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ALGARVE INFORMATIVO 12 de março, 2022
MÁRCIA | FESTIVAL DE MÚSICA AL-MUTAMID | CAPITÃO FAUSTO | LETHES CLÁSSICO ALGARVE INFORMATIVO2022» #330 «NEON80» | ÁREA DE ACOLHIMENTO EMPRESARIAL DE LAGOS | «SOPHIA ESTUDANTE 1
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SUMÁRIO
36 - «Feedback» de André Braga e Cláudia Figueiredo estreou em Faro
OPINIÃO 114 - Paulo Cunha 116 - Paulo Bernardo 118 - Mirian Nogueira Tavares 122 - Ana Isabel Soares 124 - Adília César 126 - Fábio Jesuíno 128 - Lina Messias
50 - Festival de Música al-Mutamid em Loulé 28 - «Sophia Estudante 2022» em Albufeira
104 - «Neon80» de Beatriz Dias em Loulé 18 - PRR ajuda a criar Área de Acolhimento Empresarial de Lagos
76 - Ciclo Lethes Clássico em Faro ALGARVE INFORMATIVO #330
64 - Capitão Fausto em Lagos 8
90 - Márcia no Cineteatro Louletano
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Carlos Miguel, Maria Joaquina Matos, Fernando Alfaiate, Ana Abrunhosa, Hugo Miguel Pereira, Isabel Ferreira e José Apolinário
PLANO DE RECUPERAÇÃO E RESILIÊNCIA AJUDA A CRIAR ÁREA DE ACOLHIMENTO EMPRESARIAL DE LAGOS DE NOVA GERAÇÃO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina Ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, deslocou-se a Lagos, no dia 2 de março, para assistir à assinatura do contrato entre a Câmara Municipal de Lagos e Estrutura de Missão Recuperar Portugal com vista à instalação de uma Área de Acolhimento Empresarial de nova geração no âmbito do PRR – ALGARVE INFORMATIVO #330
Plano de Recuperação e Resiliência. A cerimónia decorreu num auditório dos Paços do Concelho muito bem composto de empresários lacobrigenses, para satisfação do edil Hugo Miguel Pereira, para quem o dia constituiu “um marco ímpar para o nosso concelho”.
“Fomos a única candidatura aprovada para a região e passamos a ter em mãos a execução de um projeto que, não só irá acelerar o 18
desenvolvimento empresarial e socioeconómico de Lagos, mas também concorrer para que o Algarve siga para um paradigma sustentado de indústria e serviços que, associado a um elevado potencial de modernização tecnológica, contribuirá para um Portugal mais coeso. Ao longo dos últimos anos, o Município de Lagos e os seus empresários têmse envolvido de forma ativa e participada, estabelecendo entre si novos padrões de comunicação, de relação e de cooperação, através da capacitação municipal e 19
empresarial e com a implementação de estratégias que têm vindo a reforçar o suporte e o apoio ao tecido económico local e ao empreendedorismo”, destacou o presidente da Câmara Municipal de Lagos. Um caminho que tem que continuar a ser percorrido, e para novos patamares, entende Hugo Miguel Pereira, dando sequência ao trabalho que tem vindo a ser realizado, mas estimulando, igualmente, as empresas do concelho para um envolvimento integrado com as novas agendas climáticas e digitais. “Os
nossos empresários têm, definitivamente, que alargar a sua ALGARVE INFORMATIVO #330
visão e mobilizarem-se para a mudança, cooperando, trabalhando em rede, aglomerando-se, criando clusters e cadeias de valor de especialização produtiva que futuramente sejam escaláveis para outras áreas”, defende o autarca, garantindo que o Município de Lagos estará disponível para os apoiar nesta trajetória. “Tudo aquilo
que já fizemos e o que vamos continuar a fazer traduz a nossa crença nos nossos empresários, na sua capacidade e na sua dinâmica. Temos hoje em cima da mesa um contrato para formalizar que nos permitirá consubstanciar um projeto que é, de longe, um dos passos financeiros mais relevantes que demos no suporte à atividade ALGARVE INFORMATIVO #330
empresarial do concelho de Lagos e que irá certamente alicerçar de forma mais robusta a sua sustentabilidade, modernização e progresso”, acredita Hugo Miguel Pereira. O projeto da Área de Acolhimento Empresarial de Lagos envolve a instalação de mais 200 painéis fotovoltaicos e respetivas unidades de armazenamento que produzirão energia a partir de fontes renováveis, respondendo às necessidades energéticas das empresas ali instaladas; a instalação de 25 carregadores para viaturas elétricas, contribuindo, desta forma, para uma mobilidade que terá que ser cada vez mais sustentável; instalação de tecnologia 5G que, para além das melhorias a nível da comunicação, permitirá melhorar a eficiência produtiva 20
das empresas, a visão integrada na sua logística e o controlo unificado dos autómatos das linhas produtivas; e a instalação de um sistema de prevenção e proteção contra incêndios de base preventiva e tecnológica que permitirá a deteção precoce de ignições até um raio de 15 quilómetros e que funcionará de forma articulada com os diferentes agentes da proteção civil. “Trata-se de
Estou convicto que, com a colaboração, participação e envolvimento de todos, seremos capazes de afirmar a Área Empresarial de Lagos como um exemplo de Área de Acolhimento Empresarial de nova geração, mais resiliente, mais «verde», mais digital”, afirmou o presidente da
um investimento total, sem IVA, próximo dos cinco milhões de euros. É muita responsabilidade, mas estamos preparados para a assumir, porque acreditamos nos nossos empresários, nas mais de 80 empresas instaladas na Área Empresarial de Lagos, nos seus mais de 700 trabalhadores, na nossa terra e nas suas gentes.
Câmara Municipal de Lagos.
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A par de Hugo Pereira, o contrato foi assinado também por Fernando Alfaiate, responsável pela Estrutura de Missão Recuperar Portugal, que tem como objetivo monitorizar e reportar a execução dos projetos que vão receber fundos do PRR, de modo a que estes sejam reembolsados semestralmente pela Comissão Europeia. “Seria de
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todo impossível executar estes projetos de grande dimensão e importância estratégica se não tivéssemos no terreno beneficiários intermediários, um papel que cabe às CCDR. Este investimento toca em duas prioridades essenciais: a transição climática, que vai ajudar a estrutura de custos das empresas, para que sejam mais competitivas e sustentáveis; e a transição digital. O timing aqui é essencial e, estando todos mobilizados nesse sentido, com certeza que iremos concretizar este objetivo”, indicou. ALGARVE INFORMATIVO #330
“CONTRATAR MAIS E MELHOR É O OBJETIVO DE TODOS” Conforme referido, o beneficiário intermediário nestes processos é a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, com José Apolinário a lembrar que em cada uma das cinco CCDR existentes em território nacional teria que verificar-se uma candidatura, e o máximo de três, às novas Áreas de Acolhimento Empresarial.
“Quando começamos este procedimento tínhamos cinco manifestações de intenção no Algarve e tenho que agradecer o empenho do Município de Lagos em apresentar uma candidatura 22
competitiva e correta. A transição climática é um tema imparável, mas, quando hoje olhamos para os preços da energia, ainda mais se compreende como é crucial e estratégico avançar-se rapidamente com comunidades energéticas nas áreas de acolhimento empresarial e envolver-se os empresários na diversificação da base económica”, sublinhou o presidente da CCDR Algarve, não esquecendo igualmente a questão dos cuidados de saúde primários. “Há
um levantamento feito pela ARS Algarve onde está previsto um
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investimento de quatro milhões de euros para a melhoria dos centros de saúde de Lagos e foram criadas expetativas nos autarcas de que seria feito um investimento na ordem dos 39 milhões de euros em centros de saúde no Algarve”, recordou José Apolinário. Depois de assinado o contrato, usou da palavra Ana Abrunhosa, Ministra da Coesão Territorial, que confirmou que este investimento pretende dar às empresas melhores condições de trabalho, para que assim sejam também mais competitivas nos mercados em que operam. “Vai contribuir igualmente
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para aumentar a atratividade do concelho de Lagos e, se outros investimentos para aqui vieram, as empresas que já cá existem também vão beneficiar com isso. As empresas geram riqueza, dinamizam a economia, fixam e atraem pessoas, por isso, queremos que cresçam, que tenham mais ambição”, declarou a governante. “Para além do estímulo ao investimento, trata-se de criar emprego permanente num território ainda marcado por atividades económicas sazonais. E queremos que seja um emprego de qualidade, que ofereça possibilidades de carreira e uma vida profissional aliciante. Só assim conseguiremos fixar os nossos jovens cada vez mais qualificados e atrair pessoas qualificadas de outros territórios, mas também sabemos que as empresas só podem pagar bons salários se forem rentáveis e sustentáveis”. Ana Abrunhosa referiu ainda que a recuperação e reconversão de zonas industriais e empresariais já existentes tem muita dificuldade de acolhimento nos normais quadros comunitários, financiando-se, ao invés disso, a criação de novas zonas por via do Portugal 2020 e do Portugal 2030. “Tendo
consciência de que existem zonas que precisam modernizar-se para ALGARVE INFORMATIVO #330
oferecer às suas empresas as condições que os dias atuais exigem, colocamos no PRR a possibilidade de apoiar a transformação em áreas de acolhimento empresarial de nova geração, e estamos a falar de um verdadeiro salto qualitativo”, evidenciou a Ministra da Coesão Territorial. “Fizemos um aviso para
todo o país no valor de 110 milhões de euros, em Lagos será um investimento em torno dos cinco milhões de euros. Vão criar e armazenar energia renovável, fomentar a mobilidade sustentável, criar ilhas de estabilidade energética e ser zonas de teste da tecnologia 5G. E estamos a falar também de mecanismos de proteção contra incêndios”, enalteceu Ana Abrunhosa, deixando ainda o pedido para que os projetos sejam executados com grande celeridade. “O PRR está a chegar ao
terreno, os grandes dinamizadores e parceiros são as Autarquias, as CCDR, as ARS, e os investimentos têm que estar concluídos até 2026, para melhorarmos a qualidade de vida de todos os portugueses. Hoje já é tarde, vamos arregaçar as mangas, lançar os concursos, porque queremos que rapidamente os empresários possam sentir o benefício deste PRR nas suas condições e custos de trabalho”, finalizou a governante . 24
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Paulo Trancoso, Adriana Freire Nogueira, José Carlos Rolo e Cláudia Guedelha
ALBUFEIRA ACOLHE MOSTRA DE CINEMA UNIVERSITÁRIO «SOPHIA ESTUDANTE 2022» Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina e 4 a 13 de março, Albufeira transformou-se num verdadeiro palco da sétima arte, nomeadamente na área do cinema universitário, ao acolher a mostra «Sophia Estudante 2022». A iniciativa da Academia Portuguesa de Cinema – Associação Portuguesa das Artes e Ciências Cinematográficas tem por ALGARVE INFORMATIVO #330
objetivos incentivar e motivar futuros cineastas, estimular os institutos de ensino e o seu corpo docente, e favorecer o debate e a partilha de experiências, através da presença de diversos especialistas nacionais e internacionais. O pontapé-de-saída do evento aconteceu, no dia 4 de março, com a inauguração, na Galeria de Arte João Bailote, da exposição dos cartazes dos diversos filmes a concurso, com José 28
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Carlos Rolo, presidente da Câmara Municipal de Albufeira, a frisar que estariam, na capital do turismo algarvio,
“as grandes promessas do cinema português”. “Com isto oferecemos às pessoas de Albufeira e do Algarve, não apenas a possibilidade de ver cinema inovador e de qualidade, mas também dos mais jovens participarem em diversos eventos, como workshops e oficinas de cinema de animação. O Município de Albufeira está verdadeiramente apostado em trazer para o concelho os maiores certames nacionais e internacionais de cinema, com toda a indústria que lhe está inerente, bem como aumentar significativamente o número de produções que têm ALGARVE INFORMATIVO #330
como pano de fundo a nossa terra. Deste modo, tornaremos as nossas paisagens conhecidas a nível mundial, porque o meio audiovisual é extremamente importante para a promoção dos destinos turísticos”, afirmou o edil. . Paulo Trancoso, presidente da Academia Portuguesa de Cinema – Associação Portuguesa das Artes e Ciências Cinematográficas, não teve dúvidas ao considerar que o futuro do cinema português estava a passar, por estes dias, por Albufeira, já que participavam no «Sophia Estudante 2022» várias escolas de todo o país.
“Concorreram 89 curtasmetragens de 21 escolas com cursos de cinema e eles e elas serão os cineastas do futuro em Portugal, os realizadores, os 30
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diretores de fotografia e de cenário, os atores e atrizes. Tivemos 27 filmes concorrentes na área de Ficção, 18 na Animação, 19 no Documentário, 20 na área Experimental e 8 no Mestrado e Doutoramento. Em simultâneo, são 87 cartazes a concurso e, em termos do design gráfico do evento, foram 46 concorrentes, sendo que o primeiro e o segundo lugar são do Algarve, através da ETIC”, referiu Paulo Trancoso, que agradeceu à Câmara Municipal de Albufeira por ter decidido acolher o concurso. “É um excelente passo
para se descentralizar os eventos relacionados com a cultura e estamos muito gratos por este apoio. Mas é também uma conjugação de esforços que ALGARVE INFORMATIVO #330
envolve a Universidade do Algarve e a ETIC, responsáveis pelas oficinas, e só assim é que conseguimos fazer coisas”. Os filmes candidatos aos Prémios «Sophia Estudante 2022» foram produzidos, em português, pelos alunos dos estabelecimentos do ensino superior e técnico durante o ano letivo de 2020/2021 e o programa inclui diversas masterclasses, exposições, projeções e mesas redondas, subordinadas ao tema «A Realização no Cinema», bem como debates dedicados ao «Cinema Tecnológico» (cinema do futuro). Peter Webber, o realizador do filme «Rapariga com Brinco Pérola», é presença confirmada numa das masterclasses a ter lugar no dia 12 de março. Já a Gala dos Prémios Sophia 2022 está agendada para o dia 13 de março, às 15h, no Auditório Municipal de Albufeira . 32
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ANDRÉ BRAGA E CLÁUDIA FIGUEIREDO ESTREARAM «FEEDBACK» EM FARO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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CRL – Central Elétrica estreou, em Faro, nos dias 4 e 5 de março, «Feedback», a mais recente criação da dupla André Braga e Cláudia Figueiredo. Em palco temos um monte de pedras, um microfone e André Braga, depois, escutase o som, o sopro e uma confissão. “O
que pode um corpo? Que corpo é este que vimos perseguindo? Andamos à procura de novas gramáticas de sensibilidade, da inteligência selvagem dos corpos, do corpo chão da terra que reflete memórias ancestrais e ALGARVE INFORMATIVO #330
desconhecidas. O corpo tem geometria e formas que ninguém ouve”, explicam os diretores artísticos do espetáculo, acrescentando que “o som captado e manipulado ao vivo foi a pista eleita para centrar a pesquisa”. “Elemento invisível que promove a baralhação entre o dentro e o fora, é incrível a variação dos lugares que se conseguem visitar com um microfone”, reforçam. Interpretado por André Braga, «Feedback» tem som ao vivo de João Sarnadas, desenho de luz de Cárin Geada, direção de produção de Ana 38
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Carvalhosa, produção de Cláudia Santos e coordenação técnica de Pedro Coutinho. O espetáculo é uma coprodução da CRL – Central Elétrica, Teatro Municipal do Porto / DDD – Festival Dias da Dança, Teatro das Figuras e Teatro Académico Gil Vicente, tendo decorrido duas residências de
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criação em Mindelact (Cabo Verde) e 23 Milhas – Fábrica das Ideias. A Circolando / CRL – Central Elétrica é uma estrutura subsidiada por Ministério da Cultura / Direção Geral das Artes, contando ainda com o apoio do Município do Porto e IEFP / Cace Cultural do Porto .
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FESTIVAL DE MÚSICA AL-MUTAMID LEVOU IBN MISJAN ENSEMBLE A LOULÉ Texto: Daniel Pina | Fotografia: Jorge Gomes
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músico mais importante da época dos Omeyas foi Ibn Misjan, nascido no seio de uma família persa, que aprendeu desde tenra idade a prática bizantina e persa. O nome deste músico foi a fonte de inspiração para um projeto constituído por quatro músicos nascidos em dois países árabes diferentes, mas que durante séculos beberam de uma mesma fonte espiritual e artística. Ibn Misjan Ensemble é composto pelos músicos Hicham Khyry, Houssam Hammoumi e Yassin Amesnaou 53
(Marrocos) e Salah Eddin (Síria), que interpretam músicas tradicionais do Médio Oriente e Magrebe e que esgotaram por completo a lotação do Cineteatro Louletano, no dia 5 de março, num concerto inserido no Festival de Música al-Mutamid. Ibn Misjan Ensemble conta igualmente com a participação de Manuela Caballero, bailarina de dança oriental, traduzindo-se, por isso, num espetáculo repleto de cor, beleza e sensualidade. No final, Emad Selim apresentou ainda a dança egípcia «tanoura», originária de uma forma sufi Zikr, que cria a ilusão de um caleidoscópio humano, provocando um efeito hipnótico no espetador . ALGARVE INFORMATIVO #330
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CAPITÃO FAUSTO EM EXCELENTE FORMA EM LAGOS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Ricardo Coelho
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comemorar o 10.º aniversário do lançamento do seu primeiro disco, os Capitão Fausto prometem percorrer, em 2022, Portugal de norte a sul, enchendo os ALGARVE INFORMATIVO #330
teatros e auditórios por onde vão passando e fazendo as delícias dos seus fãs. E o Centro Cultural de Lagos foi disso um bom exemplo, na noite de 4 de março, num excelente concerto onde a banda revisitou a sua obra integral .
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ORQUESTRA CLÁSSICA DO SUL DEU «CONCERTO DE CARNAVAL» NO TEATRO LETHES Texto: Daniel Pina | Fotografia: Irina Kuptsova
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música clássica regressou ao Teatro Lethes, em Faro, no dia 24 de fevereiro, com mais um capítulo do Ciclo Lethes Clássico, protagonizado pela Orquestra Clássica do Sul. Deste feita, a mais bela sala de espetáculos da capital algarvia assistiu a ALGARVE INFORMATIVO #330
um «Concerto de Carnaval» repleto de irreverência, provocação e humor. Entre personagens malandras e atrevidas, passando pela divertida recriação de compositores célebres, o concerto remeteu o público para a folia e a fantasia das máscaras carnavalescas, escutando-se obras de R. Strauss, L. Spohr e P. D. Q. Bach . 78
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CINETEATRO LOULETANO FESTEJOU DIA INTERNACIONAL DA MULHER COM CONCERTO DE MÁRCIA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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Cineteatro Louletano assinalou o Dia Internacional da Mulher, a 8 de março, com um concerto de Márcia, que veio até Loulé dar a conhecer o seu mais recente disco, «Picos e Vales». Márcia é, sem dúvida, um dos maiores talentos da composição em língua portuguesa, conforme o comprovam os seus discos, mas também os muitos temas que cria para outros artistas. A sua caminhada começou com o EP «A Pele que Há em Mim», seguindo-se «Dá», «Casulo», «Quarto Crescente» e «Vai e Vem», disco que conquistou o Prémio José da Ponte da ALGARVE INFORMATIVO #330
Sociedade Portuguesa de Autores, bem como uma nomeação para os Globos de Ouro da SIC / Caras com a música «Tempestade». Em 2019, passou por eventos como o NOS Alive e o EDP Fado Café e atuou no Coreto e no Coliseu dos Recreios. As cidades do Rio de Janeiro e São Paulo receberam as suas primeiras apresentações em solo canarinho, após o que escreveu o seu primeiro livro, «As estradas são para ir», uma combinação de ilustrações feitas pela artista e uma partilha de canções, crónicas e pensamentos. Em Loulé, Márcia apresentou um espetáculo impactante com canções pautadas por uma narrativa de luz muito personalizada . 92
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Beatriz Dias surpreendeu o Cineteatro Louletano com o seu Neon 80 Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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Cineteatro Louletano, em Loulé, acolheu, no dia 4 de março, o estonteante «Neon 80», criado e interpretado pela bailarina Beatriz Dias. “A performance
traça o seu labirinto inspirada nos conceitos de cyberpunk, cyberspace, cyborbody e videogame e enaltece o lado marginal de um corpo, a sua persistência e sobrevivência, a sua oposição às regras e a sua busca por um espaço de liberdade, acreditando na transformação do género binário para um lugar de metamorfose, de hibridez extensiva ALGARVE INFORMATIVO #330
e na qual a prótese é integrada como um membro integrante do corpo humano”, explica a artista. Com criação sonora de Miguel Lucas Mendes, apoio à dramaturgia e desenho de luz de André de Campos e cenografia de Nuno Tomaz, «Neon 80» é uma coprodução do Centro Cultural de Belém, Cineteatro Louletano e Companhia Olga Roriz, depois de uma residência de coprodução n’ «O Espaço do Tempo». Contou com o apoio à criação da OPART/Estúdios Victor Córdon e da Fundação GDA, assim como da República Portuguesa – Ministério da Cultura/Direção Geral das Artes .
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Guerra e paz Paulo Cunha (Professor) pós ter escrito a obra-prima «Guerra e Paz», Leon Tolstói, falando sobre a mesma, referiu: “A guerra não é apenas a ação militar dos exércitos em luta, mas também a animosidade e a desunião das pessoas em tempos de paz, separadas por barreiras sociais e morais, pela alienação e isolamento e pelo seu egoísmo. Igualmente, a paz nega a guerra porque a sua essência está no trabalho e na felicidade, na manifestação livre e natural da personalidade”. Não me é fácil nem atrativo escrever sobre temáticas que abordem o pior do ser humano, até porque já tudo foi dito, escrito, abordado, discutido e esmiuçado, principalmente quando o assunto é a guerra. Seria, por isso, uma perda de tempo e um fraco exercício intelectual reproduzir, por outras palavras, o que todos os «especialistas» em assuntos bélicos falam sobre as guerras que assolam diversos países. Já me bastou o que tive de aprender, ensinar (e sofrer) nos dezoito meses em que servi a pátria, cumprindo o Serviço Militar Obrigatório! Uma das características basilares para o pleno funcionamento da estrutura militar é a obediência e o cumprimento das ordens exaradas pelos superiores ALGARVE INFORMATIVO #330
hierárquicos. Todas as estruturas militares dos diversos países devem assim obediência inquestionável aos seus presidentes, na qualidade de comandantes supremos das forças armadas. Quem não o fizer será, obviamente, severa e exemplarmente punido e castigado. Não é, pois, de estranhar que a única forma de depor os chefes de estado de regimes autocráticos seja a desobediência das forças armadas, consubstanciada, na maioria das vezes, em golpes de Estado. A história está repleta de ocorrências que assim o comprovam. Por mais que se usem as costumeiras cartilhas militares, lavagens cerebrais e pós-verdades para convencer os subordinados, é impossível justificar o injustificável e explicar aos soldados porque é que, servindo de «carne para canhão», irão ter de matar pessoas desconhecidas que nunca lhes fizeram qualquer mal. Indiferentemente, são todos seres humanos forçados a desumanizarem-se, matando - por ordem superior - militares e civis. É o medo, esse estado emocional que surge como resposta perante uma situação de eventual perigo, que faz com que o cérebro ative, involuntariamente, uma série de compostos químicos que provocam as reações que o caracterizam: o confronto ou a fuga. É por isso de 114
desconfiar de quem, menosprezando o bem-estar do seu povo, investe em arsenal militar como forma de ostentar poder e assim, através do medo, condicionar e pressionar. Dir-me-ão que investir em armamento é inevitável, face aos eminentes ataques de potências militares repletas de equipamento bélico ao dispor dos seus presidentes. Sim, é uma consequência da loucura e dos desvarios de ditadores e tiranos que têm o poder de usar pessoas como armas de arremesso contra outras. Tal como o efeito da bola de neve que aumenta à medida que desce a montanha, também a quantidade de 115
armamento letal nas mãos de gente inconsciente e inconsequente irá avolumar-se à medida que o tempo passa. O efeito é expetável: em nome do ter, brevemente deixaremos de ser/existir! Voltando ao escritor com que comecei, deixo aqui dois pensamentos seus que nos poderão ser úteis: “O homem não tem poder sobre nada enquanto tem medo da morte. E quem não tem medo da morte possui tudo”, “Não alcançamos a liberdade buscando a liberdade, mas sim a verdade. A liberdade não é um fim, mas uma consequência” . ALGARVE INFORMATIVO #330
Caridade e uma selfie Paulo Bernardo (Empresário) ão sei bem quantos anos tinha, mas era muito criança ainda, numa véspera de Natal, o meu pai incumbiu-me de uma missão, entregar uma couve-flor a uns vizinhos que não tinham conseguido comprar uma para a tradicional ceia de Natal, e disseme “vai, mas não faças publicidade pelo que vais oferecer”, e disse mais, “não deixes a tua mão esquerda saber o que faz a direita”. Não entendi muito bem a história da mão direita e da mão esquerda, mas não me esqueci, ficou gravado e mais tarde vim a entender o significado. Isso leva-me ao assunto de hoje, a caridade feita sobre forma de promoção pessoal, ao invés de vontade de ajudar os outros. Vou vendo perfis nas redes sociais que misturam duas fotos das Maldivas, a foto a ser vacinado, mais um post feito por um chefe da moda e mais duas fotos a ir para a fronteira da Polónia a recolher alguns refugiados. Não consigo ver nexo em tirar fotos com pessoas que se deixam fotografar como a vítima junto ao carrasco a ver se isso a salva da morte. Largos sorrisos ao longo da viagem como se de uma ida à Cortina d'Ampezzo com um grupo de amigos. Saúdo e agradeço todo o empenho e ajuda de ALGARVE INFORMATIVO #330
pessoas anónimas que têm feito um trabalho Hercúleo, repudio todos os que o fazem como forma de autopromoção. Já temos até atores a dizer que para férias não têm tempo, mas para ir para a Polónia já fizeram um grande sacrifício e lá foram. Outro tema que me deixa meio abismado é a ganância de já colocar os refugiados a trabalhar. Refugiados, definição da ACNUR, são pessoas que deixaram tudo para trás para escapar de conflitos armados ou perseguições. Não são migrantes, definição da ACNUR, migrantes escolhem deslocar-se, não por causa de uma ameaça direta de perseguição ou morte, mas principalmente para melhorar a sua vida em busca de trabalho ou educação, por reunião familiar ou por outras razões. Contudo, a pressão que é feita para os colocar a trabalhar é enorme. Não vi a mesma vontade quando os mesmos eram mais para as bandas do Norte de África, não vi uma página no IEFP com oferta para os Sírios. Será que temos refugiados de primeira e de segunda? O que os refugiados agora querem é paz, comida e tranquilidade. Não estou contra absorver os que quiserem recomeçar a vida em Portugal, mas também entendo que a maioria pretenda voltar o mais breve possível para as suas casas. Como li numa entrevista, uma 116
menina dizia que esperava voltar o mais rápido possível para ver se os seus brinquedos estavam bem. Não tornemos um movimento singelo e bonito por um lado numa feira de vaidades e, por outro, numa feira de emprego. Deixo-vos com a passagem da Bíblia que faz referência à caridade:
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“Por essa razão, quando deres um donativo, não toques trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Com toda a certeza vos afirmo que eles já receberam o seu galardão. Tu, porém, quando deres uma esmola ou ajuda, não deixes tua mão esquerda saber o que faz a direita. Para que a tua obra de caridade fique em segredo: e teu Pai, que vê em segredo, te recompensará (Mateus, 6)” . ALGARVE INFORMATIVO #330
O Reino de Portugal e dos Algarves na obra de Costa Pinheiro - Exposição no Museu Municipal de Faro Mirian Nogueira Tavares (Professora universitária) “Naquela hora estimada pelas feiticeiras, quando o sol se encontrava com a terra e a noite com o dia, tomado de saudades do país natal, nosso tio valia-se de cinza peneirada para cortar as sombras”. Bernadette Lyra
o seu livro Memória das Ruínas de Creta, a escritora brasileira Bernadette Lyra fala duma ilha, mítica e real, metamorfoseada numa nação que acolhe estrangeiros. Fala-nos da memória, da construção labiríntica daquilo que permanece dentre o muito, da nossa vivência, que se esvai: “Estrangeiro que era, nosso tio era prisioneiro do mar”. Convocada a escrever sobre uma parte da obra do grande artista Costa Pinheiro, que viveu como estrangeiro dentro e fora do seu país, permiti-me convidar alguns autores que me acompanham desde sempre e que falam, como Costa Pinheiro o fez, de fora para dentro, de um lugar periférico, estrangeiro. De um lugar que não é apenas um país, mas toda uma mitologia. “Um céu renascentista...” dizia Costa Pinheiro, enquanto fumava tranquilamente a sua cigarrilha. Com ALGARVE INFORMATIVO #330
gestos lentos e voz grave, mostrava-nos o céu sobre nós. E mais adiante estava o mar. A noite era suave e havia brisa. Estávamos na serra a ver a cidade que, lá em baixo, parecia mais pequena do que era. E eu, cansada, depois de um dia exaustivo, desfrutava da companhia, do céu e da vista. Há dias em que faz bem afastar-se e ver as coisas de longe – tudo se relativiza. E a beleza que nos circunda, que muitas vezes não vemos, reaparece assim, plena, num céu de fim de tarde visto do cimo da serra. Um céu renascentista em pleno século XXI. Essa é uma das memórias mais belas que tenho da minha convivência com o artista, que ensinava, quase sem nada dizer, a ver a beleza, a perceber a grandiosidade da arte e daquilo de que somos capazes de fazer quando olhamos e, verdadeiramente, vemos. Conheci Costa Pinheiro quando ele aceitou dar aulas na então recém-criada licenciatura em Artes Visuais da Universidade do Algarve, em 2005. Os 118
Foto: Vasco Célio
alunos não faziam ideia de que tinham diante de si um dos maiores nomes da Arte Contemporânea, não só portuguesa, mas europeia. A sua obra era demasiado grande para um país que encolhera nos anos 60, momento em que ele despontava como artista. Talvez a consciência dessa pequenez tenha impulsionado a criação da série de figuras emblemáticas, e míticas, a que chamou Os Reis. 119
A monarcografia de Costa Pinheiro, como assim a denominou Bernardo Pinto de Almeida, abrange um período vasto da História de Portugal, que é também um período rico na criação de mitos. A mitologia fundadora da nação portuguesa, com os seus reis, rainhas e desbravadores, é representada de forma simbólica em cada uma das personagens desta série de Costa Pinheiro. Desde D. Leonor Teles, A Aleivosa, passando por D. ALGARVE INFORMATIVO #330
Dinis, O Lavrador e terminando em D. Inês de Castro, vislumbramos algumas chaves para a descodificação do imaginário do artista. Além dos elementos mais emblemáticos de cada Casa Real, o que se destaca nos quadros, assim como nos desenhos que os antecederam e prepararam, é a amálgama entre a História e o que dela se contou – seja através da poesia de Camões, dos elementos que perduraram na cultura popular, ou da obra emblemática de Fernando Pessoa, que ajudou a transportar para a contemporaneidade os traços marcantes de cada um dos reis e das rainhas que integram as muitas (H)histórias do país. D. Filipa de Lencastre, cujos olhos remetem para duas aves, representa a mudança de dinastia na História de Portugal para a Dinastia de Avis, que promete levar aos quatros cantos do mundo a palavra de Deus, emulada pela ave que representa o Espírito Santo. Na acurada leitura que faz de cada uma das obras desta série, Bruno Marques refere que Costa Pinheiro transforma, aos poucos, a imagem mais etérea da Rainha, de olhos de ave, na imagem que dela se imortalizou – da dureza e da severidade do seu comportamento, movido pelo sentido de dever. As imagens de D. Pedro, O Infante das Sete Partidas, do Infante D. Henrique, O Navegador e de D. Nuno Álvares Pereira, O Santo Condestável, remetem, uma vez mais, para as palavras de Fernando Pessoa, que, através da sua Mensagem, plantou com palavras a visão que se consagrou de cada um desses reis e rainhas, parte ALGARVE INFORMATIVO #330
fundamental de uma História de expansão e de coragem, de lutas e de desditas. É o caso da obra que representa D. Pedro – composta por remendos, que retratam a dupla face do Infante maldito, atraiçoado durante a sua vida e relegado para um canto menos feliz, e mais sombrio, da História. D. Sebastião I, O Desejado e O Adormecido é, por si só, uma das figuras mais míticas da cultura portuguesa. A sua imagem é tão emblemática que apenas uma efígie é suficiente para preencher a memória de um povo que espera por um regresso, metafórico e real, do período de lutas e glórias do rei salvífico e do eterno herói. Tal como escreveu Bernardo Pinto de Almeida, o gesto criador de Costa Pinheiro foi mal recebido e mal interpretado por muitos. Confundido com um rasgo nacionalista, não perceberam que era, antes de tudo, um gesto revolucionário, em suma, um gesto artístico – pois o artista não se permite agrilhoar nem se acobarda diante daquilo que o fustiga. A nação estava ideológica e politicamente apequenada e era preciso invocar a sua verdadeira grandeza, aquela que ajudou a reconfigurar o mapa do mundo, para retratar os que impulsionaram essa aventura. Mas Costa Pinheiro fê-lo de forma irónica, criando um conjunto de figuras que se tornaram emblemáticas – figuras de um jogo de cartas que não perdeu ainda o sentido e cujas regras não se alteraram, mesmo se as figuras já não são as mesmas e o pendor republicano, que subjaz à noção de democracia em Portugal, as relegou para um canto 120
obscuro da História ou dos manuais escolares.
Os Reis, de 1965, ao seu retorno à pintura, em 1976.
A exposição foi vista pela primeira vez em Munique, onde Costa Pinheiro decidiu autoexilar-se. Rendeu-lhe o Prémio Burda e imensa admiração pela obra de um artista único que conseguia tornar a sua obra maior que o seu tema, pois tratava de uma cronologia desconhecida da maior parte dos alemães. Tal facto, conforme Bernardo Pinto de Almeida *, em vez de incentivar o artista, paralisou a sua criação. Deixou-o atónito com o sucesso alcançado, mas sentindo-se numa encruzilhada – sem querer repetir-se, não sabia muito bem que caminho trilhar a seguir.
Nessa exposição, no Museu Municipal de Faro, teremos a oportunidade de conhecer de perto a coleção do Galerista Mário Roque, composta não apenas dos quadros, mas também de desenhos que precederam muitas das obras. Num brilhante ensaio sobre essa coleção, Bruno Marques faz uma leitura acurada de cada obra e consegue vislumbrar, exatamente por ter a possibilidade de confrontar o percurso dos quadros nas várias versões que o precedem, nos experimentos que geraram outras obras, o processo de criação de Costa Pinheiro.
Muitos, na verdade, foram os caminhos que ele percorreu, como diversas eram as técnicas, ferramentas e suportes que o acompanhavam. Mas ele gostava de ver-se a si mesmo como pintor. Pintor de uma obra que, em diversas ocasiões, se expandiu pra fora das telas e criou corpo e ocupou espaço. Entre 1969 e 1976, surgiu o projeto Citymobil, uma cidade utópica em que Costa Pinheiro convidava os habitantes das grandes cidades modernas a encontrar, na sua vivência opaca, o lúdico, a possibilidade de usar a imaginação para criar cidades impossíveis dentro da cidade real. Mais uma vez o jogo ocupa um lugar central na sua iconografia, das cartas de baralho dos Reis, aos móbiles de uma cidade que se queria viva e fluida. Citymobil representa ainda, na obra do artista, o interregno entre a exposição 121
O Reino de Portugal e dos Algarves na obra de Costa Pinheiro é uma forma da região que o artista escolheu para viver, depois de voltar do seu exílio alemão, para manter viva a memória de alguém que, constantemente, destruiu barreiras e construiu um percurso único na Arte Contemporânea. Um percurso repleto de memórias e de revisitações a um país tão seu, mas também estrangeiro. Com os seus reis, rainhas, infantes e um notável cavaleiro, Costa Pinheiro põe-nos a pensar no que escreveu Bachelard: “Será necessário, consequentemente, do ponto de vista da própria vida, tentar compreender o passado pelo presente, longe de tentar incessantemente explicar o presente pelo passado” . * B. P. de Almeida, op. cit.
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Quadragésima sétima tabuinha: Joelho (VIII) Ana Isabel Soares (Professora universitária) uma entrevista de 1963, aquando de uma mostra de obras suas em Pasadena, Marcel Duchamp refere-se ao famoso – «malgrè moi»* – quadro Nu descendo a escada (1911-12, Museu de Arte de Filadélfia). Percebe-se que o entrevistador quer ouvi-lo falar de como a obra se enquadra no Cubismo, mas o artista desvia o fio da conversa e explica que, daquela tendência artística, mais do que o desmantelamento dos objetos lhe interessava a repetição: era isso que lhe permitia introduzir, numa arte de estática, que tinha de conviver já com o cinema, a ideia e a imagem do movimento. Outro quadro que se aponta nessa entrevista é Le Roi et la Reine entourés de nus vites (1912, acerca do qual, coisa curiosa, Duchamp conta como a irmã lhe confundiu o título, que pensava ser «O Rei e a Rainha rodeados de nuvens rápidas», não de nus). Feito na mesma altura de Nu descendo a escada, Le Roi et la Reine refere-se a duas das peças do tabuleiro de xadrez, explica o autor, e não a figuras literais do poder monárquico. O movimento também é indiciado nesse quadro, mas esbate-se na ideia confinada e plana do jogo. É o Nu que celebra, exalta, exibe o ALGARVE INFORMATIVO #330
movimento: a mesma figura nua que cinco vezes se repete, como para deixar inscrito o rasto da sua descida, degrau a degrau, no mais esquemático que se pode mostrar da descida. O quadro ganhou notoriedade e causou escândalo no público norte-americano, quando foi mostrado em 1913, na Exposição Internacional de Arte Moderna de Nova Iorque – o Armory Show, como ficou conhecido, por se ter realizado no armazém do 69.º Arsenal do Exército, na Avenida Lexington de Manhattan. Era a primeira vez que, em larga escala, o público norte-americano se via confrontado com a quebra da ideia da beleza, da perfeição clássica. Sem surpresa, assustou-se, reagiu com desgosto. O Modernismo insinuava-se, mas despudorado, e os olhares tremeram. Uma das peças que mais indignação provocaram foi a de Duchamp: que Nu era aquele, de aspecto angular, que assim feria o mais harmonioso padrão da pintura clássica? A guerra mundial não fora ainda, o olhar para a arte desconhecia membros explodidos, um corpo desfeito, desmontado como boneca articulada. Ainda só tinham passado 15 anos da primeira chapa de raio-X – as estruturas descarnadas não eram chamadas para a arte senão como alegoria da desgraça, da morte, jamais da beleza. Aquele nu era a paródia de um corpo, gargalhada de 122
linhas trazidas da Europa para troçar de um público tido por pouco sofisticado e rude, que quis ripostar na mesma moeda: Duchamp estava era a mostrar os brutos que descem as escadas do Metro novaiorquino!, exclamaram**. A ofensa estaria nesse desequilibrar da harmonia antiga, com certeza – mas talvez fossem as arestas do corpo, tão bruscamente atiradas aos visitantes do Arsenal, a ausência de curvas que, como estilete ou lança, laceravam. As zonas da cabeça, ao alto, e da bacia, a meio da figura descendente, ainda restavam sinuosas, inclinações sem quebra – porém, nos joelhos ela desmanchava-se, escaqueirava-se, caco separado a sublinhar a desconexão temporal e espacial do movimento. O joelho pontuava a fenda abrupta a desligar coxa e canela, fazia daqueles membros os degraus que eles mesmos desciam: no quadro, a escada do título desenha-se discreta, ao canto inferior esquerdo, em tons escuros – é a articulação das pernas, iluminada, que fixa os planos vertical e horizontal, intersetados, que forma, propriamente, em cada passo, cada degrau. Joelhos e escadas. Uns e outros, por angulosos, os injustiçados da arte e da arquitetura. O historiador Pablo Vázquez Gestal olha para as escadas para lá da sua existência enquanto elemento arquitetónico, interroga-se sobre o desprezo a que hoje são votadas e esmiúça nelas relevâncias culturais: “Tendo sido declaradas inimigas do conveniente e do prático, do prudente 123
Foto: Vasco Célio
e do cómodo, as escadas lutam por sobreviver num mundo que alardeia um manifesto desdém pela ascensão compassada e rítmica, gradual e reflexiva, numa vida de mudanças perpétuas e ditadas transformações”.*** O problema das escadas, então, é contrariarem o fluir numa modernidade líquida e veloz. Pouco importa que, em Gestal, o desprezo da sociedade seja pela ascensão, e que Duchamp centrasse na descida a atenção. É verdade que uma levará ao Paraíso, a outra aos infernos – mas escadas e joelhos têm a irmaná-los o mesmo destino . *https://www.dailymotion.com/video/xmjq qw ** Umas semanas depois do Armory Show, foi publicada no jornal The New York Evening Sun uma caricatura do quadro de Duchamp: chamou-se «The Rude Descending a Staircase (Rush Hour at the Subway)» – «Os Brutos Descendo uma Escada (Hora de Ponta no Metro)». *** «Sólidas, útiles, bellas. Las escaleras y la cultura occidental», Pablo Vázquez Gestal in Antonio Ruiz Barbarin (ed.), Setenta escalones. La escalera en el tiempo y en el espacio, Madrid: Caser, 2012, pp. 14-38. ALGARVE INFORMATIVO #330
Notas Contemporâneas [34] Adília César (Escritora) “Encontrando aos pés uma pedra, nós não ficamos num tremor de emoção, a interpela-la em violentas estrofes, à espera que uma voz de dentro responda revelando o inefável mistério: homens positivos, as pedras utilizamo-las para levantar mais o nosso muro ou apedrejar mais o nosso semelhante”. Eça de Queirós (1845-1900), in Notas Contemporâneas (1909, obra póstuma)
Á UM ROSTO, em cada casa, que está à espera. Esperar é acreditar na possibilidade de uma ideia. Uma ideia positiva, como um jardim em redor da casa. Um jardim de flores coloridas como se fossem sentimentos do lar. Aquele rosto que espera, por dentro de cada casa, sabe que algo vai começar a bater à porta, vai começar a tocar à campainha. Vai conseguir entrar, à força. O rosto da casa sente o sobressalto. Pressente o espasmo da invasão. Contudo, quem espera nada alcança: é preciso fazer alguma coisa. É preciso iniciar a viagem, pisar as ruínas, invocar um deus qualquer. Enquanto ainda não batem à porta. Enquanto ainda não tocam à campainha. Enquanto ainda não entram à força. O rosto exibe a urgência de olhar o jardim, de regar as raízes dos dias, pela última vez. Agora, é preciso acautelar a vida. * ANTES, eu era a rainha das flores pequenas e passeava pelos canteiros, sulcando rugas no ALGARVE INFORMATIVO #330
rosto da casa. Alguém disse que eu estava destinada a escalar a montanha mais alta, descobrir o tesouro mais valioso, sobreviver à tempestade perfeita. Mas nada disso aconteceu. Lentamente, desviei-me dessa rota vitoriosa. A cada passo, a cada olhar, havia uma assombrosa descoberta nas pequenas coisas que se amontoavam em redor da casa: a fragilidade, o toque, a subtileza disso. Pétalas levemente pousadas no chão, subjugadas à minha irresponsável podestade. Um dia, coloquei uma coroa de flores e caminhei pelo mundo, de cabeça erguida. As flores cresceram na minha imaginação e, ao fim de algum tempo, tornou-se difícil caminhar com uma cabeça tão desproporcionada em relação ao corpo, assim ampla e expansiva, como um balão a arder no drama que era agora a minha vida. O corpo, a raiz. Ao mesmo tempo, o manto que me cobria, de tão intensamente humano, dissolvia-se em fios de sangue. Alguém disse que isto se chamava inquietação. A viagem, essa estranha substituta. * UMA CABEÇA a arder no drama, vinda de uma voz de dentro. Muitas cabeças a arder no mesmo 124
drama: dúvidas, angústias filosóficas, limitações existenciais. E também medo. Ao longe, há um coro de vozes monocórdicas que me impede de acordar. Quem sou eu, assim derramada sobre o lençol branco e asséptico, nos confins da escura gruta? Quem és tu, minha pequena flor a nascer no meio das pedras? Por entre as sombras, outras sombras: o que vejo não é o que eu queria ver. * O TEMPO descaminha a grandeza da minha viagem. O passaporte está em branco. A campainha não pára de tocar. A porta abre-se repentinamente porque era impossível permanecer fechada sobre o seu próprio rosto. A porta abre-se num grito, como se fosse uma garganta estilhaçada. O rosto desfeito ainda quer olhar o jardim, ainda quer regar as raízes dos dias. Ainda quer acautelar aquela vida. Ainda. A casa é agora um lar apenas invocado, uma igreja sem deus. As suas ruínas são as minhas memórias. * A VIAGEM é uma estranha substituta para a vida. Uma esperança. Um número de telefone. Uma fatia de pão. Um choro. Uma cama improvisada. Um pacote de bolachas. Uma interrupção. Um soldado. Uma garrafa de água. Um vazio. Uma ferida. Um olhar para o que ficou para trás, apenas um. Uma notícia. Outra notícia. Mais uma notícia. E mais outra notícia. Ainda a mesma notícia. Um carrocel. Um discurso incompreensível. Ou então ainda é um sonho. Olhar em frente. Mas.
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* EIS A PORTA que eu tanto procurava. Descubro um outro mundo bem diferente daquele que me parecia tão real, tão meu, tão íntimo. Tão estrangeiro. Aqui, neste mundo novo, eu e os outros que me seguem já não somos caminhantes, mas sim o próprio caminho. Sem rosto, sem casa, sem jardim. Somos pedras. Somos um país. Somos outro país. E também somos uma comovente vergonha do espectador que assiste ao noticiário das oito, sentado no seu confortável sofá. Nós – os caminhantes, as pedras – olhamos o teu rosto, vemos a tua casa quando chega a última hora do dia. Estás cansado? Então bebe um chá, apaga a televisão, veste o pijama. Deita a tua consciência. Enquanto ainda não batem à porta. Enquanto ainda não tocam à campainha. Enquanto ainda não entram à força. Que farás daqui para a frente com as raízes dos teus dias? .
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A guerra das notícias e informações falsas na internet Fábio Jesuíno (Empresário) ara além da guerra militar, existe a guerra das notícias e informações falsas, que também faz vítimas, pode e deve ser combatida por todos. A internet revolucionou a forma como comunicamos, permitiu dar voz a qualquer indivíduo de uma forma livre, mas, ao mesmo tempo, essa liberdade deu voz também a campanhas de desinformação através das «fake news», que no momento actual ganha importância e destaque devido à grande divulgação por parte de governos de notícias e informações falsas. As «fake news» são graves ameaças às democracias e muitas vezes utilizadas como meios de interferência nos processos eleitorais, o que se veio a verificar nas eleições presidenciais brasileiras de 2018 e nas eleições presidenciais dos EUA em 2020 e, mais recentemente, devido à pandemia de covid-19. O número de «fake news» aumentou recentemente, devido à guerra que está a acontecer na Ucrânia, onde a internet está a ser inundada por muitos conteúdos falsos, na sua maioria ALGARVE INFORMATIVO #330
lançados por organizações militares e políticas, que são cada vez mais sofisticados e difíceis de identificar, mesmo para os jornalistas. O país que ataca militarmente a Ucrânia é dos que mais censura a Internet e que promove em grande escala campanhas de «fake news» interna e externamente, atacando a liberdade de informar de uma forma nunca antes vista, promovendo campanhas em grande escala. A melhor forma de ajudarmos nesta guerra, para além de contribuir com doações, é apoiar os órgãos de informação independentes e denunciar nas redes sociais as notícias e informações falsas. Os meios de comunicação social independentes ganham actualmente maior importância na nossa sociedade, são na sua maioria uma plataforma de confiança e de liberdade .
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E se fosse comigo? Lina Messias (Especialista em Feng Shui) estes últimos dias é impossível ficar indiferente ao que se está a passar no Mundo, desta vez, mesmo no nosso «quintal». As palavras «refugiados» e «deslocados» de guerra entram nos nossos ouvidos a toda a hora, o sofrimento de um povo que é, no fundo, o sofrimento de todos nós, é visível em todas as imagens de horror que os media nos fornecem… Quando vejo a multidão de pessoas que tiveram que deixar as suas casas (no dia em que escrevo, já ultrapassa o 1 milhão e 300 mil pessoas), não consigo deixar de pensar “e se fosse comigo”? Ficar sem casa, deixar a casa, é largar a segurança de um tecto e quatro paredes, é largar as «coisas» que vamos acumulando uma vida e nos fazem sentir confortáveis e que nos sentimos identificados. A casa é a nossa identidade, é muito mais do que somente um lugar físico; ter uma casa está associado à nossa emancipação e autonomia como adultos, à nossa capacidade de prover um lar e vida condigna à família. Ao perder uma casa, perdemos também parte da dignidade como seres humanos. Dispor de uma ALGARVE INFORMATIVO #330
morada, é universalmente considerada uma das necessidades básicas do ser humano e, infelizmente, grande parte da população não tem acesso a ela. A 1 de Outubro de 2019 entrou em vigor em Portugal (finalmente!! muitos anos depois das Leis do direito Internacional) uma Lei que rege a Habitação como direito humano; o Estado de Direito chegou à brilhante conclusão que ter um lugar seguro para viver influencia a nossa saúde física e mental e qualidade de vida como seres humanos. Isto, anos depois da grande crise imobiliária, em que milhares de famílias foram «obrigadas» a sair das suas casas e entregá-las à banca. Do número de depressões graves, do número de famílias «destruídas» e até dos casos de suicídio, resultantes desta crise, pouco se falou. Segundo dados do Centro das Nações Unidas para os Estabelecimentos Humanos, mais de 1 bilião de pessoas vivem em habitação não adequada e 100 milhões de pessoas em todo o Mundo não têm abrigo. De acordo com estatísticas da Agência da ONU para Refugiados, a ACNUR, no final de 2018, havia 25,9 milhões de refugiados em todo o mundo. No papel são só números, mas na realidade são Vidas destroçadas e sem raízes! Para mim são «murros no 128
estômago» que me fazem sentir impotente, mas também fazem com que valorize cada vez mais ter um tecto condigno, um local seguro a que posso chamar de LAR! Como é possível o Mundo estar tão avançado em tantas áreas e continuar a 129
não dar importância e actuar no restabelecimento da dignidade humana, suprindo as suas necessidades mais básicas? E se fosse comigo? E se fosse contigo?. ALGARVE INFORMATIVO #330
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