REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #341

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ALGARVE INFORMATIVO 4 de junho, 2022

SARA CORREIA | FESTA DA ESPIGA DE SALIR | DIA DO MUNICÍPIO DE LOULÉ | «TERRA DE MAIO» BIA FERREIRA | BANHOS ISLÂMICOS DE LOULÉ | IPDJ SOPRA VELAS | JOSÉ EDUARDO AGUALUSA 1 ALGARVE INFORMATIVO #341


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ÍNDICE Dia do Município de Loulé (pág. 20) Banhos Islâmicos de Loulé (pág. 28) José Eduardo Agualusa venceu 7.º Grande Prémio da Crónica e Dispersos Literários APE/CML (pág. 40) 31.º Aniversário do Centro de Juventude do Algarve (pág. 48) Festa da Espiga de Salir (pág. 56) «Terra de Maio» no Azinhal (pág. 72) «Hamlet, L’Ange du Bizarre» da Compania Útero estreou no Cineteatro Louletano (pág. 84) Sara Correia encantou no Dia do Município de São Brás de Alportel (pág. 102) Bia Ferreira no Cineteatro Louletano na apresentação do Festival MED (pág. 112)

OPINIÃO Ana Isabel Soares (pág. 122) Adília César (pág. 124) ALGARVE INFORMATIVO #341

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LOULÉ ABRAÇA DESAFIOS DA HABITAÇÃO, MODERNIZAÇÃO ADMINISTRATIVA, APOIO SOCIAL E AÇÃO CLIMÁTICA Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina oulé assinalou, no dia 26 de maio, o seu Dia do Município, com a sessão solene a ter lugar na Cerca do Convento de Espírito Santo, momento durante o qual Vítor Aleixo presidente da Câmara Municipal de Loulé, fez o ponto de situação dos grandes objetivos da gestão autárquica e os desafios que o concelho está a abraçar tendo em conta a atual conjuntura nacional e internacional, nomeadamente nas áreas da habitação, modernização administrativa, apoio social e ação climática. “Apesar de todas as

incertezas do mundo, há em Loulé uma capacidade de resiliência, uma espécie de microclima que faz com que consigamos ter aqui o nosso lugar feliz”, disse o edil, indicando que encontrar 1.400 soluções de habitação até ao final desta década é o grande desígnio da equipa que lidera. ALGARVE INFORMATIVO #341

“Sem disponibilidades habitacionais para alojar condignamente todos aqueles que vivem ou querem viver e trabalhar no concelho de Loulé, dificilmente a nossa economia terá condições para crescer de forma robusta e sustentável. A falta de habitação é mesmo um sério bloqueio para a 20


nossa economia e para a felicidade das pessoas”, frisou Vítor Aleixo. Assim sendo, no âmbito da Estratégia Local de Habitação, estão em curso diversos projetos, sobretudo através do acordo estabelecido com o Governo através do programa «1.º Direito» com vista a arranjar habitação para 320 famílias, num investimento de 44 milhões 21

de euros. E, estando na reta final a revisão do PDM – Plano Diretor Municipal, Vítor Aleixo acredita que este poderá ser um instrumento fundamental para resolver a carência de habitação no concelho, através de “políticas e medidas mais flexíveis”. “As metas

ambiciosas que temos para atingir até 2030 só se concretizarão se à iniciativa pública municipal se juntar o contributo do setor ALGARVE INFORMATIVO #341


privado de construção, e se, no âmbito da revisão do PDM em curso, assumirmos que é imprescindível uma política de acesso ao solo para efeitos de construção de habitação acessível”, salientou.

dos serviços municipais, o autarca considerou que é urgente a modernização administrativa da máquina técnica e humana da Câmara Municipal de Loulé, entidade que, com o apoio da AMA – Agência de Modernização Administrativa, pretende abraçar projetos que permitam “introduzir

novos métodos, mais simplificação Tendo em vista a melhoria da qualidade ALGARVE INFORMATIVO #341

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de uma Reserva Natural Local. Isso mesmo ficou comprovado com o facto de Loulé ter sido convidado para representar Portugal num Fórum de Mayors promovido pelas Nações Unidas, em Genebra, e que vá também participar numa avaliação internacional feita pela OCDE às políticas de ambiente e clima desenvolvidas em Portugal, no plano local. No Dia do Município de Loulé foram igualmente adiantadas duas iniciativas que irão continuar a elevar este trabalho na área ambiental. Por um lado, a realização em Loulé, em setembro, da 1.ª Conferência Internacional de Mercados de Capital Natural, uma “iniciativa inovadora” à qual se juntará ainda a III Convenção Nacional sobre ODS Local, que decorrerá pela primeira vez fora de Lisboa. Por outro lado, a partir do próximo ano, a instituição de um Prémio Nacional de Jornalismo que irá distinguir o trabalho de investigação na área do ambiente e ação climática. Antes de Vítor Aleixo falou, porém, Carlos Silva Gomes, presidente da Assembleia Municipal de Loulé, que fez um balanço da ação do órgão autárquico que lidera deste outubro de 2021. “A

e gestão da estrutura técnica”. E Vítor Aleixo não esqueceu, claro, uma das bandeiras deste executivo, o ambiente e a ação climática, área em que Loulé tem apostado forte em medidas de eficiência hídrica e energética, agenda de sustentabilidade para a floresta, biodiversidade e desenvolvimento rural, mapeamento dos sistemas ecossistémicos do concelho e na criação 23

nossa Assembleia tem sido um local de debate de ideias fundado nas convicções política e ideológicas de cada um, bem como um local de procura de consensos, centrados nos interesses das populações e do Município”, aferiu. ALGARVE INFORMATIVO #341


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BANHOS ISLÂMICOS DE LOULÉ SÃO UM NOVO FATOR DE ATRAÇÃO PARA SE VISITAR O ALGARVE Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina pós um extenso trabalho de musealização, abriram ao público, no dia 28 de maio, os Banhos Islâmicos de Loulé, numa cerimónia que contou com as presenças do Ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, e do Ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva. E ambos os governantes ALGARVE INFORMATIVO #341

salientaram a relevância deste elemento patrimonial na valorização de uma ligação que faz parte da identidade nacional e de uma política bilateral que poderá sair reforçada no curto prazo. Em Loulé, os laços com Marrocos poderão ter novos desenvolvimentos nos próximos meses, com o presidente da Câmara Municipal Vítor Aleixo a anunciar a intenção de celebrar um acordo de geminação com a cidade de Settat, 28


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iniciativa que conta com a concordância por parte dos homólogos marroquinos.

“O objetivo é lançar uma ponte por onde passe e circule nos dois sentidos a amizade, o conhecimento mútuo de um passado histórico e cultural que já conviveram e mutuamente se enriqueceram. Os protagonistas dessa relação que se irá estabelecer serão sobretudo os jovens dos dois municípios que, desejavelmente, conviverão e trabalharão em torno dos problemas da mudança e descontrole do clima”, explicou o edil. Na data em que Loulé inaugurou os primeiros banhos islâmicos a serem ALGARVE INFORMATIVO #341

documentados arqueologicamente em Portugal e o complexo deste género identificado na Península Ibérica com a planta mais completa, são muitos os desafios que se colocam, tanto em termos culturais como patrimoniais, enquanto “ferramenta poderosa

para a educação ao serviço da comunidade escolar ou de alavancagem económica”. “Podermos ter a oportunidade de revelar ao país este património que nos remete para um pilar constituinte do nosso povo enquanto identidade é extraordinariamente importante”, sublinhou Vítor Aleixo, que não tem dúvidas quanto aos “reflexos inquestionáveis” destes Hamman na economia do Algarve: “Terá 30


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consequências no alargamento da oferta de turismo de cultura e património tão importante para uma região que precisa de se reinventar constantemente para que a sua principal atividade económica se mantenha atrativa e geradora de riqueza”.

não se construiu de ruturas, mas de muitas continuidades, pelo que preservar a memória cultural é, no essencial, uma forma de revitalizarmos a comunidade de pertença e identidade que temos hoje”, declarou o governante,

Pedro Adão e Silva, Ministro da Cultura, elogiou a “recuperação extraordinária” deste património arqueológico, referindo a importância deste edifício para resgatar a memória.

diálogo entre várias culturas, na abertura, tolerância e coexistência de várias religiões”, algo que

“A experiência da sauna não é assim tão distante da experiência que se tinha nos séculos XI e XII dos banhos islâmicos. Esse elemento de continuidade é fundamental, pois o nosso país ALGARVE INFORMATIVO #341

salientando igualmente o passado cultural alicerçado na “pluralismo de

considera ser fundamental no contexto atual de “uma Europa dividida”. Também o Ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, falou desses encontros dos dois povos ao longo dos séculos, que constituem “uma base

excelente para o relacionamento 32


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contemporâneo futuro”. “Marrocos, aqui ao lado, é uma parte intrínseca da identidade portuguesa, tal como nós somos uma parte intrínseca da identidade marroquina. Basta olhar para o número de vestígios da presença portuguesa ao longo da costa marroquina”, aferiu. E, numa altura em que se aproximam as celebrações dos 250 anos do Tratado de Paz com Marrocos, o Ministro falou dos projetos em curso para a promover a aproximação entre os dois países, em áreas como a energia, a mobilidade ou a cultura. São disso exemplo a criação do transporte de pessoas e cargas que fará a ligação entre o Algarve e Tânger e a ratificação de um acordo para estadia e permanência de cidadãos marroquinos em Portugal e de portugueses em Marrocos, permitindo, ALGARVE INFORMATIVO #341

assim, facilitar o fluxo de pessoas entre ambos os países. Presente nesta sessão inaugural, o embaixador de Marrocos Othmane Bahnini relembrou alguns dos pontos dessa ligação histórica entre os dois povos, ao nível do património, da arquitetura, das conquistas marítimas, em termos linguísticos e do património imaterial, e recordou a existência de cerca de 20 mil palavras árabes na língua portuguesa, da mesma forma que o dialeto marroquino está repleto de palavras com etimologia portuguesa. E não esqueceu as semelhanças nos processos de confecionar a cataplana algarvia e a tagine marroquina. “A

valorização deste património comum mostra o quanto os nossos dois países souberam, desde há 34


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muito, com inteligência, sabedoria e clarividência, transcender as vicissitudes da história para o tornar num magnífico e rico património civilizacional, ao serviço de uma relação exemplar e duradoura”, frisou o embaixador. A musealização dos Banhos Islâmicos de Loulé e a Casa Senhorial dos Barreto significou um investimento de 1,8 milhões de euros e será um dos núcleos do «Quarteirão Cultural de Loulé», ALGARVE INFORMATIVO #341

projeto que tem vindo a ganhar forma ao longo dos últimos anos e que será uma das âncoras do projeto intermunicipal de candidatura a Geoparque Mundial da UNESCO do aspirante Geoparque Algarvensis Loulé-Silves-Albufeira. Pretende-se, deste modo, dotar o Museu Municipal de novas valências como um laboratório de paleontologia, e, na área expositiva, uma novidade na museologia regional: contar a história da Terra e do Homem. Por outro lado, em setembro, será inaugurada a obra de recuperação da Igreja Matriz de Loulé. 36


Os Banhos Islâmicos de Loulé foram descobertos em 2006, no entanto, foi no atual ciclo político que o trabalho de musealização se foi consolidando, tendo sido celebrado um protocolo com o Campo Arqueológico de Mértola para apoio técnico no processo das escavações. Construído no seculo XII, junto à principal entrada da cidade medieval islâmica al-’Ulyà, onde se situa atualmente na Ermida de Nossa Senhora da Conceição, o edifício do Hammam encontra-se dividido em cinco espaços distintos: sala fria, sala tépida, sala quente, compartimento da fornalha e vestíbulo, não estando estes dois últimos na área musealizada visível. Mais tarde, ali viria a ser construída a Casa Senhorial da Família Barreto, que faz parte do edifício musealizado. A Câmara Municipal de Loulé aguarda neste momento a finalização da proposta de classificação dos Banhos Islâmicos de Loulé como Monumento Nacional .

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«O MAIS BELO FIM DO MUNDO» DE JOSÉ EDUARDO AGUALUSA VENCEU 7.º GRANDE PRÉMIO DE CRÓNICA E DISPERSOS LITERÁRIOS APE/CML Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina escritor lusoangolano José Eduardo Agualusa recebeu, no dia 26 de maio, Dia do Município de Loulé, o Grande Prémio de Crónica e Dispersos Literários APE/CML, atribuído ao livro «O Mais Belo Fim do Mundo», numa cidade de Loulé que se assume cada vez mais como a capital deste género literário e que poderá, inclusive, vir a acolher a realização de um encontro de cronistas, num desafio lançado por Carlos Albino, ALGARVE INFORMATIVO #341

mentor e porta-voz do júri do Grande Prémio de 2022. “Loulé seria o local

ideal para se criar um encontro anual ou bianual de cronistas. O contacto com os escritores de crónica poderia ajudar a retirar da banalidade os textos que se publicam por toda a parte… e também muitos dos jovens que têm vocação para a escrita criativa, como é o caso da crónica, e andam à deriva, sem gramática nem dicionário”, considerou. 40


Um repto que foi prontamente aceite pelo autarca Vítor Aleixo. “Em Loulé,

os bons desafios abraçam-se e esta é, de facto, uma ideia muito importante porque a literatura tem um papel insubstituível na vida das nossas comunidades”. E se Carlos Albino adiantou que alguns dos escritores vencedores deste galardão aceitaram já uma eventual participação na iniciativa proposta, José Eduardo Agualusa também manifestou o seu interesse em integrar o encontro. “Acho

a sugestão extraordinária, transformar Loulé na capital da crónica e criar eventos ligados à crónica. Podem contar comigo para apoiar esse tipo de iniciativas”, sublinhou, não escondendo

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a alegria e responsabilidade pela distinção alcançada por «O Mais Belo Fim do Mundo», visto tratar-se de um prémio que já foi atribuído a escritores dos quais ele próprio é leitor e apreciador, como é o caso de Lídia Jorge, vencedora em 2021. José Eduardo Agualusa iniciou-se no mundo das crónicas há cerca de 30 anos, no jornal «Público», e considera ser este

“um bom exercício para um ficcionista”. “O que muitas vezes me acontece é que há personagens e ideias que surgem em crónicas e que depois retomo em romances”, explicou. Ainda sobre este prémio, referiu ter especial importância pelo facto de o livro ter sido publicado durante a pandemia e, como tal, não ter sido alvo de uma sessão de lançamento, motivo

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pelo qual o foco de atenção dos leitores será agora maior. «O Mais Belo Fim do Mundo» reúne alguns contos, crónicas e entradas do diário do autor, escritos entre 6 de fevereiro de 2018 e 21 de dezembro de 2021, e “dá testemunho destes

últimos anos confusos que vivemos”, como refere o autor. “Estamos perante crónicas que intervêm, reclamam e incitam, criam beleza e combatem o ódio, e fazem-no sem receio de oferecer, ao mesmo tempo, uma prosa poética, lírica, envolvida com as pequenas coisas da vida, para além de que a sintaxe é pura, sem efeitos desnecessários”, descreveu, por sua vez, Carlos Albino, que compôs o júri do prémio com Carina Infante do Carmo, da Universidade do Algarve, e ALGARVE INFORMATIVO #341

Fernando Baptista, da Universidade de Aveiro. E é com “acutilância e ironia” que o escritor luso-angolano fala nestas páginas do “jogo desumano de certo

tipo de poder contemporâneo e o logro do mundo pós-moderno”. “O trumpismo e os seus parentes americanos, brasileiros, europeus e russos são militantes destas crónicas de uma forma inequívoca, e diria mesmo premonitória”, realçou Carlos Albino quando citou uma das crónicas deste livro, que tem como título «O Inimigo está entre nós», sobre a reeleição de Vladimir Putin, em 2018. O júri destacou ainda o facto de José Eduardo Agualusa ser “um escritor de espírito livre, que fala sobretudo do eixo África-Brasil-Portugal, mas cujo universo é global” e que “evoca, por

várias vezes, o poder da justiça poética”. 42


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O Grande Prémio de Crónica e Dispersos Literários distinguiu já os autores José Tolentino Mendonça («Que coisa são as nuvens»), Rui Cardoso Martins («Levante-se o Réu») Mário Cláudio («A Alma Vagueante»), Pedro Mexia («Lá Fora»), Mário de Carvalho («O que eu ouvi na barrica das maçãs») e Lídia Jorge («Em Todos os Sentidos»). E José Manuel Mendes, presidente da Associação Portuguesa de Escritores, recordou precisamente o caminho ascendente que o Grande Prémio tem percorrido desde 2016, enquanto espaço que foi aberto para a consagração da crónica. “Desde que este prémio

existe, a crónica vem ganhando evidência. Estão a publicar-se mais crónicas, o que é significativo”, disse, referindo igualmente o aumento de candidaturas ao galardão desde a sua génese. Carlos Albino corroborou estas palavas, realçando o “prestígio ALGARVE INFORMATIVO #341

inegável, reconhecido por leitores, autores e editores de todo o país”, tornando-o já “uma referência cultural e literária nacional”. A finalizar a sessão, Vítor Aleixo disse ser este prémio “um dos momentos

altos do dossier de Loulé para a cultura, que abrange o teatro, a música, artes plásticas, pintura, escultura, arte pública”, realçando ainda o papel de duas pessoas para que esta iniciativa tivesse sido criada: “Fui

feliz porque escutei e agarrei a ideia que foi trazida pelo Carlos Albino e pela Lídia Jorge para premiar, valorizar e dar notoriedade pública à importância que a crónica literária tem no universo da literatura portuguesa e dos seus escritores”, declarou o presidente da Câmara Municipal de Loulé. 44


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IPDJ COMEMOROU 31.º ANIVERSÁRIO DO CENTRO DE JUVENTUDE DO ALGARVE Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina Direção Regional do Algarve do Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ) celebrou, no dia 25 de maio, os 31 anos da abertura do seu Centro de Juventude no Algarve, com uma programação, criada por jovens e para jovens, que envolveu as diferentes expressões artísticas e culturais. Imbuída no espírito do Ano Europeu da Juventude, a programação desenvolvida em parceria com o movimento associativo arrancou, a partir das 17h, com a Animashow – Associação Cultural ALGARVE INFORMATIVO #341

e Recreativa, de Vila Real de Santo António, que deu as boas-vindas aos convidados através da dança. No auditório fizeram-se as honras da casa, seguido da exibição do documentário «30 anos, tantas histórias por contar», que retrata os primeiros 30 anos de vida do Centro de Juventude de Faro. Maria Lourenço, acompanhada à guitarra por Diogo Inácio, deram continuidade à tarde com um momento musical. Na galeria de exposições foi inaugurada a Exposição «É1Conceito», de seis jovens artistas – Aurora Matias, Carlos S. Ferreira, David Pintassilgo, Helena Amorim, Matilde Albuquerque e Tiago Costa Silveira – com curadoria de Rúben 48


Gonçalves e Luís Marques. Lá fora, a esplanada do IPDJ recebeu o Ossónoba Coro Juvenil, antes de se cantarem os parabéns aos 31 anos do Centro de Juventude de Faro da Direção Regional do Algarve do IPDJ. Ainda inserido nas comemorações do 31.º aniversário do Centro de Juventude da Direção Regional do Algarve do IPDJ, teve lugar a assinatura de diversos protocolos de apoio financeiro a Associações Juvenis do Algarve, que

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surgem no âmbito dos Programas de Apoio ao Associativismo Juvenil e visam contribuir para o incremento das atividades culturais, recreativas e desportivas das Associações Juvenis inscritas no Registo Nacional do Associativismo Jovem. Estabelecidos os protocolos, a Direção Regional do Algarve fará o acompanhamento de todos os projetos, em articulação com as demais entidades envolvidas .

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FESTA DA ESPIGA REGRESSOU A SALIR PARA NÃO DEIXAR ESQUECER O ALGARVE DE OUTROS TEMPOS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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26 de maio celebrou-se a Quinta-Feira de Ascensão ou Quinta-Feira da Espiga e, em Salir, no interior do concelho de Loulé, teve lugar um dos mais tradicionais eventos da serra algarvia, a Festa da Espiga. Passados dois anos em que se realizou num formato adaptado e numa versão mais reduzida («A Espiga vai a sua casa»), a iniciativa regressou na sua plenitude, sem restrições, com um programa de três dias. O Passeio de BTT e o Passeio Pedestre «Trilhos da Espiga», na manhã do dia 26, ALGARVE INFORMATIVO #341

marcaram o arranque das atividades, sendo que, na avenida principal da vila, as tasquinhas com manjares e petiscos serranos e as exposições de produtos regionais abriram portas logo ao início da tarde. O momento mais aguardado aconteceu às 16h, com o desfile etnográfico onde os carros em representação das diferentes localidades e das suas principais atividades agrícolas e artesanais foram o foco de atenção dos visitantes. O fabrico do pão, a apanha do medronho e destilação, a apicultura e extração de cortiça, o varejo do figo, amêndoa e alfarroba, o artesanato de linho, lã, palma ou esparto foram algumas das atividades recriadas para deleite de portugueses e estrangeiros, residentes e turistas. 58


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Estas atividades foram durante anos a base da economia local, mas caíram, entretanto, em desuso e esta é, por isso, uma oportunidade para dar a conhecer e revisitar um Algarve perdido no tempo. Pela voz de poetas populares foram declamados poemas feitos de improviso, com mensagens dirigidas aos responsáveis municipais, em jeito de pedido para determinadas intervenções na freguesia. Uma tradição que, ano após ano, é imagem de marca desta festa. A noite da «Quinta-Feira da Espiga» contou depois com muita animação, com o baile, seguido de um concerto do carismático cantor popular Quim Barreiros. Na sexta-feira, a tarde foi dedicada aos seniores que, numa ação conjunta com as 61

instituições de solidariedade social e dos lares, desfrutaram de um momento de convívio. A noite foi direcionada sobretudo aos jovens com três concertos: MGDRV (22h), HMB (23h30) e Christian F (01h). No dia de encerramento, sábado, as crianças foram convidadas a participar na «Festa das Espiguinhas», que a par das brincadeiras visa também envolver os mais novos no espírito desta festa. Para quem não teve a oportunidade de assistir ao desfile etnográfico, uma vez que noutras localidades o Dia da Espiga não é feriado, a organização reeditou este momento na noite de sábado. No encerramento da Festa da Espiga 2022 tiveram lugar mais três momentos musicais, com os concertos do grupo De Moda em Moda, Iris e DJ Rodriguez .

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TERRA DE MAIO VOLTOU AO AZINHAL COM BALÃO DE AR QUENTE, GRANDES CONCERTOS E MUITA GASTRONOMIA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Município de Castro Marim

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e 27 a 29 de maio, a aldeia do Azinhal voltou a receber o «Terra de Maio», evento que regressou, após três anos de interregno, com mais força e maior dinamismo, sempre com a divisa da promoção e incremento da Cabra de Raça Algarvia e os saberes e sabores a ela associados. Tendo como palco o Pavilhão Multiusos do Azinhal, nesta edição foi possível andar num balão de ar quente, fabricar queijo artesanal, experimentar a arte da ordenha e praticar equitação. O evento esforça-se por apresentar um diversificado leque de atividades articuladas com os valores do interior e da região, bem como trazer ao recinto os sabores do mundo rural, quer nas tasquinhas de gastronomia, quer em ALGARVE INFORMATIVO #341

provas de vinho e showcooking, que animaram os três dias de «Terra de Maio». Destaque para as demonstrações da Escola de Hotelaria e Turismo de Vila Real de Santo António e dos referenciados chefs Noélia Jerónimo, Leonel Pereira e Ricardo Silva, assim como para a apresentação de vinhos do Algarve, pela Comissão Vitivinícola do Algarve. Ainda na área da gastronomia, uma das grandes apostas do certame foi a quarta edição do «Maior Queijo de Cabra de Raça Algarvia», um desafio proposto pelo Município de Castro Marim à ANCCRAL – Associação Nacional dos Criadores de Caprinos de Raça Algarvia e que resultou num queijo fresco com aproximadamente 40 quilos e 80 cm de diâmetro, para o qual foram necessários cerca de 170 litros de leite. 74


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A nível musical, o certame trouxe este ano Némanus e ÍRIS, mas, num território onde a cultura algarvia se funde com a andaluza, houve também espaço para a música castelhana, para além da peça de teatro «É disto que a minha Maria gosta», do Centro e Cultura e Desporto do Trabalhadores da Câmara Municipal, que estreou no dia 27 de maio. No sábado, a manhã foi dedicada a um seminário que deu importantes contributos em relação aos diferentes enquadramentos na criação de raças autóctones, com a participação da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária, da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve e do Instituto Conservação da Natureza e Florestas. Para os amantes de motorizadas, a manhã de domingo foi marcada pelo 3.º Encontro de Motorizadas, com saída do Largo do Mercado, numa organização da ALGARVE INFORMATIVO #341

Associação Recreativa e Cultural do Azinhal. Na mesma manhã realizou-se uma caminhada com partida da Casa do Povo do Azinhal. A exposição de Raças Autóctones Cabra de Raça Algarvia, Ovelha Churra e Vaca de Raça Algarvia, a exposição de «Artefactos Agrícola e do Mundo Rural» e a Queijaria do Centro Multiusos, em permanente funcionamento, foram outros fatores de atratividade desta «Terra de Maio», um evento cujo objetivo passa por promover produtos locais e regionais resultantes das atividades ligadas à agricultura e à criação de gado, bem como as próprias atividades em si, e também aumentar o volume de vendas através da comercialização direta. O evento é uma organização da Câmara Municipal de Castro Marim e Junta de Freguesia de Azinhal, com a colaboração da Escola de Hotelaria e Turismo de Vila 76


Real de Santo António, Associação Nacional de Criadores de Caprinos de Raça Algarvia (ANCCRAL), Direção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve, Direção Geral da Alimentação e Veterinária, Comissão Vitivinícola do

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Algarve, marca Natural.pt, Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, Associação Odiana, Casa do povo do Azinhal, Associação Recreativa e Cultural do Azinhal e CCD da Câmara Municipal de Castro Marim .

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COMPANHIA ÚTERO TROUXE A LOULÉ UMA VISÃO CAÓTICA DO CLÁSSICO HAMLET Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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Cineteatro Louletano acolheu, no dia 28 de maio, a estreia nacional de «Hamlet, L'Ange du Bizarre», pela Companhia Útero, uma peça de teatro com uma forte componente de dança que reescreve Shakespeare, retratando um autor caminhando só, em busca de si mesmo e da razão de existir. A peça assinala os 25 anos da Companhia Útero e é uma coprodução do Cineteatro Louletano, ALGARVE INFORMATIVO #341

oferecendo uma versão algo caótica de Shakespeare através da interpretação de Ana Silva, Maria Fonseca, Miguel Moreira e ShadowMan. “A peça,

como a maior parte dos nossos trabalhos, não é um trabalho «certinho» e tira-nos das nossas zonas de conforto. É um espetáculo que está de algum modo ligado à beleza e à imperfeição do pintor Francis Bacon, mas, por outro lado, ligado à morte e a como lidar com 86


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a morte, à existência e a como sobreviver na ausência dos outros”, descreve Miguel Moreira, ator e diretor do Útero. “Esta peça é tão estranha

para vocês, público, como para nós. O artista é esquisito, mas também o é o padeiro, uma pessoa que fica acordada a noite inteira, só a amassar pão que nem é para ele, é para os outros”, acrescenta. De acordo com Miguel Moreira, foi “a

imagem de pessoas que se libertam das suas amarras (sociais e psicológicas), na procura de um novo sentido para si no mundo, que nos pareceu estarmos a perseguir nesta nossa nova criação”. “Procurámos esse lugar singular (no ALGARVE INFORMATIVO #341

Útero) que aliamos a um autor, que caminha livre na procura de si. Neste caso, semelhante a Hamlet. Isoladas sobre si, as pessoas caminham sozinhas, numa ilusão de pertencer a um todo que felizmente nunca conhecerão na totalidade. O que faz as pessoas caminharem sozinhas a questionar o seu sentido no mundo?”, questiona o ator e encenador. “Nesse sentido há sempre um lugar de proximidade com um peregrino, que com fé persegue o seu sentido e centro num mundo que desconhece”. No título que a Companhia Útero acrescentou à peça também se podem 88


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descortinar os legados que se multiplicam em muitos sentidos, pois «L’Ange du Bizzarre» é a denominação de um livro de Edgar Alan Poe e de uma exposição a que assistiram em Paris e que muito influenciou a peça «Pântano». “No

mundo contemporâneo, tudo ganha novos sentidos, a cada novo dia. Vindo de estilhaços do que vamos vivendo e pelos lugares que vamos passando. Descobrimos que o planeta, embora geograficamente

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finito, terá sempre novos lugares que nunca vamos compreender totalmente e por isso iremos procurar sempre novos sentidos. «Hamlet» será sempre uma obra literária que iluminará os nossos dias mais sombrios, onde, sem destino, procuraremos descobrir o que nos faz estar aqui, amarrados ao espanto da vida”, finaliza Miguel Moreira .

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SARA CORREIA ENCANTOU NO DIA DO MUNICÍPIO DE SÃO BRÁS DE ALPORTEL Texto: Daniel Pina | Fotografia: Jorge Gomes

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ara Correia foi a artista convidada para encerrar as comemorações do 108.º aniversário do Município de São Brás de Alportel, com um excelente concerto, no dia 1 de junho, na Praça da República, que encantou o muito público presente. Uma das maiores vozes da nova geração do fado deu a conhecer os temas do seu aclamado álbum «Do Coração» e mostrou o porquê do sucesso que tem granjeado nos últimos anos. Nada de admirar, porque Sara Correia cresceu numa família de fadistas e, aos três anos, já frequentava casas de fado e viu a tia, Joana Correia, vencer a Grande Noite do Fado. Marvila, bairro de onde é ALGARVE INFORMATIVO #341

natural, é também berço de uma importante escola de fado, canto e música, o Clube Lisboa Amigos do Fado, por onde passou Sara e outros artistas como Ana Moura, Ângelo Freire ou Pedro Soares. Apesar de ter gravado «Destino» em 2008, a fadista considera que a sua estreia nos discos se dá com «Sara Correia», álbum homónimo, lançado a 14 de setembro de 2018. O seu segundo disco, «Do Coração», saiu para o mercado em setembro de 2020, com temas do fado tradicional e vários originais compostos e escritos por si e por nomes como Joana Espadinha, Luísa Sobral, Paulo Abreu Lima e António Zambujo (com quem canta o único dueto do disco), Jorge Cruz, Vitorino, Carolina Deslandes, Mário Pacheco e Diogo Clemente . 104


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18.º FESTIVAL MED VAI TER NOVOS ESPAÇOS «FORA DE PORTAS», PALCO HAMMAN, JAZZ E CINE-CONCERTOS Texto: Daniel Pina| Fotografia: Jorge Gomes

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s propostas multiculturais do 18.º Festival MED foram apresentadas, no dia 29 de maio, num momento oficial que decorreu no Cineteatro Louletano e que contou com um concerto da brasileira Bia Ferreira, a primeira artista confirmada para a edição de 2023. “A

música é o vértice mais mediatizado, mas o MED é muito mais, é uma experiência, e quando as portas do Centro Histórico se abrem para o festival, é como se entrássemos num outro mundo e isso é que é a sua riqueza”, sublinhou Carlos Carmo, vereador da Câmara de Loulé e diretor deste evento. ALGARVE INFORMATIVO #341

Para que o visitante possa vivenciar da melhor forma essa experiência, a organização introduziu algumas inovações, sendo que o MED vai extravasar o seu programa para outros locais do centro da cidade de Loulé, para além da Zona Histórica. O Cineteatro Louletano junta-se, assim, pela primeira vez ao cartaz do MED para receber o concerto de abertura do Festival, com Lina_Raül Refree, no dia 29 de junho, pelas 21h. No mesmo espaço vai a cena, a 2 de julho, pelas 17h, a peça «Chovem Amores na Rua do Matador», história escrita por Mia Couto e José Eduardo Agualusa (vencedor este ano do Grande Prémio de Crónica e Dispersos Literários APE/CML). Também a Literatura, setor que estava “um pouco adormecido”, vai 114


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ganhar em 2022 uma nova dinâmica, precisamente num espaço fora de portas. A Casa da Cultura será o parceiro e a sua sede, o recém-inaugurado edifício do Atlético, o lugar onde irão acontecer momentos de poesia, prosa e outros géneros literários. Outro dos «palcos» fora do recinto é a Casa do Meio Dia, parceiro que abre as suas portas para receber, no dia 3 de julho, pelas 18h30, a conferência «Sustentabilidade Ambiental nos Festivais de Música». Ano após ano, o MED Classic leva ao interior da Igreja Matriz concertos de música erudita, mas terá nesta edição um novo palco, já que as obras de reabilitação deste edifício eclesiástico ali inviabilizam a sua realização. Como tal, nos dias 30 de junho e 1 e 2 de julho, a Igreja de S. Francisco, outro espaço fora do casco medieval da cidade, acolhe os concertos ALGARVE INFORMATIVO #341

de Rui Mourinho, Ensemble com Spirito e Duo Acordeão e Tuba – Surrealistic Discussion. Já no dia 3 de julho, o MED Classic regressa ao recinto, para levar ao Palco Matriz, pelas 21h, o Ensemble de Flautas e a Orquestra de Sopros e Percussão do Conservatório. O diretor do Conservatório de Música Professor Francisco Rosado, Sérgio Leite, assume a curadoria desta valência. Os Banhos Islâmicos de Loulé, inaugurados no dia 28 de maio, passam a integrar o programa e a incorporar a essência do MED. O espaço arqueológico estará aberto para visitas guiadas durante os dias do Festival, enquanto que a área exterior (logradouro) vai receber o Palco Hamman (designação árabe para «banhos»). Terra Sul, Suricata e Amar Guitarra são os artistas que integram 116


aqui alinhamento musical. Já o Cinema MED apresenta nesta edição uma forma diferente de experienciar a sétima arte: os Cine-Concertos. Os filmes exibidos (19h15) serão musicados ao vivo, mas neste espaço haverá também, diariamente, a atuação de DJs (22h15). As propostas são: 30 de junho – «Todo o Cinema do Mundo», Cineconcerto by JP Simões, e DJs Rui Pedro Tendinha/Marie Lopes; 1 de julho – «Sistema Sonoro» by Bando à Parte (Pedro Bastos, Jorge Quintela e Rodrigo Areias), e DJ Pedro Ramos (futura Rádio de Autor); 2 de julho – «Dentre» by Joaquim Pavão, e DJ Pedro Ramos (futura Rádio de Autor). No encerramento do Festival, a 3 de julho, pelas 22h30, é apresentado «Surdina», com cineconcerto by Tó Trips, o ex-Deab Combo que regressa a Loulé,

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desta vez a solo. A curadoria do espaço volta a estar a cargo do crítico de cinema Rui Tendinha e a produção é do Loulé Film Office. O espaço funcionará Rua do Município, junto ao edifício da Câmara de Loulé. O envolvimento do movimento associativo cultural do concelho é outra das notas deixadas pelo diretor durante a apresentação deste domingo, nomeadamente nas áreas das artes de rua, mas também em relação a um novo palco – o MED Jazz. Nos Claustros do Convento, onde em anos anteriores se desenvolvia um espaço dedicado ao Fado, este ano é o Jazz que vai estar em destaque. Com a parceria da Mákina de Cena, ali decorrerão os concertos com

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Vale, Juliette Serrad, Marco Martins’Low Profile, Heiko Bloemers, Maria Villanueva e Desidério Lázaro Quarteto, propostas auspiciosas os apreciadores (e não só) do universo jazzístico. No que respeita às exposições, para além da Galeria de Arte do Convento do Espírito Santo e dos Claustros do Convento, também a Rua do Município contará com uma instalação artística. O Palco Arco volta a estar associado a um espaço de gastronomia, nas traseiras da Igreja Matriz, e que será animado pelos músicos residentes Eduardo Ramos, Marco Cristovan e Afonso Dias. O MED Kids é o espaço direcionado para os mais novos com atividades específicas desenvolvidas pela Biblioteca Municpal, onde os pais poderão deixar os seus filhos. O «Open Day», dia de entrada livre, será assinalado com um concerto especial com o ALGARVE INFORMATIVO #341

guineense Remna, a 3 de julho, às 21h45, no Palco Castelo. Este ano o Festival MED contará, pela primeira vez, com a RTP como media partner, a par dos habituais Antena1, Antena2 e Antena3, além de muitos outros parceiros nacionais e internacionais que têm contribuído para projetar o evento em termos de comunicação. Ao longo de quatro dias, o MED contará com 90 horas de música, 66 concertos divididos por 12 palcos ou espaços informais, mais de 330 músicos, 23 nacionalidades, e em estreia a Mauritânia, representada pela artista Noura Mint Seymali. “Não olhamos

somente aos nomes, mas ao seu conceito. Ao conceito inicial que era o de um festival que andava à volta da Bacia do Mediterrâneo, 118


mas que, em bom momento, abraçou outros pontos globo. A diversidade musical e as sonoridades do Festival MED fazem dele um evento riquíssimo em termos musicais e um festival de referência não só no Algarve e no nosso país, mas que é reconhecido em todo o mundo”, realçou Carlos Carmo. Quem vai subir ao palco do MED em 2023 será Bia Ferreira, cujo concerto do dia 29 de maio constituiu uma boa surpresa para quem desconhecia a sua carreira. “Eu

espero que a maior divindade que

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se faz presente aqui hoje, que é a Arte, consiga fazer morada no seu coração, consiga fazer transformação, e que você saia daqui diferente. Nós somos apenas um instrumento”, foram as palavras da artista brasileira no arranque de um grandioso concerto. Há quase uma década uma das mais destacadas vozes brasileiras no que diz respeito à comunidade LGBTQl+, ao racismo e à xenofobia, Bia Ferreira trouxe ao palco do Cineteatro Louletano esse espaço de esclarecimento, provocação, motivação e de luta por aquilo em que acredita, uma voz contra os problemas do seu país .

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Quinquagésima terceira tabuinha - Joelho (XI) Ana Isabel Soares (Professora Universitária) s «recantos da memória» são lugares vazios. Porém, já se aprendeu pelo menos com Marcel Proust, basta o nada de um aroma, o borrifo de um perfume, uma nuvem de calor a sair do forno, e cobrem-se de imagens, lembranças, palavras, tantas, tantas, que transbordam. De vagos lugares, transformam-se, abundantemente, na cornucópia de Amalteia – ou na minúscula cabine sobrepovoada de Uma Noite na Ópera, em que entram oito, treze, quinze,… pessoas, mais os respetivos adereços (o charuto de Groucho, o estojo da manicure, bandejas de comida, caixas de ferramentas) a fazer abarrotar os sonhos do pobre Harpo desmaiado, ao ritmo do literário convite “vinde, vinde e abandonai qualquer esperança”. Assim é que, de busca em busca, de fumaça em sabor, de perfume em textura, o joelho que, dobrado e desdobrado, me ocupa recantos do pensamento, vai contaminando gente à minha volta. É de propósito, nem de propósito – a Fernanda Dias, que me confessa desde as nossas primeiras conversas a sua predileção por um livro em particular, o fantástico Vendredi ou les limbes du Pacifique, de Michel Tournier, me enviou, traduzido por si, o excerto em que um joelho é ALGARVE INFORMATIVO #341

observado pelo mais potente de todos os microscópios – a atenção humana. “[…] Chegando junto de mim, ele não diz nada, companheiro taciturno. Vira as costas e olha a laguna onde há pouco caminhava. A sua alma flutua por entre as brumas que envolvem o fim de um dia incerto, deixando o corpo plantado na areia sobre as pernas afastadas. Sentado perto dele, observo esta parte da perna situada atrás do joelho – que é exactamente o tendão do jarrete – a sua palidez nacarada, o H maiúsculo que aí se desenha. Inflada e polposa quando a perna está tensa, esta garganta de carne encurva-se e suaviza-se quando flecte. Apoio as mãos sobre os seus joelhos. Faço das mãos duas joelheiras atentas a sentir-lhes a forma e a auscultar-lhes a vida. O joelho, pela sua dureza, pela sua secura – que contrasta com a coxa lisa e o tenro jarrete – é a pedra angular da abóbada do edifício carnal que suporta, em vivo equilíbrio, até ao céu. Não há frémito, impulso ou hesitação que não partam desses tépidos e moventes seixos, e que a eles não regressem. Durante alguns segundos, as minhas mãos confirmaram que a imobilidade do meu companheiro não era a de uma pedra, nem de um tronco seco, mas pelo contrário a resultante instável, incessantemente comprometida e recriada de todo um jogo de acções e reacções dos seus músculos” . 122


Foto: Vasco Célio

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Notas Contemporâneas [41] Adília César (Escritora) “Temos já misérias, crises, dissoluções, velhas raízes que se despegam, prantos no vento; pior nos irá quando Dezembro vier: mas através de todas as vicissitudes sempre se conservará, como na Natureza, a eterna seiva, que é a eterna força”. Eça de Queirós (1845-1900), in Notas Contemporâneas (1909, obra póstuma)

INQUIETAÇÃO redobra como badaladas vivas no interior do instrumento cardíaco. Este, já não é um coração e, parecendo-se mais com uma arritmia do tempo, insiste na receita de um futuro pouco promissor, por se auto-punir nas acções que os seus habitantes humanos perpetuam dia após dia. Nada muda, afinal. Somos bestas alucinadas a quererem viver as vidinhas do costume. * POR EXEMPLO, uma ida à praia, o corpo bem besuntado com o protector solar da moda adquirido no supermercado. A besta nem leva a máscara porque “não é preciso e já não é obrigatório”. Sente-se feliz e livre em contacto com a maresia. Primeiro um café na esplanada virada para o mar e depois… A sombrinha, o saco, as toalhas, a garrafa de água, o chapéu de palha, a cadeira desdobrável, a revista light, o telemóvel; talvez o maço de cigarros e, sem dúvida, a bola de Berlim. E tira-se de imediato uma foto aos pés na areia para ALGARVE INFORMATIVO #341

partilhar nas redes sociais (ainda não percebeste que isso não me interessa?). * FAZ-SE UMA VIAGEM pelos dias acima e não se chega a lugar nenhum. Os jornalistas dos noticiários televisivos anunciam a guerra e as novas doenças como se fossem mensageiros do Apocalipse. Os humanos escutam, tornando-se cada vez menos humanos. Lentamente, vão-se assemelhando a grandes receptáculos de pequenas hipocrisias. A noite cai, é preciso dormir, mas o sono está atrasado. * FRIEDRICH NIETZSCHE publicou os aforismos de Humano, Demasiado Humano – Um livro para espíritos livres em 1878, sendo a sua primeira obra após a ruptura com o romantismo de Richard Wagner e o pessimismo de Arthur Schopenhauer. Nietzsche mergulhou na Filosofia e na Epistemologia implodindo as realidades eternas e as verdades absolutas, alertando-nos para a inocuidade da metafísica no futuro. Ele procurava 124


definir o conceito de espírito livre, isto é, aquele que pensa de forma diferente do que se espera dele: o homem do futuro. O autor acusava a Filosofia e a Ciência de não cumprirem os seus papéis de criarem espíritos verdadeiramente livres, e que o homem precisa descobrir-se como Humano, Demasiado Humano. Na época, o livro não teve uma boa aceitação por parte da crítica e vendeu apenas 120 cópias no primeiro ano de publicação. * AS MAZELAS do mundo actual são as mesmas de outros tempos. Enquanto a natureza tenta resolver o problema das alterações climáticas, as doenças, as guerras e a corrupção generalizada cumprem o seu papel de disseminação activa da fome e da miséria. Porque somos humanos – estupidamente humanos – ainda não conseguimos encontrar a fórmula da sobrevivência da nossa espécie. Pelo contrário, somos os orgulhosos 125

descobridores das mil e uma maneiras de matar e de morrer. * HOJE, escreve-se um livro e o editor faz uma tiragem de 50 exemplares (sem revisão, ALGARVE INFORMATIVO #341


sem marketing, sem pagamento de direitos de autor). Nada mais há a fazer do que tirar a casca e comer cru. Meu caro Nietzsche, como vês, a situação agravou-se. Na verdade, temos muitos escritores, temos muitos livros, mas não há quem os leia. As ideias são fabricadas pela comunicação social que os espectadores aceitam passivamente de bandeja, porque é mais fácil assistir a uma reportagem televisiva do que ler um livro e formular ideias próprias a partir do que se leu. Não sei, meu caro Nietzsche, se o teu livro teria hoje mais sucesso. Provavelmente, Humano, Demasiado Humano – Um livro para espíritos livres teria uma edição de 50 exemplares (sem revisão, sem marketing, sem pagamento de direitos de autor). Provavelmente, terias recusado este tipo de «contrato». * MAS HOJE, somos espíritos verdadeiramente livres: demos à luz uma Revolução dos Cravos, elegemos um governo democrático, cercámo-nos de novas doenças e de guerras e, sobretudo, respiramos de alívio porque já não usamos máscara. A pandemia vai farejando: quais as consequências da doença e das vacinas no organismo das pessoas? Ninguém sabe. Também as alterações climáticas tendem a dramatizar o teatro das nossas vidas: uma inundação aqui, um deslize de terras ali, uma erupção vulcânica acolá, extinção de espécies animais por todo o planeta.

AS ESTAÇÔES DO ANO Têm os mesmos nomes – primavera, verão, outono, inverno – mas têm outros rostos. Na verdade, têm apenas uma face – a da insolvência de um processo caótico delineado pela espécie humana para conduzir a sua acção. Se a literatura já não cumpre o seu papel de catalisador do pensamento, a formulação de novas teses (filosóficas) também já não é uma opção. A cada estação do ano mudamos o nosso guarda-roupa, para nos protegermos do clima, mas não fomos capazes de elaborar um escudo repelente da estupidez. * A ESTUPIDEZ é uma característica intrinsecamente humana: não há animal mais estúpido do que o homem (e a mulher), sendo que as redes sociais constituem um dos seus notáveis exemplos. Esta hipótese causa-me um profundo desconforto. Contudo, as crianças enchem-me de esperança e alegria com o seu empenho, os seus sorrisos e a sua franqueza. Ser criança é ser verdadeiro, criativo e feliz. Recordo o tempo em que esperava o que ainda espero. Dos tempos velhos ressurgirão tempos novos, assim nos dita a filosofia do quotidiano. Até quando? .

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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #341

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