REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #358

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«MULHER REFLEXO» E THE LUCKY DUCKIES EM LAGOA | SEMANA EUROPEIA DO DESPORTO DIA DO IDOSO EM LOULÉ | «1.º DIREITO» AVANÇA EM MAIS TRÊS CONCELHOS DO ALGARVE SEMANA DO POLVO EM QUARTEIRA | LAGINHA E BURMESTER JUNTOS EM LOULÉ | PORTUGAL 2030 ALGARVE INFORMATIVO 8 de outubro, 2022 #358

ÍNDICE

Albufeira recebe Campeonato do Mundo de Natação Adaptada DSISO

Algarve traça prioridades para o Portugal

2030 (pág. 24)

«1.º Direito» avança em Vila do Bispo, Castro Marim e VRSA

Semana Europeia do Desporto termina em festa em Olhão

Quarteira aposta forte na promoção do polvo (pág. 58)

Festival de Observação de Aves & Atividades de Natureza em Sagres Dia do Idoso em Loulé

The Lucky Duckies em Lagoa

Festival Internacional de Piano do Algarve em Loulé (pág. 106)

«Mulher Reflexo» em Lagoa (

OPINIÃO

Paulo Cunha (pág. 126)

Adília César (pág. 130)

Fábio Jesuíno (pág. 134)

Dora Nunes Gago

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ALBUFEIRA RECEBE O 10.º CAMPEONATO DO MUNDO DE NATAÇÃO DSISO

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina o todo, 160 atletas vão representar 23 países no 10.º Campeonato do Mundo de Natação Adaptada Albufeira 2022 e Natação Artística DSISO – Albufeira 2022, que terá lugar, de 17 a 23 de outubro, nas Piscinas Municipais de Albufeira. O evento foi dado a conhecer à comunicação social na manhã do dia 3 de outubro, com a presença dos dois nadadores algarvios integrados na seleção nacional, Filipe Santos e José

Vieira, para além do presidente da Câmara Municipal de Albufeira, José Carlos Rolo, do presidente da Federação Portuguesa de Natação, António Silva, e do vice-presidente da edilidade albufeirense, Cristiano Cabrita. O igualmente vereador do Desporto expressou o desejo de que este momento “seja um ponto de partida para um grande campeonato do mundo e que está integrado numa estratégia mais vasta que pretende lançar uma candidatura de Albufeira a Capital Europeia do

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António Silva, Filipe Santos, José Carlos Rolo, José Vieira e Cristiano Cabrita

Desporto em 2026”. “O Município de Albufeira tem vindo a desenvolver, nos últimos tempos, uma política e uma estratégia para valorizar o desporto e estamos aqui num equipamento que é um ex-libris da cidade e que nos permite acolher, inclusive, campeonatos do mundo de natação. Esperamos que o nome de Albufeira fique, mais uma vez, gravado em páginas de ouro graças ao sucesso deste evento”, manifestou Cristiano Cabrita.

António Silva, presidente da Federação Portuguesa de Natação, mostrou-se feliz por ter a seu lado os dois nadadores algarvios que vão representar Portugal num campeonato mundial que terá cerca

de 400 pessoas envolvidas, entre nadadores, staff das várias equipas, árbitros, juízes e voluntários. “A seleção portuguesa é constituída por dez nadadores de referência que com certeza vão dignificar a participação nacional. Temos campeões e recordistas europeus e mundiais e desejamos que, neste palco de excelência, possamos registar mais alguns grandes resultados”, disse o dirigente, recordando ainda que esta foi a primeira federação portuguesa a fazer a inclusão de todas as classes de deficiência nas suas modalidades. “Temos defendido também a criação de uma categoria especial para que possam participar nos Jogos Paralímpicos, porque sabemos do

valor destes atletas e da dedicação dos seus treinadores e clubes para lhes proporcionar as melhores condições de trabalho. A afirmação destes atletas deve-se fazer nos palcos nacionais e internacionais”, frisou António Silva.

José Carlos Rolo, presidente da Câmara Municipal de Albufeira, também não tem dúvidas de que “estes atletas são um exemplo para todos nós”. “A organização de um mundial muito especial é um orgulho para Albufeira e reflete a nossa posição de maior importância em relação ao desporto adaptado. Estamos bastante empenhados em que esta organização seja um exemplo para

o desporto nacional, ao mesmo tempo que demonstra todo o potencial do turismo desportivo, com os olhos postos no desejo de que Albufeira possa vir a ser Capital Europeu do Desporto em 2026”, apontou. “Interessa-nos, com este género de eventos, criar a vontade dos seus participantes em regressaram mais tarde a Albufeira, mas nos seus momentos de lazer, nas suas férias”, reforçou José Carlos Rolo.

As seleções dos 23 países começam a chegar a Portugal no dia 15 de outubro, partindo a 23 de outubro, estando em Albufeira países como Portugal, Argentina, Albânia, Brasil, Canadá,

Colômbia, Croácia, Espanha, Estónia, Eslováquia, EUA, Finlândia, GrãBretanha, Irlanda, Iraque, Itália, Japão, Kuwait, México, Noruega, Nova Zelândia, Polónia e Roménia. Portugal estará representando por André Almeida (Sporting), Diana Torres (FC Porto), Diogo Matos (Sporting), Diogo Rego (SC Aveiro), Filipa Reis (Feira Viva), Filipe Santos (Lagoa AC), Francisco Montes (ADADA), João Vaz (Sporting), José Vieira (GCN Faro) e Vicente Pereira (Sporting). O enquadramento técnico da seleção será assegurado por Mariett Matias e José Machado, da Federação Portuguesa de Natação, com os treinadores convidados Paulo Sousa, Pedro Lima e Rui Gama e o fisioterapeuta Luís Arsénio.

O Mundial DSISO – Down Syndrome

International Swimming Organisation

tem já um historial de 20 anos e 10 edições, a primeira das quais realizada, em 2002, em Reading, na Inglaterra. Com uma periodicidade de dois anos, as edições seguintes foram realizadas em Durban, África do Sul (2004); Limerick, Irlanda (2006); Albufeira, Portugal (2008); Tapei, Taiwan (2010); Loano, Itália (2012); Morelia, México (2014); Florença, Itália (2016); Truro, Canadá (2018); e Turquia (2020). O 10.º Campeonato do Mundo de Natação DSISO Albufeira 2022 é uma organização da Federação Portuguesa de Natação, da Câmara Municipal de Albufeira e da Down Syndrome International Swimming Organisation, com o apoio da Associação de Natação do Algarve e da ANDDI – Associação Nacional de Desporto para Desenvolvimento Intelectual .

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ESTRATÉGIA DO ALGARVE PARA O

2030» APOSTA EM MAIS QUALIFICAÇÃO E VALORIZAÇÃO DAS PESSOAS

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Jorge Gomes

endo por base os indicadores de desenvolvimento económico e social, e depois de uma avaliação preliminar dos projetos financiados no Portugal 2020 e de ter realizado um diagnóstico aprofundado da situação da região, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve elaborou uma proposta, em discussão com a Comissão Europeia, onde define as prioridades do

próximo quadro comunitário de apoio, o Portugal 2030, onde estão inscritos 92 milhões de euros, no âmbito do Fundo Social Europeu +, para intervenções em matéria de Qualificações, Emprego e Inclusão social. “Se em 2011 o rendimento médio mensal líquido dos trabalhadores por conta de outrem no Algarve era inferior em 3,45 por cento à média nacional, esta diferença foi dilatada ao longo da década, segundo os

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«PORTUGAL

dados do INE, e, em 2021, o rendimento médio dos trabalhadores por conta de outrem passou a ser 6,08 por cento mais baixo do a média nacional”, afirma José Apolinário, Presidente da CCDR Algarve, acrescentando ainda que “o ciclo de desqualificação não se reflete apenas nas remunerações, começa na escola com o elevado abandono escolar precoce”. “Em 2019, antes da pandemia, o abandono escolar era de quase 20 por cento, tendo apenas diminuído em 5 pontos percentuais de 2011 a 2019, o que contrasta com as restantes regiões do continente onde, na última década, a redução se cifrou nos 11 pontos

percentuais, situando-se nesse ano de 2019 em 10 por cento”, adiantou.

Isto significa que, no Algarve, são anualmente lançados no mercado de trabalho quase mil jovens que não concluíram o ensino secundário. “A região precisa romper com este registo de baixas qualificações que conduzem a baixos salários”, diz o Presidente da CCDR Algarve, que assume que a estratégia é apostar fortemente no alargamento da base de recrutamento para a formação no ensino superior, através de um impulso nos cursos técnicos superiores profissionais, contando, para isso, com o apoio da Universidade do Algarve para implementar esta estratégia.

Num encontro de trabalho no qual participaram os principais atores do

sistema de educação, formação e emprego da região, José Apolinário lembrou ainda que o «Portugal 2030» pode ser a derradeira oportunidade para reverter as fragilidades socioeconómicas da região algarvia, defende que a articulação entre as entidades – nacionais e regionais – que gerem os diferentes financiamentos é essencial. “Para potenciar as verbas da chamada bazuca, a intervenção vertical e setorial de muitas das medidas e avisos no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência e dos diversos programas setoriais e temáticos com as verbas geridas pelo Programa Regional. Urge que os serviços desconcentrados do Estado trabalhem, lado a lado, com os Municípios e com os diversos atores da região”, defendeu, realçando, nesta matéria, o papel fulcral da AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve, cujo presidente, António Miguel Pina, sublinhou o compromisso dos Municípios no desafio das Qualificações, relembrando o seu papel na definição da futura rede de Centros Tecnológicos Especializados – 19 na região, financiados pelo PRR, que permitirá qualificar e valorizar o ensino profissional, bem como a revisão do SANQ (sistema de antecipação de necessidades de qualificação), que a AMAL irá promover no próximo ano. Por seu lado, a ViceReitora da Universidade do Algarve, Ana de Freitas, declarou que a estratégia da CCDR Algarve vai ao encontro dos objetivos da instituição que, de resto, já tem investido na criação de Cursos

Técnicos Superiores Profissionais (CTeSP), sobretudo nas áreas da engenharia, e que os bons resultados obtidos estimulam a que se consolide, a par com as demais valências da UALG, este modelo.

Após a sessão de abertura, António Oliveira das Neves, consultor da CCDR Algarve, apresentou o estudo «Estruturação das intervenções prioritárias em matéria de qualificações, emprego e inclusão social no Algarve», lançando os desafios da dinamização de polos de competência de oferta de formação, que promovam a concertação da oferta formativa de qualificação inicial e de formação ao longo da vida, e destacando neste particular o papel da CCDR na construção de respostas aos desafios da eficácia e eficiência da ação coletiva. Foi com o mesmo sentido de compromisso que o Presidente do Turismo do Algarve, João Fernandes, destacou a importância deste setor integrar também o plano de qualificação das pessoas, o que vai permitir, não só diferenciar, mas também contribuir para diminuir a sua sazonalidade.

Goulart de Medeiros, Presidente da União de Sindicatos do Algarve, relembrou que com baixos salários não é possível valorizar o trabalho e impulsionar as qualificações, e que se tem de enfrentar o problema da qualidade do emprego na região. O representante do NERA realçou a importância da formação contínua dos trabalhadores, dando conta da disponibilidade desta associação empresarial para um esforço redobrado de mobilização na promoção da aprendizagem ao longo da vida.

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Margarida Pereira, do Ministério da Educação (DGeST), deu nota da melhoria de resultados e das medidas que estão previstas para enfrentar o problema do abandono escolar precoce, tendo destacado os projetos de promoção do sucesso educativo (Escolas TEIP), que se espera continuem a beneficiar dos apoios comunitários, e o investimento nos novos Centros Tecnológicos Especializados.

António Palma, do IEFP, fez o balanço da evolução recente do mercado de trabalho, tendo realçado, não só o papel do IEFP na qualificação de desempregados, mas também na promoção de melhorias na qualidade do emprego, através de apoios à contratação sem termo, e de medidas de facilitação da entrada dos jovens na vida ativa, como são os estágios. Relembrou ainda o crescimento do desemprego de

longa duração e da responsabilidade social para a inclusão de grupos mais vulneráveis. Depois, o secretário técnico do Programa Operacional, António Travassos, apresentou as principais linhas de força do próximo Programa Regional, para as áreas das qualificações, do emprego e da inclusão social.

No que toca à proposta de distribuição dos 92 milhões de Euros que a CCDR Algarve está a negociar com a Comissão Europeia, assenta em quatro áreas de intervenção:

1) Qualificação Inicial de Jovens - À área da qualificação inicial de jovens, a CCDR Algarve pretende afetar cerca de 24 por cento do investimento total do Fundo Social Europeu +. Neste sentido, 15 milhões são destinados à formação de jovens em áreas STEAM através de

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CTeSP. Cerca de 4 milhões de euros serão empregues em projetos promotores da igualdade de oportunidades e destinamse, sobretudo, a crianças e jovens em risco de trajetórias de insucesso escolar e de abandono escolar precoce, mas também a estudantes carenciados a frequentar o Ensino Superior. O demais montante propõe-se fortalecer a Infraestrutura tecnológica dos estabelecimentos de Ensino Superior (Edifício Digital do campus de Gambelas, a construção de um novo campus de Portimão e para a aquisição de Equipamentos e apetrechamento dos Laboratórios CTeSP).

2) Aprendizagem ao longo da vida - À segunda área, relativa à aprendizagem ao longo da vida, vão ser alocados cerca de 26 milhões de euros, sendo que a parte mais significativa (13 milhões de euros) destina-se à qualificação escolar e profissional de adultos, com contributo para a inserção no mercado de trabalho e melhoria da economia, através de projetos de Formação Modular (e Vida Ativa), Cursos de Especialização Tecnológica; Formação Profissionais Saúde; Formação Professores e Centros Qualifica. Cerca de 7,2 milhões de euros vão ser aplicados na Formação de ativos empregados, muito direcionada para a adaptabilidade às exigências do posto de trabalho, através de projetos Formaçãoação, Licenças de formação, Formação de empresários e gestores e ainda para a Capacitação da Administração Pública Local. Por último, no sentido de desenvolver competências e qualificações de base para grupos desfavorecidos e com baixas qualificações, vão ser realizados Cursos de Educação e

Formação Adultos e, tendo em conta os grandes fluxos migratórios que a Região tem recebido, haverá oferta alargada de cursos de Português como Língua de Acolhimento.

3) Emprego - A terceira área, que diz diretamente respeito ao emprego, contará com um investimento na ordem dos 21 milhões de euros, dos quais 13,8 milhões vão ser direcionados à promoção do acesso ao emprego e promoção do empreendedorismo, através de estágios Profissionais, +CO3SO Emprego, apoio à Mobilidade Geográfica e a estruturas de incubação no interior. Para apoiar o emprego qualificado, vão estar disponíveis 7 milhões, que vão ser utilizados, sobretudo, no apoio à contratação de recursos humanos altamente qualificados. Ainda na área do emprego, cerca de meio milhão de euros vai servir para a promoção do chamado emprego inclusivo, que comporta a igualdade de oportunidades e a Formação de públicos estratégicos.

4) Inclusão Social - A última área, respeitante à inclusão social, vai promover a elevação dos níveis de inclusão do mercado de trabalho, a inovação das respostas sociais, e ajudar a qualificar o cluster da economia grisalha e de longevidade, nesta fase com uma proposta de 27 milhões de euros. De entre estes o destaque para cerca de 10 milhões destinados a apoiar a inclusão social de grupos em situação de vulnerabilidade, como sejam os migrantes, as pessoas em situação de sem-abrigo, as crianças em risco, os idosos e outros grupos sociais em situação de vulnerabilidade .

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«1.º DIREITO» AVANÇA EM VILA DO BISPO, CASTRO MARIM E VILA REAL DE SANTO ANTÓNIO

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

oi assinado, no dia 27 de setembro, o acordo de colaboração entre o Município de Vila do Bispo e o Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU), no âmbito do «1.º Direito» – Programa de Apoio ao Acesso à Habitação, que visa dar resposta habitacional a 229 pessoas (102 agregados familiares) sem condições financeiras para suportar o custo de acesso a uma habitação adequada. Tratase do primeiro protocolo que concretiza a

Estratégia Local de Habitação de Vila do Bispo, que prevê a construção de 100 fogos e a reabilitação de outros dois, num investimento global previsto de 17 milhões, 618 mil e 13 euros a executar em seis anos. Deste montante, o IHRU financia 4 milhões, 519 mil e 948 euros de forma não reembolsável e 7 milhões, 7 mil e 601 euros a título de empréstimo bonificado. O valor restante de 6 milhões, 90 mil e 464 euros compete à Câmara Municipal. O acordo firmado pela presidente da Câmara de Vila do Bispo, Rute Silva, e pela presidente do Conselho

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Diretivo do IHRU, Isabel Dias, foi homologado pela Secretária de Estado da Habitação, Marina Gonçalves.

O Município de Vila do Bispo aprovou no corrente ano e remeteu, posteriormente, ao IHRU também para aprovação a sua Estratégia Local de Habitação, na qual estão sinalizadas as situações de carência habitacional existentes no concelho e definidas as soluções habitacionais onde serão enquadrados os pedidos de apoio ao abrigo do «1.º Direito». Assim, de acordo com este documento, está prevista a construção de 46 fogos na freguesia de Vila do Bispo e Raposeira, 25 na freguesia de Budens e 29 na freguesia de Sagres, todos em terrenos de propriedade municipal. A Estratégia Local de Habitação de Vila do Bispo abrange também a reabilitação de dois edifícios

na sede do concelho. “Hoje é um dia decisivamente importante no presente e para o futuro do concelho e da comunidade deVila do Bispo, ao darmos mais um passo no sentido de, em conjunto, assegurarmos a mitigação de um problema que tem vindo a agudizar-se nos últimos anos, transversal a diversos territórios do nosso país, particularmente expostos à pressão turística e à especulação imobiliária”, referiu Rute Silva, presidente da Câmara Municipal de Vila do Bispo.

A autarca lembrou que a Habitação é um Direito Humano Universal, plenamente consagrado no Artigo 65.º da Constituição da República Portuguesa,

que estipula que todos têm direito, para si e para a sua família, a uma habitação de dimensão adequada, em condições de higiene e conforto e que preserve a intimidade pessoal e a privacidade familiar. “Caberá, portanto, ao Estado e, por extensão, às Autarquias Locais, garantir o cumprimento deste direito essencial à realização pessoal, familiar e social de todos os cidadãos e munícipes. Acredito que a execução da Estratégia Local de Habitação, ao longo da presente década, contribuirá determinantemente para a permanência, atração e fixação de população no nosso concelho, assegurando o incremento e a renovação demográfica, a

vitalidade socioeconómica e a competitividade do território, das suas instituições e das suas empresas”, declarou a edil.

Rute Silva acredita que a construção de casas acessíveis, a aquisição de novos terrenos para habitação e o reforço das rendas apoiadas, entre outras medidas que visam minorar as dificuldades no acesso à estabilidade de um lar, “potenciarão a atratividade e as condições de acolhimento e domiciliação de jovens, futuras famílias, novos empreendedores e de quem tem o sonho de por aqui se fixar, melhorando a qualidade de vida da comunidade, num todo, integrando e beneficiando da sua pluralidade, diversidade,

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multiculturalidade e empreendedorismo”.

No dia seguinte, 28 de setembro, foi a vez do Auditório da Biblioteca Municipal de Castro Marim acolher a cerimónia de assinatura do Acordo de Colaboração entre o Município de Castro Marim e o Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana. O Programa de Apoio ao Acesso à Habitação está agora enquadrado na Estratégia Local de Habitação do Concelho de Castro Marim, apresentada pela vice-presidente do Município, Filomena Sintra, articulando diferentes esforços para o objetivo comum de promover habitações condignas para 109 famílias, um universo de 282 pessoas, ao abrigo do programa «1.º Direito», no período de 2022-2025. Por forma a abranger os agregados familiares

sinalizados em situação de vulnerabilidade, a Câmara Municipal de Castro Marim prevê um investimento de 4 milhões e 633 mil euros até ao final de 2025, repartidos entre a reabilitação e a construção de novas habitações.

Paralelamente, sublinhou Filomena Sintra, o Município de Castro Marim procura encontrar soluções para as famílias que, embora não fragilizadas, também não conseguem aceder à habitação, mediante a situação imobiliária que o país atravessa. Assim, a política de habitação de Castro Marim privilegia também um novo regulamento de benefícios fiscais municipais, a construção de habitação para a venda a custos controlados, o Programa Arrendamento Acessível e a venda de lotes para construção de habitação a

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custos controlados. “O Algarve é a segunda região do país onde é mais caro comprar ou arrendar casa, só Lisboa nos supera. Nas restantes regiões do país, à exceção de Lisboa e Madeira, os valores de compra ou arrendamento são em média menos de metade. Esta realidade cria grandes assimetrias territoriais e constrangimentos locais”, apontou, na ocasião, Francisco Amaral, presidente da Câmara Municipal de Castro Marim, adiantando ainda que “os constrangimentos associados à baixa oferta de imóveis para arrendamento e os altos valores de mercado neste concelho, assim como o efeito do grande número de segundas habitações, do

arrendamento sazonal com fins turísticos e da fixação de residência de seniores de nacionalidade francesa e italiana, originam uma grave carência habitacional”.

Francisco Amaral realçou que os jovens castro-marinenses têm imensas dificuldades em conseguir casa na sua terra, de modo a ter uma vida estável e digna junto daqueles que os viram nascer. “Temos um grave problema que se tem agudizado e que neste momento já afeta vários setores da economia regional. Há escolas com dificuldades no preenchimento das vagas do seu corpo docente porque os professores não encontram casa

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ou as que encontram têm valores de arrendamento incomportáveis. Há restaurantes que tiveram que reduzir o seu horário de funcionamento porque não têm funcionários devido à escassez de habitação. A hotelaria deixou de ser atrativa e está carente de mãode-obra por dificuldades de alojamento dos seus colaboradores. Castro Marim tem uma enorme dificuldade em captar e fixar quadros superiores, em grande parte devido aos constrangimentos habitacionais”, descreveu o autarca.

Confrontado com este cenário, o Município de Castro Marim tem procurado encontrar soluções, mas,

atendendo à dimensão e natureza do problema, necessita do apoio do governo na construção e implementação de respostas mais eficazes e eficientes. “A Estratégia Local de Habitação é uma dessas respostas conjunta, mas necessitamos de medidas estratégicas e de coesão que reduzam a fatura que os algarvios pagam por ser uma região turística. O direito à habitação dos castro-marinenses é o mesmo, mas os seus custos é que são o dobro das restantes regiões do país. É esta imensa barreira no acesso à habitação que juntos temos que atenuar de forma a proporcionar uma verdadeira igualdade de oportunidades”, concluiu.

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De Castro Marim a comitiva de Marina Gonçalves rumou para o concelho vizinho de Vila Real de Santo António, onde também foi celebrado um acordo de colaboração no âmbito do Programa «1.º Direito», dando assim o «pontapé-desaída» para uma Estratégia Local de Habitação que tem um investimento previsto de 101 milhões de euros. As ações em prol das famílias do concelho vão apoiar um total de 812 agregados e mais de 1.221 pessoas com carências habitacionais de vária ordem, com financiamento a 100 por cento por parte do Plano de Recuperação e Resiliência.

A Estratégia Local de Habitação do Município de Vila Real de Santo António é uma das mais providas de verbas do país e a maior do Algarve, apenas comparável aos rácios existentes dos concelhos das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto.

Prevê a construção de novas habitações, a recuperação do parque habitacional existente e a promoção do arrendamento acessível. O programa destaca quatro eixos estratégicos: resolução de situações indignas através da implementação de soluções habitacionais no âmbito do «1.º Direito»; reforço da resposta e da acessibilidade habitacional através do planeamento e gestão; incremento da oferta, da qualidade e da promoção do parque habitacional; promoção do território, da integração social e da atuação preventiva. E o presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, Álvaro Araújo, enfatizou o tempo recorde de menos de um ano em que este projeto se desenvolveu de raiz, sublinhando que vai ao encontro das prioridades das famílias e colocará um ponto final na precaridade habitacional.

O edil salientou ainda que o diagnóstico

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foi realizado, durante o último ano, “por equipas especializadas que foram para o terreno e identificaram, in loco, uma realidade mais grave do que era expectável”. “Esta candidatura representa, por isso, uma viragem de paradigma e põe fim ao esquecimento recorrente no que se reporta à construção, reparação e manutenção de equipamentos habitacionais no concelho. Por outro lado, constitui uma aposta clara na correção dos níveis de especulação imobiliária, procurando uma solução habitacional acessível para que os jovens se fixem e possam viver em Vila Real de Santo António. Esse investimento, quer pela sua

dimensão, quer pelo elevado número de agregados familiares que apoia, constitui um marco histórico para o desenvolvimento da nossa terra e representa um compromisso deste executivo para com as famílias vila-realenses”, rematou Álvaro Araújo.

No final das sessões, a Secretária de Estado da Habitação, Marina Gonçalves, considerou que estes foram momentos históricos para os três concelhos e para todas as famílias que, posteriormente, irão ter, finalmente, direito a uma habitação condigna. “Não estamos aqui a dar nada a ninguém, estamos, simplesmente, a garantir um direito fundamental das pessoas, aquilo que deveríamos

ter feito, ao longo de várias décadas, em articulação com os Municípios, sem que isso signifique uma desresponsabilização do Estado no que toca à elaboração de uma política transversal de habitação. Foram-se criando respostas universais na saúde, na educação e na segurança social, mas entendia-se que, em relação à habitação, o mercado resolvia a situação de modo natural e o Estado apenas intervinha, de forma parcelar, quando era necessário”, analisa a governante, reconhecendo que esta postura de outros tempos foi errada. “Precisamos de uma habitação condigna com aquilo que é a nossa vida pessoal e profissional, o nosso espaço para viver no dia-a-dia, mas também para estudar e trabalhar, para salvaguardar a nossa saúde e a dos

outros. E isto não se consegue com uma política do momento, de uma legislatura, mas sim com uma política para a vida”, acrescentou a governante.

Marina Gonçalves recordou que o problema de acesso à habitação é transversal às famílias de menores rendimentos, mas também às da classe média, devido aos elevados preços praticados no mercado. “O desafio agora é concretizar rapidamente estas Estratégias Locais de Habitação para aproveitar ao máximo as dotações financeiras do Plano de Recuperação e Resiliência, porque isso significa que as autarquias poderão utilizar os fundos que estavam destinados à habitação para outras áreas da sua intervenção. Contudo, não seremos capazes de criar uma

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política estável e duradoura, e a preços efetivamente compatíveis com os rendimentos das famílias, se não formos capazes de intervirmos no mercado imobiliário de forma ativa. E isso pode ser feito através do Parque Habitacional Público, cuja fatia, neste momento, é de apenas 2% e que queremos que aumente, no curto prazo, para os 5%”, revelou a Secretária de Estado da Habitação. “Podemos implementar medidas para promover no mercado privado soluções de arrendamento acessível, podemos criar vários incentivos para que o mercado seja parte da solução, mas não tenhamos dúvidas de que a política mais estável e duradoura é

a que assenta no Parque Habitacional Público”

.

A finalizar, Marina Gonçalves assegurou que o «1.º Direito» não é um programa assente exclusivamente no Plano de Recuperação e Resiliência e que vai permanecer nos territórios em função das necessidades. “A generalidade dos autarcas verificou que as necessidades reais são maiores do que as expetativas iniciais e vamos continuar a encontrar situações a que precisamos dar resposta. Daí a importância de se manter este instrumento e de se ter a certeza de que ele responde, em cada momento, às carências efetivas das populações”, declarou a Secretária de Estado da Habitação .

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SEMANA EUROPEIA DO DESPORTO TERMINOU EM FESTA EM OLHÃO

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

Festa de Encerramento da Semana Europeia do Desporto aconteceu em Olhão, no dia 30 de setembro, um verdadeiro sucesso que resultou da parceria entre o IPDJ – Instituto Português do Desporto e Juventude, o Município de Olhão, a Junta de Freguesia de Olhão, as Associações de Modalidade e os Clubes Desportivos. Deste modo, o Jardim Pescador Olhanense transformou-

se num enorme campo desportivo #BEACTIVE, com 42 modalidades desportivas a envolverem mais de um milhar de participantes, entre miúdos e graúdos, desafiando todos a experimentá-las e a praticar exercício físico. Foi, por isso, um final de tarde onde se respirou saúde e muita animação.

Entre os cerca de 100 convidados de honra que fizeram questão de marcar presença estiveram muitos dirigentes das associações de modalidade, federações e

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clubes desportivos, atletas olímpicos, campões mundiais e europeus, treinadores, representantes de municípios, da AMAL – Associação de Municípios do Algarve, da CCDR –Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, da ANAFRE – Associação Nacional de Freguesias, da DGEST – Direção Regional de Educação do Algarve, da Escola de Hotelaria e Turismo, da Polícia de Segurança Pública, da Polícia Marítima, entre muitos outros. António Miguel Pina, Presidente da Câmara Municipal de Olhão, Selene Martinho, Vice-Presidente do IPDJ, João Evaristo, Vereador do Desporto da Câmara Municipal de Olhão, e Custódio Moreno, Diretor Regional do IPDJ Algarve, fizeram as honras deste megaevento desportivo, manifestando uma enorme satisfação pela presença de

todos e agradecendo a sua participação, espelho da força e o dinamismo do desporto no Algarve. Aurora Cunha e Ana Cabecinha falaram em nome dos atletas, Manuel Cajuda e Paulo Murta em nome dos treinadores, e Reinaldo Teixeira e Ricardo José representaram os dirigentes.

A Semana Europeia do Desporto é uma iniciativa da Comissão Europeia que visa promover a prática de desporto e atividade física, bem como sensibilizar para as numerosas vantagens de ambos. É um acontecimento à escala europeia, com atividades que decorrem em vários países, e na edição deste ano, a oitava, aconteceu de 23 a 30 de setembro. No Algarve, durante esta semana, foram quase 200 iniciativas a ter lugar em todos os concelhos .

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QUARTEIRA APOSTA FORTE NA PROMOÇÃO DO POLVO

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina ecorreu, de 23 de setembro a 2 de outubro, mais uma Semana do Polvo de Quarteira, dinamizada pela Associação dos Empresários de Quarteira e Vilamoura, com o apoio da Câmara Municipal de Loulé e da Junta de Freguesia de Quarteira, com o intuito de promover mais uma vez o turismo gastronómico e contribuir para a promoção de um dos elementos emblemáticos da freguesia – o polvo – que esteve desde sempre ligada ao mar e à sua captura.

Na quinta edição do evento, 26 restaurantes da freguesia de Quarteira aliaram a criatividade à versatilidade gastronómica do polvo e as sugestões multiplicaram-se, desde o tradicional ao mais arrojado e surpreendente, num conjunto de propostas que alternaram entre a cozinha nacional e internacional. Este ano, a inauguração da Semana do Polvo ficou a cargo dos alunos do Curso Profissional de Cozinha e Pastelaria da Escola Secundária Dr.ª Laura Ayres, que encantaram o público no showcooking realizado no Largo do Mercado de Quarteira. A oportunidade de voltar a

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provar o melhor polvo do mundo voltou a repetir-se nos dias 25 e 30 de setembro, pelas mãos do Chef José Moura, em dois showcookings promovidos pela Docapesca, S.A. no Largo do Mercado de Quarteira. Perto do encerramento da V Semana do Polvo, no dia 30 de setembro, o Rancho Folclórico Infantil e Juvenil de Loulé levou música, dança e tradição ao passeio da Marina de Vilamoura .

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SAGRES VOLTOU A RECEBER O MAIOR EVENTO NACIONAL DEDICADO ÀS AVES E À NATUREZA Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina 74ALGARVE INFORMATIVO #358
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ealizou-se, de 1 a 5 de outubro, mais um Festival de Observação de Aves & Atividades de Natureza, o maior evento dedicado às aves e à natureza no nosso país e que voltou a atrair ao concelho de Vila do Bispo, mais propriamente a Sagres, muitas centenas de turistas provenientes de vários pontos do globo, para descobrir a natureza da região e, em particular, a migração outonal das aves.

Nesta 13.ª edição, o programa do Festival incluiu 280 atividades, na sua maioria gratuitas, desde saídas de barco para observar aves, golfinhos, grutas e falésias, até workshops de fotografia, pintura e ilustração, passando por

passeios de caiaque, de bicicleta e a pé, sem nunca descurar os jogos e desafios para os mais novos. Para participar bastava rumar ao Forte do Beliche, em Sagres, para se inscrever nas atividades pretendidas e obter a pulseira gratuita de participante que dava ainda direito a descontos em parceiros como restaurantes e alojamentos. Este ano, os participantes do festival tiveram igualmente direito a entrada grátis na Fortaleza de Sagres e na Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe, foram convidados a visitar uma exposição de ilustração dedicada às aves residentes e migradoras da região, no Forte do Beliche, bem como uma exposição de fotografia que retrata a colaboração entre pescadores e técnicos de conservação da natureza, no Centro de Interpretação da Lota de Sagres .

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CINETEATRO LOULETANO FESTEJOU DIA INTERNACIONAL DA PESSOA IDOSA Texto: Daniel Pina| Fotografia: Jorge Gomes 88ALGARVE INFORMATIVO #358

o dia 2 de outubro, Loulé foi palco de um evento muito especial, dirigido em particular a todos os que já ultrapassaram os 65 anos, com as comemorações do Dia Internacional da Pessoa Idosa 2022 a levarem dois convidados especiais ao Cineteatro Louletano, nomeadamente o cantor

Fernando Tordo e o comediante Serafim.

Dezenas de seniores do concelho de Loulé divertiram-se com a boa disposição do alentejano Serafim, seguindo-se o concerto de Fernando Tordo, que apresentou «As Canções da Minha Vida», num evento promovido pelo Departamento de Ação Social da Câmara Municipal de Loulé .

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THE LUCKY DUCKIES

ENCERRARAM FESTIVAL INTERNACIONAL DE GUITARRA DE LAGOA Texto: Daniel Pina| Fotografia: Ricardo Coelho ALGARVE INFORMATIVO #358

nona edição do Festival Internacional de Guitarra de Lagoa chegou ao fim, no dia 1 de outubro, com a atuação dos The Lucky Duckies no Auditório Carlos do Carmo, em mais um brilhante espetáculo

que esgotou este equipamento cultural de público português e estrangeiro. Antes disso, a organização conjunta da Associação de Guitarra do Algarve e do Município de Lagoa, nas pessoas de Eudoro Grade e da vereadora Ana Martins, apresentaram o Concurso Internacional de Guitarra Cidade de Lagoa .

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FESTIVAL INTERNACIONAL DE PIANO DO ALGARVE ARRANCOU NO CINETEATRO LOULETANO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Jorge Gomes ALGARVE INFORMATIVO #358

Cineteatro Louletano acolheu, no dia 1 de outubro, um concerto para piano a quatro mãos, comporto pelo Maestro Armando Mota, e interpretado por Mário Laginha e Pedro Burmester, acompanhados pela Orquestra Sinfónica do Algarve. Trata-se do único concerto escrito por um compositor português para este tipo de formação musical, sendo a sua execução

extremamente rara, ainda mais com Orquestra Sinfónica.

A obra é dedicada a Bernardo Sassetti e foi executada por dois nomes consagrados e amigos de Sassetti, Mário Laginha e Pedro Busmester, aos quais se juntou o próprio maestro Armando Mota. O programa incluiu ainda a Abertura da «Carmen», de Bizet, «Le boeuf sur le toit», de Darius Milhaud, e «Capriccio espagnol, Op. 34», de Rimsky-Korsakov .

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«MULHER REFLEXO» É O NOVO PROJETO MULTIDISCIPLINAR DA ARTIS XXI Texto: Daniel Pina| Fotografia: Marta Belo ALGARVE INFORMATIVO #358

Artis XXI levou a cena, no dia 24 de setembro, no Auditório Carlos do Carmo, em Lagoa, o projeto «Mulher Reflexo» com o objetivo de dar protagonismo e voz ao feminino. Para tal, ao longo de 50 minutos esta criação respondeu, através da música, do teatro e do movimento, à questão «mas o que existe para além de uma imagem captada através do simples reflexo do espelho?».

Este foi o mote e a pergunta que levou uma mulher música, uma mulher bailarina, uma mulher artista plástica, uma mulher compositora, uma mulher atriz e seis jovens mulheres, estudantes do curso profissional de técnico de apoio à infância, a partilhar no palco as suas dúvidas, emoções e perspetivas. “A ideia é fomentar a reflexão enquanto fazemos arte.Vemos muitas vezes a nossa vida projetada num rio, num

quadro, num ponto ou numa determinada circunstância e assumimos um papel de meros espectadores, da nossa própria vida. Para estas mulheres basta. A Mulher Turista deixará de existir, dando lugar à Mulher Reflexo que questiona todas as convenções e que opta por não assistir de forma inócua ao reflexo da sua existência. Desde a mãe, a cuidadora, a mulher, todas são parte integrante e crucial para a subsistência da humanidade. Apesar de vivermos numa sociedade, ainda, assombrada pelo paradigma do machismo, grandes foram também os homens que sempre respeitaram, cuidaram e sobrevalorizaram as mulheres da sua vida”, refere Elsa Mathei, Diretora Artística do projeto .

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Assédio (a)moral! Paulo Cunha (Professor)

ualquer comportamen to indesejado (palavra, atitude, entre outros) praticado com algum grau de reiteração, que tem como objetivo afetar a integridade física e/ou psicológica de uma pessoa ou criar um ambiente intimidatório, hostil, humilhante e desestabilizador é considerado assédio. Pelas piores razões, ouvimos falar e lemos imensas notícias sobre assédio sexual, deixando, muitas vezes, para trás e até banalizando ou normalizando o apelidado assédio moral (moobing). É possível encontrar em qualquer dicionário a definição de assédio moral como sendo a "pressão psicológica exercida sobre uma pessoa, de forma repetida e prolongada, geralmente por alguém em posição de poder ou superioridade".

Os atos de assédio moral ou intimidação, seja ela de que cariz for, não podem ser tratados com leviandade e despreocupação. O local de trabalho acaba por ser muitas vezes um sítio propício a este tipo de comportamentos abusivos, uma vez que é fácil que exista a superioridade de um indivíduo em relação aos demais.

A prática de assédio moral é identificada quando as pessoas são

expostas a situações humilhantes e constrangedoras, de forma repetida e prolongada. Essa conduta causa isolamento, instabilidade e descontrolo emocional na vítima, reduz a sua autoestima e origina a degradação das condições de trabalho. A maior consequência, considerada como limite, forçará o trabalhador a apresentar a demissão para se conseguir libertar dessa insuportável realidade. O trabalhador lesado será sempre o mais prejudicado, contudo estes atos podem trazer situações e ambientes devastadores para todos os funcionários de uma organização. Numa situação de assédio moral explícito, as consequências acabam por ir muito além da vítima. O medo e a insegurança acabam por instalar-se nos restantes membros da organização, pois vivem com receio de, facilmente, poderem tornar-se nas próximas vítimas. Ninguém gosta de ver alguém ser perseguido e muito menos gosta de sentir que algo semelhante lhe poderá acontecer!

São estes os sinais indiciadores de que poderemos estar a ser vítimas de assédio moral: estabelecerem metas e objetivos impossíveis de atingir ou prazos inexequíveis; atribuírem funções estranhas ou desadequadas à nossa categoria profissional; não nos atribuírem quaisquer funções – falta de ocupação efetiva; apropriarem-se das nossas ideias, propostas, projetos e trabalhos, sem nos

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identificarem como os autores das mesmas; desprezarem-nos, ignoraremnos e/ou humilharem-nos, forçando o nosso isolamento face aos outros colegas e superiores hierárquicos; sonegarem-nos informações necessárias ao desempenho das nossas funções, sendo, no entanto, facultado o conteúdo dessas informações aos nossos colegas; divulgarem rumores e comentários maliciosos ou críticas

reiteradas sobre nós aos colegas de trabalho, subordinados ou superiores hierárquicos; fornecerem-nos instruções de trabalho confusas e imprecisas; pedirem-nos trabalhos urgentes sem necessidade; insinuarem que temos problemas mentais ou familiares; transferirem-nos de setor com a clara intenção de promover o nosso isolamento; falarem-nos aos gritos para

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nos intimidar; marcarem o número de vezes e contar o tempo que demoramos na casa de banho; ofenderem-nos, fazendo brincadeiras frequentes referentes ao sexo, raça, opção sexual ou religiosa, deficiências físicas e/ou problemas de saúde; provocarem situações objetivas de stresse para que nos descontrolemos.

Os trabalhadores vítimas de assédio moral relatam uma série de sintomas físicos e psicológicos negativos, que incluem dores de cabeça, dor crónica, depressão e ansiedade. É, então, praticamente inevitável que o desempenho no trabalho seja afetado, podendo até levar ao término da carreira. Quando existe assédio moral num local de trabalho, mesmo aqueles que não participam no processo podem sentir-se afetados e receosos de poderem vir a tornar-se também num alvo. Como tal, o comportamento deixa de ser natural, passando a ser meticulosamente pensado e controlado por forma a não afrontar os autores do assédio moral.

Segundo o estudo realizado pelo Centro Interdisciplinar de Estudos de Género, 16,5% da população ativa portuguesa já vivenciou uma situação de assédio moral no trabalho, sendo que 12,6% da população inquirida refere já ter sido vítima de assédio sexual no local de trabalho. Embora a maioria das pessoas alvo de assédio moral e sexual no local de trabalho sejam mulheres, estas formas de assédio também afetam um número expressivo de homens. É importante que a pessoa que se sente assediada: manifeste claramente ao/à agressor/a o seu desagrado e recusa; partilhe com

alguém (como familiares, amigos/as da sua confiança e colegas) o problema que a afeta; apele à solidariedade dos/as colegas de trabalho; encare a situação de assédio enquanto problema sério, que realmente é, para que o seja também para todos os que a rodeiam.

Uma vez que o assédio é, por vezes, de difícil identificação e prova, é importante manter um registo dos incidentes ocorridos, nomeadamente: quando e onde ocorreu; o que foi dito ou feito; como se sentiu a vítima, pessoas envolvidas e potenciais testemunhas; nomes e endereços das pessoas dispostas a apoiar eventual queixa; qualquer evidência escrita da situação, como documentos, cartas ou e-mails. O registo dos incidentes ocorridos é importante, uma vez que poderá ser utilizado para ilustrar um padrão dos acontecimentos, que servirá de suporte ao caso e que constituirá evidência válida na eventualidade de recurso a vias legais. Qualquer que seja a situação de assédio no local de trabalho, é fundamental acionar medidas que assegurem a sua resolução e cessação.

Nunca tendo sofrido qualquer tipo de assédio, preocupo-me e solidarizo-me com todos aqueles que não podem afirmar o mesmo. É por eles, que em silêncio escondem e calam as consequências deste tipo de violência, que aqui, na forma de palavras, tento darlhes a mão. Agarrem-na! .

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António Gancho: O gancho poético que fere e nos segura Adília César (Escritora)

“Quando desaparecer/ hei-de pedir à noite/ que me consuma com ela/ que me devaste a alma/ não quero mais/ quero desaparecer na noite/ e só de noite consumir-me” (p. 139).

António Gancho (1940-2005), in O Ar da Manhã, 1995

le tinha umas «mãos curvas de milagre», molhadas de nervosismo, mãosdelírio, mãospensamento. Que guardava António Gancho nas mãos que tão cedo deixaram de escrever? Via-se que ele – o rapaz de vinte anos – estava ali; mas ele – o homem de sessenta e cinco anos –não estava realmente ali, enquanto entontecíamos nos seus olhos muito azuis, nas suas mãos mergulhadas no tempo todo de uma vida: após uma tentativa de suicídio, aos 18 anos, António Gancho foi declarado esquizofrénico e acabou por passar trinta e oito anos em instituições psiquiátricas até à sua morte na Casa do Telhal em Sintra. Ficou assim a sua vida suspensa, por vontade do pai e dos médicos, pouco depois do episódio atabalhoado da tentativa de pôr fim à vida com o fio do telefone. Vida ferida pelos ganchos dos dias, vida atada e desfeita em fios de linguagem. Uns e outros – os ganchos e os fios – sempre presentes na escrita e na ausência da

própria escrita, nos poemas aniquilados pela dificuldade de transmutação de todas as coisas – as horas que passam tão sem passar, a materialidade sonora dos versos mais lúdicos e surrealistas, a totalização do homem na natureza, a mulher que se ama e se erotiza, o amor puro e duro no acto sexual transcendente; e a poesia, a sua função e o processo maravilhoso da criação poética, ao considerar que quando “A poesia nasce e faz-se aqui neste fazer-se poesia / (…) faz o homem o ser absoluto por natureza” (p. 9).

António Gancho imaginava uma comunhão total na origem das coisas, o sol e o poema feitos de luz. É luminoso o sol nascente a cada dia; e o mesmo poder brilhante é dado a cada poema escrito na folha de papel: “Nasce o sol e nasce o poema/ e com esta simultaneidade / o que o poeta significa é que a sua arte é luz / esta manhã o poema nasce no ventre do papel e nasce o Sol no horizonte do papel” (p. 38). Parecia caminhar no sentido inverso da prisão em que se encontrava há tanto tempo, na procura de uma alusão

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poética que desse sentido a tudo o que tinha e não tinha acontecido na sua vida. Uma vida em pausa, à espera de qualquer coisa que nunca chegou. E para isso, o poeta escreve e «abre» aquilo que tem ao seu alcance, distanciando-se da sua esquizofrenia, o «tu» demolidor:

“Tinhas uma sensação absoluta de estares aberto com o espaço duma grade/ tinhas um ser-te grave o olhar para fora do dia/ inaugurado de verde/ Que se te abrisse a letra/ era desejo de teres fonemas no nada de uma mão aberta/ sem um rogar de branco./ O Sol aberto em sentido de alusão a uma palavra de si/ era nada de o poente estar em sentido inverso” (p. 54).

António Luís Valente Gancho nasceu em Évora em 1940. Foi para Lisboa aos 16 anos com a família, onde descobriu o Café Gelo, no Rossio, hoje desaparecido, mas que então era o ponto de encontro de um grupo surrealista, e que veio a ter grande impacto na sua escrita. É pela mão do amigo e poeta Herberto Helder que alguns poemas de António Gancho são publicados pela primeira vez, numa antologia editada em 1985 pela Assírio & Alvim: Edoi Lelia Doura das Vozes Comunicantes da Poesia Moderna Portuguesa. Em 1995, a mesma editora publicou o volume O Ar da Manhã, reunindo quatro livros: O Ar da Manhã, Gaio do Espírito, Poesia Prometida e Poemas Digitais; e ainda o conto As Dioptrias de Elisa (1996).

E depois, nada. Apesar destas publicações, parece ter permanecido à margem da poesia institucional portuguesa. E hoje, será um poeta

esquecido? Na verdade, a partir de 1986 que António Gancho deixou de escrever poemas. Quantas palavras são precisas para imortalizar um homem? Muitas, decerto. Mas talvez bastem algumas dezenas de poemas, para considerar o frágil António Gancho como o ar intensamente poético que ainda perfuma as nossas manhãs de hoje:

“Faço um poema e nasce uma cidade/ invento o conteúdo geográfico das coisas. (…) Ah, se onde ponho a imaginação nasce um lírio/ derramemme a história duma amante sobre a cabeça/ pois sou o amante duma perversão absoluta” (p. 41).

Esta era a obsessão e o poder do poeta António Gancho, o epicentro desconhecido do fio de tudo. O amor? Amar o quê? Uma mulher? Tinhas de saber o que amas, tinhas de saber quem amas e quem te ama a ti, António. Disseste que nenhuma mulher te amou. Mas casaste-te com esse lugar onde te encerraram e deitaste-te no seu coração de colmeia. Alvéolo antigo, prometido favo de mel com cura de fel. Fica atento, há uma grande excepção à regra: podes comer todo este mel, todo esse fel, sem nunca conheceres o amor. Enquanto vivias aí para sempre, à espera de um final feliz, querias ser o rei, mas morreste antes de fundirem o ouro com que seria feita a tua coroa. Não sabes das abelhas, as escravas que te amavam, as palavras que pairavam na tua cabeça, os bichos da tua esquizofrenia. Mandaste todas as escravas embora, obedientes, a zumbir, de cada vez que engolias os comprimidos que te ofereciam. E eu,

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quando leio os teus poemas, lavo os cabelos com a pureza do mel e encosto o espírito à rede desenhada com ouro líquido. Funde-se com o pensamento nas raízes de dor. Fecunda-se no seu súbito significado, os súbitos dos dedos hirtos. A dor é mais eterna do que o amor escondido numa grinalda velha cheia de pó. As mulheres não são princesas encantadas, não te cobrem com colchas macias de veludo. As normas gerais foram escritas pelos insectos presos no mel e o sol implodiu, levou com ele tudo o que sabia sobre a possibilidade do amor. A nudez, essa janela falsa sobre a noite tão escura. O erotismo, essa abstracta impossibilidade. Não és capaz de fechar o postigo, não consegues perceber a excepção. Vê que as abelhas inúteis, indecentes, já não voltam. Retiraram o ouro às tuas veias, esse metal omnipresente, alucinatório, cansativo e vil. Deixaram-te vazio, de coração apagado, carregado de ferrões alucinatórios. Pego nele com as minhas mãos curvas de milagre, queres? Isto é que é um coração cheio de amor? Entupido com bolas de pão duro? No enterro das nuvens ninguém tem fome, para que serve o teu corpo se as tuas mãos estão paralisadas, se os teus dedos são feitos de pó? Mas deixa-me ouvir as abelhas que dançam sobre os teus olhos azulinos de ninguém e que declamam os poemas que nunca chegaste a escrever. Toda a humanidade presa por ganchos poéticos nas nossas mãos curvas de milagre. Anda António, não engulas mais comprimidos, que te fazem mal ao coração. Vamos comer bolinhos e beber copos de leite.

Dizes que sim, comes bolinhos e bebes copos de leite, mas tudo ficou por dizer, pois deixaste de escrever poemas há muito tempo. A tua vida foi uma narrativa intensa, embora desviada da plenitude. Na última linha esperava-se a outra metade da história: acontecimentos apenas habitáveis, mas nunca deveras vividos. E por fim, existindo um território comum, uma partitura criativa e fecunda, como se o silêncio da contemplação fosse a viagem eterna de regresso às nossas origens, o teu coração parou. Assim o tempo a passar é um grito azul clarinho: guardase em qualquer lugar despercebido, como uma marca d’água sem consequências. A perplexidade é sentimento quente que arrefece abruptamente no colo, sobre as mãos. Faz-se tarde. É sempre tarde quando o silêncio se funde com as nossas gargantas. É demasiado tarde quando o gancho nos rasga o pensamento e os milagres deixam de acontecer. Dizes que nada disso tem importância, que em redor daquela última noite ainda nasciam ruídos de boca e outros caminhos; mas não, afinal apenas tinhas voz no tempo em que as grades derretiam e os muros desmoronavam na boca da liberdade. Morreste-nos. Faz tanto frio nesta falha da memória sobre o que foi a tua vida. E ninguém sabe o que fazer com esse imenso frio do esquecimento .

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As melhores dicas de marketing digital Fábio Jesuíno (Empresário)

marketing digital é muito

importante para o sucesso das marcas, sendo cada vez mais indispensável a sua utilização.

O Marketing Digital é o conjunto de estratégias e tácticas digitais que as marcas (ou pessoas) utilizam para atingirem os seus objetivos de marketing. Estas estratégias podem ser implementadas por meio de vários canais online, com o principal objetivo de adquirir clientes, desenvolver a presença de uma marca e conectar-se com o seu público-alvo.

Criação de conteúdos

Os conteúdos são essenciais para as marcas construírem progressivamente um relacionamento de confiança com o seu público alvo e dessa forma conquistarem a preferência, principalmente no momento atual, com a procura elevada de conteúdos online. É sempre importante a implementação de uma estratégia focada no mercado alvo, porque nem todos os conteúdos que se criam são relevantes para obtenção de bons resultados em termos de posicionamento nos motores de busca, redes sociais e na credibilidade do negócio.

Criação de vídeo

Nos últimos anos o vídeo tem apresentado um grande crescimento de popularidade, consumindo a maioria do tráfego da internet. Os vídeos permitem apresentar um serviço ou produto de uma forma que seja mais facilmente compreendida pelo público.

O consumo de vídeo é muito elevado, sendo o momento ideal para criarem um canal no YouTube, apostarem no Reels do Instagram ou TikTok.

É também o tempo dos vídeos em directo, as famosas lives que se tornaram muito relevantes, criando já vários sucessos, principalmente no Instagram e TikTok.

Utilização de micro influenciadores digitais

A utilização dos micro influenciadores digitais é cada vez mais forte nas estratégias de marketing digital das marcas, tonando-se fundamental devido aos resultados gerados. Os micro influenciadores digitais vão ser os principais impulsionadores das marcas do futuro.

Os micro influenciadores digitais são pessoas aparentemente comuns que têm uma boa reputação num nicho específico. Possuem, em média, entre cinco a 20 mil seguidores nas redes sociais e geram normalmente mais identificações e, consequentemente, mais atenção e engagement. Normalmente partilham conteúdos que gostam e de uma forma

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natural e atraem pessoas com os mesmos interesses. A maioria torna-se especialista numa determinada temática muito específica, atraindo dessa forma as marcas do mesmo segmento de mercado.

Estas são apenas algumas dicas de marketing digital para poder ajudar a continuar a comunicar junto aos clientes e ao publico alvo. Porque, em momentos de crise, surgem novas oportunidades .

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Dos hospitais da alma

Dora Gago Nunes (Professora)

o livro O infinito num junco, Irene Vallejo refere detalhes sobre uma biblioteca egípcia relatados por um viajante grego, Hecateu de Abdara, que, no tempo de Ptolomeu I, visitou o Templo de Amin em Tebas. Nesse templo, viu, numa galeria a biblioteca sagrada sobre a qual se encontrava escrito «lugar de cuidado da alma». Instintivamente, aderi a esta ideia das bibliotecas como hospitais de alma que poderia até ser corroborada com os recentes desenvolvimentos da biblioterapia, baseada no poder terapêutico dos livros, que poderão ser receitados como medicamentos para ajudar a ultrapassar diversos problemas do foro psicológico. Aliás, segundo consta, esta terapia já seria utilizada durante o tempo de Platão, tendo conhecido um considerável desenvolvimento durante a Primeira Guerra Mundial.

Instintivamente, ao ler esta passagem de Irene Vallejo vi-me transportada para as várias bibliotecas que visitei ou que poderemos dizer mesmo, habitei provisoriamente nestes últimos anos: desde a Biblioteca Nacional à Biblioteca Pública de Évora, passando pelas municipais de Alvito, Viana do Alentejo, São Brás de Alportel, pelas americanas (UMASS Amherst, Brown, Harvard), a

British Library e, claro, terminando nas de Macau. Cada uma com suas regras, suas estantes, sua forma de se relacionar com os leitores e com o mundo. Todas elas reinos de silêncio abertos a todas as vozes dos mais diversos quadrantes e culturas.

Em Macau há alguma abundância de bibliotecas, algumas com instalações muito acolhedoras e o mais impressionante é estarem geralmente cheias, como nunca vi em Portugal nem noutros lugares. Contudo, na verdade, neste território, há sempre muita gente em todo o lado. O público que as frequenta é maioritariamente mais idoso e procura sobretudo a leitura de jornais em mandarim ou cantonês. Mas também se vêem alguns jovens e crianças acompanhadas pelos pais. Curiosamente, com as restrições impostas pela pandemia, foram sempre as bibliotecas os primeiros espaços a fecharem e os últimos a abrirem.

Aqui em Portugal, vi, recentemente, a notícia de um excelente projecto, dinamizado pela Biblioteca Municipal Sophia de Mello Breyner de Loulé, intitulado «Livros Livres-Leve, Leia, Devolva», que pretende libertar os livros em «mini-bibliotecas» colocadas nos mais diversos espaços, tornando-os mais acessíveis, próximos dos eventuais leitores, fomentando também uma partilha.

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Em suma, espaços perigosos ao longo dos tempos, sem dúvida, as bibliotecas, de hospitais de alma a focos de resistência, interditos, destruídos e queimados ao longo dos tempos, sobretudo por potenciarem a circulação de outros tipos de vírus: da lucidez, do espírito crítico, da imaginação a galopar desenfreadamente pelos milhares de

páginas que habitam na poeira das estantes. Por tudo isto, talvez daqui a uns anos sejam os últimos museus de um tempo, de um mundo a englobar séculos, onde já muito além da galáxia dos livros de luz, os mundos de tinta e papel, hoje ainda nelas contidos, sejam remotos resquícios de uma dimensão neojurássica da Humanidade que fomos .

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