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ALGARVE INFORMATIVO 23 de abril, 2022
EMILIANO DA COSTA POR LUÍS BARRIGA | «FORA DA CESTA» | TIAGO BETTENCOURT | OJA E VÂNIA FERNANDES TOCHAS FLORIDAS EM SÃO BRÁS | «SOBERANA, MÃE SOBERANA DE LOULÉ» | TEATRO COMUNITÁRIO EM FARO 1
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ÍNDICE Tochas Floridas voltaram a encher São Brás de Alportel de cor e emoção (pág. 20) Luís Barriga «transporta» obra de Emiliano da Costa para o Século XXI (pág. 36) Karlik Danza Teatro interpretou um fantástico «Autorretratos de Pluma y Espada» no Teatro Lethes (pág. 46) Louletanos exultaram com a Mãe Soberana do Teatro do Eléctrico (pág. 66) «Fora da Cesta» levou Plasticine, João Frade e Perigo Público ao Bafo de Baco (pág. 80) Auditório Carlos do Carmo esgotou com Orquestra de Jazz do Algarve e Vânia Fernandes (pág. 88) Teatro Comunitário juntou Portugal e Argentina em Faro (pág. 98) Centro Cultural de Lagos vibrou com Tiago Bettencourt (pág. 122) Paulo Cunha (pág. 130) Ana Isabel Soares (pág. 132) Adília César (pág. 134) Fábio Jesuíno (pág. 136) ALGARVE INFORMATIVO #336
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TOCHAS FLORIDAS VOLTARAM A ENCHER SÃO BRÁS DE ALPORTEL DE COR E EMOÇÃO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina história das «Tochas Floridas» remonta aos primeiros anos do século XVII, época em que os algarvios começaram a realizar a Procissão de Aleluia, na manhã do Domingo de Páscoa, com um forte frenesim religioso. Nessa altura, as confrarias, constituídas unicamente por homens, eram obrigadas a levar uma tocha acesa ou luminária e ALGARVE INFORMATIVO #336
opas vestidas. Com o passar dos anos, a escassez de cera levou à sua substituição por paus pintados e ornamentados com flores, no cimo do qual se colocava, então, uma pequena vela. Uma característica que se manteve, contudo, foi a de apenas os homens erguerem as tochas na frente da procissão, isto porque as irmandades, onde estavam as mulheres, seguiam atrás. As confrarias viriam a desaparecer mais tarde, mas a procissão das «Tochas Floridas» manteve-se, com outra alteração de 20
fundo: os hinos, responsos e o Aleluia em honra da Ressurreição do Senhor deixaram de ser entoados por coros e passaram a ser proferidos unicamente pelo povo, devido à falta de clero e de cantores. Em S. Brás de Alportel, porém, há quem conte outra história. Segundo reza a história, a 25 de julho de 1596, deu-se a invasão da cidade de Faro e seus arredores pelas tropas do Duque de Essex, isto após ter infligido uma penosa derrota à esquadra de Filipe II, na Baía de Cádis. Depois de saquearem e incendiarem toda a cidade, os britânicos tiveram conhecimento de que a povoação de São Brás era rica e importante e para lá marcharam, tendo apanhado os seus habitantes completamente desprevenidos. As tropas não ficaram, todavia, completamente satisfeitas com 21
os roubos e mortes que provocaram e decidiram lançar fogo à igreja, o que foi a gota de água para alguns rapazes solteiros que, munidos de machados rústicos, chucos alfaias agrícolas, conseguiram pôr os invasores em fuga. Depois, enfeitaram as armas improvisadas com flores para comemorar e assim pode ter nascido esta festa, embora tal careça de confirmação oficial. Séculos depois, e depois de dois anos de interrupção devido à pandemia por covid19, tudo começa a ser preparado com semanas de antecedência nesta vila da Serra do Caldeirão, até porque há que «montar» um tapete de flores de um quilómetro de extensão a assinalar o percurso da procissão. Assim, para se construir esta verdadeira obra de arte, são necessárias várias toneladas de flores silvestres, num trabalho que envolve ALGARVE INFORMATIVO #336
largas dezenas de voluntários. Finalmente, e depois da apanha e preparação das flores, é na véspera do Domingo de Páscoa que este tapete florido é estendido pela noite dentro. No dia 17 de abril, o resultado de todo este esforço é verdadeiramente deslumbrante, com as principais artérias da vila embelezadas por milhares de flores campestres e a própria Igreja Matriz de S. Brás de Alportel está especialmente decorada para a ocasião. A missa começa à hora marcada e com lotação esgotada. No exterior, juntam-se cada vez mais turistas estrangeiros, uns novos, outros mais idosos, muitos casais ALGARVE INFORMATIVO #336
com os filhos pequenos, todos munidos de máquinas fotográficas para recolher imagens cuja reputação já ultrapassou vastamente as fronteiras deste concelho. Aqui e ali vislumbram-se jovens e cidadãos mais seniores, vestindo fato e gravata e carregando arranjos florais nas mãos, outros com tochas mais elaboradas, verdadeiras obras de arte, para participar no concurso promovido pela organização. Poucos minutos antes de soarem os sinos a assinalar o término da missa, largas dezenas de homens aparecem com as suas tochas floridas, concentrando-se no largo da igreja e afinando a garganta 22
para os cânticos, ritual para o qual contam com a ajuda da garrafinha de medronho que levam no bolso do casaco. Chega também a banda filarmónica para acompanhar a procissão e, pouco depois, o cortejo inicia-se, com o clero à frente. As ruas apinham-se de milhares de pessoas, portugueses e estrangeiros, desejosos de mergulhar na emoção deste dia especial. Nas varandas, estendem-se colchas floridas, que esvoaçam ao sabor do vento. Os homens abrem a procissão, em duas filas e empunhando a tocha na mão. Ao longo do percurso, sobressaem pequenos grupos que entoam as palavras «ressuscitou como disse» e, com as tochas bem lá no alto, disparam os gritos de «aleluia, aleluia, aleluia». 23
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A procissão percorre São Brás de Alportel sob um calor abrasador, tanto do sol, como da moldura humana que enche as ruas, num circuito bem definido que traz o cortejo de regresso à Igreja, para nova eucaristia. À tarde, a partir das 15h, o Adro da Igreja Matriz recebeu a Tarde Cultural, um momento de convívio animado com a mostra de artesanato, doces e petiscos, com a apresentação dos premiados em mais uma edição dos Jogos Florais e do concurso das mais belas tochas floridas e com as atuações do Rancho Folclórico de Santo Estevão, de Domingos Caetano com uma homenagem ao rock português e de Ágata.
organizada em parceria pela Associação Cultural Sambrasense, Paróquia de São Brás e Câmara Municipal de São Brás de Alportel. Mas a Festa das Tochas Floridas foi também mais uma vez um evento acessível e, à semelhança do que aconteceu em 2019, o Município de São Brás de Alportel, em parceria com a Fisio S. Brás e a Casa de Repouso e Saúde de São Brás, adaptaram um espaço do recinto por onde passa a Procissão de Aleluia, com apoio logístico no acompanhamento e reservando áreas de estacionamento, para dar melhores condições às pessoas com mobilidade condicionada que participam e assistem a este evento. Uma iniciativa integrada no projeto «São Brás Acessível para todos» que se repetiu em 2022 .
Uma festa ímpar a nível nacional ALGARVE INFORMATIVO #336
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LUÍS BARRIGA «TRANSPORTA» OBRA DE EMILIANO DA COSTA PARA O SÉCULO XXI Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina ugusto Emiliano da Costa nasceu em Tavira a 3 de dezembro de 1884 e faleceu em Faro a 1 de janeiro de 1968. Frequentou o Ensino Liceal em Beja e estudou Medicina em Coimbra, curso que concluiu em 1914. Depois disso, radicou-se na aldeia de Estoi, no concelho de Faro, onde exerceu medicina até à sua morte. Em paralelo, desenvolveu uma intensa atividade cultural, com 13 livros escritos e muitos poemas publicados em jornais regionais nas décadas de 30 a 50. Uma obra em que está bem visível o amor que nutria pelo seu Algarve, pelas suas gentes e pelos seus costumes, e que o escritor Luís Barriga está a relançar, através da Arandis Editora, num trabalho gigantesco que pretende recordar um homem da medicina e das letras que, ao contrário do que sucedeu com muitos dos seus contemporâneos, até teve uma grande projeção em vida. “Foi alvo de várias
cerimónias em sua homenagem, chegou até a inaugurar ruas com o seu nome, em Faro, Tavira e Estoi. Porém, nos últimos 50 anos, pouco se tem falado sobre o Emiliano da 37
Costa. No século passado fizeramse alguns trabalhos académicos na Universidade do Algarve e o professor Amílcar Quaresma, que também é de Estoi e foi seu amigo, publicou igualmente um livro sobre a sua obra, mas pouco mais”, conta Luís Barriga. Chegado a Estoi com 30 anos, Emiliano da Costa começou por exercer medicina privada na Rua da Igreja, casou-se com uma rapariga da aldeia, em 1915, e foi viver para a casa da família da esposa, na Rua do Pé da Cruz. A partir de 1919 integrou o chamado Partido Médico, tendo a responsabilidade de dar assistência às pessoas de Estoi, Santa Bárbara de Nexe e Conceição de Faro, o que fez até 1954, tendo-se reformado com 70 anos de idade. “Ao mesmo
tempo, foi sempre cultivando o gosto pela poesia, pintura e desenho, bebeu toda a cultura do meio onde estava inserido. Por isso, a sua poesia é voltada para este deslumbramento com a paisagem, com os ciclos vitais da vida, em sintonia com a agricultura ALGARVE INFORMATIVO #336
Fernando Lobo, Nuno Campos Inácio e Luís Barriga junto à casa onde viveu Emiliano da Costa
e todo o trabalho rural. É uma obra vincadamente etnográfica, bastante cultural, que muitas vezes suscitou alguma perplexidade por misturar léxico da medicina com palavras da linguagem algarvia. Isso fazia com que a sua poesia fosse, por um lado, difícil de interpretar por ALGARVE INFORMATIVO #336
pessoas com nível cultural baixo ou que não estivessem ligadas à medicina, biologia e botânica, mas também os intelectuais tinham dificuldade em lidar com os regionalismos que utilizava”, descreve o psicólogo e escritor. A obra de Emiliano da Costa marcou uma época, contudo, caiu no 38
espalhada por diversas bibliotecas e coleções particulares, o que motivou um amplo trabalho de recolha. Mas adaptei-a também à nova escrita, para facilitar a sua interpretação, redigi um glossário das palavras mais complexas, e atrevo-me a dar a minha explicação dos sonetos, na tentativa de estimular as pessoas menos preparadas para a poesia. E faço isso porque vivi, através dos meus antepassados e de mim próprio, este ambiente que o Emiliano da Costa descreve nos seus sonetos, o que me permite chegar mais além na interpretação da obra do poeta”, explica o entrevistado. Um desafio que foi rapidamente abraçado pela Arandis Editora, de Nuno Campos Inácio, Sérgio Brito e Fernando Lobo. “Esta situação não aconteceu
esquecimento, daí Luís Barriga ter embarcado na aventura de republicar todos os seus livros e publicações que foram feitas acerca dele. Uma coleção lançada com a chancela da algarvia Arandis Editora, que já colocou novamente no mercado os livros «Helianthos», de 1926, e «Phlogistos», de 1931, seguindo-se agora «Roseirinha», de 1940. “Hoje é quase impossível ter
acesso a toda a sua obra, que está 39
apenas com o Emiliano da Costa, é até bastante comum a nível regional. Nos últimos 50 anos vivemos num processo de aculturação motivado pelo advento do turismo, que trouxe para o Algarve uma extensa população, não só de outros pontos de Portugal, como também do estrangeiro. Isso fez com que perdêssemos um pouco da nossa identidade e que se deixasse de valorizar aquilo que era nosso. De um momento para o outro quase ALGARVE INFORMATIVO #336
Emiliano da Costa retratado por Manuel Cabanas e Tóssan
que parece que perdemos toda a identidade que tínhamos enquanto região”, observa Nuno Campos Inácio. Ainda de acordo com o editor e escritor, este processo está, felizmente, num momento de inversão, com o surgimento de uma nova geração que começa cada vez mais a valorizar a identidade regional e a redescobrir aquilo que o Algarve já foi, em termos culturais e literários. “O
trabalho do Luís Barriga neste ALGARVE INFORMATIVO #336
aspeto é fenomenal, porque não estamos a falar de uma edição facsimilada, de uma simples cópia das edições originais. Isso, no fundo, é digitalizar e reimprimir. O Luís Barriga vai muito mais longe do que isso e abdicou do tempo que deveria dedicar à sua própria criação para reavivar a obra da Emiliano da Costa, fazendo uma atualização da sua linguagem e criando um dicionário temático 40
que nos permite perceber aquilo que o autor pretendia dizer”, sublinha Nuno Campos Inácio. “No fundo, são obras renascidas, novas, recentes, e acredito que, no futuro, isto será replicado com outros autores”.
“TEMOS QUE CONTINUAR A APRESENTAR OS LIVROS ÀS CRIANÇAS” Resta saber se, entretanto, há espaço para a obra de Emiliano da Costa num tempo em que prolifera a literatura «fastfood», de consumo fácil, rápido e direto, que não obriga a puxar muito pela cabeça, porque também falta tempo para digerir as palavras que lemos. Mas essa preocupação não apoquenta Luís Barriga, que sente quase uma “obrigação moral”, em fazer este trabalho.
“Quando era pequeno, lembro-me de brincar com os livros do Emiliano da Costa, que andavam em caixas na casa dele, e tinha alguma dificuldade em perceber o que ali estava escrito. A família da minha mãe vivia na casa ao lado, existia uma grande convivência no dia-a-dia, era também o nosso médico, por isso, senti esta necessidade”, justifica o escritor. A vontade é, então, disponibilizar o legado de Emiliano da Costa ao cidadão comum, mas também aos investigadores e historiadores que se interessem pelo 41
assunto para compreenderem em que circunstâncias e momento político se mexia o médico/poeta. “Aquele léxico
todo não se podia encontrar no google, era mesmo preciso ter uma cultura intrínseca ou uma ampla biblioteca. Claro que, agora, vivemos num tempo em que se nota uma grande dificuldade em atrair os jovens para a leitura, porque os estímulos audiovisuais são muito mais atrativos. É um trabalho que as escolas têm tentado realizar através das suas bibliotecas, mas que deve envolver todo o sistema cultural, o governo, as instituições culturais”, entende Luís Barriga. “A leitura é sempre muito mais estimulante para o cérebro do que os filmes ou jogos de consolas, porque obriga a mente a criar o seu próprio enquadramento, daí que haja todo o interesse em apresentar os livros às crianças. É certo que as pessoas leem cada vez mais, mas pequenos textos na internet. Também escrevem cada vez mais, mas mensagens em diversos formatos de comunicação”. Consciente desta realidade, Luís Barriga criou uma página na internet para divulgar a obra de Emiliano da Costa, onde vai publicando regularmente todos os seus sonetos por ordem cronológica, e que tem vindo a crescer. “Há muita
gente que, por este meio, tem ALGARVE INFORMATIVO #336
conhecimento da sua obra e entra em contato comigo para adquirir os livros do Emiliano da Costa”, revela o psicólogo e escritor, antes de passar novamente a palavra a Nuno Campos Inácio. “Esta abordagem
mostra que cada leitor pode ser um crítico e fazer a sua interpretação dos sonetos de Emiliano da Costa. Uma das grandes riquezas da poesia e da leitura é transformar cada livro, não só numa obra do autor, mas principalmente numa obra do leitor, para, a partir dela, desenvolver, criar e recriar as palavras e as mensagens que são transmitidas”, frisa o editor e escritor. «Roseirinha» vai ser então o terceiro livro desta coleção a ser publicado, num ALGARVE INFORMATIVO #336
projeto que serve igualmente para homenagear outro artista um pouco esquecido, Sidónio de Almeida, pintor e escultor responsável pelo busto de Emiliano da Costa que se encontra num jardim de Estoi e que foi amigo do médico/poeta. “O grande acrescento
que dou à obra do Emiliano da Costa é poder senti-la como alguém que ele retratou. A «Roseirinha» é um retrato da cultura e das pessoas da época e começa com dois sonetos: o «Nós os dois», em que o poeta se inclui a ele próprio ou o sujeito poético e a amada; e «Eles os rústicos», as pessoas trabalhadoras, que não tiveram acesso à cultura, que pouco acesso tiveram à educação e aos cuidados médicos. Os «rústicos» eram os meus avós, os 42
meus familiares da aldeia de Estoi que viviam ao lado do poeta, que tinham acesso a informações sobre o Emiliano da Costa que não eram do conhecimento público”, declara Luís Barriga. Uma coleção para a qual Fernando Lobo criou uma identidade tipográfica dentro de cada livro, de modo a que o leitor se aperceba facilmente dos sonetos de Emiliano da Costa, do glossário desenvolvido por Luís Barriga e das explicações que ele dá da obra. “Se
formos buscar as notas introdutórias de cada livro e as compilarmos num único livro, temos igualmente uma bibliografia do Emiliano da Costa muito completa. Enquanto estou a fazer a paginação, estou a ler os poemas e a reparar nas ilustrações que foram usadas nos livros originais, que retratam um Algarve que sociologicamente pode já não existir, mas que existe se tivermos os nossos sentidos abertos. O cantar do galo, o despertar, a monda, o trabalho na terra, a fauna, a flora, é toda uma atualidade etnográfica que ainda é a mesma e que é importante resgatar, não só através da obra do Emiliano da Costa, mas também de outros poetas algarvios como o 43
Cândido Guerreiro, o João Lúcio ou o Bernardo Passos”, defende Fernando Lobo. “Esta coleção, quanto estiver pronta, é uma obra pedagógica de valor incalculável, porque preserva a nossa identidade, uma identidade própria que ainda existe”, conclui Fernando Lobo, com Luís Barriga a agradecer ainda o importante apoio dado pelas Câmaras Municipais de Faro e Tavira e pelas Juntas de Freguesia de Tavira e Conceição/Estoi para garantir a sustentabilidade económica do projeto.
Emiliano da Costa por Sidónio de Almeida ALGARVE INFORMATIVO #336
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KARLIK DANZA TEATRO INTERPRETOU UM FANTÁSTICO «AUTORRETRATOS DE PLUMA Y ESPADA» NO TEATRO LETHES Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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Ciclo de Teatro Espanhol trouxe ao Teatro Lethes, em Faro, no dia 16 de abril, o extraordinário «Autorretratos de Pluma y Espada» da Karlik Danza Teatro de Cáceres. Com textos de María ALGARVE INFORMATIVO #336
de Zayas, Ana Caro, Leonor de la Cueva, Ángela de Acevedo, Catalina Clara Ramírez e Hélène Cixous, e adaptação de Charles Delgadillo e Cristina D. Silveira, o espetáculo encenado por Cristina D. Silveira recordou as escritoras do Barroco Espanhol que enfrentaram o desafio de usar a palavra para evidenciar a situação de silêncio e reclusão a que a moral 48
vigente da época as condenava.
“Quatro dramaturgas fizeram-se ouvir através das suas obras. Levantaram voz e, por meio das palavras, romperam a esfera privada para chegar à esfera pública”, indica Cristina D. Silveira sobre uma peça que foi magistralmente 49
interpretada por Jorge Barrantes, Lara Martorán, Guadalupe Fernández, Sergio Barquilla e Chloé Bird. O projeto é o resultado de uma investigação sobre o teatro do Século de Ouro Espanhol, tanto no âmbito teórico como no da praxe, tanto desde o conteúdo como desde a forma, a fim de ALGARVE INFORMATIVO #336
levar a cena dramaturgas do Século XVII através de uma linguagem cénica onde o ritmo dos versos seja a partitura musical com a que representar coreograficamente as diferentes tramas das comédias escolhidas. A peça da Karlik Danza Teatro gira em torno das quatro dramaturgas seculares mais representativas do Barroco Espanhol, nomeadamente, María de Zayas, Ana Caro de Mallén, Ángela de Acevedo e Leonor de la Cueva, que dão voz às suas visões do mundo através das protagonistas das suas peças: «Traición en la amistad», «Valor, agravio y mujer», «El muerto disimulado» e «La firmeza en el ausencia», respetivamente. “As autoras são também
representadas como personagens em videografias à maneira de autorretratos e revelam-se com os escassos dados biográficos conhecidos, com as opiniões do que se falava em relação a elas e também à maneira de alter ego, com as personagens femininas protagonistas das suas comédias, expondo assim as suas opiniões como escritoras e mulheres do Século XVII”, refere a companhia espanhola. De acordo com a dramaturga e encenadora Cristina D. Silveira, serve de guia para enlaçar as tramas das diferentes peças, Clara, uma ALGARVE INFORMATIVO #336
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personagem contemporânea que fala desde o nosso Século XXI e que fará a ligação entre o público e a cena, provocando, questionando, defendendo ou contrariando em relação ao avanço e a importância de se continuar a defender a igualdade de direitos. “Clara, ao longo ALGARVE INFORMATIVO #336
da peça, retrocederá no tempo para se descobrir como Catalina Clara Ramirez de Guzmán, poetisa da Extremadura, de Llerena, do Século XVII, a quem queremos, da nossa parte, prestar uma pequena homenagem encenando alguns 52
dos seus poemas mais representativos como são os autorretratos”, acrescenta a encenadora. “A solidariedade entre mulheres. A amizade. A mulher desonrada que disfarçada de varão procura restabelecer a sua honra. 53
A valentia. O direito da mulher à livre escolha do casamento. A liberdade. A defesa contra a acusação do caráter mudável da mulher. A firmeza. É disso que se trata esta peça”, finaliza Cristina D. Silveira . ALGARVE INFORMATIVO #336
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LOULETANOS EXULTARAM COM A MÃE SOBERANA DO TEATRO DO ELÉCTRICO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Jorge Gomes
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uando se soube, em 2019, que Ricardo NevesNeves estava a preparar um espetáculo sobre a Mãe Soberana, a convite da Câmara Municipal de Loulé, de imediato começaram os murmurinhos nas ruas da cidade e, à medida que se ia aproximando a data da estreia, as expetativas iam aumentando cada vez mais. Porque o encenador quarteirense, responsável pelo Teatro do Eléctrico, já nos acostumou a grandes produções, a fantásticas peças de teatro ALGARVE INFORMATIVO #336
musicado, a muita gente no palco, a reproduções fidedignas de histórias e tradições. Umas mais alegres, outras menos alegres, umas a roçar mais o teatro nonsense, outras de cariz um pouco mais sério, mas todas elas com símbolo de qualidade. As expetativas eram muitas para «Soberana, Mãe Soberana de Loulé», que contava com mais dois aliciantes: primeiro, os textos são da conceituada e premiada autora Ana Lázaro; depois, a cenografia era da responsabilidade de Henrique Ralheta, líder do Design Loulé Lab, que nos tem brindado com 68
espantosos trabalhos no passado recente. Juntou-se a tudo isto um elenco numeroso e supertalentoso que trabalha com Ricardo Neves-Neves há vários anos, e uma orquestra com direção musical de Rita Nunes, porque o encenador tenta sempre ter músicos reais em palco, ou atrás das cortinas, como aconteceu neste caso, para dar uma sonoridade mais autêntica. Depois do sucesso estrondoso da «Mãe Soberana» do Teatro do Eléctrico de 21 a 23 de junho de 2019, o êxito repetiu-se, no dia 17 de abril, com uma plateia repleta de pessoas ávidas para assistir a um espetáculo que tem como temática o enorme património imaterial do concelho de Loulé que é a sua Mãe Soberana, a procissão e os festejos religiosos em torno de Nossa Senhora da Piedade, Santa 69
Padroeira de Loulé, que acontecem todos os anos no Domingo de Páscoa (Festa Pequena) e duas semanas depois (Festa Grande). Abriram-se as cortinas e, lá está, a tal cenografia fantástica de Henrique Ralheta, as janelas suspensas do céu nas quais se debruçavam mulheres à conversa; uma nuvem que deixa de ser nuvem para ser uma amendoeira, que deixa de ser tudo isso para se transformar no andor quando surgem em palco os famosos «Homens do Andor»; as mesas e cadeiras a reproduzir o Café Calcinha de um lado do palco, as cadeiras nas quais se sentavam as artesãs no outro. Vários espaços cénicos no mesmo espaço cénico, como Ricardo Neves-Neves tanto gosta, com uma cena principal a acontecer, mas muitas outras a ALGARVE INFORMATIVO #336
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sucederem-se em segundo plano, num constante desafio para os espetadores para não perderem pitada da ação. Ação que nos conta os primórdios desta celebração religiosa, as promessas que as mulheres faziam à Mãe Soberana quando os seus maridos e filhos iam para a guerra, mas também para que se encontrasse o amor verdadeiro e duradouro, que se tivesse saúde nos momentos de doença, sucesso nos momentos de infortúnio.
“Mais do que uma manifestação religiosa, cultural e histórica, a filiação dos louletanos à sua Mãe perde-se no tempo e no espaço, está arreigada no sangue, nos ciclos das estações, na luta diária, na alegria e na dor que vivem, sob uma ligação íntima ímpar de proteção e 71
cumplicidade”, descreve Ana Lázaro. E, de facto, as emoções estiveram sempre à flor da pele das mulheres e homens que compunham a assistência, de tal modo que, quando os atores entoavam os cânticos à Mãe Soberana, os mesmos eram rapidamente replicados na plateia, centenas de vozes em uníssono a gritarem «Viva a Mãe Soberana». Uma emoção que transbordou do palco para o público e de volta ao palco, contagiando os atores, porque não é todos os dias que se assiste a demonstrações tão sinceras e genuínas de apreço pelo seu trabalho e pelo objeto da peça. Nota máxima, como já estamos habituados a dar às excentricidades de Ricardo NevesNeves e do seu Teatro do Eléctrico .
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«FORA DA CESTA» LEVOU PLASTICINE, JOÃO FRADE E PERIGO PÚBLICO AO BAFO DE BACO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Eduardo Pinto
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ontinua a viagem performativa do projeto «Fora da Cesta» da «Switch.com» pelo Algarve com o objetivo de divulgar a região e os seus artistas e criativos, procurando ter em complemento uma mensagem de atualidade sobre as alterações climáticas e a urgência em desenvolver alertas de consciencialização e de motivação para medidas de ação, tão necessárias à qualidade de vida ambiental de todos os seres vivos. O projeto artístico transdisciplinar alia o vídeo a diferentes artes performativas, sendo apoiado pelo programa «Garantir Cultura», e o mais recente capítulo ALGARVE INFORMATIVO #336
aconteceu, no dia 16 de abril, em Loulé, no conhecido Bafo de Baco, com um fantástico concerto da banda Plasticine com os convidados especiais João Frade e Perigo Público e que pode ser recordado em https://youtu.be/vYQtMPwmsQE. «Icebergs de Freud» é o título da música composta pelos Plasticine com Rafael Correia (Sickonce), Élton Mota (Perigo Público) e João Frade, no âmbito do convite que receberam para participar no projeto «Fora da Cesta», e que neste caso contemplou a criação e interpretação musical, através do videoclip que foi filmado no mítico Castelo de Paderne, cedido gentilmente para o efeito pela Câmara Municipal de Albufeira . 82
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AUDITÓRIO CARLOS DO CARMO ESGOTOU COM ORQUESTRA DE JAZZ DO ALGARVE E VÂNIA FERNANDES Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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omemora-se, a 30 de abril, o Dia Internacional do Jazz, data que a Orquestra de Jazz do Algarve marca, ano após ano, com diversas atuações, desta feita tendo convidado uma das maiores vozes que Portugal viu nascer nos últimos anos e que rasgou, não só pelo plano do Jazz, mas também por outras áreas musicais.
“Vânia Fernandes é uma voz versátil, muito musical, poderosa, que não deixa ninguém indiferente. Não foi assim difícil chegar à ideia que serve de base ao programa que nos leva a celebrar o Dia Internacional do Jazz: vamos ALGARVE INFORMATIVO #336
celebrar, ao mesmo tempo, as grandes vozes do Século XX, como Billie Holiday, Ella Fitzgerald ou Sarah Vaughn, com temas que imortalizaram com as grandes Orquestras de Count Basie, Benny Carter ou Duke Ellington ou Thad Jones”, descreve o maestro Hugo Alves. Um percurso pelo Século XX com standards e orquestrações originais que passam por quase todas as décadas e que estrearam em absoluto na sua quase totalidade, no concerto que a Orquestra de Jazz do Algarve deu, com Vânia Fernandes, no Auditório Carlos do Carmo, em Lagoa, no dia 14 de abril .
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TEATRO COMUNITÁRIO JUNTOU PORTUGAL E ARGENTINA EM FARO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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s grupos de teatro comunitário «Teatro de Vizinhes» de Faro e «Matemurga» de Villa Crespo, em Buenos Aires, Argentina, subiram ao palco do Largo do Carmo, em Faro, no dia 9 de abril, naquele que foi o culminar de um projeto iniciado antes da pandemia e que visava a criação de um grupo de teatro comunitário na capital algarvia, dirigido localmente pelo Colectivo JAT, sob a orientação de Edith Scher, diretora da companhia «Matemurga» e uma das referências mundiais desta arte. O projeto incluía a vinda da encenadora e da companhia argentinas para a partilha de experiências e saberes, bem como a ALGARVE INFORMATIVO #336
apresentação de um espetáculo. A pandemia adiou este encontro, contudo, e depois de quatro meses de ensaios, muitos debates, ideias, canções e improvisações, o grupo farense subiu ao palco do Teatro das Figuras com o espetáculo «Sai da Frente», que já percorreu vários espaços do concelho de Faro. “Essa experiência de criação
coletiva e comunitária foi de tal forma forte e positiva, que todos os envolvidos decidiram continuar e solidificar o projeto e formar um Grupo de Teatro Comunitário permanente na cidade”, explicam Diana Bernedo e Miguel Martins Pessoa, assim tendo nascido o grupo «Teatro de Vizinhes» com orientação do Colectivo JAT. 100
Dois anos após o início do projeto, o tão esperado encontro tornou-se finalmente uma realidade, com a presença de Edith Scher e dos «Matermurga» a partilhar com os vizinhes a sua experiência de mais de 20 anos de teatro comunitário. Deste modo, a companhia argentina apresentou «Herido Barrio» (Vizinhança Ferida), um espetáculo de teatro popular, com encenação de Edith Scher, que parte das histórias dos moradores de Villa Crespo (Buenos Aires, Argentina). Interpretado por mais de 30 vizinhos, o espetáculo reflete sobre as mudanças ocorridas no bairro ao longo do tempo. “O que é que nos aconteceu? 101
O que se esconde atrás da porta de uma casa abandonada, que de repente range e nos lembra o que fomos em tempos? Há uma ferida, dizemos, e pertence a todos. Dói porque se manifesta em muitas perdas nas coisas quotidianas. Dói porque a nossa memória martela e insiste em dizer-nos que se pode viver de outra maneira, mesmo que habitemos nesta grande cidade. Não sabemos se aquilo que perdemos, voltará. Entretanto, e ALGARVE INFORMATIVO #336
nomeando aquilo que nos magoa, estamos aqui, no nosso bairro ferido, a recordar e a celebrar”, descreve Edith Scher. De seguida, o grupo «Teatro de Vizinhes» levou mais uma vez a cena «Sai da Frente», com encenação de Miguel Martins Pessoa e Diana Bernedo e ALGARVE INFORMATIVO #336
coordenação musical de Ilda Nogueira, que conta, através de uma visão crítica e poética, o dia-a-dia de uma comunidade algarvia que se vê impedida de chegar à praia de Faro, num qualquer dia de Verão. Conflitos sociais e humanos, numa comédia interpretada por vizinhes e para vizinhes . 102
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CENTRO CULTURAL DE LAGOS VIBROU COM TIAGO BETTENCOURT Texto: Daniel Pina | Fotografia: Ricardo Coelho
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Centro Cultural de Lagos recebeu, no dia 9 de abril, a digressão «2019 Rumo ao Eclipse» de Tiago Bettencourt, na qual o artista dá a conhecer o seu sétimo disco, lançado, com o mesmo nome, em outubro de 2020. Constituído por 12 canções que incluem parcerias com outros artistas nacionais, o álbum é uma reflexão sobre 2020, “desde questões e críticas
pessoais, sobre manter-se autêntico, até mesmo os valores sociais que foram remodelados durante este período”, indica. Depois de, em 2020, e em pleno confinamento, Tiago Bettencourt ter ALGARVE INFORMATIVO #336
apresentado o concerto «Tiago na Toca» em direto pelo Instagram, seguiuse a digressão «Uma Guitarra, Um Gira Discos e Uma Planta», que passou pelo Cineteatro Louletano, em Loulé. Depois, já com a banda, o cantautor regressou a terras algarvias em 2021, mais concretamente ao Auditório Municipal de Olhão e novamente ao Cineteatro Louletano, chegando agora ao Auditório Duval Pestana, no Centro Cultural de Lagos, para atuar perante uma plateia completamente esgotada que escutou temas como «Partimos a Pedra», «A Dança», «Ilha Grande», «Se Me Deixasses Ser», «Fúria e Paz», «Viagem», «Só Mais Uma Volta», «Maria», «Não Queiras Mais de Mim», «Laços», «O Jogo», «Sara», «Carta», «Morena» e «Canção do Engate», esta última de António Variações . 124
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Justa e merecida pretensão Paulo Cunha (Professora) abendo que nas comemorações do 150.º aniversário do nascimento do almirante Gago Coutinho (2019), a Assembleia Municipal de S. Brás de Alportel aprovou por unanimidade uma moção propondo ao Governo a atribuição do nome «Almirante Gago Coutinho» ao Aeroporto Internacional de Faro e também que a AMAL agendou esta temática para consideração pelos seus membros, resolvi solicitar ao meu amigo Rui Cabrita (um dos principais impulsionadores e subscritores desta iniciativa) que me fornecesse mais informações para este artigo. Não sendo um dos subscritores da iniciativa, concordo inteiramente com os propósitos da mesma. Estou também convencido que qualquer algarvio e «português de gema» também concordará. Se em 2016 houve o interesse e a coragem por parte do governo regional da Madeira para atribuir o nome de um seu autóctone ao seu aeroporto, porque não fazê-lo em 2022 com Carlos Viegas Gago Coutinho – o almirante Gago Coutinho, que em Faro e S. Brás teve as suas origens, tendo-se destacado como um dos mais brilhantes portugueses? A primeira travessia aérea do Atlântico Sul, protagonizada por Gago Coutinho e Sacadura Cabral em 1922, quando a aviação dava os seus primeiros passos e os homens ainda ensaiavam, ALGARVE INFORMATIVO #336
temerariamente, a experiência de pôr a voar aparelhos que hoje consideramos primitivos, constitui um dos feitos de expressão maior nas conquistas da humanidade. Tendo ousado atravessar os oceanos, sem ajudas, navegando com a certeza de alcançar o seu destino de forma autónoma, com base nos estudos e métodos que Gago Coutinho desenvolveu, os aviões passaram a poder alcançar qualquer destino que estivesse ao alcance das suas capacidades mecânicas e da sua autonomia em combustível. Gago Coutinho idealizou, criou e aperfeiçoou a técnica e os instrumentos que constituíram a base para o futuro das viagens aéreas. Tão grande feito encontrou a sua máxima expressão ao ser considerado Património da Humanidade pela UNESCO, tendo, a 27 de julho de 2011, sido inscrito o Relatório da 1.ª Travessia Aérea do Atlântico Sul no Registo da Memória do Mundo. A agência especializada da ONU, afirma que a inclusão de tais documentos naquele registo reflete o seu valor excecional e significa que devem ser protegidos em benefício de toda a humanidade, além de oferecerem uma excelente oportunidade para chamar a atenção para a importância da memória coletiva e da sua salvaguarda. Tendo nos subscritores da atribuição do nome «Almirante Gago Coutinho» ao Aeroporto Internacional de Faro alguns 130
amigos, saúdo e solidarizo-me com a sua pretensão. Sendo uma forma de realçar o apreço dos algarvios pelo seu aeroporto, vendo-o associado a tão relevante personalidade aeronáutica, oriunda da região, constituiria uma forma de nos projetarmos no mundo, lembrando o engenho e a capacidade criativa da gente portuguesa e o seu contributo para o desenvolvimento da humanidade. A par da Universidade do Algarve, o aeroporto constitui, indubitavelmente, a infraestrutura que garante maiores valores, económicos e sociais, ao Algarve. Nada será mais eficaz como divulgador da imagem do Algarve e do país do que transmitirmos uma mensagem simbólica de modernidade e das capacidades deste povo a quem nos visita, valores 131
personificados na personalidade aeronáutica do algarvio Gago Coutinho. Porque “Portugal conta com vários dos seus filhos que, por obras e feitos, deixaram o nome gravado a ouro na História da Humanidade, sobretudo na época áurea da expansão quinhentista, mas também através dos tempos” e por ter produzido uma revolução na navegação aérea, alcançando assim a dimensão daqueles que descobriram as rotas dos oceanos nos séculos XV e XVI, é mais do que a altura de colocar o nome e a memória deste algarvio na principal porta de entrada e de saída do Algarve. Será, sem dúvida, uma decisão que, homenageando o passado, apontar-nos-á o futuro .
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Quinquagésima primeira tabuinha - A boca Ana Isabel Soares (Professora Universitária) lguém caminha pela rua, na direção do mercado. É a manhã de um dia de trabalho, chegou pão fresco vindo dos lados da serra. Antecipam-se, por isso, os sabores da torrada com queijo fresco, o cheiro das fatias de pão na cozinha, a segundos de começar a queimar. No bule de vidro transparente, o sarro aguarda pelos jorros de água nova, pelas folhas encarquilhadas e trémulas de camellia sinensis, pelo hálito fervente, renovador, do chá. Mas é ainda a rua, sovada pelo vento – e quem passa a olhar, como se pela primeira vez, para todos os outros: hoje veem-se rostos completos, sorrisos, esgares contra uma rajada mais forte. A boca. Como pode uma boca ser, ao mesmo tempo, um dos mais definidores elementos do rosto e aparentemente descartável? Numa sala de aula, durante os dois últimos anos, desconheço as bocas de raparigas e rapazes que, apesar ALGARVE INFORMATIVO #336
de tudo, falam, escutam, leem – sorriem. A partir de agora, que podem desmascarar os sorrisos, os meus olhos procurarão ajustar às vozes aqueles traços móveis, a dança de queixo e lábios, o começo das bochechas, uma que outra covinha, as rugas que se insinuam, bigodes, outras penugens. Que estranha gente é o ser humano. Como se adapta depressa às ausências dos gestos, ao seu encobrimento, ao seu reaparecimento. Como tanto estranha, se debate perante as mudanças e as integra, quase sem se aperceber, no quotidiano. Hoje, parece-me sobretudo impossível descartar a máscara que uso e sinto que me protege – mas sinto, igualmente, que daqui a uns dias (dois, dez, trinta?) me será curioso imaginar a vida mascarada, as bocas sumidas, os sorrisos iguais (brancos, azul-claros, faixas de papel cirúrgico a condizer com a toilette). Como quando é Verão e forço o pensamento a imaginar-me de casacos pesados, ou Inverno e penso que estou numa praia sem mais a cobrir o corpo do que um fato de banho . 132
Foto: Vasco Célio
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Notas Contemporâneas [37] Adília César (Escritora) “Mas um alto espírito poético que, num perpétuo arranque, quer penetrar para além do mensurável e do tangível, decifrar a pedra e tocar no segredo das coisas – se não produz verdades que a ciência possa registar, sobe, mais que nenhum outro espírito, até às proximidades desse ideal a que nós damos, por convenção, o nome tradicional e teológico de «Deus»”. Eça de Queirós (1845-1900), in Notas Contemporâneas (1909, obra póstuma)
UANDO EU NASCI partiram-se todos os cristais da casa. Eu fui a transparência que desaguou da maré do ventre. A mulher principal carregava o lar com a expectativa do milagre, orando, de coração ao alto. Essa transparência fragmentada chamava-se «Deus», disse a minha mãe, naquele preciso momento em que nos olhámos por dentro uma da outra. A primeira palavra aprendida exibia um rosto de liquidez espiritual, uma arquitectura sem alicerces. Vi bem como a mãe também era frágil, de esperanças finas como a verdade e espessas como as dúvidas. A verdade sorria e as dúvidas desmoronavam-se, para mim e para ela. Sei que o meu princípio foi o fim de qualquer coisa que tinha o meu nome. Adília.
arrumou os instrumentos de coordenação do acto de nascer. Isto foi o que percebi, enquanto voava pelo quarto com as asas emprestadas pela sensação incómoda de nascer. Abrir, fechar e depois? Finalmente, chorar. * ABRIL é um mês não categorizável no calendário do clima e do tempo psicológico. Está confuso. Sol, chuva, vento, e saudades da menina que eu fui. As memórias regridem àquele dia, sem esforço de manipulação dos acontecimentos. Os pedacinhos de cristal enchem o ninho, encheram todos os ninhos que surgiram depois. São quase belos na sua possibilidade de infligir dor e melancolia. Refracta-se a luz, comprova-se o método científico da experiência e cantase a mesma canção de embalar. O cálice reconstrói-se e assume-se inteiro, sem marcas de tragédia.
* A CRIANÇA não chorava. Parecia atenta, os olhos abertos como pedras vivas, arregalados em direcção ao tecto pejado de sentimentos novos. O pai disse que estava tudo bem e ALGARVE INFORMATIVO #336
* É A MÃE que canta. O poema engrandece a melodia. A mãe tem a voz de um anjo que antes de ser anjo era uma cotovia. O rouxinol cala-se e espera que a alucinação 134
maternal tenha um final feliz, como nos contos de fadas. Era uma vez que, muitas vezes, se repete na misteriosa missiva, quase uma oração. O primeiro poema que a criança escuta tem a forma dos silêncios que se escondem nas pausas da voz. O que a mãe diz à criança é importante, mas o que ela cala é ainda mais verdadeiro. A criança escuta e acredita. Está tudo bem. * A VIDA passa por mim, deixando sulcos nos caminhos do rosto. As pedras desbastamse pela inércia do tempo. A idade é um lugar de onde não existe evasão e faz o seu trabalho a partir de dentro. Vê-se por fora porque há um labor do espírito que ultrapassa as fronteiras da pele e depois pára para descansar. É um peso que se chama «incerto futuro» nas folhas rasgadas de um calendário perpétuo e sempre provisório. Não posso pensar sobre o porvir porque ainda não sei o que significa a duração de cada dia. Mas sinto a pressão no peito, uma mão enroscada e interior a querer segurar o coração ainda vivo, fechado na caixa de veludo que me foi oferecida quando eu nasci. Sinto um cordão umbilical ligado a mim mesma, quase separado da minha velha mãe, como uma pequena agonia por não saber se conseguirei escrever a última página do manuscrito da minha vida ou se alguém a escreverá por mim. Um ponto sem retorno neste dia em que as delicadas flores de cera se derretem em câmara lenta sobre a minha cabeça e lentamente me vão enterrando. Uma pequena-grande tragédia, portanto. Apenas um instante e quebram-se todos os espelhos onde tantas vezes me vi: uma menina de olhos abertos como pedras vivas: uma menina de mãos dadas com os monstros que estão neste 135
caminho onde inevitavelmente se vai construindo uma ponte para o outro lado, quando os olhos se fecharem. * AMOR E CONTEMPLAÇÃO é o que resta debaixo de um tecto de vento e glória, situado longe das rotas de colisão. A casa da mãe, ainda a mesma casa. Os teus olhos maternais conduzem o meu escuro. Em silêncio, aceitas o que te dou como se não houvesse amanhã. Ainda somos mãe e filha no amor e na contemplação. Mas deixa cair as palavras, eu guardarei as que fazem sentido para te declamar um poema de cristal. Já nasceu um novo dia, igual ao primeiro dia em que fomos tu e eu. Ainda somos nós, ainda estamos aqui de corações ao alto. De todas as dúvidas sobressai a verdade total: nós somos o nosso segredo nesta linha de escrita . ALGARVE INFORMATIVO #336
Portugal, país de empreendedores Fábio Jesuíno (Empresário) onsidero Portugal um país de empreendedores, historicamente, tivemos vários exemplos que comprovam esse facto, desde a sua fundação, passando pela época dos descobrimentos até aos dias de hoje. Portugal nasceu por iniciativa do grande empreendedor D. Afonso Henriques, que em 1143 teve a audácia e coragem de contra a vontade de sua mãe, D. Teresa de Leão, tornar o Condado Portucalense um país, independente e soberano. Os descobrimentos foram, sem dúvida, outro grande momento de empreendedorismo português, que através do planeamento de D. João I e do seu filho, o Infante D. Henrique, delinearam uma estratégia com uma excelente equipa de navegadores, como o Vasco da Gama, Pedro Álvares de Cabral e Bartolomeu Dias para «navegar por mares nunca dantes navegados», dando início à primeira globalização da história, pondo vários povos a comunicarem e a fazerem negócios. Outro grande empreendedor foi, sem dúvida, o Marquês de Pombal, que, depois do terramoto de 1755, planeou uma reconstrução de Lisboa e recuperação económica através de acordos com vários países europeus, que foi um contributo ALGARVE INFORMATIVO #336
para o desenvolvimento industrial e para o fortalecimento e reconhecimento do Vinho do Porto. Quero destacar também o empreendedor Alfredo da Silva, que em 1908 criou o grupo CUF, que chegou a integrar mais de 100 empresas, participando em praticamente todos os sectores da actividade económica nacional antes do 25 de Abril. Tenho de mencionar outro grande empreendedor, António Champalimaud, que ganhou a sua fortuna graças à indústria dos seguros, banca e cimento e decidiu doar 500 milhões da sua fortuna para a criação de uma fundação que faz investigação em áreas de ponta e tem como prioridade estimular descobertas que beneficiem as pessoas. Actualmente, também podemos mencionar grandes empreendedores, um dos que destaco é o José Neves, que criou em 2007 a Farfetch, uma plataforma online de venda de artigos de moda de luxo, que conseguiu ser a primeira startup de origem portuguesa a atingir os mil milhões de dólares. Somos um país de empreendedores, para além destes exemplos, históricos e mais recentes, existem outros menos conhecidos, desde micro, pequenos e médios empresários que contribuem para sermos cada vez um país mais empreendedor .
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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #336
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