REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #332

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ALGARVE INFORMATIVO 26 de março, 2022

FESTIVAL TANTO MAR E DINO D’SANTIAGO EM LOULÉ | «PAISAGENS POÉTICAS» NA REPÚBLICA 14 1 OBSERVATÓRIO NACIONAL DO ENVELHECIMENTO NASCE EM ALTE | «TELLING STORIES» NO IPDJ#332 ALGARVE INFORMATIVO PADEL CHEGA A S. BRÁS DE ALPORTEL | 13.º ANIVERSÁRIO DO AUDITÓRIO MUNICIPAL DE OLHÃO


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SUMÁRIO

34 - «À Deriva» no Teatro Lethes

OPINIÃO 124 - Paulo Cunha 126 - Mirian Nogueira Tavares 128 - Ana Isabel Soares 130 - Adília César 134 - Fábio Jesuíno 136 - Carlos Manso

1112 - «Telling Stories» no IPDJ

88 - «Festival Tanto Mar» em Loulé

78 - «Paisagens Poéticas» em Olhão

50 - 13.º aniversário do Auditório Municipal de Olhão com talentos da terra ALGARVE INFORMATIVO #332

62 - Dino D’Santiago apresentou «Badiu» no Cineteatro Louletano 8


16 - Padel chegou a São Brás de Alportel

26 - Observatório Nacional do Envelhecimento nasceu em Alte 9

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Custódio Moreno, Vítor Guerreiro, João Rosa e Bruno Sousa Costa

PADEL CHEGOU A SÃO BRÁS DE ALPORTEL Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina ruto de uma dinâmica desportiva que contempla novos programas de desenvolvimento desportivo e metodologias de treino mais ajustados aos jovens atletas, o Clube Ténis e Padel de São Brás de Alportel inaugurou, no dia 19 de março, e em parceria com o Município de São Brás de Alportel, os seus dois primeiros campos de padel e instalações de apoio, que vêm complementar o Complexo Municipal de ALGARVE INFORMATIVO #332

Ténis localizado no Parque de Desporto e Lazer do Município. A construção destes campos, para além de acompanhar os anseios e ambições desportivas da população, insere-se no plano preconizado pelo clube e pela autarquia local para a expansão do Complexo Desportivo de Ténis, conferindo-lhe mais e renovadas instalações desportivas que seguem as mais recentes tendências e posicionam o concelho como uma referência regional das modalidades de ténis e padel. “É um processo

dinâmico que se vai trabalhando 16


no dia-a-dia, com pessoas com paixão pelo desporto, com vontade de o fazer crescer, e estamos sempre de portas abertas para apoiar estas iniciativas”, frisou Acácio Martins, Vereador do Desporto da Câmara Municipal de São Brás de Alportel. Um projeto que arrancou, em 2010, com a construção do novo Complexo Municipal de Ténis, que deu mais um passo, em 2019, com a sua requalificação ao abrigo do PRID – Programa de Reabilitação de Infraestruturas Desportivas do Instituto Português do Desporto e Juventude e que, agora, em 2022, foi mais além e se transformou em Complexo Municipal de Ténis e Padel. E o presidente da Direção do Clube de Ténis

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e Padel de São Brás de Alportel, João Romeira, começou logo por destacar o

“apoio imprescindível e inestimável que a Câmara Municipal de São Brás de Alportel e o Instituto Português do Desporto e Juventude têm prestado nestes últimos anos de atividade do clube, em especial na partilha do desejo de ampliação do Complexo Desportivo que o clube tem intenção de concretizar”, assim como “a parceria estabelecida com muitas empresas locais, com destaque para a agência imobiliária «Vistas do Algarve», que tem apoiado de forma incondicional toda a atividade do

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clube”. “Estão aqui muita carolice e vontade, que são as bases do associativismo. Começamos com simples aulas de ténis e o caminho trouxe-nos até este Complexo Municipal de Ténis e Padel”, ALGARVE INFORMATIVO #332

reforçou o dirigente, antes de passar a palavra a Gilmar Brito, vice-presidente da direção. “São Brás de Alportel é um

Município pequeno, mas com uma enorme dinâmica e as coisas funcionam sempre muito bem, o 18


que dá mais força aos sãobrasenses para continuarem com os seus projetos. E, a partir de hoje, as senhoras têm aqui mais uma atividade para desenvolverem”, sublinhou. 19

Depois de ter estado, em 2019, na inauguração da reabilitação do Complexo Municipal de Ténis de São Brás de Alportel, Custódio Moreno não faltou também à abertura dos dois novos campos de padel e reconheceu a ALGARVE INFORMATIVO #332


crescente atratividade deste concelho, quer para se visitar, como para se viver.

“Vejo aqui uma estratégia global, que as coisas não são feitas de forma isolada. Tudo é realizado de forma muito bem orquestrada e nesta zona, por exemplo, temos as piscinas cobertas, os campos de futebol e de ténis, o skate park, agora os campos de padel e o basquetebol também está a chegar”, ilustrou o Diretor Regional de Faro do Instituto Português do Desporto e Juventude. “Neste momento, o

desporto ainda é muito masculino, são os homens que estão na linha da frente na maior parte das modalidades. Isso não pode ALGARVE INFORMATIVO #332

continuar a acontecer e este é mais um contributo para essa necessária mudança”, entende Custódio Moreno. “As autarquias e os órgãos estatais têm que ser facilitadores, os verdadeiros engenheiros do associativismo são estes homens e mulheres e o mais importante é vermos que estamos todos a remar para o mesmo lado”. A finalizar o momento solene, o presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel salientou a importância do protocolo de colaboração assumido com o Clube de Ténis e Padel, em 2018, que permitiu a requalificação dos atuais 20


campos de ténis, em 2019, “e agora a

concretização de um projeto há muito desejado para trazer esta modalidade para o concelho, com a inauguração dos primeiros dois campos de padel”. “Eis um bom exemplo das sinergias entre o município e o associativismo local”, apontou Vítor Guerreiro, lembrando que o clube tem aumentado progressivamente o número de praticantes e que “os resultados

obtidos a nível regional e nacional são um orgulho para todos os sãobrasenses”. “Os investimentos no desporto são executados em estreita articulação com as necessidades associativas e desportivas do concelho, definindo

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as prioridades e procurando as melhores soluções financeiras dentro do orçamento municipal para a sua conclusão. E isto exige um planeamento faseado e rigoroso também muitas vezes acompanhando os processos de financiamento disponíveis para esse efeito. Fruto deste esforço conjunto, e em parceria com as nossas associações e comunidade, assistimos todos os anos ao crescimento e à valorização do nosso parque desportivo, sempre cientes que este é um trabalho dinâmico e contínuo, acompanhando o presente e preparando o futuro”.

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Agradecendo a todos os que sonharam e trabalharam com vista à concretização deste projeto, Vítor Guerreiro revelou ainda que está em marcha a aquisição de um terreno para a ampliação do Complexo Municipal de Ténis e Padel de São Brás de Alportel, com a construção de mais campos de ténis e de padel e de uma zona social e de vivência que fará a ligação à Circular Norte. E confirmou a construção de um recinto de basquetebol junto ao skate park, na sequência do Orçamento Participativo. “Vamos

dando passos importantes rumo à integração dos equipamentos desportivos e à ampliação da nossa oferta desportiva, porque ALGARVE INFORMATIVO #332

queremos que a nossa população seja ativa, que os nossos idosos tenham mais saúde e qualidade de vida, que os nossos jovens pratiquem desporto. E é um grande orgulho termos um movimento associativo na área do desporto, da cultura e da ação social que faz toda a diferença, que envolve a população. Com a boavontade de cada um conseguimos fazer mais e melhor”, enalteceu o presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel .

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NASCEU EM ALTE O OBSERVATÓRIO NACIONAL DO ENVELHECIMENTO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina oi inaugurado, no dia 21 de março, em Alte, aldeia do interior do concelho de Loulé, o primeiro Observatório Nacional do Envelhecimento, com a presença da Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, e do Secretário de Estado Adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales. O espaço, situado nas antigas instalações da Escola Profissional Cândido Guerreiro, é coordenado pelo ABC – Algarve Biomedical Center, pela NOVA Medical School da Universidade ALGARVE INFORMATIVO #332

Nova de Lisboa e pela Universidade do Porto, e pretende dinamizar a colaboração entre instituições públicas, privadas e sociedade civil para o estudo do envelhecimento. Com um investimento de cerca de um milhão de euros, o ONE tem como propósito fomentar investigação e conhecimento que permitam avaliar e desenvolver o envelhecimento ativo e saudável, adequando as prioridades e o tipo de respostas nas áreas da saúde, da ação social, da educação e da formação ao longo da vida, do trabalho e da participação cultural e cívica em função 26


Nuno Marques do território, das necessidades e das dinâmicas da população. “Estamos

aqui a unir toda a sociedade, o sector público, o sector empresarial, o terceiro sector, em torno de um desígnio que vai ser fundamental para o desenvolvimento do nosso país nos próximos anos”, assumiu Nuno Marques, presidente da Comissão Executiva do Observatório Nacional do Envelhecimento. “Vamos olhar de

forma independente e com bastante interesse para as várias vertentes do envelhecimento, o emprego, a saúde, o ensino, as condições de vida e de habitação. Para se aplicarem as medidas mais corretas é necessário alguém que 27

observe, que veja e analise, que olhe para os dados, que indique como é que nos estamos a comportar ao longo do tempo e comparativamente com outros países europeus. É preciso saber como devemos agir, onde é que devemos atuar, de forma a minimizar o impacto que vamos todos ter nos indicadores do envelhecimento. Comprometemonos a dar o nosso melhor e das instituições que representamos, a dar o melhor dos parceiros do Observatório, para que possamos todos em conjunto envelhecer de uma forma muito mais saudável”, rematou Nuno Marques. ALGARVE INFORMATIVO #332


Vítor Aleixo

Conforme referiu Vítor Aleixo, Alte é uma aldeia de ricas tradições culturais, mas uma freguesia com vários problemas decorrentes da perda de população e de atividade económica, sendo um bom exemplo do que acontece um pouco por todo o interior do país. “Um dos

grandes desafios das modernas sociedades no mundo atual é, sem dúvida nenhuma, o envelhecimento. O ser humano vive cada vez mais, mas nunca como hoje se colocou tanto o problema da longevidade ativa e com qualidade de vida”, indicou o presidente da Câmara Municipal de Loulé. “Pouco a pouco, desde a

colaboração que estabelecemos ALGARVE INFORMATIVO #332

com o ABC, temos vindo a construir um ecossistema para o envelhecimento ativo e saudável, logo a começar pelo edifício para a investigação ligada às biociências que irá nascer em Loulé e cujo projeto tem vindo a correr a uma velocidade estonteante; mas também a sede de um projeto para as políticas de envelhecimento que será construído em Vilamoura”. Vítor Aleixo não esqueceu igualmente a rede de desfibriladores automáticos externos existente no concelho e lembrou que o ABC venceu um concurso da Agência Europeia do Medicamento para a instalação de mais um laboratório em Loulé. “Estamos num momento 28


António Lacerda Sales

criativo de grande energia e colaboração, de trabalho de equipa, de gente que sonha e que tem ambições, e que quer colocar o nosso país a par do que de melhor se faz em todo o mundo no que toca ao envelhecimento saudável e ativo”, destacou o edil, não poupando elogios à equipa do Algarve Biomedical Center liderada por Nuno Marques, a Teresa Laranjo, da Cooperativa de Alte, mas também a José Apolinário, presidente da CCDR Algarve.

“Temos todos a maior boavontade, contudo, se não existirem meios financeiros para materializar os sonhos e os desejos, nada é feito. E a CCDR Algarve tem encontrado os fundos 29

necessários para alavancar muitos projetos na região”, frisou. Antes de concluir a sua intervenção, Vítor Aleixo reconheceu ainda o grande défice de cobertura de comunicações digitais que persiste das zonas interiores de Portugal. “Não se compreende

como é que um direito básico das pessoas não é satisfeito por questões de mercado, que funciona, mas que está longe de ser perfeito. Em Loulé, encontramos uma solução e lançamos um concurso com um caderno de encargos onde está expresso o cuidado dos idosos em situação de isolamento. Criamos, administrativamente, mercado ALGARVE INFORMATIVO #332


Ana Mendes Godinho

para cobrir digitalmente todo o interior do concelho de Loulé. Graças a este projeto, as pessoas, em vez de serem levadas para locais para onde muitas vezes não desejam ir, vão poder ser acompanhadas à distância no seu habitat natural, na sua casa, perto dos seus vizinhos”, explicou. “Temos pela frente projetos bastante ambiciosos, mas o trabalho tem vindo a decorrer muito bem nos últimos anos e estamos a cuidar do nosso interior e das suas pessoas. Tão veloz e tecnológico é o desenvolvimento no século XXI que por vezes nos esquecemos das pessoas, mas o objetivo último dos ALGARVE INFORMATIVO #332

políticos é trabalhar para as pessoas e nos aspetos onde elas se encontram mais debilitadas e mais carentes de suporte e ajuda dos organismos públicos”. No uso da palavra, a Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social considerou ser este “um dia

histórico para Alte, mas também para Portugal” e salientou a vantagem de as universidades estarem associadas ao projeto. “São três centros de

referência em torno da investigação e do envelhecimento, o que é fundamental para termos opções bem informadas do ponto de vista daquelas que são as áreas 30


críticas de intervenção, para termos um envelhecimento cada vez mais ativo e saudável ao longo da vida, e políticas associadas à longevidade mais focadas e com mais conhecimento”, apontou Ana

este Observatório poderá trazer “uma nova vitalidade a este território”. Desmistificando a ideia de envelhecimento que considera ser, “não

Mendes Godinho, referindo ainda a importância de se ter um PRR – Plano de Recuperação e Resiliência “muito

o Secretário de Estado Adjunto e da Saúde adiantou ainda que “estão aqui

vocacionado para investimento e requalificação das respostas sociais dedicadas ao envelhecimento”. Já António Lacerda Sales, responsável da área da Saúde, justificou o simbolismo da escolha de Alte para acolher um projeto desta dimensão, por se tratar “de

uma zona desertificada do interior e um dos tesouros do Algarve, desconhecido por muitos”, pelo que 31

uma fatalidade, mas uma grande conquista da sociedade moderna”,

lançadas as primeiras sementes para um projeto que, de alguma forma, permitirá que possamos chegar mais novos a velhos”. E a aposta na autonomia e independência dos idosos, mas também os novos estilos e hábitos de vida, alimentação mais saudável, promoção da saúde e prevenção da doença ou da atividade física, o investimento contra o tabagismo ou o consumo excessivo de álcool, são algumas das áreas que António Lacerda Sales descreve como “políticas de longevidade” . ALGARVE INFORMATIVO #332


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«À DERIVA» EM CENA NO TEATRO LETHES Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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té dia 3 de abril está em cena, no Teatro Lethes, em Faro, «À Deriva», uma coprodução da ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve e da CTB – Companhia de Teatro de Braga protagonizada por Luís Vicente e Rogério Boane. O texto é uma versão livre de Alexandre Honrado (a partir do original «The Island» de Athol Fugard, John Kani e Winston Ntshona, e aborda uma situação concentracionária específica e um caso verídico ocorrido durante o regime do apartheid na África do Sul. “Mas se essa é a génese, o ALGARVE INFORMATIVO #332

enredo contém, no entanto, uma inevitabilidade que, no plano das conjeturas dramatúrgicas, nos remete para problemáticas da contemporaneidade, designadamente no que respeita a casos de migrantes que, fugindo da miséria, não logram chegar ao esperançoso lado ocidental do Mediterrâneo e acabam capturados e explorados e escravizados em condições análogas às que vivem nos seus próprios países”, descreve o encenador Luís Vicente, também responsável pela dramaturgia . 36


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AUDITÓRIO MUNICIPAL DE OLHÃO FESTEJOU 13.º ANIVERSÁRIO COM TALENTOS LOCAIS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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Auditório Municipal de Olhão comemorou, no dia 19 de março, o seu 13.º aniversário com um programa que arrancou com uma arruada da Banda Filarmónica 1.º de Dezembro. Já no hall do equipamento cultural da cidade cubista foi inaugurada ALGARVE INFORMATIVO #332

a exposição de pintura de Rosa Azinheira, seguindo-se o concerto com Fernando Leal, Mariana Barnabé e Sara Badalo, três vozes olhanenses que deram nas vistas na recente edição do programa de televisão «The Voice Portugal», acompanhadas pelo eterno Domingos Caetano e músicos convidados. A comemoração finalizou, depois, na galeria com a atuação do DJ Lord Vegan. 52


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DINO D’SANTIAGO APRESENTOU «BADIU» EM ESTREIA NACIONAL NO CINETEATRO LOULETANO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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ino D'Santiago, natural de Quarteira, tornou-se nos últimos anos numa voz do mundo e da mistura, trabalhando a tradição cabo-verdiana com a contemporânea eletrónica. Uma sonoridade especial, acompanhada por uma forte mensagem, que já o levou a pisar palcos como o Super Bock Super Rock, NOS Primavera Sound, MED, FMM, entre muitos outros festivais. Em 2020 lançou «Kriola», considerado um dos melhores álbuns do ano por meios como o Público, Time Out, Blitz ou Correio da Manhã e recebendo as mais elogiosas críticas de meios norteamericanos e brasileiros como a Rolling Stone, Complex e Folha de S. Paulo. Recebeu ainda os Prémios Play de Melhor Álbum, Melhor Artista Masculino e Prémio da Crítica.

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Antes de terminar 2021, editou o seu mais recente álbum, «Badiu», com participações de artistas como Branko e Slow J, e que também já foi eleito como um dos melhores discos de 2021. E, antes do concerto no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, no próximo dia 2 de abril, a estreia nacional do disco realizou-se no seu concelho natal, na cidade de Loulé, num Cineteatro Louletano completamente esgotado, no dia 20 de março. Rodeado da sua «família», Dino esteve igual a si próprio, em constante interação com o público, que pouco tempo esteve sentado nas cadeiras, tal o ritmo contagiante do beat que o envolvia. Um espetáculo de grande impacto visual, um jogo fantástico de luzes, uma sonoridade irresistível, a simpatia natural do artista a que ninguém resiste… enfim, um final de tarde para recordar durante muitos anos.

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REPÚBLICA 14 ACOLHEU «PAISAGENS POÉTICAS» DO FORA DA CESTA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Eduardo Pinto

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om apresentação de Nuno Silva, o projeto Fora da Cesta levou à Associação Cultural Re-Criativa República 14, em Olhão, no dia 20 de março, «Paisagens Poéticas», um espetáculo que integrou a poesia declamada por Napoleão Mira, acompanhado por Mariana Correia na voz e violoncelo, e os poemas e canções da dupla «Andanças e Cantorias», 81

constituída por Afonso Dias e Tânia Silva. Uma tarde especial em que também subiu ao palco o teatro itinerante de marionetas, com o Teatro Dom Roberto, inscrito em 2021 no Inventário Nacional de Património Cultural Imaterial, habilmente interpretado pelas mãos do bonecreiro Jorge Soares, tendo-se assistido à estreia da curta-metragem «Dom Roberto Contrabandista» com a atriz Sara Vicente . ALGARVE INFORMATIVO #332


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FESTIVAL TANTO MAR TROUXE «AMÊSA» E «MIONGA» ATÉ LOULÉ Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina e Jorge Gomes

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Festival Internacion al de Artes Performativ as de Loulé «Tanto Mar», da responsabilidade da Folha de Medronho – Artes Performativas, nasceu para complementar a oferta regional e nacional e desenvolver, ao longo do ano, direta ou indiretamente, o trabalho de cruzamento de experiências entre os criadores dos países onde o português é a língua oficial. “Com

base nestes dois eixos, pretende-se transformar o «Tanto Mar» numa interface

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para a circulação de espetáculos de grupos vindos de países falantes do português, para que, fruto dessas experiências e resultados, Loulé seja, a médio e longo prazo, o palco europeu privilegiado e o espaço físico para um futuro arquivo do material do labor despendido, para chegar ao efémero do palco, como, por exemplo, cartazes, livros, programas e audiovisual”, explicam Alexandra Diogo e João de Mello Alvim.

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A terceira edição do festival, organizada mais uma vez em parceria com a Câmara Municipal de Loulé, desenrolou-se de 16 a 19 de março e trouxe ao Cineteatro Louletano, no dia 17, a peça de teatro «Amêsa», um monólogo para duas atrizes no qual se revela a dualidade da condição humana e a oscilação entre o pessimismo e o otimismo no processo que levou à luta de libertação anticolonial e ao conturbado período imediatamente anterior e posterior à independência de Angola.

“Escrito em 1991, o drama coloca em cena a realidade de uma mulher, Amêsa, e os seus conflitos. Amêsa simboliza a própria Nação angolana, que sofre ao perceber que é destruída pelos próprios conflitos internos e vive na tênue linha divisória entre a esperança 91

e a desesperança”, diz Luciana Éboli sobre esta peça do Elinga_Teatro, vindos de Luanda, Angola. No dia 18 de março assistiu-se, igualmente no Cineteatro Louletano, a «Mionga», um drama envolvendo dois irmãos guerreiros, da etnia Banto, que viviam em clara rivalidade pelo poder.

“Uma situação que os levou como prisioneiros a um navio tumbeiro, acontecimento que os coloca num grande combate com a sua consciência. Todo o drama é vivenciado e contado por Zua Makala, que acredita ser a causadora do infortúnio por ser amaldiçoada à nascença”, refere a Cacau_Teatro, de São Tomé e Príncipe. ALGARVE INFORMATIVO #332


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HISTÓRIA DE CINCO PAÍSES CONTADA ATRAVÉS DO TEATRO COMUNITÁRIO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Irina Kuptsova

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rinta e cinco atores e atrizes provenientes de cinco países, com o Mediterrânio, a juventude e o entusiasmo como pontos comuns, uniram-se através do teatro para contar e cantar, escrever, rescrever e desenhar, a sua história. «Telling Stories – O Poder do Teatro Comunitário» é o resultado de um intercâmbio internacional coordenado pelo JAT – Janela Aberta Teatro, que trouxe a Faro, de 3 a 13 de março, jovens com idades compreendidas entre os 18 e os 30 anos oriundos de Portugal, Espanha, Itália, França e Grécia. “O projeto visou

a partilha de saberes, experiências e conhecimentos assentes na metodologia do Teatro Comunitário, que tem como objetivo a promoção da ALGARVE INFORMATIVO #332

participação e o envolvimento dos cidadãos na construção de uma sociedade mais justa, desenvolver capacidades performativas e aplicá-las em contextos sociais, reescrever narrativas mais comunitárias”, explicam Diana Bernedo e Miguel Martins Pessoa, do JAT. “Pretende-se

contribuir para a mudança de estigmas sociais, não só promovendo o trabalho feito por este grupo de jovens artistas, mas, sobretudo, ajudando-os a sentirem que fazem parte de uma identidade cultural diversificada, ao alcançar uma consciência coletiva e comunitária”, acrescentam os encenadores.

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O projeto culminou com duas sessões, a primeira na noite de 11 de março, no Auditório do IPDJ – Instituto Português do Desporto e Juventude, a segunda na manhã do dia 12, no Auditório do Parque

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Ribeirinho, e contou com o apoio do programa Erasmus + Juventude em Ação e dos parceiros, IPDJ, Agrupamento de Escolas Pinheiro e Rosa e Agrupamento de Escolas Tomás Cabreira .

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Um dia de cada vez Paulo Cunha (Professor) assamos grande parte da juventude a tentar viver a vida como se não houvesse amanhã, tal o desejo de a descobrir e de tentar vivê-la na máxima plenitude. Entramos na fase adulta e no horizonte começam a vislumbrar-se objetivos que, inevitavelmente, nos obrigam a projetá-los e a programá-los com tempo e rigor, como se pela frente tivéssemos todo o tempo do mundo. Já no ocaso da nossa existência, perante todas as rasteiras e vicissitudes que a vida nos pregou, alguns tentam recuperar a leveza e o desprendimento da juventude, tentando assim viver o melhor possível o tempo que ainda lhes resta. Inevitavelmente, e por vezes já tardiamente, começamos a entender o real significado da expressão “Um dia de cada vez”. Como vulgarmente se diz, é preciso dar um passo de cada vez. Quem não tiver paciência, enganando-se na altura e no tempo da caminhada, não chegará a lugar nenhum. Pretender dar todos os passos de uma só vez levar-nos-á a tropeçar e, caindo, a perder o que conquistámos. Todos temos o nosso tempo interior, conhecendo-o, responderemos em conformidade e tudo ocorrerá naturalmente.

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Deixemos cada dia fluir e vivamos com naturalidade. Viveremos assim de uma forma muito mais tranquila, deixando de despender energias com preocupações comezinhas que não nos levarão a sítio algum. De nada adiantará viver por antecipação, trazendo um futuro imaginado para o presente. Evitaremos assim sofrer ou (des)iludirmo-nos por antecipação. A «escola da vida» ensinou-me que para cada problema existe sempre uma solução. Aprendi também que a paciência é o melhor recurso para os problemas que não dependem de nós, pois, a seu tempo, serão resolvidos. Dizem os mais velhos que o que não tem remédio, remediado está. Não poderia estar mais de acordo. Até a própria morte o comprova! Por certo, já se devem ter apercebido da quantidade de gente que não desfruta o presente em nome do investimento no futuro. Gente que gravita em torno de si própria e que se considera imune à passagem do tempo. Gente quase sempre pré-ocupada e raramente preocupada em desfrutar a vida. Gente que só começará a pensar e a comportarse como gente quando a vida a alertar para a sua fragilidade e precariedade. Gente que em cada enterro ou cremação de um amigo da sua geração profere o costumeiro bordão “Não somos nada!”, 124


esquecendo-se imediatamente que, efetivamente, nada somos. Somos, quando muito, o que os outros veem em nós! Viver um dia de cada vez parte do pressuposto que vivenciar o que a vida nos coloca ao dispor é a melhor forma de nos sentirmos vivos. Apesar das adversidades e dos momentos indesejados que teimam em trespassar o 125

quotidiano, muitos, como eu, conseguem ter a capacidade de acreditar que na soma e da soma de cada dia vivido tornar-nos-emos, espiritualmente, mais ricos. É caso para dizer: “Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza saibamos viver um dia de cada vez, até que a morte nos pare. Carpe Diem!” . ALGARVE INFORMATIVO #332


This mess we’re in Mirian Tavares Nogueira (Professora universitária) Can you hear them? The helicopters? (…) No need for words now We sit in silence You look me In the eye directly You met me I think it's Wednesday The evening The mess we're in (…) PJ Harvey Spotify tem um bom algoritmo, sem dúvida. Pensava nisso quando ouvia PJ Harvey a cantar This mess we’re in. Gosto de ouvir as listas que são criadas para mim, tenho alguma preguiça, ou falta de habilidade, de programar aquilo para tocar o que quero. Mas, como disse, o algoritmo até não é mau e calham-me sempre coisas de que gosto e outras, completamente desconhecidas, de que passo a gostar. Fico contente porque sou reconhecida como alguém eclética, que gosta das novidades da semana, mas ouve Early alternative, categoria que nem sonhava existir. Mas não era de Spotify nem de algoritmos que queria falar. Era da bagunça em que estamos metidos, ou mais ainda, da bagunça que somos todos ALGARVE INFORMATIVO #332

e cada um de nós. Seres imperfeitos, tortos, tontos. Seres sociais e que sofreram bastante com o confinamento, que, ao contrário daquilo que muitos líricos propagavam – uma oportunidade de nos reinventarmos –, fez vir à tona o pior de nós: o medo, a desconfiança, o desconsolo e a desesperança. Andamos zangados uns com os outros e connosco mesmos. Sentimos que tudo nos escapa e tentamos controlar o que nos parece controlável, o que está ao nosso alcance, o que nos rodeia. Como se controlar alguma coisa restabelecesse o equilíbrio perdido. Falava outro dia com um amigo sobre os Cavaleiros do Apocalipse e ele pediume para o avisar quando já cá estivessem os quatro. E chegamos à conclusão de que eles não só já estão entre nós como passeiam por aqui há algum tempo, o que pode significar que estamos a ficar sem tempo para aqueles que acreditam em 126


Foto: Vasco Célio

profecias bíblicas. E pensava eu que, se morresse amanhã, ou se o mundo acabasse, o que vem a dar, para o defunto, no mesmo, não quereria deixar atrás de mim um traço de rancor e um sabor a amargura. Queria deixar sorrisos, abraços. Queria partir sabendo que disse todos os eu te amos a que tenho direito e que não deixei para trás pessoas ofendidas, tristes, magoadas. Mesmo que o mundo não se acabe já, e eu que eu viva, como pretendo, até aos 100, prefiro ir tratando das coisas. Como disse o poeta (Manuel Bandeira): “Quando a indesejada das gentes chegar (…) encontrará lavrado o campo, a casa 127

limpa. A mesa posta, com cada coisa em seu lugar”. Dificilmente cada coisa estará no seu lugar, pois reconheço-me nessa bagunça em que estamos e que somos. Mas acho que é aí que reside a nossa beleza – na imperfeição e, sobretudo, em aceitarmos que os outros, como nós, são imperfeitos. E que a única coisa que verdadeiramente podemos fazer pelos outros, e por nós mesmos, é amarmos incondicionalmente aqueles que nos rodeiam, os amigos, a família, os nossos amores. Que permanecem connosco porque nos amam. E merecem ser amados de volta. Sem condições . ALGARVE INFORMATIVO #332


Quadragésima oitava tabuinha: Poeticamente (II) Ana Isabel Soares (Professora universitária) egresso a Bobin (ou, porque não se regressa àquilo que jamais se abandona, o que faço é reconhecer, em Bobin, lugares de um caminho). Em que consiste esse “habitar poeticamente o mundo”? (Apetece-me muitas vezes dispensar o advérbio, que nesta língua em que escrevo desprezo um bocadinho quando me exibe aquela cauda de mente, e adjetivar o verbo, nominalizando-o, traduzir aquele hölderliniano «dichterisch, wohnet» por um «poético habitar»; seria retorcer a expressão do poeta, mas o que fazem os poetas, senão dis- e re-torcer sequências, tornando frases em fitas bailadoras que dum lado mostram uma cor e do outro outra e dançam, dançam imparáveis a confundir os olhos de quem lê? Na língua de Hölderlin, a mesma palavra serve para adjetivar e adverbiar, injustiças poéticas.) Em Auto-retrato com radiador*, exercício diarístico em que o autor põe a nu cada momento do processo de escrita, registam-se vários momentos que podem ilustrar a habitação poética do mundo. Escrever é, desde logo, e como que naturalmente, um tal habitar. ALGARVE INFORMATIVO #332

Nas inúmeras comparações que o autor estabelece com a prática da escrita vislumbra-se outras ações poéticas, ou, no apontar dos seus resultados, essa qualidade do que é poético: “Escrever dá-me uma paz semelhante à que banhava o rosto do velho homem que, nessa tarde, de cigarro na mão, se mantinha de pé à borda do mundo, vendo a sua vida passar ao longe sem a reconhecer, até àquela queimadela do cigarro no dedo que tudo traria de volta: a consciência de si, com a dor”. (É assim que termina a anotação de Bobin a «Sábado, 7 de Setembro», de 1996.) A paz do instante poético corresponde ao momento prévio da consciência, prévio da dor que faz estalar esse saber de si, esse recolocar-se de regresso a um lugar e a um tempo assentes e que aprisionam. É a pausa anterior – é o quando da contemplação: “A contemplação é o que mais ameaça e de modo mais curioso, a superpoderosa técnica”, sugere Bobin em Le Plâtrier Siffleur** Habitar poeticamente o mundo pode ser, então, um dos modos de reagir contra o poder exagerado da técnica – o acento terá de ser sobre o exagero, e não, porque nada nela é essencialmente criticável ou malévolo, na técnica, nem no seu poder; é o desequilíbrio dos poderes, das energias, que precisa de ser 128


Foto: Vasco Célio

contrariado. Apenas porque técnica e poética não habitam, bem vistas as coisas, e pelo menos num amigável olhar aristotélico, lugares separados . * Tradução de Luís Matos, edição Flâneur (janeiro de 2022), p. 86. ** P. 30 da edição italiana (bilingue). Tradução minha. 129

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Notas Contemporâneas [35] Adília César (Escritora) “Mas esta cortesia, em que havia emoção, provinha sobretudo de que o escritor, há cem anos, dirigia-se particularmente a uma pessoa de saber e de gosto, amiga da eloquência e da tragédia, que ocupava os seus ócios luxuosos a ler, e que se chamava «o Leitor»: e hoje dirige-se esparsamente a uma multidão azafamada e tosca a que se chama «o público»”. Eça de Queirós (1845-1900), in Notas Contemporâneas (1909, obra póstuma) AS CIRCUNSTÂNCIAS atenuantes do poema estão sempre as palavras, como se fossem penitências, feridas agravadas pela insistência do poeta. Quando os poemas se escrevem nos espaços brancos entre as palavras, inscrevem-se numa opacidade ainda confusa. Nesse movimento de contração e de expulsão, saem do pensamento através de um mapa onde não há caminho até à salvação. E a «obra», que se pretende «edifício da linguagem», renasce na geografia de um qualquer significado, junto ao paraíso, na fronteira do fascínio poético. Contudo, raramente encontra a porta de entrada. O poema fica ali, sem saber o que fazer. Tantas vezes, apenas uma ruína restará. Que faremos com a decadência criativa? * A PREDISPOSIÇÃO para ler poesia não é uma implícita condição da pessoa. Esse ser raro, quase ALGARVE INFORMATIVO #332

mítico, «o Leitor», possui conhecimento e gosto literário que vai muito para além das notificações que recebe no seu smartphone. As redes sociais desfiam um rosário de poemas e aforismos que terminam, literalmente, na Cruz-daMinha-Paciência. De vez em quando, uma honrosa excepção ilumina o cais quase sempre obscuro onde estão depositados os livros à espera de viajar pelas mentes humanas. Na verdade, nem todos os livros desejam esse destino. Uma vez, um Pequeno Livro de uma Editora de Vão de Escada disse-me que lhe parecia mais decente atribuir-se prémios aos melhores leitores e não aos melhores livros. Perante o meu espanto, o Pequeno Livro da Editora de Vão de Escada ainda admitiu que preferia ser lido por poucos leitores e bons, a muitos e maus. * EU, que faço parte de uma “multidão azafamada e tosca a que se chama «o público»”, não sei remar no grande barco que nos transporta e corro sérios riscos 130


de naufrágio, apesar dos avisos à navegação contidos nas inabaláveis pilhas de livros que se vão erguendo à minha volta de forma compulsiva, embora não totalmente aleatória. Livros à espera de serem lidos, não por ordem de chegada, mas por nível de interesse pessoal. Cuidado, a quantidade não conduz à qualidade, digo. As palavras são como penitências e saem do pensamento até à salvação, na fronteira do fascínio poético. Contudo, na maior parte das vezes não conseguem lé entrar. Que nome hei-de dar a este país onde já ninguém sabe o que é a literatura? * TU não és igual a mim e tens predisposições literárias diferentes das minhas. Tu gostas de romances e eu prefiro os contos. Tu aprecias considerações psicológicas e eu adoro fundamentações filosóficas. Tu deleitaste com um ebook e eu anseio ter nas mãos um livro-objecto. As palavras são sempre as mesmas, como uma combinação simbólica de desenhos concebidos para fazerem sentido nas nossas cabeças, embora não raras vezes a leitura seja feita com os corações. A cabeça galopa violentamente através das sinapses frenéticas dos seus neurónios, mas o coração bate devagar e equilibra a 131

pressa do trabalho cerebral. Ler, apreciar, usufruir, pensar. Por vezes, escrever. E assim vai rodando este mundo literário desmoronado, tendencioso, tantas vezes distraído. Imagens provisórias, crostas de pó, paredes elevadas em labirinto perpétuo dos que ali viveram, emparedados no silêncio dispensado dos que foram à guerra, os desumanos, os utopistas e os que nada sabiam sobre ideologia. Sobrou o vazio, uma espécie de vida que cresce nas cidades arruinadas ALGARVE INFORMATIVO #332


quando todos são necessários noutros lugares em construção, esse amplo espaço indigno de desgosto. * A SIMPLICIDADE não é um conceito tautológico, como uma demarcação da realidade racional e expressiva. Tangível. Registo no diário infinito do destino o que não consigo explicar por palavras minhas. A simplicidade é de uma extrema complexidade, implica resumir a significância de um gesto erudito para nomear a grandiosidade de um símbolo, a ofuscação da estética da existência. Ou apenas o silêncio na respiração de outro silêncio, quando os silêncios são e estão vivos (ser e estar é a questão central) e não perdem a validade no decorrer da experiência poética. Quando a morte da poesia é anunciada, ouvem-se os gritos que carregam a bandeira da liberdade. A primeira inspiração, o último suspiro. A vida ficcionada. A ficção vida. Pura imitação. Bem sei que há outros templos estéticos, mas a poesia dá-me a ênfase que sempre procurei. * NÓS SOMOS aquilo que lemos. Esta é uma verdade simples que faz todo o sentido para mim. Temos o direito de ler, não importa o quê (Daniel Pennac), mas cuidado: há maus leitores de bons livros e um mau livro pode estragar um leitor principiante ou mediano. As boas escolhas são fundamentais. E perguntas: “mas o que é uma boa escolha?”. Outra verdade em que acredito tem a ver com o facto de um ALGARVE INFORMATIVO #332

livro poder ser aquilo que o leitor faz dele. Gostar ou não gostar, não é uma questão: este tipo de apreciação não é suficiente para o livro nem o seu autor. É necessária uma coragem inusitada e uma entrega visceral para mergulhar num livro e apreciá-lo despido dos nossos próprios preconceitos. A simplicidade é um gesto erudito para nomear os silêncios da experiência poética. * NÃO POSSO abandonar estas considerações pessoais sem referir uma das maiores perplexidades do meu quotidiano: parece haver mais escritores do que leitores. Se assim for, a literatura está condenada ao fracasso, apesar dos inúmeros fantasmas que povoam o nosso imaginário literário. Do passado, já não herdamos os velhos hábitos de leitura que nos ensinaram na escola. É importante ensaiar uma certa flexibilidade perante as nossas convicções antigas e ensaiar novas ficções, porventura mais adequadas ao futuro. Ler o quê? Ler como? Ler para quê? E, finalmente, o que é a literatura, o que é a poesia e de que modo poderão fazer parte das nossas vidas? Imagens provisórias e esvaziadas dos ecos. Sobrará o vazio em construção quando a morte da poesia for anunciada e as ruínas desaparecerão no vazio do pensamento. Todas as obras literárias também. E se estas conexões da linguagem já forem consideradas totalmente virtuais, apesar de termos um livro nas mãos? Ah, mas assim a crónica seria outra .

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Metaverso, a união dos mundos real e virtual chegou às empresas Fábio Jesuíno (Empresário) ma utopia futurista que veio para ficar e que vai revolucionar a forma como vivemos e comunicamos para sempre.

Facebook/Meta, existe a Microsoft, Nvidia, Epic Games, mas não se resume só à área tecnológica. Recentemente, a marca de roupa Pull & Bear lançou o seu próprio projecto dentro do metaverso, composto por um showroom virtual e um jogo de surf.

O metaverso ganhou grande destaque em 2021 devido à mudança de nome e de estratégia da empresa que possui as maiores redes sociais do mundo. Desde o dia em que Mark Zuckerberg anunciou a mudança de nome do Facebook para Meta e a grande aposta no metaverso, dizendo que será a próxima evolução da Internet e uma nova forma de comunicação humana.

O desafio, neste momento, consiste em que empresas e organizações mais pequenas consigam participar também no metatarso e aproveitar todas as suas potencialidades e serem pioneiras nesta revolução, algo que já começamos a fazer na 3WX, criando campanhas de marketing dentro do Metaverso.

O metaverso é um mundo digital onde as pessoas interagem através de avatares, uma espécie de Internet 3D onde vamos comunicar e fazer negócios de uma forma imersiva. Esse universo envolve várias tecnologias, as principais são a realidade virtual e as criptomoedas. O conceito de metaverso já não é novo, nasceu em 1992, através do escritor norte-americano Neal Stephenson no livro «Snow Crash», onde as personagens usavam computadores para entrarem num mundo virtual. Grandes empresas já estão envolvidas nesta grande revolução, para além no ALGARVE INFORMATIVO #332

Ainda faltam alguns anos para que estas tecnologias estejam desenvolvidas e aplicadas na sua total capacidade, mas já começamos a ver o seu potencial de mudar a forma como nos comunicamos. Vai ser o grande sucessor da Internet, com base em blockchains e aplicações descentralizadas. Sejam bem-vindos ao novo mundo .

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A falácia dos 30% de perdas reais de água Carlos Manso (Economista e membro da Direção Nacional da Ordem dos Economistas) ara todos os que arriscaram ler para lá do título deste artigo, faço duas declarações: primeiro, como é óbvio, existem perdas reais de água nas redes de abastecimento. Segundo, não são 30% como tem sido publicitado nos órgãos de comunicação social e depois tão partilhado nas diversas redes sociais.

indicador Perdas Reais na rede destinase a avaliar a eficiência na utilização de recursos ambientais, pela determinação do nível de perdas reais em função do comprimento da rede, para sistemas dispersos (n.º de ramais /Km £ 20) ou em função do n.º de ramais e é uma variável que integra o indicador Água Não Faturada. Logo, o valor das Perdas Reais será sempre inferior ao valor da Água Não Faturada.

É importante, para sermos sérios na análise deste tema tão sensível e atualmente na agenda mediática, termos a noção de dois conceitos fundamentais e que estão na base desta confusão e respetivas conclusões erradas. O conceito de Água Não Faturada (ANF) e o conceito de Perdas Reais nas redes de abastecimento de água, conforme se encontra definido pela ERSAR – Entidade Reguladora dos Serviços de Água e Resíduos que determina que o indicador Água Não Faturada tem como objetivo determinar o nível de perdas económicas e físicas correspondentes à água que, apesar de ser captada, tratada, transportada, armazenada e distribuída, não chega a ser faturada aos utilizadores, o que não quer, necessariamente, significar que seja água desperdiçada. O

Os 30% que são divulgados como Perdas Reais na rede referem-se à Água Não Faturada. E porquê que isto é importante?

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É importante porque a abordagem na resolução desses dois problemas é diferente. No caso da Água Não Faturada passa por identificar, não só as Perdas Reais na rede, mas também pontos de autoconsumo dos Municípios que não são medidos nem controlados e clientes que não pagam o consumo de água montando contadores para os faturar. De referir que, em 2016, a Água Não Faturada a nível nacional era de 29,8%, sendo em 2020 de 28,7%, confirmando que muito pouco tem sido feito nesta matéria e que das 233 entidades gestoras existentes, apenas 14% apresentam uma 136


de conhecimento da rede teve uma evolução positiva discreta, o indicador de reabilitação de condutas manteve-se estável em 0,6 entre 2016 e 2020, um valor considerado insatisfatório e estando 40% abaixo do mínimo necessário. Cerca de 55 Municípios assumem não realizar qualquer investimento na rede de águas.

qualidade do serviço boa (abaixo de 20%), havendo um Município com 70% de Água Não Faturada. No Algarve, o pior resultado é de 57,7%. Já o combate às Perdas Reais na rede deve ser feito através de um investimento regular na manutenção e reabilitação das condutas, que começa por um levantamento topográfico que permita um melhor conhecimento da rede. Enquanto o índice 137

Segundo o RASARP2020 (Relatório Anual dos Serviços de Águas e Resíduos em Portugal), o indicador de Água Não Faturada é de 28,7% e as Perdas Reais na rede rondam os 21%. Estes dados e esta transparência referemse aos consumos no Setor Urbano que tem um peso relativo de 19,6% do consumo de água em Portugal. Sei que muito ainda está por fazer, mas seria interessante ter este escrutínio e dados sobre o Setor Agrícola que representa 75% e que não possuímos este nível de informação. Pensem nisto . Nota: Este artigo apenas reflete a opinião pessoal e técnica do Autor e não a opinião ou posição das entidades com quem colabora ou trabalha. ALGARVE INFORMATIVO #332


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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #332

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