REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #344

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ALGARVE INFORMATIVO 25 de junho, 2022

«AMARAMÁLIA 2020» DA COMPANHIA PORTUGUESA DE BAILADO CONTEMPORÂNEO «AGUÁRIO» | BMX EM QUARTEIRA | CAROL | SURICATA | CARVOEIRO BLACK&WHITE INFORMATIVO #344 «TERRA DOS MEUS SONHOS» | DIA DA CIDADE DE OLHÃO | «A MAGIA DASALGARVE 1001 NOITES» 1


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ÍNDICE Dia da Cidade de Olhão (pág. 16) Campeonato Nacional de BMX em Quarteira (pág. 26) Carvoeiro Black&White (pág. 38) Carol (pág. 50) Suricata (pág. 60) «Amaramália 2020» da Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo no Auditório Carlos do Carmo (pág. 70) «Terra dos Meus Sonhos» no Teatro Lethes (pág. 94) «Aguário» no Cineteatro Louletano (pág. 108) «A Magia das 1001 Noites» no Auditório Carlos do Carmo (pág. 120)

OPINIÃO Paulo Cunha (pág. 130) Ana Isabel Soares (pág. 132) Adília César (pág. 134) Fábio Jesuíno (pág. 138) Dora Nunes Gago (pág. 140)

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MUNICÍPIO DE OLHÃO DEU A CONHECER NOVOS PROJETOS EM ANDAMENTO NA ÁREA DA HABITAÇÃO E EDUCAÇÃO Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina lhão festejou, no dia 16 de junho, o seu Dia da Cidade, com o presidente da Câmara Municipal, António Miguel ALGARVE INFORMATIVO #344

Pina, a destacar a capacidade de luta, a criatividade e a persistência dos olhanenses no seu discurso na sessão solene que decorreu no Auditório Municipal. O edil recordou os desafios financeiros e sociais colocados pela pandemia e, depois, pela guerra que 16


também nos seus próprios orçamentos, dando o exemplo evidente da escalada nos preços das matérias-primas, da energia e dos combustíveis, que se pode traduzir num aumento da despesa de mais de 1,5 milhões de euros. Contudo, e apesar da incerteza dos tempos atuais,

“não podemos perder de vista aqueles que são os desafios do desenvolvimento do nosso concelho: criar condições para a fixação de empresas que, por sua vez, irão criar empregabilidade, apoio à infância e à juventude e apoio à habitação”.

decorre atualmente na Ucrânia, o que implicou a necessidade de se “redefinir

metas, desacelerar nos investimos previstos e reorganizar prioridades, nomeadamente nas obras públicas, de acordo com a evolução da situação nacional e internacional”. António Miguel Pina notou que, sendo as câmaras municipais as estruturas que mais perto estão dos cidadãos, são elas que mais têm sentido os efeitos destas contingências nas vidas das pessoas, mas 17

Este desejo do executivo olhanense foi, aliás, demonstrado ao longo da visita a várias obras que estão a acontecer na cidade de Olhão, num trajeto que começou na Rua António Henrique Cabrita, onde prossegue a bom ritmo a construção dos 54 fogos da primeira fase da habitação a custos controlados. A segunda fase contempla a construção de mais 288 fogos de habitação e 30 espaços comerciais nos terrenos da antiga Litografia, na Avenida Sporting Clube Olhanense, e deverá avançar no terreno já no primeiro trimestre do próximo ano.

“Com estes investimentos estamos a criar condições que proporcionem a todos a possibilidade de adquirirem a sua habitação a custos razoáveis, que caibam dentro dos orçamentos das famílias”, referiu António Miguel Pina, anunciando ainda que a Autarquia se encontra em negociações para adquirir terrenos em todas as freguesias do ALGARVE INFORMATIVO #344


concelho para que, nos próximos seis anos, sejam contruídas mais 300 casas. Para ilustrar o investimento que se encontra a ser feito no parque escolar do concelho foi feita uma visita à Escola EB1/JI N.º 4, que está a ser alvo de um projeto de requalificação profundo, orçado em cerca de 1,6 milhões de euros.

“A intervenção deverá ficar concluída até maio de 2023 e representa uma fatia dos mais de 8 milhões de euros que estamos a investir no parque escolar”, frisou António Miguel Pina, antes da comitiva rumar à Avenida 16 de Junho, para assistir a um investimento de 1,85 milhões de euros que vai dotar a cidade de mais cerca de 700 metros de zona privilegiada de contacto com a ria Formosa. “Vamos catapultar toda

esta área, que vai deixar de ser uma zona pós-industrial para passar a ser mais uma zona nobre da cidade, para um novo patamar de qualidade de vida”, assegurou o autarca, que aproveitou para realçar o esforço que foi feito para disponibilizar naquela zona, já este Verão, 350 lugares de estacionamento. Já no Auditório Municipal de Olhão foram apresentadas algumas ferramentas digitais que vêm estreitar e facilitar o contacto com as diversas estruturas do universo autárquico, como é o caso do novo portal autárquico, que congrega os sites dos principais serviços e empresas municipais, tornando o acesso mais ágil e mais moderno, ao mesmo tempo que permite aos munícipes ALGARVE INFORMATIVO #344

tratarem dos mais diversos assuntos online. Outra novidade é o Centro de Gestão de Ocorrências, um portal online que permite aos cidadãos reportarem, de uma forma fácil e intuitiva, qualquer situação anómala que se verifique no concelho, de modo a que os serviços de manutenção atuem em tempo útil. Estas duas ferramentas vieram juntar-se à app VisitOlhão, que coloca à disposição de 18


olhanenses e visitantes toda a informação sobre o concelho, seja ela turística, económica ou cultural. No Dia da Cidade houve ainda lugar à tradicional homenagem aos Heróis da Restauração de 1808 e à inauguração da estátua do Pescador Olhanense, uma peça de arte urbana localizada no Jardim Pescador Olhanense. Quanto aos 19

funcionários que completaram 25 anos ao serviço da autarquia, a distinguida este ano foi Maria Laureta Pacheco. Relativamente aos prémios de mérito escolar referentes ao último ano letivo, foram contemplados João Tiago Santana (10.º ano), Alice Navalho (11.º ano), Lara Brito (12.º ano) e Arianny Aguiar (cursos profissionais) . ALGARVE INFORMATIVO #344


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BRUNO CARDOSO E RITA XUFRE REVALIDARAM TÍTULOS DE CAMPEÕES NACIONAIS DE BMX EM QUARTEIRA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Federação Portuguesa de Ciclismo runo Cardoso (Ain Cotiere BMX Sodicycle) e Rita Xufre (Núcleo Bicross de Setúbal/Knowledge Inside) revalidaram, no dia 18 de junho, em ALGARVE INFORMATIVO #344

Quarteira, os títulos de campeões nacionais de BMX. Na categoria masculina de BMX, Bruno Cardoso confirmou o favoritismo, impondo-se diante de Miguel Domingos (Team BMX Quarteira) e de David Almeida (Núcleo Bicross de Setúbal/Knowledge Inside), 26


renovando o estatuto de campeão nacional de elite. Nas femininas, a divisão etária foi diferente. Rita Xufre, campeã em título e ainda em idade de cadete, triunfou na corrida para as participantes entre os 15 e os 24 anos. Na categoria de mais de 25 anos impôs-se Mónica Gaboleiro. A corrida de juniores masculinos assistiu ao triunfo de um corredor da casa, Renato Silva (Team BMX Quarteira), o mesmo sucedendo nos cadetes, com vitória de Lourenço Hartel. Nas categorias masculinas de escolas ganharam o juvenil Francisco Sousa (Team BMX Quarteira), o infantil Gonçalo Ribeiro (Clube Bicross de Portimão), o iniciado Gustavo Pereira (Clube Bicross 27

de Portimão), o benjamim Isaac Borralho (AEBTT Rio/Mr. Print) e o pupilo Miguel Santos (Núcleo Bicross de Setúbal/Knowledge Inside). No setor feminino das escolas, as melhores foram Carlota Santos (Casa do Povo de Abrunheira), na faixa etária 13-14 anos, e Maria Pinto, da mesma equipa, no escalão 9-12 anos. As vitórias nas provas de veteranos sorriram a Carlos Rosado (Clube Bicross de Portimão), em BMX Race, enquanto em cruiser foram para André Martins (Team BMX Quarteira), em 30-39 anos, e Paulo Domingues, em maiores de 40. Por equipas, o título ficou no Algarve, viajando para as vitrinas do Clube Bicross de Portimão . ALGARVE INFORMATIVO #344


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CARVOEIRO BLACK&WHITE ENCHEU POR COMPLETO AS RUAS DA VILA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Ricardo Coelho, João Lelo e Município de Lagoa

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Carvoeiro Black&White prometia regressar em grande, foi preparada ao mais ínfimo pormenor e tornou-se na primeira grande festa de Verão de 2022 a sul do país, com muita animação, música e glamour e mais de 30 mil pessoas a percorrer as ruas desta vila costeira do concelho de Lagoa, superando os números das edições anteriores. Foram, de facto, milhares os que saíram à rua e, vestidos de preto e branco, deram um colorido especial à Praia do Carvoeiro, fazendo desta edição do Carvoeiro Black&White a melhor de sempre. A afluência foi grande desde as primeiras horas do evento, o que fazia prever a maior enchente de sempre e

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nem mesmo o receio de chuva fez com que as pessoas deixassem de marcar presença num evento que atrai visitantes de todas as regiões do país e de outros pontos da Europa. No terreno estiveram oito cenários dedicados ao espetáculo, à animação e à música e a Carvoeiro Black&white esteve lotada em todos eles, oferecendo uma diversidade musical e cultural que foi desde o fado à música chillout, dos ritmos afro roots aos melhores covers, da música dos anos 70 e 80 até à dance music. À semelhança das últimas edições, a Câmara Municipal de Lagoa, organizadora do evento, disponibilizou uma linha regular de autocarros gratuitos que assegurou a ligação entre Carvoeiro e os vários estacionamentos previstos em Lagoa, o que facilitou a chegada, em segurança, de milhares de pessoas ao

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recinto, sem nenhum incidente a registar. “É com

grande satisfação que tivemos o Carvoeiro Black&White de volta e logo na sua melhor versão de sempre. Este é um evento que requer um esforço suplementar dos nossos colaboradores e o seu sucesso deve-se muito a eles. A todos eles o meu muito obrigado”, agradeceu Luís Encarnação, Presidente da Câmara Municipal de Lagoa . 41

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CAROL APRESENTA DISCO DE ESTREIA EM ALBUFEIRA NUMA NOITE QUE PROMETE SER MUITO ESPECIAL Texto: Daniel Pina

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stávamos em 2020, no início do primeiro confinamento ditado pela pandemia por covid19, quando conversamos pela primeira vez com a cantora Carol Vieira, natural de Albufeira, mas a viver em Lisboa há alguns anos. A passagem do teatro, área em que a algarvia tem formação académica, para a música deuse, mais a sério, em 2014, quando emigrou para Londres à procura de uma nova vida e onde descobriu a Bossa Nova. De volta a Lisboa, procurou um guitarrista e montou um projeto de música ao vivo e comida, «Os Clandestinos Conceito e Jantar», ao mesmo tempo que ia «brincando» com os seus originais. ALGARVE INFORMATIVO #344

«Onde Vais» foi o primeiro single lançado por Carol Vieira e mais um estava na calha, mas a verdade é que a pandemia não foi tão rápida a controlar como todos nós tínhamos pensado – e ainda persiste – o que alterou por completo os planos da jovem albufeirense. “Fiquei sem trabalho e

acabei por regressar a casa da minha mãe, como se fosse um ano sabático, uma residência artística. Criei mais um single e conheci outros cantautores através do Instagram, porque todos os artistas estavam em isolamento e começaram a fazer lives nas redes sociais. Entretanto, comecei a 52


ouvir o podcast da Luísa Sobral, onde ela conversa com vários cantautores portugueses, e fui-me identificando com a forma como eles faziam as suas músicas”, Impossibilitada de fazer concertos, Carol Vieira decidiu dedicar-se a 100 por cento à construção de novas canções e assim aparece Carol, que ainda é influenciada pela Bossa Nova, mas agora também pelo Pop/Jazz, Música Ligeira e World Music. “Hoje em dia somos

nasci e fartei-me de ver fotografias e vídeos da minha infância. Isso suscitou uma série de memórias e afetos que foram transportadas para as canções, juntamente com a natureza, o mar e a solitude que estava a experienciar naquela altura”, indica. “As canções surgiram de uma forma bastante intuitiva e espontânea na minha guitarra e num piano velhinho da minha avó, fruto de todos aqueles estímulos. Foi muito bonito”.

bombardeados com tantos estilos que se torna difícil colocarmos o nosso som numa gavetinha específica. Há muito tempo que não estava tão intensamente com a minha família e no lugar onde

Deste cozinhado de influências e experiências resultou, então, um som mais contemplativo e introspetivo, reconhece Carol, adiantando ainda que as músicas têm também uma instrumentação diferente, com trompete,

recorda a entrevistada.

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percussão, a par da guitarra e piano. “À

medida que ia concebendo o disco na minha cabeça ia pensando neste ou naquele instrumento e músico, pessoas que já conhecia de Lisboa e outras que conheci durante o confinamento”, explica. “Foi uma fase completamente nova para mim em que quase que fui empurrada para a composição, mas depressa fiquei fascinada e percebi o quão importante é ter calma para conseguir criar. Não é a mesma coisa que ensaiar e tocar e a verdade é que, antigamente, dedicava grande parte do meu ALGARVE INFORMATIVO #344

tempo a vender os meus espetáculos de covers, à procura de trabalho. De repente fiquei em casa, com disponibilidade para encontrar a minha própria musicalidade, e isso fortaleceu ainda mais a minha vontade de ser artista”. Carol nunca duvidou do seu talento e do seu potencial, mas admite que ficou surpreendida com a facilidade com que começou a compor novas canções, com a fluidez e rapidez com que o processo decorreu. “Quando não estamos

preocupados com esta demanda do vender e do concretizar 54


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oportunidades de trabalho, quando estamos simplesmente a brincar com as letras e as notas musicais, como as crianças fazem, as coisas resultam melhor. As crianças são tão criativas porque não julgam os materiais, estão apenas a divertir-se com aquilo que estão a fazer sem pensarem no produto final”, observa a entrevistada. “Eu estava rendida a este processo de descoberta, de poder contemplar e desfrutar de todos os momentos. O resultado foi um disco com oito temas e já tenho mais dois novos com outro cantautor que conheci depois de ter estado em estúdio”. «A Porta» de Carol vai ser então lançado durante este Verão, através de uma editora de Almada, e já tem feito diversos concertos em Lisboa, seguindo-se, no dia 1 de julho, o seu primeiro na sua terra natal, em Albufeira, mais concretamente nos Olhos de Água. “A edição do disco

atrasou-se precisamente porque muitos artistas aproveitaram os confinamentos para produzirem novos trabalhos, foi uma fase bastante criativa”, diz, com um sorriso. “Neste momento vou-me dividindo entre os concertos e as aulas de canto que comecei a dar. A pandemia serviu para amadurecer uma Carol que já tinha muita vontade de se dedicar ao trabalho autoral, mas que andava ALGARVE INFORMATIVO #344

distraída a vender espetáculos de covers. Já nem sei se gosto mais de cantar ao vivo ou de escrever canções. É uma paixão recente que me dá imensa vontade de fazer mais e mais, mas agora é mais complicado voltar a estar quietinha a explorar a minha música”. Resta saber se há espaço para Carol no mercado discográfico nacional, o tempo o dirá, nós acreditamos que sim. “As

coisas que eu faço têm vontade de ser partilhadas, vistas, experimentadas, de estarem em comunhão com outras pessoas, de ouvir o seu feedback. Eu vou fazer a minha parte, vamos ver como é que as coisas correm”, declara a albufeirense, reconhecendo que o concerto do dia 1 de julho vai ser uma noite muito especial. “É a minha terra,

foi aqui que o álbum cresceu. Vai ser um concerto com a banda toda e até vou levar guitarra elétrica, ao invés da acústica, que confere uma sonoridade mais contemporânea e fresca a um som que é mais clássico e de jazz. Vão estar lá a família, os amigos, os antigos colegas da escola, muitas pessoas que nem sequer sabiam que eu cantava até ter começado a meter os vídeos nas redes sociais. Por isso é que vai ser tão especial”, antevê Carol .

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BALA PERDIDA É O NOVO DISCO DOS SURICATA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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epois de, em 2020, terem editado o EP homónimo, os «Suricata», de Pedro Gil, Tércio Freire e Paulo Franco vão lançar, no dia 25 de junho, o seu primeiro longaduração, num concerto que terá lugar na Fábrica da Cerveja, na Vila Adentro, em Faro. Segue-se, poucos dias depois, a 30 de junho, a atuação no conceituado Festival MED de Loulé, contudo, antes disso, o projeto algarvio participou em mais uma edição do RHI_Think, no Cineteatro Louletano, onde tivemos a oportunidade de trocar dois dedos de conversa com este carismático trio constituído por um transmontano, um açoriano e um luso-canadiano.

No início da história tínhamos apenas Pedro Gil na guitarra elétrica e Tércio Freire na guitarra barítono, que mergulharam nas raízes da música tradicional portuguesa e a cruzaram com a música moderna, daí resultando um género de fusão entre o Fado, o Jazz e o Blues. Em 2021, quando o projeto foi para a estrada, o duo transformou-se em trio com a chegada do percussionista lusocanadiano Paulo Franco, e o sucesso do EP deu ainda mais ânimo para avançarem para o primeiro longa-duração, onde os Suricata convidam os ouvintes a embarcarem numa viagem desde o mar ao deserto, sem esquecer a belíssima Ria Formosa. “Começamos apenas com

duas guitarras e uma abordagem mais simples em termos de composição. Depois, as músicas tornaram-se mais complexas e arrojadas, porque a introdução da percussão veio mexer com a sonoridade do grupo”, refere Pedro Gil, com Tércio Freire a indicar que o primeiro EP serviu para aprofundar a complexidade e o diálogo entre dois guitarristas que, volta e meia, já trabalhavam juntos há muitos anos.

“Sentíamos uma necessidade de misturar as nossas várias influências do jazz e blues e de explorar a música mais tradicional. ALGARVE INFORMATIVO #344

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A entrada do Paulo levou-nos para outro tipo de diálogo, que se nota agora neste disco”, comenta Tércio. Um diálogo que continua a ser meramente instrumental, o que torna o projeto ainda mais desafiante, admite Pedro Gil. “Quando se fala em

música popular, fala-se em canções, pelo que a música instrumental se afasta logo das massas. Mas, para mim, estas músicas têm fortes melodias, não sinto falta da letra”, assume o transmontano, com Tércio a esclarecer prontamente que não estamos na presença de temas muito longos, como por vezes acontece na música instrumental. “No nosso caso, a voz

é a guitarra elétrica. Não há palavra, mas o seu som diz coisas”, ALGARVE INFORMATIVO #344

explica, antes de passar novamente a «bola» para o lado de Pedro Gil. “Os

portugueses é que dividem muito as coisas. Em Espanha chama-se «canción» a tudo, em inglês a mesma coisa, «song» é uma canção com letra ou apenas instrumental. E a principal característica da arte é a sua subjetividade, cada pessoa interpreta como quiser”, entende. “A letra de uma canção fecha-te mais o mundo, se for instrumental, podes viajar para qualquer lado. É como olhares para um quadro realista ou para um quadro abstrato”, compara Tércio Freire. Mesmo sem letra, as canções dos Suricata dão nas vistas pelas suas fortes 64


melodias e, acima de tudo, pelas constantes «conversas» entre as guitarras elétrica e barítono e as percussões, mas criar diálogos sem palavras não é para qualquer um, avisa Pedro Gil. “Desde a

composição até à produção e edição é um trabalho imenso e criar oito temas instrumentais completamente distintos uns dos outros exige uma grande criatividade. Basicamente, brincamos com o ritmo, a harmonia e a melodia, em busca da inovação e da divergência. Habituei-me a trabalhar as músicas um bocadinho todos os dias, mas a parte mais

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interessante é quando depois nos juntamos os três. Nessa altura muda-se muita coisa”, conta Pedro Gil, com Paulo Franco a explicar que o trio gravou take atrás de take na República 14, em Olhão, para depois se escolher o melhor. “E tocávamos sempre de

forma diferente, porque também estávamos a sentir a música de forma diferente. É um processo fluído, dinâmico, vivo”, descreve. Um dinamismo que depois é transportado para as atuações ao vivo, reconhece Tércio Freire, com um sorriso, havendo espaço para improvisos ou novas abordagens aos temas. “A ideia

musical tem que estar lá,

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começamos por tocar os temas da forma como os idealizamos, mas isso, por vezes, serve de mote para «viagens» que acontecem naquele momento, em tempo real. E essa é a parte mais divertida, porque nunca é igual”, frisa. “Claro que temos que falar uma língua que toda a gente entende e consegue acompanhar, para depois regressarmos ao alinhamento”, acrescenta. Entretanto, porque o concerto de apresentação estava cada vez mais perto, a pergunta da praxe: há público para este ALGARVE INFORMATIVO #344

trabalho? “É música para espaços

mais pequenos e intimistas, num grande festival ao ar livre é capaz de perder o contexto”, responde Pedro Gil. “Para nós, o importante é tocarmos mais e mais, divertirmonos e que as pessoas desfrutem da nossa sonoridade, que possam viajar e que também se possam encontrar, caso estejam perdidas”, refere Tércio Freire. “E evoluirmos com isto, porque o próximo disco já está na calha, provavelmente até com alguns temas com letra”, conclui Pedro Gil . 66


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COMPANHIA PORTUGUESA DE BAILADO CONTEMPORÂNEO TROUXE «AMARAMÁLIA 2020» A LAGOA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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fado de Amália Rodrigues voltou ao Auditório Carlos do Carmo, em Lagoa, no dia 16 de junho, como mote para «Amaramália 2020» da Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo de Vasco Wellenkamp. O espetáculo foi concebido precisamente no ano em que se celebrou o centenário do nascimento de Amália Rodrigues e estreou, em 2020, na Fundação Gulbenkian.

nostálgica de um Fado nascido em alto mar. Mas, enquanto coreógrafo, o que me seduz é sobretudo a emoção e a força dramática com que chegou até nós na voz divina de Amália”,

De acordo com a produção, as hipóteses sobre a origem do Fado são muito diversas. Para uns, as suas raízes estão no Oriente, para outros nas canções dos escravos levados para o Brasil que cantavam ao ritmo murmurante do oceano. “Gosto da imagem

espetáculo começa como uma projeção imaginária, uma cerimónia sem tempo e personagens definidas. O seu espaço tanto pode ser a geometria obscura das vielas e

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refere Vasco Wellenkamp, acrescentando que o processo de trabalho teve sempre, do ponto de vista musical, a mesma linha de organização: os fados escolhidos foram enquadrados numa malha musical formada por uma colagem de diversas obras musicais que surgirão nos interstícios. “O

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tabernas de Lisboa — na sua penumbra habitada —, como uma janela debruçada sobre a claridade de um lugar sem nome. As flutuações do destino e das paixões humanas, a tristeza, a separação, a estranheza, o voo e o grito pela liberdade, ressurgem como a expressão de um sentimento de

vida incerta. O discurso teatral acompanha o espírito de cada um dos poemas escolhidos —, ao mesmo tempo que se abandona à voz de Amália, à sua emoção e às suas múltiplas interpretações —, como matéria-prima do seu sentido e da sua própria expressão coreográfica”, descreve o coreógrafo .

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«TERRA DOS MEUS SONHOS» É A NOVA CRIAÇÃO DA COMPANHIA DE DANÇA DO ALGARVE Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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Companhia de Dança do Algarve apresentou, no dia 15 de junho, no Teatro Lethes, em Faro, «Terra dos Meus Sonhos», uma produção inspirada na multiculturalidade da Península Ibérica que remonta aos tempos antigos da conquista da história portuguesa. “Partilhada por um

passado comum de invasões, por uma ânsia do desconhecido materializada nos descobrimentos marítimos, é-lhe conferida a denominação de «quintal exótico do continente europeu», enraizada ALGARVE INFORMATIVO #344

de costumes, sonhos e utopias”, descreve a produção. «Terra dos Meus Sonhos» tem coreografia de Eliana Carvalho Moreira e Evgeniy Belyaev e interpretação a cargo de Ana Sofia Sousa, Beatriz Martins, Carolina Lourencinho, Catarina Telo, Diana Pinheiro, Eva Smetanina, Joana Estêvão, Joana Gonçalves, Joana Maurício, Leonor Peixe, Manuela Meirelles, Maria do Carmo Aires, Maria do Carmo Monteiro, Madalena Mendonça, Margarida Teles, Nuno Guerreiro, Polina Abramova, Rita Soares, Rita Salazar e Sara Brás. A cenografia e figurinos são de Eliana Carvalho Moreira e Evgeniy Belyaev . 94


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IMPORTÂNCIA DA ÁGUA RETRATADA EM «AGUÁRIO» DA COMPANHIA DE MÚSICA TEATRAL Texto: Daniel Pina | Fotografia: Jorge Gomes

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Companhia de Música Teatral levou a cena, nos dias 16 e 17 de junho, no Cineteatro Louletano, em Loulé, «Aguário», espetáculo multidisciplinar que tem como ator principal a água, “elemento essencial à

vida, bem escasso e cada vez mais importante para a nossa sobrevivência no frágil planeta que habitamos, mas que pode ser também matéria artística que se ALGARVE INFORMATIVO #344

molda como traço, gesto, som, fluindo no tempo e no espaço”. “Ligando tudo e todos, pois é essa a natureza da água. Diz-se que há uma linguagem falada pelos pingos da chuva, ondas do mar, fontes e rios. Que até nas nuvens se ouvem conversas, bem como nas gotas do orvalho, onde ela adquire formas delicadas que só se ouvem de manhã bem cedo. No oceano profundo, pelo contrário, soa grave e majestosa”, refere Paulo Maria 110


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Rodrigues, responsável pela Direção Artística, acrescentando que, “como

acontece com outras linguagens cujos dicionários ainda estão por fazer, requer uma escuta atenta e a capacidade de imaginar”. Quando tal sucede, soa a música, e este é o ponto de partida da constelação artístico-educativa «Aguário», um conjunto de três experiências autónomas que podem ser apresentadas

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individualmente ou de forma articulada, permitindo que diferentes públicos, de diferentes formas, possam entrar numa viagem artística que usa a água como mote para a contemplação e fruição, mas também para a sensibilização ambiental. Com Espaço Cénico de Miguel Ferraz e Paulo Maria Rodrigues, «Aguário» é interpretado por Inês silva e Mariana Miguel e é uma coprodução da Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão e Companhia de Música Teatral .

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DANÇAS ORIENTAIS ENCANTARAM AUDITÓRIO CARLOS DO CARMO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Photos4Life / Ideias do Levante ALGARVE INFORMATIVO #344

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espetáculo de dança oriental «A Magia das 1001 Noites» regressou para a sua nona edição, no dia 10 de junho, ao Auditório ALGARVE INFORMATIVO #344

Carlos do Carmo, em Lagoa, tendo registado mais uma lotação esgotada. A organização foi da Ideias do Levante – Associação Cultural de Lagoa e em palco estiveram o Grupo Zhar Louz e os convidados «Raqs Tahira» . 122


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O que é nosso é bom e recomenda-se! Paulo Cunha (Professor) entando aproveitar a «ponte» que um feriado concedeu, resolvemos sair de Portugal para assim proporcionar uma justa recompensa à nossa filha pelo seu desempenho no ano escolar que findou e também para fazermos um programa de enriquecimento cultural. Ao colocarmos os pés no aeroporto, logo percebemos que não era normal ver nesta época tanta gente em filas intermináveis, em espaços apinhados, com voos atrasados, com bagagens perdidas e com o mau humor como característica dominante entre os passageiros e os funcionários aeroportuários. Percebemos então que, tal como nós, após dois anos de restrições severas provocadas pela pandemia, grande parte da população mundial quer também sair alémfronteiras, desconfinando assim o corpo e a mente. Tendo saído na altura certa, constatámos com agrado que alguns países estão a regressar à normalidade no que aos costumes, tradições e rotinas sociais dizem respeito. Mesmo com uma guerra a decorrer na Europa, muitos turistas estão a ver nesta progressiva libertação das medidas pandémicas um escape para a prisão forçada a que foram sujeitos. Não sabendo o que lhes reserva ALGARVE INFORMATIVO #344

o futuro, preferem desfrutar o presente e assim recarregar as baterias que o confinamento forçado descarregou. Preferem não ficar reféns das estratégias geopolíticas gizadas como forma de sanar os eventos bélicos em curso e assim gozarem as merecidas e esperadas férias fora dos seus países. Mais uma vez, ao sair para um país europeu onde os salários proporcionam um poder de compra quase duas vezes o nosso, constatei que, por múltiplos e diversos fatores, Portugal é um paraíso para quem o visita e o escolhe para morar e por cá terminar os seus dias. Obviamente, nós portugueses, que nos queixamos de tudo e de mais alguma coisa, acabamos por só ter a noção do que temos e do que somos quando, ao sairmos, verificamos que a nossa diversidade, a nível humano, geográfico, histórico e cultural, nada fica a dever à dos países que queremos visitar. Se para quem nos visita Portugal é um país único, oferecendo a sua enorme e vasta riqueza a preços altamente atrativos e competitivos, ao visitarmos qualquer outro país com potencial turístico, tristemente, constatamos que a generalidade dos portugueses ganha muito menos que os naturais dos outros países que integram a União Europeia, colocando-nos assim na situação inversa dos turistas que nos visitam. 130


Costumo dizer, meio a sério, meio a brincar, que aos portugueses só resta Portugal para fazer férias, pois terão uma oferta turística à medida dos seus salários e poupanças e com a qualidade que merecem. É por isso, e muito mais, que sempre que saio do meu país natal regresso com a convicção que fui bafejado pela sorte de cá ter nascido. Apesar de alguma má frequência, este é um país a que apetece regressar, tais as características humanas de quem constitui o seu melhor cartão de visita: o seu povo. Portugal, sendo pequeno em 131

extensão, é grande na qualidade do que tem para oferecer. Saibamos e queiramos aproveitá-lo! Agora que se avizinham enormes constrangimentos nos nossos e nos aeroportos dos vários locais que os portugueses costumam eleger como destinos de férias, pense bem antes de sair, pois o tempo é precioso e o que tem para gastar pode cá ficar, comprando maior qualidade e, por consequência, felicidade. É costume ouvir dizer que “Quem vos avisa vosso amigo é!”. É o caso. Boas saídas cá dentro . ALGARVE INFORMATIVO #344


Quinquagésima quinta tabuinha - Joelho (XIII) Ana Isabel Soares (Professora Universitária)

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olossal» – é com essa palavra (idêntica nas línguas inglesa e portuguesa) que Percy Bysshe Shelley qualifica a ruína de Ozymandias, no poema que dedicou à ilusão do poder, ao vazio comando, à cobiça da glória. É um adjetivo sinónimo de «monumental», no sentido de gigantesco, grandioso, e no de celebratório, comemorativo. No exemplo poético de Shelley, a colossalidade da ruína equivale ao – ou tem razão no – tamanho daquilo que se comemora ou procura imortalizar: a monumentalidade cumpre a celebração do grandioso que terá sido aquele inclemente líder, maior entre todos os das gentes que comandou, e que julgava continuar, eternamente, a subjugar. (Mesmo quando incluíam outros igualmente grandes, porque poderosos – «ye Mighty»). A estatuária em pedra cumpre, em princípio, a função de imortalizar a figura dos poderosos (dos que têm, pelo menos, o poder de mandar construir as estátuas). Mas nem a pedra, diz o soneto de Shelley – nem a pedra resiste à passagem do tempo, à inclemência dos elementos que, naqueles versos, a areia do deserto simboliza. Nem a pedra instaura a sobranceria (vã, tão vã) do ser humano ALGARVE INFORMATIVO #344

(O Colosso de Rodes – reprodução a partir de xilogravura de Sidney Barclay na obra Voyage aux Sept merveilles du monde, de Lucien Augé de Lassus. Imagem do domínio público)

perante as forças do universo que o rodeiam. Talvez o caso mais célebre – ainda hoje – seja o do «colosso de Rodes», representação em pedra do deus Hélios (ou deus-Sol), patrono e protetor daquela cidade grega, que, colocado à entrada do porto, sem qualquer veste ou com algum 132


Foto: Vasco Célio

panejamento a cobrir-lhe nada mais do que o redor da cintura e as partes íntimas, sinalizaria a vitória contra os seus conquistadores e o poder da proteção divina, no século IV antes da era Cristã. Mais de 30 metros de altura (enfim, talvez impressionante para a época, pois a entrada da ilha de Mahnattan é guardada por um celebradíssimo colosso do presente que, só em estátua, sobre a 46 metros, acrescentados sobre os 47 do pedestal) olhariam quem entrasse, procurando infundir o sentido de reverência e de temor. A estátua, ao que consta das crónicas historiográficas, terá resistido pouco mais de meio século, na sua sorridente e solar expressão. Um terramoto fê-la quebrar, pelos joelhos, e 133

derrocar todo o pétreo volume que eles ajudavam a sustentar. A atual estátua da Liberdade, figura não divina – de uma mulher –, por causa das coisas tem uma veste a cobrir-lhe as nudezes até aos pés. Não vá a Mãe natureza sentir-se ofendida pelo colosso que, com monumental humildade, nas palavras do soneto «The New Colossus», de outra poeta oitocentista, Emma Lazarus, convida em vez de afastar, com os seus «silenciosos lábios» de pedra: “Tragam-me os que de vós estão cansados, os pobres, as vossas multidões amontoadas que se querem libertar, os dejetos miseráveis da espuma da vossa costa” .

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Notas Contemporâneas [44] Adília César (Escritora) O leitor deixou de ser uma pessoa a quem se fala isoladamente e com o tricórnio na mão: e o escritor tornou-se tão impessoal como ele. Não são individualidades cultas comunicando; são duas substâncias difusas que se penetram, como a luz quando atravessa o ar. Eça de Queirós (1845-1900), in Notas Contemporâneas (1909, obra póstuma) E QUE FALAMOS quando dizemos literatura? A coisa escrita assume contornos precisos e, ao mesmo tempo, difusos. Contornos precisos: as letras; contornos difusos: o seu significado. O leitor percepciona a ideia transmitida pelo escritor, a qual não é, necessariamente, a mesma. É aí que reside a riqueza da literatura, a transmissão de algo não redutor ou limitado. Pelo contrário, há uma amplificação (ou, se preferirem, ramificação) de ideias, conceitos, sensações e acontecimentos, que conduzem à construção de novo conhecimento. Em suma, a vida ficcionada. Mas. * DE QUEM FALAMOS quando dizemos leitor? O leitor e o nãoleitor asseguram outro paradoxo: não se conseguem definir. Antes de tudo, é preciso perceber: o que é ler? Não será apenas descodificar os símbolos e a forma como se organizam para elaborar ALGARVE INFORMATIVO #344

palavras e frases, inscritas no livro ou gravadas no ebook… há uma atitude pessoal e íntima nas escolhas que fazemos. O que ler? Onde ler? Dedicamos muito ou pouco tempo à leitura? E o que esperamos ganhar com isso? É uma obrigação ou um prazer? E porque existem tantos não-leitores? * TENDO EM CONTA a minha perspectiva de leitora, posso afirmar que não consigo conceber a leitura como mero entretenimento. Quando leio estou atenta ao contexto e potencialidades pedagógicas do texto: contacto, análise, compreensão, dedução, conclusão, aprendizagem. As dúvidas que por vezes ficam são motivadoras de outras leituras complementares ou até releituras da mesma obra. E porque tenho necessidades diferentes, leio vários livros ao mesmo tempo. Confuso? Não. Tal como mudamos as nossas máscaras sociais perante o convívio com diferentes pares ou parceiros sociais, assim alteramos o nosso registo mental para o adequar à actividade intelectual do 134


momento. Contudo, leio sempre com prazer. * DE VEZ EM QUANDO releio «O que Vemos quando Lemos» (2014), um ensaio de Peter Mendelsund, director de arte da Alfred A. Knopf, uma das mais conceituadas editoras norte-americanas. Este livro-objecto pode resumir-se como sendo uma fenomenologia da leitura com recurso a ilustrações: o que vemos quando lemos, além das palavras numa página, e o que imaginamos nas nossas mentes? O leitor é convidado a reflectir através de um jogo exímio de afirmações e ilustrações, o qual se pode considerar como um «código» de acesso a uma nova espécie de linguagem que ultrapassa o significado das palavras e das ideias contidas nas frases elaboradas pelos escritores. O autor propõe uma série de exercícios/análises, explicitando os seus pontos de vista de acordo com imagens surgidas das leituras de obras. Consegue a proeza de nos fazer estabelecer uma relação íntima com livros que ainda não lemos! Vejamos uma das primeiras reflexões do livro: “Quando 135

lemos, estamos imersos. E, quanto mais imersos estamos, menos capacidade temos, no momento, de voltar a atenção das nossas mentes analíticas para a experiência em que estamos absorvidos. Deste modo, na verdade, quando discutimos a sensação de ler, é da memória de termos lido que estamos a falar”. ALGARVE INFORMATIVO #344


* MAIS OU MENOS Por esta altura, aparecem as sugestões de leituras de Verão. Ou deveria dizer leitura veraneante? E agora é que tudo se complica. Ler o quê? Em fevereiro de 2022, um inquérito do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa revelou que, “nos últimos 12 meses anteriores à recolha de respostas, 61% dos portugueses não leram um único livro em papel, e, dos 39% que afirmavam ter lido, a maioria leu pouco.” O mesmo estudo acrescenta: “mais de metade dos portugueses não lê livros, uma realidade que está fortemente associada à educação, já que muitos não têm memória de os pais alguma vez os terem levado a uma livraria ou lhes terem oferecido um livro”. O universo de quem leu constitui-se por «pequenos leitores» (27%, que leram entre 1 a 5 livros impressos durante o ano), «médios leitores» (7%, que leram entre 6 a 20 livros) e «grandes leitores» (apenas 1% leu mais do que 20 livros por ano). Em relação à leitura digital, a proporção é semelhante: 5% de «pequenos leitores», 1% de «médios leitores» e 0% de «grandes leitores». * OS ESTUDOS relativos a hábitos de leitura dos portugueses são muito importantes, enquanto instrumentos reveladores da realidade cultural e como base credível para a tomada de decisões a nível educativo e até editorial. Se tudo ALGARVE INFORMATIVO #344

começa na família, logo aí se verifica a maior fragilidade: “as conclusões do presente estudo apontam igualmente para a existência de uma relação entre a educação e os hábitos de leitura, já que, na sua infância e adolescência, a maioria dos inquiridos não beneficiou de estímulos à leitura gerados em contexto familiar. De acordo com os dados divulgados, a grande maioria dos inquiridos assume que os pais nunca os levaram a uma livraria (71%), a uma feira do livro (75%) ou a uma biblioteca (77%). Por outro lado, 47% assumem que os pais nunca lhes ofereceram um livro e 54% afirmam que nunca lhes leram um livro de histórias”. * HOJE, ao reflectir sobre este assunto, apetece-me ficar por aqui, assolada, subitamente, por uma sensação de desconsolo social, logo substituída por uma grata e genuína alegria: hoje, como em tantos outros dias, li um poema aos meus pequenos alunos. Eles ouviram e repetiram os versos. Dançaram, declamando os versos aprendidos. E não satisfeitos com toda aquela inquietação sedutora causada pela poesia, pediram mais. E ainda não sabem ler… quer dizer, não sabem descodificar os símbolos da escrita. Mas sabem sentir a leitura. Afinal, ainda há esperança para os livros que estão à espera de serem lidos .

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Dicas importantes para lançar uma startup Fábio Jesuíno (Empresário) s momentos de crise são grandes impulsionadores de novas oportunidades, criadores de empreendedores e de projectos inovadores. Nestes momentos devemos ter sempre uma atitude muito activa na procura de novas oportunidades, porque elas vão aparecer com muito mais frequência, bastando ter uma mente aberta e uma visão estratégica a longo prazo. São também nestes períodos que aumentam os incentivos económicos para a criação de novos negócios, criação de emprego e de projectos nas mais diversas áreas. Nesse sentido, criei uma lista de dicas para lançamentos de novas startups: Ideia de negócio A primeira etapa é sempre encontrar uma ideia de negócio com potencial de crescimento e rentável. Saber as tendências de mercado é um factor muito importante que vai ajudar em encontrar a melhor ideia para uma startup de sucesso. Crie um plano de negócios Um plano de negócios é um documento de planificação e organização que vai detalhar o negócio, tendo em conta os objectivos. Aqui vamos mostrar a viabilidade financeira da ideia sobre vários pontos de vista. É um verdadeiro mapa, ALGARVE INFORMATIVO #344

que é uma grande ajuda na fase inicial de qualquer startup. Estrutura base de um Plano de Negócios 1. Sumário executivo; 2. O histórico da Companhia e/ou dos promotores; 3. O mercado subjacente; 4. A nova ideia e o seu posicionamento no mercado; 5. O Projeto/ Produto/ Ideia; 6. Estratégia Comercial; 7. Projeções Financeiras; 8. Gestão e controlo do negócio; 9. Investimento necessário Marketing O investimento em marketing é um dos factores mais importantes a ter em conta quando lançamos uma nova startup, ele vai permitir divulgar a nossa ideia no mercado, atrair e fidelizar clientes. Aqui deve-se ter sempre em conta a definição do público-alvo e a forma como será transmitida a mensagem. O investimento nesta área deve ser sempre numa perspectiva de médio e longo prazo para se conseguir de uma forma sustentável obter bons resultados, e, acima de tudo, notoriedade e credibilidade no mercado. Estas são as minhas dicas fundamentais para quem quer lançar uma startup de sucesso . 138


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Da idade e das tentativas para enganar o tempo Dora Nunes Gago (Professora Universitária) “Existe uma parte de todos nós que vive fora do tempo. Talvez só tomemos consciência da nossa idade em momentos excepcionais, na maioria do tempo não temos idade”. Milan Kundera ste texto não é para os jovens, mas antes para aqueles que se encontram próximos ou já viraram a «curva da estrada», recorrendo àquela metáfora já tão gasta acerca da vida. E estes pensamentos surgem-me prestes a franquear a soleira de entrada nos cinquenta. Um cinquentenário impõe respeito e, sobretudo, por muito que se queira desvalorizar o facto, festejar de arromba, deprimir, ou simplesmente ignorar, faz inevitavelmente pensar, até aqueles que raramente se entregam a essa tão nobre e cada vez mais rara actividade. Ao cruzarmos esta dita soleira, sentimos deixar de viver fora do tempo, pois invadem-nos, em catadupa, a mente, os sonhos perdidos nas bermas de tantos caminhos trilhados. Revemos os que foram entrando e saindo da nossa vida, os engolidos pelos alçapões das circunstâncias, os que permanecem, convertendo-se no nosso esqueleto, nos pilares que sustentam aquilo que somos e o que ainda almejamos ser. E, sempre latente, aquela angústia inconfessada, acesa na consciência, da remota possibilidade de vivermos outros cinquenta anos. Neste cenário, não admira a tentação de extrair anos à vida, alimentando a ilusão ALGARVE INFORMATIVO #344

de a estender, de a esticar como uma interminável faixa de cimento a unir os tijolos da existência. Como exemplo, posso referir a escritora Maria Ondina Braga, cujo centenáriosurpresa se comemora este ano. E surpresa, porquê? É que a autora aproveitou um engano na entrada da Enciclopédia Verbo que lhe atribuía como data de nascimento 1932. A família compactuou, assim como os académicos que estudaram a sua obra (e incluo-me nesse lote), mesmo depois de algumas teses de doutoramento terem desvendado o caso. Contudo, no corrente ano, a ficção desfez-se, já que a comemoração do centenário permitirá também uma maior atenção para a republicação das obras da autora pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda, cujo primeiro volume foi lançado este mês, editado pelos Professores José Cândido de Oliveira Martins (Universidade Católica de Braga) e Isabel Cristina Mateus (Universidade do Minho). Recentemente, a questão da idade alterada também soou a propósito da escritora brasileira Lygia Fagundes Telles, falecida a 3 de abril, supostamente com 98 anos, mas que, de acordo com o genealogista Daniel Taddone, baseando-se 140


em pesquisas documentais, teria nascido, não em 1923, mas sim em 1918. Neste caso, a escritora teria falecido com 103 anos. Claro que podemos considerar que a idade é um mero número e que este truque de a omitir, talvez sirva apenas para alimentar uma certa ilusão, aquela fantasia que, na sua raiz nos impulsiona para o universo da criação, esse acto primordial de efabular, ainda que seja a partir da nossa data de nascimento, passando rasteiras ao tempo, numa cega ânsia de perdurarmos. Mas depois, há uma outra questão muito mais relevante: a imagem que vemos reflectida no espelho e aquela que nos é devolvida pelo nosso reflexo. Mentalmente, temos a impressão de termos cristalizado na casa dos trinta, aquela época ainda de juventude, mas já com um bocadinho de maturidade, tornando-se complicado, por vezes, amalharmos dentro de nós a discrepância entre a idade sentida, a vivida (por vezes, as encruzilhadas, os recomeços, são tantos que temos a sensação de ter vivido muitas vidas em vez de uma), a pensada e aquela que habita as páginas dos calendários. Apercebi-me disto, nitidamente, nos últimos tempos em Macau, quando muito frequentemente me surpreendia a dar lugar, no autocarro, a pessoas, muito provavelmente mais jovens do que eu. E tal facto trouxe-me à memória as palavras do meu avô, quando aos oitenta e sete, dizia: “lá morreu mais um moço da minha idade”. Mas o mais duro é quando o espelho dos outros nos distorce, nos envelhece súbita e inesperadamente. Quando nos atribuem a maternidade de uma irmã com menos seis anos, ou de amiga, com mais três anos, quando, ainda nos quarenta, nos mandam para a fila dos maiores de 65 anos ou pior ainda, quando a nossa avó pergunta: “olha 141

lá, filha, então, mas com tanto professor que para aí há, porque é que os velhos como tu, têm de trabalhar cada vez mais?”. Confesso que isto de a minha própria avó me incluir na banda geriátrica, estando eu, nessa altura, ainda a iniciar a casa dos trinta, foi para mim um verdadeiro choque. A solução? Reinterpretar o adjectivo «velha» como experiente, de modo a contornar positivamente o problema. Mas será a idade um verdadeiro problema? Claro que não. O caroço da questão é sempre a aterradora possibilidade daquilo que a idade arrasta frequentemente consigo: as doenças, as limitações físicas, a dor, a perda da independência, o resto será mera ficção. No fundo, é sempre a saúde o grande foco, nos momentos excepcionais em que, como refere Kundera, tomamos consciência da idade, aliando-se à demanda do equilíbrio possível, de uma harmonia, no intuito de, pelo menos, darmos mais vida ao nosso tempo .

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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #344

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