ÍNDICE
«Terra de Maio» no Azinhal (pág. 12)
Docapesca transferiu competências para seis municípios do Algarve (pág. 24)
Complexo Habitacional da Ladeira da Fonte inaugurado em Paderne (pág. 34)
«Vamos à Vila» em Monchique (pág. 42)
«C., Celeste e a Primeira Virtude» no Cineteatro Louletano (pág. 56)
«Quarto Império» no Cineteatro Louletano (pág. 74)
«Os Dias de Birgitt» no Cineteatro Louletano (pág. 88)
Nanook lançou «Inquietude» no Teatro Lethes (pág. 100)
«A Cigarra e a Formiga» em Lagoa (pág. 110)
OPINIÃO
Mirian Tavares (pág. 118)
Júlio Ferreira (pág. 120)
Dora Gago (pág. 122)
«Terra de Maio» voltou ao Azinhal com grandes concertos e mais experiências gastronómicas
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Município de Castro Marim e 26 a 28 de maio, a aldeia do Azinhal voltou a receber o Terra de Maio –Feira da Cabra, evento que tem como divisa a promoção e incremento da Cabra de Raça Algarvia e os saberes e sabores a ela associados. Este ano, a organização investiu em experiências gastronómicas diferenciadas e trouxe grandes nomes da música portuguesa a palco. O balão de ar quente, uma das iniciativas de maior
sucesso da edição anterior, voltou a ser um dos grandes atrativos do «Terra de Maio».
No Pavilhão Multiusos do Azinhal aconteceram os showcookings «Do campo para a mesa», da Escola de Hotelaria e Turismo de Vila Real de Santo António; do referenciado chef Alípio Branco, que trouxe novos pratos de borrego e ovelha churra de produção biológica de um jovem agricultor do território; do chef do Octant Praia Verde, David Domingues; e do estrela Michelin
Luís Brito. Destaque também para o Ronquear do Atum, pela Confraria do Atum de Vila Real de Santo António, e para apresentação e prova de cerveja artesanal SENESCAL Brewery e do vinho «Lábios Nus», duas prestigiadas marcas castromarinenses em ascensão.
Com a máxima de trazer sempre os sabores do território e do mundo rural, o queijo é sempre o protagonista desta feira, sendo um dos grandes destaques a 5.ª edição do «Maior Queijo de Cabra de Raça Algarvia», que aconteceu no dia 27 de maio, num desafio proposto pelo Município de Castro Marim à ANCCRAL –Associação Nacional dos Criadores de Caprinos de Raça Algarvia e que resultou num queijo fresco com aproximadamente 40 quilos e 80 cm de diâmetro, para o
qual foram necessários cerca de 170 litros de leite.
A animação foi outro dos grandes atrativos do evento e, para além dos principais concertos que animaram as noites da «Terra de Maio», o dia teve sempre muitas experiências e atividades para oferecer a miúdos e graúdos. Desde fabricar queijo artesanal, experimentar a arte da ordenha ou ainda praticar equitação, o certame foi composto por um diversificado leque de atividades articuladas com os valores do interior e da região. Pelo palco principal passaram, entretanto, o grupo de música popular «De Moda em Moda», com enfoque no cante alentejano; os «Irmãos Verdade», reconhecidos pelos ritmos de zouk e quizomba; e o conceituado cantor TOY.
No sábado, a manhã foi dedicada a um seminário que trouxe importantes contributos sobre a Lei da Saúde Animal, Apicultura e culturas de sequeiro, entre outras abordagens, com a participação da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária, da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve e do Instituto Conservação da Natureza e Florestas. Foi também este o momento de saber quais os vencedores do Concurso da Cabra de Raça Algarvia, que regressou nesta edição com cerca de 10 criadores em competição. Para os amantes de motorizadas realizou-se, no dia 28 de maio, o 4.º Encontro de Motorizadas, numa organização da Associação Recreativa e Cultural do Azinhal. Na mesma manhã teve lugar uma caminhada, com partida da Casa do Povo do Azinhal. À exposição de «Raças
Autóctones: Cabra de Raça Algarvia;
Ovelha Churra e Vaca de Raça Algarvia»
juntou-se este ano a exposição de Cães Pastores, mas podia ver-se também a exposição de «Voz do Guadiana» e a Queijaria do Centro Multiusos, em permanente funcionamento.
A «Terra de Maio» é uma organização da Câmara Municipal de Castro Marim e Junta de Freguesia de Azinhal, com a colaboração da Escola de Hotelaria e Turismo de Vila Real de Santo António, Associação Nacional de Criadores de Caprinos de Raça Algarvia (ANCCRAL), Direção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve, Direção Geral da Alimentação e Veterinária, Comissão
Vitivinícola do Algarve, marca Natural.pt, Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, Casa do povo do Azinhal, Associação Recreativa e Cultural do Azinhal e CCD da Câmara Municipal de Castro Marim .
Docapesca transferiu competências para seis municípios do Algarve
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina lbufeira, Faro, Lagos, Olhão, Portimão e Tavira passam a ter competências de gestão das áreas relacionadas com a atividade náutica de recreio e das áreas urbanas de desenvolvimento turístico e económico, na sequência dos protocolos assinados com a Docapesca, no dia 29 de maio, na sede da AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve, em Faro, em cerimónia presidida pela Secretária de Estado das Pescas, Teresa Coelho, e pelo Secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território, Carlos Miguel.
Fica assim concretizada a transferência de competências da Docapesca – Portos e Lotas para estes seis municípios
algarvios que, a partir de agora, assumem a gestão das áreas afetas à atividade de náutica de recreio (de lazer ou desportiva) e dos portos ou instalações de apoio à pesca, não inseridos na área de jurisdição dos portos comerciais nacionais. Assumem também a gestão das áreas sob jurisdição dos portos, mas que estão sem utilização portuária, e das áreas urbanas de desenvolvimento turístico e económico, não afetas à atividade portuária. Na alçada da Docapesca mantêm-se as competências de gestão dos portos de pesca e da prestação de serviços de venda do pescado em lota, bem como o molhe e os cais de entrada nas barras.
Esta transferência de competências para Albufeira, Faro, Lagos, Olhão, Portimão e Tavira ocorre no âmbito do diploma, publicado em Diário da
República, que permite aos municípios aderentes adquirirem, também, direitos e património relacionados com a exploração, conservação e desenvolvimento de infraestruturas portuárias, passando a poder administrar bens e as áreas que pertencem ao Estado, cobrar taxas pela utilização dessas infraestruturas e atribuir licenças ou concessões de exploração dessas áreas. E, na cerimónia de assinatura dos protocolos, o Presidente do Conselho de Administração da Docapesca, Sérgio Faias, sublinhou a ideia de que “ainda que este processo tenha levado algum tempo para chegar a bom porto, foi possível a chegada aqui, ao dia da assinatura destes protocolos”, aproveitando a ocasião para louvar o trabalho das Comissões que foram constituídas para esse efeito.
“Desde a publicação, em 28 de maio de 2019, do respetivo decreto-lei já passaram duas eleições legislativas, eleições autárquicas, mudanças de pessoas, novos rostos e equipas, mas o mais importante mantevese, a vontade de colaboração conjunta e institucional que tem sido transversal ao longo do tempo, colocando sempre como primeiro objetivo a prestação de um melhor serviço público e a resposta às necessidades dos nossos parceiros”, frisou.
De acordo com Sérgio Faias, esta transferência de competências vai permitir duas grandes melhorias: “A Docapesca vai poder voltar a centrar-se
no essencial da sua atividade, mais ligada à gestão dos portos de pesca e venda do pescado, e, por outro lado, com as autarquias a assumirem estas competências, todos os procedimentos serão mais simples e terão mais em conta os particulares, uma vez que os municípios estão mais próximos das pessoas”. O dirigente reforçou, assim, que as competências que agora se transferem vão dar liberdade aos municípios para gerirem parcelas dos seus territórios que se encontravam sob a administração de uma entidade terceira. “Vão permitir harmonizar o tratamento urbanístico das áreas urbanas e de transição, aumentar a capacidade e a qualidade dessa intervenção e a inclusão das áreas
sem utilização portuária exclusiva e do domínio da náutica de recreio nos seus instrumentos estratégicos e de ordenamento de território. A transferência de competências contribui também para reforçar a simplificação administrativa, facilitando a vida a particulares e empresas que poderão passar a articular com uma única entidade os processos de licenciamentos de atividades ou eventos que quererão desenvolver”, destacou Sérgio Faias. Mas o processo não foi fácil, sobretudo no início, “porque estávamos a trilhar um caminho novo, com poucas referências e muitas dúvidas, mas o espírito das comissões foi sempre bastante
positivo, na procura de soluções que garantissem o conforto a todos os interlocutores”, apontou o responsável da Docapesca.
António Miguel Pina, Presidente do Conselho Intermunicipal da AMAL, acredita que “as competências agora atribuídas ficam mais bem entregues aos municípios do que à Administração Central, uma vez que os autarcas conhecem melhor os seus territórios e respetivas necessidades, nas diversas áreas de atuação”. O também presidente da Câmara Municipal de Olhão assinalou igualmente a total disponibilidade da Docapesca para, em conjunto com os municípios, encontrarem as melhores soluções e chamou a atenção para matérias que “ainda têm de ser afinadas”, como sejam a articulação futura entre os municípios e a Autoridade
Marítima; a questão da Autoridade Marítima cobrar as taxas de farolagem, mas serem os municípios a substituir bóias e farolins; e a questão das dragagens, que tem um peso significativo na parte portuária. “Os municípios estão mais uma vez disponíveis e presentes para assumir este novo desafio”, garantiu.
No uso da palavra, o Secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território, Carlos Miguel, aproveitou para fazer um balanço bastante positivo dos quatro anos percorridos com este processo de descentralização de competências. “Foi demorado, mas já foi possível definir 57 áreas portuárias suscetíveis de serem transferidas para os municípios e, para tal, foram constituídas 21 comissões de acompanhamento. O trabalho
destas 21 comissões deu origem a 11 contratos de transferência de competências, a nível nacional, sendo que seis foram hoje assinados nesta sessão em Faro”, indicou, não negando que ainda existem algumas imperfeições no processo. “É para nós claríssimo que o processo da descentralização está cheio de defeitos, mas é um processo riquíssimo que vamos aperfeiçoando à medida que vamos avançando… e com a certeza de que, parados, nunca iremos aperfeiçoar absolutamente nada. Cá estamos para andar, uns ao lado dos outros, porque assim conseguimos ir mais longe”, assegurou Carlos Miguel.
se imaginou ser simples levou, de facto, algum tempo a ser concretizado, “mas isso permitiu consensualizar vontades, o que é importante” “Foi preciso procurar o equilíbrio entre as competências que deviam passar para as autarquias e aquelas que tinham mesmo que ficar na Docapesca, por serem competências da Autoridade Portuária, e nem sempre foi fácil definir esse limite”, comentou a governante, que reforçou também a ideia de que “esta transferência de competências é um ganho para a Docapesca, que voltará a centrarse no papel para o qual está mais vocacionada, e é também um ganho para os municípios, porque conhecem melhor as necessidades
Município de Albufeira inaugurou 40 fogos de habitação em regime de renda convencionada em Paderne
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina 24 de maio foi um dia muito feliz para 27 famílias que receberam os contratos e as chaves das suas novas habitações, que integram o Complexo Habitacional da Ladeira da Fonte, em Paderne, constituído por 40 fogos de renda convencionada (20 de tipologia T2 e 20 de tipologia T3). Na ocasião, o presidente da Câmara Municipal de Albufeira, José Carlos Rolo, sublinhou que a construção
dos 40 fogos, um projeto da autoria do arquiteto Nelson Gaitinha, “cumpre os mais elevados padrões de qualidade”, sendo o complexo formado por cinco edifícios, jardins, dois parques infantis e 48 lugares de estacionamento.
O autarca entende tratar-se de “um espaço privilegiado, com uma paisagem deslumbrante sobre a aldeia de Paderne” e indicou que os apartamentos dispõem de todos os equipamentos básicos, nomeadamente
placa elétrica e a gás, forno, esquentador, frigorífico e coletores solares para aquecimento da água, o que permite uma poupança energética para os moradores na ordem dos 40 por cento. “Trata-se de um complexo habitacional com classificação energética B”, frisou, lembrando ainda que a obra representou um investimento de aproximadamente 4,6 milhões de euros, a que se somam 115 mil euros para os arranjos exteriores e 27 mil euros para a execução do projeto. “A obra não contou com financiamento externo, foi executada com verbas do orçamento municipal, ou seja, com o dinheiro de todos nós, e é a confirmação de que não estamos parados e que fazemos as obras
necessárias”, realçou o edil albufeirense.
José Carlos Rolo aproveitou a cerimónia para elogiar todos os técnicos envolvidos no processo, bem como o representante da empresa construtora (Ferreira Construções), pela eficácia em levar a obra a bom porto. O autarca reconheceu também que se tratou de um processo moroso, tendo a primeira pedra sido lançada a 2 de fevereiro de 2021. “Dois anos depois, aqui estamos a inaugurar e a entregar as primeiras chaves, o que, apesar de toda a burocracia envolvida, até nem foi assim tanto tempo”, apontou.
O presidente da Câmara Municipal de Albufeira, que esteve acompanhado na cerimónia por todo o restante executivo,
não escondeu sentir-se muito feliz por ser uma obra essencial para a qualidade de vida dos munícipes. “Todos têm direito a uma habitação digna e, a partir de hoje, estas famílias possuem todas as condições para aqui criarem os seus filhos e serem felizes, com a vantagem de os moradores serem maioritariamente pessoas jovens que irão contribuir para o crescimento e rejuvenescimento da freguesia. O concelho de Albufeira carece de habitação para arrendar compatível com os rendimentos das famílias, dos jovens e dos profissionais de várias áreas que têm dificuldade em vir para aqui trabalhar e aqui se fixarem, nomeadamente no
turismo, educação, saúde, construção civil, entre outras áreas. É por isso que consideramos tão importante a construção de fogos de habitação convencionada”
Refira-se que o Programa de Renda Convencionada procura dar resposta àquela população que, não se podendo integrar em programas de arrendamento apoiado, não tem acesso a qualquer tipo de resposta social. Trata-se de um regime aplicável às habitações de que a autarquia é proprietária, as quais pretende arrendar por valores inferiores aos preços médios praticados no mercado de arrendamento privado. Podem beneficiar deste Programa os agregados familiares que cumpram uma taxa de esforço entre 15 e 45 por cento e os critérios definidos no regulamento municipal referente a esta medida .
«Vamos à Vila» encheu Monchique de vida e alegria durante dois dias
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina Município de Monchique organizou, nos dias 27 e 28 de maio, a segunda edição do «Vamos à Vila», um momento de celebração das tradições locais e de homenagem ao que se foi e ao que se pretende preservar para as gerações vindouras. Um evento com veracidade e essência que lançou o convite à participação de todos na partilha dos saberes e sabores de Monchique e que gerou um enorme frenesim na vila, com diversas artérias cortadas ao trânsito para permitir a
circulação das pessoas, muitos espaços de gastronomia e street food, assim como pontos de animação, para além dos grupos ambulantes que espalhavam a sua música por todos os recantos do recinto.
A voz e as tradições da comunidade de Monchique foram o fio criativo para este projeto, com a autarquia local a inspirarse no passado e a mostrar-se bastante empenhada na salvaguarda da memória coletiva e individual. Uma intenção que foi elogiada, inclusive, por José Apolinário, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve. “Este é o Algarve
do barrocal interior e da serra, um Algarve muito importante para a região, é o nosso pulmão e o nosso corredor verde. É certo que o Algarve cresceu em população, mas nas zonas de baixa densidade, no barrocal, na serra, perdemos cerca de 5 por cento de população entre 2011 e 2021, portanto, é necessário olhar para as especificidades destes territórios, nomeadamente em termos dos Planos Diretores Municipais e do uso do solo”, declarou, no início da cerimónia de abertura do «Vamos à Vila».
José Apolinário agradeceu, entretanto, a colaboração do executivo municipal liderado por Paulo Alves no sentido de se aproveitarem bem as oportunidades de
financiamento com fundos europeus. “Há aqui a ambição de se avançar o quanto antes com a requalificação da escola, em duas fases, estamos a aguardar o visto do Tribunal de Contas. Temos em curso o Centro de Meios Aéreos com verbas da cooperação transfronteiriça, à semelhança do que sucede em Loulé em Cachopo. Estão em curso também investimentos em parceria com as juntas de freguesia, ou seja, há aqui uma governança multinível e de grande proximidade com o território”, destacou o presidente da CCDR Algarve. “Esta é uma terra de gente resiliente, muito trabalhadora”, concluiu.
No uso da palavra, Paulo Alves, presidente da Câmara Municipal de Monchique, lembrou estarmos num território vasto, com 400 quilómetros quadrados, duro, de montanha, com montes íngremes e vales rasgados, com encostas e estradas sinuosas, possuidor de uma natureza e valores – a água, a pedra, a floresta, o ar puro, a aguardente de medronho, os enchidos tradicionais, o presunto, a doçaria, o artesanato – que o tornam único na região e no sul do país.
“Todos eles estão presentes neste certame, afirmando a autenticidade singular, a marca Monchique. Uma marca que é reforçada pela nossa genuinidade e tradições, pela nossa cultura e forma de receber, pelo orgulho que temos na nossa serra. Monchique é
terra de gente rija, resiliente, que não baixa os braços face às adversidades, que se reergueu após as intempéries de 1997 e os grandes incêndios de 2003 e 2018”, salientou o edil.
Monchique faz parte de um Algarve diferente e genuíno que quer preservar as suas tradições e o seu potencial, conforme ficou demonstrado no «Vamos à Vila», mas que pretende também promover a complementaridade entre territórios. Mas Paulo Alves não escondeu a preocupação com o decréscimo populacional e o abandono territorial que se tem verificado no passado recente. “Já fomos 15 mil residentes nas décadas de 60 e 80 do século passado e, neste momento, segundo os últimos censos, somos
5 mil e 400 habitantes. É preciso travar este ciclo de fatalidade”, apelou o autarca. “É imperativo que todos, governo, região, município, tecido empresarial, população em geral, encontremos soluções para inverter este cenário e relançar o desenvolvimento deste território. Temos notado, nos últimos tempos, interesse no nosso concelho, principalmente da parte de jovens casais e de cidadãos estrangeiros, mas deparam-se com constrangimentos que facilmente os afastam da sua fixação”.
Paulo Alves fala, por exemplo, de instrumentos de gestão territorial “que já não se adequam ao contexto
atual e que não acautelaram que provocariam a desumanização do território”. “Não permitiram que a natureza pudesse coexistir com o progresso, não garantiram uma efetiva redução das assimetrias, aliás, agravaram problemáticas como a interioridade e a condição periférica”, apontou o edil, acrescentando que o Município de Monchique, em colaboração as Freguesias de Alferce, Marmelete e Monchique, tem feito um enorme esforço em termos de projetos estruturantes que possam contribuir para promover a fixação de pessoas. E, entre esses projetos, Paulo Alves fez uma especial referência ao Centro Interpretativo do Castelo do Alferce e o Passadiço do Barranco do Demo, um investimento de 400 mil euros com financiamento do
programa PADRE em 210 mil euros e os restantes 190 mil euros a serem da responsabilidade da Câmara Municipal; assim como a Área de Serviço de Autocaravanismo de Marmelete (347 mil euros com uma participação do FEDER de 194 mil euros e com 153 mil euros provenientes da Câmara Municipal de Monchique) e o Parque de Lazer do Marmelete que inclui uma piscina pública (248 mil euros, com 101 mil euros a virem do Turismo de Portugal e 147 mil da Câmara Municipal de Monchique).
A convidada de honra da abertura do «Vamos à Vila» foi Ana Abrunhosa, Ministra da Coesão Territorial, que confessou estar bastante entusiasmada com a oportunidade de ficar a conhecer melhor os saberes e sabores de Monchique. “É um território marcado pela riqueza da
gastronomia e de produtos únicos, pelo trabalho exemplar que se faz no artesanato, na cestaria, na tecelagem. É fundamental apostar-se nestas iniciativas, daí um cumprimento especial para os produtores, agricultores e empresários que marcam presença neste certame. O que queremos é que os territórios sejam cada vez mais valorizados, sobretudo para quem neles vive e trabalha”, declarou a governante, que está bem consciente das dificuldades sentidas para se contrariar o declínio demográfico do interior de Portugal. “São
preocupações que nos obrigam a refletir em conjunto e, no Algarve, que globalmente ganha população, verifica-se este
desequilíbrio. É também um território que está a sentir os efeitos das alterações climáticas, porque o tempo que conhecíamos mudou”
Muito atenta aos pedidos efetuados por Paulo Alves, Ana Abrunhosa admite que estar no interior obriga a trabalhar-se mais e em conjunto, mas deixou também algumas boas notícias. “Contrariar o declínio dos territórios do interior é um caminho que demora, difícil, cujos resultados tardam em ver-se, mas é um caminho que se faz assente em rede, em parceria com os atores locais e regionais, e para os quais temos que convocar os fundos da União Europeia. A rede móvel e a conetividade digital são
fundamentais e, mal tenhamos sinal verde da Comissão Europeia, estamos preparados para avançar com projetos nesse sentido. E, no que toca à EB 2,3 de Monchique, é importante que acelerem com a primeira e a segunda fases, porque asseguramos, na reprogramação do PRR, 450 milhões de euros para estabelecimentos de ensino. Assim que abrir o aviso, submetam a candidatura com os projetos de arquitetura e execução aprovados pelos órgãos municipais, porque as duas fases são financiadas a 100 por cento a fundo perdido. Com educação e saúde de qualidade, tudo o resto virá”, anunciou, para uma forte salva de palmas, antes de se iniciar a visita ao recinto do «Vamos à Vila» .
BEATRIZ BATARDA TROUXE A LOULÉ UMA VISÃO INTENSA E INQUIETANTE SOBRE O ENSINO ARTÍSTICO
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel PinaCineteatro Louletano assistiu, no dia 17 de maio, véspera do Dia do Município de Loulé, a «C., Celeste e a Primeira Virtude», uma coprodução do Cineteatro Louletano, escrita e encenada por Beatriz Batarda.
Na história, um grupo de alunos do ensino artístico (Binete Undonque,
Guilherme Félix, Hugo Narciso, Íris Runa, Joana Pialgata, Pedro Russo e Rita Cabaço) desenvolve o projeto final sob a direção da «Mestra» (Beatriz Batarda).
Trabalham a partir de um relatório médico-legal e reconstituem os detalhes de um crime. Sentindo que o percurso académico está a chegar ao fim, os alunos, movidos pela ansiedade e pelo medo, entram em conflito. Cegos pelo desespero, o grupo liberta-se, acabando tragicamente com a vida de duas pessoas.
«C., Celeste e a Primeira Virtude» é, de acordo com a autora, “um espetáculo a propósito dos trilhos que o ensino artístico abre para o rasgo da invenção, esse lugar feliz em que a alma humana liga verticalmente a Terra ao abismo celestial”. “Um espetáculo que pretende contribuir para o debate honesto sobre a liberdade, o papel da Arte, do amor e do poder que se instala nos vários ismos –machismo, racismo, fascismo – e outras manifestações do medo”, explica Beatriz Batarda, que se estreou como atriz, em 1994, com a Companhia do Teatro da
Cornucópia e como encenadora, também na Cornucópia, em 2010.
Beatriz Batarda possui um extenso currículo em teatro, cinema e televisão e tem ganho vários prémios e distinções, entre os quais, por duas vezes, o Prémio Autores SPA (para Melhor Atriz), o Prémio Sophia da Academia Portuguesa das Artes e Ciências Cinematográficas (melhor atriz secundária) e o Grau de Comendadora da Ordem do Infante D. Henrique, em 2010 .
FESTIVAL TANTO MAR ARRANCOU COM «QUARTO IMPÉRIO» DA UMCOLETIVO
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel PinaFestival Tanto Mar, organizado pela associação cultural Folha de Medronho com o apoio do Município de Loulé, regressou ao Cineteatro Louletano, de 24 a 27 de agosto, com a primeira peça a ir a cena a ser da responsabilidade da UMCOLETIVO. «Quarto Império», criado por Cátia Terrinca e Herlandson Duarte, tem por base o livro «Caderno de Memórias Coloniais», de Isabela Figueiredo, “uma obra literária e um documento que compilou factos, acontecimentos efetivamente ocorridos e presenciados pela então pequena Isabela, regressada de Moçambique na urgência da ponte
aérea”, explica a companhia vinda de Portalegre.
O espetáculo gira em torno das memórias da atriz (cuja mãe veio de Cabo Verde em 1974), e de um bailarino que nasceu e cresceu em Cabo Verde e, num período pós-colonial, se mudou para um Portugal. Em cena está também o livro onde está escrito o que não lhes foi contado. “Uma forma de reconstruir o silêncio de memórias que se foram rarefazendo na dor e na incompreensão, ficando-se mais perto da criança vestida de branco numa Lourenço Marques já
extinta”, descreve Cátia Terrinca, que partilha o palco com Bruno Huca.
A UMCOLETIVO é uma associação cultural, fundada em 2013, que
desenvolve atividades no âmbito da criação artística, tendo como eixos a relação com o território, a exploração plástica da palavra e a convocação do público para o epicentro do objeto artístico – onde transversalmente se encontra uma ideia de reescrita, de tempo real e de voz. “Trabalhamos ancorados na ideia de construção de vias de reciprocidade artística e afetiva, dentro dos territórios e entre territórios, no desenvolvimento de uma estratégia de formação de públicos e artistas”, explicam os responsáveis da estrutura que se encontra, desde 2022, sediada no Convento de Santa Clara, em Portalegre, partilhando espaço com o Teatro do Convento. “Trabalhamos continuamente com as escolas
rurais do concelho, no desenvolvimento de competências artísticas a nível da fruição e criação junto de alunos, professores e funcionários desta comunidade educativa. Os nossos projetos de criação procuram cada vez mais a simbiose com os vetores do desenvolvimento de novos públicos e da programação.
Entendemos o espaço de construção artística como um lugar partilhado, horizontal e aberto – uma estufa de afetividade e democracia, onde somos minuciosos a explorar ideias e a levantar questões”, reforça a UMCOLETIVO .
SIKINADA APRESENTOU
«OS DIAS DE BIRGITT» NO CINETEATRO LOULETANO
Texto: Daniel Pina| Fotografia: João Catarino/ Folha de Medronhoa segunda noite de espetáculos do Tanto Mar, festival organizado pela Folha de Medronho com o apoio do Município de Loulé, o Cineteatro Louletano abriu as portas, no dia 25 de maio, à Sikinada, companhia de teatro cabo-verdiana que apresentou «Os Dias de Birgitt», peça que conta a história de uma mulher que, de um dia para o outro, é confrontada com uma doença terminal. Trata-se de uma
abordagem contemporânea, no limite entre a sobriedade e o humor, de uma temática cada vez mais presente nas nossas sociedades, concebida a partir de um texto dramático de Mário Lúcio Sousa, com encenação de João Paulo Brito e interpretação a cargo de Elisabete Gonçalves, Patrícia Leite e Raquel Monteiro.
A Sikinada é um jogo entre a expressão grega «skène», intimamente ligada às artes cénicas, e «sikinada», expressão crioula de Santiago para impulso. Criado
em abril de 2010, no culminar de um percurso de projetos coletivos que se iniciaram em 2005, a Sikinada é uma companhia de teatro que elegeu como objetivo principal promover as artes cénicas cabo-verdianas, no país e alémfronteira, através de uma forte aposta na dramaturgia nacional, no envolvimento de algumas referências das artes plásticas e/ou visuais nacionais, no recurso a obras de alguns dos mais consagrados músicos contemporâneos cabo-verdianos e composições originais, e numa
construção cénica inovadora e contemporânea. Desde a sua constituição, tem apresentado as suas produções nos principais palcos nacionais (entre os quais o Festival Mindelact, Festival SalEnCena e Mostra Trilátero), mas também em eventos performativos importantes além-fronteiras, nomeadamente no Rio de Janeiro (Festlip), S. Paulo (Circuito de Teatro em Língua Portuguesa), Porto (Fazer a Festa) e Macau (Teatrau) .
NANOOK LANÇOU «INQUIETUDE» NO TEATRO LETHES
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Ricardo Coelhoanook, isto é, Tércio Freire, músico e compositor açoriano sediado em Faro há mais de 20 anos, apresentou, no dia 27 de maio, no Teatro Lethes, o seu novo trabalho discográfico, intitulado «Inquietude». O longa duração conceptual é um conjunto de canções escritas em português, tendo contado com a participação de 16 amigos músicos, entre os quais se encontram nomes como Zeca Medeiros, Viviane Parra, Vitor Bacalhau, Teresa Aleixo ou Robert Jukic.
Nanook descreve este disco como um “exercício estético metafísico em que o tempo, o espaço, o sentido da vida e o pensamento humano por vezes fundem-se e por outras entram em conflito havendo sempre um ganho e uma perda em tudo”. O concerto de lançamento foi composto por três Actos e um Epílogo, onde vídeos e luzes se cruzaram com a música tocada ao vivo por Nanook e sua banda. Pisaram o palco como convidados Teresa Aleixo, Viviane, Tó Viegas e Vítor Bacalhau .
CENTRO CULTURAL CONVENTO PARA VER «A CIGARRA
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Ideias do LevanteCONVENTO S. JOSÉ CHEIO
CIGARRA E A FORMIGA»
12.ª
Cigarra e a
foi a cena, em parceria com o Município de Lagoa e com a direção artística de Meire Gomes, perante uma sala repleta de público, no dia 13 de maio, no Auditório do Centro Cultural Convento S. José, em Lagoa. O elenco do espetáculo foi formado por Meire Gomes e Patrícia Fernandes e
«A Cigarra e a Formiga» («O Gafanhoto e Formiga» no original) é uma das fábulas atribuídas a Esopo e recontada por Jean de La Fontaine em francês. A versão da fábula apresentada abrange a situação do artista numa visão social, fazendo este parte de uma classe trabalhadora por vezes marginalizada e vista como preguiçosa. Um espetáculo para toda a família que muito divertiu o público presente .
Da vida Mirian
Tavares (Professora)
…E não há melhor resposta que o espetáculo da vida: vê-la desfiar seu fio, que também se chama vida, ver a fábrica que ela mesma, teimosamente, se fabrica, vê-la brotar como há pouco em nova vida explodida; mesmo quando é assim pequena a explosão, como a ocorrida; mesmo quando é uma explosão como a de há pouco, franzina; mesmo quando é a explosão de uma vida severina.
João Cabral de Melo Netoensei em falar da morte – cuja ideia nos persegue e cuja existência é a única certeza que temos na vida. Lembro-me de um dos manos explicar-me, quando eu era pequena, da ideia de consciência da morte, que nos torna humanos. Talvez não fosse um tema para falar com uma miúda, que eu era então, mas foi bastante esclarecedor. Lembro-me também de uma professora que tive no Mestrado em Semiótica, Olga de Sá. Era uma mulher ímpar –profundamente religiosa, jamais dogmática. Pode parecer um paradoxo, mas ela, grande exegeta de Clarice Lispector, conseguia equilibrar a sua fé, que é disso afinal que se trata, com a
mundanidade laica da academia. Dissenos, numa aula, que a fé é algo que temos sem nos darmos conta. Pois só ela faz com que levantemos a cada manhã sem pensar que o pior vai acontecer, que vamos morrer de seguida, o que de facto pode ocorrer – uma queda mal dada no duche, engasgar-se com um pedaço de pão, ser atropelado ao atravessar a rua. A nossa vida é tão frágil que a única forma de continuarmos vivos é ter fé na sua capacidade de resiliência. Na nossa capacidade de viver, e de sobreviver, a cada manhã quando acordamos para um novo dia. Quando alguém morre, ouvimos, e falamos, sempre o mesmo: a vida é tão frágil, ninguém sabe o amanhã, perdemos tanto tempo… Passado o impacto da perda, seguimos a nossa vida, perdendo muito tempo com todas as
inutilidades que nos tornam infelizes, maldispostos, tristes. Até que outra morte nos volte a lembrar das inutilidades que alimentamos tão bem, que saem connosco ao despertar e que trazemos para casa dia após dia. Há, em muitos de nós, uma pré-disposição à infelicidade, uma vontade inenarrável de sofrimento e um sentimento enorme de auto compaixão. Mas há, apesar disso, a vida que brota, que insiste em perdurar, que nos arrasta para frente, que resiste. A
vida resiste porque se sabe frágil, passageira. Porque se sabe um milagre. A vida é um milagre que desperdiçamos muitas vezes, à espera de outro milagre qualquer de que nos julgamos merecedores. Ia falar da morte, mas lembrei-me da vida, do mano e da sua lição demasiado precoce e da professora de Filosofia da Literatura que tinha fé .
ivemos uma fase em que está profundamente enraizado a mania de abusar dos eufemismos. Senão vejamos: Um gago, já não é aquele indivíduo que... que... que... demora imenso tempo a falar. É um indivíduo com desordens a nível da fluência. Já ninguém é bêbado neste país, mas sim alguém que sofre de problemas comportamentais ao nível da bebida. Neste país, ninguém rouba – desvia. Ninguém aldraba – defrauda expectativas. Isto é aparentemente divertido, mas tem levado a uma crescente desculpabilização semântica de alguns criminosos, de ladrões, de corruptos, de violadores e até de mentirosos, falsos e aldrabões. Continua a ser indecente duvidar da palavra de alguém, por isso, entre adultos encontramos mil eufemismos em redor da palavra «mentira». Dizemos que a pessoa se “enganou”, “o outro é que percebeu mal” ou, o melhor de todos, “faltou à verdade”, pondo o foco no comportamento procurando fugir ao rótulo ofensivo.
O homem é um mentiroso compulsivo. Mentir é esconder, omitir, trair, falsear, disfarçar e distorcer a realidade perante outros, mas também perante nós mesmos. Há quem minta com a mesma naturalidade com que respira, e para
esses parece não existirem pesos de consciência. O pior de tudo é que não nos podemos esconder nem fugir dessas pessoas. Eles estão em todo o lado, com rostos diversos e múltiplos, a mesma voz enfática, a mesma mentira travestida, as mesmas maneiras afáveis e frias, cumprimenta e bate-nos nas costas sempre com o mesmo sorriso. O mentiroso comum é desprezível; o mentiroso «amigo» é, no mínimo, abominável, é um labrego. Com a completa ausência de noção de amizade, uma compulsiva tendência de ouvir uma coisa, fazendo exatamente o contrário de forma a prejudicar terceiros e todos sabemos como são os caminhos daqueles que, de tanto mentir, chegam a acreditar que o que torcem e distorcem é mesmo verdade. Muitos dos grandes mentirosos nem se apercebem da quantidade de mentiras que inventam, tamanha é a cauda da besta que alimentam. São uns tristes! Numa altura em que sabemos bem que nada chega tão longe e tão rápido como um boato malicioso ou uma boa mentira, continuemos a precisar de um dia para lhes prestar homenagem. O dia 1 de abril foi criado para essa gente. Não há raça de gente mais irritante, mais javarda, mais peçonhenta, e mais desprovida de um único pingo de decência. Esses esbirros de gente que deixam um rasto de baba como lesmas nojentas em mensagens, nas redes sociais, em todo o lado. Esses labregos que tresandam num raio alargado de
“Vão dar banho ao cão!”
Júlio Ferreira (Inconformado encartado)
quilómetros. Mais do que a incompetência: a mentira e a má fé tiram-me do sério. Quando se unem, só há uma alternativa: desejar boa sorte e siga.
Prefiro mil vezes a antipatia ao mentiroso. Com os antipáticos sei sempre com o que posso contar. Chegam, não dizem nem bom dia, nem boa tarde, fecham a cara e a boca, não falam do tempo, não perguntam pelo futebol. Quem está…está, quem vai…vai. Os
antipáticos nunca nos enganaram. Com os falsos e mentirosos é preciso ter mais cuidado. Chegam e é só salamaleques, abrem o sorriso e a boca, depois lá vem a conversa da treta, que se precisarmos de alguma coisa é só dizer, sempre tão preocupados com a nossa saúde, os nossos projetos, a nossa família, sempre tão disponíveis, tão solidários, tão ridículos e perversos.
Já não tenho paciência! Recorrendo ao «eufemismo mais profundo» dos portugueses. Utilizo para os adjetivar, formas de insulto mais prosaicas, mas substituídas. O vulgar «eu quero que tu te lixes e vás dar banho ao cão», por um «eu gostaria imenso que você aparasse as suas arestas antes de banhar o canídeo». Ou «Que grande corno que tu me saíste» e passar a exclamar «Você, sua vítima de adultério assumida e reincidente» ou até mesmo substituir o famoso «Tu és um grande filho da p...» por «A excelentíssima senhora sua mãe é a maior mulher de negócios que eu, o meu primo, e o coro Santo Amaro de Oeiras, já alguma vez conheceu».
Imagine-se canalizar para fins construtivos toda a energia que alguns portugueses gastam a lixar diária e paulatinamente outros portugueses, e teríamos um país a sério, e não um rectangulozinho complexado que se autodenomina o «cu da Europa» .
We no Happy... we go! Dora Gago (Professora)
artimos para Sanya, Hainão, num fim de semana alargado, sonhando com sol, banhos azuis no cálido imaginado Mar da China. Sobre a ilha pouco sabíamos, pois nem sequer houve tempo para pesquisa. Os quartos de hotel marcados online eram prometedores, com vista para o mar, perto da praia, a um preço acessível. Enfim, o sonho de qualquer turista.
Depois de algumas horas de atraso, chegámos. Mostrámos a folha com o nome do hotel em chinês e embarcámos numa viagem recheada de emoções. Nem percebíamos muito bem de que lado se deveria conduzir ou ultrapassar, visto que as mais diversas manobras iam acontecendo de forma aleatória. Por todos os lados onde houvesse uma nesgazita de asfalto, motas, motoretas, carros, carrinhas, camiões, tudo parecia caber, entrecruzando-se nos vários sentidos, por puro milagre, sem se chocarem, ou chocando menos do que seria expectável naquelas circunstâncias.... Em suma, a solução era mesmo fechar os olhos, rezar, independentemente da fé que se pudesse ou não ter, e… esperar o melhor.
Ao chegarmos ao hotel, cujo aspecto exterior não correspondia ao do site, disseram-nos que o quarto ainda não
estava pronto, embora já passasse muito da hora prevista para o check in. Após as formalidades de registo, reclamámos, com muita dificuldade em nos fazermos entender, enquanto derretíamos com o calor e o cansaço da viagem.
Finalmente, de chave na mão, subimos as escadas e deparamo-nos com o facto de a porta de um dos quartos parecer ter sido «mordida» por alguma fera raivosa, ou por uma criatura simplesmente desiludida com a reserva feita no booking Na verdade, a parte de baixo da porta parecia haver sido destruída à dentada. Uma das casas de banho inundava, já que a zona do chuveiro não tinha escoamento. E quanto à paisagem? Oh, maravilha das maravilhas! Uma vala imensa cheia de lama pertencente a uma obra mesmo em frente aos quartos, um ao lado do outro, com uma grua que guinchava incessantemente num hhhhiiiiiinnnnn de arrasar os nervos. E mar? Ah, sim haver até havia, mas muito lá ao longe, mesmo no fundo do longínquo horizonte, acessível através de um binóculo com uma boa lente.
Pedir a password de acesso à internet foi uma autêntica, frustrante saga. Nessa tarde, todas as explicações foram em vão, estávamos mergulhadas numa babilónia linguística sem fim. Ansiosas por aproveitar ao máximo o tempo, saímos para explorar a pé os arredores, a tão desejada praia, localizada nas
imediações. Encontrar a praia nem foi difícil, mas fazia lembrar uma espécie de charco, cheio de turistas russos, que em nada alegravam a paisagem, banhandose alegremente em manchas negras do óleo dos barcos por ali ancorados. Muito desiludidas, com receio de que a entrada naquelas águas lodosas nos fizesse sair de lá sem pele ou quem sabe, como mutantes, a brilhar no escuro, regressámos ao nosso acolhedor hotel, até porque já começávamos a sentir falta do melódico e por que não dizer, aconchegante, hhiiiinnnnn da grua, que ficou como ex-libris da nossa passagem por Sanya.
Ao regressarmos, encontrámos na
recepção uma funcionária a quem colocámos a típica questão: “Do you speak English?” Ao que ela respondeu: “What can I do for you?” Aí, a minha colega entusiasmou-se e com o seu sotaque britânico fruto de um mestrado e um doutoramento no Reino Unido, enumerou a quantidade de coisas que a senhora poderia fazer por nós. Momento longo de silêncio, um vazio, a expectativa e a única resposta foi novamente: “What can I do for you?” –aparentemente a única e esperançosa frase que ela conhecia em inglês. Com efeito, éramos no hotel as únicas hóspedes que falavam inglês, tudo estava vocacionado para turistas russos – que abundavam por todo o lado. Até o menu do pequeno-almoço era chinês ou russo.
Na manhã seguinte, contudo, uma bíblica luz da compreensão terá descido sobre a recepcionista, talvez sob a forma de língua de fogo, iluminando-a a ponto de nos ceder a password para o acesso à internet. Encontrámos a morada de um posto de turismo no centro da cidade. Conseguimos apanhar um autocarro –embora não soubéssemos muito bem qual o destino, tornava-se ali mais fácil do que o táxi. O posto de turismo era a nossa grande esperança, pois indicar-nos-ia tudo o que poderíamos fazer nos dois dias que nos restavam. Só que ao
chegarmos lá, todas as nossas esperanças ruíram, pois a informação estava em duas línguas: mandarim e russo, qual das duas a mais hermética, difícil de decifrar para nós? Sem sequer conseguirmos comunicar com o funcionário do posto, retirámos um folheto. Incapazes de compreender uma palavrinha sequer, analfabetas na leitura daquele mundo, começámos a ver as fotos. A certa altura, apareceu a imagem de um lugar paradisíaco com praia, uma piscina e jardins de sonho. Decidimos imediatamente que fosse onde fosse, queríamos ir para lá. Por isso, dirigimonos para a praça de táxis mais próxima e apontámos para a imagem no folheto. O taxista depois de contemplar a fotografia de Mao Tse Tung pendurada no retrovisor, talvez a pedir-lhe certo tipo de misteriosa protecção, arrancou sem sequer olhar para nós. Seguiram-se minutos com a densidade de horas, até ao sonhado destino, sempre de olhos fechados, claro, só reabertos quando o táxi parou para confirmarmos se estaríamos vivas e prontas a sair ou se simplesmente já teríamos apanhado, entretanto, a barca do Caronte, que talvez aceitasse o pagamento em remimbins, cujo trajecto seria certamente mais sereno. Inenarrável o modo de conduzir, a circulação do trânsito por aquelas paragens, visto não haver palavras para retratar o que os olhos não ousaram sequer ver. Mas felizmente vivinhas, saímos e entrámos no pujante edifício branco que era um resort de luxo. Fascinadas com os jardins, o SPA, a piscina aquecida de água salgada e ondas, uma praia privada (o primeiro local onde vimos uma praia com dono) que parecia retirada de um filme,
sentimos ter desaguado num breve jardim das delícias, a compensar tudo o resto.
No entanto, era preciso regressar ao hotel da porta mordida, dos russos e da grua guinchante, para recolhermos as malas. Nova viagem de alto risco, um plano para explicarmos a nossa repentina fuga naquele universo de hermética incomunicabilidade. Analisado o caso, fizemos as malas e aparecemos com elas na recepção. Com muitos gestos, tentámos explicar no inglês mais tarzanesco possível: “WE NO HAPPY, WE GO!”. Segue-se depois a saga para o pagamento com um cartão de crédito a ser rejeitado pela máquina, espancado, cilindrado, quase esquartejado. Viagem a uma outra parte do hotel num tuk- tuk para repetir a cena, onde finalmente o martirizado cartão, revelando resistência e bravura dignas de condecoração de Estado, cumpre a tarefa.
O último dia no resort sonhado apaga as más memórias: praia resplandecente, águas cálidas… nem sequer sentimos saudades do relinchar da nossa amiga grua, infortunada companheira das noites anteriores.
Trilhado o caminho da ilusão ao pesadelo e desse ao sonho – num simulacro da própria vida – guardo de Sanya um ramo de acácias vermelhas, uma rede branca, um areal dourado, um mar baço, calmo e quente, a frescura de uma água de coco, a doçura das lichies, a magia de uma língua convertida em imagens, gestos vagos, a desenhar os contornos de um sonhado diálogo universal .
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