REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #469

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ALGARVE INFORMATIVO

15 de fevereiro, 2025

RUÍDO DE SOFIA DIAS & VÍTOR RORIZ

ÍNDICE

Dia Aberto na Estrutura Residencial e Centro de Dia de Alzheimer e Demências José Cabrita (pág. 22)

ARTitude expõe no IPDJ (pág. 30)

VI Feira Transfronteiriça de Arte Contemporânea (pág. 44)

Encontro Internacional da AMPV em Lagoa (pág. 54)

Elevação de Boliqueime a Vila (pág. 72)

«Ruído» de Sofia Dias e Vítor Roriz no Cineteatro Louletano (pág. 82)

Carmen Souza no Auditório Carlos do Carmo (pág. 96)

OPINIÃO

Ana Isabel Soares (pág. 110)

João Ministro (pág. 112)

Paulo Neves (pág. 114)

Valentim Filipe (pág. 118)

Estrutura Residencial e Centro de Dia de Alzheimer e Demências José

Cabrita mostrou as suas qualidades e competências num Dia Aberto

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

Estrutura

Residencial e Centro de Dia de Alzheimer e Demências José Cabrita, em Castro Marim, mostrou as qualidades e competências adquiridas desde a sua inauguração num Dia Aberto,

que decorreu, a 6 de fevereiro, promovido pela Autoridade de Gestão do Programa Regional do ALGARVE 2030. Deste modo, as portas da estrutura abriram-se para receber visitantes e convidados, que ficaram a conhecer o edifício e o projeto que é pioneiro no apoio à saúde mental em Portugal, sendo a primeira unidade do género a sul do

Tejo e uma das primeiras do país, promovida pela Santa Casa da Misericórdia e com o apoio do Município de Castro Marim.

A sessão de abertura contou com as intervenções da vice-presidente da Câmara Municipal de Castro Marim, Filomena Sintra, do provedor da Santa Casa da Misericórdia de Castro Marim, José Cabrita, do presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, José Apolinário, e da diretora técnica Iola Fernandes. Na ocasião, Filomena Sintra salientou que “é muito bom haver uma instituição que esteja na linha da frente nesta área e que este projeto é a concretização da força das parcerias, revelando a importância da dimensão humana,

respeito e lealdade institucional no estabelecimento dessas mesmas parcerias” “É um projeto que também aconteceu porque, desde cedo, o Município de Castro Marim identificou este e outros investimentos estratégicos na fase do mapeamento e estruturação dos programas regionais. Hoje, é um orgulho para Castro Marim ser uma referência nacional nesta resposta social”, acrescentou. A autarca sensibilizou ainda a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve “para a importância nesta aposta nos territórios menos competitivos, nos quais é necessário um maior reforço de meios e a coragem de promover a coesão, através da descriminação positiva”

A Estrutura Residencial e Centro de Dia de Alzheimer e Demências José Cabrita recebeu um apoio de 1,5 milhões de euros dos fundos europeus, no âmbito do CRESC ALGARVE 2020, que foram investidos na construção do edifício, no desenvolvimento do trabalho especializado de investigação, análise e avaliação das melhores estratégias e práticas na abordagem à doença e numa Unidade de Promoção da Autonomia

Pessoal e Intervenção com as famílias. Este Dia Aberto decorreu no âmbito da iniciativa «Os Fundos Europeus na minha Região» e pretendeu abrir as portas a vários projetos financiados por fundos europeus no Algarve, com o objetivo de sensibilizar e incentivar os cidadãos a descobrirem projetos financiados pela União Europeia perto do local onde vivem, destacando a sua importância para o desenvolvimento regional.

Associação olhanense ARTitude expõe

no IPDJ

ARTitude é uma associação nascida em Olhão por iniciativa de Dário Silva, mais conhecido por «SEN», para dar apoio aos artistas urbanos do Algarve e,

enquanto preparam a nova sala para receber a comunidade, vão espalhando arte e recebendo artistas um pouco por todo o lado. Desta feita, têm patente, até 2 de março, uma exposição de pintura na delegação de Faro do Instituto Português do Desporto e Juventude.

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

VI Feira Transfronteiriça de Arte Contemporânea

inaugurou na Casa do Sal

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

Eurocidade do Guadiana acolheu, de 6 a 9 de fevereiro, a VI Feira

Transfronteiriça de Arte

Contemporânea, um evento que decorreu nos Municípios de Vila Real de Santo António, Ayamonte e Castro Marim. A iniciativa, organizada pela Fundação Olontia e pela Eurocidade do Guadiana, contou ainda com o apoio das câmaras municipais envolvidas e diversas entidades regionais e internacionais.

Após o sucesso das cinco primeiras edições, a última das quais realizada em Gibraleón (Huelva), a feira regressou com o objetivo de reforçar o papel do sul da Península Ibérica como ponto de referência na arte contemporânea. A abertura oficial aconteceu, no dia 6 de fevereiro, na Casa do Sal, em Castro Marim, num evento que se destaca por ser uma iniciativa de artistas e não de galerias, reunindo 14 criadores – sete portugueses e sete espanhóis – e promovendo um intercâmbio cultural que reflete as realidades artísticas emergentes no sul da Península.

Encontro Internacional da AMPV em Lagoa refletiu sobre o futuro dos Territórios Vinhateiros e o potencial do enoturismo

e 30 de janeiro a 1 de fevereiro, a cidade de Lagoa foi palco do encontro anual da Associação de Municípios Portugueses do Vinho (AMPV), que reuniu cerca de 90 representantes de municípios e entidades parceiras nacionais e internacionais. O evento, organizado pela AMPV em

colaboração com a Câmara Municipal de Lagoa, teve como objetivo promover a reflexão sobre o desenvolvimento integrado dos territórios vinhateiros e consolidar novas parcerias para o futuro do setor.

Durante os três dias de encontro, os participantes discutiram desafios e oportunidades para a promoção e valorização dos territórios vinhateiros,

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina e Município de Lagoa

om um foco particular no enoturismo, nos vinhos e nos produtos endógenos. No primeiro dia, especialistas e técnicos dos municípios associados apresentaram projetos e debateram temas como «Desafios para uma associação mais dinâmica e participativa» e as «Potencialidades das diferentes regiões vitivinícolas e do mundo rural». A AMPV aproveitou a oportunidade para destacar os projetos estruturantes que tem em curso, como o Concurso de Embaixadoras de Portugal, a Rede das Freguesias Vinhateiras e o Congresso do Vinho, do Azeite, da Cortiça e do Mundo Rural.

A tarde do dia 30 de janeiro foi marcada pela mesa-redonda dedicada ao trabalho de «Afirmar os territórios pela qualidade e diferenciação», com a participação de representantes da Secção Municípios Olivícolas, da Secção Municípios BIO, da Retecork e da Associação das Rotas dos Vinhos de Portugal, que partilharam as suas estratégias para reforçar a

identidade dos territórios através dos seus produtos. No dia 31 de janeiro, o evento centrou-se nas Cidades do Vinho e nas entidades parceiras internacionais. As Cidades do Vinho de 2024 (Almeirim, Alpiarça, Cartaxo e Santarém) foram alvo de um balanço das suas atividades, e as cidades que irão integrar o projeto em 2025 (Serra D’Ossa, Alandroal, Borba, Estremoz, Redondo e Vila Viçosa) apresentaram a sua candidatura.

Um dos momentos em destaque foi a apresentação do Algarve Golden Terroir, a candidatura da região do Algarve à Cidade Europeia do Vinho 2026. Esta iniciativa envolve os municípios de Albufeira, Lagoa, Lagos, Monchique, Portimão e São Brás de Alportel, que uniram esforços numa estratégia conjunta para promover o vinho e os produtos endógenos da região. O projeto visa, não só reforçar o enoturismo e valorizar o património vitivinícola do Algarve, mas também consolidar a região

como um destino turístico de excelência, destacando a sua identidade única e impulsionando a economia local.

Representantes internacionais como as Cittá del Vino Acevin, In Rural Europe, Iter Vitis e Recevin também estiveram presentes, partilhando experiências e desafios enfrentados pelos territórios vinhateiros a nível global. No final do dia, foi assinado um importante protocolo entre a AMPV e a Câmara Municipal de Madalena do Pico (Açores), que irá acolher o Concurso Cidades do Vinho em 2025. O evento terminou, a 1 de fevereiro, com uma visita ao Caminho do Algar Seco, na Praia do Carvoeiro, uma iniciativa que ofereceu aos participantes a oportunidade de explorar a beleza natural da região e fortalecer os laços entre os territórios vinhateiros.

Com este encontro, a AMPV reafirmou o seu compromisso com a promoção e valorização dos vinhos e dos produtos

endógenos de Portugal, consolidando os territórios vinhateiros como destinos de excelência para o enoturismo e impulsionando a economia local através da união e colaboração entre os diferentes municípios e entidades parceiras. O Presidente da Câmara Municipal de Lagoa, Luís Encarnação, destacou a importância de Lagoa ter sido escolhida para acolher esta convenção, sublinhando o papel fundamental da cidade na promoção do enoturismo e na valorização dos vinhos e produtos da região. “O projeto Algarve Golden Terroir é um marco estratégico para o Algarve, uma região com uma tradição vinícola crescente e com um enorme potencial de desenvolvimento no setor do enoturismo. O trabalho conjunto dos seis municípios envolvidos é a chave para afirmar a nossa identidade e projetar o Algarve como um destino de excelência no panorama enoturístico europeu”, acrescentou o edil lagoense.

Uma confraria inspirada na sardinha de Portimão que num instante se tornou uma referência nacional

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina ano de 2024 terminou com a eleição por unanimidade dos novos órgãos sociais da Confraria

Gastronómica da Sardinha de Portimão para o triénio 2024/2027, em Assembleia Extraordinária realizada a 27 de dezembro. Júlio Ferreira e Álvaro Bila foram reeleitos presidentes da Direção e da Mesa da Assembleia-Geral, respetivamente, enquanto, para presidir ao Conselho Fiscal, foi escolhido Carlos Alberto Romão dos Reis.

A única política e objetivo da mais recente confraria gastronómica de Portugal é a defesa e promoção da sardinha, bem como honrar os seus antepassados e deixar este legado aos vindouros. Pretende-se contribuir para o levantamento, defesa, promoção e divulgação do património cultural,

ambiental, histórico e gastronómico da Sardinha, tendo para isso já programados várias iniciativas, como mais uma sessão dos Debates/Sessões de Esclarecimento «Horizonte Azul», no dia 22 de fevereiro, na Casa Manuel Teixeira Gomes, desta feita subordinado ao tema «Pesca e Aquicultura em Mar Aberto no Algarve: Conflito ou Coexistência Sustentável?», e que surge da contestação dos pescadores do barlavento algarvio contra a criação de uma nova área de aquacultura em mar aberto para a produção de mexilhão, ao largo de Sagres. “A Direção Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM) ainda não autorizou o projeto que, se avançar, poderá comprometer os rendimentos de mais de 250 famílias. Esta área de mar é muito procurada pelas «embarcações do cerco», que é o mesmo que dizer, pelas embarcações de pesca à sardinha”, explica Júlio Ferreira, presidente da Direção da Confraria Gastronómica da Sardinha de

Portimão. “Temos que defender os pescadores, principalmente aqueles que ainda praticam a arte dos nossos antepassados, a arte do cerco”, reforça.

No Museu de Portimão ficará patente, de 1 de outubro a 23 de novembro, a exposição «Sardinha, o sem fim da pesca do cerco», que resulta do livro com o mesmo nome, de Hélder Luís, que foi apresentado, no mesmo local, em 2023. Este projeto de fotografia documental, desenvolvido no âmbito de uma residência artística realizada na Póvoa de Varzim, reflete quatro anos de trabalho, de 2018 a 2022, durante os quais Hélder Luís acompanhou a bordo várias

tripulações, registando a vida no mar português. O resultado é um valioso testemunho visual que documenta e homenageia a pesca do cerco, uma das mais importantes artes de pesca em Portugal.

Outra novidade é a conceção e produção do prémio «Portimão, Terra da Sardinha», que terá o mesmo título do livro a ser lançado nos próximos meses e que deverá posteriormente ser apresentado em diversas escolas do concelho. No que toca ao prémio, tem como propósito promover, incentivar e distinguir as melhores entidades, práticas, projetos e pessoas que se

destacaram ao longo dos anos no levantamento, defesa, promoção e divulgação do património cultural, ambiental, histórico e gastronómico da Sardinha em Portimão, podendo abranger também a região do Algarve, e que será entregue ainda em 2025.

A confraria nasceu, em 2021, por iniciativa do seu Mestre de Pesca, Júlio Ferreira, cuja família sempre esteve ligada à pesca e às fábricas de sardinha. “A minha bisavó trabalhou na Fábrica de São José e eu próprio fui criado numa destas caixas de madeira, na fábrica onde a minha mãe trabalhava, porque eu era muito pequeno e ela

tinha que me levar com ela. O meu pai era pescador de sardinha e o meu avô, que foi a minha maior inspiração para eu entrar nesta aventura, faleceu no mar. Queria honrar os meus antepassados, arranjei mais uns amigos que, direta ou indiretamente, tinham ligações com a pesca da sardinha, e a nossa primeira ideia foi pegar numa confraria que já existia em Portimão e que estava moribunda. Essa ideia não foi para a frente e optamos por criar uma associação que veio quebrar com uma série de regras que as confrarias tinham até então”, conta, à conversa na Sala de Descabeço, no Museu de Portimão.

A nova confraria eliminou um pouco a ligação que as confrarias têm tipicamente com a Igreja Católica, para se tornar mais independente e aberta a pessoas de qualquer credo ou religião, algumas honrarias também desapareceram e os seus capítulos e cerimónias de entronização acabaram por se tornar mais leves e rápidas. “Não estamos tão presentes em alguns capítulos de outras confrarias, apesar de todos nós gostarmos dessa confraternização e convívio, porque o nosso objetivo é fazer um trabalho que honre os nossos antepassados, a nossa terra e as nossas tradições, com base nesta rainha que é a sardinha”, frisa Júlio Ferreira, não escondendo a vontade, desde o princípio, de se conceber uma confraria mais moderna. “Começamos logo pela conceção do traje, por entendermos que eram todos muito semelhantes e pesados, alguns nem sequer se identificavam com o conceito e missão da sua confraria. Convidamos uma

designer portimonense, a Sandra Gonçalves, para fazer um traje em que tudo, ao mais pequeno e ínfimo pormenor, tivesse a ver com a sardinha, a pesca, o mar e o ambiente; que fosse leve, porque a sardinha se pesca no Verão; e que fosse relativamente barato”.

Surge assim um traje em que a capa é azul, a cor do mar; o forro interior é prata, a cor da sardinha; depois tem uma rede de pesca do cerco pelas costas; dois botões em contraplacado marítimo que são presos por um nó de marinheiro. Nós vermelhos e verdes que representam o bombordo e estibordo, os primeiros para os membros fundadores, os segundos para os novos confrades, sendo que há também um nó de prata para os confrades de honra, título que, até à data, apenas foi concedido a António Feu,

precisamente o dono da fábrica onde se insere o Museu de Portimão. A boina é parecida com as dos pescadores, mas com um estilo mais italiano, com o logotipo bordado na parte traseira, logotipo esse feito pelo artista plástico portimonense João Sena. Há ainda o escapulário, com uma fita prateada, feito no mesmo contraplacado marítimo e redondo, que é a forma da pesca do cerco, com a sardinha no meio. “Se uma confraria nasce para defender, promover ou honrar um certo produto, seja ele qual for, acho que tudo isto tem que estar relacionado, tem que ser pensado com cabeça, tronco e membros. Se calhar a nossa tarefa foi mais fácil, ou pensamos assim, por sermos mais recentes, com pessoas com outra forma de pensar, e com muito mais informação disponível”, comenta o Mestre de Pesca Júlio Ferreira.

Uma designação que aparece num boletim de trabalho de 1980, feito exclusivamente pelo governo para os Portos de Lagos e Portimão, para definir quais as profissões duma traineira da pesca do certo. “Eu sou o Mestre de Pesca, o Álvaro Bila é o Armador de Pesca, os meus vice-presidentes são os Contramestres”, esclarece. O próprio hino foi escolhido a dedo, com base num tema do acordeonista portimonense João César, de 1967, «Sardinha Assada», que depois foi entregue ao DJ e Produtor Sickonce, e a voz é de outra algarvia, Sara Badalo. E até existe uma conserva de sardinha exclusiva, numa parceria com a Conserveira do Arade, a única fábrica de conservas a laborar no barlavento algarvio, onde o azeite de alta qualidade também tem origem no Algarve.

Uma confraria moderna e cada vez mais ativa

Da ideia à realidade, a Confraria

Gastronómica da Sardinha de Portimão foi criada por seis elementos, cada um deles escolheu mais um, e somaram-se a estes mais cinco, pelo que falamos de 17 fundadores que constituíram a Direção, o Conselho Fiscal e a Mesa da AssembleiaGeral. Volvido um ano, os 17 fundadores indicaram mais um nome, que foi sujeito à apreciação da Assembleia-Geral antes de ser formalmente convidado, sendo-lhe depois explicado o que fez nascer a confraria e o que ela pretende fazer no futuro. Convites que, regra geral, são considerados uma honraria e que são endereçados normalmente a pessoas com ligação a este tema, que foram

pescadores ou que trabalharam nas fábricas. “Alguns acabam por não aceitar por terem uma idade muito avançada. Agradecem o facto de nos termos lembrado deles, mas confessam que já não têm vida para estas coisas, preferem não ser entronizados”, refere Júlio Ferreira, revelando que, neste momento a Confraria Gastronómica da Sardinha de Portimão tem 42 confrades.

Com três capítulos já realizados, a ideia é ser cada vez mais ativo e o plano de atividades para 2025 é disso exemplo, incluindo, para além do já referido anteriormente, o lançamento do livro «Portimão, Terra da Sardinha», que conta com a colaboração de entidades públicas e privadas e ainda Confrades e Confreiras, sobre a história da sardinha, como é que ela se reproduz, um passeio sobre os anos de ouro das fábricas de conservas em Portimão e vários artigos sobre a indústria conserveira e a indústria

naval. No que toca a participação regular e constante em eventos organizados por outras entidades, o único convite aceite até à data diz respeito ao Festival da Sardinha. “No primeiro ano dinamizamos um dia de showcooking, em 2024 já foram três dias com chefs que são estrelas Michelin, e este ano provavelmente estaremos em todos os dias do festival. Temos crescido com calma, sem dar o passo maior do que a perna, porque todos nós temos as nossas profissões e famílias. Apesar disso, queremos colaborar o máximo possível com o Município e o Museu de Portimão, que tem muito de sardinha. Fazemos tudo isto e mais alguma coisa, menos, às vezes, irmos todos juntos aos capítulos dos outros”, aponta Júlio Ferreira.

Confraria Gastronómica da Sardinha de Portimão que faz parte da PAC –Plataforma Algarvia das Confrarias, onde

estão 11 confrarias da região, juntas e a remar para o mesmo lado, com o Mestre de Pesca a revelar que estão previstas nascer brevemente mais quatro confrarias no Algarve. “Tudo está a funcionar, estamos a ser uma referência. Acho que, até à nossa chegada, as coisas estavam um pouco adormecidas, «sempre foi feito assim, vamos continuar assim». Viemos abanar um pouco a estrutura, tanto que temos sido chamados para participar em várias coisas a nível nacional. Alguma coisa estamos a fazer bem, mas não estamos nisto sozinhos e, se existimos hoje, temos que agradecer à nossa madrinha, a Confraria do Atum”, enaltece Júlio Ferreira. “O António Cipriano, que é também vice-presidente da Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas, deu-nos uma ajuda muito grande para

percebermos como é que isto funcionava, indicou-nos o caminho. O Luís de Brito também foi outra ajuda extraordinária, por estar ligado ao associativismo há largos anos”, salienta o Mestre de Pesca, acrescentando que mulheres também há na confraria, como a tesoureira Cátia Algarve, a criadora do traje, Sandra Gonçalves, ou a mais recente, a antiga Secretária de Estado das Pescas, Teresa Coelho. “Não somos profissionais disto, somos apaixonados pelas tradições ligadas à sardinha, um conjunto de pessoas com ideias, que dá as suas opiniões, que faz aquilo que pode, jogando as mãos à massa. Para além de bons amigos e amigas, são pessoas empenhadas da defesa da sardinha, do meio-ambiente e do oceano”

“Elevação

a Vila é uma justa homenagem a todos os que construíram a nossa freguesia”, entende Nelson Brazão

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina oliqueime é, desde o dia 17 de janeiro, Vila, um desejo antigo dos boliqueimenses e uma elevação que foi uma promessa de Nelson Brazão aquando da sua eleição, em 2017, para o primeiro mandato como presidente de Junta de Freguesia. “Foi um processo moroso, o projeto-lei já tinha estado na Assembleia da República, mas, quando era suposto ir a plenário, o anterior governo caiu e teve que se iniciar novamente toda a caminhada”, explica o autarca.

Um caminho que passou por ir a reunião de Junta de Freguesia, à Assembleia de Freguesia, ao executivo da Câmara Municipal de Loulé e à Assembleia Municipal de Loulé, até chegar novamente aos deputados do PS/Algarve, para depois submeter o projeto-lei a plenário. A elevação a Vila

foi aprovada, a 4 de outubro de 2024, na generalidade, descendo depois à Comissão de Poder Local e Coesão Territorial, a quem cabe avaliar se estão reunidos os pressupostos para essa «subida de divisão», por assim dizer, para depois o projeto-lei final ir novamente a plenário. Pressupostos que passam, por exemplo, por ter igreja, escolas, centro de saúde, junta de freguesia, posto de CTT, entidades bancárias, associativismo, mais de 3 mil e 500 habitantes, parques infantis, equipamentos desportivos, entre outros. “Já reuníamos a maioria dos pressupostos há vários anos, foi uma questão do executivo da Junta dar o pontapé-de-saída ao processo”, indica Nelson Brazão, reconhecendo que esta elevação acaba por dar maior poder de reivindicação a Boliqueime. “Quando solicitamos mais serviços, equipamentos ou obras às entidades competentes, é diferente sermos vila ou aldeia, e um dos nossos maiores sonhos é termos um Posto da GNR. Boliqueime

tem, no papel, cerca de 4 mil e 700 habitantes, mas o número real é maior. Existe na freguesia muita segunda habitação em que as pessoas passam cá 9 ou 10 meses por ano e regressam à terra natal nos outros 2 ou 3 meses”, indica o entrevistado.

Segundo Nelson Brazão, Boliqueime terá, então, cerca de 6 mil habitantes, um número que sobe, durante o Verão, para os 9 ou 10 mil. E o território da freguesia não é apenas a nova vila, esclarece prontamente. “Dois terços do território é habitado, o resto é mato e pastagens, junto à Ribeira de Algibre, mas a população está dispersa. Em cada ponta de caminho existe uma casa, e são essas pessoas que não contam para as estatísticas”, sublinha, avisando também que esta subida de aldeia para vila não implica qualquer aumento de custos para

a Junta, nem de receitas, diga-se em abono da verdade. “As pessoas estão felizes, porque o território tem evoluído a olhos vistos e esta elevação também é uma forma de honrar os nossos antepassados. Há registos antiquíssimos da presença dos romanos no Sítio da Retorta, em Alfontes há indícios de presenças ainda mais antigas. É uma justa homenagem a todos os que construíram a nossa freguesia”, entende.

O estatuto de Boliqueime mudou, então, no dia 17 de janeiro, mas, na hora da verdade, o trabalho continua a ser o mesmo para o executivo da Junta. “Quando aqui entrei, em 2017, passávamos atestados e provas de vida, geríamos o cemitério e fazíamos uma obrinha ou outra. O orçamento raramente ascenderia aos 500 mil

euros. Com o assumir da transferência de competências tratamos da limpeza urbana, da manutenção das escolas e das vias rurais, de diversas coisas, de tal forma que o orçamento anual varia entre 1 milhão e 1,6 milhões de euros. E, como vamos lançando projetos para a câmara municipal, conseguimos concretizar outras obras, como o parque infantil para o Parque de

Merendas da Maritenda (cerca de 150 mil euros) e a repavimentação de vias. Este ano, o orçamento da Junta de Freguesia de Boliqueime ascende aos 3 milhões de euros, refletindo o imenso trabalho que este executivo tem feito”, destaca.

Uma das obras mais emblemáticas dos últimos anos foi, sem dúvida, o novo

edifício da Junta de Freguesia, que, para além de proporcionar melhores condições para os funcionários e utentes, permitiu igualmente a captação de novos serviços como o Posto dos CTT e o Balcão Cidadão. A renovação de 20 poços e fontanários foi outra conquista, na sequência de uma candidatura ao PDR –Programa de Desenvolvimento Rural, um investimento de 150 mil euros com financiamento a 80 por cento do PDR e os remanescentes 20 por cento da responsabilidade da Câmara Municipal de Loulé.

Educação está bem, saúde e habitação nem por isso

Boliqueime não é uma vila rural nem citadina, está no meio, atravessada por uma EN 125 que percorre o Algarve de uma ponta à outra, e, em termos económicos, o destaque vai para as indústrias de alfarroba, acolhendo duas das cinco maiores existentes no Algarve. A elas somam-se o comércio da EN 125, a agricultura, o alojamento local, dois hotéis e muita restauração, portanto, não se pode dizer que seja um local apenas para «viver e dormir».

Em termos gerais, educação e ensino não causam dores de cabeça ao executivo liderado por Nelson Brazão, havendo várias escolas e jardins-de-infância. Pior está, adivinha-se, a saúde, “com 1 médico e meio, duas enfermeiras e duas administrativas”. “É manifestamente insuficiente, todos os anos envio um ofício à Unidade Local de Saúde do Algarve a pedir para que seja reforçado o efetivo na freguesia e raramente me respondem. Utentes dos centros de saúde do Algarve, com morada de Boliqueime, são 6 mil, quando os Censos dizem que temos 4 mil e 700 pessoas”, aponta, um cenário negativo que se estende também à habitação. “É caríssima, os valores de mercado praticados não são para o bolso de quem ganha o ordenado mínimo. Já

eramos uma aldeia cara, agora somos uma vila cara”, confessa o presidente. “É normal termos casas à venda por mais de um milhão de euros e os preços chegam a atingir os 5 milhões. As nossas colinas, com vistas privilegiadas para o mar, fazem disparar os preços”, explica.

Em termos de habitação a custos controlados existe um projeto da Câmara Municipal de Loulé de 19 fogos em Boliqueime, que não são suficientes, mas já ajudam a resolver o problema. “O novo Plano Diretor Municipal irá prever algumas zonas para habitação social e a custos controlados, mas as pessoas com poder económico perceberam que

estamos a 10 minutos de Loulé, Vilamoura e Albufeira e que, utilizando a Via do Infante, Faro está a pouco mais de 20 minutos, com o Aeroporto a fazer a ligação ao resto da Europa e do Mundo. Este posicionamento central é bom em termos económicos para a vila, mas impede que os boliqueimenses se fixem na sua terra”, desabafa, com um encolher de ombros. Construir nas zonas rurais da freguesia também não é fácil, por estar inserido em Reserva Agrícola Nacional, e a nova lei de reclassificação do uso dos solos está por esclarecer totalmente, pelo que “ainda não conseguimos perceber se terá algum impacto positivo para Boliqueime”, diz Nelson Brazão.

Os mais jovens têm dificuldade em adquirir casa em Boliqueime e muitos, quando vão para a universidade, acabam

por não regressar, observa o entrevistado. “A universidade leva os filhos da terra para outras cidades, que, ou arranjam alguém e por lá ficam, ou arranjam emprego, e por lá ficam. Depois, o Algarve é uma terra de oportunidades, mas focadas principalmente na hotelaria. E a agricultura, em Boliqueime, é minifúndio, não dá para viver dela, portanto, não é fácil um jovem licenciado ter colocação na vila”, confirma Nelson Brazão, que, apesar das várias dificuldades elencadas, não baixa os braços e tem mais sonhos para concretizar. “Queremos dar o pontapéde-saída da zona industrial e um promotor já entregou o projeto na Infraestruturas de Portugal, na APA –Agência Portuguesa do Ambiente e na Câmara Municipal de Loulé. Está a aguardar o parecer dos dois primeiros

para que o terceiro possa dar o seu aval. O projeto do campo de futebol também está concluído e vai ser lançado o concurso para a sua execução, com fundos camarários. Temos também projetos para o saneamento e abastecimento de água”, revela.

O quarto sonho é o saneamento básico ao longo da EN 125, Nelson Brazão assume que o projeto está feito e pronto para avançar, só que, para tal, é necessário que todos os proprietários dos terrenos autorizem a passagem das condutas. “Faltavam descobrir 13 proprietários, fui para o terreno e identifiquei 11, depois, numa das parcelas foi colocada uma placa de venda e foi fácil chegar ao proprietário, resta encontrar o último. Em

Boliqueime houve várias pessoas que foram para a Argentina, Venezuela e França, muitos não voltaram, falamos em segundas e terceiras gerações que, se calhar, nem sabem que têm cá terrenos”, salienta o presidente da Junta, explicando que, “se formos para a expropriação, o processo ainda é mais complicado”. “Há mais obras necessárias como a requalificação da Avenida Prof. Aníbal Cavaco Silva, da Rua Jorge Manuel Dias Coelho, da estrada da estação ferroviária e do nosso «tendão de Aquiles», a Nacional 270. É uma estrada perigosíssima, uma berma alta, com vários acidentes, até mortais, vamos ver o que se consegue fazer. Trabalho não falta”, finaliza Nelson Brazão.

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

SOFIA DIAS & VÍTOR RORIZ «RUÍDO» AO

CINETEATRO

RORIZ TROUXERAM

CINETEATRO

LOULETANO

ruído é geralmente definido como um sinal parasita que perturba a transmissão de informações. “É também a nossa voz interior, a nuvem de sentimentos que nos assombra a cada minuto”, consideram Sofia Dias e Vítor Roriz, que se propõem colocar este ruído no centro da performance que foi apresentada, no Cineteatro Louletano, no dia 8 de fevereiro. Assim, com cinco bailarinos, procuram um equilíbrio instável no caos

emocional e sonoro, a música secreta de um mundo por vir.

Com uma forte vontade de experimentação, esta dupla de artistas gosta de esbater as linhas e fronteiras entre as artes, acolhendo os diversos detalhes que dão profundidade ao momento, derrubando a quarta parede para construir pontes com o público. Qualquer perturbação aqui se torna uma oportunidade e, para empreender esta viagem rumo ao inesperado, colaboraram com neurocientistas da Fundação Champalimaud.

A coreografia gira em torno da vertigem do presente, explorando o passado e o futuro dos gestos do quotidiano: de onde vêm esses gestos? O que poderia acontecer se os deixássemos viver? Cheia de poesia e humor, esta reflexão sobre a possibilidade de habitar o tempo revela também um estranho sentimento de tragédia e perda.

Com Direção Artística e Criação de Sofia

Dias e Vítor Roriz, «Ruído» foi

interpretado por Catarina Vieira, Connor Scott, Maria Ibarretxe, Natacha Campos e Vi Lattaque. O som é de Sofia Dias, os figurinos de José António Tenente, numa coprodução da Culturgest (Lisboa), Oficina (Guimarães), Cineteatro Louletano (Loulé), Teatro-Cine de Torres Vedras (Torres Vedras) e O Espaço do Tempo (Montemor-o-Novo). A Sofia Dias & Vítor Roriz é uma estrutura financiada pela República Portuguesa – Cultura I DGARTES – Direção-Geral das Artes.

CARMEN SOUZA APRESENTOU

NO AUDITÓRIO CARLOS

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

APRESENTOU NOVO DISCO

CARLOS DO CARMO

Auditório Carlos do Carmo, em Lagoa, foi palco, no dia 8 de fevereiro, da apresentação de «Port'Inglês», o novo disco de Carmen Souza. O 11.º

álbum da artista cabo-verdiana conta as histórias esquecidas das marcas deixadas nesta cultura pela presença britânica em Cabo Verde.

No álbum, o Jazz na música e voz de Carmen Souza fala uma linguagem de

liberdade que é significativa para todas as culturas, combinando na perfeição com músicas e ritmos tradicionais como Funana, Contradança, Morna ou Mazurca. “Depois da vasta pesquisa que fiz para a minha tese de mestrado, era impossível não expressar as minhas descobertas através da minha música. Imediatamente senti-me inspirada para compor/escrever estas canções que personificam este período histórico. O álbum investiga temas de identidade cultural, resistência, colonialismo e descolonização destacando a ligação entre Cabo Verde e o Reino Unido. A

inspiração veio de contos populares, contos do mar e até mesmo da música folclórica britânica”, contou a artista num Auditório Carlos do Carmo completamente esgotado.

Tal como as pessoas que habitam as ilhas, a música de Cabo Verde é de origem cultural mestiça. Souza e Pascal, há mais de duas décadas que arriscam com o seu som único, usando o Jazz para

criar uma nova sonoridade musical crioula com o seu ADN Lusófono/Cabo Verdiano. Refletindo o hibridismo multifacetado de Cabo Verde, a voz de Carmen Souza apresenta uma variedade de registos texturizados que exploram as subtilezas da sua capacidade expressiva. Para esta rica tapeçaria musical contribuíram um grupo de talentosos músicos de origem Lusófona e Britânica.

Um filme: , James Mangold (2024)

Ana Isabel Soares, professora

ui a caminho da sala 3 a cantarolar (só na ideia, só na ideia) “Come una Pietra Scalciata”, a bela versão rap que o grupo italiano Articolo 31 fez de “Like a Rolling Stone”, de Bob Dylan. É desse tema que sai o título do filme de James Mangold. Sorrio a pensar na sorte de usar a língua inglesa: se Mangold tivesse tido de recorrer ao título em italiano, estava quilhado, porque as línguas latinas marcam nas palavras os géneros e a expressão (no verso, de facto) que corresponde a “a complete unknown” está – muito corretamente, diga-se – vertida para italiano como “una completa sconosciuta”, ou seja, em português, “uma total desconhecida”. É que a canção fala de uma moça, é assim mesmo: no original, “Miss Lonely”, a certa altura, ou “princess on a steeple”, canta Dylan. Os atributos, na letra que Dylan escreveu, são de género neutro, como todos os adjetivos na língua dele. Os Articolo 31 mantiveram o género, mas não tiveram outro remédio senão marcá-lo, como mandam as regras linguísticas do idioma italiano (e jogaram bem com elas, aproveitando-lhe as rimas).

O que faz Mangold, ao destacar “a complete unknown” para designar com a expressão o seu filme, é, quanto a mim, afirmar que o seu tópico pode não ser apenas o mais óbvio, a personagem de Dylan, desde que chega a Nova Iorque à

procura de Hank Williams e vive os dias criativos que lhe deram fama, até ao concerto em Newport em julho de 1965, durante o qual gorou as expectativas do público e ignorou as convenções da música “folk” para se permitir aquilo que, no fundo, sempre fez: a liberdade de usar os instrumentos que bem quisesse (aliás, Mangold adapta aqui o livro de Elijah Wald, Dylan Goes Electric!, de 2015). O tópico do filme é Dylan, só pode ser Dylan – mas a total desconhecida (género feminino) que sustenta boa parte do filme e que se sugere ter sido responsável pelo acolhimento do cantor/compositor/poeta/performer/... na Big Apple é a personagem Sylvie Russo (não será coincidência a semelhança com o nome e a persona de Suze Rotolo, companheira de Dylan na primeira metade da década de 1960 e que aparece com ele na foto de capa do álbum The Freewheelin’ Bob Dylan, de 1963). Elle Fanning constrói uma Sylvie delicada e sensível, de presença muito mais discreta do que a de Joan Baez (que me chegou a ser antipática, a mim que tanto gosto de a ouvir); Baez era famosa quando Dylan entrou em cena em Nova Iorque. Russo/Rotolo não encaixa no perfil da “sconosciuta” da canção: não parece ser alguém que sofre no presente os revezes que a fortuna (o azar) lhe dedica por um passado de soberba e arrogância. Mas é ela, muito mais do que Baez, muito mais do que Dylan, a desconhecida do título do filme.

Foto: Vasco Célio

O Turismo de amanhã faz-se hoje!

João Ministro, engenheiro do ambiente e empresário

Fórum

Económico

Mundial (World Economic Forum) publicou há umas semanas atrás um relatório

intitulado «Future of Travel and Tourism: Embracing Sustainable and Inclusive Growth»1. Três elementos-chave são apontados neste estudo como estratégicos para moldar o futuro desta actividade económica que, como sabemos, continua a crescer e gerar imensos impactos positivos, mas também negativos. Esses elementos são: o envolvimento dos stakeholders locais nas estratégias de redefinição e inovação turística; o peso da consciencialização ambiental e social no turismo; e inovação estratégia na gestão dos destinos.

Estes aspectos resultam, naturalmente, de uma avaliação do que se passa em torno desta induústria e de como ela está a moldar os territórios e de como deve ser moldada pelos actores locais face aos problemas que estão a emergir em diversas partes do globo – por exemplo, com os fenómenos de overtourism. As ideias são interessantes e alertam-nos para a necessidade de também por aqui, as levarmos em linha de conta. Mas, ainda que temas como a Sustentabilidade tenha entrado no léxico geral da actividade turística, estaremos mesmo a agir estrategicamente sobre a formo

como queremos moldar e redefinir esta importante actividade na região?

No que toca ao papel dos actores locais e como são envolvidos no debate e na decisão, parece-me que há um longo caminho a percorrer. Não são apenas as instituições governamentais que devem ter a primazia na decisão. As empresas, as comunidades e as organizações sem fins lucrativos devem ter voz nesses processos. Mas como? Existem fóruns de debate e decisão de âmbito local? Os municípios têm instrumentos para promover esses encontros de ideias? Há, sequer, interesse em criá-los?

O tema ambiental surge com muita regularidade no debate sobre o turismo de futuro. E normalmente em torno de aspectos menos positivos, como o contributo desta indústria para emissão de gases de estufa, o excessivo consumo de água ou da produção de lixo. Mas a consciência ambiental tem outro prisma bem mais interessante e que representa uma oportunidade: a crescente conexão das pessoas com a natureza e seus valores ecológicos, a maior procura pelo bem-estar, físico e mental, o maior interesse pela autenticidade e pelas culturas locais, e a maior sensibilidade para impactar positivamente os destinos e suas as gentes. Há aqui um profundo trabalho a desenvolver para valorizar o lado bom do turismo e gerar oportunidades nos territórios.

Por fim, a gestão dos destinos deve munir-se cada vez mais de abordagens inovadoras, criativas e até inteligentes. O controle de fluxos de turistas nalguns destinos populares já se faz com recurso a IA. Mas não basta. É preciso pensar, planear e aplicar soluções alternativas a alguns problemas que começam a adensar-se. Desviar visitantes de um local excessivamente pressionado para outro menos conhecido pode resultar apenas num desviar do problema para o outro local. É importante prevenir, estabelecer regras, controlá-las, monitorizá-las e reajustá-las. É preciso criar uma cultura de contínua aprendizagem e adaptabiliade, bem como modelos mais regenerativos. E aqui, a colaboração

inter-municipal é fundamental. A estratégia de protecção de um local pode ser a promoção de outro, em outro concelho.

Como refere este estudo, o futuro do turismo é desafiante e exigente. Mas será compensador, desde que saibamos trabalhar nestes diferentes domínios de forma integrada, inclusiva e participada, tirando proveito dos valores do território e daquilo que tanto caracteriza o turismo: o envolvimento das pessoas.

1

https://reports.weforum.org/docs/WEF_F uture_of_Travel_and_Tourism_2025.pdf

Falando de doentes*. Sobre a conversa do CORS, o importante é fazer (no SNS)

Paulo Neves, «Ilhéu» (mas nenhum homem é uma ilha)

ui, de julho de 2020 até 30 de outubro 2024, entre outros, responsável pelo pelouro de investimentos, instalações e equipamentos do CHUA (ULS Algarve, desde janeiro do ano transato).

Sem prejuízo dos necessários esclarecimentos sobre essa responsabilidade e ação, que prestarei, sobre o assunto do licenciamento (vinco, não apenas o municipal) da instalação para a exploração de resposta, no (SNS) Algarve, às necessidades dos nossos doentes em radioterapia, radiocirurgia e PET-CT (as de camara gama/medicina nuclear convencional já foram antecipadamente resolvidos, bem como terapêuticas com radioisótopos em ambulatório, desde julho 24, evitando a deslocação semanal a Lisboa de 35 doentes/média desde então), importa convidar tantos responsáveis que têm opinião aprofundada sobre o assunto, para refletir com mais elementos fundamentais para a verdade (pelo menos aquela que me assiste do ponto de vista de um não especialista, mas com alguma informação, obrigatória, nas responsabilidades que desempenhei na tentativa de contribuir para a alteração da situação dos milhares de doentes que

se têm que deslocar e dos valores que são suportados para o seu tratamento).

Assim, direto ao ponto:

1. A região tem resposta em radioterapia – haja CORS (Centro Oncológico de Referência do Sul) ou não, seja em edifício construído pelo SNS e licenciado por uma autarquia, seja quando houver o novo hospital central do Algarve (em PPP integral ou apenas de construção/manutenção);

2. A região não tem resposta em exames de PET-CT. É esta realidade que obriga a que tantos doentes/ano sejam obrigados a deslocar-se para tratamentos exames de doentes oncológicos à área metropolitana de Lisboa ou a Sevilha, os equipamentos disponíveis mais próximos do Algarve.

O ponto 1. está disponível no Algarve, a meu ver (do ponto de vista legal), na exata medida que a empresa os mantenha, reinvista na sua modernidade/segurança, concorra e, assim, ganhe os necessários procedimentos concursais internacionais (considerando os limites de valor/ano) apresentando a melhor proposta. Ainda que, no meu ponto de vista e para quem depende (doentes do SNS) da vontade de

Foto: João Neves dos Santos

quem explora/investe, sob monopólio, esta oferta regional, não é de todo indiferente responder ou não em oferta pública (mas não necessariamente/ integralmente substitutiva);

O ponto 2. Depende de quem faça o investimento na sua instalação e exploração. Nem o SNS, nem os privados o fizeram até agora. Esta realidade vai mudar, queira o SNS (por via do CORS ou no NHCA) ou não queira.

A (minha) verdade: O mais fácil num PET-CT é adquirir o equipamento. Portanto, se até agora a instalação de equipamentos médicos pesados estava, para o setor público e para o setor privado da saúde, dependente de autorização prévia do(s) governo(s) (Decreto-lei 95/95, de 9 de maio), com a revogação desta legislação, pelo DecretoLei n.º 110/2024, de 24 de dezembro último, o setor privado deixa de estar sujeito à obtenção de autorização prévia que só se mantém agora para os estabelecimentos do SNS.

Assim, o SNS Algarve pediu em junho de 2023 tal autorização prévia (precisamente para estes equipamentos médicos pesados) e os privados, agora, que não precisam de tal procedimento, estudam onde o instalar já e a seguir «basta-lhes» a sua notificação (também precisarão de licenciamento, mas só posteriormente os de vistoria da comissão de proteção radiológica, da entidade reguladora, além das que tratam dos meios que utilizam radioisótopos transformados de origem nuclear).

Conclusão(?) qualquer meio que retarde a oferta do SNS, desde dezembro de 24, permite a abertura do interesse dos privados.

Tratando mais em profundidade esta conclusão antecipada, obriga-me a referir mais. Em Portugal há, pelo menos, 3 grupos que detém e desenvolveram uma molécula [18F] FDG (um dos radiofármacos) para ser usada em doentes oncológicos (outras moléculas existem para o mesmo e outros fins diagnósticos e terapêuticos tratamentos cardíacos etc.), portanto óbvio será que quem queira instalar-se o fará em associação com um destes, ou com outro internacional (não escrevo europeu de propósito) que detenha tal capacidade ou patente.

E sim há, pelo menos, dois grupos que, legitimamente, estudam agora a sua instalação no Algarve considerando o interesse económico e, também, porque assim ficariam em regime de monopólio atendendo já aos custos de exploração em que só um conseguirá a viabilidade sustentada e, quanto à PPP se verá depois de talvez 2031. E é aqui que a situação se complica.

Adquirir, pela via privada, o equipamento PET-CT está à distância da vontade de quem possa investir cerca de 5 milhões de euros (também com a obra mínima) que se pagará fácil por quem precisa ou tenha essa responsabilidade pública. E já demonstrámos que precisamos muito. Mas a sua exploração é bem mais complexa, além da contratação das equipas clínicas e de investigação dedicadas, pois que as

referidas moléculas [18F] FDG (para tratamento oncológico) tem um tempo de sobrevida semivida para utilização efeito terapêutico de até 110 minutos (outras menos tempo ainda) desde o tempo «de produção» (para quem tenha esta licença) até à sua aplicação no doente.

Atentemos a este paragrafo anterior. Ou se produz em proximidade ou há outra via de sobrecarregar a energia das moléculas que possam ser mantidas um pouco mais tempo, ainda que mais dispendiosas e menos úteis. Isto é determinante pois fará decidir quem dos grupos com interesse, se fixará no Algarve, ou perto (em termos de distância/tempo).

A iniciativa privada é legitima, neste caso suprindo uma lacuna obvia da oferta pública critica que é, ao mesmo tempo, o cliente/pagador e, portanto, não me compete tirar conclusões que prejudiquem quem está no mercado global que acompanho com interesse.

Claro, a meu ver, que este novo prestador vai ter ainda de concorrer aos procedimentos públicos como os outros (CCP). Mas, contrariamente ao caso da radioterapia, não se tratará apenas (e não é pouco) de considerar continuar, ou não, a fazer deslocar doentes havendo oferta mais próxima. Relembro, neste caso, a oferta é bem mais reduzida ainda por quem tem a molécula desenvolvida, a queira partilhar ou continuar a vender apenas como produtor da mesma e/ou também como prestador…

Deixo esta (im)pertinência para chamar a atenção para o que está, verdadeiramente em jogo. O mais é, talvez, inadvertidamente, menos relevante pois deixará de ser motivo em tempo útil ou, pior (para quem sabe) a atirar areia para os olhos para ganhar tempo.

Raramente há uma resposta simples para situações complexas. Certo é que o Algarve é a região da península mais mal servida para tratamento adequado de doentes oncológicos e, no cancro tempo é vida.

Peço desculpa pelos erros de terminologia desta explanação que fica à consideração critica de todos.

*O mais sobre projetos e responsabilidades recentes continuo ao dispor se alguém me convidar para ajudar nas soluções técnicas possíveis ao licenciamento em 50 dias, desde que haja vontade pública.

Neste caso, enquanto político do setor, agora regressado à vida privada, não considero tomar a iniciativa de responder a questões partidárias que tem que ver apenas com a oportunidade do ano eleitoral ou para justificar opções ideológicas ainda que também legítimas.

Músicos de Rua, o que os move?

Valentim Filipe, músico, professor aposentado e dirigente associativo

á dias em Faro fui atraído por som musical que provinha da zona do Largo Silva Nobre. Algum músico de rua pensei, porque naquela zona é normal encontrarmos «tocadores» que se vão exibindo esperando receber algumas moedas por parte dos transeuntes.

Em vez de me deslocar normalmente para o local ou simplesmente não ligar, como habitualmente o faço, desta vez inadvertidamente os meus passos alargaram, como se um íman me puxasse e pouco depois percebi a razão: Ali sentada sobre um pequeno amplificador, uma mulher ainda jovem de origem oriental tocava um instrumento que não consegui identificar, apesar de toda a minha formação nessa área. O som era celestial e, apesar de não conhecer o instrumento nem a maioria dos temas que interpretava, rapidamente deu para perceber que não era uma qualquer instrumentista. Ali me quedei durante algum tema usufruindo daquele som para mim totalmente desconhecido, até que ganhei coragem para fazer a abordagem. Disse que se chamava Rosemary Yung (depois obtive mais informação nas páginas das redes sociais), natural de Hong Kong e o instrumento chamava-se

Pipa, uma variante de Lude Chinês. Há doze anos tinha deixado a sua terra com um pequeno «pé-de-meia», decidindo correr mundo tendo como fonte de rendimento a rua onde tocava em troco de algumas moedas dos passantes. Dias depois voltei a encontrá-la na mesma zona e disse-me que estava de abalada para Lisboa.

Este casual encontro fez-me pensar noutros semelhantes, como há anos em Hamburgo onde me desloquei para alguns espetáculos, também na rua encontrei um acordeonista de nacionalidade russa de extraordinárias qualidades ou, ainda mais recentemente, em Vila Real de Santo António e no intervalo entre o sound check e o jantar, dei de caras com um trio de sul americanos que tocavam com uma qualidade tal que me fez sentir pouco confortável e a pensar que dali a pouco eu iria ganhar seguramente mais em pouco mais de uma hora do que eles os três numa semana na rua. Injusto sem dúvida, mas realidade crua e nua. Nas artes sem exceção sempre foi assim e será. Os contextos sempre fizeram a diferença e raramente a qualidade artística prevalece.

Estes artistas a que me refiro são de uma qualidade fora do comum. O que os move? Em vez de abraçarem trabalhos

seguros na sua área de residência, como hotéis, restaurantes, teatros, etc., preferem correr mundo numa jornada totalmente incerta, dormindo muitas vezes na rua e até passando fome. Espírito de aventura, curiosidade, disponibilidade para o sacrifício e que mais?

O que moveu o jovem músico de Boliqueime Edgar Guerreiro, membro de uma família de classe média e que há alguns largou tudo e rumou a terras da Escócia, para fazer das ruas de Edimburgo o local eleito para mostrar a sua arte?

Na verdade, longe vai o tempo em que os músicos de rua eram alguém que se lembrava de ganhar uns tostões e agarrava numa viola mesmo só sabendo «arranhar» três acordes (os chamados primeira, segunda e marcha atrás) e lá se abancavam, pondo um ar de infelicidade e maltrapilho, a assassinar as músicas que tanto trabalho tinham dado a quem as fez.

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