REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #373

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4 de fevereiro, 2023
CRISTIANO CABRITA | REDO E DOMINIQUE | X FESTIVAL DE PERGUNTAS DO CIV FEIRA EMPREGA+ 2023 | PRÉMIOS CINETENDINHA | DIA DA CIDADE DE LOULÉ
ALGARVE INFORMATIVO
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ÍNDICE

Dia da Cidade de Loulé (pág. 24)

Feira Emprega+ 2023 em Quarteira (pág. 36)

X Festival de Perguntas do Colégio Internacional de Vilamoura (pág. 44)

Cristiano Cabrita (pág. 56)

REDO e Dominique nos encontros do DeVIR (pág. 68)

«Esencial» na festa dos 450 anos da Cidade de Lagos (pág. 86)

Prémios Cinetendinha no Cineteatro Louletano (pág. 102)

OPINIÃO

Paulo Cunha (pág. 112)

Mirian Tavares (pág. 116)

Adília César (pág. 118)

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Loulé festejou 35 anos de Elevação a Cidade

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina o dia 1 de fevereiro, Loulé celebrou o 35.º aniversário de elevação a cidade com um programa de iniciativas onde se pretendeu dar a conhecer um pouco do trabalho municipal que está a ser realizado na sede do concelho. Pelas 10h, em frente aos Paços do Concelho, decorreu o tradicional hastear da Bandeira, com o presidente da Câmara Municipal, Vítor Aleixo, a dirigir depois algumas palavras de balanço aos seus concidadãos. “Hoje celebramos um momento crucial

para todos os louletanos e que marca o reconhecimento nacional da grandeza e da importância da nossa querida e estimada cidade de Loulé. Este é também o momento de homenagear publicamente toda a dedicação, trabalho e empenho dos políticos, empresários, associações, comerciantes, artistas, sacerdotes e cidadãos que contribuíram com os seus sonhos, o seu dinamismo, as suas recomendações, a sua visão e o seu espírito crítico para o

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desenvolvimento desta terra, que é hoje uma cidade belíssima, atrativa e dotada de todos os serviços essenciais para proporcionar a quem cá vive uma boa qualidade de vida. É a

mobilização e a dedicação de todos estes agentes, apoiados sempre pelo poder local eleito, que permite que uma cidade cresça, que se desenvolva de forma equilibrada”, entende o autarca.

Vítor Aleixo lembrou que Loulé soube, ao longo dos anos, conciliar a tradição e o património com a modernização, o que permitiu que este território se adaptasse às novas necessidades da sociedade.

“Esta é uma cidade com alma, com valores e princípios, uma cidade que, apesar de não estar à beiramar, atrai e seduz, uma cidade povoada por pessoas dinâmicas, participativas, tanto ao nível político, social, cultural como desportivo. A Loulé pacata, mas desperta, que conhecemos há 35 anos, transformou-se numa cidade vibrante, moderna e amada pelas suas gentes. Porque todos nós amamos esta cidade, queremos sempre dar-lhe mais e melhor, e

este executivo tem trabalhado intensamente, todos os dias, para proporcionar a Loulé serviços essenciais, de qualidade, com todos os meios e conforto que as novas tecnologias nos podem dar”, frisou o edil.

Neste dia de festa visitou-se, por isso, algumas das grandes obras públicas que se encontram em andamento, projetos estruturantes que se vão juntar aos muitos outros que foram sendo desenvolvidos no passado recente e que permitirão reforçar setores como a saúde, a segurança, a proteção do ambiente e a educação. Uma visita pela cidade que começou pelos trabalhos que estão a decorrer na construção da tão aguardada circular norte. “Passadas quase três décadas desde que o

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projeto da Circular de Loulé começou a ser idealizado, em novembro passado vimos finalmente chegar o dia em que o derradeiro troço da obra foi lançado. Uma empreitada que vai custar cerca de quatro milhões de euros e que vai libertar uma quantidade importante de tráfego automóvel de dentro da cidade, além de contribuir para o ambiente, pois haverá menos ruído, menos poluição e menos trânsito automóvel”, destacou Vítor Aleixo.

De seguida, a comitiva visitou a obra do Edifício dos Serviços de Saúde de Loulé que foi lançada em setembro do ano transato e que irá custar cerca de cinco

milhões de euros (dos quais 65 por cento financiados pela Autarquia de Loulé e 35 por cento pela Administração Central).

“Este equipamento vai dar resposta às necessidades dos cuidados prestados na zona central da região e contará com valências como o Agrupamento de Centres de Saúde Central ACES Central, a Unidade de Saúde

Familiar Lauroé – USE Lauroé, a Unidade de Cuidados de Saúde na Comunidade – UCC Gentes de Loulé e o Centro de Saúde Universitário”, apontou Vítor Aleixo. A nível ambiental também se encontra em curso a criação de um coletor alternativo ao instalado na Ribeira da Graça (águas e esgotos), que dará resposta a um problema há muito apontado pela comunidade. “Esta empreitada

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permitirá despoluir a linha de água no Cadoiço, que correrá limpa, com toda a vegetação ribeirinha, a recuperação das plantas autóctones, a criação de hotéis para insetos, de forma a recuperar a biodiversidade e eliminar as plantas invasoras que são muito comuns nas galerias ripícolas”.

No plano da educação, o grande destaque foi para uma nova infraestrutura que se encontra em construção, a Escola EBI JI Hortas de Santo António II, que vai custar cerca de 2,6 milhões de euros e permitirá receber 200 crianças com idades compreendidas entre os 3 e os 10 anos. “Este equipamento irá reforçar o parque

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escolar do concelho e suprir necessidades sentidas por muitas famílias, tendo em conta o crescimento acentuado da população jovem e em idade escolar ao longo dos últimos anos no nosso território”, sublinhou Vítor Aleixo, antes da comitiva rumar à obra do edifício que vai acolher a nova sede regional do INEM. “Uma obra de 1,8 milhões de euros que permitirá o regresso do CODU – Centro de Orientação de Doentes Urgentes ao Algarve, cuja Delegação Regional encerrou em 2012, no tempo da intervenção da troika, e da transferência das valências para Lisboa”, lembrou o presidente da Câmara Municipal de Loulé.

Foi, por isso, uma manhã longa que permitiu testemunhar o que o future reserva à cidade de Loulé e de que forma esta vai evoluir. “Esta evolução só é possível com o trabalho, resiliência e dedicação de todos, executivo, técnicos e funcionários da Câmara Municipal. Esta força permite-nos abrir portas, enveredar por novos caminhos, para que a nossa cidade, sede do maior e mais populoso concelho do Algarve,

esteja, em termos de desenvolvimento, ao nível das grandes cidades do país. Loulé e os louletanos estão em forma. Somos uma cidade dinâmica, inclusiva, onde a cultura prospera e nos enriquece a todos. Loulé é

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também, cada vez mais, uma cidade onde os valores de sustentabilidade ambiental são cultivados, porque continuamos, como os nossos antepassados, a ter sonhos e ambições e a amar profundamente esta nossa cidade.

Com a ajuda de todos, cidadãos, entidades locais, regionais e nacionais, Loulé vai continuar a evoluir para responder às necessidades dos seus habitantes”, acredita Vítor Aleixo .

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Quarteira acolheu Feira Emprega+ 2023 para potenciar os recursos

humanos existentes

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

Câmara Municipal de Loulé organizou, em parceria com a Junta de Freguesia de Quarteira, a Associação de Empresários Por Quarteira, a Associação dos Empresários de Quarteira e Vilamoura, o NERA – Associação

Empresarial da Região do Algarve e o Instituto de Emprego e Formação

Profissional – IEFP, I.P., a segunda edição

da Feira de Emprego «Emprega+ 2023», nos dias 27 e 28 de janeiro, na Escola EB 2,3 D. Dinis, em Quarteira.

O evento contou este ano com mais de 50 entidades e empresas participantes com cerca de 200 oportunidades de trabalho e teve como objetivo promover a empregabilidade no concelho, através da disponibilização de ofertas de emprego e formação, ações de recrutamento e sessões de esclarecimento no âmbito do apoio ao

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empreendedorismo. A «Emprega+ 2023» representou igualmente uma oportunidade para os desempregados, jovens à procura do primeiro emprego e profissionais em busca de um novo desafio, disponibilizando um programa bastante diversificado com várias iniciativas alusivas ao recrutamento e formação, tudo com o intuito de potenciar oportunidades de carreira.

Uma feira que cresceu em relação à sua primeira edição, com o intuito de se rentabilizar os recursos existentes no concelho. “Sabemos bem a falta de mão-de-obra que se verifica no Algarve e queremos, entidades públicas e privadas, dar o nosso contributo para atenuar essa dificuldade. E há que realçar o papel importante das escolas na

formação que

nossos jovens. Estamos também aqui para agilizar e facilitar os processos, para aliviar a carga da burocracia que ainda existe em alguns procedimentos e que afetam aqueles que querem vir para cá viver ou trabalhar”, referiu Telmo Pinto, presidente da Junta de Freguesia de Quarteira.

A Escola EB 2,3 D. Dinis abriu-se, por isso, à comunidade durante dois dias, congregando os interesses e anseios de quem procura emprego e de quem procura mão-de-obra qualificada, e toda esta dinâmica foi elogiada por David Pimentel, vereador da Câmara Municipal de Loulé. “Os empresários estão satisfeitíssimos com o evento. A

dão aos

evolução da dinâmica empresarial e económica a que temos assistido neste período pós-pandémico implica uma maior necessidade de reforçar e capacitar as suas equipas, de dar novas valências aos seus colaboradores. Conseguimos atrair pessoas e entidades e estou convicto de que as empresas presentes vão enriquecer os seus quadros com aquilo que procuram e assim servir cada vez melhor quem procura Loulé e o Algarve e potenciar a qualidade deste destino”

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Na sua 10.ª edição, o Festival de Perguntas do Colégio Internacional de Vilamoura sai para a rua e ilustra montras de Loulé

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina e Dina Adão | Video: João Espada s humanos são melhores a criar coisas ou a destruí-las?”

(Débora Ferreira, 10.º ano); “What does dying feel like?” (Frederik Holling, Year 10); “Existem limites ao nosso pensamento?”

(Inga Lopes, 11.º ano), “What does the Underworld look like?” (Henley Morrisey,

Year 4) ou “A vida pode acabar antes da morte?” (Daniel Ramos, 8.º ano) são

algumas das questões que se podem ler nas montras das lojas da Rua Maria Campina, em Loulé, naquela que é a 10.ª edição do Festival de Perguntas do Colégio Internacional de Vilamoura.

A ilustração destas perguntas em 16 montras daquela artéria comercial foi realizada por alunos de 9.º ano e de Year

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9, no âmbito da disciplina de Artes e Filosofia para Jovens, com o resultado final a saltar, este ano, da esfera escolar para a esfera comunitária, num exercício de questionamento e provocação apoiado pela Câmara Municipal de Loulé. Depois da ilustração de montras, o X Festival de Perguntas vai ser também materializado em banners inseridos na rede de transportes urbanos de Loulé, o «Apanha-me!». Finalmente, as perguntas darão ainda origem a uma exposição coletiva para a qual foram convidados artistas das mais variadas expressões, e que estará patente, em maio, na Galeria Aderita Artistic Space, em Vale do Lobo.

O festival é promovido pela professora e facilitadora de Filosofia, Laurinda Silva, e pela bibliotecária Dina Adão e foi prontamente abraçado pela Diretora

Pedagógica do Colégio Internacional de Vilamoura, Cidália Ferreira Bicho, “porque o nosso projeto educativo sempre teve como objetivo desenvolver nos alunos o espírito crítico e o questionamento do mundo”. “Tentamos promover um ensino que não trabalhe apenas a informação, mas em que os alunos possam transformar essa informação em conhecimento, estando abertos a novas perspetivas do mundo. Queremos que eles coloquem questões e que procurem as suas próprias respostas, que aprendam uns com os outros”, refere Cidália Ferreira Bicho.

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Cidália Ferreira Bicho e Laurinda Silva

No início, o evento surgiu para assinalar o Dia da Filosofia, comemorado pela UNESCO a cada terceira quinta-feira do mês de novembro, e destina-se a todos os alunos do Colégio Internacional de Vilamoura, independentemente da sua idade ou grupo de estudo, abrangendo inclusive o pessoal docente e não docente. “Perguntas melhores ou piores não há, todas são pertinentes e os temas são imensos. É um festival, não um concurso, não há aqui uma vertente competitiva”, explica, entretanto, Laurinda Silva, recordando que houve um ano em que os próprios pais se envolveram no processo. “Havia o Correio de Hermes, em que eles levantavam as perguntas na receção e depois entregavam as respostas aos filhos”, conta.

O festival nasceu de forma informal, mas depressa se criou uma espécie de cultura que se respira nos corredores, com os alunos a pensarem logo nas perguntas que vão lançar na edição do ano seguinte. “E, naqueles 45 minutos em que, finalmente, têm que colocar a pergunta num questionário, eu tenho que esperar por eles. Nota-se que estão realmente a pensar no que estão a fazer e que existe um cuidado para elaborarem uma pergunta original, com conteúdo”, indica Laurinda Silva, com Cidália Ferreira Bicho a não esconder a satisfação com o entusiasmo que este festival gera nos jovens. “Todas as iniciativas que envolvam a comunidade escolar são positivas. Claro que algumas correm menos

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bem do que outras, mas isso nunca nos deve desmotivar de tentar novas abordagens e novos contextos de aprendizagem. Mesmo os adultos que participam no festival, se calhar andam vários dias a pensar na pergunta que vão fazer e isso é um movimento bonito que une as pessoas e que cria um momento de reflexão fora das nossas rotinas diárias”, destaca a Diretora Pedagógica.

Laurinda Silva alerta, entretanto, que as boas ideias, as boas perguntas, nem sempre surgem quando nós precisamos delas, daí que haja uma preparação

cuidada dos jovens para que as suas questões sejam selecionadas para o festival. “Formular uma pergunta implica mobilizarmos conhecimentos que já temos e lançarmo-nos numa coisa que ainda desconhecemos”, aponta a professora de Filosofia, com Cidália Ferreira Bicho a garantir que os jovens ainda têm tempo, e predisposição, para estes momentos de maior reflexão, apesar dos novos entretenimentos que surgiram no passado recente. “Há vários anos que os nossos alunos entregam os telemóveis quando aqui chegam de manhã e apenas os utilizam se forem importantes

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para alguma atividade pedagógica. Ao longo do dia têm muito tempo para conversarem, brincarem, socializarem, lerem, partilharem experiências”, descreve. “É sempre preciso ter cuidado com as generalizações. Se apenas lhes proporcionarmos instrumentos como a televisão, o tablet ou o telemóvel, é normal que o ecrã domine, mas o ser humano tem sempre perguntas para fazer. A tecnologia não é contrária ao espírito crítico e criativo”, prossegue Laurinda Silva. “Nós tentamos constantemente envolver os alunos em atividades que os façam pensar e comprometer com os outros e com o mundo que os

rodeia, em ações solidárias ou de voluntariado ambiental.

Obviamente que têm que ser motivados para isso, que haja um ambiente favorável ao desenvolvimento dessas competências e à aproximação de determinadas realidades. É uma matéria em que a escola e a família têm que trabalhar em conjunto”, reforça Cidália Ferreira Bicho.

As iniciativas do Colégio Internacional de Vilamoura são normalmente pautadas por um enorme sucesso e por uma adesão maciça da comunidade escolar e das famílias dos alunos, uma realidade que deixa Cidália Ferreira Bicho bastante

“A escola é o espaço do sonho”

feliz. “A escola é o espaço do sonho e, se as crianças e os adultos deixarem de sonhar, torna-se tudo sombrio. Nem sempre conseguimos ou temos energia para desenvolver determinados projetos ou iniciativas, mas o que nos dá motivação para seguir em frente é envolver-nos em coisas diferentes. Óbvio que isso não sucede todos os dias, mas todos os dias somos permeáveis a novas ideias e projetos e isso gera uma alegria que é contagiante”, observa a Diretora Pedagógica, admitindo que, há dez anos, pareceu estranho organizar-se um festival de perguntas.

Com o decorrer dos anos, algumas perguntas passaram a ser colocadas em

vidraças que existem na escola e o resultado foi “espetacular”, garante Laurinda Silva. “É impossível passarmos por uma pergunta e não a lermos e depois ficarmos a pensar nela. É esse efeito que queremos”, assume a professora de Filosofia, que é uma das responsáveis pela dura tarefa de escolher as perguntas selecionadas para integrar o festival, a par da bibliotecária Dina Adão.

“Normalmente não são escolhidas perguntas extremamente longas, aquelas que, no final, já não nos lembramos do início, assim como perguntas que já têm no seu corpo uma possível resposta. Tabus não há, isso deixava de ser filosofia, mas é natural que existam

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Festival que é apenas de perguntas, não existe um momento formal para as respetivas respostas, o que não significa que, numa sessão de filosofia, uma determinada pergunta não possa ser tratada pelos alunos. A novidade este ano é sair do Colégio Internacional de Vilamoura e ir, numa primeira fase, para as montras da Rua Maria Campina. “É um orgulho ver crescer um projeto que se tornou um marco na vida do colégio, uma atividade estrutural do nosso calendário e que já toda a gente conhece. Quisemos celebrar

de forma bonita o trabalho que tem sido feito pela Laurinda e pela Dina ao longo desta década e, ao mesmo tempo, contagiar outras pessoas com a inquietação de fazer perguntas”, declara Cidália Ferreira Bicho. “Se olharmos para a educação no seu formato mais tradicional, não existe propriamente um momento em que um aluno possa fazer perguntas. As carteiras estão dispostas em filinhas, ninguém comunica visualmente com ninguém, quem faz as perguntas são os professores e os alunos

perguntas que tenham um formato mais original e apelativo”.

respondem. Na génese da filosofia para crianças, Matthew Lipman propunha um texto, uma história, mas já com um conjunto de perguntas exploratórias para o facilitador ou professor aplicar. É necessário dar espaço para a pessoa fazer a pergunta, ao invés de receber a pergunta e tentar responder”, defende Laurinda Silva.

As perguntas estão, assim, expostas na Rua Maria Campina e é comum vislumbrar os transeuntes a pararem, lerem e tentarem responder. E, em maio, o festival transforma-se numa exposição de arte, que também tem a função de questionar o mundo e apontar novos horizontes. “Vai ser um orgulho para os miúdos, e para os pais, verem as perguntas transformadas numa

pintura, escultura ou outro objeto artístico. No fundo, estas crianças estão a partilhar com o mundo as suas dúvidas e inquietações. Os pais querem evitar que os seus filhos caiam, queremos ajudá-los em todas as etapas, mas aquilo que os faz crescer é aprenderem a ultrapassar as dificuldades, é caírem e depois levantarem-se”, entende Cidália Ferreira Bicho. “Quanto mais tentarmos responder às perguntas, mais nos conhecemos a nós próprios e aos outros, e mais respeitamos os outros e o mundo que nos rodeia. E esse é o caminho da democracia, da paz, do entendimento entre as pessoas”, finaliza a Diretora Pedagógica do Colégio Internacional de Vilamoura .

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Texto: Daniel Pina| Fotografia: Rui Gregório

m Albufeira, os últimos dias de 2022 e os primeiros dias de 2023 foram bastante intensos, mas na Câmara

Municipal não há tempo para grandes descansos, uma vez que fevereiro vai ser um mês recheado de eventos, sobretudo desportivos, num concelho que continua a ser um dos mais procurados pelos turistas nacionais e estrangeiros para

desfrutarem dos seus períodos de férias. A desejada retoma após os anos de pandemia foi, por isso, de certa forma alcançada, mesmo apesar do eclodir da guerra no leste europeu que depressa teve efeitos económicos no resto do Velho Continente. “O ano foi bom em termos turísticos e creio que todas as unidades hoteleiras do Algarve, e em particular de Albufeira, estiveram na sua máxima

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“Só quem tem o desejo e a energia para servir a população é que deve vir trabalhar para uma autarquia”, avisa Cristiano Cabrita

ocupação. Claro que não estávamos à espera dos impactos negativos que a guerra teria, do ponto de vista político e económico, com o aumento da inflação a sentir-se no orçamento das famílias e o disparar do preço das matérias-primas e dos combustíveis a afetar muito o diaa-dia das empresas, principalmente aquelas do ramo da construção civil. Isso foi mais evidente logo nos meses que se seguiram ao início da guerra, penso que agora estamos numa fase de alguma estabilidade, se é que é possível existir estabilidade quando dependemos (a Europa) tanto do gás e do petróleo que chegam da Rússia”, analisa Cristiano Cabrita, vice-presidente da Câmara Municipal de Albufeira, presidente do PSD/Albufeira e Membro da Comissão Política Nacional do PSD.

Neste cenário não se podem ter grandes certezas em relação a 2023, com Portugal e o Algarve ainda expetantes em relação ao que virá do Plano de Recuperação e Resiliência, que taxas de execução se alcançarão e a forma como essas verbas irão ser distribuídas pelo território nacional. “Ninguém escapa aos efeitos da subida da inflação, o cabaz de compras está cada vez mais caro, as pessoas perdem poder de compra todos os dias, e isso gera mais contestação social. Vamos esperar para ver que

impacto terá na nossa economia a tão propalada «bazuca europeia», de que maneira vai ajudar a levantar, ou não, a economia portuguesa, de que forma as políticas deste governo vão ser favoráveis, ou não, para que as pessoas tenham mais dinheiro no fim do mês e tenham uma vida menos complicada. Do ponto de vista internacional, não acredito que o conflito vá terminar tão cedo, porque nem Vladimir Putin quer recuar, pois isso seria um sinal de fraqueza, nem Zelensky vai aceitar, por uma questão de legitimidade, perder território ucraniano”, refere o autarca, preocupado.

De volta ao balanço turístico de 2022 no Algarve, ninguém nega que foi um ano bom, mas melhor poderia ter sido se todas as unidades hoteleiras tivessem trabalhado no máximo das suas capacidades, o que não aconteceu devido à falta de mão-de-obra local e à incapacidade de atrair trabalhadores de outros pontos do país devido à escassez de habitação para os acolher. Dois problemas que se vão continuar a sentir em 2023 e cuja resolução se afigura complicada. “A falta de mão-de-obra só se vai conseguir resolver a médio e longo prazo, quando as pessoas sentirem confiança numa carreira no setor. E, para isso, é preciso primeiro olhar para o turismo como uma indústria que

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produz o ano todo e que garante emprego o ano todo a quem deseja vingar neste setor”, aponta o vice-presidente da capital do turismo algarvio. “Se um setor for bem remunerado, tiver expetativas de crescimento e perspetivas de conforto social e de carreira, naturalmente que as pessoas não fogem dele. Mas isso só se faz se olharmos para o turismo, nomeadamente no Algarve, Madeira e Açores, de uma forma integrada para o ano inteiro. Só que, para o Algarve estar «aberto» o ano inteiro, os nossos centros de saúde e hospitais precisam dar garantias de que funcionam a 100 por cento para os locais, para aqueles que vêm para cá trabalhar

e para aqueles que nos visitam; as nossas vias de comunicação têm que estar impecáveis; e, nas rotas aéreas, praticamente só as companhias low-cost é que apostam no Algarve. Se tivermos um destino forte, consolidado, maduro, a crescer, isso gera mais atratividade”, acredita Cristiano Cabrita.

Para que Albufeira seja atrativa 365 dias por ano, a Câmara Municipal prepara um programa diversificado de eventos e vai cumprindo a sua missão no que diz respeito à requalificação dos espaços públicos e das infraestruturas, mas este esforço tem que ser replicado pelos empresários da restauração e hotelaria para que tudo corra bem. “A Autarquia tem que fazer tudo o que estiver

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ao seu alcance para que o destino seja atrativo e esteja aberto o ano todo. O fim-de-ano não se resume ao espetáculo do dia 31 de dezembro, são 24 horas contínuas em que Albufeira está nos meios de comunicação social, sabendo-se que quaisquer 30 segundos de publicidade na televisão se calhar custam 10 mil euros. Nós fazemos o que nos compete e gostaríamos que os empresários acompanhassem esse investimento da autarquia nesta matéria”, admite o vice-presidente.

“Este ano verificou-se um aumento de circulação de pessoas na baixa da cidade em dezembro, portanto, acredito que os empresários vão ter que redefinir a sua posição. Não podemos ter os estabelecimentos fechados nestas alturas”

do Tribunal de Contas e que se lance novo concurso, e tudo isso leva ao atrasar das obras, para insatisfação da população.

“As pessoas esquecem-se rapidamente que vivemos uma pandemia durante dois anos e que o Município de Albufeira investiu quase 25 milhões de euros no apoio à sua comunidade, e fê-lo bem, não só diretamente às famílias e empresas, mas garantindo que não faltava nada às IPSS, à GNR, aos Bombeiros. Poderíamos agora ter mais dinheiro para investir, mas fomos Município e Governo ao mesmo tempo e aplicamos essas verbas na ajuda à população. Depois, muitos dos concursos públicos que antigamente se faziam por 200 mil euros, agora fazem-se por 500 mil euros, o que tem um impacto tremendo nas contas da autarquia”, confirma Cristiano Cabrita.

A guerra na Ucrânia levou à escassez e ao aumento dos preços das matériasprimas e dos combustíveis e isso veio agravar ainda mais uma situação que já se tornou rotineira no dia-a-dia das autarquias, o lançarem concursos públicos para obras municipais e depois nenhuma empresa concorrer. Uma situação que leva a que os cadernos de encargos tenham que ser revistos em alta, que se aguarde por nova aprovação

Esta realidade não impede que o plano de investimentos da Câmara Municipal de Albufeira esteja em andamento e que a Autarquia obtenha bons resultados em termos de gestão e independência financeira. “Temos projetado para 2023 um investimento de cerca de 30 milhões de euros. Temos o novo lar dos Olhos d’Água para lançar, a nova habitação social em Paderne, o novo Centro de Artes e Ofícios, a expansão da Escola Diamantina Negrão, os novos campos desportivos do Guia e do

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“Vamos continuar a investir em Albufeira”

Padernense, os novos equipamentos de basquetebol e futebol em Vale Faro. Mas temos ainda o problema da revisão de preços por parte dos construtores (que é de Lei) e que temos que acompanhar. Não obstante esta conjuntura, vamos continuar a investir”, garante o vice-presidente. E mais exemplos desta intenção existem, estando em curso diversas empreitadas, em nome do bem-estar e dignidade dos animais de companhia, nomeadamente para a execução do canil municipal (709 mil e 31,17 euros), do cemitério de

animais de companhia (271 mil e 761,19 euros) e do Parque Canino em Vale Pedras (188 mil e 404,30 euros), assim como a reabilitação/ampliação da Creche da Guia «Tempos de Infância».

Transversal a todo o país é o problema da escassez de habitação e os elevados preços praticados no mercado imobiliário, um drama para quem não consegue comprar casa, mas uma oportunidade de negócio para quem vende, nomeadamente para o mercado internacional. “Veja-se que a própria recuperação e reabilitação urbana dos centros das cidades levou a um aumento do preço do metro quadrado que não se coaduna com o vencimento médio das famílias portuguesas. As autarquias terão que, a médio e longo prazo, se substituir ao governo e, em Albufeira, temos 50 unidades habitacionais para entregar este ano e vamos construir mais entre 80 a 100, divididas pela Quinta dos Caliços e a Samora Barros, para além da nossa própria Estratégia Local de Habitação”, revela o entrevistado, antes de falar especificamente da habitação para a mão-de-obra da hotelaria. “Não sei até que ponto é que os novos projetos hoteleiros não deveriam contemplar residências para os seus

Asseguravam casa a quem

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recursos humanos, pois assim conseguiriam atrair mão-de-obra qualificada mais facilmente.
Cristiano Cabrita: “Os portugueses têm sempre, do ponto de vista cultural, dificuldades para executar os dinheiros que nos chegam da Europa, e por responsabilidade dos sucessivos governos. O contexto económico, financeiro e social de Portugal em 2023 e 2024 depende muito destas lufadas de ar fresco que, se não se concretizarem, darão lugar a um problema grave”.

trabalha o ano todo nas unidades, assim como aos reforços de época alta, sem estarem dependentes do mercado imobiliário”

Quanto a soluções mais extremas como proibir a venda de habitação a não residentes, como se prepara para acontecer no Canadá, Cristiano Cabrita não tem a certeza se tal medida seria benéfica em Portugal. “Cada concelho e cada país é diferente dos outros e não sei se conseguiríamos lidar, no curto prazo, com o desaparecimento desses investimentos, pois isso implicaria também uma redução de receitas para as próprias autarquias. Sem essas receitas de IMT teríamos menos verbas para apoiar as causas sociais, até porque temos dos IMI mais baixos de sempre, refeições e transportes gratuitos para os alunos do concelho, uma série de encargos que seriam mais difíceis de aguentar”, aponta.

2023 e 2024 dependem muito das lufadas de ar fresco dos fundos comunitários

Gerir financeiramente uma Câmara Municipal é cada vez mais complicado face a todas estas contingências e todas elas acabam de receber novas competências da parte do governo, um “presente envenenado”, como rotula

Cristiano Cabrita. “Dá a ideia de que vamos ser responsáveis por tudo o que diga respeito a determinada área, se alguma coisa correr mal, a culpa é das autarquias, se alguma coisa correr bem, diz-se que o governo foi o principal responsável pela delegação de competências. Esta medida obriga a que os orçamentos das autarquias sejam cada vez mais reforçados para fazer face às despesas, só que esse aumento não é proporcional à verba que nos chega do poder central. Temos mais responsabilidades e o pacote financeiro não acompanha, mas isso sempre aconteceu”, lembra o entrevistado. “As autarquias recebem do governo uma verba que tem em conta a dimensão das populações. O Município de Albufeira precisa ter um quadro de pessoal para responder, não às necessidades dos 50 mil residentes, mas dos 500 mil que chegamos a ter na época alta, são quase 30 milhões de euros para termos 2 mil e 200 funcionários o ano inteiro. E o governo não tem isso em conta”, critica, recordando que agora chegam também os custos de manutenção dos equipamentos e infraestruturas afetos às áreas que foram delegadas. “Ora, se nunca se fizeram, por exemplo, obras de fundo no Centro de Saúde de Albufeira, naturalmente que não

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vai haver um pacote financeiro associado a essa intervenção quando a tivermos que fazer à custa do orçamento da Autarquia”.

Para estas grandes obras são cruciais os fundos comunitários, mas Cristiano Cabrita mostra-se preocupado, embora não surpreendido, com a possível não execução em tempo útil das verbas do Plano de Recuperação e Resiliência. “Os portugueses têm sempre, do ponto de vista cultural, dificuldades para executar os dinheiros que nos chegam da Europa, e por responsabilidade dos sucessivos governos. O contexto económico, financeiro e social de Portugal em 2023 e 2024 depende muito destas lufadas de ar fresco que, se não se concretizarem, darão lugar a um problema grave”, antecipa.

Os desafios são cada vez maiores, as dificuldades também, o perfil exigido aos governantes, nacionais, regionais ou locais, é diferente daquele de há algumas décadas, mas também é cada vez mais árduo captar jovens quadros qualificados para o setor público, reconhece Cristiano Cabrita. “O que se tem passado nestes últimos meses não credibiliza a classe política e, noutros tempos, já houve governos que caíram por menos. Temos pessoas com «telhados de vidro», que feriram a legalidade, e que mesmo assim aceitam desempenhar determinados cargos. E com esta história do

questionário estamos a descaracterizar a confiança política, parece que voltamos à escola primária”, desabafa o entrevistado. “Naturalmente que as pessoas mais qualificadas não se querem meter nisto. Quem é que quer vir trabalhar para uma autarquia e servir o povo quando entramos em funções logo com uma tremenda carga negativa em cima dos nossos ombros? E um autarca, hoje, tem um trabalho mais difícil do que um Ministro da República, porque nós é que temos que responder às reais necessidades das populações, como se viu durante a pandemia. O Algarve, que contribui com quase 4.7 ou 4.8 para o PIB nacional, não tem uma via de comunicação como deve ser, um aeroporto como deve ser, um hospital central como deve ser. E isto porque um bairro de Lisboa ou Porto tem mais habitantes do que o Algarve”, dispara, irritado. “Só quem tem o desejo e a energia para servir a população é que deve vir trabalhar para uma autarquia. Se alguém pensa vir para aqui por uma questão de estatuto, por ego pessoal, porque fica bem no currículo, mais vale nem sequer se candidatar. E, como não se valoriza devidamente a classe política, algumas pessoas menos fortes deixam-se levar pelas tentações”, lamenta, em final de conversa .

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«BLURRED LINES» DE REDO E DOMINIQUE DESLUMBROU CAPA

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Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

CAPa, em Faro, recebeu, no dia 28 de janeiro, «Blurred Lines», um dueto de dança e música entre Redo (vencedor do Cisne no Dutch Dance Days 2020) e Dominique (vencedor do Dutch Music Prize 2020) inserido no ciclo d´Outra Maneira dos encontros do DeVIR. Redo, como breakdancer, atua em vários estilos e espaços de dança, e

Dominique como percussionista busca os limites entre a música clássica, contemporânea e eletrônica. Juntos, criam um mundo lúdico com música escrita por Dominique e Jelle Verstraten e coreografias a cargo de Redo e Peter Leung.

Redo (Redouan Ait Chitt) nasceu, sem qualquer explicação médica, com várias malformações físicas. Em 2018 estreou o seu solo «REDO» e um ano depois venceu o «The Swan», o prémio de dança de

maior prestígio na Holanda. Fez parte de vários espetáculos de teatro e produções de TV e é também palestrante motivacional para escolas, empresas e TedX. Em 2010, passou a fazer parte da equipa internacional de breakdance «ILLAbilities», que integra os melhores bailarinos do mundo, todos com diferentes deficiências. Juntos produziram uma performance que em 2013 levou a uma indicação ao prémio Olivier na categoria «Outstanding Achievement in Dance».

Dominique Vleeshouwers é um virtuoso percussionista holandês que combina

apresentações a solo com projetos inovadores que resultam de colaborações com artistas de outras áreas. Inspira-se em diferentes formas de percussão de todo o mundo e a sua pesquisa inclui estudos com o músico de tabla indiano Niti Ranjan Biswasand e o resultado de uma viagem ao Senegal. Em 2014, ganhou o primeiro prémio, o prémio de imprensa e o prémio do público no concurso internacional de percussão

TROMP. Em 2020, foi o primeiro percussionista a ganhar o prestigiado Dutch Music Prize .

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O FANTÁSTICO «ESENCIAL»

DA VAIVÉN CIRCO NOS 450 ANOS DA CIDADE DE LAGOS

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

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agos assinalou, de 27 a 29 de janeiro, os 450 anos de elevação a Cidade e um dos pontos altos do programa foi, sem dúvida, o espetáculo «Esencial» pelo Vaivén Circo, no dia 27, no Auditório Duval Pestana do Centro Cultural de Lagos.

«Esencial» fala sobre transições, com cinco personagens que interpretam e sonham uma viagem aventurosa que transporta o público a lugares remotos onde a decisão vital será seguir o caminho mais simples. O novo espetáculo de Vaivén Circo é apresentado com uma encenação inspirada no «Waldorf Rainbow», um brinquedo composto por pilares e arcos que proporcionam um cenário espetacular. “Estamos diante de uma arquitetura em transformação capaz de se reinventar, como o faz o próprio ser humano em busca do

seu progresso. Um cenário de nuances poéticas, ideal para criar uma atmosfera mágica onde se trabalha com equilíbrio e subtileza que podem levar do caos à harmonia em poucos segundos”, explica a direção da companhia espanhola.

Em «Esencial» pretende-se fugir do colapso que o ser humano sofre ao deparar-se com situações complicadas que não entende. “Naqueles momentos para os quais não sabemos encontrar explicações, longe de acrescentar mais complexidade, tentamos encontrar o essencial. Mantemos o ideal de beleza e simplicidade como inspiração original quando se trata de abordar a estética do espetáculo. Menos é mais”, indica a companhia proveniente de Granada .

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«ALMA VIVA» FOI O

DOS PRÉMIOS CINETENDINHA

GRANDE
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Texto: Daniel Pina| Fotografia: Jorge Gomes

GRANDE VENCEDOR CINETENDINHA

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Cineteatro Louletano acolheu, no dia 28 de janeiro, mais uma edição dos Prémios

Cinetendinha (programa da SIC Radical), organizados e apresentados pelo crítico e jornalista Rui Pedro Tendinha, em parceria com o Município de Loulé e o Loulé Film Office.

A Academia Cinetendinha, constituída por críticos, atores, cineastas e programadores, distinguiu «Alma Viva», de Cristèle Alves Meira, como o melhor filme nacional, uma obra que continua a somar prémios e que foi a candidata portuguesa à categoria de Melhor Filme Internacional dos Óscares. Na terceira edição dos prémios, Ana Padrão, uma das atrizes de «Alma Viva», foi também a

vencedora na categoria de melhor interpretação, sucedendo assim a Anabela Moreira. No plano masculino, o triunfo coube a Albano Jerónimo, com o seu papel em «Restos do Vento», de Tiago Guedes.

O prémio de Melhor Filme Internacional foi para «Os Fabelmans», filme biográfico de Steven Spielberg. Quanto ao prémio Tributo, foi entregue pelo vereador da Câmara Municipal de Loulé, David Pimentel, a Virgílio Castelo, ator que já foi dirigido por cineastas como Artur Ribeiro, Joaquim Leitão ou João Botelho. Finalmente, o prémio «Futura», um incentivo a um talento emergente criado pela Loulé Film Office, foi para Iris Cayatte, atriz que tem sido uma das grandes revelações do cinema português.

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Para ti, João Rosa!

Paulo Cunha (Professor)

á não sei localizar a data em que vi atuar em Lisboa uma companhia japonesa de dança/teatro. STendo em conta o acréscimo das más notícias recebidas, começo, cada vez mais, a ter receio de atender o telemóvel quando algum amigo me telefona pela manhãzinha. Foi o caso, neste sábado, quando a minha amiga Elsa Rocha me telefonou e eu não atendi por ter o telemóvel sem o toque ativado. Fiquei apreensivo e relutante em lhe responder ao telefonema, pois tive um mau presságio. Infelizmente, estava certo! Ao telefonar-me pela segunda vez, deu-me uma notícia que nos colocou aos dois num profundo silêncio, seguido de um partilhado e copioso choro: o «nosso» João Rosa tinha falecido nessa madrugada, vítima de um trágico acidente de viação.

Confesso, tendo eu já perdido o contato físico com todos os meus ascendentes, não me encontro ainda emocionalmente preparado para perder a minha outra família, aquela que a vida proporcionou e concedeu: os Amigos. Contando os meus amigos pelos dedos das mãos, sei agora que me amputaram um dedo. As dores são imensas e indescritíveis e esse dedo vai-me fazer muita falta. É com uma mistura de sentimentos que quis aqui prestar uma homenagem a um anjo que

antes de o ser já o era. Estou a escrevervos estas sinceras e sentidas palavras na véspera do dia em que o corpo morto do meu «bom gigante» se irá transformar em cinza.

Recentemente, sentado à minha frente na nossa mesa de jantar, tinha desabafado que sentia que já não estaria por cá muito tempo, lamentando-se de ter a sua mãe dependente e a seu cargo. Respondendo-me ao comentário que lhe fiz, dizendo-lhe para não proferir parvoíces, riu-se e disse-me: “Quando me for, organizem uma festa e festejem a vida que vivi!”. Assim será querido João. Será feita a tua vontade. Retomarei o meu antigo cargo de delegado de turma e juntarei toda a malta que em vida tocaste com a tua generosidade, sabedoria, sensatez, altruísmo, bondade e abnegação.

Não fomos só nós, amigos e família, que o perdemos, foi o Serviço Nacional de Saúde que ficou mais pobre ao perder o Diretor do Serviço de Medicina Intensiva Pediátrica e Neonatologia do Centro Hospitalar Universitário do Algarve e o pediatra de tantas crianças algarvias. Não foi preciso morrer para reconhecerem o seu profissionalismo, valor, competência e dedicação à causa da saúde pública. Todos os profissionais de saúde com quem trabalhou, bem como os seus jovens pacientes, sempre lhe teceram os

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maiores elogios, reconhecendo a sua grandiosidade humana e profissional. Tive oportunidade de o registar quando, ao visitar alguns locais onde trabalhou, observei as reações e os comentários de todos os que consigo laboravam. Sempre me fez sentir uma grande admiração e orgulho!

Filho, irmão, pai, marido, avô e amigo dedicado, cuidadoso e afetuoso, João Rosa plantou em todos os que tiveram o privilégio de o conhecer as sementes que não o irão deixar morrer nos seus corações e nas suas mentes. Será impossível esquecer alguém com a envergadura moral, humana e social deste grande ser humano. Todos os que com ele privaram na Igreja, no Conservatório, nos Escuteiros, na Escola, na Universidade, no Farense e no Hospital recordam alguém que os ajudou a ser melhores pessoas. É o meu caso!

Escrevo enquanto escuto um cd do Pat Metheny, músico que tanto gostava, e recordo as nossas corridas de bicicleta à frente da sua casa de juventude no largo

de S. Francisco em Faro; as suas festas de aniversário em que eu tocava sempre o mesmo fado-canção no seu velho piano, a pedido da «vizinha de baixo»; as nossas aulas conjuntas na catequese; a participação como aluno e professor no Conservatório de Música do Algarve; a frequência nas mesmas turmas da área de Saúde na Escola Secundária João de

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Deus em Faro; os bailes da adolescência; enfim... desde os seis anos a cimentarmos a nossa amizade.

Tendo assistido comigo ao nascimento dos meus dois filhos, foi ele que sugeriu ser o seu pediatra, dizendo-me em tom de brincadeira que ficaria aborrecido se eu escolhesse outro. Recordo que ambos não se importavam de ficar doentes, pois sabiam que iriam estar com o seu amigo João, nunca o chamando Dr. João Rosa. Tinha com os seus jovens pacientes uma relação única, dando segurança e tranquilidade aos progenitores e boadisposição e felicidade aos filhos. Tinha o hábito de perguntar aos jovens pacientes com mais de dez anos em que escola andavam; se fosse a minha, perguntava quem era o professor de Educação Musical; se fosse eu, já sabia que na semana seguinte teria o envio de um abraço seu. Ontem, perguntei às turmas a que lecionei se o conheciam e qual não foi o meu espanto quando me apercebi que muitos alunos tinham sido ou eram seus pacientes e sabiam o que lhe tinha acontecido. Com a voz embargada e não tendo conseguido suster as lágrimas, ao presenciá-lo os meus alunos surdos do 9.º ano vieram abraçar-me e reconfortar-me.

Em plena pandemia, e como já tinha sido contagiado pela Covid-19, perguntava-nos, família, se podia visitarnos para desanuviar. Para além dos membros da família, era a nossa única visita do «mundo exterior»… e que bem que nos fazia tê-lo cá em casa. Desde sempre, era o único amigo que aparecia na nossa habitação sem precisar de ser convidado. Simplesmente, aparecia. No último ano, telefonava-me e,

naturalmente, dizia-me: “Vou aí jantar ou tomar um café convosco!”. Por vezes, entrava amargurado e/ou triste com motivos pessoais ou profissionais e, frequentemente, já depois da meia-noite saía mais satisfeito do que tinha entrado. Era mais uma luz que brilhava em casa quando estava connosco.

Esperávamo-lo esta semana para colocar a «escrita» em dia. Tristemente, já não vai ser possível, mas fica-me a certeza de que tudo o que quis e pude ter vivido com este amigo vivi-o, e isso deixame uma enorme lição de vida: “A amizade não se apregoa, pratica-se!”. Aguarda-me João Rosa, que o jantar apenas foi adiado. Aí aparecerei, eu e muitos mais, e a festa vai ser bonita. Está prometido, teu «pc» .

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Foto: Daniel Santos

Da vida alheia Mirian Nogueira Tavares (Professora)

“Morality is simply the attitude we adopt towards people whom we personally dislike”.

vida alheia é algo que nunca me interessou particularmente, a não ser quando estou numa fila, num café, num transporte público e testemunho pedaços de discussão, ou de conversas, e acabo interessada, querendo saber o final. O que é sempre frustrante, porque não sou suficientemente indiscreta, ou maluca, para perguntar: e aí? E porque são situações de passagem, e nunca dá tempo para assistir todo o episódio. E é assim que vejo – episódios, como os filmes e as séries. Às vezes, quando passo por algumas casas, ponho-me a imaginar cenas da vida quotidiana de quem nelas habita. E na minha imaginação, são todos felizes, porque a relva do vizinho é sempre mais verde. E por isso também posso imaginá-los infelizes, desajustados, ansiosos, malcheirosos ou tristes. Porque são humanos e, como eu mesma, temos momentos. Há pessoas que vivem mais a vida dos outros que as suas próprias –tecem comentários, encontram soluções, promovem discussões. Porque a vida alheia é mesmo isso – alheia a mim, não me pertence e, mais facilmente, conseguimos sanar os problemas dos outros e também enxergar melhor os seus defeitos. O filho dizia que eu era uma ótima conselheira sentimental. Mas que

dificilmente aplicava a mim mesma os ótimos conselhos que lhe dava. Porque conhecemos os outros, às vezes, mais do que a nós próprios. Ou talvez porque o bom senso só funcione num sentido – de nós para os outros, nunca de nós para nós mesmos. O bom de nos preocuparmos, ou tentarmos nos meter, na vida alheia é que assim preservamos a nossa do nosso escrutínio mais agudo e mordaz, do nosso olho clínico que funciona muito bem quando diante de nós não há um espelho, mas outra pessoa, diferente, a quem posso analisar de forma distante e distinta. Lembro-me de quando era mais novinha e ia a um casamento, gostava, sobretudo, de duas coisas – dos docinhos e de falar mal da roupa dos restantes convidados. Porque me achava, do alto da minha arrogância juvenil, detentora de um bom gosto incontestável. Continuo a gostar de observar as pessoas, e fico a imaginar como seria fazer-lhes um total makeover, mas guardo as ideias só para mim. Acho muito deselegantes pessoas que sofrem de sincericídio e que não se furtam de fazer comentários como “nossa, você engordou”! Ou “como você envelheceu”! Ou “essa roupa não lhe cai nada bem”. Se alguém tiver que me dizer qualquer coisa desagradável, faça o favor de falar pelas costas. Como disse um sábio amigo – prefiro que falem mal de mim quando não estou presente. Dá muita preguiça discutir .

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Foto: Vasco Célio

Oswald de Andrade Adília César (Escritora)

insónia avassaladora, por fim, sucumbia. Tudo tem um fim. Mas antes, os olhos bem abertos na escuridão devoravam a melancolia como faróis no túnel da noite. Ela, a mulher morena, já não estava ali. A porta ficara aberta e ele fechou-a, sem olhar a solidão que teimava em entrar. Outra vez. Mas antes, ela estava ali: a mulher-boneca.

Sabes de uma boneca sem almofada nem pedestal. Apenas o perfume da espera, a embrulhar um sorriso perfeito, suspenso no silêncio do quarto. Permanece na comodidade do seu drama, num monólogo subtil da imagem que oferece às paredes. Às vezes, uma sombra. Outras vezes, um brilho. E nunca a respiração. A porta abre-se em ângulo obtuso e o mundo agora é outro, ainda sombrio, mas partidário da emoção do que não aconteceu. Esse é o melhor momento do dia. Quando o quarto cósmico se acende com as estrelas que vêm de longe, só para enfeitar a boneca que se abandona ao destino surreal. Ela sabe o perigo que corre. Não há lugar para as sereias nas camas dos amantes. Não existe imunidade para os pecados amorosos. As pétalas frescas das rosas irão secar, mesmo que a eternidade lhes seja pedida. Apenas o vício amassado e transformado em prazer fácil no quarto quimérico. É só isso que sobra de cada vez

que tu sais por aquela porta. Mas depois as estrelas apagam-se no abandono do corpo imóvel. Um sono intranquilo, entrecortado pelas palavras do poema que quer sobreviver. Um sonho animado pelos efeitos especiais de uma boneca viva em pose sedutora. Um auto-retrato celestial de uma boneca outra vez virgem, de cada vez que tu voltares a entrar por aquele quarto. Num outro dia. Um leve pestanejar. Sabes de uma boneca, mas ela não sabe de ti. E foi-se embora. Há outras bonecas que abrem as portas das casas pelo lado de fora. Outras mulheres. Querem descobrir o que está lá dentro. Oswald acreditava em todas elas, bonecas e mulheres. No chão, a passadeira vermelha mostrava uma alegria de fim de mundo, de apocalipse, de amorosa intensidade, mas, principalmente, de inteligência.

Vejamos: Oswald de Andrade era mais do que este homem. Era um ser capaz de deglutir, engolir a cultura e transformá-la em algo muito próprio e modernista. Desde o início da sua acção cultural, criava polémicas, respondia às provocações surgidas e marcava uma posição em defesa da arte. Nesses textos, questões estéticas relacionadas com questões políticas e sociais, em jornais e revistas da época, permitiram consolidar um espaço de encontro para o nascimento de uma nova estética – o movimento modernista –a partir de 1922. Oswald de Andrade tinha pouco mais de 30 anos de idade.

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Considera-se um povo pela sua cultura; é a expressão máxima de raça e de momento a obra de arte que resiste ao tempo; passam os politiqueiros, passam os tiranos que andaram de charola, passam os milionários e os agitadores de praça pública, apaga-se a memória dos que foram grandes à força de trombeta – e ficam os artistas. (Oswald de Andrade, Jornal do Commercio, São Paulo, 16 maio 1920)

O homem, o escritor, o pensador, o mestre, proclamava independência artística sobre o caminho da Independência política do Brasil de 1822, frisando que independência não é somente independência política, é acima de tudo independência mental e independência moral. (Idem)

Ter coragem é perseguir a realidade e Oswald sabia que tudo o que fica registado fala com o futuro. Por essa razão e para fazer cumprir o seu propósito, escrevia sem parar. Contudo, o seu optimismo era relutante. A linguagem assume um significado incompreensível e agonizante, o qual recusas. Curar as feridas do pensamento, desvanecer as náuseas da emoção. A gordura derrete e escorre por entre os pés dos ignorantes. Escorregam a cada passo e afogam-se na sua própria vulgaridade. Cheiram a ranço. Tu já não estás ali porque tu nunca estiveste ali. E não sucumbes. Pensas-te para regressares à realidade que criaste em teu redor, como se a trama da banalidade se pudesse transformar numa teia pacificadora. Mas não há filosofia que ilumine o negrume da razão amaldiçoada. Ficas exausto e dormes durante um século dentro do coração. Quando acordas, não sabes o nome da linguagem que te adormeceu, bem no centro de um novelo

de emoções. Depois, durante o dia, acumulas as tuas dúvidas. Hoje, o poema escreve-se no fim. E, todavia, um poema escrito no final da página abre uma fenda para deixar entrar o futuro da página seguinte, ou seja, o princípio de qualquer coisa que mereça ficar na nossa memória, que mereça um pensamento amplo, assim como uma explosão lenta de humanidade:

ERRO DE PORTUGUÊS

Quando o português chegou

Debaixo de uma bruta chuva

Vestiu o índio

Que pena!

Fosse uma manhã de sol

O índio tinha despido

O português.

Oswald de Andrade (Brasil, 1890-1954), in «Primeiro caderno de poesia do aluno

Oswald de Andrade», 1927

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