ÍNDICE
Estátuas Vivas no Natal em Lagoa (pág. 22)
«Natal a 360» da Escola de Dança de Lagos (pág. 32)
«A Época Mágica» da LUEL em Albufeira (pág. 54)
«O Lobo, a Menina e o Caçador» no Cineteatro Louletano (pág. 66)
Dell Acqua e Coral Ideias do Levante deram Concerto de Natal em Lagoa (pág. 78)
«Choque Frontal ao Vivo» com Wesley Seme no TEMPO (pág. 90)
Orquestra de Jazz de Lagoa e Ilse Huizinga em Lagoa (pág. 98)
«Aurea Soul Sessions» no TEMPO (pág. 112)
OPINIÃO
Mirian Tavares (pág. 120)
Ana Isabel Soares (pág. 122)
Fábio Jesuíno (pág. 124)
Júlio Ferreira (pág. 126)
Carlos Manso (pág. 130)
Estátuas Vivas no Natal regressaram a Lagoa
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
os dias 16 e 17 de dezembro, o centro da cidade de Lagoa recebeu mais uma edição das Estátuas Vivas no Natal, com 16 mestres da arte da imobilidade, repartidos em 14 quadros artísticos, a encarnarem personagens baseados em diferentes temáticas, tais como o presépio vivo, a mitologia, as grandes personalidades da história, a religião, num percurso que se estendeu
pela Rua Coronel Figueiredo, pela Rua 25 de Abril e pelo Largo 5 de Outubro. Nesta edição estiveram em destaque duas efemérides, a celebração do centenário do nascimento de José Saramago (19222022) e o 25.º aniversário do falecimento de Madre Teresa de Calcutá, que foram assinaladas com duas estátuas vivas.
O evento, pioneiro no sul de Portugal, já conta com oito edições na cidade de Lagoa, com o objetivo de divulgar e dignificar a criação artística nesta arte
performativa singular e, simultaneamente, animar o centro de Lagoa e dinamizar o comércio local em plena época natalícia. Este ano, o público pode observar os quadros «Presépio Vivo», «Elfo», «Ghandi», «Cleópatra &
Marco António», «Mercúrio», «Homo Stressiens», «Marionetista», «Navegador Quinhentista», «José Saramago», «Music Box», «Madre Teresa», «Peregrino», «A Rendilheira» e «Rei Medieval» .
e 15 a 17 de dezembro, o Auditório Duval Pestana do Centro Cultural de Lagos esgotou por completo para assistir a «Natal a 360», o habitual espetáculo de Natal organizado pela Associação de Dança de Lagos. Ao longo de mais de hora e meia, os pupilos de Tess Sanders, Yuri Stroganov, Marina Khametova e Tatiana Ursu deliciaram a assistência com «Suite Ucraniana», «Doamne a Cappella», «Vida», «Natal Australiano», «Variação das Medusas»,
«Valenki da Rússia», «Um só mundo», «Kiss me under the Mistletoe», «Candy Candy Candy», «Flocos de Neve», «Presente da Moldávia», «Paz», «Chukchi da Sibéria», «Barynya Alegre», «Country América», «De Cuba, com Amor», «Malambo da Argentina», «Vesyaluha Belarus», «Fraternidade», «Variação Coral», «Luzes do Oriente», «Variação das Flores», «Tradição Fado», «Peregrinação», «Celebração Brasil» e «Suite Ciganas Amigas», que demonstraram todo o talento e versatilidade das alunas e alunos da Escola de Dança de Lagos .
Associação LUEL – Arte em Movimento apresentou, no dia 15 de dezembro, para um Auditório Municipal de Albufeira completamente esgotado, o espetáculo de Natal «A Época Mágica»,
em que subiram ao palco todas as suas classes de dança, nomeadamente, hiphop, dance fusion, danças de salão, ginástica rítmica, dança moderna e a nova stage academy. Um espetáculo para toda a família, cheio de música, animação e magia que deixou de corações cheios todos os presentes .
ÓPERA INFANTIL CONTOU A HISTÓRIA DE «O LOBO, A MENINA E O CAÇADOR» NO CINETEATRO LOULETANO
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Jorge GomesCineteatro
Louletano, em Loulé, recebeu, nos dias 13 e 14 de dezembro, a ópera infantil «O Lobo, a Menina e o Caçador», a partir de um texto de Gonçalo M. Tavares, com composição de Vasco Mendonça e direção de Inne Goris. No enredo perguntam-nos o que aconteceria se a floresta não for exatamente o que parece? Talvez aqueles que parecem amáveis sejam apenas tolos. E talvez aqueles que parecem perigosos, afinal não sejam assim tão perigosos. “Desonesto e ganancioso, é assim que
conhecemos o lobo, nos contos de fadas que nos contam. Mas, e se o lobo for só incompreendido? E se olharmos pelo seu ponto de vista? Aquele incidente com a Capuchinho Vermelho, aquela cena à porta dos porquinhos: nada é tão simples como pensamos. Por uma série de mal-entendidos, preconceitos, azar e coincidências bizarras, o lobo foi retratado como o vilão. É mais do que tempo de restaurar a sua honra. Ao inverter radicalmente a perspetiva existente sobre o papel do lobo, este espetáculo abre um espaço
para a necessidade de empatia e tolerância na nossa sociedade atual”, explica Vasco Mendonça.
A música de Vasco Mendonça tem sido frequentemente interpretada alémfronteiras por grupos como Asko|Schoenberg Ensemble, Nieuw Ensemble, Axiom Ensemble, Remix Ensemble, International Contemporary Ensemble, São Paulo Symphony, Orquestra Gulbenkian, Orquestra Sinfónica Casa da Música e Drumming GP. Tem sido convidado para grandes festivais de música como Festival d'Aixen-Provence, Aldeburgh Music, Verbier Festival, Musica Nova Helsinki, Musica Strasbourg, November Music, Gaudeamus Music Week e Morelia Music Festival, e tem-se apresentado em espaços como a Philharmonie de Paris, Lincoln Center, Het Concertgebouw Amsterdam, La Monnaie, Kaaitheater, Grand Théâtre du Luxembourg,
Elbphilharmonie, Centro Cultural Del Bosque, National Sawdust, Concertgebouw Brugge, Kölner Philharmonie, de Singel, Mousonturm Frankfurt, Casa da Música e Fundação Gulbenkian.
O seu interesse em compor para o palco levou-o a colaborar com algumas das mais modernas companhias de teatro musical da Europa, como Music Theatre Wales, Muziektheater Transparant e LOD Muziektheater, e com encenadores como Katie Mitchell, Michael McCarthy e Luís Miguel Cintra. Os seus trabalhos têm sido publicados pela Editions Alphonse Leduc (Wise Music Classical) e gravados pelas editoras Naxos e Classic Concert Records. Vasco Mendonça estudou com Klaas de Vries e George Benjamin, tendo sido distinguido com o Prémio de Composição Lopes Graça, ROLEX Mentor e Protegé Arts Initiative (com Kaija Saariaho), Compositor-Residente na Casa da
Música, recebeu várias bolsas artísticas do Ministério da Cultura e representou Portugal na UNESCO’s International Rostrum of Composers.
Inne Goris formou-se na Toneelacademie Maastricht em 1997, com a performance «Niet in staat tot slechte dingen». Após ter trabalhado como assistente educacional na BRONKS, uma produtora de Bruxelas de teatro infantil e juvenil, e como dramaturga na «Ultima Vez», companhia de Wim Vandekeybus, fundou a companhia ZEVEN em 2001. Neste mesmo ano, em colaboração com a BRONKS, estreou a performance familiar «Zeven», que contou com várias apresentações para crianças e famílias. Desde 2009, criou diversas produções para a LOD muziektheater, uma casa de produção de ópera e teatro musical em Gent.
Quanto a Gonçalo M. Tavares, publicou
o seu primeiro trabalho em 2001 e é considerado o melhor escritor português da sua geração e um dos mais influentes da Europa, de tal modo que os seus livros foram publicados em mais de 50 países. Estudou Física e Arte e ensina Epistemologia na Universidade Técnica de Lisboa. Conquistou o Prémio José Saramago para jovens escritores com menos de 35 anos, o Prémio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa, o Prémio LER/ Millennium, o Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores e o Prémio Literário Fernando Namora. A obra «Aprender a Rezar na Era da Técnica» recebeu o Prémio de Melhor Livro Estrangeiro 2010 em França e ganhou o Prémio Especial do Júri do Grand Prix Littéraire du Web Cultura 2010. O romance «Jerusalém», de 2005, foi incluído no edição de «1001 Books to Read Before You Die – a guide to the most important novels of all time» .
DELL’ACQUA E CORAL IDEIAS DO LEVANTE DERAM CONCERTO DE NATAL EM LAGOA
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Kátia Violao âmbito do seu plano de produções musicais para 2022, a Ideias do Levante organizou, em parceria com o Município de Lagoa e com o apoio da Paróquia de Nossa Senhora da Luz, o IX Concerto de Natal de Lagoa, com a formação Dell'Acqua, tendo como convidados o Coral Ideias do Levante. O concerto aconteceu no dia 11 de dezembro, numa Igreja de Nossa Senhora da Luz (Igreja Matriz de Lagoa) repleta de público.
A formação Dell’Acqua é composta por Carla Pontes (Soprano), Grace Borgan (Flauta-transversal) e Cristiana Silva
(Piano). Já o Coral Ideias do Levante é um grupo polifónico misto de Lagoa dirigido pela maestrina Maria Saramago. Os músicos interpretaram obras de Adolphe Adam (1803-1856), César Franck (18221890), Engelbert Humperdinck (18541921), John Joubert (1927-2019), entre outros. “Este evento é um dos mais aguardados e já um dos mais tradicionais da quadra natalícia em Lagoa, trazendo muito talento e bastante gente. Nada disto seria possível sem o apoio e generosidade dos parceiros e o empenho da produção na criação, promoção e concretização deste evento, como também do carinho do público que nos segue ao longo
de tantos anos. Estamos todos de parabéns e assim desejamos os votos de Boas Festas da melhor maneira que sabemos”, declarou Roberto Estorninho, presidente e produtor executivo da Associação Ideias do Levante.
A realização deste concerto visou, não só promover o trabalho artístico alusivo à quadra natalícia, mas igualmente o património religioso/arquitetónico do Concelho de Lagoa, através da angariação de fundos para as obras de restauro da Igreja de Nossa Senhora da Luz. Dedicada a Nossa Senhora da Luz, a Igreja Matriz de Lagoa remonta a inícios do século XVI (ou finais do XV), porém, são escassos os vestígios da primitiva construção manuelina, dada a destruição provocada pelo terramoto de 1755. Um dos elementos que subsiste é o portal
lateral de acesso à torre sineira, com o seu arco de volta inteira com colunetas encimadas por capitéis.
A reconstrução da igreja, iniciada pouco depois, reflete influências neoclássicas na imponente fachada com vãos sob frontões triangulares construída nos inícios do século XIX. Já a atarracada torre sineira remete para o barroco. Entre o diversificado património artísticoreligioso realça-se o magnífico retábulo em talha dourada e polícroma da Capelamor, onde figuram imagens de S. Sebastião e Nossa Senhora da Luz, a última atribuída ao escultor Machado de Castro. Dignos de referência são ainda os relicários e imagens do século XVIII, como o menino deitado numa cama de madeira ao gosto rocaille, ou alfaias litúrgicas como a naveta (vaso) de prata e o arcaz (móvel) em madeira do Brasil .
WESLEY SEME PROTAGONIZOU O ÚLTIMO «CHOQUE FRONTAL AO VIVO»
TEMPO – Teatro Municipal de Portimão foi palco, no dia 15 de dezembro, do derradeiro programa do ciclo «Choque Frontal ao Vivo», produzido e apresentado por Ricardo Coelho e Júlio Ferreira, da Rádio AlvorFM, desta feita com Wesley Seme.
O músico nasceu na Martinica e cresceu em França, tendo-se mudado para Portugal há cinco anos, depois de uma
amiga o ter incentivado a cantar num espetáculo que combinava dança com música. A experiência foi tão agradável que Wesley decidiu ficar mesmo pelo Algarve, prosseguindo o seu percurso a solo e participando igualmente noutros projetos musicais. Em França já tinha gravado um álbum gospel, sendo a sua carreira baseada em soul e gospel, ao ponto de se assumir como “uma espécie de Andrea Bocelli com soul”. Para além de espetáculos realizados um pouco por toda a região, gosta particularmente de cantar nas ruas de Lagos .
Auditório Carlos do Carmo, em Lagoa, acolheu, no dia 17 de dezembro, o concerto «A Christmas Story», que juntou em palco a Orquestra de Jazz do Algarve e Ilse Huizinga para uma noite recheada dos melhores clássicos de Natal.
Ilse Huizinga é uma das mais consagradas cantoras de jazz da Holanda e foi a convidada da Orquestra de Jazz do Algarve para o último programa do ano, que incluiu igualmente concertos em Silves, Lagoa e Lagos, e ainda dois concertos em formato quinteto, em Tavira e em Cachopo, este último inserido no
«Cachopo Jazz 22'». A tour contou com outro convidado especial, Michael Lauren, o baterista nova-iorquino que regressou ao Algarve para mostrar toda a sua mestria e musicalidade.
Estes concertos versaram uma linguagem mais tradicional, do jazz das Orquestras dos anos 40 a 60, nomeadamente, em vários temas e orquestradores, não faltando alguns da «season», como «Daydream», «Did You Mean It», «What Are You Doing New Years's Eve» ou «Let It Snow». Foram assim recordadas algumas orquestrações escutadas nas vozes de Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, entre outras .
oi num instante que esgotou o espetáculo que Aurea deu no TEMPO –Teatro Municipal de Portimão, no dia 17 de dezembro, num novo e contemporâneo conceito ao vivo que explora toda a paixão da artista pela soul music e o seu entusiasmo e capacidade vocal para interpretar os clássicos maiores da soul e nu-soul. Pelo
palco desfilaram grandes nomes da soul neste «Aurea Soul Sessions» pela voz de Aurea e interpretados por uma banda de excelência dirigida por João Gomes. E, porque estamos em época natalícia, neste especial «The Christmas Show» escutaram-se igualmente músicas de intérpretes como Aretha Franklin, Ella Fitzgerald, Marvin Gaye, Stevie Wonder, Pointer Sisters, Jackson Five, Tim Maia, entre muitos outros, que espalharam
Da importância das coisas Mirian Tavares (Professora)
“Um fotógrafo-artista me disse outra vez: veja que pingo de sol no couro de um lagarto é para nós mais importante do que o sol inteiro no corpo do mar. Falou mais: que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças nem com barômetros etc. Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós”.
Manoel de Barrosuando vivi em São Paulo, tive um amigo que me apresentava sempre assim: ela é crítica de cinema. E depois de uma breve pausa, provavelmente para acentuar o seu renovado espanto, dizia: e nasceu em Crato. Como se ter nascido em Crato, cidade do interior do Ceará, tornasse impossível o meu, naquela altura, trabalho – crítica de cinema. Ele não conhecia o Crato e não sabia que os manos me levaram ao cinema, pela primeira vez, tinha eu 3 ou 4 anos. Que depois dessa estreia nunca mais conseguiram afastar-me do fascínio da sala escura com muitas histórias projetadas ao fundo. Foi um casal de namorados que me disse uma das coisas mais importantes sobre os filmes – o herói sempre se salva no final. Viram-me a tapar os olhos numa cena de perigo e tiveram o cuidado de me alertar. E aquela menina, que era eu, e que na minha memória permanece a tapar os olhos na
sala do Cinema Moderno, continua a encantar-se com as imagens em movimento, com o movimento que conta histórias, com um ecrã gigante que engole até o medo da morte do herói e que prossegue em nós, mesmo depois da palavra fim. Noutra sala de cinema, o Cassino, com dois S, como se escreve no Brasil, deixei-me ficar duas sessões a ver uma versão da vida de Cristo que passava sempre na Semana Santa. A mãe foi lá me buscar, porque eu, teimosamente, queria ver de novo a história mais que conhecida, porque saber do fim era um alívio. Fui ainda, muitas vezes, à Educadora, uma sala multiusos, onde um dos manos, anos antes de eu nascer, tinha representado Marcelino numa dramatização do famoso, e lacrimoso, romance, Marcelino, Pão e Vinho. Crato sempre foi uma cidade moderna e progressista. Aliás, ouvia num vinil, cuja capa trazia uma foto a branco e preto de um edifício da cidade, uma espécie de hino cuja letra proclamava: “venha ver as belezas do Crato, venha ver tudo é natural. Minha terra é um paraíso e o progresso é tradicional”. Levei tempo a
perceber o paradoxo. Mas traduz bem a ideia de progresso que impregnava a cidade, ao mesmo tempo cheia de tradição e de conservadorismo. Tudo isso me veio à memória porque, recentemente, o filho esteve lá num projeto de fotografia, da sua universidade, e encantou-se com a riqueza, e a beleza, de uma região plantada aos pés da Chapada do Araripe. Uma das sobrinhas, que mora em Crato, disse-me que era interessante ele estar a
conhecer as raízes da sua mãe, que são também as dele. E pensei nisso de raízes, eu que nunca me considerei árvore, porque elegi uma existência nómada, que permanecem em nós, mesmo que delas nos afastemos. Que permanecem de forma lírica, espero eu, porque sei que a memória é um recorte e que houve muito mais que sessões de cinema e música a tocar na radiola da sala – um belo móvel, cuja marca já não consigo recordar .
Sexagésima nona tabuinha - Natal Ana Isabel Soares (Professora)
rago um Natal longo, sempre feito de distância, de viagem: é o que constitui, no ser algarvia, o não ser algarvia, a casa da origem sem ser a casa do dia a dia. É o que faz de todas as casas onde tenho o privilégio de morar as mais acolhedoras, os lugares mais queridos. O meu lugar costumeiro de Natal (apenas um, neste mais de meio século escapou ao costume) fica encostado a Beja, no meio de campos de cultivo, com vistas sobre estradas que se cruzam, trazendo e levando gente, levando e trazendo mercadoria. Tem por posto de vigia a torre de um moinho de vento, peça altaneira que abre à cidade a saudação. (Para dentro dos campos, sem quase se ver desde a torre, fica a antiga estradinha romana – leva até ao antigo caminho de ferro. Sabe-se lá que ideias são que ditam desvios, abandonos: ali estão, as carreiras das pedras, as carreiras do ferro, agora só para pés, patas e uma que outra bicicleta).
Os lugares que deixo, no Algarve, guardam-nos os lares da saudade, encorpados a cada ano que passa, que nasceram tão sequinhos de carnes ainda não tinha eu idade de andar à escola e vão ganhando sempre mais peso. Aqui no extremo Sul foi raro armar uma árvore de Natal – ficava um presépio de sinal, quando muito: a ida à despensa, a caixa
fechada quase doze meses antes, as fitas a brilhar (como mantinham o brilho, se passavam tanto tempo sem luz...?), pedras, conchinhas, figuras de barro que se misturavam com bonecos de Lego para engrandecer a multidão, algum musgo apanhado para os lados da Goldra, e lá ficava a cena, à esquerda do fogão da cozinha, com a ideia de que se algum ser natalino entrasse a distribuir prendas, que tolice, seria pelo buraco da exaustão de fumos (qual chaminé, num prédio de andares?). As festas eram com lumes grandes, lareiras que se vissem, reencontros de primos, avós, tios, dias de manhã à noite sem sair do pijama –“Natal a soalhar [que são os mais frios natais], Páscoa à roda do lar”, dizia-se, e eu, a cada pronunciamento, mentalmente decidia verificar da verdade do dito; sem sorte nenhuma, nem melhoria de lembrança, é a vida e uma pessoa há que ir é com a que tem e não se amofinar por ser aquela.
O meu Natal é longo, é distante. Enchoo de ralhetes e de alegrias, de correntes de ar e de sacos de água quente por baixo dos cobertores. Encho-o de manhãs enevoadas e de um sol enganador, fecho atrás de mim a porta da casa, olho para cima, saúdo de baixo a torre do moinho, os mastros nus, e agradeço-lhe: “Ainda estás aí” .
As tendências do empreendedorismo para 2023 Fábio Jesuíno (Empresário)
empreendedoris mo é um dos principais impulsionadores do desenvolvimento social, através da criação de emprego e inovação, a melhor forma de combater as crises económicas.
Empreender não se trata necessariamente da criação de um negócio, mas ter iniciativa e audácia. Pessoas de todas as idades possuem sonhos, o caminho pela conquista desses sonhos é o que determina ser uma pessoa empreendedora.
Na minha opinião, estas serão as principais tendências de empreendedorismo para o próximo ano:
Inteligência Artificial
Considero ser a maior tendência para o próximo ano, muito abrangente nos mais diversos sectores, o seu funcionamento é baseado em algoritmos que permitem às máquinas aprenderem sem serem explicitamente programadas para esse fim.
A inteligência artificial é hoje em dia utilizada nas mais diversas formas, desde a experiência do cliente com base no seu comportamento de compra, atividade na internet ou redes sociais, destacando-se a
utilização de bots que servem para automatizar tarefas que seguem um padrão, como a utilização por parte das empresas para responder aos pedidos dos clientes simulando interação com um humano.
Recentemente aconteceram grandes avanços nesta área, como o ChatGPT, o modelo capaz de conversar e partilhar informações que é o fruto mais recente da investigação na área da inteligência artificial (IA) do consórcio OpenAI.
Empreendedorismo sustentável
Devido ao aumento da conscientização sobre questões ambientais, este tipo de empreendedorismo está diretamente ligado à promoção de novos produtos e serviços economicamente viáveis e ecologicamente eficientes, pressentindo a criação de novos modelos de negócio.
O conceito de empreendedorismo sustentável baseia-se também nos 17 objetivos para o desenvolvimento sustentável serem atingidos até 2030, uma agenda mundial criada pela ONU, que inclui, por exemplo, o combate às alterações climáticas, a garantia de saúde, bem-estar, educação, igualdade de género, o consumo e produção responsáveis.
Saúde
Com o aumento da preocupação com a
saúde e o bem-estar, o empreendedorismo no setor de saúde ganha destaque, sendo uma das áreas mais promissoras. As inovações tecnológicas que estão ocorrendo nesta área contribuem para um aumento da longevidade, que vai ser acompanhado com o aumento dos produtos e serviços relacionados.
É importante mencionar que esta área é
também desafiante, devido a um grande número de regulamentos, que exigem um investimento em tempo e dinheiro e a um mercado muito competitivo.
Estas são as três tendências que vão fazer a diferença no próximo ano na área do empreendedorismo e impulsionar a criação de negócios .
FELIZ «Fónix» NATAL!!!
Júlio Ferreira (Inconformado encartado)
o momento em que o povo argentino comemora o título mundial no desporto do pontapé na bola, fazendo sair à rua milhões de pessoas em imagens impressionantes que correm Mundo, dou por mim a pensar que é curioso ver o que um objeto esférico de couro e onze gajos para cada lado fazem a um país. Não deixa de ser curioso de ver como cada povo convive com a sua nacionalidade e o seu patriotismo quando confrontado com o fenómeno deste desporto a um nível mais ou menos global.
Nos tempos da outra senhora, o Futebol foi um dos três F's, numa trilogia nacional onde já estava o Fado e Fátima, mas onde faltava o «F» de Fome que minava uma sociedade pobre, mas crente e uma igreja submissa a um ditador. A culpa deste «F» continuar a ter um peso indescritivelmente gigantesco na vida deste país foi de um rapaz menos inteligente, mas mais virtuoso que o tal ditador inteligente, mas pouco virtuoso, chamado Eusébio. Estes dois gajos fizeram o país inteiro acreditar que era alguma coisa de jeito, algures em 1966. É claro que nada aconteceu e o país mergulhou mais uma vez numa profunda e melancólica depressão, cantando o Fado, e esperando que num dia nevoeiro surjam 11 Ronaldos com jeitinho nos pés
que deem uma razão de existência a esta nação. Não somos muito exigentes...contentamo-nos com o ganhar uma finalzinha do Mundial de futebol para ficarmos aconchegadamente orgulhosos de nós próprios. Enquanto isso não acontece, seja porque os marroquinos não sabem jogar Futebol, seja porque o Fernando Santos não percebe nada de futebol, vamos ficando por aqui deprimidinhos mais quatro anos a pensar no grande país que poderíamos ter sido só porque ergueríamos uma taça. Depois da catarse do costume que nos invadiu vinda das Arábias voltamos ao «F» mais ativo das últimas décadas em Portugal, o sempre gratificantemente e libertador «fónix» que gritamos para exprimir a nossa fúria, admiração, surpresa, espanto, indignação e desagrado quando vamos às compras, lemos os jornais ou ligamos a TV. Um bom «fónix» ou um palavrão mais cabeludo, quando aplicado no momento certo, tem o efeito de uma ventania forte num dia nublado: deixa-nos o céu azul e solarengo. Limpa-nos a alma. Não falo do palavrão fácil, que não requer grande esforço dada a sua aplicação despersonalizada a qualquer pessoa ou situação. O palavrão fácil é uma coisinha processada que sabe à mesma coisa em qualquer parte do mundo: um fast food da retórica. Agora, aquele palavrão sentido, em estereofonia e com um nível decibélico (pelo menos na nossa cabeça) capaz de acordar aquele cachalote
estremunhado, ao ver a conta do talho, peixaria ou supermercado, personalizado e meticuloso ou inspiradamente aplicado é uma forma visceral de arte.
Apesar disso, a seleção continuará a ser a eterna favorita a ganhar um Mundial e o
país continuará a ser um país constantemente adiado. País que mais antidepressivos consome per capita. Com uma pobreza crescente e dos índices de produtividade mais baixos da Europa, mas com um dos índices mais altos de corrupção do Mundo. Com pessoas a ter
dificuldades no pagamento dos créditos à habitação e um défice estupidamente alto, mas com uma taxa ridícula de crescimento económico, face aos restantes europeus. Com os gestores mais improdutivos da Europa, mas com escândalos diários envolvendo políticos. Com um dos maiores índices de obesidade infantil da Europa e um serviço nacional de saúde que parece não ter cura. Estudantes universitários sem casa e dinheiro para estudar. Com um sector primário quase inexistente, um sector secundário pouco concorrencial e um sector terciário ineficiente, mas a nossa média de salários muito abaixo da média europeia. E a cereja no topo do bolo: Os nossos impostos continuam muito acima da média europeia. «Fónix», até uma lontra ficaria deprimida com isto. Esta incapacidade de atingirmos o equilíbrio faz parte da nossa nacionalidade. Se fôssemos sempre os maiores seríamos espanhóis ou franceses, se fôssemos sempre uma merda seríamos neerlandeses, luxemburgueses ou belgas, os povos mais cinzentos e desinteressantes da Europa. E não me venham cá com partidos, isto dura…desde sempre!
Feliz ou infelizmente, a bipolaridade é o que nos faz portugueses. Ninguém nos pode acusar de sermos um povinho monótono.
Antes de terminar mais esta «coisa» a que chamam pomposamente «artigo» e que só dois ou três têm pachorra para ler, e antes que se desmanchem a rir com o tio bêbedo, antes que a vossa
mãe se passe porque a irmã disse “não sei o quê” sobre uma das suas receitas dos pasteis de batata doce, antes que a avó comece a chorar sem que alguém perceba porquê, antes que o tio viúvo apareça com uma namorada que mais parece uma stripper de 80 anos, antes que a vossa irmã resolva assumir que é bissexual só para irritar, antes que um dos tios resolva apoiá-la e aproveite também para sair do armário cantando no karaoke «I will survive», antes que um dos putos parta a cabeça e encha a sala de sangue e que vos faça esperar 36 horas numa qualquer urgência de hospital, antes daquele silêncio constrangedor cortado apenas pelos sons do avô a roncar…
…antes que se apanhem no meio de toda esta animação, deixem-me dizervos aquilo que realmente interessa escrever por agora. Neste Natal, ajude, esteja atento a quem sofre em silêncio, porque não se esqueça que, ao contrário do Pai Natal (desculpem os que ainda não sabiam), existem cada vez mais pessoas a passar dificuldades.
Desejo do fundo do coração, do fígado e do esófago, BOAS FESTAS!!! .
*«fónix», in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
Exprime admiração, surpresa, espanto, indignação, desagrado ou impaciência.
O passado é apenas uma lição e não uma sentença*
Carlos Manso (Economista e membro da Direção Nacional da Ordem dos Economistas)
ais um ano que está a terminar. Depois de dois anos de pandemia
COVID-19, em que ficámos privados muitas vezes de sermos seres sociais, que precisam de conviver e viver em sociedade para atingirmos o equilíbrio mental necessário para a nossa felicidade, pudemos voltar em 2022 a sentirmo-nos livres de movimentos e aproveitar ao máximo o que essa liberdade nos devolveu. E viajámos, festejámos, voltámos a frequentar restaurantes normalmente, enfim, tentámos recuperar o tempo perdido.
Mas os tempos atuais e futuro próximo trazem-nos enormes desafios, aliás, há uma geração que desde 2008 anda permanentemente em crise, a crise do crédito imobiliário que trouxe a TROIKA ao País, a crise da COVID-19 que, para além das dificuldades conhecidas, estrangulou as cadeias de produção e distribuição, e agora a crise da inflação, fruto do entusiasmo da «liberdade» e agravada pela guerra na Ucrânia. Foram 15 anos em que essa geração teve de ser resiliente, tempos antes dessa palavra estar na moda e na boca do Mundo.
Verdade seja dita, raras são as gerações que não tenham enfrentado desafios, crises e as menos afortunadas guerras.
No artigo de opinião anterior escrevi sobre o empobrecimento da região algarvia, cujo poder de compra em 18 anos desceu de 108,8 por cento para 100,8 por cento e o empobrecimento do País que acode diariamente às necessidades e expetativas legitimas de uma grande franja da nossa sociedade, 4 milhões e 400 mil portugueses que sem o apoio do Estado estariam abaixo do limiar da pobreza. Sendo que 1 milhão e 900 mil portugueses já se encontram nesse limiar apesar dos apoios de Estado.
Ficámos recentemente a saber, por comparação, que a nível europeu estimase que iremos ser ultrapassados pela Roménia em termos de PIB per capita em 2024. Não é uma boa noticia para nós portugueses, nem para a Roménia, porque continuamos ambos na cauda da Europa no que ao desenvolvimento diz respeito. Mas mostra uma tendência, a de que Portugal continua aquém do seu potencial de crescimento económico e não tem conseguido inverter esta situação, estimando-se que o nosso PIB per capita em 2024 seja equivalente a
78,8 por cento da média europeia. Como é óbvio, alguém tem de ficar nos últimos lugares quando se comparam países, mas são as disparidades entre os primeiros e os últimos que nos devem fazer refletir.
O passado é apenas uma lição e não
uma sentença, por isso tenhamos a capacidade de aprender com os nossos erros, não ficarmos à espera de um salvador com uma solução milagrosa e que consigamos de uma vez reter os talentos portugueses que por inúmeras razões se veem forçados a sair do País à procura do que não encontram cá, uma vida melhor, e definirmos uma visão para Portugal. Temos que saber onde queremos estar e ter uma estratégia clara de como lá chegar.
Não podemos escolher a época em que vivemos, mas podemos escolher o que fazemos enquanto cá estamos. Desejo um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo de 2023 para todos vocês, mas tem de ser cada um de vocês a fazer por isso. Pensem nisto .
Nota: Este artigo de opinião apenas reflete a opinião pessoal e técnica do Autor e não a opinião ou posição das entidades com quem colabora ou trabalha.
*Frase de Swami Paatra Shankara
DIRETOR:
Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930
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FOTO DE CAPA: Daniel Pina
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A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas.
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