ÍNDICE
7.ª Mostra Silves Capital da Laranja (pág. 24)
Vila do Bispo testou Plano Municipal de Emergência de Proteção Civil (pág. 36)
Taça de Portugal de Enduro em São Brás de Alportel (pág. 50)
Lia Rodrigues: “A arte é a base da comunicação humana” (pág. 64)
Lula Pena nos encontros do DeVIR (pág. 80)
«Por um ambiente de paz» na Galeria de Arte da Praça do Mar, em Quarteira (pág. 90)
«Fluxodrama» no Cineteatro Louletano (pág. 108)
OPINIÃO
João Ministro (pág. 116)
Lina Messias (pág. 120)
7.ª Mostra Silves
Capital da
Laranja promoveu a melhor laranja do mundo
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
uma iniciativa dinamizada pela Câmara Municipal de Silves, a 7.ª Mostra Silves Capital da Laranja decorreu nos dias
10, 11 e 12 de fevereiro, na zona ribeirinha junto à FISSUL, divulgando a citricultura que se faz no concelho e os diversos agentes económicos ligados ao sector. Sara Correia, José Cid e Mimo´s Orchestral Experience com Banda da Sociedade Filarmónica Silvense foram os
cabeças de cartaz desta edição, mas animação não faltou ao longo de todo o dia no recinto.
Para além da área da citricultura, estiveram presentes dezenas de
expositores ligados aos vinhos, agricultura, produtos regionais, doçaria, artesanato, gastronomia, associativismo e instituições locais e regionais. Na Conferência Laranja XXI foram debatidos temas centrais para a produção e produtores de citrinos, realizou-se mais um Festival Internacional de Cocktails Silves da Laranja nas modalidades de After Dinner e Flairbartending, houve animação musical infantil a cargo de João Violão e não faltou a conhecida Marcha dos Namorados, atividade desportiva que integra o calendário de marcha-corrida do Algarve.
Realçar a citricultura, os seus produtores e os assuntos que interessam para a melhoria deste sector é o grande objetivo da Mostra Silves Capital da Laranja, que teve a sua primeira edição em fevereiro de 2017 .
Vila do Bispo testou Plano Municipal de Emergência de Proteção Civil
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina o âmbito do Plano Municipal de Emergência de Proteção Civil (PMEPC), a Câmara Municipal de Vila do Bispo promoveu, no dia 12 de fevereiro, no Beliche, um exercício de resgate em falésia à escala real (Livex) que contou com a participação de vários agentes de Proteção Civil, entidades de apoio e respetivos meios. O exercício, realizado nas falésias de Sagres, pretendeu testar a eficácia do PMEPC e, simultaneamente, avaliar o desempenho das entidades
envolvidas (Serviço Municipal de Proteção Civil de Vila do Bispo, corpos de bombeiros de vários municípios do Algarve, Autoridade Marítima Nacional, Guarda Nacional Republicana, Agência Portuguesa do Ambiente, Autoridade Nacional de Proteção Civil e Escola Portuguesa de Salvamentos), bem como os meios e equipamentos utilizados.
Os testes aos planos de emergência, que podem ser efetuados através de exercícios e simulacros, permitem identificar aspetos a melhorar na atuação e coordenação das diversas entidades, identificar novos riscos e criar rotinas que
permitam uma intervenção mais eficiente das equipas envolvidas. A prática de exercícios permite a sedimentação de conhecimentos e automatismos que vão melhorar a resposta em situações de acidente grave ou catástrofe, sendo que o Exercício de Resgate em Falésia – FALEX SAGRES’22 englobou também um colóquio, ações de treino e workshops que tiveram lugar no dia 11 de fevereiro.
O programa começou, então, no sábado, com um colóquio que abordou três temas relacionados com o salvamento, o primeiro dos quais apresentado pela Escola Portuguesa de Salvamentos e pela SAR-TEAM, através do Comandante Francisco Rocha, onde se conheceu a realidade do resgate a nível internacional. Seguiu-se a intervenção de Sebastião Teixeira, da APA – Agência Portuguesa do Ambiente, sobre a erosão
costeira e quais as suas implicações na ancoragem dos meios para salvamento. Depois, a Autoridade Marítima Nacional, por via do Capitão do Porto de Lagos, o Comandante Pedro Palma, falou da interface terra/mar e dos meios envolvidos. Finalmente, o Comando Regional de Emergência e Proteção Civil do Algarve, na pessoa do Comandante Sub-Regional Richard Marques, dissertou sobre salvamentos especiais, seja em grande ângulo, aquático ou estruturas colapsadas. “Da parte da tarde tratamos de técnicas específicas nas quais os bombeiros sentem mais dificuldades, pelo que o sábado foi um dia bastante produtivo”, referiu Emerson Gomes, Coordenador do Serviço Municipal de Proteção Civil de Vila do Bispo.
No dia 12 foi dado um alerta, pelas 7h30, relativamente a uma embarcação marítimo-turística com 18 pessoas a bordo e cuja última comunicação avisara para a existência de um incêndio a bordo. “O mestre perdeu o controlo e a embarcação embateu numa estrutura rochosa junto ao Forte do Beliche. A Autoridade Marítima Nacional entrou prontamente em contacto com o Serviço Municipal de Proteção Civil de Vila do Bispo e com os Bombeiros Voluntários de Vila do Bispo, no sentido de se reunir o Centro de Coordenação Operacional Municipal, que depois
fez uma proposta à presidente da Câmara Municipal para se ativar o Plano de Emergência Municipal para apoiar a Autoridade Marítima Nacional neste acidente”, contou Emerson Gomes.
Neste sentido, foram despachados 31 veículos da região, com cerca de 111 operacionais, que em conjunto participaram no resgate das 18 vítimas do acidente, e todo este processo aconteceu no espaço de uma hora. “Assim que o pré-alerta foi dado, que se verificou uma probabilidade acima dos 90 por cento de uma embarcação ter realmente
embatido na estrutura rochosa, o Comando Regional optou por préposicionar os meios em Sagres, que depois foram enviados para o local, às 9h, quando efetivamente foi detetada a embarcação em chamas junto ao Forte do Beliche”, declarou Emerson Gomes, acrescentando que esta «máquina» está preparada para entrar em ação 24 horas por dia, 365 dias por ano. “A triangulação que é feita automaticamente entre os três corpos de bombeiros mais próximos da ocorrência garante de imediato uma capacidade operacional diferenciada e depois fomos avançando pelo Algarve
adentro até chegarmos a São Brás de Alportel, passando por todos os corpos de bombeiros que têm equipas de salvamento em grande ângulo”, explicou. Equipas de salvamento em grande ângulo que, na prática, significam salvamento técnico por cordas, em altura e em ambientes de arribas, o que exige um treino específico.
O exercício prolongou-se até às 13h, havendo a registar, infelizmente, duas vítimas mortais que estavam submersas e cujos corpos se conseguiram resgatar. No final, tendo em conta a complexidade da situação, Emerson Gomes fez um balanço positivo deste Livex. “Estiveram cerca de 130 pessoas envolvidas, entre
operacionais dos bombeiros, da Autoridade Marítima Nacional, da GNR, da Cruz Vermelha, da Câmara Municipal e Juntas de Freguesia, da autoridade de saúde local, da Polícia Marítima e do Instituto de Socorros a Náufragos, todos juntos a tentar encontrar uma solução para um cenário que tem fortes probabilidades de acontecer neste território. As equipas do Algarve estão muito rotinadas nestas manobras, mesmo em condições atmosféricas bastante adversas como as que se verificaram nesta manhã”, analisou o Coordenador do Serviço Municipal de
Proteção Civil de Vila do Bispo, que confirmou, entretanto, ter sido identificada a necessidade de se possuir um drone de emergência. “A Câmara Municipal, por via da ativação de um particular, conseguiu meter, em live streaming, todo o resgate e isso permitiu aos decisores saberem exatamente onde estavam as vítimas e atuarem da melhor forma para os resgatar. Ficou claramente justificada a aquisição de um drone de emergência para apoiar no terreno os operacionais”, concluiu Emerson Gomes .
Sauro Agostinho e Sophie Bagnall entram a ganhar na Taça de Portugal de Enduro
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Federação Portuguesa de Cicilismo
auro Agostinho (Casa do Povo de Abrunheira) e Sophie Bagnall (Bicisintra/GásMucifal)
venceram no dia 12 de fevereiro, em S. Brás de Alportel, a primeira prova pontuável para a Taça de Portugal de Enduro presented by Shimano.
A prova de elite masculina assistiu ao domínio de Sauro Agostinho, que venceu os cinco percursos especiais
cronometrados (PEC). Terminou com 15’11’’280, menos 32,654 segundos do que João Rodrigues (Adc Alfarrazes/Guarda). O terceiro, a 32,877 segundos, foi Guilherme Jesus (MCF/XDream/Município de S. Brás). A prova de femininas com mais de 17 anos foi equilibrada, com apenas 5,636 segundos a separarem as duas primeiras.
Sophie Bagnall foi a mais rápida, seguida por Ana Leite (AXPO Team Vila do Conde). A terceira foi Beatriz Sousa (Guilhabreu BTT), a 2’30’’048.
Entre os mais jovens impuseram-se o sub-21 Leonel Manteigas (Casa do Povo de Abrunheira), o júnior Matias Camacho (Caniço Riders/Freeride Madeira), o cadete Tiago Patrocínio e o juvenil Nui Tai (Wildpack Algarve Racing). Os vencedores nas categorias de veteranos foram o master 30 Rafael Machado (AD Galomar/Ferragens Viera), o master 35
Rafael Martins, o master 40 Nuno
Nóbrega (Mirachoro Hotels/Centro de Ciclismo de Portimão), o master 45 Nuno
Lopes (ADAR/OFIMOTO), o master 50 Leonel Bento (Casa do Povo de Abrunheira) e a master Natalia Gil-Alfaro (Spain Downhill).
Nas bicicletas de assistência elétrica dominaram Pedro Cândido (Movefree/Torres Vedras/Cofidis), na categoria até 39 anos, e Gonçalo Martins, nos maiores de 40 anos. A Casa do Povo de Abrunheira ganhou por equipas .
“A arte é a base da comunicação humana”, afirma Lia Rodrigues
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
CO EGO é o título da mais recente exposição de colagem da farense Lia Rodrigues, que está patente, no Instituto Português do Desporto e Juventude – Direção
Regional do Algarve, em Faro, até 27 de fevereiro. A mostra reflete o trabalho que a artista de 30 anos tem vindo a desenvolver desde 2018 e pretende ilustrar a importância do transformar-se e ampliar-se na evolução do indivíduo, algo que, por vezes, fica de lado na submersão de contextos mais formais.
A retrospetiva evidencia a expressão de Lia Rodrigues numa altura em que o mundo atravessou uma pandemia global e atingiu elevados níveis de stress e burnout e uma alienação nunca antes vista, “podendo esta forma de arte ser um dos meios de acalmar o espírito, descansar a mente e fazer silêncio dentro de nós, para quem a experiencia ou contempla”, descreve a entrevistada, que começou a tirar o curso de Publicidade e Marketing na Universidade do Algarve, concluindo depois a sua formação superior em Lisboa. “A arte é uma forma de
comunicação e a comunicação também pode ser uma arte. Quanto ao marketing, é 30 por cento cálculos, 70 por cento criatividade, está tudo relacionado”, entende.
Para Lia Rodrigues, todos nós somos artistas, simplesmente uns fazem disso a sua carreira profissional, outros um hobby, outros nem sequer dão continuidade a essa aptidão. “O meu conselho é nunca parar, porque a arte é a base da comunicação humana”, aponta a autodidata, que tem feito vida sobretudo na produção de eventos e a divulgar artistas menos conhecidos. E depois de ajudar os outros, a farense decidiu, finalmente, apostar na sua carreira, sendo esta a sua terceira exposição, depois de uma primeira em
França e outra já em Portugal. “Até 2018 trabalhava sobretudo com pastel a óleo e pastel seco, acrílico, aguarela, carvão. Nesse ano estava em França, longe dos meus materiais, sentia necessidade de criar e foi assim que descobri a colagem”, recorda. “Antes, a arte era para mim um género de terapia, só agora é que começo a afirmar-me enquanto artista, a dar a conhecer esta minha faceta”.
Colagem que, admite Lia Rodrigues, ainda é vista como um «parente pobre» das artes plásticas e neste curto espaço de tempo já passou por diversas fases, desde uma mais ativista a outra mais íntima, deambulando uns tempos pelos temas mais surrealistas e regressando
novamente ao ativismo. “É importante trazer para a arte os assuntos sociais, não olhar para ela apenas como algo chique, de encher o ego, se bem que ir a uma exposição de arte ainda seja visto como algo glamouroso”, observa a artista, explicando que a função do colagista é remisturar imagens e dar-lhes novos sentidos e significados. “O resultado final não é tanto da vida real, mas do mundo onírico, dos sonhos, quase uma fuga à realidade”, considera.
O processo criativo é também muito subjetivo e o conselho que Lia Rodrigues dá aos seus alunos é para fazerem silêncio, pensarem e verem quais são os primeiros assuntos que lhes acorrem à
cabeça. Depois, foquem-se neles, vão atrás deles. Para Lia, no entanto, as coisas começam a desenrolar-se de forma mais livre, inconsciente, pegando nesta ou naquela imagem. “Claro que, por vezes, quando somos demasiado livres no processo, o resultado pode ser mais caótico do que pretendíamos. A vantagem da colagem é que se podem tirar segmentos, editar a peça, colar outros segmentos. E não há problema em serem obras mais complexas, porque a mente humana é complexa. Tenho quadros com apenas dois recortes para ilustrar alguns contrastes sociais, mas gosto muito de usar várias camadas para obrigar as
pessoas a olhar e pensar com mais atenção para tentarem interpretar os diferentes significados e contextos”.
E será que as pessoas têm conhecimentos e, sobretudo, tempo, para se debruçarem com essa atenção para as obras de arte, questionamos. “A imagem é o meio de comunicação mais global. Uma pessoa, seja de que género for, seja qual for a sua religião ou classe social, o seu nível de formação académica, mesmo que não saiba ler ou escrever, consegue interpretar uma imagem, e de maneira diferente da pessoa que está ao seu lado. Nem podemos dizer que há leituras mais pobres ou mais ricas, o que
interessa é que reflitam, que olhem mais além”, defende Lia Rodrigues, reconhecendo, porém, que, no mundo atual, nem sempre se consegue fazer isso devido à velocidade a que todos vivemos. “Agora é tudo imagens rápidas e vídeos super estimulantes para o cérebro, mas eu convido as pessoas a pararem, olharem e pensarem”
Para além de servir para transmitir mensagens, assumir posições, alertar para situações, a arte pretende ser, para muitos, o seu principal meio de subsistência, e bem sabemos todos nós o quão difícil é vender uma peça, seja qual
“Estamos aqui a mostrar as nossas entranhas”
for o material utilizado. Neste caso concreto, Lia Rodrigues tem a vantagem do custo com os materiais ser menor, a bem dizer são revistas, catálogos, páginas soltas, é preciso, sobretudo, organização. “Estão ali molduras e impressões que custaram dinheiro, mas não se compara aos gastos com uma tela e um pastel seco. É também uma forma de as pessoas perceberem que não são precisos grandes meios financeiros para se expressarem. Em 2018, só tinha as revistas do supermercado e de lojas de roupa, uma tesoura e cola. Neste momento já sinto necessidade de arranjar um ateliê, começa a ficar difícil gerir o espaço em casa. Quando vou criar, preciso de ter tudo limpinho à minha
volta, caos vou eu fazer na peça”, explica, com um sorriso.
Criar obras de arte envolve as dificuldades que conhecemos, mas depois é preciso também arranjar espaços para as divulgar, formas de as levar ao grande público, e Lia Rodrigues admite que tem, como é natural, alguns locais onde gostaria de expor. “Apoios financeiros aos jovens artistas são poucos em Portugal, vou tentar candidatar-me a alguns internacionais. Na inauguração da exposição no IPDJ já fiz alguns contatos para a levar para outros espaços, porque quero partilhar a minha forma de ver as coisas com o máximo de pessoas”, adianta. Isso não significa, todavia, que este desejo, e também o de vender peças, vá alterar o
seu estilo. “A minha primeira preocupação é eu expressar-me a mim própria, é eu comunicar comigo mesmo, mesmo que, depois, os outros possam não gostar das peças. Uma das razões para ter seguido Publicidade e
Marketing foi precisamente para não depender financeiramente da arte para pagar as minhas contas”, revela. “Isto é tudo muito pessoal, estamos aqui a mostrar as nossas entranhas. Não vender nem
sempre é o principal problema dos artistas, mas sim a forma como lidamos com as críticas”, sublinha, acrescentando que não é muito fácil expressar os nossos sentimentos, as nossas emoções, através de colagens. “Mas acredito que as pessoas
reconhecem as energias que estão patentes nas minhas obras, sobretudo quando começam a compreender as várias camadas que ali estão. São imagens que, isoladas, têm os seus significados e depois, juntas, têm outro completamente diferente”
«Eco Ego» está patente no IPDJ até dia 27 de fevereiro, mas Lia Rodrigues já está a preparar novo material e sem quais restrições, portanto, a próxima exposição até pode nem ser só de colagens. “Desde a quarentena que tenho uma tela em acrílico por acabar e gostava também de experimentar óleo. Sou colagista, mas não sou apenas colagista. Sou artista, canto, escrevo, não estou presa a uma só forma de expressão artística. Também não quero fazer uma exposição todos os meses, isso satura o público e sufoca o processo criativo. O importante é estarmos constantemente a renovar-nos, a transformar-nos”, considera a farense .
ENCONTROS DO DEVIR TROUXE LULA PENA A FARO
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel PinaCiclo d’Outra Maneira, do Festival encontros do DeVIR, proporcionou uma agradável noite, no dia 11 de fevereiro, ao público que praticamente encheu a sala do CAPa – Centro de Artes Performativos do Algarve, em Faro, ao som de Lula Pena. A cantora, guitarrista, compositora e intérprete portuguesa lançou, no final de janeiro, o disco «Archivo Pittoresco», o sucessor de «Troubadour» (Mbari), de 2010, que por sua vez se tinha seguido ao debute «Phados» (Carbon 7), de 1998.
Nos 12 anos entre o primeiro e segundo álbuns a pergunta mais recorrente quando se pensou em Lula Pena foi por onde parava e porque é que nos víamos sucessivamente privados de ouvir novos documentos desta música, que parece maravilhar todos os que com ela contactam, independentemente da parte do mundo de onde vêm. As razões são tantas como as histórias, e tão puras e honestas quanto a música. Com a edição de «Troubadour», e os anos que se seguiram nesta década a transformá-lo ao vivo, dentro e fora de Portugal, tornou-se claro que Lula é cada vez mais um tesouro partilhado de todos os
lusófonos de coração, fruto da sua fascinante abordagem à canção popular global, radicada numa expressão artística singular que entretece tantas tradições de música, som e poesia.
«Archivo Pittoresco» reflete precisamente isso ao longo dos seus 13 temas. Dominando um estilo seu a tocar a guitarra que nos concentra a atenção, e um trovar/trocar de línguas latinas e os seus perfumes, sotaques, inquietações e esperanças que nos envolve e transporta, Lula faz justiça a uma vocação abençoada para escolher, compor e justapor repertório que aprimorou ao longo do tempo. Com letras e poemas de
escritores como Manos Hadjidakis, Violeta Parra, o surrealista Belga Scutenaire, e da sua própria pena, e música recontextualizada desde autores populares anónimos e outros menos celebrados, aos compositores da bandasonora original da Twilight Zone, ouvimos Lula cantar em português, francês, inglês, espanhol, grego e italiano com a maior liberdade e consequência do mundo.
“Procuro uma tradição à escala universal e em cada esquina está uma presença divina que nos permite chegar a essa escala”, refere a artista .
«POR UM AMBIENTE DE PAZ» PATENTE NA PRAÇA DO MAR, EM QUARTEIRA
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pinaté 3 de março, o Conselho
Português para a Paz e Cooperação, em parceria com a Peace and Art Society e o apoio do Município de Loulé, leva a exposição de artes plásticas «Por um Ambiente de Paz» à Galeria de Arte da Praça do Mar, em Quarteira.
Entre 2018 e 2021, o Conselho organizou várias exposições no Algarve, intituladas «Artistas pela Paz» e «Pela Paz, contra as armas nucleares», em que foram apresentadas imagens que procuravam sensibilizar para os perigos das armas nucleares. Este ano, com o título «Por um Ambiente de Paz», decorre mais um ciclo de exposições que se iniciou na Biblioteca da Universidade do Algarve, a 15 de setembro, e que está agora no concelho de Loulé. Desta vez, as obras expostas procuram sensibilizar para
as questões ambientais e para a importância da preservação da natureza, através de um ambiente de paz consigo próprio, com os outros e com a natureza. A mostra pode ser visitada de terça-feira a sábado, das 10h às 13h e das 14h às 18h.
O Conselho Português para a Paz e Cooperação tem como fim contribuir, através da mobilização da opinião pública, para a defesa da Paz, da segurança e da cooperação internacionais, e para a amizade e solidariedade entre os povos, de harmonia com o espírito da Carta das Nações Unidas. Enquanto movimento de opinião pública nacional, a entidade procura interpretar as aspirações dos portugueses empenhados na luta pela paz, pelo respeito dos direitos humanos e dos povos, pelo desenvolvimento e o desanuviamento, e tem tido, ao longo dos anos, um papel primordial em importantes realizações nacionais e internacionais .
AMARELO SILVESTRE LEVOU «FLUXODRAMA»
AO CINETEATRO LOULETANO
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Jorge GomesCineteatro
Louletano
acolheu, no dia 10 de fevereiro, «Fluxodrama», uma abordagem performativa à contemporaneidade permanente de assuntos universais da responsabilidade da Amarelo Silvestre.
Assuntos políticos, filosóficos, éticos, sociais, económicos, ambientais e religiosos, enfim, assuntos universais, deram o mote a uma experiência sócio-
teatral em que os espectadores são, simultaneamente, atores do próprio espetáculo a que assistem, em resposta a perguntas essenciais. “As convicções individuais fazem aproximar e afastar pessoas no seu fluxo contínuo de diálogo e o fim será adiado até ao limite das possibilidades”, descreve Fernando Giestas, responsável pela Direção
Artística desta cocriação de Ricardo Vaz
Trindade e Sofia Moura, Ricardo Baptista, Leonor Barata, Carolina Reis, António
Alvarenga e Alexandre Costa .
João Ministro (Engenheiro do Ambiente e empresário)
articipei há dias num debate promovido pelo Turismo de Portugal e a Região de Turismo do Algarve em Querença sob o tema «O Turismo no Algarve e no Interior», no qual interveio o senhor Secretário de Estado do Turismo, Comércio e Serviços. A iniciativa insere-se no «Roteiro da Agenda para o Turismo no Interior» que visa auscultar os agentes locais, suas preocupações e sugestões, com o objectivo de anunciar em breve um programa de intervenção para estes territórios.
A discussão foi curta, perdeu-se algumas vezes em redundâncias pouco relevantes, mas ainda assim permitiu tocar nalguns aspectos importantes e decisivos para um interior vivo, sustentável e turisticamente atractivo. Reparto convosco algumas das considerações que ali partilhei com os presentes e outras ainda que, não tendo sido possível expor, ficam aqui para registo futuro.
1. Não há como negar, ignorar ou desvalorizar: o interior é fundamental para o turismo do Algarve (e do país). É essencial para combater a sazonalidade e estratégico para potenciar uma distribuição espacial mais equilibrada dos visitantes e reduzir cargas excessivas em determinados locais. É vital para captar novos mercados e assim ambicionar um crescimento mais robusto e sustentável. É
fundamental para posicionar a região em determinados segmentos, nomeadamente os orientados para a contemplação da natureza, paisagem, cultura, aventura ou desporto de natureza. É também essencial nas estratégias de compensação carbónica, pois é aí onde muitas das campanhas de reflorestação se desenvolvem, bem como para o cumprimento das agendas europeias de ambiente, como a de combate à perda de biodiversidade. E é obviamente vital para que toda a região, incluindo o litoral, possa beneficiar de uma boa qualidade ambiental e de vida, seja do ar, da paisagem, da produção agrícola, da disponibilidade de água, entre muitos outros aspectos.
E o Turismo para o Interior? Pode ser de uma importância decisiva para o seu desenvolvimento. É igualmente inegável. Pode gerar riqueza local, contribuir para a preservação dos valores patrimoniais, ajudar a atrair e a fixar pessoas e contribuir positivamente para uma mudança na forma como esses mesmos territórios são hoje vistos e apreciados.
2. O desenvolvimento turístico do interior não pode replicar aquele que vingou (e ainda vinga) na nossa costa e que a deixou como hoje sabemos. Não pode ser um modelo alicerçado em estratégias para turismo de massas, de grandes infra-estruturas e de megaempreendimentos. Não pode ser um turismo que artificialize a paisagem,
destrua os valores da cultura e da biodiversidade. Ou uma indústria da mãode-obra barata e dispensável, da especulação e do imobiliário. Tem de ser um turismo responsável, transparente, agregador, integrador e diferenciador.
3. As motivações de quem procura os territórios do interior são, na grande maioria, bem diferentes daqueles que procuram Sol e Praia ou Golfe. O interior é privilegiado para os interesses fortemente involucrados à natureza, cultura, saúde e bem estar, tranquilidade, autenticidade ou gastronomia local. Caminhadas, BTT, corrida, observação da biodiversidade, workshops criativos ou retiros de saúde e bem-estar são apenas alguns exemplos de actividades que já têm forte presença nessas zonas, fora do Verão, impulsionadas por projectos como a Via Algarviana ou Rota Vicentina. Nesse
sentido, a sua promoção turística (e até comercialização) deve apostar nessas valências, junto dos públicos certos e com estratégias dirigidas.
4. É vital entender que o turismo no interior só é viável se ali houver pessoas a viver e a trabalhar. Esta é a questão fulcral para o seu desenvolvimento, como aqui já muitas vezes referi em outros artigos. Não havendo quem trabalhe o território, garanta as práticas rurais e florestais essenciais para a sua gestão e vitalidade, quem produza aqueles bens de alta qualidade e distintivos que tanto apreciamos ou que preservem os valores culturais ancestrais, o abandono é certo, o empobrecimento geral é garantido e aquilo que é o suporte de oferta turística diferenciadora e especial desaparece.
E é aqui que os problemas emergem. Como pode então o turismo impulsionar uma economia mais resiliente, sólida e atractiva no interior do Algarve, quando o despovoamento do interior não cessa? Onde nem sequer se consegue fixar quem já lá nasceu? Quando a falta de habitação atinge hoje uma dimensão tal que é praticamente impossível fixar novos residentes? Onde as telecomunicações ainda mal funcionam em numerosos locais dessa extensa serra? Onde os transportes públicos são ainda mais raros do que o recém introduzido Lince-ibérico? Onde o próprio acesso à terra está sob tal especulação que fixar novos agricultores é um desafio?
Promover o turismo nos territórios do interior, numa abordagem de responsabilidade e sustentabilidade, pode ajudar a colmatar alguns dos desafios referidos. Mas como? Muito já se tem feito, naturalmente. Os projectos antes referidos são excelentes exemplos. Mas há muito ainda a fazer. Demasiado até, face aos longos anos em que debatemos estas questões e aos muitos milhões de euros já gastos. Não há soluções milagrosas, nem medidas instantâneas. Há, sim, caminhos a percorrer, longos e exigentes. Deixo, por fim, algumas notas a esse respeito:
– O modelo operacional das actuações no interior tem de mudar. Não é possível manter o mesmo modus operandi e esperar resultados diferentes. É preciso olhar para o que foi feito e de uma forma pragmática, descomprometida e eficiente encontrar novos caminhos de intervenção.
É essencial investir na obtenção de bons resultados – e para tal definir melhores mecanismos de verificação e
validação – e não apenas no executar financiamentos para fins estatísticos.
– É preciso desburocratizar os processos. Não é viável as organizações, sejam elas de que natureza for, despenderem a parte relevante do seu tempo a resolver questões burocráticas e administrativas quando a sua vocação e especialização é o trabalho no terreno e na construção de soluções para o desejado desenvolvimento.
– É preciso reduzir o investimento em «betão e infra-estrutura» e investir mais na «massa humana», incluindo a sua qualificação – ajustada aos tempos actuais – no trabalho em rede e no estímulo à criação de micro-redes locais de intervenção, no cooperativismo, na inovação e criatividade ou na investigação com efeitos práticos e transmissíveis ao mercado.
– É fundamental agir em torno da preservação e gestão cuidada da paisagem e de tudo o que ela comporta. Também aqui é preciso ser ousado e ambicioso.
E, por fim, é preciso coragem e visão política para romper com uma certa cultura de imediatismo e propagandismo que não se coadunam com os tempos e as exigências que os desafios acima referidos requerem. O interior sofre de um problema complexo, engordado ao longo de várias décadas, e a solução (ou as soluções) obrigam a tempo, estabilidade e plena dedicação. Sem isto, não há Turismo que preserve o Interior, nem Interior que salve o Turismo .
Casas mortas Lina Messias (Especialista em Feng Shui)
uando pensamos numa casa, pode ser difícil associá-la a algo vivo! Ela é feita de materiais inanimados: de tijolos e andaimes, de revestimentos e telhados, de vidros e caixilharias; mas ela vive e sempre retribui o amor e Vida que recebe e presencia.
Para considerarmos uma casa como morta, não tem necessariamente que ser uma ruína ou tampouco estar desabitada, as Casas estão mortas quando os moradores também estão, embora pareça que não!
Mesmo quando o nosso coração continua a bater, mesmo quando continuamos a comer e a beber, mesmo quando nos deitamos e levantamos da cama todos os dias, podemos não estar realmente vivos. E esse «baixar de braços», essa falta de paixão pela vida, essa falta de energia na pele e no coração, sente-se literalmente no local onde vivemos.
Nas casas mortas, pode lá viver uma pessoa ou uma grande família, o sentimento de vazio é o mesmo, pode ser um T0 ou uma grande mansão, o desconforto é o mesmo, pode ter vista para o mar ou estar no centro de uma
grande cidade, a tristeza entranha-se em quem lá entra, da mesma forma.
Não interessa de que material as casas são feitas, não interessa quantas divisões têm, não interessa a cor da fachada, não interessa quantas janelas e portas têm, a energia das casas depende sempre da energia dos moradores.
Nas casas mortas há pessoas, mas não se ouvem gargalhadas.
Nas casas mortas há casais, mas não há beijos «roubados», abraços apertados nem se sente o cheiro de fazer amor.
Nas casas mortas há crianças, mas não há brinquedos espalhados pelo chão.
Nas casas mortas há famílias, mas não há cheiro do assado acabado de sair do forno.
Nas casas mortas há fogão, há tachos e panelas, mas só se usa o micro-ondas.
Nas casas mortas há luz, mas não se abrem as janelas.
Nas casas mortas há uma mesa grande, mas não se recebe ninguém para jantar.
Nas casas mortas há mobiliário de design, mas há total ausência de cores.
Nas casas mortas há televisões em
todas as divisões, mas ninguém dança ao som de música alta.
Nas casas mortas há um cofre com dinheiro, mas não há fotografias com momentos e viagens memoráveis.
Nas casas mortas há serviços Vista Alegre e faqueiros de prata, mas nunca foram usados.
Nas casas mortas há Ipad, Iphone, Ipod, mas não há serões de conversa regados com um bom vinho.
Sabemos desde o primeiro momento de Vida que esta é finita. É a forma como experienciamos o caminho entre estes dois momentos, o do nascimento e o da morte, que vai realmente confirmar se não morremos em VIDA.
O objectivo não é só estar VIVO, é sentir-se VIVO! .
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EDITOR:
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dos Reis e Pina
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