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ALGARVE INFORMATIVO 29 de abril, 2017

ALTE GALOPIM JOSÉ VENCESLAU MIGUEL MENDONÇA FESTIVAL DOS DESCOBRIMENTOS

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CONTEÚDOS ARTIGOS 10 - Festival dos Descobrimentos 22 - Mostra da Primavera 30 - Alte 38 - José Venceslau 46 - Suspensão 54 - Galopim 62 - Miguel Mendonça 86 - Atualidade

OPINIÃO 8 - Daniel Pina 72 - Paulo Cunha 74 - Paulo Bernardo 76 - Mirian Tavares 78 - Luísa Monteiro 80 - Antónia Correia 82 - Vico Ughetto 54

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OPINIÃO As «baleias-azuis» do século XXI Daniel Pina (jornalista)

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minha filhota de sete anos volta e meia deixa escapar um “pai, queria um tablet!” e a resposta é, e vai continuar a ser, “ainda és muito nova para essas coisas”. Não! Não sou um pai «quadrado» ou forreta. Prefiro pensar que sou um pai consciente dos perigos que aquele pequeno mundo retangular pode representar nas mãos de uma criança. Primeiro porque, enquanto a bateria do tablet não descarregar, vão ser horas que ela passa sentada no sofá, ao invés de estar a brincar com a irmã ou a fazer os trabalhos da escola. Segundo, e mais importante, eu até podia ficar agradado por haver menos correrias e gritarias em casa durante essas horas, mas nunca saberia muito bem o que ela andaria a fazer ou a ver no tablet. Podia estar entretida com algum jogo do My Little Poney, das Winx ou do Monster High, ou aos pulos no Subway Surfer, que seriam, à partida, momentos inofensivos. Mas também podia andar a navegar pela internet ou a ver vídeos no You Tube, o que seria potencialmente mais perigoso. Podem pensar que é um exagero da minha parte, mas o fácil acesso às redes sociais, o realismo dos videojogos do século XXI, as coisas impensáveis que encontramos – umas vezes de propósito, outras por acidente – no You Tube, deixam-me bastante preocupado. Porque, mais cedo ou mais tarde, os jovens vão querer reproduzir no mundo real aquilo que assistem na internet ou nas séries e filmes da televisão. Se há jogos de computador onde o objetivo é ser um mau aluno, pregar partidas aos professores, bater nos colegas, partir coisas, não nos podemos admirar se formos chamados à escola dos nossos filhos para termos uma «conversa» com o diretor. Se há jogos onde se ganham pontos a chocar contra carros e a atropelar peões, não nos devemos surpreender se alguma pessoa mais irritada com a vida decidir «ganhar» pontos também nas ruas da sua cidade. Se há jogos onde se pegam em armas e se vão matar pessoas para escolas e centros comerciais, corremos o risco de alguém com um desequilíbrio psicológico o replicar na vida real. E se

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há jogos que nos desafiam a fazer mal a nós próprios, por que é estamos admirados com este terrível fenómeno do «baleia azul»? Claro que não podemos generalizar, a esmagadora maioria das crianças e adolescentes que se divertem com os videojogos nunca vão pensar em copiar no mundo real o que fazem num tablet, consola ou computador pessoal. Mas há sempre aquela pequena percentagem de jovens que não fazem parte da maioria, que se sentem abandonados pelos seus progenitores, ou que têm realmente problemas graves em casa, e é com esses que nos devemos preocupar. Porque esses depressa se cansam dos jogos, deixam de dar «pica» depois de terem concretizado todos os objetivos, de terem alcançado a pontuação máxima. A solução é partirem em busca de novos desafios, algo mais aliciante, com mais adrenalina, e isso abunda nos cantos mais escuros da internet, onde se encontram vídeos e jogos de facto macabros. O pior é que isso tudo acaba por ser transportado também para o cinema e para a televisão. Ainda recentemente vi o novo Rings, a tal história em que todos os que assistirem a um filme morrem no espaço de uma semana, e de forma terrível. A única escapatória é fazerem uma cópia desse filme e mostrá-lo a outra pessoa antes de decorrerem os sete dias. E neste Rings, versão norte-americana, à Hollywood, um professor universitário desafia os seus alunos, em jeito de projeto extracurricular, a ver o filme para tentar descortinar para onde vai a nossa alma após a morte. E os alunos embarcam nessa aventura entusiasmante e, ao fim de sete dias, se não passarem o infortúnio para outro, morrem. Se Hollywood distribui filmes deste género, se a Netflix e outras cadeias de televisão norteamericanas produzem séries semelhantes, como é que nos podemos espantar com um jogo como o «Baleia Azul», alegadamente criado há uns anos por um jovem russo com dupla personalidade, que terá sido abusado enquanto criança, e que agora anda a fazer vítimas em todo o mundo? E que agora chegou a Portugal e, inclusive, ao Algarve? .


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REPORTAGEM

LAGOS REGRESSOU À ÉPOCA DOS DESCOBRIMENTOS Texto:

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agos voltou a realizar uma viagem ao passado, de 27 de abril a 1 de maio, com o IX Festival dos Descobrimentos, este ano subordinado ao «Encontro de Culturas na Costa Ocidental Africana». Fruto do tema ser mais abrangente, o certame possibilitou abordagens mais genéricas sobre a mentalidade dos portugueses do século XV e as suas motivações económicas e religiosas que lançaram o país para os Descobrimentos, numa aventura que só a ambição, o esforço e a inovação tornaram possível. O evento arrancou, a 27 de abril, com uma conferência onde foram apresentadas várias palestras com oradores oriundos de diferentes universidades do país. No dia 28, o grande destaque foi para o Cortejo Histórico, que contou com a participação da comunidade escolar e dos agrupamentos, das associações e instituições locais, dedicado ao tema «A Passagem do Cabo Bojador – O alargamento do horizonte mental». No dia 29, o enfoque foi dado à «Economia – Os produtos chegados de alémmar» e, no dia 30, «A Europa e a Escravatura» estiveram na ordem do dia. O último dia do Festival, 1 de maio, tinha como centro «As guerras do Norte de África – Confrontos com Muçulmanos e outros gentios». Este ano, a Feira Quinhentista contou com vários polos de animação, nomeadamente a Praça do Infante e o Jardim da Constituição, a Caravela 12 ALGARVE #105 INFORMATIVO


Boa Esperança, o Forte Ponta da Bandeira, o Núcleo Museológico Rota da Escravatura - Mercado de Escravos, a Rua Portas de Portugal e a Praça Gil Eanes, com inúmeras iniciativas nas áreas da dança, música, workshops, recriações históricas, demonstrações bélicas e visitas comentadas. Também muitos estabelecimentos comerciais e de restauração e bebidas se associaram à recriação de um ambiente medieval personalizando, durante o período da feira, a sua oferta de produtos e serviços disponibilizados ao cliente. Conforme referido, o primeiro grande momento do Festival dos Descobrimento recordou a passagem do Cabo Bojador, em 1434, feito precisamente por um lacobrigense, Gil Eanes, vencendo medos instalados ao longo de décadas. A difícil passagem para além do Bojador foi conquistada pela inovação técnica da vela latina e pela determinação e perseverança dos homens de Lagos e do Algarve durante mais de uma década. A recriação histórica esteve a cargo da conhecida Companhia de Teatro Viv’Arte, tendo como local o Cais das Descobertas – Jardim da Constituição. Na Fortaleza Ponta da Bandeira tiveram lugar demonstrações de artilharia e armas de fogo primitivas, nomeadamente de arcabuzes, pelo Grupo Ofício Bélico. Ao mesmo tempo, havia animação pelos mercados ambulantes, da responsabilidade do Teatro Experimental de Lagos. Danças Medievais, Danças do Povo e Danças

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Africanas, um concerto de música coral renascentista e um espetáculo com Mozarabes preencheram o resto do dia 28 de abril. No dia 29 lembrou-se o Séc. XV, o período de ouro de Lagos. Como centro do comércio dos produtos exóticos, do marfim, do ouro e da prata de África, Lagos viu edificarem-se novas igrejas, aumentar o número de casas, crescer o número de comerciantes e de banqueiros nacionais e estrangeiros. Porém, foi já ao longo do século XVI, com a chegada à India e o descobrimento do Brasil, que as riquezas exóticas e de valorização financeira tornaram Portugal um país rico e excêntrico, sobretudo no reinado de D. Manuel I. Produtos como Feijão, Milho, Tabaco, Batata e Tomate vieram da América para a Europa. A Banana, o Amendoim, o Chá e o Café, entre outros, chegaram às capitais europeias como produtos exóticos e de grande proveito económico para os seus proprietários e para o desenvolvimento demográfico da população do continente europeu. Neste dia, o maior motivo de interesse foi a visita guiada ao Mercado de Levante e Mercado da Avenida, com ponto de encontro na Caravela Boa Esperança, mas houve igualmente oportunidade para participar num showcooking de «Gastronomia dos Descobrimentos», #105 ALGARVE INFORMATIVO

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pela Chef Maria José. Muita dança, animação, teatro e música fizeram as delícias dos milhares de visitantes e, ao serão, aconteceu uma Ceia Quinhentista, na Escola Secundária Júlio Dantas. O dia 30 de abril teria como tema «A Europa e a Escravatura» e iria recordar-se o primeiro mercado de escravos se realizou, em Lagos, no ano de 1444. Entre os finais do século XV e durante o século XVI, os fluxos de escravos aumentaram e a sua distribuição irradiou, sobretudo, para os continentes americano e europeu. Em Portugal, a sua integração fez-se na área da religião, com a criação de Confrarias e na influência, por exemplo, na música. Assim, seria recriado o desembarque de moços e moças de cor escura, uma breve lavagem dos corpos com baldes de água e barrela de sabão, a bênção e expurgação das mazelas heréticas pela clerezia, a triagem de moços e moças em lotes por género, tamanhos e medidas, o assentamento de nomes, sinais e descrição física de cada um, a arrematação por peças e por atacado, as contas feitas das despesas e lucros de cada carga. A concluir o Festival dos Descobrimentos, Lagos lembra as Guerras do Note de África e os confrontos com muçulmanos e outros 16 ALGARVE #105 INFORMATIVO


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gentios, desde a tomada de Ceuta à chegada à Serra Leoa e a implementação dos símbolos de soberania portuguesa no litoral africano. D. Fernando, primeiro Duque de Beja, é nomeado herdeiro do seu tio, o Infante D. Henrique, tornando-se seu filho adotivo, corria o ano de 1436. Em 1458, D. Fernando acompanha D. Afonso V na expedição que conquista Alcácer Ceguer. Em 1460, com a morte do Infante D. Henrique, sucede-lhe como Duque de Viseu e como Mestre da Ordem de Cristo, passando a ser responsável pelos descobrimentos para o reino de Portugal. Alguns nobres e validos mais chegados ao Infante D. Henrique contestam a escolha do herdeiro, travando-se de razões e azedando-se os ânimos. Em paralelo com estas atividades e recriações, os participantes no Festival puderam aprender e explorar o funcionamento dos principais instrumentos de navegação do século XV: o quadrante, a bússola, a balestilha e o astrolábio. Foi também explorada a importância do Sol na medição da passagem do tempo, construindose um pequeno relógio de Sol para os visitantes levarem para casa. Houve ainda oportunidade de observar o Sol e as suas manchas em segurança e o momento alto de todos os dias foi a construção de uma réplica modular de seis metros de uma caravela pelos próprios participantes . 18 ALGARVE #105 INFORMATIVO


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ARTESÃOS E PRODUTORES LOCAIS DINAMIZARAM MAIS UMA MOSTRA DA PRIMAVERA DE TAVIRA Texto:

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avira foi palco, entre os dias 22 e 25 de abril, da V Mostra da Primavera, na baixa da cidade (Rua do Cais, Jardim do Coreto e Mercado da Ribeira), com os produtos tradicionais e o artesanato do concelho e da região da Serra do Caldeirão a encantarem milhares de visitantes. Ao todo, foram cerca de 65 stands e 100 expositores que aliaram os saberes ancestrais à inovação e o design, num evento onde a componente musical esteve em grande destaque. Assim, a primeira noite contou com o certo dos «Virgem Suta», com os restantes dias a serem animados por «Domingos Caetano canta Zeca», «Filhos da Música» (projeto de covers da Banda Musical de Tavira) e a Banda Musical de Tavira com a «Armação do Artista» (música e poesia). Ao longo de quatro dias, pode-se ver, e comprar, o que de melhor é feito na região em termos de cestaria e empreita, malhas e rendas, cerâmica e azulejaria, trapologia e tecelagem, joalharia artesanal e bijutaria, assim como velas decorativas, miniaturas e brinquedos em madeira. A todos estes produtos juntaram-se as aguardentes, os licores, a doçaria regional, as compotas e os frutos secos, o pão e as costas, o mel e seus derivados, as ervas aromáticas e medicinais, o azeite e o vinho, para além de produtos de agricultura biológica, numa panóplia de sabores e cheiros que refletem a essência e autenticidade algarvias . #105 ALGARVE INFORMATIVO

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REPORTAGEM

ALTE Foram 332 as candidaturas apresentadas ao concurso «7 Maravilhas de Portugal – Aldeias», das quais apenas 49 foram eleitas em sete diferentes categorias: «Aldeias Autênticas», «Aldeias-Monumento», «Aldeias Ribeirinhas», «Aldeias em Áreas Protegidas», «Aldeias Remotas», «Aldeias de Mar» e «Aldeias Rurais». No concelho de Loulé situa-se a aldeia de Atte, préfinalista na categoria de «Aldeias Autênticas». Texto:

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ocalizada no extremo noroeste do concelho de Loulé, a freguesia de Alte possui uma superfície de aproximadamente 94,33 quilómetros quadrados de área e 1997 habitantes, de acordo com os censos realizados em 2011. A sua superfície estende-se entre a serra e o barrocal, com a Serra do Caldeirão a norte. As casas são brancas e simples com poucas açoteias, possuem pátios e lindas floreiras. São de Alte as mais bonitas chaminés rendilhadas do Algarve, artesanalmente trabalhadas, e as ruelas da aldeia são em calçada tradicional portuguesa. Alte possui fracos recursos económicos e a sua produção baseia-se essencialmente numa agricultura de sequeiro assente em práticas ancestrais, mas esta economia é dividida com o turismo. A produção de aguardente de medronho, do mel, do 32 ALGARVE #105 INFORMATIVO

queijo e da doçaria também são atributos da aldeia, assim como o artesanato tradicional executado à base de esparto, de palma, de madeira e de cerâmica. Com cerca de 482 metros de altitude, a Rocha dos Soidos é a zona mais elevada e dali avista-se toda a freguesia de Alte. A Ribeira de Alte percorre a localidade com água cristalina e fresca e ali se encontram a Fonte Pequena e a Fonte Grande, nascentes que durante séculos permitiam regar as hortas, encher os cântaros ou simplesmente para as mulheres lavarem a roupa. Atualmente, a Fonte Grande é cercada por um enorme arvoredo, local de lazer, perfeito para merendas, onde o visitante pode banhar-se na piscina natural de águas límpidas.


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A Aldeia, a Fonte Grande e toda a sua zona envolvente são caracterizadas pelo ambiente aprazível que a rodeia, pelo que não é de estranhar os milhares de turistas que anualmente se deslumbram com esta extraordinária paisagem. A cultura em Alte manifesta-se através das várias festas e romarias que se realizam ao longo do ano, dando especial enfâse às tradições, sendo a Semana Cultural de Alte (abril e maio) e a Festa do 1.º de Maio, os festejos mais altos. Outros há, porém, que merecem uma visita, como o Encontro de Janeiras (janeiro); o Carnaval de Alte (domingo e terça de Carnaval); a Festa 34 ALGARVE #105 INFORMATIVO


em Honra de S. Luís (janeiro); o Passeio/Maratona de BTT (25 de abril); a Semana Santa (de Quinta-Feira Santa a Domingo de Páscoa); a Festa dos Santos Populares (junho); o Festival de Folclore e a Cerimónia Tradicional de Casamento com Boda (em maio e no segundo sábado de agosto); a Festa em Honra de Nossa Senhora da Assunção (15 de agosto); a Festa em Honra de Nossa Senhora das Dores e S. Luís (no domingo mais próximo do dia 17 de setembro); e o Roteiro de Presépios de Alte (dezembro a janeiro). Por tudo isto, a aldeia de Alte já foi considerada a mais típica de Portugal, continuando fiel às suas origens, mercê de um investimento de recuperação e manutenção efetuado pela autarquia, no sentido de preservar os seus traços originais. E por tudo isto é uma das sete pré-finalistas na categoria de «Aldeias Autênticas» das 7 Maravilhas de Portugal – Aldeias .

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ENTREVISTA

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JOSÉ VENCESLAU

DÁ VIDA A BRINQUEDOS E MINIATURAS DE MADEIRA

Está patente, até 30 de maio, no Centro Museológico do Alportel, uma exposição de brinquedos e miniaturas construídas em madeira por José Venceslau. São peças funcionais, criativas, desenvolvidas a partir de técnicas ancestrais, transportadas para os tempos modernos, totalmente naturais e biodegradáveis que tentam combater a utilização do plástico através da reutilização de madeiras usadas. Texto:

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osé Venceslau é profissional de arte em gesso decorativo e os brinquedos de madeira apareceram na sua vida há cerca de cinco anos, quando esteve impossibilitado de trabalhar durante quatro meses por motivos de saúde. O hobby, contudo, foi ganhando maior fulgor e depressa começou a participar em feiras de artesanato do Algarve. “Fazia alguns brinquedos pequenos e o meu filho mais novo, que tinha quatro anos na época, ia aprovando conforme estivessem ou não do seu agrado. Eu estava habituado a lidar com peças de média ou grande dimensão, mas o espaço disponível em casa era pouco e isto era uma simples forma de terapia”, recorda José Venceslau. Autodidata por natureza, foi aprendendo com a experiência ao longo dos anos e ainda hoje continua a estudar novas técnicas todos os dias. E a primeira miniatura que fez em madeira foi logo uma retroescavadora, com algumas peças metálicas, parafusos, porcas, varões roscados, de modo a construir algo articulado, que se movesse. “Já com o material na rua, e a conselho de uma senhora, abdiquei completamente do metal, passei a utilizar apenas madeira”, conta, explicando que a opção por recriar máquinas e viaturas se deve ao seu fascínio pela imponência dos equipamentos industriais. “São peças com um elemento técnico muito forte e que se tornam bastante agradáveis à vista. Parte da mística estará associada, acredito, ao ato de converter algo que é gigantesco numa miniatura”. Máquinas, equipamentos, viaturas que, na sua maioria, são feitas sem o elemento 40 ALGARVE #105 INFORMATIVO

humano, o motorista, condutor, manobrador, como lhe queiram chamar, por ainda não ter dominado na perfeição a construção desses bonecos. “Parte da coleção tem boneco, que até já tem nome e esteve previsto ser editado em livro infantil, mas isso acarreta outros encargos e custos com gráficas. É um projeto para mais tarde”, revela José Venceslau, adiantando que o hobby se tornou mais «profissional» logo ao fim de um ano de atividade. “Uma empresa ia organizar um evento de Natal, convidaram-me para participar e a reação do público foi bastante positiva, o que me levou a pensar mais seriamente neste projeto. Andei seis meses a preparar tudo, a dar maturidade às minhas ideias, e estreeime numa feira em Almodôvar”, relata. As figuras humanas estão em fase de aperfeiçoamento e deverão aparecer, mais cedo ou mais tarde, mas o que não mudará é a tonalidade das peças, pois José Venceslau não tem intenção de começar a pintá-las. “Isso acabaria por industrializar o produto e esse não é o meu objetivo. Pretendo manter os traços naturais dos meus brinquedos e miniaturas e que as pessoas se identifiquem com a matéria-prima utilizada. Mas quem adquire uma peça pode sempre personalizá-la e pintá-la ao seu gosto”, frisa o entrevistado, enquanto ia compondo o material exposto no Centro Museológico do Alportel. Por falar em matéria-prima, uma das grandes vertentes do trabalho de José Venceslau é a reutilização de madeiras que não tenham componentes químicos,


até por serem brinquedos maioritariamente destinados a crianças. “Dou primazia ao abeto branco, uma madeira muito macia, não resinosa e que não lasca, e que pode ser utilizada para fins de artesanato. Depois, uso excedentes de carvalho, faias, freixos, do meu próprio trabalho, coisas que iriam para o lixo e que, assim, acabam por ser reaproveitadas”, diz-nos, confirmando que o maior investimento advém da aquisição de ferramentas de precisão adaptadas a este tipo de construção e aos seus acessórios. “Tal como as peças, também as ferramentas são em miniatura e o principal intuito é acelerar o processo de corte da madeira,

de modo a conseguir construir mais peças e reduzir o custo de produção. Tudo o resto é feito de forma artesanal, à mão, como se pode observar facilmente nas feiras em que participo, onde trabalho ao vivo”.

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PROCURA É MAIOR DO QUE A CAPACIDADE DE PRODUÇÃO Esboços no papel não faz, tem o esquema delineado na cabeça e vai diretamente para a madeira, raramente falhando. As peças articuladas, como é natural, demoram mais tempo a ganhar vida, carecem de alguns retoques e ajustes porque as dimensões têm que bater certo para as diferentes componentes funcionarem. As mais básicas são mais céleres, tudo de memória, por isso, não há duas peças exatamente iguais. “Como em qualquer atividade, o primeiro protótipo é o mais difícil, posso demorar quatro ou cinco dias na sua construção. Depois, reduzo para quatro ou cinco horas por cada peça”, garante. “Trabalho todos os dias até às 23 horas e aos fins-de-semana

e esta semana já fiz quase quatro dezenas de peças, só em período póslaboral”. Fazendo as contas por alto, desde que abraçou este ofício, há cinco anos, já construiu uns bons milhares de brinquedos e miniaturas, que não ficam muito tempo a ganhar pó em casa, assegura, com um sorriso. “Existe um interesse muito particular do consumidor nestas peças, percebe rapidamente o que é feito à mão ou com máquinas, reconhece a sua qualidade a nível da robustez e da componente artística que se transporta para os produtos. Esse reconhecimento é o mais importante para mim. Não quero muitos clientes, mas sim pessoas que se interessem verdadeiramente pelas peças”, salienta José Venceslau. #105 ALGARVE INFORMATIVO

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Produtos genuinamente portugueses, fabricados no Algarve, com matéria-prima nacional, que também agradam sobremaneira aos turistas estrangeiros e a algumas lojas de brinquedos e de decoração de diversos pontos do país. “Não tenho mais parcerias porque a minha capacidade de produção é limitada e preciso restringir-me aos stocks que consigo gerar. Para além disso, recebo encomendas de pessoas que idealizam uma peça e que eu depois transformo em realidade”, aponta o entrevistado, confirmando que a burocracia ainda dá muitas dores de cabeça aos pequenos artesãos. “A lei é igual para todos e pagamos os nossos impostos como toda a gente. Quero ir mais além, só que isso exige investimento e é preciso obter financiamento e depois 44 ALGARVE #105 INFORMATIVO

saber rentabilizá-lo. Para gerir qualquer negócio também é necessário uma forte componente de logística e eu estou sozinho no projeto. Mesmo assim, 2017 vai ser um ano bastante preenchido, estou em São Brás de Alportel até final de maio, sigo depois para uma feira internacional no Porto e o Verão está repleto de eventos no Algarve” .


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REPORTAGEM

CLARA ANDERMATT TROUXE «SUSPENSÃO» AO CINE-TEATRO LOULETANO Depois do estrondoso sucesso de «Fica no Singelo», a Companhia Clara Andermatt regressou ao Cine-Teatro Louletano, no dia 21 de abril, com «Suspensão». Um espetáculo que cruza performance, dança contemporânea e música eletrónica e que obriga o público a puxar mais pela cabeça, não é tão direto, mas a resposta do público louletano voltou a ser bastante positiva. Texto: Fotografia: ALGARVE #104 46 ALGARVE #105 46 INFORMATIVO INFORMATIVO


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uspensão é a nova criação da ACCCA – Companhia Clara Andermatt, que subiu ao palco do Cine-Teatro Louletano, no dia 21 de abril. O arrojado espetáculo combina performance, dança contemporânea e música eletrónica, com uma coreógrafa – Clara Andermatt – e dois compositores – Jonas Runa e António SáDantas – a produzirem uma coreografia musical repleta de imprevistos sentidos, onde tudo nasce no momento, cada som é criado ao vivo. O projeto desenvolve-se em torno de um instrumento sensível à luz, montado em vários pontos do espaço. Depois, os personagens modulam e criam som (eletroacústico) pelas sombras que vão projetando. «Suspensão» é uma experimentação com/e invenção de novos instrumentos e novas técnicas de criação 48 ALGARVE #105 INFORMATIVO

sonora, onde se procura encontrar novas ligações, novos modos de pensar o movimento, novos sons, novos modos de pensar o conjunto como apenas um elemento. As cenas são variadas e revisitadas, não contando uma história cronológica, antes criando e sugerindo figuras, sensações, pequenas histórias, que fluem de uma para outra, que voltam, que ficam, que desaparecem. “É um concerto de música ao vivo, com sensores que reagem à luz e ao movimento, com um longo plástico em cena e objetos com pesos que também produzem sons amplificados”, indicou Clara Andermatt, horas antes de subir ao palco. Palco onde teria por companhia Jonas Runa, um especialista em musicologia e


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em sistemas eletrónicos, e António SáDantas, compositor com maior vocação para a música clássica e contemporânea. “Foi um desafio que lhes propus para criarmos um concerto encenado e com uma vertente bastante experimental. São diversos quadros que, de alguma forma, se relacionam com algo que permanece sempre inacabado”, descreveu a coreógrafa. O espetáculo no Cine-Teatro Louletano foi o primeiro a ter lugar em terras algarvias, mas a estreia aconteceu em Viseu, seguindo-se Almada e o CCB de Lisboa. “Tem sido bem recebido, embora

seja um produto mais «difícil» do que o «Fica no Singelo». É uma linha diferente de trabalho que, às vezes, sinto necessidade de realizar, envolvendo também as novas tecnologias e universos que nos obrigam a estar atentos a outras coisas. Aqui há uma série de dispositivos e as pessoas nem sempre se apercebem do que é que está a produzir o som, mas é tudo feito ao vivo, no local”, destacou Clara Andermatt. “Existe uma base e toda uma dramatologia envolvida, mas há também uma imprevisibilidade latente em cada espetáculo”, concluiu .

Ficha Técnica Direção: Clara Andermatt / Criação, Interpretação e Espaço Cénico: Clara Andermatt, Jonas Runa, António Sá-Dantas / Desenho de Luz: Wilma Moutinho / Consultor Artístico: Victor Rua / Figurinos: Ana Direito / Construção Espaço Cénico: Sergio Cobos / Assistência: Guy Swinnerton / Sistema Eletrónico de Interação Luz/Som: Jonas Runa / Operação de Som: Ricardo Figueiredo / Produção: ACCCA / Coprodução: Teatro Viriato / Apoio: Espaço do Tempo

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ENTREVISTA

JOÃO TIAGO NETO REGRESSA COM O POP ELETRÓNICO DE

GALO PIM

O Roof Top do Hotel EVA, em Faro, marcou a estreia ao vivo, no dia 24 de abril, de «Galopim», o novo projeto de João Tiago Neto. O carismático músico, que esteve na génese de bandas farenses como os Melomeno-Rítmica e NOME, regressa com uma nova sonoridade, mais eletrónica, contando a seu lado com Rui Daniel, dos Epiphany, e o produtor Francisco Aragão. E o som deste «moço de recados» vale mesmo a pena ouvir. Texto: Fotografia: 54 ALGARVE #105 INFORMATIVO


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onheço o João Tiago Neto, ou «Careca», como é apelidado pela malta da música, há uma série de anos. Deu rosto e voz a duas das principais bandas de pop/rock que nasceram em Faro neste milénio, os Melomeno-Rítimica e os NOME, projetos de qualidade indiscutível mas que, infelizmente, nunca conseguiram dar o salto para o estrelato que mereciam. Já todos ouvimos a conversa da falta de oportunidades dadas aos músicos algarvios, a história da tal fronteira invisível que parece impedir que as bandas da região alcancem projeção nacional. Há casos em que essa conversa é apenas uma desculpa para a falta de qualidade, de vontade, de empenho, dos músicos, que se acomodam à situação de fazer as primeiras partes dos concertos que acontecem durante o Verão algarvio, ou entram no circuito das covers e de lá nunca mais saem. Há outros casos, porém, em que essa conversa não é «conversa», é mesmo uma realidade que poucos conseguiram vencer, como aconteceu com os EntreAspas e os Iris e, mais recentemente, com Viviane e Diogo Piçarra. Mas os MelomenoRítimica e os NOME nunca conseguiram chamar a atenção de uma grande editora ou de um manager com os conhecimentos nos sítios certos, e por cá ficaram. Foi, por isso, uma agradável surpresa quando soube do novo projeto do João Tiago Neto, agora assumindo por completo as rédeas deste «Galopim», que nasceu na parte final do trajeto dos NOME. “Tinha na gaveta algumas músicas e rabiscos de letras e julguei ser o momento certo de criar algo da minha exclusiva autoria. O

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Francisco Aragão gostou dos temas, entramos em estúdio para começar a produzir e foi nessa altura que o projeto seguiu por um caminho mais eletrónico, mais atual”, contou, minutos antes do concerto de estreia, no Roof Top do Hotel EVA, em vésperas do Dia da Liberdade.


Depressa se constata, de facto, que «Galopim» não tem a roupagem pop/rock das bandas anteriores, mas a voz de João Tiago Neto é inconfundível, bem como o sentimento que coloca na sua interpretação, ainda que revestida de uma sonoridade mais moderna, sofisticada. Uma emoção bem evidente quando

dedicou um dos temas ao amigo de longa data João Vargues, parceiro dos Melomeno-Rítmica e NOME falecido em abril. “Estamos muito satisfeitos com o nosso trabalho e espero que as pessoas compreendam que vão assistir a um João diferente daquele que tinha uma banda atrás de si nos palcos. Isso não quer dizer que o «Galopim» esteja

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fechado a sete chaves, ou que tenha umas talas nos olhos. Vamos evoluindo no diaa-dia e aproveitando cada momento que nos surgir pela frente”, explicou. O que também se percebe facilmente é que as letras de «Galopim» têm «sumo»,

portanto, não sei bem onde vai dar o «Galopim». Mas também não estou demasiado preocupado com essas questões, quero é curtir o momento e que o público também goste daquilo que temos para lhe mostrar”, frisa João Tiago Neto.

significado, algo para dizer, para fazer pensar, para despoletar emoções, o que nem sempre acontece nestes projetos de onda mais eletrónica, onde o importante é ter um refrão chamativo e uma batida que ponha a malta a dançar, a abanar o capacete. “Os temas que se encontram neste EP têm, realmente, um forte conteúdo, uma mensagem, falam da minha pessoa, das minhas vivências. As músicas que escrevi depois já são menos «brutas», estão a seguir outros caminhos,

A maturidade, claro, é diferente, não estamos na presença do «Careca» de 20 anos, «Galopim» é um «moço de recados» com muitas mensagens para transmitir, a maioria de João Tiago Neto, mas também algumas de outros autores, de amigos de outras «guerras». E o entrevistado, que nunca viveu somente da música, também não tem as ilusões do antigamente, sabe bem como funciona a indústria da música. “Não

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fomos atrás do exemplo de ninguém quando estávamos a gravar o EP. Sempre gostei de boa música, incluindo a eletrónica, mas não imaginei o rumo que isto ia seguir quando compus as músicas ao piano e guitarra. Eram temas mais acústicos, contudo, confrontei-me com o

alguém a meu lado, e o Rui Daniel abraçou este projeto com todo o gosto”, justificou João Tiago Neto, adiantando que agora começa verdadeiramente a promoção pura e dura, no terreno, em show-cases nas lojas FNAC e outros locais, e ainda a

mundo da eletrónica em que o virar de um botão transforma por completo a música”, relata, assumindo estar a gostar bastante deste novo universo musical.

tempo dos concertos de Verão. “Mas não temos pressa, porque a minha experiência já me mostrou que chegar aqui, ao ter o disco na mão, é tudo muito rápido. O que se segue é mais complicado e queremos ir passo a passo, enraizando bem as coisas, percebendo qual é o nosso espaço, não aceitando aquilo que não nos interessa. O nosso grande objetivo é fazer música com qualidade e desfrutar do momento com o público” .

E é neste momento que entra em cena Rui Daniel, jovem fundador dos Epiphany, porque o produtor Francisco Aragão – que faz parte da banda que acompanha Diogo Piçarra na estrada – não teria disponibilidade para estar a 100 por cento no «Galopim». “Eu não podia ficar só agarrado aos instrumentos, precisava de

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ENTREVISTA

MIGUEL MENDONÇA: UM OLHANENSE A DESENHAR OS SUPER-HERÓIS DA DC COMICS Os super-heróis fazem parte do imaginário de miúdos e graúdos de todo o mundo, popularizados através das tradicionais bandas-desenhadas de papel ou, mais recentemente, de formato digital, ou através dos filmes de Hollywood e das séries norte-americanas. E é nesse mundo que vive, desde 2015, o olhanense Miguel Mendonça, a desenhar as histórias da Wonder Woman, Teen Titan, Green Lantern, Trinity e Nightwing. Texto:

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Fotografia:


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esde miúdo que sou fanático por super-heróis, desde o Capitão América e Vingadores ao Wolverine e X-Men, da Marvel, mas também do Super-Homem, Batman ou Liga da Justiça da DC Comics. Naquele tempo, eram as bandas desenhadas da Abril/ControlJornal que faziam a miudagem viajar por múltiplos universos e os poucos filmes que se faziam não nos aqueciam o coração. Hoje, temos os blockbusters de Hollywood, os fantásticos filmes do Capitão América, Homem-Aranha, Vingadores, Thor, Wolverine, X-Men, Homem de Ferro, Hulk, Batman e Super-Homem, mas também as séries do Daredevil, Luke Cage, Iron Fist, Agents of Shield, Supergirl, Arrow e Flash. Mas, nos anos 80 e 90 do século passado, eram os livros mensais que nos faziam esperar, sofregamente, pela próxima edição. Por isso, quando tive conhecimento que havia um algarvio, moço nascido e criado em Olhão, a desenhar histórias para a DC Comics, meti-me logo à estrada para ir ter com o Miguel Mendonça, 32 anos, licenciado em Design de Comunicação pela Universidade do Algarve. “Desde que me lembro que tenho tendência para pegar num lápis para desenhar, mas foi no design gráfico e no design digital que comecei a trabalhar quando terminei o curso. Só que a minha voz interior estavame sempre a puxar para a ilustração, sobretudo para a banda desenhada. Claro que, no início, pensava que era um sonho irrealizável”, recorda Miguel, numa conversa no Cantaloupe Café, nos Mercados de Olhão.

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Na mesa estavam espalhadas várias edições da Wonder Woman, Teen Titan e Trinity que já contam com o grafismo de Miguel Mendonça mas, no começo, tudo parecia, de facto, impensável de concretizar. O certo é que, no seu percurso académico, nunca perdia uma oportunidade para fazer uma banda


desenhada para um trabalho que exigisse mais criatividade desta ou daquela disciplina, com personagens e enredos inventados por si. “O gosto pelo desenho é essencial, mas o mais importante na banda-desenhada é contar uma história e é preciso praticar bastante para o conseguir. Com a experiência habituamonos àquele tipo de narrativa, torna-se

mais fácil passar para o papel as histórias que imaginamos na cabeça”, admite o entrevistado, confirmando que há técnicas específicas para se ter sucesso nesta atividade. “É um pouco como o realizador, que tem uma história para contar mas precisa decidir, por exemplo, qual o melhor plano para colocar estas duas personagens a

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surpreendeu, contudo, o olhanense, que muito cedo começou a consumir as coleções de BD do irmão 11 anos mais velho. “O meu estilo é influenciado pela escola franco-belga do Asterix e Obelix, Strumpfs e Tintin, pela escola norte-americana da Marvel e DC Comics e, mais tarde, pela manga, a banda-desenhada japonesa. Fui para Design por querer fazer alguma coisa ligada às artes mas, na época, não sabia muito bem o quê. Dizia-se frequentemente que, quem tinha talento, tinha futuro, mas isso depois traduzia-se em quê na vida real? Não era só saber desenhar”, refere.

conversar num café. Será de lado ou de frente? Será interessante apanhar também o que está a acontecer no balcão? É por isso que se faz um storyboard previamente”. Convém explicar que, na maioria dos casos, o argumentista e o artista não são a mesma pessoa e Miguel Mendonça recebe da DC Comics um guião com as histórias que tem que desenhar. Essa nuance não 66 ALGARVE #105 INFORMATIVO

Saído da Universidade do Algarve e ligado ao Design Gráfico e Digital, Miguel Mendonça não se livrava daquela sensação, da tal vozinha, que lhe dizia insistentemente que havia algo que ele gostaria mais de fazer. Assim, começou a experimentar a ilustração editorial e infantil, os manuais escolares, a publicidade. A voz interior, alimentada, falava cada vez mais alto, e Miguel avançou finalmente para a banda-desenhada. “A partir do momento em que tomei a decisão do que realmente desejava, o caminho a seguir tornou-se mais nítido”, conta.


UMA SENSAÇÃO SURREAL, A PRESSÃO E AS AMBIÇÕES Como é óbvio, Miguel Mendonça não entrou de rompante pela porta da DC Comics adentro, foi preciso partir muita pedra durante alguns anos, começar por baixo, promover o seu trabalho pela internet, ao mesmo tempo que ia melhorando o seu traço. “O meu objetivo era simplesmente entrar no mercado norte-americano, mesmo que fosse através de uma editora mais pequena. Com a internet é muito mais fácil comunicar à distância com o mundo inteiro e, às tantas, surgiram propostas concretas, uma delas da Zenescope Digital Comics, com quem trabalhei durante dois anos”, relata. Um dos autores com quem colaborou nessa fase foi Meredith Finch, que, ao fim de algum tempo, o desafiou para trabalhar num número da «Wonder Woman», personagem da DC Comics cujo primeiro filme de cinema vai estrear precisamente este Verão. “Desde o final de 2015 tenho sido convidado para participar em diversos números da Wonder Woman, Teen Titan, Green Lantern e Trinity, livro que junta a Mulher Maravilha com o Batman e Super-Homem”, indica, de olhos brilhantes, ao recordar o momento em que o sonho, o tal que era impossível, de repente se tornou realidade. “Foi uma sensação surreal, embora tenha sido um processo gradual. A possibilidade de isso acontecer ia aumentando à medida que o tempo ia passando mas, quando apareceu o convite, dei uns quantos pulos e gritos lá por casa”.

Pulos e gritos que não foram muitos, porque há prazos para cumprir e, quando se chega a este patamar, a pressão é imensa, é como saltar do Distrital de Futebol para a Liga dos Campeões. “Temos que fazer o nosso melhor trabalho de sempre para agradar aos editores e a toda a gente que vai ler o livro, e o público agora é bastante maior, a nível mundial. É uma mistura de ansiedade, alegria e responsabilidade”, reconhece, num momento em que está a terminar um novo livro, desta feita do Nightwing. Histórias que são desenhadas à moda antiga, a lápis, no estirador, em folhas A3, que depois são digitalizadas e aperfeiçoadas no computador, antes de rumaram, via internet, para o outro lado do Atlântico. “Pode parecer um bichode-sete-cabeças, mas depois habituamo-nos às rotinas e ganhamos mecanismos para nos ajudar a cumprir com aquilo que nos é solicitado. Recebo o guião e planeio logo as páginas, numa dimensão mais pequena, para mostrar aos editores o modo como estou a pensar contar aquela história. Eles dão o seu feedback e, a partir do momento em que o projeto está aprovado, vou para as folhas A3 e cada livro de 22 páginas demora, normalmente, um mês a ficar concluído”, descreve Miguel Mendonça. Depois, é esperar pela impressão e receber, por correio, o livro com o seu nome nos créditos, outra sensação difícil de descrever, garante Miguel Mendonça. “A editora envia sempre alguns exemplares, que são logo distribuídos pela família. Considero-me #105 ALGARVE INFORMATIVO

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um sortudo porque sempre contei com o apoio dos meus pais, porque eles também viam o meu empenho. Não me limitava a dizer que gostava de desenhar, trabalhei imenso para que as coisas acontecessem, para fazer disto a minha profissão sem estar demasiado preocupado com as contas que há para pagar”, sublinha. “Quando somos jovens, muitas vezes pensamos que os sonhos não se tornam realidade. Quando metemos na cabeça que eles são possíveis, trabalhamos para isso e, na maior parte das vezes, até

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conseguimos atingir os nossos objetivos”, assegura. Já que se fala em objetivos, Miguel Mendonça quer consolidar a sua relação com a DC Comics, ganhar mais experiência e melhorar o seu traço, mas criar livros de autor também é algo que faz parte dos seus planos. “Não sei se será num futuro próximo ou longínquo, mas tenho algumas histórias minhas em que vou trabalhando nos tempos livres e, quando tiver que ser, será”, acredita o olhanense, ciente que, dos livros para o cinema, também é um pequeno passo nos tempos modernos. “Há uns anos era impensável fazer-se um filme com a Wonder Woman e agora vai estrear o primeiro, depois de ter aparecido no «Batman Vs Super Man: Dawn of Justice». Acho que deixou de haver impossíveis”, considera. “Todos nós temos uma voz interior que nos diz para perseguirmos os nossos sonhos, só que nem sempre estamos preparados para a ouvir. Quando traçamos o nosso real objetivo, o caminho fica mais definido e tudo aquilo que aparece pela frente é apenas mais um obstáculo para ultrapassar. O essencial é não perdermos o foco”, aconselha, em final de conversa, porque havia prazos para cumprir e mais um livro para terminar .


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OPINIÃO

Qual é o sexo do amor? Paulo Cunha (Professor)

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á preparados para o casamento, aperaltados, cheirosos e sorridentes, lá nos deslocámos em direção ao Registo Civil. No caminho a nossa jovem filha mostrava toda a expectativa, curiosidade e boa disposição que uma cerimónia onde se celebra o amor entre dois seres humanos desperta. Fruto da mistura de sentimentos bons que se entrecruzam nessas ocasiões, as reações à celebração eram as esperadas. A felicidade pairava no ar e os convivas espelhavam a satisfação que sentiam em ver os noivos a materializar o contrato que, legal e socialmente, os uniria como casal. Depois das habituais assinaturas, eis que a notária sugeriu que os dois se beijassem… e assim foi. Ternamente, ele selou o momento dando um beijo ao seu marido. Marido e marido, unidos no amor, nos deveres e nos direitos que um casamento se propõe perpetuar. Casamento terminado, já no momento das fotografias de grupo, uma das convidadas, em tom de desagrado, mostrou-nos algum espanto por termos levado a nossa filha de seis anos a um casamento entre pessoas do mesmo sexo. Perante tal afirmação nenhum de nós dois, progenitores, respondeu, deixando ser a criança a mostrar-lhe através das suas expressões e palavras a satisfação que teve em ali estar, partilhando a «normalidade» que é ver os outros felizes. Um ser em crescimento e em formação que, sem necessidade de recorrer a grandes explicações, nem elaboradas teorizações, facilmente inculcou o estar de uma família que aceita os outros tal como são. Tendo nascido heterossexual, e desde novo ter manifestado atração pelo sexo oposto, tive com a sexualidade uma relação perfeitamente ajustada aos meus sentimentos. Fi-lo em privado, sem que isso interferisse na minha vida social nem profissional. Por isso, continuo a ter alguma dificuldade em entender certos argumentos que muitos usam para condenar na «praça pública» a sexualidade dos outros. Lembro-me perfeitamente quando pela primeira vez presenciei um beijo afetuoso entre dois amigos do mesmo sexo. Estranhei, pois era algo para o qual não tinha sido «formatado», mas logo percebi que o beijo em nada diferia daqueles que eu dava. A estranheza residiu, tão-somente, na falta de preparação e

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sensibilização para tornar normal tudo aquilo que não tem nada de anormal. Porque amar é normal! Penso que é um ótimo exercício de estímulo intelectual colocarmo-nos na pele de alguém que é diferente de nós. Alguém que como nós tem os mesmos direitos e os mesmos deveres mas, por preconceito, por pequenez intelectual ou por crenças de vária índole por parte da sociedade, se vê frequentemente espoliado do direito de viver a sua vida de forma natural, sã e transparente. A paixão não escolhe idade, nacionalidade, raça, credo, género ou o quer que seja que lhe queiram impor como «certo». Tal como uma fonte onde a água jorra por caminhos inesperados e enviesados, a vida coloca à disposição de todos oportunidades e momentos que deverão ser vividos em toda a sua plenitude e magnificência. Sem reservas, sem preconceitos, sem temores, sem vergonhas e sem estigmas. Não será um direito de todos sermos felizes e fazer os outros felizes na única vez que por cá passamos? Não será também um dever de todos respeitar as diferenças que nos distinguem e nos tornam únicos, como forma de abolir - de uma vez por todas - as «anormalidades» que só existem nas mentes de alguns? Quando oiço apregoar que cada vez há mais oferta de locais «gay-friendly» fico a pensar se o normal não seria todos os locais públicos aceitarem e respeitarem qualquer ser humano, independentemente da sua orientação sexual!? Só o facto de haver sítios que refiram essa forma de tratamento, logo indicia que muitos outros não o fazem. Não é criando guetos baseados seja no que for que se conquista a compreensão, a aceitação e o respeito por quem é diferente de nós. Porque acredito que na comunhão de gostos, de comportamentos e de formas de estar e de ser reside a nossa maior riqueza enquanto animais racionais, desejo piamente que as novas gerações cresçam imbuídas no respeito pela diversidade. Para que a «frase feita» “Todos iguais, todos diferentes” não seja apenas isso, uma frase feita! É tão simples ser feliz, porque é que há tanta gente a complicar?!... .


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OPINIÃO

Brasil fora da caixa Paulo Bernardo (Empresário)

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ntem aconteceu uma greve geral no Brasil, a primeiro em 10 anos, greve um pouco estranha aos olhos de um europeu. Apenas referindo o ponto mais importante da mudança na lei laboral, deixa de ser obrigatório ser sindicalizado. Os trabalhadores que quiserem podem deixar de usar parte do seu salário para pagar a um sindicato, quando o Brasil tem 15 mil sindicatos. Deixo apenas esta nota de curiosidade para cada um fazer o julgamento da eficiência da atuação dos ditos sindicatos. Mas a pequena nota sobre a greve era só mesmo uma pequena nota. O que eu quero dizer sobre o Brasil ser «fora da caixa» é que, pela primeira vez na sua história, este grande país pode sair do jugo de uma geração que vem dos mais antigos anos e que se foi perpetuando ao longo de gerações, até chegar ao seu potencial final nesta altura. Altura única que pelas delações premiadas decapitou toda a classe política, como diz uma canção popular "SE GRITAR PEGA LADRÃO, NÃO SOBRA UM MEU IRMÃO" e não sobrou mesmo. Da esquerda à direita, tudo foi varrido do mapa político brasileiro. Hoje vivesse um vazio que começa a ser ocupado por João Dória Júnior, Prefeito de São Paulo. Homem íntegro e que veio do mundo das empresas com o apelo de ajudar o seu país a mudar. Contudo, existe uma massa enorme de jovens, altamente comprometidos com a política, que não o vão deixar sair da rota, são a nova forma de democracia. Ao contrário da Europa e Estados Unidos da América, existe um grande número de jovens

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brasileiros com opinião política e grande vontade de participar e levar o país para a frente. Atitude que só aconteceu graças a três fatores: cerca de 40 por cento da população brasileira tem menos de 24 anos; a sua grande ligação às redes sociais, sendo o maior país do mundo a usar Facebook; e a frequência de cursos universitários por uma grande parte da população. Podemos sempre dizer que os jovens isto e os jovens aquilo, mas o que é certo é que estes não vão deixar que os velhos políticos que tomaram o poder de uma forma quase dinástica, voltem novamente a entrar na roda do poder. A política como a conhecemos morreu no Brasil e vai nascer uma nova política, a esquerda e direita vão desaparecer, são conceitos ultrapassados. Vão surgir novos movimentos preocupados com outros tipos de problemas, que não se refletem nas filosofias políticas escritas em séculos que nem se imaginava que a internet iria surgir. Assim ainda, não sei bem o que vai surgir, mas vão aparecer partidos mais preocupados com o bemestar, a felicidade, a ecologia, a qualidade de vida. Menos com o ter e mais com o viver. E por quê o Brasil? Como é possível isto surgir na terra do samba e do futebol. Sim, o Brasil também é isso, mas também é o maior país do mundo produtor de inúmeros produtos, tem riquezas naturais inimagináveis, um território que é um continente. Se multiplicarmos estes quatro fatores, população jovem X redes sociais X educação X riquezas naturais = futuro brilhante. A única ameaça que vejo não é interna, mas sim o medo que um Brasil forte traz para as ditas grandes potências. Mas isso dá outra história .


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OPINIÃO

Que jête! Mirian Tavares (Professora)

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hegava à universidade e uma colega, que não consegui identificar, deixou-me à espera enquanto levava o seu tempo a estacionar o carro na vaga que desejava. Aguardei, pacientemente, e quando ela acabou, nem sequer me agradeceu. Mas que jête! E estou a falar de uma pessoa que é, supostamente, bem formada e que partilha comigo o mesmo trabalho. No dia-adia, situações como esta são às centenas: pessoas que saem de repente sem dar sinal, que param, também de repente, para falar com alguém e que não pedem desculpas, pessoas a quem damos passagem e acham que não fizemos mais que a nossa obrigação. Lembro de um filme da Disney em que o Pateta, um sujeito sempre calmo e bem-humorado, transformava-se num monstro ao volante, involuía muitos séculos na escala da civilização em poucos segundos. Quando comecei a conduzir, sentia-me um pouco como o Pateta e tinha ganas de matar quase todos que se me atravessassem pelo caminho: carros que não sinalizam; pessoas que atravessavam a rua como se estivessem a desfilar na passarela, muitas vezes fora da faixa de peões; ciclistas que se acham melhores que os motoristas, porque são menos poluentes e mais

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civilizados e, portanto, podem tomar toda a estrada e deixar que se forme uma enorme fila de carros atrás, pois, afinal, quem conduz estas coisas deve ser punido; enfim, mal-educados em geral. Com o tempo, percebi que não valia mesmo a pena perder a calma e nunca, pelo menos até agora, matei alguém. Um dia estava a caminho do ginásio e uma senhora bate no meu carro por trás. Ela desce furibunda, a maldizer-se da vida e eu, calmamente, saio e vejo que não se passou nada. Ela, que tinha batido no meu carro, quase me bate e vai embora sem sequer pedir desculpas. Eu que estava prestes a entrar numa aula de pilates, respiro fundo e parto sem partir-lhe a cara. Que jête? Isso lá é coisa que se faça? Por isso, cada vez que entro no carro, mergulho em busca da minha costela zen. Qualquer dia ela se parte. E quando alguém, como a tal colega, não tiver a delicadeza de agradecer um gesto de paciência, encarno o Pateta e enfio a mão na buzina. Pode não resolver nada, mas sempre acalma, um bocadinho, o Neandertal que perdura em cada um de nós .


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OPINIÃO

Primavera ensombrada Luísa Monteiro (Escritora)

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or «superstição racional», como diria Wittgenstein, a quem não apeteceu silenciar já o telemóvel, fechar a conta de facebook, encerrar o e-mail, partir a televisão, ficar completamente à sombra do mundo em ebulição e, mesmo assim, continuar a espreitá-lo? Isto é velho: o prazer do sucesso de hoje dará sempre lugar à paranóia de amanhã. A verdade é que as sombras são cada vez mais presentes, depois de tudo termos feito para sairmos da temível espiral do silêncio. Esse elemento «sombra» é o factor autista ou irracional na actividade humana que poderá determinar se as acções são ou não aceites pela sociedade, se são ou não delinquentes. Ora, se perseguirmos uma «sombra perversa», tornamonos passíveis de nos tornar desonestos. Mas ninguém é desonesto sozinho e nós temos permitido tanto que todo esse tanto que rejeitamos é da nossa responsabilidade; o mesmo se pode dizer dos banqueiros de lesa-pátria, dos políticos narcísicos e até dos exibicionistas virtuais do facebook, esse imenso espelho de sedução e «teatrice» movido por gente mais ou menos sombria. Essa «sombra perversa» remete-nos frequentemente para a estranha ânsia humana do poder, animada pela ganância, pelo exibicionismo, pelo materialismo. Nas suas teses contra Feuerbach (1845), Marx diz que na “doutrina materialista, os indivíduos são produto das circunstâncias e da educação”; seres humanos transformados são, então, produtos de outras circunstâncias e de uma educação mudada. Se

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olharmos à nossa volta, não faltam opiniões que consideram a ganância como algo de salutar, até porque o cálculo de todas as tramas menos lícitas requer uma grande soma de conhecimentos dos indivíduos, das situações e dos controles sociais. Resumindo: perdemos a espiritualidade em nome do egoísmo – e tudo porque já ninguém acredita ou quer saber de ideais comuns. Assim, as atitudes de Putin e Trump, os campos de concentração na Tchechenia para homosssexuais, os jovens nas frentes islâmicas e os delírios dos banqueiros, assentam numa base comum: a esquizofrenia mal-educada gerada numa sombra demasiado perversa. No entanto, recuso-me a aceitar que os seres humanos tenham perdido o amor e a afeição natural de uns pelos outros. É preciso pensar em mecanismos que fortaleçam a tendência ao respeito e à aproximação entre as pessoas, para que a ideia de igualdade elementar entre os seres humanos constitua a base de toda e qualquer sociedade humana. Há que retirar as pessoas das sombras e voltar a educá-las - e nesta reeducação de adultos a disciplina nuclear só poderá ser a da cultura em sentido restrito. Marx também dizia que as circunstâncias são transformadas precisamente pelos seres humanos e que “o educador tem ele próprio de ser educado” – e isto justifica porque é que enterramos e desenterramos Marx com a mesma rapidez. É que, entre o criar, o imaginar e o repensar da arte, há sempre uma sombra que cai .


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OPINIÃO O Turismo no Algarve sem Preconceitos Antónia Correia (Professora)

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piniões controversas sobre o futuro do turismo parecem estar na moda, o Algarve está na MODA. Mas na Moda está também discutir o Bem-Estar dos residentes, a Sustentabilidade, as Low Costs e a Massificação do Turismo, ainda que preconceito e orgulho não permitam modernizar discursos. O Bem-Estar dos residentes A importância económica do turismo é consensual, num país em que saber receber está no ADN da população. A autenticidade do povo, a genuinidade dos nossos hábitos e costumes estão na agenda dos que nos visitam. Estudos realizados mostram que os residentes não têm uma atitude nada apática relativamente ao turismo e, de um modo geral, são favoráveis ao crescimento turístico, sendo que 80 por cento vê no turismo a solução económica e social para a região (Vahid, Del Chiappa e Correia, 2016). Associado ao turismo discute-se também a especulação imobiliária, tema que pode determinar a expulsão das populações da vida urbana. Estudos revelam, no entanto, que esta especulação advém mais da concentração de serviços, para os quais as taxas autárquicas são bem mais generosas do que as cobradas aos habitantes. Juntem no Algarve as portagens da Via do Infante e a taxa turística das cidades e verifiquem os resultados. No plano mais social, a revitalização turística de algumas zonas vetadas ao abandono durante a noite traz uma segurança que muitas cidades há muito deixaram de sentir. Questiona-se ainda o comércio de rua trucidado pelo turismo. Na verdade, são os turistas os principais clientes de rua, sendo que o mercado de Quarteira é um ponto de visita obrigatório pelo simples prazer de sentir a autenticidade do local (Kozak e Correia, 2016). A sustentabilidade ambiental No plano ambiental, argumenta-se que o turismo, com o associado excesso de capacidade de carga,

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destrói o ambiente. Ainda que seja verdade, estudos anteriores revelam claramente que o turismo deve ao ambiente o seu capital natural, pelo que poucos são os empresários ou os turistas que primam por comportamentos que comprometam o ambiente (Correia et al., 2012). Exemplos de boas práticas ambientais abundam na região e no país, como é o caso do Golfe ou a recuperação das frentes de praia. A proeminência de consciência ambiental modera as práticas da maioria dos que trabalham no sector; mais, é um dos principais fatores de escolha dos turistas. A sustentabilidade não se circunscreve, no entanto, apenas ao ambiente: é um sistema que se pretende manter e que, perante tantos novos conceitos de destinos inteligentes, seria muito fácil de monitorizar. As Low Costs e a Massificação do Turismo O transporte aéreo e as acessibilidades estão na base do desenvolvimento de qualquer destino turístico. Subsiste a ideia, portanto, de que as low cost contribuem para a massificação do turismo. Se recuarmos no tempo, na década de 60-70 encetou-se um modelo de desenvolvimento turístico que inevitavelmente conduziu à massificação; na altura, o conceito de voo de baixo custo não existia. Hoje, recuperam-se os erros urbanísticos da época e, simultaneamente, aposta-se em novas rotas de baixo custo, paradoxo que inquieta o espírito de muitos. A verdade é que esta é a única forma de abrir as portas do Algarve ao mundo, captando jovens, adultos e seniores com formação superior; muitos dos quais com poder de compra elevado. Este resultado sugere que a compra de baixo custo não é característica apenas dos indivíduos com rendimentos reduzidos, é antes um privilégio de indivíduos movidos pela racionalidade que dão valor ao dinheiro. Preconceitos à parte, o Algarve, até pela sua geografia, é eminentemente turístico, e para continuar na moda tem que ser discutido face às novas e grandes tendências turísticas no mundo, numa lógica de custo/benefício .


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OPINIÃO Algarve domina LWS 2017 Vico Ughetto (Enófilo e gastrónomo)

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inda mal terminei a noite de provas e já estou perante o monitor cintilante do PC com o cursor a piscar, em jeito de provocação à minha inspiração. Porém, o problema aqui não é a verve nem a falta de conteúdo, mas sim ter imensas informações dispersas, entre a mente e o palato, para organizar num texto coerente e tão apelativo como foram as ditas provas no Lagoa Wine Show de 2017, que decorre até às 24 horas do dia 30 de abril. Já referi várias vezes que as oportunidades de provas em feiras não são muito abundantes pelo Algarve, pelo que há que aproveitar as poucas muito bem. O Lagoa Wine Show ainda vive um período de afirmação, é pequeno e não tem muita

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oferta, mas apresenta projetos de qualidade que vale a pena conhecer e degustar, e sem dúvida que compensa a deslocação e os três euros para o copo de prova com direito a cinco vinhos. A região do Algarve está com boa representação, correspondendo a quase 50 por cento da oferta, o que demonstra bem a vitalidade que se verifica na região. Entre os vários projetos e vinhos, destaco um dos que tem dado muito que falar – o Al-Ria 2015 tinto – que teve uma ascensão meteórica, após vencer um concurso promovido por um jornal belga o ano passado. Dos 100 vinhos a concurso, o Al-Ria venceu e convenceu o júri belga numa prova cega, deixando para trás vinhos dez vezes mais caros. A produção de 2015 já praticamente


Pedro Comporta, enólogo da Casa Santos Lima, acertou em cheio com o Al-Ria

esgotou, mas a de 2016 já está aí e mantém o perfil e a qualidade do vinho, aliada ao preço muito competitivo e acessível que apresenta, situando-se abaixo dos cinco euros. O Al-Ria é um vinho bem desenhado e fácil de beber, feito para agradar as massas, com um perfil arredondado com a fruta madura e o seu lado de compota presente e dominante. Caraterísticas que não incomodam o seu enólogo, Pedro Comporta, da Casa Santos Lima, que, estando habituado a trabalhar para um produtor com forte presença no mercado, considera ser “um elogio considerar que o vinho é comercial e que agrada à maioria dos consumidores”, pois é esse o objetivo, “ter um produto de qualidade e vendável a um público alargado”.

O Al-Ria apresenta-se também em reserva tinto de 2014, também ele premiado, mas com o galardão de grande medalha de ouro no IX Concurso de Vinhos do Algarve. Feito com Touriga Nacional e Syrah, apresenta uma complexidade superior e uma evolução para um final mais longo, perdendo alguma da compota, mas ganhando notas de ameixa, chocolate preto e ligeiro fumado do estágio de 12 meses em barricas de carvalho francês e americano. O produtor apresenta no LWS novidades como é o caso do Barrocal, um nome em homenagem à raça autóctone de cães algarvios, que estará disponível a preços entre os três e os cinco euros, nas opções de Branco, Rosé e Tinto, para já apenas na Makro . #105 ALGARVE INFORMATIVO

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ATUALIDADE

FOI APROVADA A III FASE DO PLANO DE PORMENOR DA LEJANA

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Câmara Municipal de Faro aprovou, na sua última reunião de Executivo, a terceira fase do Plano de Pormenor da Lejana. O projeto transita agora para parecer de um conjunto de entidades como a CCDR Algarve, Direção-Geral do Território, APA/ARH Algarve, Proteção Civil, Águas do Algarve e ANAC. Caso mereça os pareceres favoráveis destas entidades, o documento avança para um período de discussão pública não inferior a 20 dias. Decorrida a discussão pública, o plano sujeitarse-á à aprovação da Assembleia Municipal e, em caso afirmativo, seguirá para posterior publicação e entrada em vigor. A área de intervenção do PP Lejana tem cerca de 43 hectares afetos ao perímetro urbano de Faro, sendo limitada a sul pela Av. Calouste Gulbenkian; a poente pela Estrada Senhora da Saúde; a Norte, ainda que incluindo parcialmente, pela urbanização titulada pelo

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Alvará n.º 1/04 e área envolvente ao futuro traçado da 3.ª circular de Faro; e a nascente pela EN2/Estrada do Alportel. Esta área integra, parcial ou totalmente, diversas urbanizações resultantes de operações de loteamento urbano, parcelas desocupadas objeto de pretensões de particulares, a área envolvente ao Depósito de Água, assim como áreas que necessitam de ser requalificadas e reestruturadas. Com a elaboração deste plano pretende-se assegurar uma estrutura urbana coerente, equilibrada e sustentável, potenciando um urbanismo que respeite a morfologia do local e, em simultâneo, contribuir para a valorização das entradas da cidade de Faro, promovendo a qualificação/requalificação dos principais eixos viários, designadamente a EN2/Estrada do Alportel e a Estrada da Senhora da Saúde, assegurando ainda a concretização da terceira circular de Faro na área de intervenção .


PASSADIÇO DE CARVOEIRO JÁ ESTÁ TODO ILUMINADO

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naugurado no dia 19 de setembro de 2014, no Carvoeiro, o passadiço em madeira entre o Algar Seco e as ruínas do Forte de Nossa Senhora da Encarnação, e área envolvente, onde agora está o novo anfiteatro, tem sido uma zona de eleição para os milhares de pessoas que ali vão em passeio ou o utilizam para a prática de exercício físico. Numa extensão de 570 metros, este passadiço faz parte de um grande projeto designado por Sete Vales Suspensos que, construído sobre as fragas (5,7 quilómetros), ligará as praias da Marinha e de Vale Centeanes.

A 2ª fase da empreitada foi agora concluída com a instalação, em toda a extensão do passadiço, de 114 luminárias LED de iluminação rasante (com vida útil de 50 mil horas), num investimento de 56 mil e 282,78 euros. Assim, desde o dia 21 de abril, os visitantes podem dar um simples passeio ou praticar exercício físico no período noturno, com segurança, sendo que o passadiço passou a apresentar uma imagem mais cativante, seja de dia, seja de noite .

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ALUNOS EM FÉRIAS PARTICIPARAM EM PROGRAMA PROMOVIDO PELA PROTEÇÃO CIVIL DE LOULÉ

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os dias 5, 6, 7, 10 e 11 de abril, o Serviço Municipal de Proteção Civil de Loulé desenvolveu, pelo primeiro ano, o programa «Férias da Páscoa na Proteção Civil». A iniciativa teve como principal objetivo promover a interação estre os jovens participantes e os agentes e serviços de Proteção Civil que existem no Concelho, e que constituem a resposta em situações de emergência, acidentes graves e catástrofes no Município. O programa contou com a participação de 25 crianças com idades compreendidas entre os 8 e os 12 anos de idade, divididas em dois turnos. As atividades foram realizadas num ambiente descontraído e divertido, com destaque para os workshops no Serviço Municipal de Proteção Civil sobre os principais ricos do Concelho e procedimentos de autoproteção, kit de emergência, posição lateral de segurança e o

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contacto 112, e para as visitas ao Heliporto, ao Comando Distrital de Operações de Faro (que se encontra instalado em Loulé), ao Quartel da GNR e dos Bombeiros. Os participantes realizaram ainda um passeio florestal e participaram numa ação com a equipa de sapadores florestais do Barranco do Velho, terminando as atividades com a equipa de busca e salvamento canina, aprendendo e conhecendo todo o processo de treino dos cães e interagindo com os mesmos. O programa «Férias da Páscoa na Proteção Civil» teve a colaboração da Autoridade Nacional de Proteção Civil – Comando Distrital de Operações de Faro, Bombeiros de Loulé, Guarda Nacional Republicana, Cruz Vermelha Portuguesa, Associação de Produtores Florestais da Serra do Caldeirão e Equipa Canina de Resgate do Algarve .


JUMBO DE OLHÃO ATRIBUIU CERCA DE 12 MIL EUROS À ASSOCIAÇÃO ALDEIAS

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prender com a Natureza» é o projeto da Associação ALDEIAS, ao qual a Fundação Jumbo para a Juventude, através do Jumbo de Olhão, atribuiu uma verba de cerca de 12 mil euros para a sua implementação. Trata-se de um projeto de educação ambiental que abrange crianças, adultos, grupos de amigos e famílias do concelho de Olhão que tenham em comum o interesse pela conservação do património natural e cultural. A educação ambiental assumirá a forma de diferentes atividades, sendo sempre o tema central a conservação da fauna selvagem de Portugal, nomeadamente do Algarve. A Associação ALDEIA promove ações de educação e formação nas áreas do Ambiente e Conservação da Natureza; divulgação e valorização da cultura e das tradições rurais, e dinamização do voluntariado e associativismo. A solidariedade e a sustentabilidade sempre fizeram parte das

prioridades da Auchan Portugal, o que fez com que a empresa fosse a primeira da distribuição moderna, em Portugal, e atualmente a única no mundo a obter a certificação em responsabilidade social (Norma SA 8000). Esta importante certificação alcançada em 2006 e que tem sido renovada anualmente é fruto das políticas de responsabilidade social que a empresa pratica há anos e que são elogiadas pelas mais variadas entidades e reconhecidas como um exemplo a seguir de boas práticas. Em 2016, a Fundação Jumbo para a Juventude celebrou o seu 20.º aniversário e lançou o Concurso «Juntos pela Juventude», onde atribuiu 300 mil euros a projetos sociais integrados nas áreas da educação, da saúde e da reintegração. Nos últimos quatro anos, em Portugal, a Fundação Jumbo para a Juventude apoiou 34 projetos de solidariedade com um total de 380 mil euros . #105 ALGARVE INFORMATIVO

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NÚBIA É O PRIMEIRO PURO-SANGUE LUSITANO A NASCER EM SÃO BRÁS DE ALPORTEL

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Núbia nasceu, no dia 13 de março, filha de Rociera, égua puro sangue lusitano, de 18 anos, e de Peralta, também um cavalo puro sangue lusitano, com 22 anos. Criação do cavaleiro são-brasense Daniel Pires, é uma pequena égua lusitana, de apenas um mês de idade mas com um imenso futuro pela frente, representando uma grande promessa no mundo da equitação no Algarve e no país. Da mãe, pura lusitana pontuada, com pontuação de 79 pontos, Núbia herdará certamente a elegância e destreza. Do pai, reprodutor de mérito e medalha de bronze no Campeonato da Europa para cavalos novos e já com vários outros filhos campeões, a pequena trará a força e a valentia para conquistar o futuro. Ao longo dos oito anos de dedicação às competições e aos cavalos, Daniel Pires já alcançou duas medalhas de ouro nos 90 ALGARVE #105 INFORMATIVO

Campeonatos do Algarve, duas medalhas de bronze em Campeonatos Nacionais e duas medalhas de bronze no Festival Internacional. Os excelentes resultados apresentados pelo jovem são-brasense são fruto de muita dedicação, trabalho e uma paixão incomensurável por estes majestosos animais. Daniel Pires é, de facto, um dos mais bemsucedidos cavaleiros portugueses da atualidade, tendo conquistado o título de campeão do Algarve em 2014 e 2016 (nível M e P) e sido vencedor da Medalha de Bronze no Festival Internacional 2014 e 2016 (nível M e P); Medalha de Bronze no Campeonato de Portugal 2014 e 2016 (nível M e P) sempre com cavalos lusitanos; Campeão da 1.ª Taça Algarve (nível M) disputada em São Brás de Alportel e da 2.ª Taça Algarve .


VILA REAL DE SANTO ANTÓNIO REDUZ DÍVIDAS A FORNECEDORES, AUMENTA PATRIMÓNIO E DIMINUI PASSIVO

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Município de Vila Real de Santo António apresentou, no dia 21 de abril, os resultados da consolidação de contas de 2016, tendo conseguido obter resultados positivos na quase totalidade dos indicadores. Assim, em comparação com o período homólogo de 2015, o município aumentou o seu património em mais de 17 milhões de euros, tendo passado de um valor de 124 para 142 milhões de euros. No campo das dívidas a fornecedores, a Câmara reduziu o seu passivo em cerca de oito milhões de euros, honrando os seus compromissos e injetando liquidez na tesouraria e na economia local. Na rúbrica dos resultados líquidos, destacase uma diminuição positiva de quatro milhões de euros, no caso da Câmara Municipal, registandose ainda um contributo significativo da empresa municipal VRSA – Sociedade de Gestão Urbana, que passou de um resultado negativo de 1.958.680 € (2015) para um resultado positivo de 376 mil e 190 euros em 2016.

Da mesma forma, a autarquia diminuiu em quase dois milhões de euros os gastos com Fornecimento de Bens e Serviços Externos, tendo as reduções de custos e perdas diminuído 3,5 milhões face a 2015. Em termos de perdas financeiras, a redução superou os 300 mil euros. No balanço de 2016, merece ainda destaque o aumento de proveitos e ganhos que, face a 2015, totalizam um acréscimo de 456 mil euros, nomeadamente através das vendas e prestações de serviço do município a outras entidades. Estas medidas juntam-se ao Plano de Contenção Financeira da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, em vigor há mais de cinco anos, que já permitiu uma poupança superior a 15 milhões de euros, resultado da aplicação de uma centena de medidas transversais a todas as divisões e setores da atividade .

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VILA DO BISPO RECORDOU OPERAÇÕES DO SUBMARINO U-35 AO LARGO DE SAGRES

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dia 24 de abril marcou os 100 anos sobre as operações do Submarino da Marinha Imperial da Alemanha «U-35» ao largo de Sagres. Tratou-se de um dos episódios da 1.ª Guerra Mundial ocorridos na costa portuguesa, envolvendo ainda o navio-patrulha da Marinha Portuguesa «Galgo» e navios civis da Noruega, Dinamarca, Itália e Espanha. Três dos destroços resultados deste episódio militar encontram-se nas águas fronteiras à Vila de Sagres e passaram, a partir desta data, a integrar o Património Cultural Subaquático da Humanidade (UNESCO). Para assinalar a efeméride, a Câmara Municipal de Vila do Bispo e a Marinha Portuguesa levaram a cabo algumas iniciativas que se desenrolaram no Forte de Santo António do Beliche, em Sagres. No início da sessão comemorativa usaram da palavra 92 ALGARVE #105 INFORMATIVO

o tenente-general Mário Cardoso, presidente da Comissão Coordenadora da Evocação do Centenário da 1.ª Guerra Mundial; o contraalmirante António Gomes, comandante da Escola Naval (representando a Marinha Portuguesa) e o presidente da Câmara Municipal de Vila do Bispo, Adelino Soares. Seguidamente, procedeu-se à assinatura da adenda ao protocolo entre a Câmara Municipal de Vila do Bispo e a Escola Naval, mediante a qual a autarquia vila-bispense atribui nove mil e 200 euros à Escola Naval para que recorra à experiência do Servicio de Gestión de la Investigación y Transferencia de la Tecnología, da Universidade de Alicante (Espanha) e assim consiga tornar mais acessível ao grande público o destroço do navio «Torvore», através da


obtenção de um modelo tridimensional, da elaboração de um pequeno filme e da criação de conteúdos informativos. Recorde-se que o protocolo foi celebrado em 2014, documento através do qual a autarquia também apoiou o projeto de investigação referente à ação militar da unidade naval alemã e ao estudo dos seus destroços. Outro dos momentos importantes foi a apresentação do livro «Ações do U-35 no Algarve», da autoria de António José Telo, de Augusto Salgado e de Jorge Russo, que, ao longo de sete capítulos, narra aspetos sobre a situação da Marinha por alturas da 1.ª Guerra Mundial e sobre toda a aventura do submarino alemão, dos seus combates e afundamentos, bem como os aspetos relacionados com o estudo arqueológico dos seus vestígios materiais. A manhã terminou com o descerramento de uma placa evocativa da efeméride que contou com as presenças do presidente da Câmara Municipal de Vila do Bispo, do presidente da Junta de Freguesia de Sagres (Luís Paixão), do comandante da Escola Naval e do presidente da Comissão Coordenadora da Evocação do Centenário da 1.ª Guerra Mundial.

Depois, os convidados realizaram um passeio de barco ao local dos destroços Da parte da tarde, às 16h, teve lugar uma saída para mergulho nos destroços do navio «Torvore», aberta a todos os interessados. O destroço que se encontra a mais de 30 metros de profundidade foi visitado por cinco mergulhadores, acompanhados por monitores de duas empresas especializadas de Sagres. Merece igualmente uma referência a presença de várias individualidades civis e militares, bem como de representantes diplomáticos estrangeiros nestas iniciativas, nomeadamente o tenente-coronel Bjorn Taube, Adido Militar da Embaixada da República Federal da Alemanha e o capitão-de-fragata Christian Queffelec, Adido de Defesa da Embaixada da República Francesa, ambos em representação dos respetivos embaixadores em Portugal. Esta foi a primeira vez que em Portugal se fez a evocação da passagem dos 100 anos sobre um episódio naval da Grande Guerra e o acontecimento irá integrar o primeiro dos seis episódios do documentário que a estação de televisão SIC está a realizar sobre naufrágios da época contemporânea .

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CINE MARIANI É A NOVA «CASA DA CULTURA» DE MONTE GORDO

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vila de Monte Gordo já tem um novo espaço de cultura e lazer, localizado no antigo cinema Mariani (junto ao Largo da Igreja), agora renovado e coordenado pelo município de Vila Real de Santo António. O projeto tem como objetivo a iniciação às diversas artes performativas, a inserção social e aproximação dos habitantes e entidades da freguesia à cultura. O equipamento conta com uma sala multiusos com capacidade para 130 lugares sentados, zona de receção, lounge e bar de apoio, sala de projeção, sala de aula individual (instrumento),

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sala multimédia e um escritório. Entre as atividades programadas para o auditório nos próximos meses, destacam-se as aulas de música, teatro e dança, workshops, concertos, exposições, cinema e espetáculos de vários géneros. “O objetivo é imprimir uma nova dinâmica cultural a Monte Gordo, prevendo-se a criação de outros espaços similares na freguesia de Vila Nova de Cacela”, explicou a vice-presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, Conceição Cabrita .


CÂMARA DE ALJEZUR TERMINOU 2016 COM MAIS DE UM MILHÃO DE EUROS DE RESULTADOS POSITIVOS

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Câmara Municipal de Aljezur apresenta, pelo terceiro ano consecutivo, resultados líquidos positivos, com um milhão, 37 mil e 543,80 euros referentes ao ano de 2016. O Relatório de Contas atesta da fiabilidade do orçamento apresentado e da sua capacidade financeira de execução, com a despesa total geral a ter uma taxa de execução de 91,65 por cento e a receita de 101,37 por cento. As Grandes Opções do Plano apresentam uma taxa de execução de 89,84 por cento, enquanto o prazo médio de pagamento a fornecedores, de

acordo com a publicação da DGAL, é de cinco dias. O presente relatório confere e reforça a saúde financeira do Município de Aljezur, deixando os melhores indicadores para os compromissos assumidos para com a população, seja na execução de obras por administração direta, valores não cofinanciados para projetos aprovados no âmbito do CRESC 2020, bem como ainda mais apoio na Educação, Associativismo e Ação Social, entre outros .

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