão envelhecendo gradualmente, o mesmo sucedendo aos nossos órgãos, entre eles o cérebro. “A partir dos 40,
50 anos, é esperado que tenhamos 29
mais dificuldades em fazer algumas coisas, ficarmos mais esquecidos ou confusos. Pode verificar-se alguma alteração cognitiva, o que é expectável. O que pode indiciar a existência de uma doença é quando acontece um declínio significativo das nossas funções cognitivas, as funções mentais superiores como a memória, a atenção ou o raciocínio. Por isso, devemos estar atentos aos primeiros sinais que nos podem indicar se estamos localizados em alterações normais, ou numa situação mais avançada que pode gerar problemas mais graves”, referiu Margarida Ferreira, ALGARVE INFORMATIVO #327
perante uma plateia bastante atenta e constantemente a tirar apontamentos. Demência que é um conceito global que descreve vários sintomas que se podem dever a diferentes doenças, sendo que a Alzheimer é, sem dúvida, a mais conhecida de todas e responsável por quase 70 por cento dos casos de demência existentes. “Dependendo
afetar o cérebro de formas distintas. É normal esquecermonos de algumas coisas, de onde é que deixamos os óculos ou as chaves de casa, porque conseguimos ir buscar essa informação passados poucos minutos. Agora, meter as chaves de casa dentro do congelador, por
do tipo de doença, a demência vai ALGARVE INFORMATIVO #327
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Sendo o envelhecimento uma das principais causas da demência, há, porém, comportamentos do dia-a-dia que podem ajudar a prevenir o aparecimento destas doenças. Até porque estas patologias não são súbitas, não acontecem de um dia para o outro, são perdas graduais, ao longo de meses ou anos, do funcionamento cognitivo e a nível comportamental. “A doença de
Alzheimer é provocada pela acumulação bastante significativa de uma proteína no cérebro e os neurónios deixam de conseguir comunicar com eficácia uns com os outros e vão morrendo. E muitas vezes há uma dificuldade natural de aceitação de alguns dos comportamentos que vão surgindo com o avançar da doença”, reconheceu, indicando ainda que ter a doença de Alzheimer não é sinónimo que os restantes familiares a venham a ter também, embora as possibilidades de tal suceder sejam maiores.
exemplo, já é sinal de que algo não está bem. Ou quando deixamos de ter capacidade para fazermos coisas que sempre fizemos, aquelas tarefas rotineiras de casa ou do trabalho”, avisa a neuropsicóloga, acrescentando que as pessoas, quando começam a aperceberse destes problemas, tendem a isolar-se. 31
E como a demência vai surgindo gradualmente, estão identificados três estádios de evolução, sendo que, no primeiro, nota-se uma dificuldade em recordar eventos, geralmente os mais recentes, aquilo que se fez há uns minutos, horas ou dias, ao passo que as memórias mais antigas estão perfeitamente intactas. No estádio moderado aumentam as dificuldades de comunicação, esquecemo-nos dos nomes das coisas e das pessoas, do mês e ano em que estamos, da localização dos sítios onde íamos regularmente, até mesmo da ALGARVE INFORMATIVO #327
nossa própria casa. Finalmente, no estádio severo, as pessoas já estão normalmente acamadas, com fortes dificuldades de locomoção e alimentação. “Infelizmente, o
diagnóstico definitivo, com 100 por cento de certeza, só pode ser confirmado após a morte da pessoa, numa autópsia, mas existem várias técnicas que nos permitem realizar um diagnóstico provável, com um rigor entre os 80 a 90 por cento. Um diagnóstico que é feito através de análises clínicas, TAC’s, ressonâncias magnéticas e avaliações neuropsicológicas que vão excluindo outras causas possíveis para as alterações que a pessoa ALGARVE INFORMATIVO #327
está a apresentar”, explica Margarida Ferreira.
PREVENIR É O MELHOR REMÉDIO No que toca ao tratamento, o mais usual é o farmacológico, que ajuda a reter a perda do funcionamento cognitivo, porque, como lembrou a neuropsicóloga, ainda não existe uma cura para a demência. Ao mesmo tempo, há que tratar de outras questões que a ela possam estar associadas, como a ansiedade, a depressão ou perturbações do sono. Mas existe igualmente um tratamento não farmacológico, como a realização de tarefas estimulantes para o cérebro e manter-se ativo em termos físicos, a que se junta a alimentação
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saudável, a redução do stress e a regulação do sono. Margarida Ferreira revelou igualmente que 40 por cento das demências podem ser prevenidas ou atrasadas, por via da diminuição de lesões do cérebro e do aumento da reserva cognitiva, ou seja, tornar o cérebro mais apto para lidar com as adversidades que lhe possam surgir pela frente. “Podemos fazer isso
através da atividade física regular, reduzindo a ocorrência de depressão, evitando o consumo de álcool em excesso, tratando de dificuldades auditivas que possamos ter, mantendo um contato social frequente e por via da educação e estimulação. Há que, também, minimizar a
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diabetes, a hipertensão, deixar de fumar, reduzir a exposição a elementos poluentes e combater a obesidade. Cerca de 60 por cento dos fatores de risco não são modificáveis, como a idade, a genética e o histórico familiar, mas, em relação aos restantes 40 por cento, podemos começar a trabalhar neles logo numa idade mais jovem”, aconselha, com Ricardo Valente Santos a enfatizar que “a prevenção da demência assenta na prevenção de quase todas as outras doenças, ao se levar um estilo de vida saudável, não fumar, beber com moderação, praticar exercício físico, ser ativo em termos mentais, ter uma
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abordagem social positiva em que nos sentimos realizados”. “São pequenas coisas que estão ao nosso alcance no dia-a-dia”, concorda Margarida Ferreira. Por isso, mesmo depois de reformadas, as pessoas devem manter-se ativas, seja em termos físicos como mentais, e reduzir ao máximo o perigo de sofrer traumas cranioencefálico. “As quedas
podem levar a lesões cerebrais que, no futuro, podem provocar demência. Veja-se o exemplo dos pugilistas ou dos jogadores de futebol”, alerta, esclarecendo ainda que o exercício físico não precisa implicar o uso da força, bastando, para tal, breves caminhadas que não exijam grande esforço. “Em relação à depressão,
quando existe uma alteração cognitiva significativa, pode por ALGARVE INFORMATIVO #327
vezes ser confundida com a demência, portanto, devemos utilizar estratégias para aumentar a nossa resiliência, como o humor positivo, o otimismo ou mesmo a fé, assim como um apoio social, sem nunca descurar, obviamente, o apoio clínico especializado”, salienta a neuropsicóloga. “Nunca é demasiado cedo ou tarde, no nosso percurso de vida, para prevenirmos a demência. Atualmente, a nível mundial, temos cerca de 20 a 30 milhões de pessoas com demência, mas, daqui a 30 anos, esse número pode triplicar. É preocupante aquilo que nos pode esperar no futuro se continuarmos com este estilo de vida”, termina Margarida Ferreira . 34
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“SINTO QUE SOU UM ARTISTA COM DUAS NAÇÕES E QUE CRIEI UM UNIVERSO QUE VIVE EM HARMONIA COM OS OUTROS”, AFIRMA DINO D’SANTIAGO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daryan Dornelles
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ançado em novembro de 2021, o novo disco de Dino D'Santiago é uma homenagem aos «badiu» de Santiago, pessoas que se apropriaram desse termo pejorativo para o usarem, a partir do final do século XX, como símbolo de resistência e de resiliência. E resistência e resiliência são, sem dúvida, duas palavras excelentes para descrever o percurso de Claudino Pereira desde os tempos em que cresceu no antigo Bairro dos Pescadores de Quarteira até ter dado nas vistas na «Operação Triunfo» da RTP, seguindo-se vários anos como parte integrante da banda Expensive Soul, antes de descobrir, finalmente, a sua voz numa viagem que fez com o pai a Santiago, Cabo Verde, terra das suas origens. De 2004 a 2012 Dino D’Santiago fez, então, o seu caminho com os Expensive Soul, lançando, em 2013, «EVA», mas só em 2018, com «Mundo Nôbu», é que o quarteirense disparou para a fama, para o estrelato internacional, quando juntou o lado mais eletrónico que vinha da sua cena Soul, R&B e Hip-Hop com o som tradicional de Cabo Verde. Pelo meio há a acrescentar a aventura dos Nu Soul Family e desse cocktail deu-se o tal clique, o momento de viragem. “O fator
principal para eu me ter aguentado à bomboca durante esse período foi a experiência dos Expensive Soul, em que fiz todos os palcos de Portugal e vivenciei aquela sensação de ter toda a gente a cantar as tuas canções. Na altura punha-me a pensar se algum dia ALGARVE INFORMATIVO #327
milhares de pessoas iam cantar daquela maneira uma música minha, algo que hoje já acontece. Mas tenho que agradecer também ao Branko, porque, depois de atuarmos na final da Eurovisão que decorreu em Portugal, toda a gente ficou a conhecer a «Nova Lisboa»”, recorda Dino à conversa no Cineteatro Louletano, em Loulé, onde estava a preparar o novo espetáculo de 2022. A força promocional da Eurovisão deu um forte empurrão à carreira internacional de Dino D’Santiago e, logo depois, outro boost de nitrogénio puro quando Madonna – essa mesmo – utilizou «Pensa na Oji» e «Nova Lisboa» como teaser da edição de celebração dos 60 anos de carreira que fez para a Vogue Itália. “A partir daí
começaram os festivais, a consistência dos concertos, as pessoas fizeram das canções os seus hinos, recebia vídeos de avós, netos, pais, a cantarem as minhas músicas”, conta o entrevistado, que desde então não tem estado quieto, lançando «Sotavento» em 2019, «Kriola» em 2020 e «Badiu» em 2021. E foi também do EP «Sotavento» que se extraiu a canção «Brava» para o «Acoutic Home» da HBO. “A «Kriolu» tornou-se a
minha canção mais tocada de sempre e o mote «branco com preto geração de ouro» fez com que as pessoas se unissem ainda mais em torno da questão racial, 40
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de perceber que fazemos todos parte da mesma equação. A mensagem, aliada à pulsação do beat e à força do funaná, levou a que várias pessoas se agregassem a este movimento”, analisa. Agora parece que tudo foi «ouro sobre azul», mas, em 2013, quando «EVA» não se tornou um mega sucesso internacional, se calhar teria sido mais fácil para Dino D’Santiago regressar a uma fórmula que sabia que teria êxito, a tal sonoridade dos Expensive Soul e Nu Soul Family. Mas Dino manteve-se fiel à sua linha e esse é um ALGARVE INFORMATIVO #327
conselho que dá a qualquer artista em início de carreira. “Temos que decidir
qual é a mensagem que queremos deixar para as gerações futuras, qual é o nosso propósito, se estamos a representar o tempo em que vivemos, as histórias do nosso quotidiano. Se o Caetano Veloso pode esgotar o Coliseu dos Recreios, sozinho com a sua guitarra, eu também o posso fazer, sozinho com o beat, que é a característica do meu som. Depois, é a mensagem que faz as 42
pessoas ficarem, uma mensagem unificadora e não destruidora, uma mensagem que realmente reflete a situação sociocultural da época que vivemos, não esquecendo nunca o passado, mas desejando um futuro melhor. Só que o amanhã não existe, é já hoje, e sinto que as pessoas se conectam com as minhas letras, mesmo quando canto em crioulo”, refere, feliz. “Não estou aqui apenas para fazer as pessoas dançarem, mas para sentirem aquilo que estou a fazer”, acrescenta. Mensagens fortes que estão bem patentes no tal programa da HBO, «Acoustic Home», em que fala da Lisboa africana, dos fenómenos de uma cidade que se vai mutando, um pouco como acontece com o Algarve e a cidade de Quarteira onde cresceu. E quem conhece o músico, compositor e ativista português de ascendência cabo-verdiana sabe que, de 43
facto, ele não consegue estar calado perante aquilo que vê no seu dia-a-dia e, como tal, precisava de um som especial para acompanhar a sua voz. “Com os
Expensive Soul e os Nu Soul Family ganhei o espírito de entertainer e o MC tem uma energia fortíssima para prender a atenção do público. O problema é que, na área da intervenção, às vezes é-se tão radical na forma como se quer mostrar uma visão, que se acaba por afastar as pessoas, por criar divisões. O MC une e não há nada que una mais do que o amor. As minhas canções são as minhas terapias, falo das várias faces do amor. Depois, nos concertos, vejo pessoas a chorar porque aquela mensagem lhes toca. Precisava do meu espaço para isso, não podia obrigar os Expensive Soul e os Nu Soul Family a seguirem a minha linha”, justifica Dino D’Santiago.
“TENHO TANTO PARA DIZER QUE, SE NÃO O FIZER, VOU MORRER SUFOCADO” Sair da «zona de conforto» foi uma aposta corajosa e a vida não foi fácil de 2012 a 2018, até que a sua ideia finalmente vingasse. A força das circunstâncias deu uma ajuda preciosa, mas o mais importante foi não parar, não ficar à espera que a inspiração caísse do céu. E, apesar do som de Dino ALGARVE INFORMATIVO #327
D’Santiago parecer estar mais associado a uma determinada geração e raça, a verdade é que as suas músicas poem miúdos e graúdos a cantar e dançar, brancos e negros, portugueses e africanos, gente de todo o mundo num movimento bonito de se ver. “O que mais me
surpreendeu foi a dimensão disto tudo, não conseguia ambicionar tanto. É nestes momentos que vemos que a música é muito mais forte do que o artista. A arte é bastante mais elevada do que a própria visão do artista quando a está a fazer e, quando as canções e os ritmos ganham forma e se começam a espalhar, deixam de existir limites”, comenta o entrevistado, confirmando que a responsabilidade se tornou maior quando escrevia. “Deixou
de ser o meu segredo, o meu desabafo, a minha conversa com Deus. Nunca soube aceitar bem os elogios, um sentimento muito enraizado da minha educação católica, mas o orgulho, a ambição e a raiva são catalisadores e impulsionadores enérgicos para, às vezes, se atingir um fim que é bonito e honesto, que não é para destruir ninguém. Tudo o que eu pensasse «fora da caixa», imaginava logo que já estava a pecar, e isso condiciona e comprime o artista. Cresci imenso nesse aspeto”, reconhece. Um crescimento que se nota também no momento de receber prémios, e eles têm ALGARVE INFORMATIVO #327
sido, de facto, muitos nos últimos anos.
“Sentia que estava a roubar esses prémios a alguém, que havia outras pessoas que mereciam mais do que eu. Por isso, mal recebia os prémios, dava-os logo a alguém. Em Cabo Verde, deixei um na Câmara Municipal de Santa Catarina, outro com a minha avó, outro com a minha Balila, outro com o meu afilhado, porque assim não ficava preso aos prémios e podia continuar a criar”, revela, sem receio. “O facto de não me achar merecedor não me deixava sentir orgulho em ter esses prémios em casa para os contemplar. Depois, vieram os prémios «Play» em 2019 e 2020, três em cada ano, mas esses já ficaram comigo”, indica, com um sorriso. Os prémios não param de chegar, mas Dino D’Santiago não escreve a pensar neles, muito menos no dinheiro que vai ganhar com a venda dos discos e nos espetáculos que dá. “Tenho qualquer
paranoia que acho que vou morrer mais cedo, por isso, tenho que libertar estas canções. Tenho tanto para dizer que, se não o fizer, vou morrer sufocado. Se tens o dom de viver da arte, tens que honrar a arte e um artista não tem que descansar. Se a mensagem vem, se as coisas saem, vai, reproduz, faz mais 44
uma vez. Todos os dias acordo e vou para o estúdio e nunca houve um dia em que não surgisse algo”, garante, indicando que também já lida melhor com o facto de ser uma das vozes mais proeminentes na nova geração de artistas cabo-verdianos. “Sempre que
quero o «chão» lembro-me que sou de Quarteira, ainda que as minhas raízes estejam em Cabo Verde. 45
Tenho o mesmo direito de ser 100 por cento cabo-verdiano como de ser 100 por cento português, porque nasci cá, e isso ajudou a pressão a desaparecer. Cabo Verde é pequeno, mas tem vozes como Cesária Évora, Tito Paris, Danny Silva, Celina Pereira, Mayra Andrade, Pantera, Sara ALGARVE INFORMATIVO #327
Tavares, Nelson Freitas e muitas outras. Sinto que sou uma voz da diáspora, um artista com duas nações e que criei um universo que vive em harmonia com os outros”. Dino de Quarteira ou Dino d’Santiago, Claudino Pereira é um cidadão do mundo que nunca escondeu o seu orgulho por ser de Quarteira, uma terra de antigos ALGARVE INFORMATIVO #327
pescadores, algo que não é propriamente muito cool na cena artística. “Sou o que sou por causa
de Quarteira, uma terra onde existem mais 10 ou 20 Dinos. A diferença é que eu tive a sorte de, neste momento, o foco estar em mim, por isso, nunca desisti de criar projetos em Quarteira que pudessem catapultar outros 46
artistas. Levei o Sacik Brow para assinar pela Sony, que não o fez por favor, sentiu realmente o valor dele. Eu apenas usei o meu passaporte, porque ele não tinha documento para entrar”, diz o entrevistado, mostrando-se bastante satisfeito também pelo resultado do projeto «À moda quarteirense». “Com o «Sou
Quarteira» limito-me a retribuir à cidade aquilo que sempre tive, inspiração de forma gratuita. As coisas boas só te acontecem se não te esqueceres de onde é que vens. Eu sei onde está o coolness de Quarteira e onde é que me aguentei à bomboca graças a ter vindo de um sítio tão eclético como Quarteira. Sempre tivemos muita gente do Brasil, dos países da Europa de Leste, de África, pessoal de etnia cigana, e sempre tivemos que coabitar uns com os outros, umas vezes de forma mais harmoniosa do que noutras”, recorda. Quanto a «Badiu», está no mercado desde novembro de 2021 e acrescenta mais uma camada à sonoridade de Dino d’Santiago e da vasta equipa que o acompanha no estúdio e na estrada.
“Juntei a malta toda numa casa em Sintra durante um mês, mais a minha família, e construi o disco todo em conversas. Em 30 dias fizemos 37 canções, para escolher 12 para o álbum, sem qualquer pressão. Apareceu o Vhils, o Virgul, 47
o Valete, a Bernarda, o Slow J, o Tristany, a Cláudia Semedo, comíamos uma cachopa, conversávamos, e daquilo iam surgindo canções”, descreve. “Sinto que preciso estar ativo em várias vertentes e penso que o «Badiu» é a minha melhor obra. Fala sobre um povo que foi escravizado e retirado de África e, quando chegaram a Cabo Verde, foram os primeiros a conseguir fugir para o interior de Santiago. Os portugueses que compunham a corte vinham do norte do país e chamavam-nos «badios». Na capa do disco está o pano de terra, 100 por cento algodão, feito pelos escravos que vieram da zona da Guiné, e chegou a valer mais do que vidas humanas e do que o próprio ouro. O pano de terra era tingido com uma planta que só se conseguia apanhar na encosta dos rochedos, até que, devido ao elevado número de mortes, um rei português proibiu essa prática. O pano de terra passou a ser sintético no século XVIII e começou a perder o seu valor”, descreve, quase como se estivéssemos numa aula de História, antes de regressar à preparação do concerto de 20 de março do Cineteatro Louletano e de 2 de abril do Coliseu dos Recreios .
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BÁRBARA TINOCO ENCANTOU LAGOA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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Festival Montepio às Vezes o Amor regressou ao Auditório Carlos do Carmo, em Lagoa, nos dias 12 e 13 de fevereiro, com três concertos esgotadíssimos de Bárbara Tinoco. A jovem cantora e compositora deu que falar em 2018, na sua passagem pela fase de casting do programa «The Voice Portugal», onde mostrou «Antes Dela Dizer Que Sim», tema original que viria a lançar, em 2019, como single de estreia. No final desse ano foi convidada para fazer a primeira parte dos concertos da digressão «Só 10 Anos», de João Só, tendo depois feito a sua estreia a solo no Cineteatro Capitólio. ALGARVE INFORMATIVO #327
Em 2020, Bárbara Tinoco conquistou o segundo lugar na final do Festival RTP da Canção, interpretando uma canção da autoria de Tiago Nacarato, «PassePartout». Depois do sucesso da parceria, seguiu-se o projeto «Passe-Partout», uma digressão conjunta em que interpretam temas dos respetivos reportórios, bem como outros de artistas que os inspiram e influenciaram. Ainda em 2020, Bárbara apresentou mais dois singles - «A Fugir de Ser», lançado em julho, e «Outras Línguas», em outubro - e em setembro esgotou quatro concertos na Casa da Música, no Porto. Em abril de 2021 editou um EP de colaborações, em que participam alguns dos grandes nomes da música 52
portuguesa atual, como António Zambujo, Bárbara Bandeira, Carlão, Carolina Deslandes, Diana Martinez e Tyoz. O vídeo de «Cidade», um dueto com Bárbara Bandeira, atingiu a marca das 200 mil visualizações no youtube em apenas três dias. Em outubro do ano transato foi editado então o álbum de estreia, «Bárbara», e a estreia nos Coliseus de Lisboa e Porto aconteceu, em novembro, com quatro concertos esgotados. Um rápido trajeto de sucesso que pode espantar algumas pessoas, mas não certamente aquelas que encheram o Auditório Carlos do Carmo, nos dias 12 e 53
13 de fevereiro, em três concertos realmente fantásticos. Perante uma plateia maioritariamente constituída por famílias, Bárbara Tinoco encantou miúdos e graúdos, sempre simpática e bem-disposta, em constante interação com o público, praticamente explicando o que está por detrás de cada uma das suas canções, sobretudo os desgostos amorosos e relações terminadas que deram origem a belos temas que nos deixam de lágrimas nos olhos. E maravilhadas ficaram as muitas crianças que tiveram a oportunidade de subir ao palco para, inclusive, ajudar a tocar dois temas de Bárbara . ALGARVE INFORMATIVO #327
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Sete Perfeitos Desconhecidos jantaram em Lagos Texto: Daniel Pina | Fotografia: Joana Linda
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Força de Produção levou ao Auditório Duval Pestana, do Centro Cultural de Lagos, no dia 12 de fevereiro, «Perfeitos Desconhecidos», com texto de Paolo Genovese e encenação, tradução e adaptação de Pedro Penim. Na peça encontramos um grupo de amigos de longa data que organiza um jantar, durante o qual a anfitriã propõe um jogo: cada um deixa o telemóvel sobre a mesa e cada mensagem ou chamada que chega é lida e ouvida por todos, porque, supostamente, entre amigos não há segredos. “A partir deste momento
as surpresas e reviravoltas sucedem-se em espiral. ALGARVE INFORMATIVO #327
Alternando entre o drama e a comédia, os segredos de cada um serão revelados e, no final da noite, nada será como dantes e os amigos descobrem que são, afinal, perfeitos desconhecidos”, indica Pedro Penim. Com cenário de Joana Sousa e figurinos de Joana Barrios, desenho de luz a cargo de Luís Duarte, vídeo de Joana Linda e sonoplastia de Sandro Esperança, «Perfeitos Desconhecidos» tem como assistente de encenação Bernardo de Lacerda e é protagonizado por Ana Guiomar, Cláudia Semedo, Filipe Vargas, Jorge Mourato, Martinho Silva, Rita Brutt e Samuel Alves .
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GALERIA TREM ACOLHE «A IMAGEM QUE EMERGE» Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #327
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té dia 9 de abril, a Galeria TREM, em Faro, recebe a exposição coletiva «A Imagem que Emerge», de Beatriz Ferreira, Cátia Jesus, Guilherme Pinto, Jumoon Berthoux e Mariana Mártires. De acordo com a organização, esta mostra apresenta uma figuração muito particular, “pois a figura
emerge não como um exercício mimético, mas como forma de devolver ao mundo, depois de absorvidas e trabalhadas, imagens que nos convidam a pensar”. ALGARVE INFORMATIVO #327
Do desenho à pintura, passando pelo bordado, pela escultura e pela colagem, diversas são as ferramentas e técnicas utilizadas nesta exposição que surge no âmbito da programação do Curso de Artes Visuais da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve para a Galeria Trem. A mostra pode ser visitada de terça a sexta-feira, das 11h30 às 18h, e aos sábados, das 10h30 às 17h. A gelaria encerra ao domingo e à segunda-feira .
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ARTISTAS DE LAGO A CONHECER NO L
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OS DÃO-SE LOCALARTE
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Texto: Daniel Pina Fotografia: Daniel Pina
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LocalARTE, projeto de arte contemporânea de artistas de Lagos, foi apresentado no final de 2021 como forma de promover o trabalho da comunidade artística local. Das dezenas de candidaturas recebidas foram selecionadas as obras de 49 artistas que estão expostas, no Centro Cultural de Lagos, até dia 19 de março, passando por áreas tão distintas como a Pintura, a Fotografia, a Escultura e a Cerâmica. Destinado a artistas naturais ou residentes em Lagos, este projeto organizado pela Câmara Municipal de Lagos teve como principais objetivos promover e apoiar a comunidade artística do concelho, especialmente no período de crise pandémica em que a cultura foi ALGARVE INFORMATIVO #327
fortemente afetada. Esse foi, desde logo, o mote para inspirar estes artistas que, perante algo tão negativo como são os efeitos da pandemia, foram desafiados a apresentar obras criadas nesse período. As candidaturas decorreram até dezembro de 2021 e os artistas que integram esta primeira edição do projeto são: A. Pedro Correia, Adelaide Filipe, ALI, Ana Flor, Andrea Laudwein, Anne Stenbom, António Alonso, Brigitte von Humboldt, Bruno Guerreiro, Carl Zimmerling, Carmelita Falé, Carolina Pimenta, Catarina Catarina, Christina Anna Maria Kuhn, Eduarda Coutinho, Eva Herre, Francesca Dioguardi, Gabriel Andreas Dirr, Gonçalo Cabral, i_llogic, J-ANT., Kasia Wrona, LeonardoVS, Luís Matos, Maramgoní, Marcelo Pereira, Maria João Cerol, Marino, Namida00, 92
Nélia Duarte, Neusa Negrão, Nothanks, Patrícia Leal, Patrícia Serrão, Paulo, Paulo Figueiras, Pedro Moreira, Pedro Pimenta, Peter Jones, Raymond Dumas, RoMP, Rosa Baptista, Sara Glória, Selzer d’Sousa, Sofia Portela, SORE, Susana Calado, TIMO e ZéVentura. As obras podem ser visitadas nas salas 1, 2 e 3 do Centro Cultural de Lagos, numa autêntica celebração da arte e da criatividade que estará patente, até 19 de março, de terça-feira a sábado, das 10h às 18h, com entrada livre .
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Das viagens, do ser estrangeiro, do nomadismo Mirian Tavares (Professora Universitária) “Faz votos por que seja longa a viagem. As manhãs de verão que sejam muitas Em que o prazer te invada e a alegria Ao entrares em portos nunca vistos (…). Ítaca guarda sempre em tua mente. Hás-de lá chegar, é o teu destino. Mas a viagem, não a apresses nunca”. (...) Kostantin Kaváfis ada abolirá o acaso, por isso não falo do futuro, prefiro reinventar o passado. Fellini fez disto uma arte. Filmou a sua história – que eram várias. O passado é a única coisa que, de facto, nos pertence. E podemos fazer dele o que quisermos: sermos todos, sermos muitos ou um só. Entre imagens e imagens, quem sou eu? O que me faz ser essa e não outra? O que de mim é real? E o que é o real? Li, há muitos anos, quando morava em casa do mano, Um Homem Só, do Christopher Isherwood. Anos mais tarde assisti ao filme. Do romance tinha uma memória vívida da descrição do percurso, entre a casa e a universidade, feito por um homem que já não via nada, entrava no carro e ligava o piloto automático. O percurso era uma névoa, um espaço entre. Era um homem povoado de ausências. Uma amiga disse-me, uma ALGARVE INFORMATIVO #327
vez, que já não levava ninguém para a sua cama. Não por qualquer espécie de mania ou pudor, mas porque já não suportaria dormir ao lado de uma ausência. As ausências fazem parte da vida, principalmente daqueles que, como eu, são nómadas. Diria viajantes, mas a viagem lembra sempre um ir e um vir. E o nomadismo é mais permanente, o que parece ser um oxímoro. Saí de casa, pela primeira vez, aos 18 anos. Mas antes disso já tinha percorrido, com os pais, algumas cidades do Brasil. E cada nova cidade representa novas presenças, mas também muitas ausências. A avó tinha ficado para trás, depois é recuperada, para logo se perder. Os manos mais velhos já não estavam em casa havia muito, e a própria casa tornou-se uma impermanência até que, aos nove anos incompletos, os pais fixaram residência em Fortaleza. A cidade em que eu nascera tinha ficado para trás, e nela os avós, sobrinhos, primos, amigos da tenra infância. Novos amigos e outra parte da 112
Foto: Vasco Célio
família foi reencontrada até que, aos 18 anos, fui estudar noutro estado. Onde permaneci por quatro anos para de seguida mudar-me para São Paulo, que era, para mim, uma cidade-fetiche. Passados quase três anos, voltei para o Nordeste e lá finquei raízes, pensava eu. Até que decidi cruzar o Atlântico, de mala e cuia, e vim parar aqui. Esta é uma versão resumida de uma longa história de perdas e de ausências, mas também de encontros e de muitos ganhos. Estrangeira no país onde nasci, estrangeira no país que escolhi para viver. É uma condição que assumo: estrangeira, 113
nómada, viajante. Inquieta, sobretudo. E chegamos ao presente – com as ausências, novas presenças, as faltas, as falhas no percurso, os desvios e os encontros. O que sei que não sou e o que não sei se sou. Por isso o passado (que é meu) surge como uma ausência garantida e certificada, posso sempre recriar e refazer a minha história. Lá os dados já foram jogados, e só assim conseguimos abolir o acaso .
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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daryan Dornelles A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #327
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