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ALGARVE INFORMATIVO 21 de maio, 2022
«AMALIA Y EL RÍO» | «CINCO FORMAS DE MORRER DE AMOR» | TERESA ALEIXO 1 NATUREZA DETESTA LINHAS RETAS» | DIA DE QUARTEIRA | «VAIAPRAIA» ALGARVE|INFORMATIVO #339 «A «TRIPLO»
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ÍNDICE Quarteira festejou 23 anos de Elevação a Cidade (pág. 26) Pedro Abrunhosa no Cineteatro Louletano (pág. 38) Teresa Aleixo no Teatro Lethes (pág. 52) KALE Companhia de Dança levou «Triplo» a Lagoa(pág. 60) Catarina Molder interpretou «Cinco Formas de Morrer de Amor» no Cineteatro Louletano (pág. 76) «Amalia y el Río» no Teatro Lethes (pág. 88) Irreverência de Rodrigo Vaiapraia animou Relevim de Santo António (pág. 100) «A Natureza detesta Linhas Retas» no Museu Municipal de Taivira (pág. 110)
OPINIÃO Adília César (pág. 124) Antónia Correia e José Dias Lopes (pág. 126) Nuno Campos Inácio (pág. 128) João Ministro (pág. 130) Lina Messias (pág. 132) ALGARVE INFORMATIVO #339
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QUARTEIRA FESTEJOU 23 ANOS DE ELEVAÇÃO A CIDADE Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina Junta de Freguesia de Quarteira comemorou o Dia da Cidade, a 13 de maio, com um programa que incluiu a visita aos novos espaços socioculturais e de partilha de conhecimentos, situados na Rua Dr. José Pedro, e o primeiro aniversário da Exposição «Com os pés na terra e as mãos no mar – 6000 anos de História de Quarteira». Um dia que começou, logo às 9h, com o tradicional hastear da bandeira, junto ao Edifício do Centro ALGARVE INFORMATIVO #339
Autárquico, com a formatura dos Bombeiros Municipais de Loulé. Seguiu-se, no Auditório do Centro Autárquico, a sessão protocolar do Dia da Cidade, na qual Telmo Pinto recordou que os últimos dois mandatos foram pautados por grandes mudanças.
“Finalmente foi reconhecida a dinâmica da própria cidade/freguesia e a necessidade de termos uma junta de freguesia mais musculada e com capacidade de responder mais rápida e 26
eficazmente à sua população. Tudo isto fez com que a própria Junta se tornasse uma referência, tanto a nível regional como nacional, marcando uma posição dianteira na capacidade de resposta à comunidade”, frisou o presidente da Junta de Freguesia de Quarteira, dando o exemplo de como, em 2021, se conseguiu, em apenas três meses, implementar o Espaço do Cidadão em Quarteira, que trouxe quase 100 novos serviços que são efetuados localmente.
“Só no último ano foram realizados perto de 6 mil atendimentos, que fizeram com que as pessoas não tivessem de sair do local onde vivem para resolver os seus problemas”.
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Telmo Pinto lembrou que, há 20 anos, a Câmara Municipal de Loulé foi pioneira na implementação dos contratos programa, alocando recursos financeiros suficientes nas suas juntas para que, com a proximidade e conhecimento do território, pudessem resolver com maior rapidez e eficácia os pequenos problemas do dia-a-dia. “Hoje, 20 anos depois,
conseguimos todos ir mais longe, mesmo até que o resto do país e para além do que era exigido por lei através da transferência de competências. A Câmara Municipal de Loulé encontrou o modo para poder fazer muito mais, formando com as juntas de freguesia uma equipa que, através dos contratos interadministrativos, interfere ALGARVE INFORMATIVO #339
indiretamente no orçamento municipal, transferindo verbas para se executarem obras de maior relevo e de interesse de todos”, enalteceu Telmo Pinto. O autarca afirmou ainda o seu empenho em tirar as palavras «democracia participativa» do papel e torná-las numa realidade palpável. “Quero uma
freguesia e um concelho participativos e ter forma de contribuir para uma região mais participativa, porque fazemos todos parte do todo. Quero executar tudo o que estiver ao nosso alcance e sermos resilientes com o que não depende de nós, portanto, é nossa obrigação intervir de forma ativa e ALGARVE INFORMATIVO #339
participativa”, entende Telmo Pinto, mostrando-se ainda satisfeito por ver que as cidades começam a ser repensadas.
“Há que humanizar cada vez mais os espaços públicos, criando melhores condições de mobilidade, mais zonas de lazer para atividades várias, ambientes mais sociais e familiares. O nosso objetivo é trazer de volta as pessoas com qualidade para as ruas. E queremos mais ambiente, melhores espaços verdes e melhor limpeza urbana”. Em termos ambientais, Telmo Pinto falou de dois projetos de extrema importância que se dividem entre as freguesias de Quarteira e de Almancil, promovidos pela Câmara Municipal de Loulé, nomeadamente, a Reserva Natural 28
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Local, que protege a área envolvente das Ribeiras do Almargem e o Trafal, e a reposição das areias das praias até ao Ancão com intervenção nos molhos.
“São de extrema importância a nível ambiental e até de sustentabilidade da nossa economia, pois não nos conseguimos imaginar sem praias”, avisou o autarca. Projetos avançam também para a reorganização das esplanadas para uma melhor ocupação do espaço público, assim como para a promoção do pescado local. “No
porto de pesca de Quarteira avançámos neste momento com o ALGARVE INFORMATIVO #339
projeto do snack bar com balneários para os pescadores. E não posso deixar de relembrar que um porto de pesca que nasceu torto e em que nunca se fez um único investimento de relevo, nestes oito anos, e no que respeita à segurança, se criou uma Estação de Salva-Vidas e um Posto da Polícia Marítima. Foram também criadas melhores condições para a GNR com a construção do novo posto, e este ano vamos ter mais de 40 efetivos em Quarteira. E a BAL – Base de Apoio Logístico, 30
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que colocou aqui localmente equipas da proteção civil e dos bombeiros, aproximando as equipas da população”, realçou. Virando a atenção para a Educação, Telmo Pinto destaca a nova Escola D. Dinis e revelou ainda que a Câmara Municipal de Loulé se prepara para iniciar a construção de uma creche com 120 lugares, que o Centro de Apoio à Criança vai avançar para uma ampliação de 43 lugares de creche e que a Fundação António Aleixo vai também ampliar o seu espaço para mais 30 lugares de creche, a que se soma igualmente um projeto camarário para uma nova EB2,3 em Quarteira. “Na Saúde, tínhamos
uma USF – Unidade de Saúde Familiar e uma UCSP – Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados e vamos passar a ter mais uma USF, o que significa mais médicos, o que implica mais famílias cuidadas. E vamos ter um novo Centro de Saúde promovido pela Câmara Municipal de Loulé”, anunciou, antes de dar mais novidades:
“A reabilitação do antigo casino vai em breve iniciar-se, sendo que estamos a fazer renascer um local que faz parte da história dos quarteirenses. Por fim, a conclusão do projeto do CECQ – Centro de Educação e Cultura de Quarteira, que, para além da parte cultural, tem também, por exigência de Vítor Aleixo, a vertente
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educacional da dança, o que valoriza muito mais o projeto”.
MERCADO MUNICIPAL E ANTIGO CASINO AVANÇAM JÁ, CECQ AINDA NÃO No dia em que Quarteira celebrou o 23.º aniversário de elevação ao estatuto de cidade, o presidente da Câmara Municipal de Loulé, Vítor Aleixo, deu mais uma boa notícia à comunidade local, a construção do Mercado Municipal, equipamento que, numa terra ligada desde sempre à pesca, tem sido, ao longo dos tempos, uma das maiores reivindicações dos quarteirenses. Por isso, o edifício que se projeta agora é ambicioso do ponto de vista funcional e arquitetónico e pretende ser um ponto de atração turística. Incluirá uma área com módulos de peixe, carne e legumes, uma praça de restauração, uma zona aberta de coworking, lojas de pequeno comércio e também um parque de estacionamento público que irá servir a zona poente de Quarteira, com o autarca de Loulé a sublinhar que esta será, sobretudo,
“uma obra de grande beleza estética”. Enquadrado na terceira fase do Passeio das Dunas, o projeto do futuro Mercado é também uma referência em termos das preocupações ambientais, sendo uma das primeiras obras públicas em frente de mar em Portugal adaptada às alterações do clima. Para esse efeito, a Autarquia de Loulé mandou elaborar um estudo sobre o avanço do nível da água do mar nas próximas décadas, o que levou a que o 32
projeto inicial do Mercado de Quarteira sofresse algumas alterações que atrasaram o processo em quase dois anos. “Segue-se agora a abertura
de um concurso público internacional, dado tratar-se de um investimento avultado, orçado em cerca de 17 milhões de euros, mas que vai lançar Quarteira para um patamar muito alto, porque será muito mais do que um mercado”, confirmou Vítor Aleixo. Em relação ao antigo Casino, localizado na zona histórica da cidade, o investimento que ascende a dois milhões de euros vai criar um espaço comunitário e polivalente que permitirá resgatar um símbolo identitário desta terra. Entre outros, estão previstos espaços para ateliers e oficinas, uma sala polivalente destinada ao espaço de coworking, um 33
complemento que permitirá apoiar as gerações mais novas, criando condições de trabalho comunitário, bem como o estúdio de captação e gravação. O imaginário do antigo salão de baile será recriado numa sala que terá capacidade para 350 lugares de pé e 200 sentados, podendo acolher diferentes atividades artísticas e culturais, como teatro, dança, bailes, exposições. “Será um espaço
importante para o trabalho direto com as associações, com as instituições, com os privados que gostam de cultura, porque vão ter capacidade para, num espaço que é gerido pela Câmara, poderem ter várias atividades. É um equipamento cultural próximo da população”, frisou Telmo Pinto, com Vítor Aleixo a garantir que “as pessoas de Quarteira vão gostar muito”. ALGARVE INFORMATIVO #339
Quanto ao CECQ – Centro de Educação e Cultura de Quarteira, apesar de estar já concluído o projeto técnico e de arquitetura e definido o terreno onde se irá localizar, a obra não vai avançar no imediato, revelou Vítor Aleixo. “Os
preços subiram muito e o dinheiro não dá para tudo, mas sentir-me-ia um autarca bastante feliz se conseguisse, no último ano do meu mandato, abrir o concurso público para aquela obra”, indicou o presidente da Câmara Municipal de Loulé, lembrando que a guerra no leste europeu teve impacto ao nível do custo inicialmente estimado para a realização de diversas obras públicas. Vítor Aleixo deixou ainda uma nota para a necessidade de se olhar para o ALGARVE INFORMATIVO #339
desenvolvimento de Quarteira de uma forma sustentável. “Chegámos a um
patamar em que temos que ter a noção do equilíbrio. Se não colocarmos na equação a sustentabilidade ambiental e social, tudo isto que é hoje muito bonito e esperançoso pode, dentro de 10, 20 anos, revelar-se uma má experiência com frutos amargos. Temos que olhar para os espaços verdes, para a biodiversidade, para o cuidado que teremos de ter com a liberdade das pessoas, e isso significa equilíbrio no espaço público urbano”, concluiu. A par dos discursos dos presidentes do Município de Loulé e da Junta de Freguesia de Quarteira, a manhã foi 34
também de reconhecimento do trabalho desenvolvido por algumas entidades nesta freguesia, casos da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, Autoridade Marítima Nacional – Delegação de Quarteira, Sub35
Destacamento Territorial de Quarteira e Vilamoura da Guarda Nacional Republicana, Bombeiros Municipais de Loulé, Serviço de Proteção Civil de Loulé, Inframoura e Vilamoura World . ALGARVE INFORMATIVO #339
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PEDRO ABRUNHOSA ESGOTOU CINETEATRO LOULETANO COM UM ESPETÁCULO ESTRONDOSO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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digressão a solo de Pedro Abrunhosa prossegue em alta velocidade de norte a sul do país e trouxe o viajante, escritor e homem de palco por excelência a Loulé, no dia 8 de maio, para um concerto esgotado no Cineteatro Louletano. A solo ao piano, mas acompanhado pela guitarra de Bruno Macedo, Pedro Abrunhosa partilhou com a assistência algumas das canções, hinos, ALGARVE INFORMATIVO #339
lendas e adágios que tem produzido ao longo das últimas décadas, mas com roupagem nova, e adiantou igualmente temas do próximo disco a editar ainda em 2022. Multiplatinado em praticamente todos os discos, Pedro Abrunhosa foi distinguido com todos os prémios nacionais de relevância e está então de regresso à estrada, sem banda, mas com toda a sua energia, irreverência e poderosas mensagens. E o público, como seria de esperar, aderiu em peso . 40
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TEATRO LETHES AO RUBRO COM «QUANTO DE MIM» DE TERESA ALEIXO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Irina Kuptsova
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30 de abril, Teresa Aleixo e a sua banda subiu ao palco do Teatro Lethes, em Faro, para voltar a partilhar com o público o seu disco «Quanto de Mim». Compositora e cantautora, participou em projetos musicais como os Fora da Bóia, In Tento Trio, Mundopardo, LUM e oLUDO, entre outros, antes de, em março de 2019, lançar o seu disco de estreia a solo, com oito temas compostos e produzidos por si e por Tércio Freire (Nanook). ALGARVE INFORMATIVO #339
A pandemia por covid-19 colocou, entretanto, a digressão em pausa durante dois anos, mas este ano já foi convidada pela RTP para integrar o painel de jurados da região do Algarve na final do Festival da Canção'21, ao lado de Áurea e Napoleão Mira, e regressou à estrada para dar a conhecer os seus originais numa viagem cheia de emoções e acompanhada por Pedro Batista (baixo), Nuno Campos (teclas), Tércio Freire (guitarra), Pedro Gil (guitarra) e Paulo Franco (bateria). E o novo disco já está a ser preparado . 54
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KALE COMPANHIA DE DANÇA LEVOU «TRIPLO» A LAGOA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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Auditório Carlos do Carmo, em Lagoa, assistiu, no dia 7 de maio, ao espetáculo «Triplo» da KALE Companhia de Dança, que desde 2018 integra o projeto de cooperação transfronteiriço «Regards Croisés» (Malandain Ballet Biarritz e La Fundicion Bilbao), convidando três coreógrafos de cada país representado – França, Espanha, Portugal – para desenvolver uma criação original para os intérpretes da companhia. Seguindo o espírito de partilha de linguagens transfronteiriças do certame, a KALE Companhia de Dança propôs este ano a criação de um espetáculo em formato triplo sob a visão de três coreógrafos de diferentes estéticas: a portuguesa Daniela Cruz, criadora em expansão no âmbito da dança contemporânea nacional; Hamid Ben Mahi, com uma nova visão francesa sobre as danças urbanas; e a transdisciplinaridade artística do espanhol Igor Calonge. «Triplo» foi interpretado por Mariana Malojo, Filipa Prata, Denise Sá, Mafalda Cardoso, Luís Claro, Michal Wilk e Isabela Rochael e pelos músicos Domingos Alves e Tilike Coelho. A KALE propõe-se ser o veículo criativo de um espetáculo que junta em palco bailarinos jovens em diferentes estádios da sua carreira profissional, com coreógrafos também eles em diferentes etapas da sua carreira artística com a sua assinatura e visão própria e única da linguagem da dança contemporânea. «Regards Croisés» é um projeto transfronteiriço de cooperação coreográfica que tem como objetivo a descoberta da dança contemporânea e a promoção de encontros entre o público, os artistas e estruturas educativas, promovido pelo Centro Coreográfico Nacional Malandain | Ballet Biarritz . ALGARVE INFORMATIVO #339
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CATARINA MOLDER INTERPRETOU «CINCO FORMAS DE MORRER DE AMOR» NO CINETEATRO LOULETANO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Jorge Gomes
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Cineteatro Louletano, em Loulé, recebeu, no dia 13 de maio, «Cinco Formas de Morrer de Amor», da soprano Catarina Molder, com música de Ernest Chasson, António Chagas Rosa, Schostakowitch, Luís Soldado e Clã interpretada ao vivo por Afonso Fesh (violino), Sara Silva (violino), Trevor McTait (viola) e Vanessa Pires (violoncelo). “Nascemos sem livro de
instruções e temos de as procurar toda a vida. Temos de ser competentes em tudo e a mulher, ALGARVE INFORMATIVO #339
então, tem de ser perfeita. É o mínimo que a sociedade espera dela, daí a mutilação contínua, legitimada pela religião, pelos costumes, num retorno obsessivo ao suposto pecado original, que é o facto do homem vir da mulher”, declara Catarina Molder. A protagonista lembra que “não
pedimos para ser mães, somos, não temos culpa e, para cúmulo das humilhações, no nosso cartão de identidade, o próprio Estado assume em primeiro lugar o pai, quando da mãe nunca há dúvida”. 78
“Para uma mulher, a defesa dos seus direitos é inevitável. Não é suficiente para construir um objeto artístico, mas serve de inspiração e mote. Quem morre mais de amor ou quem se sacrifica mais por amor na ópera, na literatura e na vida são mulheres. Elas expiam os males do mundo”, sublinha Catarina Molder, acrescentando que “espetáculo, ópera ou canção que não tenha um desequilíbrio, uma dúvida, uma crueldade, um sacrifício, não provoca a tão ansiada catarse que os artistas, e mais ainda o público, esperam”. 79
«Cinco Formas de Morrer de Amor» traça o percurso de uma mulher que morre continuamente de amor até à exaustão suprema. “O amor fá-la
viver de novo, para morrer outra vez. Um eterno retorno. Um eterno sacrifício, onde todos os músicos participam. Quem vence no final? O amor ou a morte? A violência do amor, a violência das relações, a violência da procura da felicidade. A violência de se ser mulher”, responde a conceituada soprano portuguesa .
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«AMALIA Y EL RÍO» RECORDA AS MULHERES ESPANHOLAS QUE FAZIAM CONTRABANDO NO RIO GUADIANA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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nserido no Ciclo de Teatro Espanhol, o Teatro Guirigai de Badajoz trouxe ao Teatro Lethes, em Faro, no dia 14 de maio, «Amalia y el Río», com dramaturgia e encenação de Agustín Iglesias e interpretação de Magda G-Arenal e Cándido Gómez, que recorda as dificuldades das mulheres que ganhavam a vida a fazer contrabando entre Portugal e Espanha através do Rio Guadiana.
No início, ela era uma menina e tinha uma vida boa, mas a guerra e a necessidade mudaram tudo. “Ela
Na peça, e na atualidade, Amália entra em cena para nos contar a sua história.
Gómez .
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começa a lembrar-se e a juventude provoca sorrisos e entusiasmo. No palco, encontramos uma comunidade clandestina de vivos e mortos, fugazes e invisíveis diante da polícia e juízes. Uma história de superação para reivindicar a presença feminina em alguns anos cruéis e difíceis”, descreve Cándido
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IRREVERÊNCIA DE RODRIGO VAIAPRAIA ANIMOU REVELIM DE SANTO ANTÓNIO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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artista Rodrigo Vaiapraia esteve em residência no Concelho de Castro Marim, ao abrigo do projeto «Particular Universal», dando por concluído a sua estadia no sotavento algarvio com um concerto, no anfiteatro ao ar livre do Revelim de Santo António, no final de tarde do dia 14 de maio, num evento coorganizado pela OUT.RA – Associação Cultural. Criador transdisciplinar e autodidata, Rodrigo lidera, desde 2014, os Vaiapraia, banda maior do rock independente em Portugal, herdeiros diretos e assumidos
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dos movimentos punk/riotgrrrl/queercore, aclamados pelo Público, Blitz ou Time Out, por exemplo, com o álbum «100% carisma», de 2020, como marco no rock português de qualquer época. De 6 a 13 de maio, Rodrigo Vaiapraia, juntamente com Ana Farinha, Daniel Fonseca e Beatriz Diniz, esteve na Quinta da Fornalha a trabalhar várias ideias embrionárias colecionadas ao longo dos últimos dois anos, procurando
“encontrar coletivamente a atenção, crescimento e reformulação que cada melodia pede”, descreve. Esta foi a segunda residência com curadoria da Filho Único, parceira do projeto «Particular Universal» .
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MUSEU MUNICIPAL DE TAVIRA ACOLHE EXPOSIÇÃO «A NATUREZA DETESTA LINHAS RECTAS» Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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naugurou, no dia 14 de maio, no Museu Municipal de Tavira – Palácio da Galeria, a exposição «A Natureza Detesta Linhas Rectas», de Gabriela Albergaria e com curadoria de Delfim Sardo, que estará patente até 8 de outubro. Gabriela Albergaria (Vale de Cambra, 1965) tem vindo a desenvolver um percurso centrado nas questões da relação com a natureza e a forma como a representamos. «A Natureza Detesta Linhas Rectas» é a primeira exposição antológica da artista, percorrendo os últimos 18 anos do seu trabalho, nos vários suportes que tem vindo a utilizar, desde a escultura, ao desenho, passando pela fotografia e pela produção de múltiplos.
“A questão central que a exposição apresenta é a da zona de fronteira e ALGARVE INFORMATIVO #339
conflito entre a Natureza e o processo moderno da sua apropriação e dominação, tratada a partir de várias situações que recorrem à história das migrações das espécies vegetais, à sua utilização cultural e económica e, por fim, à sua violenta exploração. O campo de trabalho e pesquisa de Gabriela Albergaria tem sido, portanto, a Paisagem, entendida como construção humana, como organização estética, económica e sociocultural do território, não só marcada historicamente, mas também investida de sentidos políticos. O exemplo dos jardins está sempre presente, sobretudo 112
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Eurico Palma, Ana Paula Martins, Bruno Marchand, Gabriela Albergaria, Delfim Sardo, Cristina Neto e Mário Valente
porque, fazendo parte da nossa forma urbana de contacto com o natural, os jardins são de facto zonas complexas de negociação entre o desenho da sua arquitetura e as necessidades lúdicas, científicas ou celebratórias que presidiram à sua edificação”, explica Delfim Sardo. Tendo vindo a constituir um dos campos de pesquisa mais importantes para Gabriela Albergaria, os jardins encontramse permanentemente aludidos nas obras híbridas e simbióticas presentes nas várias salas da exposição do Museu Municipal de Tavira. E, além da reconstituição de uma obra de grande envergadura, central no percurso da artista, a exposição apresenta conjuntos de peças que resultaram de 115
viagens realizadas na Amazónia ou no Redwood National Park, parque florestal norte-americano onde proliferam algumas das espécies mais marcantes desse continente. “É nelas
que se revela de forma particularmente clara o impulso da artista para a inventariação e para o conhecimento quase científico dos mais diversos fenómenos do mundo vegetal – um conhecimento empático e empenhado em estabelecer relações materiais, estéticas e discursivas que nos revelem outras perspetivas sobre o nosso lugar e o nosso papel face ao mundo natural. «A Natureza Detesta Linhas Rectas é, ALGARVE INFORMATIVO #339
portanto, não só uma reflexão crítica sobre a nossa relação com o natural, mas também sobre a forma como encaramos a representação da natureza e do seu tempo em nós”, reforça o curador da exposição. «A Natureza Detesta Linhas Rectas» é organizada pela Culturgest, em Lisboa, onde esteve patente pela primeira vez entre o Outono de 2020 e a Primavera de 2021. A exposição reúne 27 obras, algumas delas produzidas especificamente para esta ocasião, pertencentes a diferentes coleções particulares e institucionais, como a Coleção de Arte Contemporânea do Estado ou a Coleção da Caixa Geral de Depósitos, e inclui ainda um pequeno vídeo documental com uma seleção de
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projetos que a artista realizou no espaço público. O catálogo da exposição, numa edição bilingue português/inglês, reproduz a viagem que Gabriela Albergaria e Delfim Sardo desenharam inicialmente para as salas da Culturgest e que repensaram depois para o Museu Municipal de Tavira. A acompanhar as vistas da exposição, os textos de Delfim Sardo, Lúcia G. Lohmann, Mariana Pestana e Afonso Cruz explanam diferentes abordagens ao universo da artista e ao conjunto de obras que a exposição permitiu revisitar, contribuindo para um documento que inclui ainda uma secção dedicada aos mais significativos projetos públicos que Gabriela Albergaria realizou um pouco por todo o mundo .
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Notas Contemporâneas [39] Adília César (Escritora) A arte é tudo porque só ela tem a duração – e tudo o resto é nada! As sociedades, os impérios são varridos da Terra, com os seus costumes, as suas glórias, as suas riquezas: e se não passam de memória fugidia dos homens, se ainda para eles se voltam impiedosamente as curiosidades, é porque deles ficou algum vestígio de arte, a coluna tombada de um palácio, ou quatro versos de um pergaminho. Eça de Queirós (1845-1900), in Notas Contemporâneas (1909, obra póstuma) M REDOR de um globo terrestre os objectos estão dispostos de acordo com a sua importância. Percebe-se a hierarquia estabelecida, através da forma como esses diferentes objectos se mostram e se escondem, nas posições ocupadas no espaço disponível. Há livros, muitos livros encostados uns aos outros, apoiando-se mutuamente, à espera de qualquer coisa que tarda em chegar. Alguns quadros esboçam auto-retratos de personagens diluídas na memória humana. As janelas, muito altas, parecem rostos sem boca. Nada têm para dizer quando tudo já foi dito. Árvores ainda vivas rompem o chão daquele santuário e procuram a luz elevada na ruína do tecto aberto. O tecto, enquanto metáfora perfeita de fuga, rende-se, contudo, à melancolia do abandono. * UM SUSSURRO de vento insiste, infiltra-se em todas as fissuras. O pó assume uma espécie de ALGARVE INFORMATIVO #339
protagonismo, teimando em manter as outras personagens invisíveis: é o teatro do apocalipse. Da primeira vez do medo, o vento parece ligeiramente significante ao errar o grito. Eco apenas levemente ecoado. Apenas um sussurro. Eis o rumor do fim. Depois, o pavor nidifica, torna-se menos misterioso e mais aceitável; vai pousando um pouco por toda a parte até que, finalmente, os objectos se habituam à sua presença. * A PUREZA do regresso às origens, antes das palavras. A pureza da semiobscuridade. A pureza da luz depois das palavras. A pureza pode ser uma ideia perigosa. Todas as cadeiras tombam, menos uma. Os olhos movem-se, obstinados, enfrentando a única cadeira que não acompanha o desalento das outras. * A CADEIRA guarda o lugar do último actor em cena. Está porventura cansado, pois permaneceu em palco, de pé, desde o primeiro minuto do fim. O seu papel era o 124
de se inclinar ao Poema inscrito no pergaminho da memória. Aproxima-se uma nova era e é preciso invocar qualquer coisa genuína. Agora, o último actor perdeu-se naquele quase-espaço, parou naquele quase-tempo. Isso mesmo, és quase o que se espera que sejas, quase. Mas ainda não. * UMA LINHA INTERDIDA abre o espaço ao tempo. Não sendo uma fronteira, ganha poder o trilho adormecido da sabedoria, ampliando-se até à sombra rotativa. Estou decididamente presa num fatídico lugar, não consigo excluir-me da dimensão avassaladora da ruína. E penso: o conceito de ruína assemelha-se a um relógio avariado por ser passado, presente e futuro no mesmo mecanismo. E decido que já não há tempo para esperar por ti. * E, TODAVIA, eu espero. O mundo, enquanto entidade humana, mumifica as ideias alheias nos livros e enterra-as nos sarcófagos do espírito distraído, iletrado. Não basta escrever, é preciso que o que foi escrito seja lido e, assim, a ideia poderia ser ave do paraíso, poderia ser o futuro da humanidade. Mas não há tempo para pregões, não há tempo para esperar por 125
nós. O teu universo e o meu universo nunca serão o universo dos outros. Tu e eu somos, por enquanto, invisíveis, somos livros escritos com sumo de limão. Mas ainda acreditamos que só a emoção da arte será capaz de arrancar os olhos cegos do rosto da humanidade, para que ela possa ver nascer um novo rosto que não pertença a este mundo. O globo terrestre gira sobre si próprio, porque sabe que não tem outro lugar para onde possa ir .
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A profissão em turismo Antónia Correia, Universidade do Algarve & KIPT José Dias Lopes, ISEG & KIPT turismo é, e tem sido nos anos mais recentes, o motor da atividade económica no Algarve e no país, com impactos em todos os setores económicos. Paradoxalmente, no melhor destino do mundo, a escassez de pessoas a abraçar uma carreira em turismo persiste. Na base desta escassez estão questões demográficas estruturais difíceis de ultrapassar: envelhecimento da população e fuga de talentos. No entanto, existem outras questões que se perpetuam apenas pelo preconceito e enviesamento da informação. Os nossos jovens escolhem a sua carreira inicial precocemente e baseados num preconceito social de que existem profissões «mais nobres» do que outras. O que estes jovens não sabem é que, no turismo, as taxas de empregabilidade são superiores a 80 por cento, enquanto nessas outras profissões «mais nobres», as taxas de empregabilidade são bem mais baixas. Ainda as profissões associadas ao turismo são socialmente percecionadas como menos «dignas», o que não se diz é que a progressão na carreira é muito mais rápida que em alguns setores em que os funcionários são pouco mais do que ALGARVE INFORMATIVO #339
números. Poucos referem que servir à mesa com qualificação é uma experiência culturalmente muito enriquecedora e muito pouco monótona, mais uma vez contrapondo-se a profissões ditas «nobres», em que os processos repetemse por mais de 40 anos, o tempo necessário para alcançarem a reforma. Confirmando as teorias do prémio nobel da economia, que afirma que valorizamos mais as perdas do que os ganhos, insistese na mensagem de que a profissão em turismo não respeita a necessária conciliação com a família, porque existem turnos e trabalho em períodos festivos e de férias. MAS SERÁ ESTA SITUAÇÃO EXCLUSIVA DO TURISMO? Entre as profissões «nobres», quantas são as que trabalham por turnos e comprometem a vida familiar? Reforça-se que em turismo os salários são baixos. É verdade, os salários são baixos, mas para todas as profissões, porque o salário mínimo é baixo. No entanto, um olhar atento para as estatísticas oficiais, mostra-nos que 48 por cento da população empregada por conta de outrem no alojamento, restauração e similares, em 2019, possui o ensino básico. Aponta-se que a remuneração média neste setor é de 764 euros, esquecendo que para esta média contribuem 79 por cento de empregados sem formação superior. Acresce que não se refere que boa parte do 126
índice de remuneração per capita nas atividades características do turismo são na esmagadora maioria superiores a 100, isto é, bastante superiores a 764 euros. O turismo ocupa um número importante de pessoas em atividades que habitualmente designamos como indiferenciadas. Essas atividades tendem a ser pior remuneradas e é principalmente por isso que se associa ao setor as baixas remunerações. Posto deste modo, seríamos levados a pensar que estaríamos assim condenados a ter um turismo de baixa remuneração, o que em última análise significaria ter, nas regiões muito especializadas no setor, um modelo de desenvolvimento económico assente em baixos salários. Mas não é exatamente assim! Alguns dos mais relevantes destinos turísticos destacam-se pela sofisticação e pela qualidade, e estas características exigem recursos humanos com mais competências e com maior capacidade para afirmarem fatores distintivos. Quando assim é observa-se uma gradual substituição de trabalho indiferenciado por 127
trabalho qualificado, e esse é o caminho para a melhoria dos salários. Sem o turismo não ficaríamos com melhores salários. Ficaríamos apenas com menos riqueza, menos economia e menos empregos. Porque Portugal tem na sua base económica o turismo como alavanca privilegiada, porque a profissão em turismo é uma experiência cultural difícil de igualar, porque o céu é o limite na progressão, ou talvez não, note-se que já existe turismo espacial, importa atrair mais jovens para esta profissão e desmistificar mitos que de tão badalados já estão enraizados. O turismo precisa dos nossos jovens e, como em qualquer setor económico, a lei da oferta e da procura funciona – com escassez, os salários aumentam! Mas aumentam também com a qualificação, fator chave para um melhor turismo e para melhores salários no turismo. POR TUDO ISTO, É BOM TRABALHAR NO TURISMO! . ALGARVE INFORMATIVO #339
Uma ilha chamada Algarve Nuno Campos Inácio (Editor e Escritor) região algarvia sempre padeceu de uma síndrome de insularidade, semelhante ao de uma ilha. Essa circunstância não é fruto do acaso, resultando das características geográficas da região, delimitada a nascente pelo rio Guadiana, a sul e a poente com o Atlântico e a norte pelo rio Vascão, por uma serra quase intransponível e pela ribeira de Odeceixe. Não será, por isso, de estranhar, que a principal via de comunicação com a região, ao longo de milénios, fosse a marítima, que promoveu o desenvolvimento de muitas localidades portuárias, algumas com fundação préromana. Este quase isolamento potenciou a salvaguarda da identidade cultural da região, com características próprias que vão da pronúncia à arquitectura, passando pela paisagem e a alimentação. Até ao início do Século XIX, quando a linha do comboio rasgou a serra e estabeleceu uma ligação terrestre com o resto do território nacional, esta identidade regional era motivo de orgulho, cantada por poetas, imortalizada em prosas, estudada por homens de letras e de cultura. Alguns, saíram da região e adquiriram dimensão nacional, sem que se vissem forçados ao corte com as suas raízes regionais. Falamos de indivíduos como João de Deus, Cândido Guerreiro, Marcos Algarve, ALGARVE INFORMATIVO #339
João Lúcio, João Bonança, Júlio Dantas, Manuel Teixeira Gomes, Julião Quintinha, Ataíde de Oliveira, Estácio da Veiga, ou João Baptista da Silva Lopes, entre tantos outros de semelhante craveira. O estabelecimento de ligações terrestres, conjugadas com o advento do turismo e a fixação na região de uma percentagem considerável de indivíduos originários de outras regiões e países, mais do que fazer atenuar o efeito de insularidade, criou um sentimento anti regional, em que uma pronúncia algarvia era vista como sinónimo de analfabetismo, a arquitectura regional como uma limitação ao progresso dos destinos turísticos de massas, as culturas tradicionais substituídas por espécies invasoras mais rentáveis, a pesca artesanal um atentado à saúde pública, o património histórico alvo de desvalorização… O ser algarvio deixou de ser um sentimento, para passar a ser uma mera consideração territorial. Um século passado sobre a primeira grande ligação terrestre do Algarve com o resto do país e trinta anos depois do estabelecimento da ligação terrestre com a Andaluzia, a região procura reabilitar aquela identidade amordaçada que era tão característica da ilha que um dia foi. Actualmente, uma nova geração trabalha afincadamente no resgatar e perpetuar de memórias colectivas, que vão deste a recolha das pronúncias locais, ao estudo das técnicas tradicionais de construção, à 128
conservação e restauro do património histórico, ao interesse na investigação histórica e arqueológica, mas também na elaboração de biografias e na reedição de trabalhos de grandes algarvios, quase remetidos ao esquecimento. Aos poucos, graças a este trabalho afincado e profícuo, a identidade algarvia 129
vai sendo reabilitada e restaurada, lançando as bases de um novo movimento regional e regionalista, que produzirá frutos para as gerações vindouras, onde esses, hoje anónimos, terão os nomes imortalizados, ao mesmo nível daqueles que tanto fizeram pela região em finais do Século XIX e início do século XX . ALGARVE INFORMATIVO #339
Sra. Normalidade: seja bem-vinda de novo! João Ministro (Engenheiro do Ambiente e Empresário) stejamos todos agradecidos pelo regresso da normalidade, essa «dama» tão estimada e acarinhada na nossa região, com o seu poder tranquilizante, anestesiante até. Não fosse ela a mãe de todas as razões e todos os motivos para tudo na mesma se manter. Qual sedativo intravenoso! A dita normalidade chegou e com ela regressámos à nossa rotina pré-covid e ao propositado e desculpado esquecimento pelas questões chatas da actualidade, como a seca, a escassez de água, o despovoamento do interior, a insustentabilidade da economia regional, a gestão integrada do espaço florestal, a mitigação das alterações climáticas, entre outras. Regressámos aos felizes tempos dos eventos em formato presencial, agora com uma redobrada energia para recuperar o tempo perdido durante a pandemia. Festas, festivais, conferências, conselhos técnicos, etc., etc.! Regressámos, pois, à época do imediatismo e do instantâneo, do supérfluo e extemporâneo, do fugaz e passageiro. Regressámos ao tempo da ilusão, dos paliativos e das oratórias ao vento, tudo dizendo e pouco construindo.
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Retomámos ao tempo do «baterrecordes». Corremos na corrida dos números e na prova do «acima de 2019»! Procuramos bater os números desse ano glorioso pela quantidade e volumetria, pela ocupação e a abundância de acontecimentos e pouco pela qualidade e pelos reais efeitos positivos na sociedade e no território. O turismo de massas voltou para ofuscar o resto, secundarizando tudo o demais. Até o apoio à habitação atribuído aos refugiados da guerra na Ucrânia... O que para trás ficou, tão cedo à ribalta regressa com o impacto merecido. Pelo menos de forma pensada e planeada, com tempo e discernimento. Nestes dois difíceis anos, diversos temas ganharam especial relevância na discussão regional e nacional, gerando mesmo expectativas (poucas) de alguma mudança: a sustentabilidade no geral e especialmente em determinados sectores da nossa sociedade e economia; a valorização do interior; a mobilidade suave e ecológica, sobretudo em zonas urbanas; a criação e expansão de espaços verdes nas cidades; entre outros. Por estranho que possa parecer, das adversidades impostas pela covid19 surgiram também oportunidades que poderiam ter acelerado ou alavancado iniciativas que fossem ao encontro daqueles desígnios. Veja-se o fenómeno dos nómadas digitais ou do grande 130
aumento pela procura de casas nos territórios do interior e em espaço rural. Ou ainda da crescente procura turística pelas baixas densidades, pelo campo, pelos locais naturais. Ou das ciclovias urbanas que viveram um aumento exponencial em numerosas cidades europeias (ex. Paris ou Barcelona). Porém, pouco se concretizou. Nada que assinale uma desejada mudança na forma de gerir e desenvolver o território. Até a terrível guerra que, entretanto, se abateu sobre a Ucrânia, está a servir, involuntariamente, para este status quo em que vivemos. Além dos dados que apontam para uma crescente procura turística em Portugal derivado da «fuga» aos países próximos do conflito, a 131
emergência climática, como referem vários especialistas e comentadores, ficou guardada na gaveta à espera por melhores dias. E, com isso, temas essenciais e centrais ao nosso futuro ficam na lista das prioridades menos prioritárias. Gestão e ordenamento territorial? Planeamento e uso eficiente da água? Combate ao despovoamento do interior? Conservação da natureza? Por tudo isto, Sra. Normalidade, seja bem vinda de novo. Continuaremos tranquilamente a agir como até aqui temos agido, como se nada tivesse ocorrido nestes anos passados e nada nos alertasse para os anos exigentes que se avizinham! Um bem-haja! . ALGARVE INFORMATIVO #339
Hoje estou «aluada»! Lina Messias (Especialista em Feng Shui) m criança era fascinada pela Lua! O facto de ter sido criada por avós ligados à terra e aos seus ciclos, com certeza influenciou esse fascínio, e a Lua e tudo com ela relacionado, era assunto normal e assíduo em casa. A minha cabeleireira privada, a avó Mariana, só me cortava o cabelo no quarto crescente, as limpezas mais a fundo eram feitas no quarto minguante e quantas vezes se ouvia “aquele/a hoje está aluado/a” quando alguém conhecido não estava nos seus melhores dias, ou “hoje o teu irmão está na lua”, quando o meu Toni estava mais distraído e desatento (o que acontecia muitas vezes)… As sementes do que era cultivado perto de casa eram largadas à terra no tempo (lua) devido e o meu avô sabia de todas as marés, mesmo não vivendo muito perto do mar. A minha avó fazia as contas às nove luas cheias que as grávidas próximas de nós tinham que passar até chegar o tempo de dar à luz. O «verdadeiro almanaque Borda d`Água» chegava a casa a cada novo Ano, com toda a informação preciosa sobre cada fase da lua, e como eu era a única ALGARVE INFORMATIVO #339
que sabia ler, era «estudado» por mim e partilhado em família. Durante muitos anos, não liguei nem coloquei em prática toda a sabedoria passada pelos meus avós maternos, mas desde que estudo Feng Shui que estes assuntos renasceram em mim. A localização da casa onde vivo permite-me observar cada fase da Lua, e, acima de tudo, o estudo e conhecimento sobre o impacto da Lua na Vida de todos nós permitiu conectar-me aos seus ciclos. Agora, tantos anos depois da infância passada com os meus avós, o fascínio pela Lua voltou! As observações e estudos da Lua datam da Antiguidade, sendo que o único satélite natural da Terra era utilizado por várias civilizações para «medir» o tempo em meses. As quatro fases da lua mais conhecidas: lua nova, quarto crescente, lua cheia e quarto minguante, decorrem ao longo de um ciclo de lunação que dura 29 dias, 12 horas e quarenta e quatro minutos. Na realidade as fases são oito (existem mais quatro) e todas elas emitem uma Energia distinta que nos influencia grandemente, cada fase marca um ritmo e é um convite para vivermos determinadas emoções e adotarmos (ou não) certas acções.
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Tal como ocorre com a agricultura e as fases de plantio, as mudanças da lua também são uma oportunidade para «mexermos no nosso terreno interior», com a consciência da melhor hora para semear algo (Lua Nova), para passar à acção (Quarto Crescente), para colher os frutos e também para os celebrar (Lua Cheia) e finalmente para libertar e limpar o que não serve mais (Quarto Minguante). Todos os meses, em cada ciclo lunar, temos uma nova oportunidade para fluirmos no ciclo natural da vida e aproveitarmos tudo o que ela tem para nos ofertar.
energia Yin, ao feminino e ao reino das emoções. Não é por acaso que nós, mulheres, também somos feitas de ciclos (a duração média do ciclo menstrual é de 29 dias, também dividido em quatro fases) e normalmente, muito mais emocionais que os homens. Desde que percebi esta ligação aceito melhor as minhas mudanças (às vezes súbitas) de humor e sei que estar «aluada» é tão importante como estar entusiasmada. Integrar o que temos de Luz (SOL) e o que temos de Sombra (LUA) melhora a relação que temos com os outros e ainda mais importante, com nós mesmos! .
Em Feng Shui, a Lua está associada à 133
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