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ALGARVE INFORMATIVO 23 de julho, 2022
«A FACE OCULTA DA LUA»
NO TEATRO MUNICIPAL DE PORTIMÃO 40.ª CONCENTRAÇÃO INTERNACIONAL DE MOTOS DE FARO | «CENAS NA RUA» EM TAVIRA EM LAGOA#348 1 ATELIER DO MOVIMENTO EM FARO | MERCADO DE CULTURAS À LUZ DAS VELAS ALGARVE INFORMATIVO CARLOS CAMPANIÇO LANÇA «VELHOS LOBOS» | FESTIVAL CHOQUE FRONTAL EM PORTIMÃO
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ÍNDICE 40.ª Concentração Internacional de Motos de Faro (pág. 28) Carlos Campaniço lança «Velhos Lobos» (pág. 64) Escola Municipal de Dança de Portimão apresentou «A Face Oculta da Lua» (pág. 74) Espetáculo de final de ano letivo do Atelier do Movimento (pág. 92) Mercado de Culturas à Luz das Velas em Lagoa (pág. 112) «Cenas na Rua» em Tavira (pág. 124) Festival Choque Frontal em Portimão (pág. 136)
OPINIÃO Paulo Cunha (pág. 144) Mirian Tavares (pág. 146) Ana Isabel Soares (pág. 148) Adília César (pág. 150) Fábio Jesuíno (pág. 152) Nuno Campos Inácio (pág. 154) Dora Nunes Gago (pág. 156) ALGARVE INFORMATIVO #348
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CONCENTRAÇÃO INTERNACIONAL DE MOTOS DE FARO, UM PARAÍSO PARA OS AMANTES DAS DUAS RODAS, COM O INFERNO ALI TÃO PERTO Texto: Mário R. Cunha | Fotografia: Mário R. Cunha ntre os dias 14 e 17 de julho, de 2022, o Vale das Almas, em Faro, voltou a ser o palco da Concentração Internacional de Motos de Faro, organizada anualmente pelo Moto Clube de Faro. Neste ano em que se celebrava a 40.ª edição da Concentração, e depois de dois anos de pausa provocada pela pandemia de Covid-19, as expectativas sobre o ALGARVE INFORMATIVO #348
regresso do evento, que já há muitos anos se tornou numa espécie de Meca para os motociclistas, eram mais que muitas. A confirmação da realização da Concentração foi motivo de júbilo colectivo para muitos que já só precisavam de saber os dias concretos para marcar as suas férias. Se é certo que para os residentes no Algarve a logística é relativamente mais fácil, não podemos esquecer que a Concentração traz pessoas de todos os cantos do mundo, 28
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alguns dos quais com viagens que duram mais tempo do que a concentração em si. Contudo, porque parece que nada bom pode ser fácil neste mundo, a realização desta concentração não se deu sem os seus percalços. Primeiro, o anúncio nas redes sociais de que haveria limites de inscrições deixou muitos receosos de uma viagem em vão, anunciando que preferiam não arriscar a vinda a Faro. Apesar do evento começar oficialmente a uma quinta-feira, há quem chegue apenas na sexta-feira ou até mesmo no sábado. Foi principalmente entre estes últimos que surgiram as maiores reservas, mas que depressa se vieram a dissipar quando, pouco tempo depois, o Moto Clube partilhou nas suas redes sociais que ainda haveria muitas inscrições disponíveis durante a Concentração.
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Este viria, no entanto, a ser um mero fait divers quando comparado com as notícias que chegaram na semana da realização da concentração. Com o perigo de incêndio no país a chegar a níveis historicamente elevados, o Governo lançou mão da figura de «Situação de Contingência», figura que, pelas normas associadas, impedia à partida a realização de eventos em zonas florestais. Com o Vale das Almas já preparado para receber os cerca de 25 mil motociclistas (números a que se somam cerca de 10 mil convidados), sendo que alguns estavam já no local, a notícia de que o evento poderia ser cancelado caía que nem uma bomba. Seguiu-se um período de incerteza, reuniões entre a organização e organismos estatais e alertas de que era impossível, nesta fase, deslocalizar o encontro, sendo que o seu 31
cancelamento seria, muito provavelmente, fatal para a sua continuação (e não nos referimos apenas a esta edição). Certo é que, após insistência da organização, reforçada pelo apoio do Município de Faro que se posicionou no sentido da realização do evento, conseguiu-se um compromisso que permitiria que a quadragésima edição da Concentração Internacional de Motos de Faro fosse uma realidade. O evento manter-se-ia no seu local habitual, sendo que, à partida, parte do acampamento seria deslocalizado. E dizemos à partida porque, conforme referido por elementos da própria organização em declarações à imprensa, os terrenos sugeridos para acolher o acampamento, fruto da necessidade de alterações, não ofereciam as condições necessárias, pelo que, num ALGARVE INFORMATIVO #348
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risco que se disse ser assumido, a organização voltou a direccionar os campistas para os espaços originais. De todo o modo, a confirmação da realização da Concentração sossegou os corações daqueles que, apesar de habituados a emoções fortes, não conseguiam ainda assim conceber a ideia de passados de dois anos sem que o evento se tivesse realizado, houvesse agora uma nova ausência, ainda que com motivações diferentes.
PELO RECINTO Apesar do nome «Concentração de Motos», pensar que no recinto preparado pelo Moto Clube de Faro vamos encontrar apenas motos será um erro. Obviamente que encontramos motos, muitas motos até e de diferentes formas e feitios. Aliás, nem precisamos chegar ao 33
recinto para isso, já que até nos dias que antecedem a concentração o número de motores de motos que se faz ouvir por Faro aumenta consideravelmente. E, pelo recinto, nos diversos «parques de estacionamento» espalhados, encontramos das clássicas Sachs V5, às tradicionais e reconhecidas Harley Davidson, passando por um vasto conjunto de outras marcas e estilos. Não é raro encontrar por esses mesmos «estacionamentos» vários motociclistas que comparam motos ou «namoram» até aquele que será, provavelmente, o modelo que tencionam comprar quando chegar a altura de um eventual upgrade ou uma simples mudança. Mas, como referíamos, a Concentração não se faz apenas de motos, não obstante toda a experiência girar à volta das mesmas. Logo ao entrar no Vale das Almas, junto ao espaço onde os ALGARVE INFORMATIVO #348
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motociclistas fazem a sua inscrição, encontrávamos a Feira. Apesar de ser já um elemento habitual do encontro, este ano localizava-se num espaço novo. Entre os arruamentos criados, encontrávamos a habitual parafernália que associamos ao mundo das motos: dos tradicionais coletes de couro a outras escolhas de tecido, os patches que dão cor a muitos dos coletes com os mais diferentes motivos, capacetes e outro equipamento variado para protecção de quem anda sob duas rodas, não faltando ainda, não fosse o mundo das motos tão associado ao rock e heavy metal, uma vasta oferta de t-shirts de bandas que facilmente seriam descritas como sendo «da pesada». Ali por perto, um bar e uma roulotte onde se anunciavam bifanas chamavam desde logo a atenção dos muitos que chegavam e aproveitavam logo para refrescar as gargantas e alimentar o 35
corpo (e espírito) para os dias que se seguiam e que seriam exigentes, até pelo calor que se fazia sentir. Ao avançar na direcção da concentração propriamente dita, notamos a falta do habitual «portal» que acolhe os motociclistas. Um pormenor é certo, mas cuja ausência não se deixou de sentir. Após a fiscalização das entradas, tarefa que não é fácil tal é o corrupio de gente que circula de um lado para o outro, chegamos então à «terra prometida». A verdade é que, para aqueles que não eram estreantes nestas andanças, o recinto pouco ou nada mudou desde o último evento. Rodeado de vastos espaços para acampar, com acesso a casas de banho e até chuveiros improvisados que podem não garantir a maior das privacidades, mas não deixam de ser bem-vindos face ao calor e poeira ALGARVE INFORMATIVO #348
que se fazem sentir, o recinto é desde logo marcado para existência de uma enorme tenda com mesas e bancos que fazem as delícias de toda a gente. É também ali que, além de refeições e do habitual descanso às pernas, as multidões afluem para ver alguns espectáculos, nomeadamente do grupo Trash Circus, com uma performance que faria o casal dos livros «Sombras de Grey» corar de vergonha, um grupo de percussão, homens estátua que passam música, pole dancing e até um trio que, à falta de melhor descrição, dava piruetas no ar para gáudio dos presentes. É também nesta tenda que, na tarde de Sábado, se realiza o tradicional concurso de tatuagens que premeia as melhores obras ali levadas. Num recinto onde o raro é ver alguém que não tenha ainda sentido a dor provocada pela agulha de ALGARVE INFORMATIVO #348
uma «máquina» de tatuar, há ainda assim obras que se destacam, como voltou a ficar à vista de todos na competição deste ano, em que o primeiro prémio ficou por terras lusas, não obstante a forte concorrência que se sentia. Este ano, além da animação que acontecia dentro da tenda, houve ainda animação pelo recinto, com direito a uma «esfera da morte», a fazer lembrar os tempos em que a Feira Popular de Lisboa era ainda uma realidade e até um espectáculo equestre, proporcionado pelos vizinhos da Andaluzia. Pelo recinto era ainda possível escutar os instrumentos de sopro do grupo AlFanfare, ver figuras angelicais sob andas ou uma espécie de «Predadores», que, não obstante a inspiração, dedicavam-se mais a tirar fotos com os visitantes do evento do que a caçar prémios. 36
Também um pouco por todo o recinto não faltam locais para matar a sede, comer qualquer coisa, ou, também aqui, fazer algumas compras. Obviamente, que como já acontece em alguns festivais, já não faltam algumas opções «fora da caixa», como um stand de massagens, nem as habituais ofertas promocionais que os transeuntes procuram, não vá uma caneta fazer falta durante a concentração. Num canto do recinto, escondido à sombra de um toldo, mas passando um tanto ou quanto despercebido, via-se uma mesa com alguns livros expostos. Aproximámo-nos para procurar saber mais e encontrámos, sentado à mesa, Ismael Prates Margarido, autor do livro «Por Baixo do Asfalto». Descobrimos que Ismael escreveu o livro para contar, na primeira pessoa, sobre a experiência de 37
percorrer a mítica «Route 66» com a companhia de uma Harley Davidson alugada. Trocámos dois dedos de conversa que, obviamente, nos transportaram para a via norteamericana que se encontra na lista de «percursos que gostaria de fazer» de todos os motociclistas adeptos do estilo «Chopper», inspirados talvez por filmes como o clássico «Easy Rider». E por falar em «Choppers», não muito longe dali encontramos a «Kustom Farm – Bike Show», onde, além de espaços onde algumas oficinas se dão a conhecer e às suas criações, temos uma exposição de motos que ultrapassam a definição de mero meio de transporte para serem elevadas a «obras de arte». Na categoria «Strange», por exemplo, temos desde Caixotes do Lixo e Blocos de Cimento. Já na categoria «Rat Bike», vemos motas que podiam ter saído de um filme do Mad ALGARVE INFORMATIVO #348
Max. Temos depois motos que poderão agradar mais a uns ou a outros, ser mais ou menos práticas, mas que não deixam de impressionar os visitantes. Como de costume, as melhores motos são galardoadas, com a entrega de prémios a acontecer no sábado à noite. Num outro espaço, percorrida uma «rua» que de um lado oferecia mais material promocional e até um estúdio de fotos improvisado onde os visitantes podiam se fotografar com a sua mota, enquanto do outro tínhamos direito a bebidas servidas em «ananases» ou os doces para quem não os dispensa, chegávamos então ao já famoso Oásis, espaço de convívio e animação por natureza. Apesar deste ano não haver direito a lago, talvez para poupar água numa altura em que a seca se faz sentir, havia areia, alguma relva e sombra, ALGARVE INFORMATIVO #348
proporcionada por umas palmeiras estrategicamente colocadas que recriavam – digo eu que nunca estive de facto num – um oásis. Aqui, além da oferta também de comida e bebida, encontra-se ali animação musical, numa alternativa para os que preferem evitar a confusão do Palco Central. Obviamente que, em todos estes espaços, as motos marcavam, de uma forma ou outra, o ritmo, já que, como admitimos, apesar da concentração ter «oferta» para lá das motas, estas são o elemento agregador. Mas, e além disso?
A MÚSICA PARA ALÉM DOS MOTORES Para muitos, o «ronronar» dos motores é a única música de que precisam. 38
Contudo, para outros, e apesar de esclarecerem sempre que a Concentração Internacional de Motos de Faro não é um Festival de Música, a componente musical da Concentração, que se divide essencialmente entre dois palcos – o «Main Stage»e o do espaço Oásis – não deixa de ser um aperitivo que complementa a experiência do evento. Na noite de Quinta-Feira, o Palco do espaço Oásis ficou a cargo de João Nobre, Stones Alive e Warning Project. Já as honras de abertura do Main Stage couberam ao guitarrista Ricardo Gordo. O músico que começou por ouvir heavy metal e apaixonou-se depois pela guitarra portuguesa presentou a plateia com um «diálogo improvável» entre este instrumento e o rock, demonstrando toda a sua maestria enquanto executante. Apesar disso, a tarefa não foi fácil, não 39
estivesse o evento ainda a meio gás e o público um tanto ou quanto morno, pelo que não é de invejar a difícil tarefa que lhe coube. Ainda assim, Ricardo Gordo soube capitalizar os últimos momentos da sua actuação para tocar uma versão do já clássico do rock «Thunderstruck» dos AC/DC. Com a cantora Sandrine Orsini, que já o tinha ajudado antes, a ocupar-se da parte vocal, o público devolveu com entusiasmo durante as solicitações de ajuda para o refrão, terminando assim com uma nota alta um concerto que terá passado ao lado de muitos. De seguida, e a jogar em «casa», coube aos IRIS ocupar o palco principal. Com as primeiras músicas foram muitos os que se aproximaram, chamados por melodias mais familiares, não andassem os IRIS nisto desde 1979. É claro que da formação original pouco resta, mas a ALGARVE INFORMATIVO #348
familiaridade de Domingos Caetano, vocalista e guitarrista da banda, com o palco fazem com que tal facto seja facilmente ultrapassado e o público se concentre em acompanhar êxitos como «Atira Tó’Mar», «Oh Mãe, Aquêle Moçe Batê-me» ou «Montanheira». As melodias rock cantadas com pronúncia algarvia continuam, como nos anos 90 quando os IRIS alcançaram projecção nacional, a funcionar e o público esteve à altura acompanhando Domingos Caetano em muitos refrões. Os artistas GNTK e Jéssica Cipriano também subiram a palco com os IRIS, trazendo novos ritmos e influências que, nem por isso, deixaram de agradar aos fãs de IRIS e ao público presente. Além dos originais, interpretados com a qualidade a que os IRIS já nos habituaram, a banda percorreu também algumas versões de temas bastante conhecidos, o que apenas ALGARVE INFORMATIVO #348
contribuiu para que, durante as cerca de duas horas em que tocaram, o público não arredasse pé. Terminado que estava o concerto dos IRIS, foi a vez do colectivo SCREAM INC., vindo da Ucrânia, subir ao palco. A banda, que se apresenta como sendo uma «banda profissional de tributo aos Metallica», percorreu já inúmeros países e já foram até parar ao radar de James Hetfield que, a brincar, sugeriu que a banda “ensaiasse menos”. Não sabemos ao certo se será, de facto, esse o problema, mas é certo que depois do «espectáculo» trazido pelos IRIS, a banda que veio percorrer os clássicos de Metallica apresentou um concerto menos capaz de prender a multidão, tendo muitos aproveitado para ir ver o que se passava noutras «paragens» do recinto ou, simplesmente, descansar depois de 40
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um dia de calor para todos e, para muitos, de viagem.
No segundo dia o palco Oásis esteve a cargo dos João Pid, Kraken e SpitFire, uma banda de covers de rock. Já no palco principal, e quase depois de 30 anos desde o fim dos originais Dire Straits, foi a vez dos «The Dire Straits Experience» – uma banda que como o nome sugere, se dedica a tocar Dire Straits – subirem a palco. Capitalizando a longa experiência dos seus membros, inclusive de Chris White – que chegou a tocar ao vivo em tours com a banda original e que chegou a participar nos discos «On Every Street» e «On The Night» e ainda nos famosos concertos «Live Aid» e «Mandela» – a banda proporcionou um concerto sólido que cativou o público presente. Apesar dos originais terem surgido numa altura ALGARVE INFORMATIVO #348
em que o punk reinava no Reino Unido, os Dire Straits tocavam um rock clássico que ia buscar influência a géneros tão variados como country, folk, o rock blues e até mesmo ao jazz. Durante o concerto ouvimos o grupo tocar vários clássicos da banda original, mas o destaque vai obviamente para as músicas que, mesmo para os que não cresceram a ouvir a banda dos irmãos Knopfler, se tornaram imortais, como «Walk Of Life» e «Sultans Of Swing». Depois do já habitual show surpresa, que às sextas e sábados ajuda a passar o tempo entre as bandas e dá a oportunidade ao pessoal do palco para o preparar para a banda que se segue, foi a vez dos britânicos The Sisters Of Mercy subirem ao palco. A banda de rock, fundada em Leeds no ano de 1980, cedo alcançou fama junto do circuito mais 42
underground, tendo tido o seu sucesso comercial a meio da década, sucesso que manteve até início da década seguinte, quando deixaram de gravar material novo em protesto contra a sua editora. Desde então, a banda dedica-se somente a tocar ao vivo, mantendo da formação original apenas o vocalista Andrew Eldritch e a máquina de percussão a que chamam de «Doktor Avalanche». Apesar de, como dissemos, não gravarem material novo desde os anos 90, a banda continua a apresentar alguns trabalhos novos ao vivo. Ainda que assim não fosse, os êxitos incluídos nos três discos e muitos singles lançados, entre os quais se fizeram ouvir «Dominion» / «Mother Russia», «Lucretia My Reflection» ou a emblemática «Temple of Love» seriam, à partida, mais que suficientes para um concerto bem sucedido. Apesar disso, certo é que a actuação não terá sido consensual, facto 43
comprovado pela redução de público presente comparativamente à primeira banda e até pela insatisfação demonstrada por alguns fãs pela versão ao vivo das músicas tocadas, com arranjos muitas vezes «inovadores» que faziam com algumas das músicas se tornassem quase irreconhecíveis, não deixou de representar para muitos a oportunidade de «riscar» da sua lista de bandas a ver antes de morrer os emblemáticos The Sisters of Mercy. Para fechar a noite, e como já é tradição, uma banda espanhola, não estivessem os «nuestros hermanos» em grande número a participar nesta enorme festa que é a Concentração Internacional de Motos de Faro. A tarefa de encerrar a noite de sexta-feira esteve a cargo dos históricos Obús, grupo espanhol de Heavy Metal que, não sendo estreantes ALGARVE INFORMATIVO #348
na Concentração, conseguem ainda assim cativar o público com a sua energia, apesar de serem uma banda fundada em 1981, em Madrid. A banda conta já com 13 discos gravados, dois dos quais ao vivo, todos recheados com «malhas» que não pedem desculpa a ninguém para serem tudo o que o heavy metal deve ser: rebelde, com uma pitada de inconveniência, mas sempre com muita animação. E tudo isso foi trazido pelos Obús ao palco da Concentração, enquanto o público abanava as cabeças (para alguns os cabelos já eram uma memória do passado) e os «devil horns» (o habitual gesto associado ao rock e metal) se viam um pouco por toda a plateia. A hora já ia tardia quando o concerto terminou, mas nem por isso a ALGARVE INFORMATIVO #348
animação deixou de se fazer sentir um pouco por todo o recinto. O Sábado, último dia de concertos, foi animado no palco Oásis pelas bandas 33LM, pelos Hybrid Theory, banda de Tributo a Linkin Park que tem ganho fãs por onde passa, e pelos Nuggyland. Já no Palco Principal, a animação começou mais cedo. Não que fosse esperada uma banda, mas logo pelas 18 horas já um considerável número de pessoas acudia ao palco para ver o tradicional concurso Miss Faro (antigo Miss T-Shirt Molhada, cujo nome terá sido provavelmente alterado pelo reduzido número de concorrentes que chegava ao fim com a t-shirt vestida). Numa verdadeira demonstração de democracia, este é um 44
daqueles concursos onde o público decide, com base em critérios nem sempre muito objectivos, qual a vencedora. E para que não se diga que não há vantagens para as participantes, o anúncio desta «brincadeira» é feito com a indicação de que além de um capacete e de uma garrafa de vodka a vencedora levará consigo um prémio em dinheiro no valor de 500 euros. Certo é que o número de participantes parece vir a diminuir nos últimos anos, demonstrando que talvez até ao mundo do motociclismo estejam a chegar novos ventos … Depois dos estômagos cheios, logo a seguir ao pôr do sol, a atenção voltou a virar-se para o palco principal, desta vez para a entrega dos prémios do Bike Show. A competição que tem um espaço dedicado no recinto da Concentração premeia algumas das melhores motas 45
levadas a concurso, em categorias tão extremas como a «Strange», ou as «Rat», passando pelas mais convencionais «Chopper» ou «Caffe Racer», entre outras. Este é sempre um momento alto da noite, não fosse este um evento de motociclistas. Finda a entrega de prémios, a música volta a ser rainha e senhora do palco. Repetindo uma aposta de outros anos, o início de noite esteve a cargo da fadista Ana Moura. Tendo merecido o destaque de, no site All Music, ter sido considerada a fadista mais bem-sucedida a iniciar carreira no século XXI, Ana Moura já vendeu mais de um milhão de discos no mundo todo, sendo uma das recordistas de vendas de discos em Portugal. Apesar de nem sempre compreendida, a escolha por artistas que fogem ao que habitualmente se ouviria numa ALGARVE INFORMATIVO #348
no início, a artista havia dedicado à memória do seu irmão.
concentração de motos, tem sido uma aposta ganha do Moto Clube de Faro, como provava a multidão de gente que dançava ao ritmo de «Andorinhas» (cujo videoclipe foi gravado em Olhão nas tradicionais açoteias algarvias que a artista replicou em palco) entre outras músicas mais mexidas da artista que demonstra que o fado não tem que ser triste ou aborrecido. A fadista protagonizou também um dos momentos mais emocionantes da noite ao recordar o seu irmão, Bruno, que terá falecido na sequência de um acidente de moto no ano passado. Visivelmente emocionada, Ana Moura agradeceu ao público que repetia o nome «Bruno», marcando o final do concerto que, logo ALGARVE INFORMATIVO #348
Novamente após um momento de acrobacia onde, por acaso, as ginastas vão tirando a roupa, seguiu-se novo concerto. A apostar em clássicos nesta edição, o palco da concentração recebeu os dinamarqueses D-A-D, cujo nome foi alterado do original «Disneyland After Dark» de modo a evitar um processo em tribunal com a Disney. A banda rock que se iniciou também nos anos 80, trouxe um desfilar de clássicos que entusiasmou o público presente, revisitando músicas da mais de uma dezena de álbuns já editados. Enquanto os mais novos limitavam-se a abanar as cabeças ao som dos riffs, os mais velhos entoavam as canções, acompanhando Jesper Binzer, o vocalista da banda que, um pouco à semelhança do que acontecia com o vocalista de Obús, parecer ser a prova de que o Rock e o Heavy Metal podem ter algo que ver com o elixir da juventude. Depois de novo momento de danças exóticas, que terminou com um adeus do colectivo de dançarinas ao público, seguiu-se o momento mais aguardado da noite e, talvez, de toda a concentração no que a concertos diz respeito: Xutos & Pontapés. Que dizer? Estes «monstros do rock» em Portugal conquistaram já um lugar especial, não havendo quem, por terras lusas, não consiga apreciar um concerto da banda que desde 1978 anda nestas andanças. Apesar da morte, em 2017, do guitarrista e membro fundador, Zé Pedro, a banda mantém-se sólida e coesa, como ficou provado na noite de sábado. Apesar de terem optado por um alinhamento que talvez não fosse o mais 46
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convencional – foi uma surpresa agradável voltar a ouvir o tema Mãe – os músicos conseguiram ainda assim colocar toda aquela vasta multidão – e que multidão – a entoar as suas músicas como se de salmos se tratassem, como se recinto da concentração fosse a sua catedral e o Tim o seu reverendo, deixando bem claro para todos os que pudessem, eventualmente, não conhecer a banda (temos que nos recordar que há muitos estrangeiros a visitar a Concentração) que o «culto» aos Xutos é, muito provavelmente, um fenómeno que não tem igual na cena musical em Portugal. Os que nessa noite se foram deitar, foram certamente com um sorriso nos lábios, como terão certamente os Xutos pela moldura humana que se apresentou à sua frente num palco que é
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já quase como que uma «alegre casinha» onde será sempre bom voltar. No domingo, dia final da concentração, a música foi outra e fez-se ouvir por toda a cidade de Faro.
NA HORA DA DESPEDIDA A habitual calmaria que caracteriza Faro num domingo de manhã foi cedo interrompida pelas muitas pessoas que procuravam, primeiro entre as sombras e depois onde calhasse, o melhor local para poder ver o habitual desfile que os motociclistas organizam em jeito de agradecimento à cidade de Faro. Agarrados aos telemóveis ouviam-se alguns, certamente com amigos entre quem se encontrava no desfile, exclamar “Já saíram”. O mote estava dado e sabia-
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se que seria só uma questão de tempo, pelo que os mais atrevidos se aproximavam da beira do passeio para uma melhor vista ou um melhor local para fotografar e filmar. Os últimos carros passavam pelas estradas que em breve serviriam de palco às motas até que, a certo momento, como que sendo a «calma antes da tempestade», já ninguém circulava. Chegava então a «tempestade»! Com as forças de autoridade à cabeça e seguidos de carrinhas do Moto Clube de Faro e outras entidades que contribuem para a organização e segurança do evento, seguiam-se imediatamente motas. Milhares de motas! Foram praticamente 25 minutos de motas a passar a um ritmo que apenas por um par de vezes terá sido interrompido. E com a chegada das 49
motas ouviram-se os aplausos, num misto de saudação pela resistência de quem ousou não deixar morrer o sonho e a paixão e de agradecimento por uma vez mais terem vindo até Faro, para participar num evento que é um dos grandes atractivos da região algarvia por estes dias. Entre alguns dos condutores e penduras, os sorrisos rasgados permitiam perceber que o sentimento da população farense não passava despercebido. O cansaço podia ser muito (e normalmente é) mas a mensagem de uma larga maioria da população do concelho (e até do Algarve, já que muitos vão até Faro por este dia para ver também o desfile) era clara: enquanto quiserem, serão bem vindos aqui. E os motociclistas retribuíam, com mais uma apitadela, numa espécie de código morse que se traduziria em «Até 2023!» . ALGARVE INFORMATIVO #348
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40.ª CONCENTRAÇÃO INTERNACIONAL DE MOTOS DE FARO FOI UM ÊXITO Texto: João Pelica | Fotografia: João Pelica e Afonso Pelica o fim de dois anos de interregno, realizou-se, de 14 a 17 de julho, a esperada 40.ª Concentração Internacional do ALGARVE INFORMATIVO #348
Moto Clube de Faro, no Vale das Almas. Os cerca de 35 mil inscritos aproveitaram durante quatro dias o melhor da cultura motociclista, com o convívio, música, concursos e exposições a marcar o ritmo dos acontecimentos. 52
cultura e espírito motard ao centro da capital algarvia. A equipa de animação (dançarinos, bailarinas e elementos rotativos dento do recinto) apresentou números e momentos sempre interessantes e importantes para a gestão do evento. Do programa habitual constaram ainda os concursos de Best Tatoo e Miss Faro, bem como a entrega dos prémios do Bike Show nas diferentes categorias, com os portugueses (e algarvios) a serem os principais vencedores.
Do programa oficial destacaram-se os concertos de bandas e artistas de renome, tal como os D.A.D., The Hybrid Theory (tributo aos Linkin Park), Ana Moura e os sempre desejados Xutos & Pontapés, entre muitos outros, que durante as três noites animaram os presentes nos dois palcos, o principal e o OASIS. Não esquecer ainda o palco localizado em Faro, que estendeu a 53
Após o tradicional desfile pela cidade de Faro, que este ano teve uma participação record (com uma duração e número de elementos que não se vi há muito tempo), foram entregues os prémios aos diferentes motoclubes e pessoas inscritas que se destacaram (maior número de participantes, maior distância percorrida e menor idade). E, sem que ninguém estivesse à espera, uma surpresa adicional apimentou esta concentração com um convite de casamento, em pleno palco principal, e perante muitos milhares de pessoas, a testemunhar a (futura) noiva a dizer «Sim» ao pedido de casamento. Felicidades aos noivos. Por fim, o mais esperado (para muitos dos presentes), os sorteios da viagem a Daytona e da moto Indian, cujos vencedores foram ambos algarvios. Até 2023 em Faro . ALGARVE INFORMATIVO #348
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“ESCREVO POR INQUIETAÇÃO, PORQUE O MUNDO, EM DETERMINADAS LÓGICAS, NÃO ME FAZ SENTIDO”, EXPLICA CARLOS CAMPANIÇO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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eis anos depois de ter editado «As Viúvas de Dom Rufia», Carlos Campaniço tem novo livro no mercado, «Velhos Lobos», uma história de duas famílias desavindas e de um sentimento comum. Lançado pela Casa das Letras, do Grupo ALGARVE INFORMATIVO #348
LeYa, este é o sétimo romance do alentejano de nascença, mas radicado no Algarve há 27 anos, e o afastamento da escrita durante este relativamente longo período deveu-se, não à falta de criatividade, mas a uma questão de prioridades, apresta-se a esclarecer, durante uma conversa no Jardim Pescador Olhanense, em Olhão. “Quem 66
criativo é moroso, não é apenas escrever, mas rever, e rever, e voltar a rever. Quando começo um novo livro, não faço paragens, é um ritmo sequencial bastante positivo, o mais complicado é, realmente, colocar as engrenagens em marcha”, refere. “Os livros saem quando têm que sair, não houve aqui nenhuma tática ou estratégia”. Num mercado constantemente inundado por novos livros, e num tempo em que os portugueses cada vez leem menos livros, Carlos Campaniço rejeita também qualquer noção de desencantamento com o panorama literário nacional ou reticências em fazer um investimento financeiro numa nova obra, porque, conforme referido, edita pelo maior grupo nacional e possuidor de uma forte máquina promocional. “Claro
tem filhos pequenos e uma atividade profissional que não é a escrita, por vezes tem que colocar outras coisas em primeiro lugar, e eu não tenho nenhuma obrigação para comigo, nem em termos editoriais, para publicar neste ou naquele timing. O processo 67
que uma editora que tem centenas de autores não pode apostar em todos por igual, mas a «Casa das Letras» ainda recentemente colocou um anúncio na televisão de um dos seus novos lançamentos. Eu não invisto financeiramente nos meus livros, a editora corre esse risco e tira os proveitos desse risco. E eu sei bem que o mundo literário não é justo”, declara. “Eu nasci na província e vim viver para a província e, apesar do Alentejo e do Algarve serem as regiões mais bonitas de Portugal, a verdade é que estamos longe da ALGARVE INFORMATIVO #348
máquina mediática e dos amigos que promovem os amigos, não vale a pena estar a «chover no molhado». Os grandes escritores contemporâneos algarvios, a Lídia Jorge, o Nuno Júdice, o Gastão Cruz, tornaram-se grandes nomes sempre a viver na metrópole, e com todo o mérito. Se tivessem permanecido no Algarve, teriam a mesma qualidade, mas não sei até que ponto é que teriam a mesma projeção”. Carlos Campaniço reconhece que o Algarve é muito pródigo sobretudo em poetas, mas relembra que José Carlos Barros, um transmontano radicado no Algarve também há muitos anos, venceu recentemente o Prémio LeYa, o principal prémio literário de língua portuguesa.
“Pagamos um preço alto por estarmos na província e, apesar de alguns colegas dizerem que assim têm mais inspiração, isso a mim não me afeta, porque eu escrevo por inquietação, porque o mundo, em determinadas lógicas, não me faz sentido, e é preciso fazer a denúncia. Embora escreva romances de época, e o «Velhos Lobos» decorre em 1940, isso não significa que não se possa extrapolar essa realidade para a atualidade”, considera o entrevistado. “O tema principal deste livro é um sentimento, a solidão, e vivemos uma época em que os idosos estão ALGARVE INFORMATIVO #348
isolados, as povoações rurais estão quase desprovidas de infraestruturas e serviços. Há muitas formas de isolamento e solidão e podemos transportar esta condição humana para outros tempos e locais”, indica, pensativo. “Falava com um amigo neurologista há muito pouco tempo, que realçou que a solidão é um fator de risco para a saúde. E o mundo continua a ser um local imperfeito, onde há homens a explorar homens, onde há crianças a passar bastante mal, onde a opulência é vizinha da miséria, onde as mulheres são o elo mais fraco da sociedade. A minha literatura não é de inspiração, não é algo divino que cai sobre os homens e os leva a escrever ou não, serve para denunciar estas situações”. Uma literatura que também não é banal, que faz pensar, e, por isso, leva mais tempo a ler, o que pode ser um constrangimento para escritores como Carlos Campaniço. “Lê-se cada vez
menos em Portugal e, como tal, vendem-se cada vez menos livros, pelo que são pouquíssimos os autores que vivem a 100 por cento da literatura, deste ofício. Curiosamente, é um país onde se continua a querer editar muito, acho que temos mais escritores do que leitores”, analisa o alentejano, que 68
se assume como um escritor em contracorrente.
“Aposta-se muito na literatura comercial, light, mais instantânea, porque há uma corrente anglo saxónica que valoriza pouco a filigrana do texto, uma linguagem sugestiva, opta-se por uma linguagem mais simplista. No meu entender, para além de existir uma história que entretenha as pessoas, a linguagem tem que ser também recreativa”, defende.
O MAIS IMPORTANTE É PÔR AS PESSOAS A LER «Velhos Lobos» é, então, a sétima obra de Carlos Campaniço, mas sem qualquer relação com os outros livros, tendo apenas como ponto comum ser também um romance de época, e não histórico, esclarece. “Aqui, são as próprias
personagens que determinam o seu percurso. A história, os condicionalismos estão lá, mas são panos de fundo. Eu retrato acima 69
de tudo a condição humana”, refere, acrescentando que, na sua bibliografia, não existe uma continuidade, nem na lógica, nem nas personagens, nem na trama, nem sequer no estilo narrativo. “Por vezes há
mudanças profundas na maneira como eu apresento o texto aos leitores”, assume. Sobre a nova obra, a história passa-se numa zona raiana, com a Guerra Civil a entrar-nos pelas fronteiras, com a Guarda Fiscal muito atenta ao contrabando, com uma sociedade de classes bem vincadas e ALGARVE INFORMATIVO #348
o imaginário coletivo dos povos rurais.
“São muitos ingredientes, amores e desamores, e o sentimento de que, independentemente do estrato social, da idade e do sexo das pessoas, elas acabam por ter o mesmo destino. A sociabilização e a necessidade de estarmos com o outro sobrepõe-se muitas vezes a quase tudo”, descreve, recordando, com um sorriso, que cresceu num meio pequeno e onde as histórias abundam, onde a literatura oral está bastante presente. “Muitos aspetos
pertencem a uma memória coletiva e familiar, porque ainda presenciei algumas coisas dos tempos do Antigo Regime. O cenário não mudou, de repente, no dia 26 de abril de 1974. Claro ALGARVE INFORMATIVO #348
que também investiguei, porque as histórias dos livros, embora ficcionadas, tornam-se mais credíveis quanto mais fatuais forem. Não podemos estar em 1940 e a personagem atende um telemóvel. O resto é a imaginação, a capacidade inventiva do autor”, frisa. Carlos Campaniço fala igualmente da universalidade dos acontecimentos, da identificação do leitor com algo que sucede noutras geografias ou épocas, mas também do desejo de ler sobre o desconhecido. Depois, há três aspetos fundamentais para um livro ter sucesso: ter uma boa história, ser escrita numa linguagem rica e apelativa, e o narrador saber contá-la. “Há técnicas para se
conseguir prender o leitor, mas 70
muitas coisas são intuitivas, e o objetivo principal é que, quando ele acabe de ler o livro, esteja mais satisfeito do que quando o começou a ler”, considera o alentejano, que não esquece a importância do papel do revisor para o êxito de uma obra. “Eu trabalho com
a Maria do Rosário Pedreira, uma extraordinária editora, uma mulher super conhecedora que tem promovido muitos dos escritores desta nova geração, exigentíssima, mas bastante feliz nos seus conselhos e análises. Eu não seria o mesmo escritor e os meus livros não teriam a mesma qualidade se não passassem por esse crivo”, admite, sem qualquer problema. Segue-se, depois, a promoção, e Carlos Campaniço confirma que lançar um livro pelo Grupo LeYa e ter Maria do Rosário Pedreira como editora abre as suas portas. “No entanto, naquela
semana ou mês podem ir para o mercado mais 10 livros e em Portugal existem poucos críticos literários e poucos jornais, revistas ou programas de rádio ou televisão com espaços dedicados à literatura. Mas não me posso queixar, porque os principais órgãos de comunicação social falam sempre dos meus livros”, destaca, o que não significa que depois seja fácil conciliar estes compromissos com a agenda familiar e profissional. “É 71
óbvio que, se chegarmos a uma livraria, temos mais tendência para comprar um livro que esteja exposto na montra do que outro que esteja numa estante. Há aqui lógicas comerciais que nos ultrapassam, mas sinto-me um privilegiado por ter nascido na província, por estar a viver longe de Lisboa, e por estar a trabalhar com os melhores ao nível da edição. E a escrita é uma sarna de gosto e, quando acabamos um, estamos logo a pensar no próximo”, comenta o entrevistado, que já tem o esqueleto feito do seu oitavo livro, pelo que não estaremos, certamente, tantos anos à espera para o ver no mercado. “A atividade da
escrita é estimulada pelo convívio e pela troca de ideias com os leitores e com outros escritores, é um combustível anímico. O mundo é cada vez mais acelerado, somos cada vez mais imediatistas, mas acredito que ainda possa haver uma inversão nestas lógicas todas e que os livros continuem a fazer falta nas nossas vidas, que sejam um amigo e uma companhia. E, se os livros estiverem caros, visitem as bibliotecas públicas, porque têm as estantes cheias de bons autores. Mais do que o negócio dos livros, o que interessa é pôr as pessoas a ler e eu acho que tenho criado leitores” . ALGARVE INFORMATIVO #348
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ESCOLA MUNICIPAL DE APRESENTOU «A FACE O Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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DANÇA DE PORTIMÃO OCULTA DA LUA»
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o dia 16 de julho, a Escola Municipal de Dança de Portimão esgotou por completo o TEMPO – Teatro Municipal de Portimão, numa noite de muito movimento e beleza. A «Face Oculta da Lua» encerrou o ano letivo de 2021/2022 e revelou-se um espetáculo bastante emotivo por marcar o fim de um ciclo de quase quatro décadas de dedicação e ensino de Nilsen Jorge ao serviço da Câmara Municipal de Portimão como professora de ballet e dança contemporânea. A par das alunas das classes de Ballet Intermédio e Contemporânea Avançada, o espetáculo contou ainda com a participação da classe de iniciação de dança contemporânea, orientada pela professora Rita Lopes, e com a bailarina Laura Abel e o músico Paulo Viegas como convidados .
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TEATRO LETHES ACOLHEU ESPETÁCULO DE FINAL DE ANO LETIVO DO ATELIER DO MOVIMENTO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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Teatro Lethes, em Faro, foi mais uma vez o palco escolhido pelo Atelier do Movimento para levar a cena, em dose dupla, no dia 16 de julho, o seu espetáculo de final de ano letivo. Com lotação esgotada, pode-se assistir a coreografias de Ballet Clássico das ALGARVE INFORMATIVO #348
diferentes faixas etárias, desde os três anos de idade até aos adultos, mas também de Dança Oriental e Dança Contemporânea, para além das performances dos convidados Cia Panteras, Contemporanio Fusion e Escola de Dança Denise de Carvalho. Esta apresentação celebrou todo o empenho e dedicação dos alunos desta escola liderada pela professora Célia Trindade e sua equipa . 94
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MERCADO DE CULTURAS À LUZ DAS VELAS REGRESSOU A LAGOA Texto: Daniel Pina Fotografia: João Lelo
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epois do enorme êxito das edições anteriores, Lagoa voltou a ser o epicentro do Mercado de Culturas à Luz das Velas, com a sétima edição a ter como temática cultural «Diverculturas & Diversons», num evento cultural de caraterísticas únicas que pretende abranger a diversidade cultural e ALGARVE INFORMATIVO #348
sonora das seis culturas ou áreas geográficas do mundo que estiveram em destaque nas seis anteriores edições: cultura Islâmica, cultura judaica-sefardita, cultura celta, Rota da Seda, África e Mediterrâneo. As músicas tradicionais de raiz estiveram em destaque nos quatro cenários (palcos) do evento com a presença de Lu Yanan (China), Kilema 114
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(Madagáscar), Milo Ke Mandarini (Espanha), El Laff (Marrocos / Espanha), Zé Francisco Trio, Algibre, Banda Atlântica e Mónica Pereira (Portugal). À semelhança das anteriores edições, houve diferentes espaços contemplativos para deleitar os visitantes, como a Praceta das Velas (dedicada à cultura judaica), a Rua do Oriente e o Jardim Zen. Ao todo, foram sete zonas com mais de 40 símbolos desenhados com velas com o intuito de dar a conhecer as religiões, tradições, gastronomia e mitologia destas seis culturas, posicionados nas entradas e nos
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meandros do mercado, constituindo um espetáculo de enorme beleza visual. A gastronomia também continuou a ter um papel preponderante neste evento, com os claustros do Convento de São José a converterem-se numa Taberna Celta com cerveja artesanal e hidromel. Também a sala de exposições do Convento de São José recebeu a exposição de pintura e colagens «Culturas do Mundo», de Ana Paula Almeida .
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«CENAS NA RUA» CHEGARAM AO FIM, MAS O «VERÃO EM TAVIRA» CONTINUA BASTANTE QUENTE Texto: Daniel Pina | Fotografia: Município de Tavira
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epois de dois anos de interrupção devido à pandemia Covid-19, a Câmara Municipal de Tavira voltou a organizar, de 1 a 17 de julho, o Cenas na Rua – XVI Festival Internacional de Teatro e Artes na Rua de Tavira, dando o «pontapé-de-saída» da melhor forma para mais um programa cultural «Verão em Tavira», que tem como destinatários os tavirenses e todos aqueles que visitam o concelho. O «Cenas na Rua» pretende assegurar a fruição cultural, divulgar diferentes disciplinas e géneros artísticos, dança, música, poesia, teatro, humor, novo circo, cinema, marionetas, assim como dar a conhecer e permitir uma nova leitura sobre a cidade de Tavira. ALGARVE INFORMATIVO #348
No dia 16 de julho, a Praça da República acolheu «Os Poetas – Entre Nós e as Palavras», com Rodrigo Leão, Gabriel Gomes e Miguel Borges. Rodrigo Leão e Gabriel Gomes voltam a encontrar-se num palco cheio de poesia, num espetáculo onde estes dois veteranos músicos descobrem as melodias que carregam os poemas de algumas das mais importantes vozes da nossa paisagem poética, como Mário Cesarinny, Herberto Helder, Luísa Neto Jorge e Adília Lopes. Gabriel Gomes no acordeão e metalofone, Rodrigo Leão nas teclas e metalofone e o ator Miguel Borges nas declamações congregaram toda a sua experiência em composições originais que interpretaram com melodias, harmonias e ritmos todo um 126
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universo de palavras com que os nossos poetas foram tentando traduzir o mundo. A encerrar a edição deste ano do «Cenas da Rua», a Praça da República vibrou com o concerto «A Tempo D’Umore», da Orthemis – Nova Orquestra Cambra Empordà, de Espanha. E, de facto, não há outro espetáculo como este, em qualquer lugar do mundo. Possui 12 músicos de
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cordas e um maestro de orquestra que se expressam em linguagem cómica e musical, com uma trilha sonora composta por peças muito famosas de grandes compositores clássicos. É, por isso, um teatro gestual com bastante humor, onde lutas de poder, desentendimentos e indisciplina ocupam o centro do palco e combinamse em perfeita harmonia .
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FESTIVAL CHOQUE FRONTAL ANIMOU ALAMEDA DA PRAÇA DA REPÚBLICA DE PORTIMÃO Texto: Daniel Pina Fotografia: Ricardo Coelho e Vera Lisa
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Festival Choque Frontal voltou à Alameda da Praça da República de Portimão, no dia 15 de julho, com as atuações de Sara Espírito Santo, Neon Noir e The Knightriders Band. Depois do interregno de dois anos devido a pandemia, o festival que dá continuidade aos eventos realizados pelo programa Choque Frontal da rádio Alvor FM levou até ao público um espetáculo bastante animado, com o início da noite a estar a cargo da cantora Sara Espírito Santo, que, com o guitarrista Cammi, ofereceu um ALGARVE INFORMATIVO #348
groove e um balanço muito especial com alguns clássicos do Jazz e Soul Music. Os Neon Noir dizem ter nascido da necessidade da contínua expressividade criativa, do social real e não virtual, da mistura do clássico ao moderno com o propósito de criar uma identidade única inspirada principalmente no Neo Soul. A noite terminou em festa com Knightriders, com uma viagem aos grandes sucessos dos anos 80. O evento foi realizado pela Alvor FM em parceria com a Freguesia de Portimão e com o apoio do Município de Portimão . 138
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Pobreza de espírito Paulo Cunha (Professor) comum ouvirmos e até proferirmos frases em que lamentamos a convivência com certas pessoas a que apelidamos de «pobres de espírito». Ora, se Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos, e, abrindo a sua boca, ensinou-os, dizendo: “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus”. (Mateus 5:1-3), ficamos na dúvida se será ainda esse o atual significado que atribuímos à pobreza de espírito.
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Tentando contextualizar e confrontar a definição católica e a profana do termo, ao pesquisar o que torna, à luz do cristianismo, um pobre de espírito o eleito para integrar o reino dos céus, descobri num artigo publicado em dezembro de 1912, com o título «Não em palavra, mas em ação e em verdade», as seguintes condições: a humilhação tornar-se seu alimento, exaltando a sua recompensa (1 Pedro 5:5; 1 Pedro 4:13; 1 Pedro 5:6); gostar de fazer todo o seu trabalho no oculto e não receber a honra dos homens (Mateus 6:1-4); gostar de ocupar o lugar mais baixo, não porque deseja ser mais estimado, mas porque pensa que é precisamente este o lugar adequado para ele (Lucas 14:7-11; Filipenses 2:3); gostar de desistir das suas vantagens para o benefício dos outros (Filipenses 2:4); não procurar ganhar ALGARVE INFORMATIVO #348
influência com as pessoas, mas ansiar que as pessoas possam estar sob a influência de Deus (1 Coríntios 2:1-5; 1 Coríntios 9:19-23); ser calmo e nunca ser levado a fazer nada à pressa (Efésios 5:16-17); não discriminando, ser um servo de todos, indo prontamente para onde a tristeza prevalece (Marcos 9:35; 1 Coríntios 9:1923; Romanos 12:15-16); viver a vida com o propósito de se entregar como um sacrifício (Marcos 10:45; João 15:12-13). Tal como vem referido em qualquer dicionário português, a pobreza de espírito para a generalidade das pessoas é, atualmente, associada a alguém simplório, ingénuo, tolo, cruel, maldoso e que não tem respeito e empatia pelo próximo. Precisamente o contrário do que Jesus e os seus discípulos defendiam como sendo as características comportamentais necessárias para poder aspirar a entrar no reino dos céus. Por isso, tenho alguma dificuldade em entender qual é a verdadeira intencionalidade com que se adjetiva alguém com o epíteto «pobre de espírito». Até eu, não raras vezes, descarrego as minhas frustrações e desilusões face a determinadas pessoas que comigo se cruzam, apelidando-as, catalogando-as e inserindo-as num departamento comportamental a que chamo «gente pobre de espírito». É verdade, causa-me alguma «urticária mental» conviver com gente que apesar 144
da sua formação, cargo e/ou património pecuniário revela nas suas ações diárias uma confrangedora pobreza intelectual e emocional, expressa na forma como usa os outros para tirar proveio a seu favor. São aqueles que, achando-se «chicoespertos», demonstram nos atos a tal pobreza de espírito que comumente se cola à sua pele, transformando-os em reis que, nus, se passeiam entre nós, 145
enganado apenas quem se deixa enganar. Sim, duma forma pouco católica, fujam desses espécimes, sob pena de se deixarem contagiar por esta pobreza que assola o nosso século e tão nefasta é para quem deseja paz de espírito. Em nome da sanidade mental, já o fiz… e continuo! .
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Vida louca vida, vida breve Mirian Tavares (Professora Universitária) Vida louca vida, vida breve Já que eu não posso te levar Quero que você me leve Vida louca vida, vida imensa (…) Lobão, Bernardo Vilhena
erguntam-me, várias vezes, de forma ora admirada, ora estupefacta, por que o filho saiu de Portugal e foi viver no Brasil. Houve mesmo pessoas da família que ficaram escandalizadas com essa opção do filhote e, provavelmente, devem pensar que enlouqueci. Afinal, que mãe deixa um filho sair de um país europeu, teoricamente estável e seguro para ir morar naquele país insano, ainda mais numa fase tão dura quanto a que enfrentam agora. E eu, de forma tranquila, respondo – ele está feliz. Não se contraria, nem se deve fazê-lo, a felicidade genuína e consciente. Não foi um acto de desbunde ou deslumbramento juvenil – foi uma escolha, promovida por um encantamento inicial e depois por uma tomada de decisão que me parece bastante acertada. Como dizia o poeta: “Aqui eu não sou feliz. Vou-me embora para Pasárgada…”. Não sei se o Brasil é a Pasárgada dos sonhos do poeta, mas é a que, neste exato momento, preenche os anseios do filho e, sobretudo, o faz feliz. ALGARVE INFORMATIVO #348
E, se a felicidade é sobrevalorizada, a verdadeira felicidade é rara e deve ser agarrada, principalmente se temos 22 anos e a vida pela frente. Digo eu que, aos 54, tenho a sensação de ter encontrado algum equilíbrio e satisfação, mas que resisto, de forma acomodada, aos momentos de felicidade tonta, inútil e tola que nos pode acometer. Não me posso dar ao luxo de jogar tudo fora e recomeçar uma vez mais, já foram muitos recomeços em lugares distintos, mas apoio firmemente a escolha do filho. A vida é breve, e intensa, imensa e a maior parte das vezes, é ela que nos leva e temos de tentar não resistir tanto. Lembro-me de uma sessão de terapia, há alguns anos, em que falava da minha luta constante, e nalguns momentos diária, contra os monstros que me sugam a energia, que me povoam os pesadelos e o terapeuta, que era um homem sábio, disse-me: de vez em quando, tens de soltar a corda. Estás em constante tensão, num jogo de forças que te consome toda a energia para o resto. Às vezes temos de deixar os monstros a jogarem sozinhos, ou convidá-los para um chá. Li sobre a onda de calor que nos assola e que pode matar. Ou seja, 146
Foto: Vasco Célio
podemos, literalmente, morrer de calor. Estivemos dois anos confinados e ainda temos medo e não sabemos o que nos espera amanhã. Falava com uma amiga que dizia que há algo de feliz em nós que vai sendo esmagado, contido, extraído a ferro e a fogo. E que precisamos resistir. A alegria é a prova dos nove, e se ela está do outro lado da rua, ou do oceano, não a 147
devemos deixar passar. Não é uma reflexão de autoajuda ou um pensamento programático. É uma forma de resistência, pelos caminhos avessos, muitas vezes, podemos encontrar nossa Pasárgada e, com alguma sorte, sermos genuína e verdadeiramente felizes .
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Quinquagésima sexta tabuinha - Joelho (XIV) Ana Isabel Soares (Professora Universitária) oi com o Imperador Constantino de Roma, que viveu na dobra do século III para o século IV da era cristã, que o Império guinou do paganismo para o cristianismo. Contam as lendas, ou, mais rigorosamente, conta Eusébio Panfilo, ou Eusébio de Cesareia (bispo daquela cidade durante a vigência de Constantino, autor do louvor ao Imperador em De Vita Beatissimi Imperatoris Constantini) que, em 312, no dia anterior ao da batalha com um dos seus opositores pelo poder no Império (Magêncio), Constantino terá visto, ao atravessar a ponte Mílvia, em Roma, um sinal no céu, com uma sequência de palavras, em grego, que viria a entender significarem “Com este sinal vencerás”. (Descodificou as palavras, também segundo as ditas lendas, num sonho que teve nessa noite, durante o qual o próprio Cristo o visitou para o esclarecer). Constantino viria a ser dos mais polémicos, mas também mais amados dos imperadores e a sua vitória seria desde logo marcada pela construção de monumentais edifícios e estátuas. A Basílica Nova (ou «de Magêncio e Constantino»), a maior das construções do Fórum romano, tinha sido iniciado por Magêncio e veio a ser terminado sob o ALGARVE INFORMATIVO #348
comando de Constantino: uma das alas do templo terá albergado a colossal estátua do Imperador convertido, 12 metros de altura num misto de bronze, madeira e mármore que, entretanto, tempo e homens trataram de saquear e desmembrar. Hoje, os despojos repousam no Palácio dei Conservatori, para onde Michelangelo os levou no final do século XV: no pátio, sucedem-se o interior de um cotovelo, a cabeça elevada sobre um pedestal (os olhos vagos), um joelho – nada mais que a rótulo, de um puro redondo –, uma mão com o indicador a apontar o céu. No século V terá vivido um oficial militar que, tendo renegado a fé cristã e mais tarde regressado a ela, foi condenado à morte por Bahram V, rei dos reis do Império Sassânida da Antiga Pérsia: o seu nome persa terá sido Mor Yakob M’phaso Sahada, mas veio a ter fama entre os cristãos como Santiago Interciso. O epíteto latino que lhe dá a fama, inscrito na Lenda Áurea, aponta para o suplício da sua execução: antes de o decapitarem, os mandantes do Xá Bahram V ter-lhe-ão seccionado o corpo em 28 peças, nas zonas de articulação. Terá sido a execução deste oficial a dar início à guerra entre romanos e sassanidas, em 421 e 422. Um dos frescos do Orfanotrofio da cidade de Siena, em Itália, representa o mártir deitado de 148
Foto: Vasco Célio
costas sobre uma mesa, ainda vivo, sem os braços e com as pernas amputadas pelos joelhos. Em pé, um dos algozes empunha um cutelo de lâmina larga, prestes a continuar a chacina, mas olhando para o lado contrário de onde jaz o padecente. Em cima, um anjo segura a coroa que há de assinalar a entrada de Santiago no reino dos céus. Já sem dobradiças nenhumas – estas repousam, em forma de relíquias, na Sé de Braga, “dentro de um saco de tafetá muito bem 149
atado”, com os ditos “Integrum corpus Sancti Iacobi Intercisi”* – corpo inteiro, corpo entrecortado . * D. Rodrigo da Cunha, História Eclesiástica dos Arcebispos de Braga. Reprodução fac-similada com nota introdutória de José Marques. Tomo II. Braga, 1989, cap. LXXXXV, 6.
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Notas Contemporâneas [48] Adília César (Escritora) Aqui e além, repetidamente surge o lampejo fugidio de uma ironia. É o poeta que, no caminho por onde a Musa o leva, ao lado de uma coisa melancólica encontrou uma coisa risível. Nada, porém, sai de seus lábios que tenha aspereza ou amargura. Apenas uma ironia velada de doçura, que resvala, não apoia, lança, ao passar sobre uma fraqueza humana, o breve clarão de um riso amável: – e logo foge, se some, na corrente mais larga de simpatias poéticas… Eça de Queirós (1845-1900), in Notas Contemporâneas (1909, obra póstuma) VIDA: silêncios, pensamentos e actos. Aqui e além. Entre uns e outros, a comunicação apresenta-se através de ecos nos vales do tempo. O tempo de uma vida é uma sucessão de perguntas e respostas, ecos propagados nos espaços que ocupamos junto dos outros. Não há palavras inconsequentes. A coisa emitida já é a resposta que merecemos, porque aquilo que recebemos tem a ver com o que acabou de ser emitido. A simplicidade deste raciocínio invoca a premissa «dar para receber». Eu acrescentaria «receber para dar», porque ninguém dá o que não tem. O equilíbrio nos relacionamentos assume-se nessa sintonia desejada de uma troca em plenitude. Só acontece às vezes e chamase felicidade. * A LITERATURA traz-me momentos de felicidade. Não são assim tão raros como se poderia ALGARVE INFORMATIVO #348
pensar à primeira vista. Por vezes, até um bom título me faz feliz. Por exemplo: «E Todavia» (livro de poesia de Ana Luísa Amaral); ou «Um homem parado na esquina do mundo» (romance de Fernando Esteves Pinto). Depois, percorrer as páginas com o ritmo necessário. Não há propriamente uma meta, mas sim a vivência de um processo muito pessoal. E, todavia, todos nós somos homens (ou mulheres) parados(as) na esquina do mundo, mais ou menos melancólicos. Aqui estamos, à espera que nos amem, à espera que nos admirem, à espera de momentos de felicidade… À espera. * PARA MIM, escrever e publicar livros nunca foi um sonho. Escrevo porque é um imperativo. Sinto que tenho algo a dizer e pretendo deixá-lo registado na biblioteca do tempo. O tempo é um espaço composto por espelhos; vamos envelhecendo e percebendo que é necessário agarrar as horas. Provavelmente, os meus leitores são uma minoria neste universo já de si 150
austero, mas ainda assim, acredito que a minha missão é válida e persistirei nessa viagem que noutra época me pareceu impossível. Ao longo dos anos, vou reescrevendo um longo Poema dos Passos (a primeira versão deste poema consta do livro «O que se ergue do fogo», de 2016); nessa linha de escrita descubro veredas idílicas, mãos com muitos dedos, espelhos infinitos, paisagens invertidas. E sinto a doçura das camarinhas. Mulheres submersas com tanto para dizer. Para mim, tudo isso é poesia. * A PALAVRA tem o dom de obscurecer ou de iluminar o espírito. O chiaroscuro da linguagem pertence a todos os séculos e habita o grande corpo planetário e estelar, nos corpos das coisas vivas e inertes. Sendo o silêncio a maior descoberta poética de quem se recolhe ao mundo da escrita literária, é preciso não descurar a importância do grito criador. Saber o que significa cada ímpeto e decidir o seu destino: inscrevê-lo num livro ou silenciá-lo para sempre. Contudo, a escrita com significado também pode ser silenciadora, quando damos demasiada atenção aos espaços entre as palavras. Que dizem esses intervalos que parecem vazios? * A ESCRITA não é uma arma, é a própria luta, como uma batalha emocional e metafórica que se trava interiormente. Quem escreve está a lutar contra o mundo, não há outra forma de fazer com que o acto valha a pena, mesmo que a alma seja pequena. A alma pode ampliar-se com as experiências 151
e os pensamentos sobre o vivido e o pensado. Pode crescer com a ironia e a crítica, mas cuidado, nunca virá nada de bom da parte da amabilidade bajuladora: as falsas opiniões são o inferno dos escritores e as musas cobrem a sua nudez, com pudor, desaparecendo na escuridão da mente. Entretanto, as musas deram lugar aos tópicos, aos jogos de linguagem, à franqueza crua e descascada de qualquer estética. O que a literatura perdeu em floreados românticos ou barrocos ganhou em remates entediantes, e ler poesia ou prosa, contemporâneas, pode ser um autêntico martírio. Mas de vez em quando acontecem milagres, pois alguns autores improváveis (porque são fraquinhos) dão à estampa obras de uma tal qualidade que até parece mentira, dizem os especialistas. Eu acredito que este fenómeno de competência literária é obra das Musas, não achas ó Eça?... .
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Zoológico das start-ups Fábio Jesuíno (Empresário) mundo das startups está em constante transformação e o seu ecossistema está em pleno crescimento, gerando novos conceitos, que são cada vez mais populares. Start-up Unicórnio Começamos pelo conceito mais conhecido, a start-up Unicórnio, que foi usado pela primeira vez em 2013, por Aileen Lee, fundadora da Cowboy Ventures, quando escreveu, no jornal norte-americano New York Times, um artigo intitulado «Bem-vindos ao grupo dos Unicórnios: aprender com as startups de mil milhões de dólares». O artigo foi um sucesso e fez com que o termo se tornasse associado à meta mítica do empreendedorismo. O uso do animal mitológico está diretamente relacionado com o objetivo quase inatingível de uma start-up conseguir essa valorização. Start-up Camelo Outro conceito que ficou muito popular nos últimos anos, principalmente devido aos efeitos económicos da pandemia, lançado pelo professor e investidor Alex Lazarow em 2020, a start-up Camelo é baseada na resistência aos piores cenários e procura crescer de forma sustentável, aproveitando as oportunidades que vão surgindo. Este ALGARVE INFORMATIVO #348
tipo de start-up é focada no crescimento equilibrado e num modelo diversificado e a longo prazo. Start-up Zebra Criado através do movimento «Zebras United», o conceito «start-up Zebra» surgiu em 2017 pelas empreendedoras Mara Zepeda, Astrid Scholz, Aniyia Williams e Jennifer Brandel, está focado no crescimento sustentável, equilibrando sempre os resultados financeiros com o retorno positivo para a sociedade. Start-up Coelho Não podemos esquecer o conceito da «start-up Coelho», que tem a sua origem no inglês rabbit, o nome do animal passou a ser considerado como a sigla de Real Actual Business Building Interesting Tech («negócio real que cria tecnologia interessante»). Estas start-ups crescem lentamente, com grande controlo de custos e apresentam resultados constantes. Estes são alguns dos conceitos presentes no mundo das start-ups, que se destacam cada vez mais na sociedade .
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Que turismo para o Algarve Nuno Campos Inácio (Editor e Escritor) uem acompanha os meus artigos de opinião sabe que, desde que foi decretado o primeiro confinamento geral, alertei para as consequências que a falta de um apoio extraordinário e diferenciado para o Algarve poderia ter para o futuro turístico da região. Não por ter qualquer dom divinatório, ou por ser especialista em turismo, mas tão-somente porque o resultado estava à vista de todos os que conhecem a realidade algarvia. O Algarve impôs-se como destino turístico de referência por juntar às suas condições naturais um serviço de qualidade, fruto de uma formação profissional constante e consistente, que produziram trabalhadores capazes de exercerem a sua profissão em qualquer parte do mundo, com elevada distinção. Com o encerramento de unidades hoteleiras, estabelecimentos de restauração, bares e discotecas, sem previsões de reabertura e sem um apoio diferenciado que permitisse às famílias a manutenção dos seus empregos e o suportar das suas despesas familiares, levou a uma verdadeira debandada da mão-de-obra mais qualificada da região. Profissionais com décadas de formação e experiência, viram-se forçados a abandonar a região ou mesmo o país, a ALGARVE INFORMATIVO #348
entregarem as suas casas arrendadas, a fecharem os seus negócios e procurarem empregos noutras áreas. Seria de esperar que isto acontecesse e só o alheamento das realidades locais e regionais por parte do centralismo das decisões, que teimam em tratar de forma igual o que é manifestamente diferente, permitiu que se concretizasse. Agora, depois de desbaratar o que de melhor tinha, a sua mão-de-obra qualificada e experiente, o sector do turismo confronta-se com um grave problema, que tem impedido a reabertura de estabelecimentos ligados ao turismo: a falta de mão-de-obra. Não se pense, no entanto, que quando se refere a falta de mão-de-obra, tal signifique que não existam pessoas para trabalhar. Pessoas para trabalhar existem, jovens à procura de um primeiro emprego, imigrantes brasileiros, africanos, nepaleses, do Leste e até de Marrocos… Simplesmente esses, pela natural ausência de uma formação adequada, que demora anos a adquirir, não estão habilitados à prestação de um serviço com os níveis de qualidade que o Algarve detinha antes da pandemia e que atraía turismo ao nosso país. Muitos, acredito que de boa-fé, convenceram-se que, quando o Algarve retomasse a actividade turística habitual, regressariam à região. Talvez muitos dos 154
que saíram tivessem essa intenção… No entanto, o regresso também não se mostra uma opção fácil; o Algarve não consegue concorrer, em termos de pagamento de salários a mão-de-obra qualificada, com outros destinos turísticos de excelência, para onde muitos algarvios emigraram (Suíça, Reino Unido, Espanha, Bélgica, Holanda, Escandinávia, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Dubai…) e o preço das rendas de casa, onde muitos viviam e foram obrigados a entregar, quase duplicou, sem que, mais uma vez, haja uma diferenciação positiva no apoio ao arrendamento anual, numa região que vive essencialmente da sazonalidade. Este artigo, como outros do passado, pouco mais utilidade tem do que a do mero registo. Importante, no entanto, é que os registos se multipliquem e que os cidadãos, de uma vez por todas, percebam que a diferenciação regional só poderá ser obtida num quadro de regionalização. Adiar esse processo será 155
adiar por mais algumas décadas a autonomia, mas também o progresso económico e social de cada uma das regiões e, necessariamente, do país . ALGARVE INFORMATIVO #348
Da estação em que tudo arde Dora Nunes Gago (Professora Universitária) “Como podemos, então, descansar se este incêndio nos obriga a permanecer/ Acordados, desde que queiramos sobreviver a semelhantes factos? Se quem ainda possui um espaço para arder mais nada pode/ fazer do que vigiá-lo como um soldado?” Lídia Jorge, O Livro das Tréguas endo estado fora do país na última década, fui-me apercebendo, umas vezes presencialmente, durante as férias, outras à distância, através das notícias recebidas pela internet e outras vias, de que a instaurada «época de incêndios», esse tempo alimentado pelas altas temperaturas, se encontra, infelizmente, cada vez mais recheada. Claro que a responsabilidade desta situação não será apenas das altas temperaturas, visto que nada se incendeia por auto-combustão. Haverá sempre mão humana envolvida, quer seja intencionalmente, numa atitude criminosa, quer, por mero descuido, um certo desleixo tão tipicamente português do «deixar andar», porque depois a responsabilidade não é de ninguém, pois a culpa morre sempre solteira, sem deixar descendência. A verdade é que impressiona verdadeiramente, como ano após ano a situação se repete e até se intensifica (aliás, este ano, temos ainda a agravante de uma seca extrema), como se nunca tivesse acontecido, como se fosse a primeira vez que o fogo engole a ALGARVE INFORMATIVO #348
natureza, os recursos, as vidas. A perplexidade, o choque, as condições desumanas em que os bombeiros se sacrificam, renovam-se cada ano, como uma inevitabilidade, algo de surpreendentemente natural como a floração das árvores ou o amadurecimento dos frutos. Algo de inevitável, de surpreendente, impossível de prever, de acautelar de ano para ano. E pergunto-me: que alterações terá havido na legislação para o crime de fogo posto? E quanto à limpeza das matas ou a eventuais apoios e fiscalização para que ela aconteça verdadeiramente? E aos eucaliptais e afins s substituírem, em muitos casos, a flora autóctone? E quanto à investigação de interesses económicos obscuros eventualmente na origem das práticas incendiárias? Há certas «teorias da conspiração» a ecoarem todos os anos, alimentadas por algo sensacionalismo de meios de comunicação, mas o que há de verdade em tudo isso? Em que sombras se movem e agem? Que interesses alimentam? Que estratégias eficazes poderão ser encontradas e implementadas para que esta calamidade se atenue? Estas são apenas meras questões lançadas ao vento que não terão qualquer 156
eco, nem resposta. Mas a verdade é que são aos milhares as vidas destruídas todos os anos, pessoas, animais, árvores, casas, património. Acima de tudo, Verão após Verão, assiste-se com a surpresa e o choque inicial, embora convertido já em hábito (como se fosse a primeira vez, algo inédito), ao engolir do passado (árvores, longas vidas inteiras de trabalho, depositadas numa casa que era o abrigo, o centro, a razão de tudo), do presente (os recursos que asseguram a 157
subsistência de tantas famílias) e também do futuro. E neste contexto há algo que é inegável: se foram tomadas algumas medidas e a situação se repete, urge que as mesmas sejam analisadas, reformuladas, transformadas. Importa que algo seja feito para que o nosso passado, o presente e o futuro não se reduzam repetidamente a um aglomerado de escombros e a um punhado de cinzas . ALGARVE INFORMATIVO #348
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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #348
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