ÍNDICE
Apresentação do Réveillon de Albufeira (pág. 26)
«Arte Larga» em Olhão (pág. 34)
«A Menina dos Cabelos de Ferro» no Cineteatro Louletano (pág. 46)
«Lisbon Poetry Orchestra» no Auditório Municipal de Olhão (pág. 60)
José Saramago recordado no Teatro Lethes (pág. 72)
«O valor das pequenas coisas» do LAMA Teatro no Teatro Lethes (pág. 90)
Camané no Auditório Carlos do Carmo, em Lagoa (pág. 106)
Festival MOCHILA encantou Espaço Quintalão, em Faro (pág. 114)
OPINIÃO
Mirian Tavares (pág. 126)
Ana Isabel Soares (pág. 128)
Fábio Jesuíno (pág. 130)
ALBUFEIRA CARPE NOX REGRESSA COM SKYDIVE ARTÍSTICO, RUI VELOSO & TATANKA, PADERNE MEDIEVAL E FESTIVAL SOLRIR
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina e Município de Albufeira Cais Herculano, junto à Praia dos Pescadores, foi palco, no dia 4 de novembro, da apresentação oficial do programa de Réveillon de Albufeira, que regressa em força, após dois anos de interregno devido à pandemia, “para manter e reavivar este que é um destino conhecido nesta altura do ano, nacional e internacionalmente”, referiu o presidente da Câmara Municipal, José
Carlos Rolo, reconhecendo que “quando se atinge um determinado nível de qualidade e atratividade, é difícil mantê-lo, mas seguramente que isso vai acontecer”.
Na cerimónia, o edil apelou a que todos apoiem este programa e salientou a importância da segurança, “pois queremos conservar a imagem de um destino seguro, para o que têm contribuído as forças de segurança, como a Delegação
Marítima, Associação de Nadadores-salvadores, Proteção Civil, GNR e Bombeiros”. Para além de representantes destas entidades estiveram ainda presentes diversos empresários, nomeadamente da APAL –Agência de Promoção de Albufeira, que apoia o evento, sobretudo no que toca ao alojamento. José Carlos Rolo sensibilizou ainda os comerciantes para não deixarem as suas casas às escuras nessa noite, a fim de que a cidade seja um símbolo do bom acolhimento. Também o vice-presidente da APAL, Vítor Vieira, reforçou este apelo, dizendo que, “não obstante não serem noites rentáveis, é preciso encarar este momento como uma promoção a longo prazo das suas casas”.
De seguida, Carla Ponte, Chefe de Divisão do Turismo, deu a conhecer mais pormenorizadamente o Programa da Passagem de Anoque começa logo a 29 de dezembro, com o tradicional Paderne Medieval. A recentemente classificada
como «Aldeia de Portugal» faz pela 14.ª vez uma viagem no tempo, até dia 1 de janeiro, com o centro antigo de Paderne a ser convertido num cenário do século XIV, com um mercado tradicional, arruadas musicais, cortejos, teatros de fogo, leilões, concertos, recriações históricas, demonstrações de artes e ofícios e comidas tipicamente medievais. O evento será, à semelhança de outros anos, transmitido em direto na TVI através do programa «Somos Portugal», numa emissão de seis horas repleta de entrevistas e reportagens sobre todo o concelho.
O festival humorístico Solrir volta, igualmente, para dar o adeus a 2022, com Abdiás Melo, o famoso humorista brasileiro que ganhou destaque no nosso país depois de uma entrevista no Aeroporto Humberto Delgado, a ser um dos cabeças de cartaz do evento que acontece, como de costume, no Palácio de Congressos, nos Salgados, de 30 de dezembro a 1 de janeiro. Mas a noite da Passagem do Ano foi, como seria de
esperar, o grande destaque da apresentação. Depois do sucesso da edição de 2020, onde 180 mil pessoas assistiram a um espetáculo inesquecível do areal da Praia dos Pescadores, o
Albufeira Carpe Nox 2023 prepara-se para animar a última noite do ano.
No palco teremos Rui Veloso num concerto único com um alinhamento especialmente preparado para esta
grande celebração, com o «Pai do Rock Português» a ter a seu lado Tatanka, dos The Black Mamba, para uma performance inédita, com duetos impossíveis de imitar e recordando os 30 anos de carreira da voz de «Chico Fininho». A contagem decrescente para
as 00h00 parte do palco com uma composição musical do DJ Gualter, complementada com um momento piromusical aquático e uma coregrafia aérea de Skydive com luz e pirotecnia, inédito na Europa .
«ARTE LARGA» ENCHE OLHÃO
DE CULTURA DURANTE DUAS SEMANAS
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
rte Larga» é uma proposta cultural dinamizada pela Câmara Municipal de Olhão que reúne, ao longo de 13 dias, de 3 a 15 de novembro, no Auditório Municipal, cerca de 30 atividades em que participam mais de 100 autores e artistas. Da poesia ao romance, passando pela investigação histórica, da música à dança, passando pelo teatro, do cinema à pintura e à escultura, o programa procura levar o público ao encontro das artes e estas ao encontro do público.
Dando um particular destaque aos autores, o «Arte Larga» promove a partilha de conhecimento e experiência entre criadores e pensadores e entre estes e o público, com propostas de espetáculos, apresentações, palestras e debates, sempre com entrada livre. E, na noite de abertura do certame, o foyer do Auditório Municipal de Olhão encheu-se para dar a conhecer ao público algumas das obras de José Henrique Rodrigues numa exposição póstuma, bem como as pinceladas da arte in loco de Igor Nunes Silva e os trabalhos de banda-desenhada de Miguel Mendonça e Milton Aguiar .
«CENÁRIOS» DE 2022 «A MENINA DE CABELOS PELA ASSOCIAÇÃO ARTÍSTICA
ARRANCOU COM CABELOS DE FERRO», ARTÍSTICA SATORI
«Menina de Cabelos de Ferro» é uma história de fantasia inspirada no mundo Tim Burton, em que as personagens podem parecer à primeira vista estranhas e diferentes, mas serem no seu íntimo grandiosas e bondosas. Segundo esta produção da Associação Artística Satori, na era da Idade do Ferro, cerca de 2.000 A.C., na província da Galiza – que tem raízes na cultura Celta – existiam algumas lendas e foi sobre a de Urco em particular que se ouviu falar na noite de 5 de novembro, no Cineteatro Louletano.
Numa aldeia perto do cabo de Finisterra, aconteceu algo de muito estranho e amaldiçoado. Devido à exploração e criação de novas
ferramentas com materiais como o cobre, estanho, bronze, ouro, vidro, ferro, entre outros, algo correu mal e as pessoas começaram a fundir-se com esses materiais. Passados muitos anos, as gentes dessa aldeia continuavam a ser conhecidas pelas suas características muito específicas. As famílias eram de vidro, ouro e ferro. As famílias de vidro eram por norma cautelosas e amedrontadas; as de mãos de ouro, eram gananciosas e poderosas; e as de cabelo de ferro eram apenas felizes. A maioria das famílias criticava os de cabelo de ferro, por serem assim, diferentes. Quase todos os julgavam, sem os tentarem perceber. Até que um dia, a luz passou a ser sombra e escuridão e algo mudou.
«A Menina de Cabelos de Ferro» foi interpretada por Violeta Pshenychnikova, Anna Pirlog, Iúlia
Bogatiriova, Joás Oliveira, Rafael Martins, Sara Gonçalves, Vanessa Pineda e Manuel Dias, com encenação de Catarina Bernardino, produção de Tiago Guerreiro, Cenografia e adereços de Tiago Guerreiro e Cora Lippert e guardaroupa e figurinos de Cora Lippert. A 17.ª
edição do Festival Cenários – Mostra de Teatro de Loulé, organizado pelo Município de Loulé, prossegue com «Café» (19 de novembro) e «Reabriu a Pensão Luar do Cadoiço» (20 de novembro) .
LISBON POETRY ORCHESTRA VIAJOU ATÉ OLHÃO COM «OS
SURREALISTAS»
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pinaepois dos múltiplos concertos de norte a sul de Portugal, e de imensas colaborações com músicos, poetas e orquestras, a Lisbon Poetry Orchestra apresentou, em agosto de 2022, «Os Surrealistas», um disco que é também um livro-objeto de arte e um espetáculo a que os algarvios tiveram oportunidade de assistir, no dia 3 de novembro, no Auditório Municipal de Olhão, no âmbito do festival «Arte Larga». Foram convocados para esta nova viagem poetas como Alexandre O’Neill, António José Forte, António Maria Lisboa, Carlos Eurico da Costa, Fernando Lemos, Mário Cesariny, Mário-Henrique Leiria e Pedro Oom e o resultado final é um objeto de arte perene, com disco, poemas, pinturas de João Alves e fotografias de Vitorino Coragem, editado pela chancela «Cidade
Nua», albergada pela associação cultural «A Palavra». Mas houve mais cúmplices que alegremente saltaram a bordo, como A Garota Não, Adolfo Luxúria Canibal e Tó Trips, unidos pela visão indispensável da produção de Fred Ferreira.
Tudo isto se torna ainda mais verdade em cima de um palco, no qual a poesia é entregue com alegria, força e crença, de forma informal e sedutora a quem a quiser ver e ouvir, num cocktail magistralmente concebido pela Lisbon Poetry Orchestra, constituída pelos músicos Alexandre Cortez (baixo elétrico, teclados), Filipe Valentim (teclados), Luís Bastos (saxofone, clarinete), Mário João Santos (bateria, percussões) e Sérgio Costa (guitarra elétrica) e, claro, pelas vozes de André Gago, José Anjos, Miguel Borges, Nuno Miguel Guedes e Paula Cortes .
JOSÉ SARAMAGO RECORDADO NO TEATRO LETHES
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pinauem se chama José Saramago», dos Karlik Danza Teatro e do Teatro das Beiras, foi a cena, no Teatro Lethes, em Faro, nos dias 8 e 9 de novembro. A peça é uma meditação sobre o erro, uma visão sossegada do universo do escritor português em que se confrontam as diferentes fases da sua vida com os livros que as prepararam ou que foram sua consequência. Uma vida e uma obra que acabaram por merecer-se, um
labirinto em cujo centro reside a ascensão humana contínua de um homem que viveu desassossegado e escreveu para desassossegar.
A peça é interpretada por Jorge Barrantes, Sílvia Morais, Elena Rocha e Tiago Moreira, contando com a música de Alberto Moreno e Nuno Cirilo. A Direção Artística é de Cristina D. Silveira, com Dramaturgia de Rui Díaz Correia e Cristina D. Silveiral. Á criação contou com o apoio da Fundação José Saramago .
«O VALOR DAS PEQUENAS COISAS» DO LAMA TEATRO ESTREOU NO TEATRO LETHES
Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel PinaTeatro Lethes, em Faro, recebeu a estreia, no dia 3 de novembro, de «O Valor das pequenas coisas», do LAMA Teatro, inserido no MOCHILA — Festival de Teatro para Crianças e Jovens. Numa feira onde se vende de tudo, um rapaz rico não resiste a comprar tudo o que vê, vibrando ao sentir aquilo que o dinheiro lhe permite alcançar. Sente-se poderoso, um autêntico super-herói, e veste-se e age como tal. Até descobrir uma pequena banca onde encontra uma rapariga que lhe pode mudar a maneira de ver o Mundo, porque, aquilo que ela vende, não custa dinheiro. Na verdade, o dinheiro não lhe interessa, o que ela quer são coisas que fazem acelerar o coração.
Com criação e encenação de João de Brito a partir de um texto de David Machado, «O Valor das pequenas coisas» é interpretado por João de Brito, Vítor Silva Costa e Cleia Almeida, com música original interpretada ao vivo por Noiserv. A cenografia é de Wilson M. Galvão, o desenho de luz de Jorge Ribeiro, os figurinos da responsabilidade do conhecido estilista José António Tenente, numa produção do LAMA Teatro com coprodução do Lu.Ca – Teatro Luís de Camões, com o apoio institucional do Município de Faro. O LAMA Teatro é uma estrutura financiada pela República Portuguesa – Cultura | DGARTES –Direção-Geral das Artes .
AUDITÓRIO CARLOS DO CARMO, EM LAGOA, LOTADO PARA OUVIR CAMANÉ
o sábado, dia 5 de outubro, Camané sub iu ao palco do Auditório Carlos do Carmo, em Lagoa, para a apresentação do seu mais recente álbum, «Horas Vazias». Editado a 21 de outubro de 2021, com produção de Pedro Moreira, foi o primeiro álbum de estúdio de Camané em sete anos, constituído por 16 novos temas, entre clássicos, fados tradicionais e inéditos de Sérgio Godinho, Jorge Palma, Pedro Abrunhosa, Amélia Muge ou Carminho.
Para além dos temas do seu mais recente trabalho discográfico, não faltaram os fados mais emblemáticos da carreira do artista, fervorosamente aplaudidos por um auditório completamente lotado e rendido a uma das principais vozes do nosso fado. Viveu-se toda a alma do fado, as ovações prolongaram-se e enalteceram uma já longa carreira, e mais uma vez ficou demonstrada toda a admiração e carinho que o público tem por Camané.
MOCHILA —
Festival de Teatro para Crianças e Jovens, organizado pela companhia LAMA Teatro, animou a cidade de Faro, de 3 a 12 de novembro, com uma segunda edição composta por projetos de teatro, música, novo circo e performance, e ainda por oficinas, conversas e exibições de filmes, num total de 18 propostas que
aconteceram em diversos espaços culturais da capital algarvia e ao ar livre. Um desses locais foi o Espaço Quintalão, que acolheu, no dia 4 de novembro, «Histórias Suspensas», uma proposta de novo circo da Radar 360º com direção da coreógrafa Joana Providência, e, a 5 de novembro, «T0+1 – Um espetáculo entre 4 paredes e sobre 3 rodas», de Thorsten Grütjen (Tosta Mista).
Em «Histórias Suspensas», imaginamos três narradores de histórias, com o corpo e a voz a saltarem para dentro das histórias, agindo e reagindo através de voos, voltas e reviravoltas. “Criam-se desvios que nos levam a outras pequenas histórias e a ideia de suspensão acontece na ação e no enredo, que surpreende a cada momento. O Tempo nas histórias, ou pára ou passa muito rápido. Aqui suspende-se no olhar de quem assiste e partilha esta aventura”,
descreve Joana Providência. Neste projeto salta à vista um volume, que às vezes se confunde com uma casa ou um armário, e é ali que se guardam muitos segredos. “As portas vão-se abrindo e fechando, expondo e ocultando, personagens e situações. Neste armário de fabricar sonhos, as possibilidades são infinitas, e o limite é a própria imaginação”, descreve a coreógrafa este espetáculo que conta com interpretação e cocriação de António Franco Oliveira,
Filipe Caldeira, Julieta Rodrigues e Rui Paixão.
Quanto a «T0+1 – Um espetáculo entre 4 paredes e sobre 3 rodas», criado e interpretado por Thorsten Grütjen, retrata a vida de um artista de circo que perde todo o seu trabalho depois de uma pandemia ter abalado o mundo tal como o conhecíamos. O Artista-ClownMalabarista, no final do confinamento, faz-se à estrada com a sua mota de três
rodas e procura reencontrar a sua rua, o seu espaço público, o seu lugar de trabalho onde pode apresentar os seus espetáculos e reencontrar as pessoas. Mas, inesperadamente, é forçado a fazer uma paragem. Será uma avaria mecânica, ou será outra coisa? A resposta ficaram a saber as muitas crianças que encheram o Espaço Quintalão, no centro de Faro, nesta tarde de novembro .
Dos gatos Mirian Tavares (Professora)
ão me lembro do primeiro gato que tive, foram tantos ao longo da vida, que nem sei bem porque um dia decidi que gostava de gatos. Talvez a culpa seja da avó, que não gostava particularmente de animais (e desconfio que tampouco de pessoas), mas que admirava a independência e a altivez dos gatos. Conheci um gato branco, que andava lá pelo quintal e era bastante selvagem, a quem ela chamava de Dandy. Todos os gatos que passaram em sua casa, tornavam-se dandies, porque lhe parecia o nome mais adequado àquelas criaturas que, mesmo na mais extrema miséria ou abandono, não desciam do salto: olhavam a todos com alguma arrogância e passeavam-se pelos telhados elegantes e esguios. Meu primeiro Dandy era um gato vadio que apareceu na escola onde a irmã trabalhava. Ela chamou-me lá para buscá-lo e livrar o bichano do destino cruel que o diretor determinara – deixar o gato fechado e faminto para que à noite saísse a caçar ratos. Ela disse – “Ah, mas este gato é da minha irmã!”. E lá fui eu buscar o elemento, um gato cor de laranja, muito vivaço, que resistia a vir comigo enquanto eu fingia que o conhecia desde que nascera. Mas lá veio, debaixo do meu braço, a arranhar-me pelos cinco quarteirões que tinha de percorrer entre a escola e a nossa casa.
Viveu ainda uns bons anos. Minha mãe, que não gostava de gatos, mas não queria também que lhes maltratassem, aceitou o bicho e tantos outros que eu fui trazendo debaixo do braço, recolhidos das ruas. Anos mais tarde, já não vivia com os pais, apareceu a Carolina. Abandonada pela mãe, andava a miar pelos corredores da universidade (Federal de Sergipe, onde dava aulas na altura). Levei-a para casa e quando vim a Portugal com o filho recém-nascido, dois meses mal completados, trouxe também a gata. Imaginem eu com um bebé, mil sacolas e um gato. Por sorte o filho portou-se sempre lindamente nos voos. Chego ao aeroporto de Lisboa sozinha, com malas, sacolas, bebé e gato. Era muito cedo e o veterinário não estava no seu posto para verificar os documentos do bicho. O filho, a esta hora, decidiu esgoelar-se e eu, feito barata tonta, andava pelo aeroporto a tentar ver como tratava do filho, da gata, das malas… A minha sorte foi que encontrei um funcionário que também tinha um filho pequeno e disse – pode passar, faz de conta que não vi o gato. Dizem que os gatos são independentes, que não ligam aos donos, que são interesseiros. De facto, eles não são como os cães –sempre a choramingar por atenção. Mas ligam-se aos donos da mesma maneira –basta eu deitar-me na cama ou no sofá, que tenho quatro gatos à minha volta, ou sobre mim. Tive um que quando eu viajava entrava em stress profundo e
desenvolvia uma cistite nervosa. Quando chego à casa estão à espera atrás da porta. Houve um, ainda no Brasil, que me esperava na esquina de casa, todos os dias, quando eu chegava da escola. E depois acompanhava-me até à casa. O mano mais velho tinha um gato. Quando o mano morreu, o gato ficou ainda muito tempo à sua espera, à porta do quarto. O mano já não voltou e o gato não resistiu muito tempo também. Para que conste,
adoro cães. E coelhos, porquinhos-daíndia, leões e toda a bicharada, com exceção talvez dos répteis. Mas os gatos, sabe-se lá porque, provavelmente por culpa da avó, ocupam um lugar central nas minhas preferências. Mesmo que nalguns dias me apeteça fazer churrasquinho com as pestes que tenho cá em casa .
Sexagésima quinta tabuinhaVer o Tempo Ana
Isabel Soares (Professora)
o final do seu texto sobre A Metamorfose das Plantas, o filósofo alemão J. W. von Goethe (1749-1832) confronta-se com uma ausência vocabular: “precisaríamos de ter uma palavra geral”, afirma, “pela qual designássemos um órgão metamorfoseado em formas tao diversas e com as quais pudéssemos comparar todas as manifestações da sua forma” (§120)*. Para o ser moderno do Ocidente, a necessidade de encontrar a palavra ou a expressão verbal que designe o que se percebe é (apesar de tudo) ainda tão premente como a necessidade de se alimentar, agasalhar, ou assegurar a continuidade da espécie. É esta uma das razões pelas quais as línguas humanas se desenvolvem, avançam, recuam, adotam sentidos novos para palavras antigas, inventam sequências vocabulares para designar realidades inusitadas. Quando dizemos, por exemplo, «semente», sugerimos não apenas o conjunto de sons daquela palavra, ou a série de inscrições que ela exibe sobre um papel ou a tela de um computador: estamos a entender, a trazer, agregadas a «semente», uma constelação de ideias, mil imagens ou memórias de coisas, a rememorar objetos, sensações. Uma bailarina de loiça a girar numa pequena caixa de
música não é das aceções que mais velozmente assaltam a mente humana ao som da palavra «semente» – e, no entanto, num dos vídeos de Jorge Graça, na exposição «Saudade do cheiro a terra molhada», é essa a imagem que à frente do espectador se desenrola, em tempo real, quando confrontado com o movimento que o vídeo captou e nitidamente projeta, numa peça hiperrealista, durante 10 minutos completos: a dança da semente de um gerânio silvestre (também vulgarmente chamado «garfo», de nome científico erodium ciconium), abundante nos campos do Sul de Portugal. Chame-se-lhe o que se lhe chamar, mesmo que se identifique a planta, ainda assim o nome escapará à realidade, à imagem mostrada, a imagem de uma mutação na forma e no tempo. Mais do que essa lacuna de vocábulo, essa ausência que, lembra Goethe, faz o indivíduo reclamar por uma nova designação da metamorfose, da própria ideia da metamorfose, do movimento, da aparente lentidão, do momento do confronto com a realidade do tempo.
É precisamente para esta concreta realidade do tempo, para o chão real que situa o visitante da exposição, simultaneamente, naquele lugar ali e naquele tempo presente, que os quadros de Daniel Vieira e as fotografias e instalações de Jorge Graça dirigem o
foco. Se o mundo fora desse espaço tem, cada vez mais, a forma da aceleração, esta arte obriga a uma travagem: eixo visual e cinético de todo o conjunto exposto, a semente dança perante o visitante, primeiro em volteios rápidos, depois mais lentamente, até que o seu girar se desprende da perceção e se mantém apenas no espaço da paciência e da crença. O olhar do visitante centra-se, desde logo, no território: o que se vislumbra nas fotografias de Jorge Graça, mas, do mesmo modo, na densidade plástica (que é textural, que é opaca) da pintura de Daniel Vieira, é um chamamento, o apelo da terra. Nas imagens fotográficas, sempre que a figura humana aparece, oculta-se o rosto: para os habitantes deste lugar (entre os quais o visitante se sente incluído), dispensa-se aquela marca identificadora – o tempo detém-se, é certo, percebe-se noutros vestígios de velhice, nas costas dobradas, no próprio habitar dos lugares desertificados da serra algarvia. Mas, mesmo sem se verem as caras, as rugas reconhecem-se, estão all around us, não precisam necessariamente de ser marcas
sobre a epiderme. Um chapéu de palha denota a intemporalidade – e é desse mesmo modo que esta se incorpora num relógio de que desaparecessem os ponteiros. O mundo deteta-se nos rastos da passagem das horas; mas o poder desses sinais é a eliminação do rosto, como se marcasse a supressão do que situa cada indivíduo num lugar e num tempo distintos dos do outro. Apesar de tudo, porém, perder os traços individuais (o que faz de qualquer pessoa uma pessoa em particular) não significa, literalmente, uma aniquilação – pode ser entendido, antes, como a inscrição num tempo comunitário que agregue os indivíduos, em lugares partilhados, na ampla latitude do humano presente.
Nesta exposição, Daniel Vieira (n. 1937) e Jorge Graça (n. 1970) representam, cada um, um feixe individual cuja convergência geracional sugere um olhar sobre o tempo tal como ele é: fixado no imediato de uma fotografia, na pasta cromática sobre uma tela, ou na dança exata e sempre mutante de uma fertilização .
NOTA: A exposição «Saudade do cheiro a terra molhada» ainda pode ser vista no Convento de São Francisco, em Loulé. Termina a 19 de novembro. Acorrei a ela!
* J. W. von Goethe (1790). A Metamorfose das Plantas. Tradução, posfácio, notas e apêndices de Maria Filomena Mónica. Ed. do Saguão, 2022, p. 61.
A Web Summit é um festival de ideias inovadoras Fábio
Jesuíno (Empresário)
Web Summit é um autêntico festival de ideias inovadoras, que proliferam de uma forma natural, impulsionadas por uma energia empreendedora.
Este ano voltei a ter o privilégio de participar na Web Summit, onde podemos conhecer aqueles que tiveram e vão ter ideias que mudaram e vão mudar o mundo, uma experiência única e muito inspiradora, nesta que é a maior conferência de tecnologia e empreendedorismo do mundo.
Na Web Summit assistimos às grandes tendências que vão marcar a sociedade nos próximos anos. Participar no Web Summit é a oportunidade de conhecer e fazer parte daqueles que vão criar o futuro, aprender com os mais de 900 oradores, conhecer as mais de 2 mil startups e ter a possibilidade de fazer muito networking.
Este ano destacaram-se vários temas, tais como o Metaverso, a Web3 e NFTs, nesta que foi a maior edição de sempre, contando com 71 mil e 33 participantes de 160 países.
A cerimónia de inauguração da conferência, criada pelo irlandês Paddy Cosgrave, aconteceu no dia 1 de novembro com uma oradora surpresa, a Primeira-Dama ucraniana Olena Zelenksa, que subiu ao palco principal da Web Summit para denunciar que Moscovo está a usar tecnologia para aumentar a opressão na Ucrânia, apelando que a tecnologia pode ajudar em vez de destruir.
O mesmo dia também foi marcado pela intervenção do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, sobre a inauguração da Fábrica de Unicórnios, e pela intervenção de Changpeng Zhao, CEO da Binance, que falou sobre como o mundo está a mudar com as criptomoedas.
Um dos temas mais falados na Web Summit foi, sem dúvida, o Metaverso, houve várias sessões sobre este tema, estando direta ou internamente ligado, uma das mais interessantes foi a da Naomi Gleit, chefe de produto da Meta, que no palco principal mencionou que o objetivo deste novo mundo virtual não é substituir o mundo real, mas sim complementar. A responsável da dona do Facebook e Instagram destaca que o Metaverso é o futuro da internet, que será feito a três dimensões, não se
restringindo apenas aos videojogos e a óculos de realidade virtual.
A Web3 foi outra das protagonistas durante toda a conferência, esta nova internet descentralizada baseada em redes públicas de blockchain, esteve em destaque na sessão «Will Web3 make or break social media?», onde Sandeep Nailwal, cofundador da Polygon, falou sobre as redes sociais, como o Twitter, vão mais tarde ou mais cedo fazer a transição para a Web3.
Os NFTs foi outra das temáticas que estiveram em destaque, para isso contribuiu Nicole Muniz, a CEO da Yuga Labs, uma das maiores plataformas de NFTs do mundo, que no placo principal,
respondendo à crítica de que um NFT é apenas uma imagem digital que custa muito dinheiro, explicou que é tudo uma questão de direitos, o conceito de propriedade é o que faz a diferença nos NFT.
Um dos momentos que destaco foi a intervenção da Secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, que falou sobre o programa de vistos para nómadas digitais e disse que o mesmo deve ser ajustado brevemente para dar um benefício extra aos que optarem pelo interior do país.
Outro dos momentos foi a vencedora do Pitch da Web Summit, a Theneo, da Geórgia, que desenvolveu uma plataforma de IA dedicada às linguagens de programação, permitindo aos utilizadores importar coleções de API, possibilitando convertê-las em diferentes linguagens de programação.
Contactei com muitos empreendedores e sublinho a presença de muitas startups de países lusófonos, principalmente do Brasil, que foi a maior representação na cimeira, foram mais de 600 pessoas e 280 startups.
A Web Summit é, acima de tudo, uma grande comunidade de empreendedores, onde se promove o networking, debate e aprendizagem nas mais diversas áreas onde o digital está sempre presente .
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