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ALGARVE INFORMATIVO 30 de julho, 2022
«ELEMENTA-RES» NO LETHES MARO ENCANTOU TAVIRA | LOTA COOL MARKET EM PORTIMÃO | PARES 3.0 NO ALGARVE ALBUFEIRA 1 SALIR REGRESSOU AO TEMPO DOS ROMANOS | ACADEMIA DE DANÇA DE ALGARVE INFORMATIVO #349 FESTIVAL F.O.I. EM LAGOS | ESCULTURAS ENRIQUECEM CALÇADÃO DE QUARTEIRA
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ÍNDICE PARES 3.0 chegou ao Algarve (pág. 22) Esculturas sobre a linha do horizonte enriquecem Calçadão de Quarteira (pág. 30) Projeto Incorpora apresentou «Elementa-res» no Teatro Lethes (pág. 36) Auditório Municipal de Albufeira vibrou com mais um espetáculo da FUETE (pág. 58) MARO encantou Tavira (pág. 78) «Salir do Tempo» dos Romanos (pág. 94) Lota Cool Market em Portimão (pág. 110) Festival F.O.I. em Lagos (pág. 122)
OPINIÃO Ana Isabel Soares (pág. 132) Adília César (pág. 134) João Ministro (pág. 136) Dora Nunes Gago (pág. 138) ALGARVE INFORMATIVO #349
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PARES 3.0 APROVOU INVESTIMENTO DE 1,5 MILHÕES DE EUROS EM 11 RESPOSTAS SOCIAIS NO ALGARVE Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina Secretária de Estado da Inclusão, Ana Sofia Antunes, esteve no Centro Distrital de Faro da Segurança Social, no dia 14 de julho, para proceder à assinatura e entrega de cinco contratos de comparticipação financeira no âmbito da terceira geração do PARES – Programa de Alargamento da Rede de Equipamentos Sociais, que ALGARVE INFORMATIVO #349
vão implicar um investimento global na ordem dos 1,5 milhões de euros e que resultaram das candidaturas apresentadas pelo Centro Popular de Lagoa (2), Centro Social Nossa Senhora das Dores, Fundação Irene Rolo e Santa Casa da Misericórdia de Faro. Um momento considerado “muito feliz e gratificante” por Margarida Flores, Diretora do Centro Distrital de Faro da Segurança Social, “por significar mais 22
um investimento no terceiro setor no Algarve”. “Começamos esta corrida de fundo de forma mais atrasada em relação ao resto do país, porque tivemos que fazer o «trabalho de casa» de raiz, não existiam projetos em bolsa. Por isso, a minha primeira palavra de agradecimento vai para os Municípios e para as Instituições Particulares de Solidariedade Social. Vivemos momentos em que foram lançados tantos desafios à sociedade civil, não só a luta contra o covid-19, mas o acolhimento aos refugiados ucranianos, mas estas entidades tiveram tempo, coragem e
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vontade para investir, pensar no futuro e fazer algo de novo”, salientou Margarida Flores. Depois de entregues os contratos aos representantes das entidades que viram as suas candidaturas ao PARES 3.0 aprovadas, a Secretária de Estado da Inclusão desejou que avançassem rapidamente estes investimentos na construção, reabilitação ou alargamento de equipamentos onde funcionam respostas sociais. “Foram firmados
recentemente, em Almada, os primeiros investimentos em equipamentos sociais no âmbito do PRR – Plano de Recuperação e Resiliência, estamos agora a formalizar os contratos do PARES 3.0, e só tenho pena que não
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possam ser mais, porque o Algarve é uma das regiões do país onde eles são mais necessários e onde fazem mais sentido”, reconheceu Ana Sofia Antunes. “Sabemos que não é possível atacar em todas as frentes ao mesmo tempo e que é preciso selecionar o que fazemos de forma prioritária, tendo sido valorizados, ALGARVE INFORMATIVO #349
na análise dos processos, o seu grau de maturidade. Também sabemos que não é fácil para instituições do setor social investir na elaboração de projetos de arquitetura ou de especialidades, quando não estão garantidos fundos para se avançar rapidamente com as obras”. 24
e, em termos do PRR, já foram aprovadas cerca de 100 candidaturas que mobilizaram 247 milhões de euros. Certamente que temos ainda muitas candidaturas para aprovar nas próximas semanas e vamos ter que abrir novos avisos, pois não existem candidaturas suficientes para esgotar verbas, nomeadamente nas Creches, nas Residências de Autonomização e Inclusão e, talvez, nos Centros de Atividades e Capacitação para a Inclusão”, revelou a Secretária de Estado, acrescentando que mais avisos serão lançados para Comunidades de Inserção, Alojamento para Pessoas em Situação de Sem-Abrigo e Respostas Inovadoras na Terceira Idade. “O que não nos falta,
Ana Sofia Antunes lembrou que a dotação inicial do PARES 3.0 foi de 110 milhões de euros, que depois foi sendo reforçada porque as necessidades eram enormes, como atestam as candidaturas recebidas no valor de cerca de 1.400 milhões de euros. “De alargamento
em alargamento, fechamos o programa com um investimento público de 234,5 milhões de euros 25
nos próximos tempos, é trabalho e gostaríamos de executar estas verbas onde elas são efetivamente mais necessárias. É com os erros que se aprende e vamos aprimorar o lançamento dos próximos avisos, não só para ganharmos tempo na análise das candidaturas, mas também para chegarmos onde ainda não conseguimos chegar”, justificou Ana Sofia Antunes. “Espero que os contratos que hoje formalizamos possam ser transformados rapidamente em obras em execução e ação e que se crie mais capacidade de resposta e com outra qualidade”, finalizou a Secretária de Estado da Inclusão . ALGARVE INFORMATIVO #349
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ESCULTURAS SOBRE A LINHA DO HORIZONTE ENRIQUECEM CALÇADÃO DE QUARTEIRA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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nauguraram, no dia 19 de julho, três novas esculturas no Calçadão de Quarteira, da autoria dos algarvios Gustavo de Jesus, Henrique Silva e Élsio Menau, como parte de um projeto da Câmara Municipal de Loulé de valorização de artistas visuais que teve início em 2021, com a curadoria de Miguel Cheta, e que tem agora continuidade com esta exposição a céu aberto com base no tema «Linha do Horizonte». Henrique Silva, nascido em Querença, em 1949, é o autor de «Horizonte Salgado». Como habitante do barrocal algarvio, a pedra sempre o fascinou e foi nela que se revelou. A sua obra não passa despercebida, principalmente pelo ALGARVE INFORMATIVO #349
mistério que nela há, participando em várias exposições coletivas e individuais em Portugal, Finlândia, Espanha e Inglaterra. “Horizontes há muitos,
cada um tem o seu. Esta peça é uma planta carcomida pelo bicho e cada pessoa tira as suas ilações, de acordo com a sua imaginação”, resumiu o artista. «Horizontes de Betão» tem a assinatura de Élsio Menau, nascido em 1984 e uma das figuras de proa da cultura quarteirense. Concluiu os seus estudos em Artes Visuais pela Universidade do Algarve, em 2012, no mesmo ano em que fundou a Policromia Associação Cultural. A sua identidade artística surge vinculada ao Graffiti e à Arte contemporânea e, 30
atualmente, o seu trabalho é delineado através das técnicas de pintura, pintura mural, escultura, ilustração e instalação. Mais recentemente tem-se aventurado pelo mundo das artes dos brinquedos de coleção. “Esta peça é uma crítica
Universidade do Algarve, o algarvio tem desenvolvido, nos últimos anos, um percurso como artista plástico, em áreas como fotografia, vídeo, escultura, instalação e performance, tanto em projetos coletivos como individuais.
social à construção desenfreada que aconteceu em Quarteira nos anos 60 e 70 do século passado, com vários prédios na primeira linha costeira. Na minha obra abrem-se as janelas e só vemos betão”, descreve Élsio Menau.
“Pretendi criar uma poética entre uma Quarteira completamente densa no Verão, com uma população anónima que se quer divertir e que não tem tempo para observar nada, e o horizonte, uma linha que não existe. Aqui, isolamo-nos de tudo o resto e conseguimos ver apenas o céu e o mar. É uma peça para se desfrutar, para se tocar, para se escutar o mar, para se falar para a praia”,
Finalmente, «Observatório de Horizontes e Lonjuras» é o nome da obra de Gustavo de Jesus, um tavirense nascido em 1958. Graduado em Artes Visuais, pós-graduado em Artes Visuais e Performativas e mestre em Comunicação Cultura e Artes (Estudos da Imagem) pela
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referiu o artista .
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Projeto Inco APRESENTOU E No Teatro Le Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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Teatro Lethes, em Faro, acolheu, nos dias 23 e 24 de julho, o espetáculo «Elementa-res», da responsabilidade do Projeto Incorpora, de Filipa Rodrigues. “Depois da
grande saturação materialista que ALGARVE INFORMATIVO #349
só trouxe guerra e ódio, percebemos o quanto é essencial chegar a uma compreensão cósmica. Este é um espetáculo multidisciplinar em que dez jovens se analisaram e foram analisados sob uma visão astrológica baseada nos quatro elementos – ar, terra, água e fogo –presentes neste espaço/tempo que não têm certo 38
nem errado, apenas são”, explica a coreógrafa. Com Ideia e Conceção de Filipa Rodrigues, «Elementa-res» foi interpretado por Ana Rybak, Ana Teresa, Beatriz Marques, Constança Vazquez, Constança Pinto, Inês Rodrigues, Maria Fernandes, Vallo del Vall, Rita Pereira e Sara Calaça, sendo que o espetáculo de domingo contou ainda com a 39
participação das mini bailarinas do Incorpora. O vídeo foi da responsabilidade de João Franck e a luz de Rui M. Simão e o espetáculo teve apoio de produção e acessórios da Mákina de Cena. Participaram ainda no projeto as formadoras de Técnica Dança Contemporânea Maria Miguel, de Teatro Físico Carolina Santos e de Teatro da Palavra Tixa Amaral . ALGARVE INFORMATIVO #349
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AUDITÓRIO MUNICIPAL DE ALBUFEIRA VIBROU COM MAIS UM ESPETÁCULO DA FUETE Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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FUETE – Associação de Dança de Albufeira organizou, de 4 a 17 de julho, o seu XV Workshop de Dança, com a Gala Final a acontecer, no dia 17 de julho, no Auditório Municipal de Albufeira. Pelo palco passaram dezenas de alunos da Academia de Dança de Albufeira que mostraram os seus dotes em dança ALGARVE INFORMATIVO #349
clássica, técnica de pontas, dança carácter, sapateado, dança contemporânea, dança acrobática, barra chão e hip-hop. Oito disciplinas de dança que tiveram como professores Konstantin Makarov, Angelika Makarova, Liliana Garcia, Elena Vorontsova, Olga Karasik, Sofia Rodrigues e Miguel Fonseca e que deixaram em êxtase os muitos familiares presentes na assistência . 60
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MARO ESGOTOU PARQUE DO PALÁCIO DA GALERIA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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ARO, cantora, multiinstrumentalis ta, compositora e produtora portuguesa que representou Portugal no Festival Eurovisão da Canção 2022 com a canção «Saudade, Saudade», continua a mover multidões e, como seria de esperar, esgotou por completo o primeiro concerto que teve lugar, no dia 20 de julho, no Parque do Palácio da Galeria, no âmbito do programa «Verão em Tavira. De sorriso nos lábios praticamente do princípio ao fim do espetáculo, e em constante interação com o público, a jovem deu a conhecer os temas dos vários discos que foi lançando ao longo dos últimos anos e abriu o apetite para o novo álbum a ser editado brevemente.
nomes como Quincy Jones, Justin Timberlake, Jessie J, Tracy Chapman, Lennon Stella, The Paper Kites e muitos outros em todo o mundo. A estreia deuse com um disco a solo em três volumes, a que se seguiram três projetos adicionais no mesmo ano, um a solo e dois com colaborações de artistas. «Mistake to Be Learned» foi o EP colaborativo de quatro músicas concretizado com o produtor americano Blanda e, ainda em 2018, deu vida ao projeto «Maro & Manuel». Recém-contratada para a lista de agenciamento do lendário Quincy Jones, MARO não esconde influências de Elis Regina a Esperanza Spalding e de Rajery a Justin Bieber, evidenciando uma enorme habilidade de cantar e escrever reggaeton, pop, RnB, EDM, folk e praticamente qualquer outro estilo de música, pelo que muito poderemos esperar, de facto, desta jovem artista no futuro .
Num trajeto meteórico iniciado em 2018, Maro já conquistou a atenção de ALGARVE INFORMATIVO #349
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«SALIR NO TEMPO» RECORDOU ÉPOCA DOS ROMANOS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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epois de vários anos a retratar o período medieval e a presença islâmica na vila, o «Salir no Tempo» voltou ao terreno, nos dias 22, 23 e 24 de julho, com um novo enquadramento histórico, desta feita dedicado à época romana. O evento contou com um programa diversificado de animação e recriação histórica, com espaços de uma villae romana, uma arena onde decorreram espetáculos de gladiadores, acampamentos das legiões, a «corte» do imperador e sua guarda de honra, o bailado das ninfas, um mercado romano, artífices a trabalhar ao vivo, animação de rua e artes performativas, cetraria/falcoaria, espetáculos de serpentes e, naturalmente, um espaço de «comes e bebes» com o melhor da gastronomia do período romano. ALGARVE INFORMATIVO #349
A gastronomia tradicional era vulgar, tendo na base da alimentação os vegetais e produtos da terra, complementadas com frutos como o figo, as romãs, as laranjas, as peras, as maçãs e uvas. Era também muito frequente o consumo de papas (puls) de cereais torrados ou em farinha, simplesmente cozidas ou misturadas com favas, lentilhas, hortaliças ou outros produtos. A carne, apenas consumida pelas pessoas mais ricas, era geralmente de carneiro, burro, porco, ganso, pato ou pombo. Também a decoração de Salir nos transportou para o período de ocupação romana, com as cores vermelha, branca, preta e dourada a destacarem-se, transmitindo o retrato de uma época e de uma civilização que marcou a nossa identidade, em termos da Língua, da 96
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Cultura, da Agricultura ou do Direito. A organização colocou também à disposição do visitante o aluguer de fatos e acessórios, por forma a que pudessem entrar no espírito e na pele das personagens de então. A presença romana no concelho de Loulé é mais marcante no litoral, nomeadamente na área das freguesias de Quarteira e Almancil, nas áreas estuarinas das principais ribeiras, com o importante vicus localizado na Estação Arqueológica do Cerro da Vila, em Vilamoura, e nas villae e indústrias dos sítios de Loulé Velho, Quinta do Lago ou Salgados. Mas a
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presença romana vai mais além do litoral, penetrando e enraizando-se no território interior. Bom exemplo da exploração dos recursos naturais e agrícolas do barrocal e da serra do concelho são os sítios da villa do Espargal com o seu lagar, ou a importante villa da Torrinha com a sua área habitacional e cemitério. Contamse ainda outros achados como uma inscrição votiva de Salir ou o «pequeno galo de bronze» do Serro dos Negros. Desconhece-se se serão realmente romanos o povoado ou necrópole de Palmeiros ou a mina de Ferro de Fonte Morena .
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LOTA COOL MARKET REGRESSOU À ZONA RIBEIRINHA DE PORTIMÃO SOB O MOTE DA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL Texto: Daniel Pina | Fotografia: Ricardo Coelho e Teresa Coelho
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ntre 21 e 24 de julho, a antiga Lota de Portimão e zona envolvente recebeu a sétima edição do Lota Cool Market, marcada por uma eCOOLogical vibe muito própria, em prol da consciencialização ambiental dos visitantes, e mantendo os ingredientes que caracterizam o evento e que passam pelo cultivo do bem-estar e pela criatividade, sustentabilidade e descontração. O «mercado mais cool do sul» contou com um cartaz musical e outros momentos de animação, promovendo o conceito de mercado pop-up ao ar livre, ao reunir propostas únicas e originais de artesãos urbanos, novos designers e artistas das mais diversas áreas.
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Com marcas de artesanato que usam materiais reciclados, além de food trucks e produtores empenhados na sustentabilidade, estiveram presentes marcas eco-friendly como Atelier Balancê, Aconchego, Wavi Art, Jewel Kat, Atelier das Jóias, Ponto Nato, Florista Suzel, Be Nature, Aummade, Ondas e Segmentos, Sun Bikinis, Cabaças do Amor, Pezinhos d’Algodão, Shyrénia’s Creations, Ildarte e Gagu Artesanato. Na vertente das comidas e bebidas, realce para as empresas Caipijoca’s, Rejoice, Rock n’ Doll, Le French Cookie, Polaroskas Street Food, Mosteiro das Hóstias, Aphrodite, A Escola do Gelado, Mini Donuts, Ginjola Alentejana e Kurtospt, além dos
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produtores Lagar dos Pardieiros, Queijos Bilores e As Passinhas do Algarve. Na animação, deu-se primazia às bandas e músicas da região algarvia, cujos méritos e talentos foram revelados no Palco Choque Frontal ao Vivo, casos de South Kick Band, com o convidado especial João Vila Nova, Gabriel de Rose, finalista do The
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Voice Portugal, The Mirandas e Black Puzzle. O Lota Cool Market teve também um programa de animação apelativo e dirigido a miúdos com a participação do TIPO – Teatro Infantil de Portimão. O evento foi organizado pela Associação Teia D’Impulsos, em parceria com o Município de Portimão.
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F.O.I. LEVOU ARTE, ASTRONOMIA E PATRIMÓNIO ÀS RUAS DO CONCELHO DE LAGOS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Questão Repetida
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quinta edição do Festival F.O.I., iniciativa itinerante promovida pela associação Questão Repetida, realizouse nos dias 15, 16 e 17 de julho, na Praia da Luz, Bensafrim e Barão de São João, e encerrou com a melhor adesão de sempre, em número e diversidade de pessoas, entre residentes no concelho de Lagos e visitantes. O programa itinerante de atividades assentou na trilogia Artes/Astronomia/Património e na dicotomia de Lagos, o Mar e a Terra, o Interior e Costa.
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O Festival que levou animação ao concelho de Lagos incluiu música, oficinas artísticas, performances de rua, teatro, circo, um baile de danças tradicionais e observação astronómica, com diferentes gerações e públicos a encherem as atividades deste ano e os desafios de mediação de públicos. A visita ao lar da NECI foi a novidade desta edição. Com Direção Artística a cargo de Ana Falé e Elsa Mathei, o F.O.I. visa a descentralização cultural no concelho de Lagos e do Algarve e foi promovido pela Questão Repetida, associação cultural sediada em Lagos . 124
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Quinquagésima sétima tabuinha - Joelho (XV) Ana Isabel Soares (Professora Universitária) ndava eu pelo final da adolescência, amodorrada entre o fim da escola e um começo ainda incerto dos estudos universitários, passei grande parte do Verão num escritório de advocacia, fazendo as vezes da secretária em férias. (O que se aprende no labor de secretariado fica para uma vida). Era numa terra pequena – com parcas, alentadas e entediantes tramitações jurídicas; o próprio advogado aproveitava e fazia folga do escritório, numa espécie de teletrabalho avant la lettre, pelo que me sobrava tempo para leituras. Lia de tudo, num exercício semelhante ao que me vinha de casa, quando, para acrescentar aos romances, livros de quadradinhos e um ou outro verso, socorria-me dos compêndios de saúde, educação infantil (para confrontar os meus pais, sem tempo livre que os permitisse afundarem-se em tais teorias, com as ideias que, no fundo, na azáfama dos dias, pareciam tentar praticar) – e das inevitáveis e cada vez mais profusas embalagens de produtos (as listas de ingredientes davamme matéria especial, em vocábulos desconhecidos, ou sequências de súbito brilhantes ao meu cérebro em predisposição de esponja). Às histórias dos livros que carregava para o escritório (ou que lá havia, estava a esquecer-me dos dicionários de termos ALGARVE INFORMATIVO #349
jurídicos, ou mesmo dos vários códigos – civis, penais, de Direito Fiscal –, perfeitos para me fazer adormecer no cadeirão dos fregueses que quase não havia naqueles meses de pausa dos tribunais) somou-se, a determinada altura, um manancial tão magnífico quanto inesperado: a visita semanal de um antigo homem de leis, um mentor do meu temporário patrão, muito mais andado em idade do que ele, já aposentado, que vivia perto e começou por ir ao escritório à procura de continuar conversas com o seu anterior pupilo. Acontece que, não estando este quase nunca disponível, e sendo sempre o propósito das visitas a pura conversação, o velho Doutor João fazia-a funcionar com quem estivesse mais à mão de semear – calhou ser eu. Chegava arrastando os pés já velhos em sapatos que teriam sido de bom couro e ali seriam pouco menos do que o suficiente para não se desfazerem, pedaços de pele que os cordões mantinham numa união frágil; as pernas metidas em calças excessivamente largas para o homem que agora era (e de que se percebia ter sido vulto maior), presas por um cinto irmão dos sapatos em idade e estado de conservação, uma camisa de mangas compridas e casaco do mesmo tecido das calças – fosse aquele corpo mais do que o antecessor imediato de um esqueleto e daria calor só de olhar para ele, que os dias eram de canícula; mas a largueza das roupas no homem 132
Foto: Vasco Célio
ressequido só lhe dava um aspecto cómico, a puxar o sorriso e a alegria de o ver entrar no vestíbulo do escritório, onde o ar condicionado raramente trabalhava, mas sempre estaria uma temperatura mais amena em dois grauzinhos centígrados do que na rua. Trazia consigo uma pasta de couro, tal como o cinto e os sapatos, que se via ter sido amplamente usada durante os tempos em que era causídico ativo. A figura completava-se com o rosto gasto, mas muito alegre, de expectativa e abertura, e uns olhos viajantes. A escassez dos dentes não lhe impedia a ele a fala nem aos interlocutores o entendimento, mesmo se uma ou outra palavra lhe saía entaramelada. Fazia às vezes uma pausa, mais longa do que a clareza do raciocínio comandava, entre palavras, ou entre frases – então, pendia-lhe o queixo, ficava a boca uma escâncara de sumiço, um portal para o desaparecimento de si; uns segundos a mais e eu levantava-me da cadeira de onde o ouvia, aproximava-me dele e tocava-lhe no ombro. Sem me olhar, nem se aperceber sequer de que tinha interrompido o que me estava a contar, prosseguia, surpreendido com a minha presença tão próxima, sorrindo-me. O que contava era um mundo largo, fora daquela figura andrajosa e amarrada ao chão; mais amplo do que qualquer vestíbulo, escritório, edifício no centro de 133
qualquer cidade pequena. Eram salas de ópera em Lisboa ou em Madrid, arenas onde assistia às touradas (percebeu rapidamente que eu não tinha grande interesse nos relatos dessas ocasiões, não insistia), palcos onde, nos idos anos 30 e 40 daquele século que se ia, como ele, sumindo, assistira às atuações de grandes companhias europeias – de teatro, de ballet, de ópera. Jamais lhe perguntei por datas, correção de nomes, títulos de coreografias, de peças musicais ou teatrais que contava, com um entusiasmo inigualável, ter testemunhado em jovem. Ouvia-o com alegria que procurava que fosse idêntica à sua. Conversas destas, em que alguém fala, maravilhado, de momentos do seu passado com outro alguém que por completo o desconheceu podem facilmente perder-se para lá do momento em que acontecem. Existem sem ambição de mais nada e a sua grandeza, o seu fulgor, deve muito à ancoragem num momento preciso e sem sequência. Mas houve um caminho em mim que prosseguiu – iniciado depois de uma das tardes em que o Doutor João passou a falar-me (seria às quintasfeiras?...) e, mesmo antes de sair, me entregou um livro: “A menina é capaz de gostar de ler isto”. Pouco importa que lhe tenha devolvido o livro depois de o ler; que não tenha registado a data da edição (no final dos anos 80 já era um livro velho, como o homem, talvez até mais): eram os diários de Vaslav Nijinsky, de que eu ouvia, então, falar pela primeira vez e por quem me apaixonaria para o resto da vida. (Lembro-me, sequer, se seria uma edição portuguesa...? Teria uma capa azul...?) – Nijinsky, o bailarino mágico que dançou, como um fauno, marcando no palco os joelhos dobrados . ALGARVE INFORMATIVO #349
Notas Contemporâneas [49] Adília César (Escritora) “Vozes sombrias afirmarão de novo, em línguas ainda não faladas, que tudo se desconjunta, que a situação é medonha! Mas quando (…) se vir mais claro num céu mais limpo, reconhecer-se- á que, em suma, a humanidade deu outro passo decidido para a frente, no caminho da justiça e no caminho do saber. E assim, aos tombos e aos socos, ora destroçado, ora reflorido, o mundo avança irresistivelmente! Onde nos leva esta marcha dolorosa? Não sei – e, se conhecesse o augusto segredo, não o divulgaria na «Gazeta de Notícias». Leva-nos talvez a essas cousas sublimes e vagas anunciadas”. Eça de Queirós (1845-1900), in Notas Contemporâneas (1909, obra póstuma) ANTO que ainda não sei. A cidade absorve a minha energia, fecunda o meu pensamento. Mas o que nasce é uma miscelânea insana, despojada de beleza. A cidade e os seus vícios. Percorro a calçada como se de um círculo vicioso se tratasse, a morder as acrobacias do tempo, revelando mundos irreais guardados em cada garganta. O banco de jardim é o aposento do pobre, um ninho de vida despojado. Assim se vão ouvindo os clamores do dia, no anverso e no reverso da linguagem. * A LINGUAGEM pode ser uma fraqueza humana. A mulher submersa nos nomes das coisas prefere ficar em silêncio. Ela é a silenciadora dos pecados. A coisa e o nome da coisa em círculos de nada, por entre espaços vazios de comunicação. A palavra, o nome, o arquétipo da coisa. A casa na palavra casamuda. O corpo na palavra corposentado. A ALGARVE INFORMATIVO #349
casa sem a palavra sua e o corpo sem o nome seu. Resta a gigantesca e ofuscante palavra cidade que, não sendo um acaso linguístico, é, no entanto, acontecimento semântico. Por exemplo, cidadetransgressora. O cão rosna a toda a incompreensão sonora dos símbolos, enquanto o crepúsculo não chega.
* O AMOLADOR DE FACAS percorre a imensa rua. Som soprado, vibração. No virar daquela esquina da memória, talvez seja o refrão da cantiga da minha infância, tão familiar, tão próxima. A subtileza ainda não inscrita no ouvido que desconhecia a catástrofe. Hoje, o drama citadino é pedra solta no chão, racha na parede, buraco no telhado, bebé recém-nascido jogado no lixo. Teatro do quotidiano. Pequeno horror que dura apenas alguns instantes. Um bebé recém-nascido jogado no lixo. Já está. E pessoas de todas as idades, predispostas ao erro, de facas em punho, por julgarem possuir essa necessidade bélica e intrusiva, esse dom trágico e miserável de difundir o mal. 134
* JÁ O AMOLADOR de facas regressa. Morosamente regressa, para deter aquela hora entrelaçada entre nós e o crepúsculo, segurando a faca que não fere. Regressa para esculpir o meu assombro perante a indiferença do céu aberto ao calor e ao tédio. Fecho os olhos e vejo o sol que se deita em câmara lenta, recolhendo na sua garganta o ar alienado que respiro. O subtil veneno. Ainda mais lentamente, a guilhotina desce sobre a minha cabeça, dando-me o tempo necessário para a escolha, antes do fim do dia: sim ou não. * DE NADA ADIANTA a delicadeza do gesto. A lâmina tomba sobre o acaso deste episódio anónimo e abstracto. Resta um ser ainda vivo (ainda?), de quatro patas ao longo do discurso por decifrar: por exemplo, um cão, uma mulher submersa em culpa, um bebé recém-nascido abandonado no lixo. Já o amolador de facas descansa sentado no sofá, em frente da televisão. Chega por fim a noite. Afinal, o crepúsculo já não é o crepúsculo, é apenas uma palavra. Agora, o nome dela é noitedofim. * A VIDA deambula em vagas de bem e mal, numa (des)ordem convocada pela 135
evolução humana. A finalidade das nossas acções incorpora os vazios profundos das escolhas. Estamos atulhados em escolhas impossíveis de resolver a entropia da matéria espiritual. As desordens ética e social proliferam como erva daninha, num combate corpo a corpo. A busca de uma ordem qualquer que nos apazigue, uma medida que substancie a quimera do tempo. Perdemos de vista a neguentropia das nossas vidas, a previsibilidade das nossas acções e, apesar das seculares cicatrizes, ainda não decifrámos os mapas que nos levarão até à alma do mundo. Sim ou não? .
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Compensação territorial João Ministro (Engenheiro do Ambiente e Empresário) ntre as muitas ideias que guardo no meu baú das utopias para um interior Algarvio vivo e sustentável, há uma que recorrentemente me vem ao pensamento: um mecanismo regional de compensação territorial. O que vem a ser isto? É basicamente um instrumento financeiro, totalmente transparente, autonomamente gerido, monitorizado e comunicado, destinado a apoiar iniciativas no interior da região de reconhecido interesse público, capazes de fixar jovens, alavancar projectos empresariais sustentáveis, iniciativas de restauro e regeneração da paisagem, de fomento do turismo responsável, de valorização do património cultural, material e imaterial, de recuperação de solos, de promoção e educação, de revitalização das aldeias, para fomento de riqueza justa, honesta e transversal, de apoio social activo e de inserção, de atracção de novos habitantes, entre muitos outras. E quem o «alimentaria»? O turismo, naturalmente, através de uma taxa inscrita numa abordagem de responsabilidade social e ambiental das empresas. E porquê? Por uma simples razão: ou encontramos uma receita colectiva, unanimemente aceite e transversal, independente das amarras e das condicionantes dos fundos comunitários (que irão no futuro muito próximo reduzir-se drasticamente), capaz de devolver ao interior meios destinados à ALGARVE INFORMATIVO #349
sua regeneração e revitalização e ao seu desenvolvimento ou, caso contrário, esqueçamos esse território e tudo aquilo que se apregoa há anos, a nível nacional, ao nível da «coesão territorial», do combate à desertificação, etc. É hoje conhecido – estando inclusivamente estudado – os efeitos induzidos pelo turismo no interior algarvio ao nível do seu despovoamento e lento abandono. Não é nada de novo ou surpreendente. Vários investigadores e pensadores assim o mencionam em seus trabalhos e opiniões. Quando a indústria turística se instalou na região e ganhou ímpeto, gerou-se uma massiva deslocação de pessoas do interior para o litoral em busca de melhores condições de vida. Algo perfeitamente natural. Porém, isso teve consequências que ainda hoje estamos a colher e a tentar contrariar. Ao abandono do mundo rural, juntou-se o despovoamento de numerosas aldeias e vilas, a perda de valores culturais e ambientais, a propagação descontrolada de incêndios florestais, o crescimento da insegurança, o isolamento, entre outros aspectos. Este fenómeno é de tal ordem antigo e intenso que pouco mais há a dizer, tantas foram as conferências, os seminários, grupos de trabalho, jornadas técnicas ou programas de apoio realizados para, no essencial, continuarmos iguais ou mesmo pior. Eu diria mesmo, muito pior.
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Sendo incontestável que o Turismo é a principal actividade económica da região, ao ponto de a manter refém de si própria, e em grande medida a responsável pela enorme discrepância de riqueza e desenvolvimento entre o litoral e o interior do Algarve, é da mais pura e basilar lógica que a mesma contribua para o atenuar esses desequilíbrios, bem como pelos serviços que este vasto território presta à restante região: os tão falados serviços ecossistémicos. Retenção de carbono, produção de oxigénio, retenção de águas nos solos e aquíferos, preservação de valores de biodiversidade e culturais, espaços de lazer e desporto, entre muitos outros aspectos. Claro que tudo isto é utópico e nunca irá acontecer. A ganância, o egocentrismo e a irresponsabilidade de grande parte da actividade turística pouco ou nada se revê 137
nisto. Aliás, aquando da discussão da taxa turística no Algarve, há uns anos atrás, foi o que se viu: uma contestação generalizada, com laivos de raiva por parte de alguns atores regionais, que tudo fizeram contra a mesma, conseguindo mesmo destruir qualquer discussão construtiva em torno desse assunto. O interior entra-nos em casa normalmente pelas piores razões. Bom seria que outro tipo de notícias surgisse, à parte daquelas que estamos habituados a rever todos os anos, por esta altura, como são as dos massivos e destrutivos fogos florestais. Mas para isso é preciso vontade política, união e cooperação regional e sobretudo estratégia de médio e longo prazo. E isto, sejamos claros, não é uma ideia utópica! Mas assim começo a acreditar! É mais uma ideia a colocar no meu baú! . ALGARVE INFORMATIVO #349
Da importância do órgão e dos organistas Dora Nunes Gago (Professora Universitária) “E o órgão veio, com os seus quatro mil tubos de metal e suas quatro fileiras de teclas, a e ficou a dançar no vazio, oscilando de um lado para o outro. Só que o órgão e o vazio eram duas coisas distintas, uma dentro da outra, e as duas não produziam nada. Então o órgão e o vazio juntaram-se e chamaram o homem”. Lídia Jorge, O organista o belíssimo conto de Lídia Jorge intitulado O organista deparamo-nos com uma fábula sobre a criação do universo e a relação do homem com Deus, O Criador convertido em organista, relegado ao papel de criatura apenas para tocar aquele instrumento e produzir a partir dele um novo universo. E, ao ler esta história, a minha mente viajou inadvertidamente para os anos 90 e dei por mim na Sé de Évora, no primeiro concerto do raríssimo órgão de tubos do século XVI a que assisti. Desse concerto, desses momentos esculpidos em sonoridades novas, emerge a ideia do preenchimento de um vazio feito de música e de harmonia, de uma poderosa fusão entre o humano e o divino, ligada por um eterno fio de música, ao qual se juntaram depois as palavras de Lídia Jorge. Nesta esteira, nesta fusão entre a leitura e a memória, despertou-me particular interesse o anúncio da Conferência de Marco Sousa Santos, intitulada «órgãos e organistas do concelho de Loulé», ALGARVE INFORMATIVO #349
organizada pela Associação Musical de Loulé «Clave de Sul», que decorreu na Casa do Meio-Dia no passado dia 23 de julho. Como sabia não poder estar presente, foi com grata alegria que assisti à sessão pela internet. Sem dúvida, esta expansão do trabalho online (que me tem possibilitado, por exemplo, continuar a trabalhar em Macau, estando em Portugal) terá sido um ponto positivo legado pela pandemia em que vivemos mergulhados nestes últimos anos. E, se as sessões online não substituem de modo nenhum as presenciais, faltandolhes aquele indispensável toque humano a conferir um sabor especial a todas as dimensões da nossa vida, elas permitem que se quebrem muitas fronteiras do tempo e do espaço, possibilitando chegar muito mais além. Só assim é possível que, a partir de um canto remoto da Ásia, se possa participar e assistir a eventos na América ou na Europa, ou que em Vila Nova da Baronia se possa visualizar uma palestra realizada em Loulé. Por isso, a gravação de sessões presenciais, seguida da sua divulgação online será uma forma de reunir o melhor dos dois mundos. E foi essa união que me 138
permitiu ouvir as palavras de Carlos Albino, um dos mentores da Clave de Sul (cujos objectivos foram apresentados), assim como da organização desta palestra, embarcando numa viagem, proporcionada pelo historiador de Arte Marco de Sousa Santos, através do percurso dos organistas pelo concelho de Loulé (séculos XVI a XVIII), assim como do seu impacto no meio cultural e social. Neste contexto, salienta-se que terá sido o padre Mateus Cabrita, o primeiro organista de Loulé, em 1606. A seguir, foi longa e intensa a caminhada até ao século XVIII, quando essas funções são assumidas pelo Padre Hilário José de Aragão (1747-1761). No fundo, toda esta trajectória histórica desvenda o facto de, como referiu Carlos Albino, os louletanos «terem a música no coração». Muito mais poderia ser dito sobre esta enriquecedora conferência, mas quem quiser pode sempre visualizá-la no site da «Sul, Sol e Sal» do Facebook, tendo a oportunidade de descobrir muito mais do que poderia ser contemplado neste reduzido espaço. Assim, no final desta travessia musicalliterária-cultural operada em três 139
momentos distintos, partindo da experiência inesquecível de um concerto ocorrido há décadas, sedimentada pela leitura de um conto e depois alargada, enriquecida pela assistência à palestra de Marco de Sousa Santos, fica a certeza do incontestável valor deste «instrumento dos instrumentos», de todo o seu potencial cultural e educativo (historicamente enraizado), o que justifica largamente a aquisição de um órgão com a eventual participação do Município de Loulé, de notória importância, aliás, para todo o Algarve . ALGARVE INFORMATIVO #349
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