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ALGARVE INFORMATIVO 6 de agosto, 2022
33.ª FEIRA CONCURSO ARTE DOCE DE LAGOS | 36.º FESTIVAL DA CANÇÃO CHAMINÉ D’OURO 30.ª FEIRA DA SERRA DE SÃO BRÁS DE ALPORTEL | DESCARGA DA SARDINHA EM PORTIMÃO 1 ALGARVE INFORMATIVO #350 PRESIDENTE DA REPÚBLICA DE CABO VERDE EM LOULÉ | ARTE DIGITAL MOSTRA-SE NO ALGARVE
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ÍNDICE Tavira volta a acolher Feira da Dieta Mediterrânica (pág. 28) Presidente de Cabo Verde recebido em festa em Loulé (pág. 34) Feira da Serra de São Brás de Alportel (pág. 44) Feira Concurso Arte Doce em Lagos (pág. 64) Tradicional descarga da sardinha à canastra em Portimão (pág. 76) Rui Veloso em Lagos (pág. 88) Festival da Canção Infantil e Juvenil Chaminé D’Ouro em Portimão (pág. 102) Arte Digital mostra-se no Algarve (pág. 118)
OPINIÃO Mirian Tavares (pág. 132) Ana Isabel Soares (pág. 136) Adília César (pág. 138) Fábio Jesuíno (pág. 140) Alexandra Rodrigues Gonçalves (pág. 142) Júlio Ferreira (pág. 144) Carlos Manso (pág. 148) ALGARVE INFORMATIVO #350
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TAVIRA VOLTA A ACOLHER FEIRA DA DIETA MEDITERRÂNICA DE 8 A 11 DE SETEMBRO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina Feira da Dieta Mediterrânica volta a animar o centro histórico de Tavira, de 8 a 11 de setembro, depois de dois anos de interrupção devido à pandemia. Um regresso marcado por muitas novidades, logo a começar pelo apoio institucional da Comissão Nacional da UNESCO, com a iniciativa a estar inserida no Plano de ALGARVE INFORMATIVO #350
Salvaguarda aprovado pela UNESCO, o qual resulta da inscrição da Dieta Mediterrânica na Lista do Património Cultural Imaterial da Humanidade.
“Obviamente que não ficamos parados ao longo destes dois anos, fomentámos receitas alimentares saudáveis, divulgámos a paremiologia com os provérbios adequados às estações, fizemos vídeos e registos documentais do 28
diversas ciências, sendo um legado das civilizações que originaram a nossa identidade cultural, língua e formas de viver, produzir e alimentar, essenciais à valorização e ao fortalecimento das economias regionais. A Dieta Mediterrânica é, na atualidade, um dos mais relevantes contributos para a preservação ambiental e prevenção das alterações climáticas, modelo de agricultura sustentável e de alimentação saudável”, referiu a edil tavirense.
património, de doces, de artes e ofícios, sempre em conjunto com os nossos parceiros. Trabalhamos igualmente para a criação de um Polo de Inovação da Dieta Mediterrânica em Tavira”, indicou Ana Paula Martins, presidente da Câmara Municipal de Tavira, durante a apresentação oficial do evento. Dieta Mediterrânica que é, como se sabe, património vivo de todo o país em sintonia com as Convenções da UNESCO e com crescente relevância a nível nacional e internacional. “É
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O programa da VIII Feira da Dieta Mediterrânica reflete o trabalho de parceria alargada que tem vindo a ser desenvolvido, ao longo de oito edições, incluindo a feira institucional com a presença de outros países, instituições regionais e nacionais; patrimónios imateriais classificados pela UNESCO; expositores de artesanato e produtos tradicionais; mostras botânicas e de sementes; restauração; provas e petiscos; e música da geografia do Mediterrâneo. Assim sendo, existirão sete espaços/palcos com concertos ao vivo da Croácia com os «Veja», de Israel com Neta Elkayam, de Espanha com Tomatito, Capella de Ministrers e Diajonizz, de Marrocos com Mehdi Nassouli, de Itália com Bifolc Trio, de França com Ciac Boum, da Grécia com os Rodopi e de Portugal com Mariza, Jorge Palma & Marisa Liz, Bárbara Tinoco, Moçoilas, Seiva, Retimbrar e Sopa de Pedro, entre muitos outros projetos locais. ALGARVE INFORMATIVO #350
A par da música portuguesa, o programa da Feira conta com danças tradicionais e outras artes performativas, exposições, arte digital, cinema, visitas ao património natural e cultural, seminários e muitas outras atividades. Viajar pelos sabores mediterrânicos será possível através do novo conceito da Praça da Convivialidade, um marco inovador, nesta edição, com a presença de quatro restaurantes, cada um deles com gastronomias mediterrânicas distintas, sabores marroquinos, italianos, portugueses e espanhóis que poderão ser degustados num único espaço geográfico. O programa dedicado ao público infantojuvenil integra espetáculos educativos, jogos tradicionais, oficinas de construção de brinquedos e de artes populares. Tal como noutras edições, a prevenção do acidente cardiovascular e o aconselhamento saúde nutricional, as atividades físicas e muitas ofertas ALGARVE INFORMATIVO #350
culturais de matriz mediterrânica vão estar igualmente à espera dos visitantes.
“De 8 a 11 de setembro há variadíssimos motivos para visitar a cidade de Tavira, mas este não é um evento apenas de Tavira, mas sim de todos os parceiros envolvidos, da CCDR Algarve, da Universidade do Algarve, do Turismo do Algarve, das Escolas de Hotelaria e Turismo do Algarve e de Vila Real de Santo António, da Direção Regional de Agricultura e Pesca do Algarve, da Direção Regional de Cultura do Algarve e da Associação In Loco. Sozinhos vamos mais rápidos, mas juntos mais longe. Já todos percebemos que em parceria conseguimos fazer mais e acho que este ano nos superamos na construção de um programa riquíssimo”, concluiu Ana Paula Martins . 30
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PRESIDENTE DA REPÚBLICA DE CABO VERDE RECEBIDO EM FESTA EM LOULÉ Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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enhor Presidente, Loulé é «terra sabi» (terra boa em crioulo)”, disse Lídia
Silva, um dos principais rostos da comunidade cabo-verdiana de Loulé, palavras que simbolizam bem o sentimento vivido, no dia 30 de julho, por homens, mulheres e crianças por ocasião da visita de José Maria Neves, Presidente da República de Cabo Verde, a Loulé. ALGARVE INFORMATIVO #350
Foi ao som do «Cântico da Liberdade», hino nacional cabo-verdiano, entoado pelas vozes dos jovens da Associação Esperança e Paz, que o Chefe de Estado foi recebido no Salão do Centro Paroquial de Loulé, depois de, antes, ter participado numa sessão protocolar nos Paços do Concelho e de ter visitado os Banhos Islâmicos e a Casa Senhorial dos Barreto. Mas foi no Centro Paroquial de Loulé que a comunidade deu as boasvindas ao seu governante, de forma 34
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entusiástica e emocionada, tendo sido representada no púlpito por Filomena Varela, que expressou essa ligação que todos continuam a ter ao seu país. “A
diáspora cabo-verdiana continua a ser Cabo Verde em qualquer parte do mundo. Somos pessoas de muito trabalho, mas a nossa terra está sempre no pensamento e no sangue”, garantiu, nesta que foi a primeira visita oficial de José Maria Neves a Portugal. Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé, há vários anos que acompanha estes cidadãos, recordando, no seu discurso, que foi há mais de meio século que chegaram a Loulé os primeiros cabo-verdianos, aquando da construção da fábrica de cimento da Cimpor, “o que
veio agitar a vida da pacata vila de ALGARVE INFORMATIVO #350
então”. “Esse foi o início de uma história com momentos muito felizes. Desde então, esta comunidade não parou de aumentar, dando um contributo ativo para o desenvolvimento económico, social e cultural deste território”, frisou o edil, que lembrou nomes da vida cultural, social ou religiosa como o músico Dino D’Santiago ou o Vigário-Geral Carlos César Chantre, mas também cidadãos anónimos que laboram nos setores da restauração, hotelaria ou construção civil, como exemplos da
“preciosa participação da comunidade cabo-verdiana na vida e funcionamento do concelho de Loulé, da sua inserção e cooperação para o prestígio e reconhecimento nacional e internacional do município”. 36
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Visivelmente emocionado com o contacto com os seus compatriotas radicados em Loulé e no Algarve, e pela forma como aqui foram acolhidos, José Maria Neves elogiou o que viu neste dia, sobretudo “os pequenos detalhes
que mostram a grandeza de um município como o de Loulé”, nomeadamente o carinho como os caboverdianos são tratados neste território, mas também a preocupação com as questões da preservação do património histórico ou o caminho da sustentabilidade e preocupação ambiental que aqui encontrou, uma matéria que se perspetiva como eixos de desenvolvimento do seu país. O ALGARVE INFORMATIVO #350
Presidente da República acentuou o facto de Cabo Verde ser hoje uma nação fortemente «diasporizada» – sendo este um dos pilares essenciais da sua identidade. “Somos um país aberto,
um país que se projeta no mundo, um país com uma alma do tamanho do mundo”, descreveu, agradecendo aos seus conterrâneos que se encontram fora tudo o que têm feito pelo país, nomeadamente durante a pandemia, com o aumento das remessas de quem vive fora para as suas famílias. E se, em 47 anos de independência, Cabo Verde cresceu muito do ponto de vista político e institucional, “com uma democracia exemplar”, a realidade é 38
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que a população anseia pelo crescimento socioeconómico do País. “Temos as
nossas dificuldades e os nossos desafios”, assumiu o chefe de Estado, elencando a seca severa, a escassez de água, a desertificação ou os problemas com a atividade turística, “motor da atividade económica”, que surgiram com a pandemia, como os principais ALGARVE INFORMATIVO #350
problemas. Neste contexto, ciente de que os cabo-verdianos que vivem no exterior poderão ser fundamentais para o crescimento do país, José Maria Neves adiantou que estão a ser criados “novos
patamares de participação da diáspora no processo de desenvolvimento do país”. Também o relacionamento entre os municípios 40
geminado com o seu congénere da Boa Vista”, indicou. Numa tarde repleta de emoções, o Presidente da República de Cabo Verde recebeu das mãos do autarca de Loulé a «Chave do Humanismo», uma peça concebida pelo Loulé Design Lab e que apenas foi atribuída, até à data, a José Ramos Horta, atual Presidente da República de Timor-Leste e Nobel da Paz em 1996, e ao Primeiro-Ministro António Costa. E ficou-se também a saber que em breve Loulé terá um Consulado e um Cônsul de Cabo Verde no Algarve, depois de algumas questões terem sido levantadas pela comunidade sobre esta matéria.
cabo-verdianos e portugueses, consubstanciado através de acordos de geminação, poderão ser importantes para o crescimento do país, pelo que o Chefe de Estado deixou o apelo para o reforço dessas iniciativas. “Loulé terá
neste quadro uma palavra a dizer, até porque desde 1999 está
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De facto, o Embaixador de Cabo Verde em Portugal, Eurico Monteiro, que também integrou a comitiva que acompanhou o Presidente da República, anunciou que o consulado no Algarve, atualmente sedeado em Portimão, se vai mudar para Loulé, área onde residem mais cabo-verdianos e que até agora tinham alguma dificuldade em tratar dos seus assuntos devido à distância do local. O Embaixador sublinhou, porém, que este um Consulado será criado em moldes diferentes, até porque os serviços digitais prestados vieram agilizar os processos. Assim, a vertente da diplomacia económica, nomeadamente a ligação com o tecido empresarial, e diplomacia política, serão duas componentes importantes do futuro Consulado. E também Jorge Santos, Ministro das Comunidades, teve oportunidade de esclarecer algumas das dúvidas da comunidade cabo-verdiana residente no Algarve . ALGARVE INFORMATIVO #350
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FEIRA DA SERRA REGRESSOU SOB O MOTE DO MEDRONHO E COM FORTE APOSTA NA JUVENTUDE Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina e Mário R. Cunha cativante e carismática Feira da Serra de São Brás de Alportel foi visitada, de 28 a 31 de julho, por milhares de residentes e turistas, portugueses e estrangeiros, desejosos de conhecer e revisitar os sabores, os saberes e a cultura algarvia através das experiências, do saudável convívio e da muita animação que caracterizam este evento que ALGARVE INFORMATIVO #350
acontece em pleno coração da Serra do Caldeirão. Este ano, o medronho foi o produto em destaque, um fruto que retrata na perfeição a garra e resiliência da Serra Algarvia e que inspirou os 18 espaços temáticos distribuídos por quatro hectares do recinto, localizado na Escola EB 2,3 Poeta Bernardo de Passos. A feira foi inaugurada pelo Ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, como reconhecimento da mensagem veiculada em prol do meio 44
ambiente e da preservação da biodiversidade, com especial enfoque na Serra do Caldeirão. E, de facto, estamos perante um evento que coloca a serra algarvia em evidência pelos seus recursos, cultura e tradições, sendo inevitável a abordagem da preservação da natureza e da preocupação ecológica, bem patente nos já habituais copos colecionáveis e reutilizáveis, mas também num trabalho artístico comunitário, coordenado pela artista algarvia Joana Rocha, que colocou o plástico a florir. Na continuidade do esforço que tem vindo a ser desenvolvido para que o certame seja 100 por cento acessível, a Câmara Municipal de São Brás de Alportel renovou também a parceria com a Casa de Repouso e Saúde de São Brás de Alportel e a Clínica SAN – Saúde Integrativa, que asseguraram circuitos acessíveis, espaço acessível 45
reservado junto ao Palco Principais, espaços de estacionamento específicos e todo um Programa de Apoio Integrado. Uma Feira da Serra que, apesar de contar já com 30 anos de existência, se mostrou ainda mais jovem, com um recorde de 80 participantes no programa de voluntariado jovem, com uma forte participação no desfile «São Brás Fashion», onde os mais novos foram os protagonistas principais, e com o envolvimento da RUA FM – Rádio Universitária do Algarve, que assegurou a rádio da Feira da Serra. Em Ano Europeu da Juventude, de realçar igualmente o novo «Palco Jovem», que apresentou 16 momentos e mais de 70 jovens, dinamizado em parceria com o Instituto Português do Desporto e Juventude, no âmbito do Concurso Regional «Música Já». Um espaço que teve como padrinho ALGARVE INFORMATIVO #350
o Presidente da Federação Nacional das Associações Juvenis, Marco Santos, que esteve na feira, no dia 27 de julho, em representação das 1.200 associações juvenis de todo o país, aproveitando para firmar a adesão do Município de São Brás de Alportel à Rede de Municípios Amigos da Juventude. Ao todo, foram 200 expositores, 18 espaços temáticos, seis restaurantes, duas tascas, contando com mais de 50 horas de espetáculos e animação nos quatro palcos e no picadeiro. E, claro, o Sítio do Medronho regressou para dar a conhecer este produto milenar ligado de forma inquestionável à região em termos gastronómicos e económicos e cuja força representa a garra ALGARVE INFORMATIVO #350
algarvia. Demonstrações gastronómicas animaram o Palco Sabores, que abriu com a participação da Escola de Hotelaria e com as originais propostas dos chefs André Rodrigues, João Pereira e Luís Reis, contando igualmente com uma deliciosa lição de papas de milho pela Confraria Gastronómica da Serra do Caldeirão e com momentos de inovação com a apresentação dos projetos «Medronho Bottle», «Bake My Dog», «Buda Bite» e «Microvegetais». No palco principal, os cabeças-de-cartaz foram os D.A.M.A, Queen Tribute Show «Break Free», Carlão e Bonga, ao passo que o Picadeiro acolheu demonstrações equestres que revelam todo o esplendor destes majestosos animais . 46
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FEIRA CONCURSO ARTE DOCE DE LAGOS COM MAIS DE 125 MIL VISITANTES Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina e 27 a 31 de julho, o Complexo Desportivo de Lagos voltou a encher-se de doces, petiscos, música e muita animação, com a 33.ª Feira Concurso Arte Doce a apresentar um dos melhores cartazes do Verão algarvio, com Rui Veloso, Gabriel o Pensador, Dillaz, Bárbara Bandeira e Mariza. Depois da suspensão de dois anos devido à situação pandémica, o evento regressou com mais dias e com um ALGARVE INFORMATIVO #350
espaço maior para acomodar mais negócios participantes (113), com o certame a registar mais de 125 mil visitantes que, para além da doçaria regional, tinham à sua espera artesanato, tasquinhas e outros produtos alimentares. O centenário da chegada do comboio a Lagos foi o tema escolhido para esta edição e, para reforçar os laços entre as várias tradições do país, foi também convidada a região da Estremadura, que trouxe artistas, doçaria e artesanato. No 64
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que toca a animação musical, para além dos cabeças de cartaz Rui Veloso, Gabriel o Pensador, Dillaz, Bárbara Bandeira e Mariza no palco principal, o recinto integrou um palco secundário por onde passaram artistas locais como a Banda da Sociedade Filarmónica Lacobrigense 1.º de Maio, Rancho Folclórico e Etnográfico de Odiáxere, Daddy Jack Band, Paulo Ribeiro, DJ Manu, Time for T, Ana Marques, Ana Valentim, Vítor do Carmo, José Santana e Orquestra Ligeira de Lagos, bem como da Estremadura, casos da Orquestra de Foles, Sons da Terra, Alma Menor e Rancho Velha Guarda do Folclore da Nazaré.
Alcobaça, sabores da Baía de Lagos e gastronomia. Mas o foco do certame foi o concurso de doçaria, que destacou mais uma vez o talento e a criatividade de doceiras e doceiros. Nesta edição, as categorias a concurso foram Arte Doce – Tema obrigatório e Tema livre, Qualidade na Tradição (Melhor Dom Rodrigo, Doce Fino, Morgado e Doce de Figo) e Doces de Inovação.
Para aqueles que quiseram aprender e provar mais sobre doçaria e gastronomia, tiveram lugar diversos showcookings diários de doce fino, sabores da Estremadura, doce conventual de
Tema obrigatório (Centenário da chegada do comboio a Lagos): 1.º lugar – Cantinho Doce da Fernanda (Lagos) 2º. lugar – Lucília Baptista (Lagos)
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Tema Livre 1.º lugar – Os Doces da Fátima (Lagos) 2.º lugar – As Passinhas do Algarve (Lagos) 3.º lugar – Atelier dos Sabores (Tunes)
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3º. lugar – Os Docinhos da Gena (Lagos) Concurso «Qualidade na tradição» Melhor Morgado – Bolos da Avó Isabel (Lagos) Melhor D. Rodrigo – Maria Antónia Silva (Aljezur) Melhor Doce Fino – Os Docinhos da Gena (Lagos) Melhor Doce de Figo – Ana Maria Santos (Mexilhoeira Grande) Concurso «Doces de inovação» 1.º lugar – Pastelaria Doce e Arte (Monchique) .
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RECRIAÇÃO DA TRADICIONAL DESCARGA À CANASTRA ABRIU O APETITE PARA O FESTIVAL DA SARDINHA Texto: Daniel Pina Fotografia: Daniel Pina
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marcar a antestreia do Festival da Sardinha, que decorreu, na zona ribeirinha de Portimão, entre 3 e 7 de agosto, o Município de Portimão promoveu, no dia 2 de agosto, a recriação da tradicional descarga à canastra da sardinha no cais da cidade, que posteriormente foi confecionada numa sardinhada popular, terminando o dia especial num sunset com música de outros tempos, a cargo dos Lucky Duckies. Nesta ocasião muito especial foi evocada a azáfama característica do ambiente da antiga lota, com a acostagem da traineira «Arrifana» e da enviada «Moira» e a participação de meia 79
centena de figurantes, que vestiram a pele dos pescadores, estivadores, compradores, mulheres da salga e irrequietas crianças que davam vida e colorido ao cais. Ao longo da manhã foram retratadas algumas das principais atividades que ao longo do tempo tiveram lugar na lota do cerco, a partir da chegada das embarcações carregadas de sardinha, altura em que se ouvia a sirene que chamava os compradores, seguindo-se o antigo leilão «à boca», que consistia numa ladainha cantada de números por ordem decrescente e que o vendedor só interrompia quando o comprador arrematava com a ordem de compra «Chui!». Após o leilão, teve lugar a descarga do peixe, uma espécie de ALGARVE INFORMATIVO #350
coreografia aperfeiçoada pela experiência, em que os homens faziam voar canastras cheias do convés da traineira até ao trabalhador que as recebia na muralha, despejando de imediato o peixe em caixas para ser gelado ou salgado, antes de seguir para o seu destino, acondicionado nos transportes da altura, entre os quais bicicletas, carrinhas e outros veículos. No decurso de toda esta atividade, uma ou outra sardinha era desviada pelos miúdos que por ali cirandavam, gerando muita algazarra, enquanto se vendia o peixe da companha ou uma tecazinha de ALGARVE INFORMATIVO #350
sardinha aqui e ali. Perto da hora do almoço, os fogareiros começavam a fumegar, assando as sardinhas para alimentar muitos destes trabalhadores da lota. Todas as dinâmicas desse ambiente, considerado um espetáculo para inúmeros curiosos e turistas que passavam pela zona, foram lembradas entre a memória e a encenação teatral, com a colaboração da Docapesca – Portos e Lotas, SA, Portipesca, Delegação de Portimão da Administração do Porto de Sines, Capitania do Porto de Portimão, Instituto de Cultura de Portimão, Grupo de Teatro Sénior da Freguesia de Portimão, Grupo Coral de 80
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Portimão, TIPO – Teatro Infantil de Portimão, Delegação de Portimão da Cruz Vermelha Portuguesa, GNR, Amigos do Museu de Portimão, Glória ou Morte Portimonense Clube, Quinta dos Avós, Blue Classics Rental, Mário Galhardo (Barlapescas), colaboradores do Museu de Portimão, da Biblioteca Municipal Manuel Teixeira Gomes e Departamento de Obras e Gestão de Equipamentos Públicos da Câmara Municipal de Portimão, para além de voluntários a título individual e elementos da comunidade piscatória e marítima local, como antigos descarregadores de peixe. A sardinha fresca descarregada nesta ALGARVE INFORMATIVO #350
recriação histórica foi posteriormente utilizada numa sardinhada popular que teve lugar no recinto do festival, assegurada pelos restaurantes do Boa Esperança Atlético Clube Portimonense, Clube Desportivo Recreativo Pedra Mourinha, Clube União Portimonense, GEJUPCE – Gil Eanes Juventude Portimonense Clube e Grupo Desportivo e Recreativo Alvorense. O programa encerrou com um concerto sunset no palco principal do recinto e a cargo da conhecida banda Lucky Duckies, cujo reportório vintage inclui temas de swing e rock’n’roll, proporcionando um agradável ambiente internacional que evoca as décadas de 40, 50 e 60 do século XX . 82
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Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #350
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33.ª Feira Concurso Arte Doce de Lagos arrancou, da melhor forma, em termos musicais, com um fantástico concerto de Rui Veloso, no dia 27 de julho, que esgotou por completo o espaço exterior do certame. Nome maior e um dos mais influentes da música portuguesa, o cantor, compositor e guitarrista ostenta uma carreira repleta de sucessos que atravessam gerações, conforme se observou facilmente nesta noite na Cidade dos Descobrimentos. Rui Veloso começou a tocar harmónica aos seis anos, deixando-se, depois, influenciar por B.B. King e Eric Clapton, o que lhe motivou a mudança para a guitarra elétrica. Aos 23 anos lançou o álbum que o projetou para o estrelato, «Ar de Rock», no qual se perfila o tema «Chico Fininho», um ALGARVE INFORMATIVO #350
dos maiores sucessos da sua obra e de Carlos Tê, seu letrista. A este seguiramse canções como «Porto Sentido», «Não Há Estrelas No Céu», «Sei de Uma Camponesa», «A Paixão (Segundo Nicolau da Viola)» e «Porto Covo». Nos anos 90 do século passado integrou o coletivo «Rio Grande», constituído por Tim, João Gil, Jorge Palma e Vitorino, num estilo de música popular com influências alentejanas que alcançou uma considerável popularidade e do qual nasceriam dois discos, um de originais em 1996, outro ao vivo, em 1998. Em 2000 lançou a compilação «O Melhor de Rui Veloso – 20 anos depois», e depois um disco de tributo dedicado ao seu álbum de estreia, «20 anos depois – Ar de Rock». Em 2003, a mesma formação dos Rio Grande, mas sem Vitorino, voltou a juntar-se no projeto «Cabeças no Ar», 90
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dedicado a canções nostálgicas que remontam aos tempos da escola, entre elas «O Primeiro Beijo». Rui Veloso regressou aos discos de originais, em 2005, com «A Espuma das Canções» e, em 2006, por ocasião dos seus 25 anos de carreira, realce para dois concertos no Coliseu do Porto e um no Pavilhão Atlântico, este último gravado e editado em 2009, «Rui Veloso ao Vivo no
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Pavilhão Atlântico». Em 2010 voltou a esgotar os Coliseus de Lisboa e do Porto e, cinco anos mais tarde, agora comemorando os 35 anos de carreira, esgotou o Meo Arena. Desde então, multiplicam-se os espetáculos, participações e colaborações e, do alto das suas quatro décadas de carreira, continua a levar a sua música de norte a sul de Portugal e a encantar pessoas de várias gerações .
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PORTIMÃO RECEBEU 36.º FESTIVAL DA CANÇÃO INFANTIL E JUVENIL CHAMINÉ D'OURO Texto: Daniel Pina Fotografia: Ricardo Coelho
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Zona Ribeirinha junto ao Museu Municipal de Portimão encheu-se de público, na noite de 23 de julho, para assistir ao 36.º Festival da Canção Infantil e Juvenil Chaminé D'Ouro, um dos mais antigos do país e que dá a conhecer, todos os anos, novos talentos da canção, numa organização da Junta de Freguesia de Portimão em parceria com a Alvor FM. Nesta edição participaram 15 jovens provenientes de várias localidades, que interpretaram inéditos e versões, acompanhados pelo coro infantil do festival a cargo do maestro António Alves e pela banda liderada pelo músico Jorge Carrilho.
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Catarina Martins venceu o prémio para a Melhor Canção Infantil, sendo que Núria Botelho teve a Melhor Canção Juvenil e Melhor Canção de Portimão e Jennyfer Henriques levou para casa as distinções de Melhor Intérprete e Melhor Versão. Participaram ainda neste Festival como convidados José Francisco e Afonso Silva, vencedores de edições anteriores, e Edmundo Inácio, finalista da edição de 2022 do programa «The Voice». A apresentação esteve a cargo de Hugo Mendes, do programa «Passadeira Vermelha» da SIC Caras. O Festival Internacional da Canção Infantil e Juvenil Chaminé D'Ouro contou com o apoio do Município de Portimão e de diversas empresas locais e promete voltar para a sua 37.ª edição em 2023 . 104
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ARTE DIGITAL MOSTRA-SE NO ALGARVE Texto: Vico Ughetto| Fotografia: Vico Ughetto
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esde Tavira a Loulé, o Museu Zer0 apresenta um vasto conjunto de trabalhos de artistas digitais de renome.
Arte digital, new media, mixed media arts, arte computacional, etc. Para muitos é um jargão técnico ou termos que nos escapam à nossa compreensão, e sobre os quais não estamos muito à vontade e que, por isso, evitamos, ou até mesmo nem deles queremos ouvimos falar. Todos estes termos estão geralmente associados a uma forma de arte contemporânea, e muito emergente a nível mundial, que passa pela utilização das técnicas de computação, código de programação, elementos digitais gráficos e visuais, geralmente com grande recurso à ALGARVE INFORMATIVO #350
parafernália tecnológica atual, desde o computador, às placas de processamento, ou aos já convencionais projetores e monitores. A região do Algarve tinha uma lacuna nesta faceta artística, porém, este paradigma alterou-se por completo com o surgimento do Museu Zer0. O primeiro na região dedicado à Arte Digital, sem dúvida, mas igualmente pioneiro a nível nacional e até internacional, pois esta é uma vertente artística atual e desafiadora do cânones mais tradicionais e que, por isso, também colhe alguma resistência da crítica e até da exposição mediática. E é precisamente esta uma das grandes missões do Museu Zero, tornar acessível a todos a Arte Digital, não só dando visibilidade a novos artistas locais, como 120
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abrindo as portas desta arte ao público, quer local como visitante na região.
instalação «Moira», patente até 15 de agosto.
Essa aposta passa, quer pelas residências artísticas, quer pela divulgação do que é a Arte Digital junto dos públicos mais jovens, através de ações nas escolas algarvias, envolvendo apresentações e ateliers diversos, junto de um público com enorme apetência para os chamados «new media», tanto ao nível da criação como do próprio usufruto das obras digitais enquanto público informado. É neste sentido, da criação e do fornecimento de conteúdos, a um público consumidor, que o Museu Zer0 desenvolve uma programação regular de exposições, instalações ou mostras digitais. Recentemente inauguradas, temos em Loulé, no Convento de Santo António, a exposição «Espaço/Programa», que decorre até 10 de setembro. Em Tavira encontra-se, na Ermida de S. Roque, a
Em Loulé, a exposição é uma extensão das obras que estiveram patentes até junho no Museu Bienal de Cerveira, com a curadoria de Miguel Carvalhais e Luís Pinto Nunes, reunindo um leque de diferentes gerações de artistas digitais de renome, grande parte com prémios e reconhecimento internacional, permitindo-nos observar desde as obras de mapeamento digital de Ana Carvalho; à instalação bio-eletrónica de André Sier; à dualidade da inteligência artificial ensaiada por João Martinho Moura; as memórias generativas de Mariana Vilanova; passando pela série de esculturas sonoras dialogantes de Pedro Tudela e Miguel Carvalhais; ou ao mecanismo de emulação de cordas vocais de Diogo Tudela. Na inauguração em Loulé, os artistas André Sier e @c
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(Miguel Carvalhais e Pedro Tudela) presentearam o público com uma performance sonora com base eletrónica e digital bem representativa da exploração experimental que a arte computacional permite. ALGARVE INFORMATIVO #350
Em Tavira, aqui com a curadoria do próprio Museu Zer0, coube ao coletivo d1g1t0_indivíduo coletivo apresentar a «Moira», uma instalação «mixed media» que convida a uma releitura criativa da lenda da Moira Encantada, que é parte 124
do património cultural imaterial português e, em particular, da região algarvia. Ana Gago, Diogo Marques e João Santa Cruz, que integram o coletivo D1g1t0, desenvolveram este projeto com base numa residência efetuada em Santa Catarina da Fonte do Bispo, onde 125
recolheram um conjunto de testemunhos sobre a temática junto de um grupo de bordadeiras desta aldeia. A instalação é um reflexo desta recolha áudio, cruzada com a interpretação artística deste coletivo, a que se junta, ALGARVE INFORMATIVO #350
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em complemento, a arte visual de Pedro Ferreira. São estas algumas das propostas de Verão do Museu Zer0, que tem o seu espaço físico nas instalações da Cooperativa Agrícola dos Produtores de Azeite de Santa 127
Catarina da Fonte do Bispo, atualmente em obras de reabilitação para alojar a infraestrutura e valências do Museu, que se estimam estar concluídas no primeiro semestre de 2023 . ALGARVE INFORMATIVO #350
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Do sul do Sul ao norte do Norte Mirian Tavares (Professora Universitária) Curadoria: Miguel Cheta e Mirian Tavares Artistas: Ana Rostron, Luís Marques, Miguel Cheta, Milita Doré, Vasco Marum Nascimento
“A luz amadurece as pedras e os figos nos lados dos caminhos adoça as alfarrobas fende a casca cinzenta das amêndoas e desprende-as varejamos as que ficam presas de leve aos ramos; no armazém da casa amontoadas descascar as amêndoas o verão”. Gastão Cruz espaço, ou melhor, o território, é um tema presente nas Artes especialmente desde a década de 60 e foi sendo intensificado pelo advento da Globalização que, de acordo com Stuart Hall, quanto mais viajamos e consumimos imagens de outros lugares, mais as nossas identidades tornam-se “desvinculadas – desalojadas – de tempos, lugares, histórias e tradições específicas (…)*”. A homogeneização cultural é um fenômeno que enfrentamos e contra o qual os artistas sempre resistiram. Que fique claro que a resistência à homogeneização nada tem a ver com um retorno ao nacionalismo romântico, mas sim com a recuperação ALGARVE INFORMATIVO #350
de sentidos que se perderam, de lugares que ficaram esquecidos ou marginalizados, de elementos que compõem um território/lugar – para pôr em causa a própria contemporaneidade e o insano movimento, real e virtual, a que nos submetemos quotidianamente. Marc Augé fala de não-lugares, de lugares de passagem, de lugares entre, mas fala também de hibridações, tema caro ao teórico Homi K. Bhaba. A hibridação é um fenômeno que nasce do movimento de culturas, de povos, de ideias, possibilitando assim o surgimento de uma terceira via – fruto de um diálogo incessante e produtivo, entre os que permanecem e os que são obrigados a partir, ou entre os que habitam o centro e os que são relegados à periferia. Nem sempre a terceira via acontece, o diálogo é esmagado pela voz que se 132
Foto: Vasco Célio
autodetermina como dominante. E é nesse instante que a arte se insurge e propõe-se, ela mesma, como um caminho viável, como uma terceira via – como lugar em que o encontro acontece. Como escreveu Katia Canton: “No emaranhado disperso da vida quotidiana, afinal, procuramos o eu através do outro, rastreamos nossas histórias e abrimos nossos diários íntimos na tentativa de nos oferecer verdadeiramente para o mundo. É essa troca genuína de memórias e de sentidos 133
que buscam os artistas contemporâneos”.** ideia de trazer artistas do Algarve à Bienal de Cerveira não surgiu apenas pela possibilidade que se apresentou de fazer uma curadoria com artistas que nunca expuseram no evento, mas a de trazer artistas dos antípodas ao encontro com um território também às margens da zona central, para promover assim um diálogo construtivo e instigantes. Os artistas convidados – Ana Rostron, Luís Marques, Miguel Cheta, Milita Doré e ALGARVE INFORMATIVO #350
Vasco Marum Nascimento – têm trabalhado com e sobre o território das mais diversas maneiras, com diferentes suportes e linguagens, sempre nos surpreendendo com a força, e paradoxalmente, a fragilidade das suas obras. Por delicadeza perdi a vida, disse Rimbaud, e a delicadeza é o traço constante que liga cada obra apresentada. Delicadeza usada para falar dum território, o Algarve, espaço físico e metafórico, espaço à margem e relegado a um destino único – o turismo. Espaço polifacetado, mas unificado no imaginário do outro, daqueles para quem o Algarve é um não-lugar. dward Said fala-nos de uma “geografia imaginária ou imaginativa”, que é a geografia dos que escreveram a História no Ocidente e a partir dele. Os territórios circundantes, ou não-ocidentais, não são descritos como espaços concretos, mas sim com termos comparativos numa comparação não balanceada: os outros são os estranhos, os estrangeiros, os não civilizados ou exóticos. É possível falar de uma geografia imaginária quando o Reino de Portugal se refere ao Reino dos Algarves, terra dos mouros, último território reconquistado e atrelado a um país, tão pequeno e tão diverso. O discurso é composto de códigos de linguagem - e nenhuma linguagem é neutra. E é nesse ínterim que atua a arte. Ana Rostron, desde o princípio, fez das suas obras um constructo de memórias, de dejetos, de sobras. Objetos ou fragmentos de objetos que perderam a sua função e foram deixados, ao acaso, pelo território. Cada coisa adquire um significado, ou múltiplos sentidos, ALGARVE INFORMATIVO #350
quando a artista interfere e transforma seu gesto de recolectora num gesto criador. A peça que nos propôs remetenos ao minimalismo de James Turrell ou às esculturas de Dan Flavin. Mas, ao contrário desses artistas, a luz, matériaprima de ambos, é apenas insinuada pelo seu invólucro na obra de Ana Rostron. Invólucros sem função, desgastados, lâmpadas que já não iluminam, mas que se convertem em matéria e em suporte pelas mãos da artista. A obra de Miguel Cheta é, antes de tudo, uma tomada de posição do artista sobre o território. Também ele um recolector, as suas imagens, de origem fotográfica, são transmutadas em desenhos, esculturas e vídeos. Como diz o artista, primeiro ele vê – fotografa mentalmente o seu entorno e, a partir das imagens que constrói, surgem desenhos, relevos, texturas. Assim surgiu o Sunset de Mafalda, peça central de um tríptico composto por um vídeo e dois desenhos/colagens, conta-nos uma história em loop. Uma história que se repete a cada verão, uma história simples – a travessia na maré baixa e o retorno, quando sobe a maré. Uma travessia que representa um movimento contínuo, tornando o espaço que ocupa um nãolugar. O mar/ria é um lugar de passagem, uma via, um caminho que se percorre à procura do sol e de um lugar na areia da praia. Há uma relação intrínseca entre corpo e território. O trabalho de Milita Doré é, sobretudo, um trabalho sobre o corpo, sobre os corpos, sobre a própria noção de corporificação da obra num espaço. Um mapa delineado, feito de linhas sobre 134
tecido, dá-nos a ver um território geograficamente expandido – um norte que aponta para cima e um sul que se descai. Entre uma e outra ponta, o percurso é longo, e, para não se perder, Milita Doré prefere seguir “rolando o caminho” – peça feita de tiras de algodão, remete-nos ao fio de Ariadne e também à ideia de laços que se podem estreitar/estabelecer. Uma maneira de não deixar que o Sul perca o norte e viceversa. Os quadros de Luís Marques remetemnos também ao território, mesmo que não de maneira direta e programática sua obra mais recente é o resultado do percurso do artista à procura de técnicas e de materiais que expressem, ao mesmo tempo, o inefável e o matérico. Como Richard Long, Luís Marques traça um percurso no território e constrói invisíveis arquiteturas, frutos de uma geografia imaginária, tanto interna quanto externa. Decidido assim a deixar marcas subtis, contrariando a arquitetura espúria, compostas de betão armado e de ferro que reveste o litoral algarvio. Construções que ocultam, e destroem, o território, revestindo-o de uma camada sintética, lugar do mesmo, do que está em toda a parte e que não pertence a nenhum lugar. O artista propõe uma viagem dentro da sua própria casa, se chamarmos casa ao espaço que nos envolve, ao lugar em que nascemos, que tem existência concreta, com suas rugosidades, texturas, como os materiais que o compõem. Enquanto eu dava aulas, Vasco Marum Nascimento fazia origamis. As mãos, e o pensamento, inquietos, já diziam do 135
artista que estava ali sentado, placidamente, a apreender tudo com as mãos. Entre a fotografia, o desenho e a escultura, a imagem surge – discreta, quase invisível, insinuada. Georges DidiHuberman, ao refletir sobre a aura benjaminiana, fala-nos de imagens que operam uma dialética do lugar: “próximo e longínquo, diante e dentro, táctil e óptico, aparecendo e desaparecendo, aberto e fechado, esvaziado e saturado (…)”***. São imagens que contêm uma sensação física do tempo – em que a marca da sua passagem fica inscrita e reverbera, recriando assim a aura na era das imagens reprodutíveis. As séries que o artista apresenta, «Desenhos na Montanha», peças em gesso e fotografia, põem em prática a dialética do lugar – ao mesmo tempo cheio e vazio, presença e ausência. Os artistas do sul do Sul trazem ao norte do Norte a sua presença feita de obras, feita de arte. De obras de arte que refletem sobre o território, sobre a identidade e os corpos que a reclamam. Como disse Katia Canton, é essa troca genuína de memórias e de sentidos que buscam os artistas contemporâneos. Uma troca que se pretende dialógica, rítmica, produtora de novos e diversos sentidos. Capaz de juntar o país pelas pontas, e configurar, através da arte, novos centros. *Stuart Hall, A Identidade Cultural na pósmodernidade. Rio de Janeiro, DP&A, 2000, p. 75-6 **Katia Canton, Espaço e Lugar. São Paulo, Martins Fontes, 2009, p.35.. *** Georges Didi-Huberman. Diante do tempo: História da Arte e Anacronismo das Imagens. Lisboa, Orfeu Negro, 20217, p. 319. ALGARVE INFORMATIVO #350
Quinquagésima oitava tabuinha - Água Ana Isabel Soares (Professora Universitária) averá quem se recorde dos primeiros sons à sua volta? Da vibração de corações (seu, da mãe, de quem se aproxime) – mas, sobretudo, do rumorejar líquido. Como se distingue um som, se ele for todo o ambiente em que se está? Quando é que a «antiga cantiga», o «barulhinho bom» da água da chuva passa a ser entendido como coisa diferente das águas paradas de um ventre; e, diferenciando-se, permite que essa água de envolvência se autonomize, também, enquanto som? Vem-me tudo à ideia, por pensar na raridade, na preciosidade da água. Vejo escorrer da torneira um fio de água, ouço-lhe o gorjeio vertical (o «cheiro da água» é o seu som, a vibração do seu manifestar-se), e penso. Penso que quando era moça pequena, não se ouvia falar em escassez como hoje se ouve – e em lugares a que associo tanto verde, como as bacias de barragens transmontanas –, de cada vez que via abrir uma torneira era como se assistisse a uma ocasião ritual. As casas dos meus avós, fora da cidade, não tinham água canalizada. Em cada uma era no quintal que havia um cano que subia da terra e terminava em torneira. Dali se ia buscar a água para nos lavarmos, para se lavar louça, molhar o chão no Verão, para arrefecer a casa. Não me recordo do ALGARVE INFORMATIVO #350
primeiro dia em que me pediram para ir buscar água: contaram-me que teria uns dois ou três anos quando me sacaram de uma morte silenciosa, abeirava-me eu do bordo de um poço e alguém me agarrou pelo laço do vestido – o apelo da água é uma vida toda. Lembro-me, sim, do barulho que fazia o cilindro sobre o poço do Moinho Grande, rolado para fazer baixar corda e balde, do que se ouvia quando chegava o balde à água, do rosto apreensivo dos adultos se o balde demorava a tocar na água. Do peso do balde cheio, dos salpicos – “Não deixes cair nada!” – era um ritual de cuidados, de cautelas, que me fazia – que me fez, que me faz – respeitar a água como quem saúda um deus, debruçando o corpo para a terra, cabeça baixa e olhos fechados, o reverente sinal de um mergulho. Se era da bica do largo ou da torneira do quintal que vinha a água, podia ser não mais do que um fio, bastante para um balde, para um jarro metálico, uma cafeteira, os dedos de uma mão enquanto não me ralhavam por essa inutilidade de admirar, “Fecha a torneira!”. Levantado do chão, rente à parede pouco mais de um metro, o tubo deixava cair a água numa pia de pedra cor de barro encarnado, encaixada no solo para onde regressavam as gotas perdidas, o excesso, a joia aquática. Não eram necessárias campanhas na televisão, medidas governamentais a exigir a pessoas comuns (ainda sem estudos, desconhecedoras dos valores das bacias hidrográficas) a poupança 136
Foto: Vasco Célio
daquele escasso prodígio. Era desde as origens, no sangue que também compunha, que se sabia ser a água uma preciosidade, uma ocasião rara, o convívio com um ser que agradecia ter sido, pela brevidade de uns segundos, libertado . 137
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Notas Contemporâneas [50] Adília César (Escritora) “Mas sobretudo sustento que, se a uma literatura faltarem os inovadores, revolucionando incessantemente a Ideia e o Verbo, essa literatura, sujeita a uma disciplina canónica, bem cedo se imobilizará sem remissão numa mediocridade castigada e fria – sobretudo se nela predominam as inteligências claras, flexíveis, comedidas e imitativas (…)”. Eça de Queirós (1845-1900), in Notas Contemporâneas (1909, obra póstuma) QUELES que me escutam não percebem o que digo, porque o significado das palavras é sempre e apenas uma mera intenção. Eu digo, porque quero dizer o que quero dizer. Os outros ouvem outra coisa qualquer porque querem ouvir apenas o que querem ouvir, sem dar espaço à percepção do pensamento. Por exemplo, a intenção poética pode ser uma caixa cheia de mãos sagradas que não ousamos tocar sem a devida cerimónia. As minhas mãos, tão profanas, precisam de encontrar outras mãos que possibilitem o bater das asas que conduz ao voo. São as tuas? * AQUELES que me olham permanecem nos seus lugares de eleição, o alto dos pedestais junto às nuvens, porque acreditam que sabem voar, apesar de não possuírem asas. A autofagia da linguagem cai a pique e desmorona-se numa espécie de ruína civilizacional. Fica por ali, a ruminar, ALGARVE INFORMATIVO #350
e perturba a intimidade de um mundo raro, oculto, provisório. Eu permaneço debaixo das pedras, sem auxílio, na busca contínua da Ideia e do Verbo. * AQUELES que me denunciam impõem a subtileza do eu desvanecido com um verso colado na garganta, vindo do limiar das alturas. Um esplendor jubiloso do humano, através do qual se abre uma porta para a minha história, onde a essência prevalece sobre a existência. A vida, a morte, o amor, a vida sempre. Escolho cuidadosamente as palavras que quero dizer nessa procura: alvéolo, casulo, cova, ninho. Ou apenas esconderijo da alma. Isto sou eu a pensar, mas as palavras não parecem ser as minhas. Falta-me a realidade que existia antes disto que sou agora, antes da última página. Escrevo continuamente, mas os símbolos ficam cada vez mais pequenos até que se tornam ilegíveis. A utopia espiritual tem agora o sentido matemático da alucinação obsessiva, da criatividade esmerada. Voar através das palavras. Adeus, é tudo o que resta . 138
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A força invisível dos micro influenciadores digitais Fábio Jesuíno (Empresário) poder de formar opiniões confiáveis num ou em vários nichos de mercado nas redes sociais tem cada vez mais impacto na sociedade. A internet possibilitou uma série de novidades e inovações globais, uma das mais importantes foram as redes sociais, fazendo com que qualquer pessoa tenha a oportunidade de criar e partilhar os seus conteúdos de uma forma simples e rápida para pequenas ou grandes comunidades. Os influenciadores digitais são pessoas, personagens ou grupos que ganharam popularidade nas redes sociais. Estes influenciadores criam uma grande variedade de conteúdos que acabam gerando um elevado número de seguidores que acompanham as suas actividades com grande interesse e eventualmente partilham com outras pessoas. Estes famosos digitais destacamse pela criação de conteúdos com grande impacto nas redes sociais e blogs, chegando a diversos públicos. Os micro influenciadores digitais são pessoas aparentemente comuns que têm uma boa reputação num nicho específico. Possuem, em média, entre 5 a 50 mil ALGARVE INFORMATIVO #350
seguidores nas redes sociais e geram normalmente mais identificações e, consequentemente, mais atenção e engagement. Destacam-se na partilha e criação conteúdos que gostam de uma forma natural e atraem pessoas com os mesmos interesses. A maioria torna-se ou é especialista numa determinada temática muito específica, atraindo dessa forma as marcas do mesmo segmento de mercado. Com menos seguidores comparativamente aos grandes influenciadores digitais, mesmo assim, os micro influenciadores digitais conseguem bons desempenhos. Vários estudos mostram que os micro influenciadores têm muito mais poder de persuasão do que as celebridades digitais. Os seguidores identificam-se mais com os micro influenciadores e estão mais propensos a seguir uma recomendação sua, do que um grande influenciador. A utilização dos micro influenciadores digitais é cada vez mais forte nas estratégias de marketing digital das marcas, tornando-se cada vez mais frequente devido aos resultados gerados. A força invisível dos micro influenciadores digitais é cada vez mais visível e vão ser os grandes impulsionadores da comunicação online no futuro . 140
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Turismo e Cultura, que relação? Alexandra Rodrigues Gonçalves (Diretora da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo da UAlg) ste título parece que não é novo e para nós não é de facto. Turismo e Cultura: Amigos ou conhecidos? O tema está novamente na ordem do dia, e no Algarve, o que é de saudar, em especial a agradecer à CCDR Algarve a iniciativa promovida em Lagos no dia 28 de julho passado, que permitiu dar a conhecer os trabalhos, necessários e em curso, de requalificação do património classificado com financiamento de fundos europeus. Outros exemplos de intervenção em rede, como o Festival Bezarranha pela AMAL foram também partilhados. Diria que estas práticas de prestação de informação descentralizada dos organismos regionais da administração pública, em colaboração com as autarquias, são muito importantes para a disseminação das boas práticas de intervenção no território junto das comunidades, e não só nas áreas da cultura e no património. Apesar da amplamente reconhecida importância da cultura para a autoestima das populações, para o desenvolvimento do sentimento de pertença, para a coesão social das comunidades, o seu valor percebido é ainda muito reduzido e, em particular, junto das suas comunidades residentes. O investimento em cultura representa aumento de bem-estar e de qualidade de vida da comunidade local, mas também um contributo para a inovação e para a ALGARVE INFORMATIVO #350
criatividade da comunidade. A redução do conceito de património cultural ao edificado não fará qualquer sentido, daí que se inclua crescentemente nestes apoios, a produção cultural e artística, as expressões da cultura social, os símbolos imateriais da cultura e todo um conjunto de saberes que perpetuam a nossa identidade cultural, tão poucas vezes apresentados e trabalhados na nossa região. O grau de contributo que o turista atribui à cultura para a escolha de um destino é com frequência responsável por esse destino se assumir ou não como um destino de turismo cultural, mas esta informação pode não ser suficiente para conhecermos o nosso visitante, e será necessário um acréscimo de informação sobre o grau de motivação desse turista, pois nem todos os visitantes de atrações ou eventos culturais, devem ser assumidos como tal. Os mecanismos de investigação como os questionários da ATLAS* dão um importante contributo com a auscultação regulamente desenvolvida a nível europeu. A UNWTO (Organização Mundial de Turismo) estimava em 2018 que, das chegadas internacionais de turistas, 40 por cento eram turistas culturais. Este segmento de visitantes torna-se apetecível às instituições culturais sobretudo pela dimensão económica, contudo, revelam resistências a abraçar os desafios que o turismo lhes levanta, sobretudo quando envolvem maioríssimo interação e envolvimento mais estreito com estes «públicos».
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Valorização dos Monumentos, porque era necessário dar vida ao património, mas com os agentes culturais do território e com a parceria dos municípios. Voltar a trazer a comunidade residente a estes espaços patrimoniais e seduzir o turista que nos visita, a partir de propostas artísticas de índole diversa, é uma das estratégias de reencontro com a cultura e o património.
Os sucessivos programas no Algarve de animação cultural têm procurado alterar esta questão, assumindo uma função cultural mais alargada, de que é um exemplo o Lavrar o Mar e a última edição do 365algarve. A emergência de novos lugares de cultura, que não são os equipamentos formais, por sua vez, também lançam desafios à produção cultural e aos agentes do território, mas dão um forte contributo para uma apropriação comunitária alargada, que ultrapassa as elites locais culturais, contribuindo para um diálogo mais equitativo e profícuo. As «novas tecnologias» são hoje também elementos facilitadores da construção de pontes com os mais jovens e o património como polissémico que é, pode dar origem a muitas histórias e narrativas. Não nos será suficiente mapear e conhecer o número dos bens classificados, o número e países dos visitantes dos nossos espaços patrimoniais. Reinterpretar recursos existentes pode desenvolver novas visões. Está na moda falar em reinvenção, sobretudo da recriação do passado. A cultura é o grande fornecedor de conteúdos para as experiências turísticas e para os seus significados. Foi como espírito de recriar a visita ao Monumentos do Algarve que em 2013 avançámos com a proposta do DiVaM – Dinamização e 143
Os destinos da Bacia do Mediterrâneo estão a procurar crescentemente estratégias de diferenciação, que se relacionam com os seus territórios. A cultura e o património emergem hoje como oportunidades de transformação. O Algarve tem de investir em infraestruturas de apoio à inovação no sector que possibilitem a sua regeneração, revitalização e reinvenção, sob pena de perder atratividade e competitividade face aos mercados concorrentes. O modelo de desenvolvimento a preconizar deve compatibilizar práticas de desenvolvimento sustentável com o crescimento equilibrado da procura turística e a sua melhor distribuição no território, e ao longo de todo o ano. Há que refrescar a imagem do território e a sazonalidade emerge como oportunidade. Temos recursos culturais interessantes e uma narrativa relacionada com o mar que pode ser determinante no contexto local e regional. A insistência no trabalho em rede, que vá para além dos projetos, será essencial para um desenvolvimento de um território mais aberto, dinâmico e criativo . *ATLAS= Association for Tourism and Leisure and Education Research - ATLAS Special Interest Group Cultural Tourism Research Group. ALGARVE INFORMATIVO #350
Júlio Ferreira (Inconformado encartado)
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m sacerdote que denunciou outros 12 por suspeitas de pedofilia. Alguns dos casos remontam aos anos 90. Várias testemunhas dizem que os abusos ocorreram em casas paroquiais e em carros. Uma das vítimas, na época com 15 anos, suicidou-se”, Público, 4 de agosto de 2022. “Quem denuncia casos à hierarquia é «posto de lado»”, assegura o padre, num testemunho inédito. Ainda hoje estão no ativo padres sobre quem recaem fortes suspeitas de abuso sexual de crianças ou jovens”, JN, 4 de agosto de 2022. “Manuel Clemente não foi o único a não dar seguimento às denúncias ao MP. Na Guarda e em Setúbal aconteceu o mesmo”, Jornal Expresso, 5 de agosto de 2022. Ao recolher informações para perceber melhor a dimensão deste HORROR, cheguei à conclusão que podia fazer um artigo só com notícias verdadeiras e chocantes sobre as mais de 360 denúncias formalmente recebidas. Não sou, nem nunca fui anticlerical, mas tenho de admitir que (infelizmente), desde há muito, esta já não é a minha Igreja. Confesso, entretanto, que nos ALGARVE INFORMATIVO #350
últimos anos, estive quase a fazer as pazes com a instituição, porque com ELE o problema nunca se pôs, sempre tivemos via aberta e sem intermediários nos entendemos. Ultimamente, algumas pessoas que adoro e que são verdadeiros católicos, me estenderam várias vezes a mão e disseram: “vem, anda…” e eu estive quase, quase… mas depois, lá vem mais um escândalo. A nível local, reconheço pessoas (como eu e tu) e alguns padres, que em nome da Igreja católica e de Deus, tentam todos os dias fazer o bem e o melhor que podem pelos outros. Reconheço os imensos horrores e erros da igreja ao logo dos séculos, mas também reconheço o seu papel fundamental na substituição do estado em certas áreas sociais de grande importância na nossa sociedade. São estes os verdadeiros católicos, liderados pelo Papa Francisco (se o deixarem), a quem cabe exorcizar a igreja católica dos demónios e dos seus cúmplices que cometeram abusos e atos monstruosos que têm vindo a público por uma comunicação social atenta e séria. A conclusão simples a que chegamos é sempre a mesma. A Igreja Católica Apostólica Romana está cada vez mais longe de Cristo, dos seus ensinamentos e, como consequência, mais longe das pessoas. Eu vou recorrer a Mateus 18:114, onde se atribui a Jesus Cristo uma frase que diz, mais ou menos isto a 144
comportamento ao longo de muitos anos. Até tremo só de pensar que a vítima (as vítimas) poderiam ser o meu filho, o meu sobrinho, o vosso filho, o vosso sobrinho, o vosso afilhado, o colega de escola dos nossos filhos, a vítima, as vítimas deste saque clerical que esfaqueia a alma e a deixa a sangrar num qualquer canto de sacristia, não importa a idade.
respeito dos violadores de crianças de fé e com toda a certeza a quem com eles compactua com o seu silêncio: “seria melhor que lhes atassem uma pedra de um moinho ao pescoço e os afogassem no mais profundo dos mares”. Ao longo do tempo, sempre fomos (todos), muito complacentes com a Igreja. E neste momento tão crítico, a Igreja Católica Apostólica Romana não pode estar acima de tudo e todos e da lei. Os Homens que gerem a Igreja merecem mais do que nunca, uma crítica severa por parte da sociedade em relação aos casos de pedofilia. Por isso, aqui estou eu a fazer a minha parte. A triste conclusão a que chegamos é que a Igreja Católica Apostólica Romana ainda não percebeu a gravidade da situação e do seu 145
Para os verdadeiros católicos que conheço, e que já mencionei, estas histórias são um HORROR REPUGNANTE, TRISTE e DOLOROSO. Havendo uma denúncia e uma vítima, o que a Igreja NUNCA deve fazer é fechar os olhos, calar-se e colocar o abusador noutras funções, mas em contacto com os crentes e oficiar como se tivessem o mínimo de dignidade para o fazer em nome de Deus. Estas são soluções, no mínimo, lamentáveis e REPUGNANTES. Os abusos sexuais de menores no seio da Igreja Católica são obscenos e, para além de serem PECADO, são uma barbaridade que destruiu e destrói a vida de milhares de crianças inocentes e das suas famílias. A pedofilia é CRIME!!! E JAMAIS deve ser OCULTADO, porque tornas-te cúmplice. Encobrir é ser cúmplice do agressor. É INTOLERÁVEL desculpabilizar os encobridores. Há um estado de direito num país, que é Portugal, há um código penal que diz que o abuso sexual de crianças é crime público, quem tenha dele conhecimento deve denunciar ao Ministério Público e a partir daí não está sequer dependente de queixa. A instituição Igreja não pode continuar a funcionar à margem da sociedade e do estado de direito onde está inserida. Neste caso quer-se dos responsáveis ALGARVE INFORMATIVO #350
eclesiásticos portugueses um esclarecimento cabal do que ocultaram durante décadas permitindo o abuso de crianças, repito crianças. Não queremos nem aceitamos que depois dos casos mais mediáticos se façam cartas abertas onde não se assumem todas as responsabilidades e não se curvem de vergonha e desculpa à vítima e ao seu sofrimento. A última a que todos tivemos acesso era uma espécie de um texto jurídico de autodefesa feita metade por um advogado e outra metade por um especialista em comunicação. O tema dessa e de todas a cartas abertas no âmbito dos obscenos abusos a crianças pela Igreja Católica Apostólica Romana, devia ser OBRIGATORIAMENTE o sofrimento da vítima. Mas não!!! A última carta aberta vinda a público, dedica à vítima três palavras no meio de um repositório de factos e cronologias para afastar a responsabilidade. Dispensa à vítima e aos crentes horrorizados com o que se passou, quase nada. Que falta de sensibilidade tem esta Igreja Católica a quem os crentes confiam os seus mais vulneráveis. Dos responsáveis políticos??? quer-se silêncio, decência e recato, não um posicionamento de defesa dos agressores. Já imaginaram o que aconteceria se, em Portugal, outra instituição com autoridade sobre jovens e crianças, que não a Igreja Católica Apostólica Romana, se nestes últimos, 30, 40, 50, 60 anos… abusasse sexualmente delas em nome de um Deus, que deve ser tudo, menos isto? Seria algo inimaginável e muita gente já teria sido presa e condenada por práticas e encobrimentos/cumplicidade.
de polémico como de horroroso e nojento – acho que é chegado o momento de a Igreja católica Apostólica Romana iniciar um amplo e sincero debate sobre o celibato. Eu acho que já não restam dúvidas que existe uma relação direta entre estes casos pelo mundo, a sexualidade e o celibato dos padres. Porque o peso que tem este problema na Igreja Católica Apostólica Romana não é igual ao das outras igrejas onde o casamento é permitido. Já todos vimos que: “…a renuncia a uma vida sexual ativa, para canalizar toda a sua energia e toda a sua pessoa à relação com Deus”, não é, nem nunca foi uma boa ideia. Se não sabem, ficam a saber que os primeiros sacerdotes católicos não precisavam ser celibatários. Após morte e ressurreição de cristo, os padres ainda puderam casar e ter filhos, durante mais de 1 000 (mil) anos. Só em 1123, e depois em 1139, o celibato foi instituído. Ficou então decretado que clérigos não poderiam casar ou mesmo se relacionar com concubinas. No final do ano passado, o pedopsiquiatra Pedro Strecht foi nomeado pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) coordenador da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos de Menores na Igreja. Strecht comprometeu-se a analisar “tudo o que pode ter acontecido”, desde 1950 até agora, em matéria de abusos cometidos contra crianças. Foi criada uma linha telefónica (917 110 000) e um site (https://darvozaosilencio.org). Se foste vítima de abusos, ou conheces alguém que o tenha sido, LIGA! .
Para finalizar este tema – que tem tanto ALGARVE INFORMATIVO #350
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Chatices sobre o COVID Carlos Manso (Economista e Membro da Direção Nacional da Ordem dos Economistas) ais de dois anos do início da pandemia, que desde 2020 alterou todas as certezas que tínhamos sobre vários temas, desde a política à economia, passando pela saúde e a velhas tensões geopolíticas que considerávamos serem memórias de um passado longínquo, torna-se fundamental fazer algo que como portugueses odiamos. Contas. Este artigo não tem a ver com protagonistas, até porque considero que teríamos o mesmo comportamento com outros atores, mas com algo mais profundo, a nossa cultura perante as adversidades. Em todas as situações, existe um tempo para prever, um tempo para analisar e planear, um tempo para decidir e, por fim, um tempo para fazer um balanço. Esse balanço é fundamental, por vários aspetos, mas destaco apenas dois: para sabermos se a nossa estratégia funcionou de acordo com as nossas expetativas e em comparação com as estratégias dos outros e, o mais importante, para servir de base para decisões futuras. E é aqui que começa a chatice. Normalmente, até porque comportamonos em todas as matérias da mesma ALGARVE INFORMATIVO #350
forma que nos comportamos num jogo de futebol, cerramos fileiras em massa em torno das decisões que o grupo com os quais nos identificamos melhor, sem fazermos uma análise critica e fundamentada sobre as mesmas e não permitindo qualquer troca de ideias civilizadas, sem insultos gratuitos e decisões de extradições imediatas para outro País de todos os que não partilham da nossa opinião ou ponto de vista. O típico «se lá em tão bom porque é que não emigras» que inviabiliza qualquer discussão saudável e que muitas vezes justifica o facto de não conseguirmos fazer melhor. Vamos a números chatos e agradeço que não me mandem emigrar, porque gosto de cá viver, trabalhar e principalmente de ser português. Durante os períodos negros da pandemia, era natural a comparação entre os vários países e as várias estratégias de combate à mesma. Sendo que as discussões mais acesas aconteciam na comparação com a Suécia. Em Portugal estima-se que cerca de 5,17 milhões de habitantes já tenham contraído COVID, tendo ocorrido 24 mil e 149 óbitos relacionados com COVID desde o início da pandemia, havendo 10 mil e 375 novos casos e 28 óbitos a 30 de junho de 2022 e uma média nos últimos sete dias de 22 óbitos por dia. Temos cerca de 10 148
cento, ou seja, 33 por cento mais alta. A taxa de mortalidade sueca, em conjunto com a alemã, é em termos relativos a taxa mais baixa da Europa. Em bom português, morreram menos pessoas devido ao COVID na Suécia, do que em Portugal. Na perspetiva económica, a pandemia aumentou o risco de desigualdades na Europa, sendo Portugal um dos países mais afetados devido a uma economia mais dependente do turismo e serviços de proximidade tendo uma quebra no PIB de 3,5 por cento nestes dois anos e um aumento na dívida pública a rondar os 19 mil milhões comparativamente a 2019, atingindo os 127 por cento do PIB em 2021.
milhões de habitantes, o que representa uma taxa de incidência global de 51 por cento de população que já esteve infetada. Na Suécia estima-se que cerca de 2,52 milhões de habitantes já tenham contraído COVID, tendo ocorrido 19 mil e 124 óbitos relacionados com COVID desde o início da pandemia, havendo 3 mil e 430 novos casos e 31 óbitos a 30 de junho de 2022 e uma média nos últimos sete dias de quatro óbitos por dia. Também tem cerca de 10 milhões de habitantes, o que representa uma taxa de incidência global de 25 por cento de população que já esteve infetada. A taxa de mortalidade desde o início da pandemia é de 0,18 por cento na Suécia, enquanto em Portugal é de 0,24 por 149
A Suécia teve um crescimento a rondar os 2,9 por cento no mesmo período e a sua dívida pública aumentou cerca de 23 mil milhões comparativamente a 2019, atingindo os 37 por cento do PIB. Em jeito de conclusão, parece-me que a economia e a sociedade sueca não só sofreram menos com os efeitos da pandemia, como tiveram mais apoios do Estado para fazer face aos desafios, estando a recuperar de uma forma mais favorável e equilibrada que Portugal. Parece-me evidente que a crucificação da estratégia sueca com o objetivo de enaltecer os méritos da nossa, foram na falta de melhor palavra completamente exageradas e sem fundamento. Que estas análises não nos sirvam de cruz, mas que sirvam de aprendizagem. Mas ninguém aprende quando acha que já sabe tudo ou quando acha que faz sempre tudo bem. Pensem nisto .
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