ALGARVE INFORMATIVO #113

Page 1

#113

ALGARVE INFORMATIVO 24 de junho, 2017

ALUNOS DA «INCORPORA» BRILHARAM NO TEATRO LETHES 1

AS NOVAS OBRAS DE PAULO PIRES E EDGAR PRATES ALGARVE INFORMATIVO #113 CARVOEIRO NOITE BLACK & WHITE | RICARDO PESSOA


ALGARVE INFORMATIVO #113

2


3

ALGARVE INFORMATIVO #113


ALGARVE INFORMATIVO #113

4


5

ALGARVE INFORMATIVO #113


CONTEÚDOS ARTIGOS 14 - Noite Black & White 24 - Escola de Dança Incorpora 36 - Ricardo Pessoa 44 - Edgar Prates 54 - Paulo Pires 70 - Atualidade

OPINIÃO 8 - Daniel Pina 60 - Paulo Cunha 62 - Mirian Tavares 64 - Adília César 66 - Carlos Gouveia Martins 67 - Diogo Agostinho

36

ALGARVE INFORMATIVO #113

44

14

24

54 6


7

ALGARVE INFORMATIVO #113


OPINIÃO Arde… replanta… arde… replanta… e as vidas vão-se perdendo Daniel Pina (Jornalista)

O

s incêndios que afligiram Pedrógão Grande durante a passada semana e que culminaram na perda de 64 vidas humanas e em 45 mil hectares de área ardida vão certamente ficar na memória durante muitos anos. Uma tragédia onde mais uma vez se comprovou a bravura dos nossos bombeiros, assim como a solidariedade e generosidade dos portugueses quando há que ajudar o próximo nos momentos de maior aflição. Tudo o resto ficou mal na fotografia, a começar nos políticos, que não se entendem sobre o que querem para o futuro do país, e a terminar na postura de alguns jornalistas e órgãos de comunicação social, apenas preocupados em aumentar os seus níveis de audiência e de popularidade, independentemente dos princípios morais e éticos que estejam a infringir e no sofrimento que estão a causar a terceiros. Da mesma forma, e tal como sucede no futebol, multiplicaram-se os treinadores de bancada, os especialistas de ocasião. Toda a gente apontou o dedo a toda a gente e todos avançaram com ideias e estratégias miraculosas para que não se continuem a repetir os erros do passado. Mas a verdade é que eles continuam a cometer-se e não há volta a dar ao assunto. Recuando alguns meses no tempo, assisti, em São Brás de Alportel, no dia 2 de janeiro deste ano, ao Ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, Luís Capoulas Santos, falar da tão desejada «Reforma da Floresta», lamentando que Portugal tivesse perdido, nos últimos 15 anos, cerca de 150 mil hectares de área florestal. Agora, numa semana, ardeu quase um terço desse número. Na ocasião, o governante reconheceu que a floresta nacional padece de um enorme problema, designadamente a ausência de cadastro numa zona do país onde a propriedade está muito pulverizada e é insuscetível de ser profissionalmente gerida. “Isso conduz ao abandono, que leva aos incêndios, que gera uma falta de vontade dos privados ALGARVE INFORMATIVO #113

investirem na floresta devido ao elevado risco. É um ciclo vicioso porque não se conhece o património e não há condições de se atribuir a sua gestão”, admitiu Capoulas Santos. De regresso ao presente, parece que as ideias da tal «Reforma da Floresta» permanecem no papel, a julgar por um concurso lançado pelo governo de António Costa, no valor de nove milhões de euros em fundos comunitários, para rearborização de eucaliptos. O anúncio foi publicado no dia 9 de junho e dava prioridade, curiosamente, a concelhos como Pedrógão Grande e Góis. O concurso prevê a reflorestação com eucaliptos em áreas onde esta espécie já exista, mas que se encontrem em subprodução, com o intuito de obtenção de povoamentos mais produtivos. A acompanhar o anúncio do concurso está um mapa onde está incluída praticamente toda a área dos distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto, Aveiro, Coimbra e Leiria, bem como uma grande fatia dos distritos de Viseu, Castelo Branco, Santarém e Lisboa. E, entre os concelhos com aptidão produtiva elevada, estavam Pedrógão Grande e Góis, duas das áreas mais afetadas pelos incêndios da última semana. Portanto, ao mesmo tempo que se andou a «vender» pelo país inteiro uma «Reforma da Floresta» para recuperar e proteger uma das nossas maiores riquezas – onde se destaca precisamente uma proposta de lei para rever o Regime Jurídico das Ações de Arborização e de Rearborização que trava a expansão da área de plantação de eucalipto – continua-se a abrir caminho para a tragédia, porque existem fundos comunitários para tal e porque, acima de tudo, alguns dos maiores grupos privados nacionais ligados à agricultura e à floresta defendem o investimento na floresta, nomeadamente no eucalipto, de forma a reduzir as importações. Resumindo: arde, replanta-se, arde, replanta-se, o ciclo segue igual ao de sempre e, pelo meio, vão morrendo mais pessoas… .

8


9

ALGARVE INFORMATIVO #113


ALGARVE INFORMATIVO #113

10


11

ALGARVE INFORMATIVO #113


ALGARVE INFORMATIVO #113

12


13

ALGARVE INFORMATIVO #113


REPORTAGEM

NOITE BLACK & WHITE

DEU O MOTE PARA UM VERÃO ESCALDANTE NO CONCELHO DE LAGOA Texto:

ALGARVE INFORMATIVO #113 ALGARVE INFORMATIVO #113

Fotografia:

14 14


15 15

ALGARVE INFORMATIVO #113 ALGARVE INFORMATIVO #113


A

vila de Carvoeiro foi palco, no dia 17 de junho, da quarta edição da «Noite Black & White», um evento que já se tornou num ponto de encontro obrigatório para os residentes e turistas que elegem o concelho de Lagoa para as suas férias. E, segundo estimativas da autarquia, perto de 30 mil pessoas constataram, no terreno, o porquê de ser considerada a grande festa do início do Verão no Algarve. Organizada pela Câmara Municipal de Lagoa e com produção da «Ibérica Eventos & Espectáculos», a iniciativa apresentou vários momentos culturais e de lazer para todos os gostos e idades, em nove palcos diferentes, desde concertos de fado e jazz à música clássica e brasileira, passando pelos imperdíveis sucessos do pop/rock e da dance music internacional. Diversas performances artísticas foram acontecendo igualmente ao longo das ruas e no largo da praia, assim como no recentemente inaugurado anfiteatro junto ao Forte de Nossa Senhora da Encarnação. A meia-noite foi assinalada com um espetáculo de fogo-de-artifício sobre a praia, tendo a festa prosseguido pela noite dentro, sempre com muita animação e divertimento, nomeadamente na mega pista de dança no areal e largo da praia. Um evento que nasceu, em 2014, por iniciativa do novo executivo camarário liderado por Francisco Martins, por se entender que era necessário trazer mais acontecimentos de excelência para o concelho. “Queríamos dar a conhecer melhor todo o potencial deste concelho e a «Noite Black & White» começou com alguma timidez, mas atraiu quase 20 mil

ALGARVE INFORMATIVO #113 ALGARVE INFORMATIVO #113

pessoas ao Carvoeiro logo na primeira edição. Depressa percebemos que era um evento com pernas para andar e temos vindo a melhorá-lo todos os anos, mas sem nunca tirar os pés do chão, nem entrar em loucuras que colocassem em causa os anos seguintes”, frisou Francisco Martins, rodeado pela multidão que enchia por completo o Largo da Praia.

16 16


17

ALGARVE INFORMATIVO #113


Esta postura manteve-se em 2017, apesar de ser ano de eleições autárquicas, e num cenário paradisíaco, sem construção em altura, à luz das estrelas e com o mar logo ali ao lado. “Este é o Algarve genuíno, da nossa infância e que, infelizmente, se vai perdendo aos poucos. O Carvoeiro ainda consegue manter essa tipicidade porque o concelho Lagoa assenta num turismo de qualidade, de gama mais alta, e não no turismo de massas”, referiu o edil lagoense, enaltecendo o envolvimento de todo o comércio e restauração da vila, que manteve as portas abertas nesta noite. “Todos aderem à festa com as suas próprias iniciativas e decoração a rigor, porque já é um evento das gentes do Carvoeiro”, destaca Francisco Martins, não negando que, em 2014, a ideia não foi do agrado de todos. “Diziam que, ao fecharmos a rua, ninguém vinha à festa, que não valia a pena aumentar o espaço de esplanadas durante o evento. Depois, a meio da noite, todos nos deram os parabéns e pediram para se repetir a festa mais vezes. Mas isso ALGARVE INFORMATIVO #113 ALGARVE INFORMATIVO #113

18 18


19

ALGARVE INFORMATIVO #113


Francisco Martins, presidente da Câmara Municipal de Lagoa, a conviver com alguns participantes da quarta edição da Noite Black & White

não é viável, caso contrário, o evento deixa de ser sustentável”, explica o autarca. Ruas cheias de algarvios, de portugueses, de estrangeiros, deram, assim, o pontapé de saída para a animação de Verão do concelho de Lagoa, seguindo-se, nas próximas semanas, o «Jazz nas Fontes», o «Mercado de Culturas à Luz das Velas», os «Doces Conventuais», «Sons do Atlântico», Festas da Nossa Senhora da Luz, até culminar, como de costume, em mais uma estrondosa FATACIL. “Todos os eventos mantêm a sua linha orientadora e os melhoramentos que são introduzidos de ano para ano são sempre feitos com a sustentabilidade futura em mente. Não vamos cometer excessos por estarmos à porta de eleições e depois, em 2018, cortar com tudo. O importante é que os eventos perdurem no futuro e com a mesma qualidade. Só assim é que o concelho de Lagoa fica a ganhar”, assegurou o presidente da Câmara Municipal de Lagoa . ALGARVE ALGARVEINFORMATIVO INFORMATIVO#113 #113

20 20


21

ALGARVE INFORMATIVO #113


ALGARVE INFORMATIVO #113

22


23

ALGARVE INFORMATIVO #113


REPORTAGEM

ALUNOS DA «INCORPORA» BRILHARAM NO TEATRO LETHES

ALGARVE INFORMATIVO #113

24


O Teatro Lethes, em Faro, recebeu, nos dias 17 e 18 de junho, o espetáculo de fim de ano letivo 2016/2017 da Escola de Dança Incorpora. Sob o tema «À Borda d’Água o que vês?», perto de meia centena de jovens exibiram os seus dotes na dança contemporânea e ballet, mas as férias de Verão só chegam depois de alguns workshops e atuações nas próximas semanas. Texto:

25

Fotografia:

ALGARVE INFORMATIVO #113


N

a noite de sábado e na tarde de domingo, dias 17 e 18 de junho, respetivamente, o Teatro Lethes esgotou por completo para se assistir a «À borda d'água o que vês?», que marcou o final do ano letivo de 2017/2017 da Escola de Dança Incorpora. Inspirado no célebre almanaque da vida «Borda d’Água», os jovens pupilos de Filipa Rodriguez (dança contemporânea) e Eduarda Corradini (ballet) interpretaram diversas coreografias com tremendo talento, num espetáculo surrealista com muita imagem e movimento. Com dramaturgia de Filipa Rodriguez e coreografias de Filipa Rodriguez e Eduarda Corradini, a conceção visual esteve a cargo da OVA – Orquestra Visual Algarve, numa produção da Curioso Aplauso Associação Cultural, da qual Filipa Rodriguez é a vice-presidente da direção. “No primeiro período damos essencialmente a técnica, no segundo introduzimos exercícios de expressão criativa e da componente do imaginário e, no terceiro período, começamos a treinar as coreografias para o espetáculo. Os alunos são de Faro, Almancil, Quarteira, Estoi, nota-se um ALGARVE INFORMATIVO ALGARVE INFORMATIVO #113 #113

26 26


27

ALGARVE INFORMATIVO #113


grande interesse dos jovens algarvios na dança”, comenta Filipa, já depois de ter descido o pano no final do segundo espetáculo. Neste género de atividades, o «passa a palavra» é sempre a melhor publicidade, daí que o número de alunos venha a aumentar de ano para o ano, o que obrigou, inclusive, a escola de dança a mudar de instalações neste último ano letivo. E a maioria dos pais envolve-se mesmo a sério nesta paixão dos filhos, não se limita a ir levar e buscar os filhos às aulas, assegura a professora de dança contemporânea. “Compreendo que nem todos possam ter o mesmo grau de empenhamento por causa das suas profissões, mas estão sempre presentes nas atuações. Dos alunos, há aqueles que, quando chegam, dizem logo que querem ser bailarinos profissionais. Para outros, é apenas uma forma de ocupar o tempo e de trabalhar o corpo”, observa Filipa Rodriguez. Do sonho à realidade depois tudo depende da dedicação de cada um, mas a entrevistada entende que cada vez há ALGARVE INFORMATIVO #113

28


29

ALGARVE INFORMATIVO #113


mais oportunidade de trabalho nesta área. “A mentalidade de que a dança é uma profissão sem futuro está a mudar gradualmente, mas sabemos que as coisas chegam sempre com algum atraso a Portugal”, reconhece a professora, adiantando que o tempo de férias ainda não chegou para os alunos. “Vão ter vários workshops de dança e teatro, porque o nosso objetivo é criar uma companhia multifacetada que produza espetáculos combinando a dança contemporânea com o teatro físico. Os alunos sabem que, se quiserem ser bailarinos clássicos, do ballet puro, esta não é a escola mais indicada”, avisa. Espetáculos que são importantes para desenvolver e motivar os jovens, para perceberem que não vão apenas aprender a teoria, e as solicitações são, de facto, muitas para atuar no Verão algarvio . ALGARVE ALGARVE INFORMATIVO INFORMATIVO #113 #113

30 30


31

ALGARVE INFORMATIVO #113


ALGARVE INFORMATIVO #113

32


33

ALGARVE INFORMATIVO #113


ALGARVE INFORMATIVO #113

34


35

ALGARVE INFORMATIVO #113


ENTREVISTA

RICARDO CORAÇÃO DE PORTIMÃO Após vários anos de afastamento, o Algarve estará de regresso ao palco principal do futebol português, na temporada 2017/2018, depois do Portimonense se ter sagrado campeão nacional da segunda liga. A poucas semanas do início dos trabalhos, o capitão Ricardo Pessoa faz um balanço da época transata e revela o sonho de cumprir os seus últimos três anos como atleta profissional no primeiro escalão, a vestir, claro, a camisola do Portimonense. Texto: Fotografia: ALGARVE INFORMATIVO #113

36


37

ALGARVE INFORMATIVO #113


A

conquista do campeonato nacional da segunda liga de futebol profissional por parte do Portimonense já faz parte do passado, agora, os pupilos de Vítor Oliveira olham em frente e preparam-se, da melhor forma possível, para enfrentar os duros desafios que os esperam. “Festejamos e saboreamos o que conquistamos, mas o pensamento está na nova época. Claro que é uma memória que vai continuar viva, mas o estado de euforia já terminou”, garante Ricardo Pessoa, o capitão e coração do Portimonense há vários anos. O lateral direito de 35 anos reconhece que a formação algarvia era, normalmente, um dos candidatos crónicos à subida de divisão, mas o objetivo só agora foi alcançado, depois de, em 2015/2016, ter falhado a promoção na derradeira jornada. “Era uma dívida que tínhamos para com a massa associativa, a cidade e o concelho e, por isso, atacamos esta época com esse desejo desde o primeiro minuto. O plantel era forte, a equipa técnica estava habituada a estes sucessos e as coisas correram bem”, analisa Ricardo Pessoa. A fome de vencer e de subir à primeira liga era de tal forma forte que o Portimonense praticamente resolveu o assunto na primeira volta do campeonato, cavando, de imediato, uma distância pontual em relação à concorrência que lhe permitiu encarar o resto da temporada com mais calma. Apesar disso, algumas derrotas seguidas colocaram em risco o sonho dos algarvios, comprovando que nada está ganho até ao apito final do árbitro. “Realmente, começamos bastante bem e criamos uma almofada muito

ALGARVE INFORMATIVO #113

grande em termos pontuais. Na segunda volta, a equipa esteve um pouco abaixo do que pretendíamos, principalmente por causa das lesões. Sem esse fator, acredito que teríamos garantido mais cedo a subida e o título de campeões”, refere o entrevistado. Com a época muito bem encaminhada logo no início de 2016, havia, contudo, 38


que gerir as emoções, nomeadamente dos jogadores menos experientes, não baixar os índices de concentração, não diminuir a garra e a competitividade, tendo sido fundamental a rodagem que o mister Vítor Oliveira tem nestas andanças, já com uma dezena de subidas de divisão no seu palmarés, caso único a nível mundial. “O objetivo manteve-se sempre inalterado na cabeça dos atletas e os jogadores mais 39

velhos lembraram constantemente que ainda nada estava ganho. Só podíamos fazer a festa depois do objetivo estar confirmado matematicamente”, sublinha Ricardo Pessoa. “A primeira meta era subir de divisão e, quando sentimos que isso já não fugia, apontámos à conquista do campeonato”, acrescenta.

ALGARVE INFORMATIVO #113


Fez-se a festa, as férias estão a terminar, num instante arrancam os trabalhos da pré-epoca e, no início de agosto, a bola volta a girar, agora mais a sério. E Ricardo Pessoa carimba também o seu regresso à Primeira Liga, sendo um dos resistentes da altura em que o Portimonense esteve, pela última vez, no escalão principal, e depois de ter defendido igualmente as cores do Moreirense durante um ano, antes de voltar ao seu clube do coração. “Fiquei no Portimonense nos bons e nos maus momentos, apesar de terem surgido algumas propostas bastante interessantes do ponto de vista financeiro para embarcar novos projetos. Mas era aqui que gostava de estar, foram-se criando raízes e paixões que dificilmente me deixavam sair. O meu desejo sempre foi ALGARVE INFORMATIVO #113

terminar a carreira no Portimonense”, assegura. Um trajeto interrompido apenas na tal época que jogou no Moreirense, mas só conseguiu estar fora de Portimão e longe da esposa e do filho durante um ano. “Sinto que muita gente me olha como um símbolo do clube e é um prazer enorme poder transmitir aos mais jovens os valores do Portimonense, a sua história passada e recente”, refere Ricardo Pessoa, que já leva 11 anos a jogar do Estádio Municipal de Portimão. “Há momentos em que é difícil recusar propostas de outros clubes e, noutras alturas, a decisão acaba por ser bastante fácil. Quando estamos bem enraizados numa terra e temos a família ao nosso lado, 40


não há nada que suplante a paixão que temos pelo clube. Só quando aparecem propostas de um nível financeiro muito superior é que pensamos se valerá a pena largarmos tudo, mas as minhas decisões nunca foram tomadas a olhar para o dinheiro”.

O SONHO DE TERMINAR A CARREIRA NA PRIMEIRA LIGA Natural de Vendas Novas, foi no Vitória de Setúbal que Ricardo Pessoa fez o percurso de juvenis e juniores e onde deu nas vistas como sénior, até ser transferido para o Portimonense, na época de 2005/2006. Pelo meio, uma temporada no Moreirense, logo após o clube algarvio ter sido despromovido para a segunda divisão, e assim percebeu que, por muito profissional que se seja, é sempre diferente jogar no clube do qual se é adepto, naquele que se ama verdadeiramente. Uma paixão que, nos tempos modernos, não é fácil incutir nos mais novos, que rapidamente mudam de emblema quando as condições financeiras são mais vantajosas noutro lado. “Eu não sou do Portimonense desde pequenino mas, a partir do momento em que aqui cheguei, esse sentimento foi crescendo com tamanha intensidade que, hoje, sou do Portimonense a 200 por cento. Claro que é difícil que todos os jogadores que passam pelo clube se tornem adeptos dele mas, enquanto cá estiverem, têm que o defender com unhas e dentes. Para além de isto ser o nosso ganha-pão, o clube tem que ser especial para todos os atletas e constituir uma parte importante nas suas carreiras”, defende.

41

As palavras podem ser bonitas e politicamente corretas mas, quando esse sentimento é genuíno, ele nota-se facilmente no relvado. “Conseguimos dar mais qualquer coisa, jogar até à exaustão, inclusive lesionados, é algo fantástico”, garante, confessando que as vitórias também têm um sabor especial, neste caso a promoção. “Conquistamos algo que ficará na história do clube, demos uma grande felicidade aos adeptos e fizemos com que Portimão voltasse a ser badalado na comunicação social de todo o país. Ao mesmo tempo, é um peso que sai de cima de nós, por causa dos objetivos que não conseguimos alcançar nas outras épocas. Eu venci uma Taça de Portugal pelo Vitória de Setúbal, mas este título de campeão e a subida são mais saborosos”, compara. Ricardo Pessoa manteve-se fiel ao Portimonense nos bons e nos maus momentos, o mesmo acontecendo com o grosso da massa associativa, o chamado 12.º jogador, mas nem todos são assim, lamenta o entrevistado. “Quando a equipa esteve bem, nunca se ouviu um comentário negativo, quando perdemos aqueles jogos seguidos, já nem o treinador era bom. É mais fácil criticar do que apoiar mas, felizmente, em Portimão isso sucede com uma pequena minoria. Estamos muito bem servidos de adeptos”, enaltece, chamando a atenção para o facto de que, quem está do lado de fora, não saber os motivos das equipas terem os seus altos e baixos ao longo das temporadas. “É uma realidade injusta para quem trabalha no dia-a-dia, mas já ALGARVE INFORMATIVO #113


Ricardo Pessoa: “O Portimonense vai ser uma equipa competitiva e tentar garantir a manutenção o mais rápido possível, porque a primeira liga cada vez está mais renhida”. estamos habituados a isso. Dentro do campo, nós sabemos quem são aqueles que nos apoiam a 100 por cento, que vão a todos os jogos, mesmo nas deslocações ao terreno dos adversários”. Entretanto, a dedicação e o amor de Ricardo Pessoa ao Portimonense foram recompensados com a renovação do seu contrato por mais três épocas, de modo que esta será, certamente, a última camisola que vai vestir. Dúvidas não existem também de que, no futuro, continuará ligado ao futebol, ainda que noutras funções. “Não está no meu pensamento ficar sossegado em casa quando pendurar as chuteiras. Este vai ser o meu derradeiro contrato enquanto jogador, mas vou continuar no futebol e tenho-me vindo a preparar para isso”, revela, adiantando que já tirou os dois primeiros níveis do curso de treinador e que pretende formar-se noutras áreas relacionadas com o desporto-rei. Mas ainda é cedo para pensar nisso, até porque a primeira liga não permite distrações, como bem sabe Ricardo Pessoa. “Acredito que todas as pessoas ALGARVE INFORMATIVO #113

compreendem que, neste momento, o Portimonense só pode almejar a manutenção. Estamos conscientes de que vamos perder mais jogos do que nesta última temporada, porque a qualidade, individual e coletiva, é bastante superior na primeira liga. Mas isso não significa que não temos armas para nos equipararmos com as outras equipas e para alcançarmos os nossos objetivos”, salienta o capitão, voltando a destacar a experiência do técnico Vítor Oliveira. “O Portimonense vai ser uma equipa competitiva e tentar garantir a manutenção o mais rápido possível, porque a primeira liga cada vez está mais renhida. Nunca ninguém imaginaria que o Nacional poderia descer de divisão ou que o Feirense pudesse ficar quase à porta da Europa. Na segunda liga, há várias equipas a lutar pelo título. Na primeira, há três clubes à conquista do campeonato, mais três ou quatro de olho nas competições europeias e as restantes pensam sobretudo na manutenção”, analisa o experiente jogador. Fica então a convicção de que o Portimonense não vai fazer figura de «coitadinho» contra os tubarões da primeira liga e que tentará garantir a manutenção com a maior brevidade possível. Quanto a Ricardo Pessoa, o desejo é só um: cumprir os últimos três anos de carreira na primeira liga, pelas cores do Portimonense. “Tive a felicidade de, até hoje, só jogar em campeonatos profissionais. Terminar no principal escalão, depois de muitas conquistas neste clube, e de alguns dissabores também, seria a cereja no topo do bolo”. 42


43

ALGARVE INFORMATIVO #113


ENTREVISTA

ALGARVE INFORMATIVO #113

44


“PORTUGAL NÃO PODE TER RECEIO DE SER MAIS AMBICIOSO”, DEFENDE EDGAR PRATES Publicado pela Chiado Editora, «Crónicas dos Emergentes» é uma descrição cronológica da realidade dos países emergentes da Eurásia entre 2005 e 2015, ilustrada com cenas do quotidiano vividas na primeira pessoa por Edgar Prates e por elementos históricos compilados por este farense que foi designer, dj e dirigente partidário antes de sair de Portugal e se tornar num prestigiado consultor internacional. Volvida mais de uma década, entende que Portugal não está a aproveitar a sua universalidade e as suas ligações culturais e históricas com o Sudeste Asiático, por medo de acordar alguns fantasmas do passado. Texto:

45

Fotografia:

ALGARVE INFORMATIVO #113


A

última conversa em pessoa que tive com Edgar Prates data de 20 de janeiro de 2005. Na altura, era o coordenador distrital e presidente da Juventude Popular de Faro, licenciado em Design de Comunicação pela Universidade do Algarve e a tirar um curso de Relações Públicas nos Estados Unidos da América. Antes disso, conhecia-o dos tempos da Rádio Antena Sul e da Super FM, mas também das cabines de DJ das principais discotecas do Algarve. Volvidos mais de 12 anos, reencontramo-nos precisamente no mesmo sítio, na Doca de Faro, por um motivo diferente, o lançamento de «Crónicas dos Emergentes – De Lisboa a Malaca 500 anos depois», publicado pela Chiado Editora. “Trabalhei como consultor durante seis anos na Europa de Leste, a fazer gestão de contas e a desenvolver novos negócios. Quando a crise atingiu o Velho Continente, muitas empresas e organizações mudaram-se para o Sudeste Asiático, um mercado bastante maior em termos geográficos e demográficos, e com uma população bem mais jovem. As multinacionais pretendiam quadros qualificados móveis, que vão conhecer os clientes, apresentar soluções inovadoras e assinar contratos no terreno, daí a minha partida para a Ásia”, conta o entrevistado. Por essa altura, Edgar Prates já estava bem habituado a lidar com diferentes culturas, com as questões legais e burocráticas que variam de país para país, com regimes políticos e sistemas financeiros distintos. “A Europa de Leste foi um modelo inicial de expansão económica, em que 12 países se juntaram de uma vez. O Sudeste Asiático está, neste

ALGARVE INFORMATIVO #113

momento, numa situação semelhante, mas a área é muito maior, os entraves são de outra dimensão, pelo que as empresas querem consultores experientes para atuarem na Tailândia, Indonésia, Malásia, Filipinas, Birmânia, Sri Lanka. Não podemos olhar apenas 46


para a China, Índia e Japão, há todo um novo mercado a crescer”, explica o profissional da Accenture, especialista em fornecer apoio logístico, legal e de recursos humanos às multinacionais, embaixadas e organizações internacionais que se expandem para o Sudeste Asiático. 47

Negócios que, como se adivinha, movimentam muitos milhões de dólares porque, naquela zona do globo, tudo é feito em quantidades gigantescas, indica Edgar Prates. “Singapura e Hong Kong tornaram-se muito caros e nota-se um ALGARVE INFORMATIVO #113


Edgar Prates em Mindanau, nas Filipinas

segundo nível de deslocação das multinacionais, que vão para locais como Jacarta ou Manila, mais baratos e com abundância de recursos humanos. Manila tem 15 milhões de habitantes, em Jacarta são 20 milhões, e projetos que poderiam ser geridos do Japão, Singapura ou Londres, são enviados diretamente para essas cidades. Depois, de um momento para o outro, temos que contratar milhares de pessoas para montar a estrutura”, conta, adiantando que esta ALGARVE INFORMATIVO #113

realidade é um reflexo da crise que se viveu recentemente no mundo ocidental, com as empresas à procura de compensarem as perdas financeiras que tiveram. “A solução é ir para os mercados emergentes, que crescem rapidamente, e há empresas que já estão de regresso ao lucro e a expandirem-se para a África e América do Sul. São negócios à escala global, nomeadamente nos setores financeiro e de prestação de serviços, mas 48


suportar riscos no Japão por causa dos tsunamis, a Tailândia tem problemas com a chuva, nas Filipinas são os tufões e tremores de terra. É uma zona em constante mutação, em que as coisas entram num instante e podem sair num ápice”, indica Edgar Prates, salientando igualmente a reação anticolonial que se está a assistir no Sudeste Asiático. “Há várias nações que já perceberam que têm potencial para crescer sem a ajuda do Ocidente, mas o Ocidente faz alguma «chantagem» pois foi ele que levou o investimento para lá. O Mar da China é outro tema sensível, porque a China quer controlá-lo para passar as suas mercadorias, mas ele também pertence a outros países em redor e está-se a verificar uma corrida ao armamento na região, suportada pelos grandes «senhores da guerra». Mas não imagino que possa eclodir um conflito a sério, isso envolveria quase metade da população mundial”.

PORTUGAL É UM «EL DORADO» PARA OS ASIÁTICOS também de produção industrial, por causa da mão-de-obra barata”, descreve. O potencial turístico é, igualmente, abismal, com o Oriente e o Sudeste Asiático a ter dois biliões de habitantes e muitos deles com vasto poder de compra. Aliás, a quantidade de milionários a viver naquela zona do planeta é quase maior do que a população de Portugal. “E eles já estão fartos de «brincar» em Macau, querem ir para outros sítios. As empresas internacionais também não querem 49

Aproveitando uma pausa na conversa para deixar passar um avião, Edgar

Edgar Prates: (…) “Há muitos asiáticos que encaram Portugal como um «El Dorado», mas não sabem como investir cá, não há quem lhes abra a porta”. ALGARVE INFORMATIVO #113


Prates admite que o jogo no Sudeste Asiático é muito maior, e mais arriscado, do que aquele que aconteceu na Europa de Leste quando esses países começaram a aderir à União Europeia. Por isso, as multinacionais não colocam todos os ovos na mesma cesta e descentralizam apenas os serviços que envolvem mais custos, caso dos recursos humanos. “Por isso é que o Trump diz «America First», ele quer recuperar aqueles empregos massivos que foram enviados para o estrangeiro. Temos grandes centros de qualidade na Alemanha, França, Estados Unidos, Canadá, mas a produção fabril em massa e os «call centers» foram todos para o Sudeste Asiático e atrás deles vão gestores ocidentais de topo para implementar as operações. O que falta naquela zona é coerência política e a corrupção é descarada, não há qualquer maneira de camuflar ou tentar combater. Há verdadeiras oligarquias que passam de geração para geração durante várias décadas”, relata Edgar Prates. De tudo isto fala «Crónicas dos Emergentes», porque os portugueses foram os primeiros ocidentais a chegar ao Sudeste Asiático, numa altura em que este já era um empório comercial. E o mais interessante, de acordo com o autor, é que ainda ali vivem inúmeros descendentes de portugueses, que falam o português arcaico do século XVIII e que têm um grande amor e respeito por Portugal. “Podíamos aproveitar essa ligação cultural para negociar investimento para os dois lados, porque há bastantes asiáticos que querem investir na Europa. Macau continua a investir fortemente. Em Goa está-se a viver um revivalismo português. Em Nova Deli, há muitos indianos a ALGARVE INFORMATIVO #113

aprender português, que é a língua mais falada a sul da linha do Equador. Malaca está a criar marinas e hotéis à beira da praia. É um crescimento brutal para tentar satisfazer a procura asiática daquela faixa de habitantes que atingiu a classe média e alta e que também se quer divertir”, sublinha o consultor internacional. Ora, estes potenciais turistas não vêm mais para a Europa, de acordo com Edgar Prates, porque os asiáticos apenas conhecem Paris e Londres no Velho Continente e a orla do Mediterrâneo não é muito apelativa porque também têm praias de sonho nas suas terras. “Há que mudar o chip da promoção e apostar na ligação histórica, na vertente cultural. Sol e praia eles têm, falta-lhes o património arquitetónico e cultural e isso existe em Portugal com fartura”, entende o farense que reside atualmente em Manila, nas Filipinas. “Tem que se fazer um trabalho de fundo à base da diplomacia internacional, com o Ministério dos Negócios Estrangeiros a atuar ativamente com as embaixadas, consulados ou representantes, para criar parcerias estratégicas com empresas e governos. Há muitos asiáticos que encaram Portugal como um «El Dorado», mas não sabem como investir cá, não há quem lhes abra a porta”, lamenta o entrevistado.

EUROPA VAI REAGIR A PARTIR DE 2020 A estratégia parece fácil para quem está a ver o país do lado de fora, quase 50


Edgar Prates em Puerto Galera, nas Filipinas

do outro lado do mundo, mas Edgar Prates acredita que o português tem algum medo em ser mais ambicioso. “Portugal é um país seguro, não tem problemas políticos ou religiosos com ninguém, é um local neutro que atrai toda a gente. Temos é que saber vender o nosso peixe de forma a conseguirmos rentabilizá-lo, em vez de ficarmos à espera que os turistas nos venham visitar. É facílimo ir ao Médio Oriente ou à Ásia desenvolver parcerias que gerem retorno”, garante, um pensamento, como muitos outros, que tem por hábito colocar no papel e que estiveram na génese das «Crónicas dos Emergentes». “Quando sai de Portugal e me apercebi do mundo diferente que estava à minha espera, comecei a escrever 51

um género de diário e pensei logo que, um dia, aquilo ia dar num livro. Entretanto, em 2013, apareci numa série da RTP sobre portugueses espalhados pelo mundo e, de repente, fui contatado por imensas pessoas que, se calhar, pensavam que eu tinha desaparecido no meio de alguma selva”, conta, com um sorriso. O livro não é, contudo, apenas uma compilação de pensamentos, de experiências, de relatos do dia-a-dia, apresenta também uma forte componente de investigação histórica, muitas horas passadas em bibliotecas de Singapura, Jacarta e Manila, para recuperar relatos de há 500 anos, de ALGARVE INFORMATIVO #113


Edgar Prates: (…) Portugal não é um país pequeno, ao contrário do que se está sempre a dizer. Temos uma universalidade que poucos outros possuem, só que não a exploramos, com medo de acordar fantasmas do passado, coisas de que já ninguém fala (…) quando os portugueses chegaram àquela parte do globo. “O livro aponta alguns caminhos, mas pretende ser também uma fonte de inspiração, porque, às vezes, parece que andamos deprimidos com as coisas que aconteceram no nosso cantinho. Espero que ajude muita gente a pensar duas vezes”, indica, garantindo que os livros não se vão ficar por aqui, porque as experiências continuam a acontecer todos os dias. “Quando falamos de cultura e investimento, mexemos com os interesses económicos dos próprios países. Este livro é uma viagem da Europa para os países Emergentes, o próximo será ao contrário, sobre os Emergentes que regressam à Europa”, antevê. Nesse regresso à Europa, às origens, poderá vir incluído o próprio Edgar Prates, que não descarta a hipótese de voltar a Portugal, mostrando-se confiante de que, em 2018, o país já não será considerado «lixo». “Essas agências de rating deviam ALGARVE INFORMATIVO #113

olhar para as praias da Índia, para os bairros de Jacarta, para algumas zonas de Manila. Aí é lixo a sério, mas as economias são bastante potentes a nível da exportação e estão a crescer 7 por cento ao ano desde 2010. Mas, a partir de 2020, vamos assistir à reação em força da Europa e os mercados asiáticos vão sofrer, porque a vida está a encarecer”, projeta o consultor. “Há países onde mais de metade da população tem menos de 35 anos, é incrível, há juventude por todo o lado, e esses vão ser os consumidores dos próximos 20, 30 anos. No entanto, quando toda essa gente envelhecer, vai ser um tremendo problema social”. Está mais do que visto que o mundo funciona por ciclos económicos, só que Portugal não conseguiu preparar-se para isso depois do boom registado nos anos 90 do século passado, na opinião de Edgar Prates. “Os asiáticos também não olham para isso, pensam que este crescimento se vai manter para sempre, o que é impossível. E Portugal não é um país pequeno, ao contrário do que se está sempre a dizer. Temos uma universalidade que poucos outros possuem, só que não a exploramos, com medo de acordar fantasmas do passado, coisas de que já ninguém fala. No Algarve, não podemos parar de investir só por causa da natureza e dos animais, porque fomos todos feitos para vivermos uns com os outros. Há países onde se consegue conciliar, de forma inteligente e segura, a natureza e a tecnologia. O Algarve pode crescer, tornar-se uma pequena Singapura em Portugal, e fazendo as coisas de acordo com as regras” . 52


53

ALGARVE INFORMATIVO #113


REPORTAGEM

“A ESCRITA E A LEITURA AJUDAM-NOS A VER O MUNDO PARA LÁ DAQUILO QUE É ÓBVIO”, AFIRMA PAULO PIRES Texto:

O

Fotografia:

investigador e programador cultural Paulo Pires lançou, no dia 15 de junho, em São Brás de Alportel, «Escrytos – crónicas e ensaios sobre cultura contemporânea (20132017)». A obra reúne textos publicados em jornais, suplementos, revistas e websites de âmbito cultural, entre janeiro de 2013 e abril de 2017, e tem como enfoque central a área da Cultura, nomeadamente questões ligadas à ALGARVE INFORMATIVO #113

Programação e Mediação Culturais, Artes Performativas, Literatura e Leitura/Bibliotecas, integrando ainda reflexões, quer sobre alguns projetos específicos que o autor desenvolveu em contexto profissional, quer em torno de temáticas sociológicas e educacionais. Após uma breve introdução da obra realizada pela professora da Universidade do Algarve Ana Isabel Soares, Paulo Pires 54


começou por explicar que este livro é também reflexo das pessoas com quem trabalhou enquanto programador cultural, casos de Dália Paulo, comissária do programa «365 Algarve» e de Maria José Macário. “Eu preciso escrever para que as coisas fiquem mais claras para mim mas, curiosamente, há aqui muitas coisas que me desarrumaram completamente, que me desassossegaram, que me criaram uma inquietação. Em alguns assuntos, já não penso da mesma forma, mas a escrita é uma luta constante contra o desconhecido”, apontou Paulo Pires, confessando que cada vez tem menos certezas na vida. De forma emocionada, Paulo Pires dedicou o livro aos pais e recordou as longas tardes de Verão da sua meninice, antes de ir para a escola primária, em que desenhava letras enquanto a mãe costurava na sua máquina Singer. “Achava aquilo uma seca tremenda, porque os meus amigos andavam na rua a jogar à bola, foi algo que me custou imenso. Um dia, a minha mãe disse-me que o seu sonho era ser professora e aqueles momentos, que me pareciam tão castradores, começaram a fazer sentido para mim”, contou. Do mesmo modo, lembrou a sua adolescência e as férias de Verão em que ajudava na oficina de carpintaria do pai. “Ele é extremamente exigente e muito perfeccionista e tínhamos grandes discussões porque eu não conseguia fazer as coisas tão bem como ele desejava, mas isso deixou em mim um certo espírito de exigência e perfeccionismo na forma de fazer as coisas. Às vezes, em certas fases da 55

nossa vida, há aparentes choques e desencontros que, mais tarde, se tornam coisas boas”, reconheceu. Para Paulo Pires, é importante que o pensamento fique registado e compilado em papel, para que possa dar origem a outros pensamentos distintos, por exemplo, no campo da captação de públicos para as atividades culturais. “Como é que podemos fazer uma programação de qualidade sem cair no lugar-comum? Como é que podemos balançar uma programação abrangente e, ao mesmo tempo, que tenha em conta as minorias”, questionou. “E há também ALGARVE INFORMATIVO #113


João Paulo Cotrim, Ana Isabel Soares, Vítor Guerreiro e Paulo Pires

neste livro algumas reflexões sobre a relação de certas figuras com o Algarve, como é que a passagem do José Afonso ou da Sophia de Mello Breyner, por exemplo, pela nossa região os moldou”, revelou o autor. “A escrita e a leitura ajudam-nos a ver o mundo para lá daquilo que é óbvio, das mensagens com que somos bombardeados todos os dias, a tentar convencer-nos disto ou daquilo. Ajudam-nos a ler nas entrelinhas, a ver mais longe do que o nosso olhar alcança”, concluiu. Antes das palavras de Paulo Pires, Vítor Guerreiro, presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel, manifestou a satisfação por receber, no requalificado Largo de São Sebastião, “o lançamento do livro de um amigo, de um são-brasense, que tem dedicado a sua vida e a sua carreira profissional à ALGARVE INFORMATIVO #113

cultura”. “É uma pessoa que se preocupa muito com o espaço e a história, mas também com o futuro”, sublinhou o edil. Por sua vez, João Paulo Cotrim, da «Arranha-Céus», lembrou que todos os dias são lançados 40 novos livros em Portugal, “alguns injustamente «acusados» de serem livros, mas realmente têm papel e letras”, daí que a grande questão que se coloca, atualmente, aos editores é o porquê de se colocar mais uma obra no mercado. “Neste caso, a resposta foi bastante fácil e vem abrir uma coleção na «ArranhaCéus» à volta da crónica, um género no qual o nosso país tem uma tradição riquíssima. Para além da qualidade da escrita, o trabalho do Paulo Pires interessa-nos muito porque é uma reflexão que parte da prática, da sua atividade como programador cultural”, frisou . 56


57

ALGARVE INFORMATIVO #113


ALGARVE INFORMATIVO #113

58


59

ALGARVE INFORMATIVO #113


OPINIÃO

Já chega de «minutos de silêncio»! Paulo Cunha (Professor)

T

al como a muitos de vós, causa-me alguma estranheza observar a forma como tantos tomam como certo aquilo que a história, desde tempos imemoriais, nos mostra ser altamente incerto. Estou a escrever, como por certo já perceberam, da imprevisibilidade com que os chamados «flagelos naturais» nos visitam. «Desde que o mundo é mundo» que a natureza nos mostra a razão de ser do seu nome, pois tudo que nela acontece é (obviamente) natural! O que não é natural é assumir que a podemos domar e dominar a nosso belo interesse e prazer, tal como se fossemos Deus na Terra. Na natureza tudo acontece por uma razão de causa-efeito, mas só em caso de catástrofe é que percebemos que, muitas vezes, o que a motiva tem mais intervenção da mão humana do que da natureza. É caso para perguntar: “Porque não aprende o homem com as lições da mãe-natureza”? É claro que a resposta está implícita na forma como se descura e negligencia a relação com o ser que tudo nos dá e a quem, em tudo, lhe somos devedores. Embora, para muitos de vós, esta dialética possa estar impregnada dum lirismo próprio dos sonhadores, a realidade todos os dias nos mostra que são os ditos «sonhadores» que há muito acordaram para os perigos resultantes dos atos impensados, imprudentes e inconsequentes daqueles que não projetam a vida para além da sua existência. Tenho a felicidade de ter nascido e de viver numa parcela do planeta que a natureza, na sua plenitude, magnificência e genialidade, se encarregou de pincelar com matizes de rara beleza e individualidade. Fruto do espírito visionário e empreendedor, aqui e ali, homens bons têm-na ajudado a tornar-se ainda mais linda e aprazível. Mas o contrário também é verdade! E é através dessa inoperância, descuido, apatia e incúria de muitos decisores, que assistimos a autênticos cataclismos, fruto de acontecimentos naturais que, por não serem devidamente pensados, acautelados e precavidos, num ápice transformam este paraíso à

ALGARVE INFORMATIVO #113

beira mar plantado num inferno dantesco, onde a morte pode advir de tudo, menos de causas naturais. Não culpemos a natureza, pois a natureza limita-se, muito naturalmente, a reagir! Assumo aqui, também, a minha culpa por (em democracia) ter escolhido e acreditado em homens que, no alto dos seus cargos onde juraram defender e servir a causa pública, não tiveram a isenção, a clarividência e a autoridade para fazer o que deveria ter sido feito para defender a casa de todos nós. Após os acidentes que vão tornando menos verde e azul o mapa deste canto do nosso encanto, malfadadamente, habituámo-nos a aceitar com normalidade todo o tipo de lamúrias e lamentações. E depois das «desculpas de mau pagador» e das promessas vãs, tudo cai na inoperância e marasmo habituais, que de eleição em eleição servirá como mais uma arma de arremesso político. Somos, cada vez mais, «um povo em lume brando» que se habitou a «chorar o leite derramado», mas pouco faz para precaver que tal aconteça. Basta estar atento ao fenómeno em que se tornou o desejo mórbido de esmiuçar a desgraça alheia, para a seguir a comentar e lamentar nas redes sociais, na senda daquilo que as «velhas carpideiras» faziam/fazem nos velórios. Não é, pois, de estranhar que alguma imprensa lusa se tenha deixado seduzir por esta forma tão pouco «católica» de se aproveitar das fraquezas e fragilidades humanas, e assim arregimentar mais seguidores. Tudo vale neste jogo, onde a perda e a profanação do foro íntimo constituem alimento para todos aqueles que, através de múltiplos aproveitamentos, pouco mais fazem do que mostrar o que são e ao que vão. Valham-nos todos aqueles que, duma forma desprendida, altruísta e benemérita, nos devolvem a esperança. Apesar de tanto egocentrismo e desprezo pela terra-mãe, há sempre «anjos da guarda» que zelam pelo nosso bem maior. Foi por eles e para eles que escrevi estas palavras, pois de acusações e de dedos apontados está o inferno cheio. Que as lágrimas sejam de alegria por ver a Terra sorrir! .

60


61

ALGARVE INFORMATIVO #113


OPINIÃO

O que examinam os exames? Mirian Tavares (Professora) “Não basta saber ler que Eva viu a uva. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho.” ― Paulo Freire

O

filho estava revoltado com o exame de português. Logo com o exame para o qual se sentia melhor preparado, principalmente porque, ao longo do ano, obteve sempre boa pontuação na parte de produção de texto. E dizia: após este exame pus em causa o meu futuro e a minha capacidade de fazer alguma coisa bem. Sei que há colegas menos preparados que vão tirar melhor nota porque decoraram as respostas. Lá tive eu que lhe dizer que, apesar de ele ter toda a razão do mundo, os exames não aferem a capacidade de quem sabe, mas sim de quem sabe responder ao exame, disse-lhe que tinha de ser pragmático. Não adiantava, pelo menos de momento, sentir-se revoltado contra um sistema que apresenta muitas falhas. Contei a história de uma colega de escola que vivia para estudar e que sabia imenso, mas, quando fez o vestibular, chumbou porque «congelou» – não lhe saíam, naquele instante em que tudo o que aprendera era absolutamente necessário, as respostas. Claro que há casos e casos, e o dela deveu-se a uma dedicação exclusiva aos estudos, tinha de ser a melhor da sala. Ela não saía, não tinha namorado, não ia às festas… No ano seguinte, arrumou um namorado e tudo correu melhor. Não é um caso exemplar, mas serve para demonstrar que os exames não aferem o que se aprende, mas sim a capacidade de se decorar respostas ou de assumir um modus operandi que privilegia a capacidade de controlar o tempo e de responder não da forma correta, crítica e criativa mas sim «à maneira» dos exames.

ALGARVE INFORMATIVO #113

Há ainda o problema levantado pela bendita questão da transparência (um assunto que merece, se não uma crónica, muitos comentários), os exames são anónimos e corrigidos por professores que não sabem quem está por trás daquela prova. Ora, se um aluno é acompanhado por um professor um ano ou mais, ninguém melhor que este professor para avaliar a capacidade que o aluno tem de responder e de pensar, de refletir ou não sobre um tema, de responder conscientemente e não apenas porque decorou a resposta. Mas isso é considerado um descalabro. Imagina que a escola quer inflacionar as notas ou que o docente decide lixar, ou salvar, determinado aluno! Seria o fim da sacrossanta transparência que permite, teoricamente, igualdade de condições e neutralidade dos avaliadores e, consequentemente, do resultado das avaliações. Como se a «situação-exame», por si só, não fosse um momento de tensão e de algum desespero, em que os alunos se sentem pressionados e em que, muitas vezes, as respostas lhes fogem simplesmente porque são obrigados a tê-las naquele preciso instante. E assim passam anos na escola, não a aprender as matérias, mas a descodificar questões e a tentar perceber como devem ser respondidas. Não interessa que as respostas sejam as melhores, mas sim que todos saibam recitar em coro que Eva viu a uva. E nem sequer têm tempo de pensar porque cargas d’agua Eva viu a uva e que importância isso pode vir a ter na sua vida de jovem adulto que está prestes a começar .

62


63

ALGARVE INFORMATIVO #113


OPINIÃO Um manifesto poético de Sérgio Ninguém - O caso peculiar do projecto editorial Eufeme Adília César (Escritora) “Da janela vê-se o fogo no chão, o galo canta para baixo, o prazer fica do lado de fora a observar, a intensidade de ser pedra, um rochedo infinito: - uma pedra só!” (in Pedra, de Sérgio Ninguém)

H

á cerca de um ano nasceu a Magazine Eufeme, que se rege por padrões bastante singulares, uma vez que não tem fins lucrativos nem ambição comercial. Os seus estatutos editoriais mostram bem o mapa deste novo caminho poético, idealizado e construído passo a passo por Sérgio Ninguém: “A Magazine Eufeme é uma publicação trimestral dedicada à poesia, pretendendo ser um meio de expressão literária sem formalismos, escolas teóricas ou moldes comerciais de qualquer espécie. É independente de poderes políticos ou económicos e considera-se autónoma em relação a qualquer crença religiosa e ideológica, sendo apenas orientada por critérios de liberdade de expressão, isenção e criatividade. Tem como objectivo divulgar textos literários em poesia e em prosa poética. Está disponível em PDF, eBook (Kindle e ePub) e formato impresso. Os dois formatos electrónicos (PDF e eBook) podem ser baixados de forma gratuita no site http://eufeme.weebly.com, enquanto o formato impresso só poderá ser adquirido junto do editor, cujo preço será apenas o custo de impressão e os custos postais”. Segundo Sérgio Ninguém, o projecto foi buscar o nome à Deusa Eufeme (em grego Ευφημη), que na mitologia grega é a deusa do discurso correcto. O projecto conta neste momento com uma publicação trimestral com colaborações de diversos autores – a Magazine Eufeme, que já vai no quarto número – e vários títulos integrados na Colecção Poetas da Eufeme, a qual pode ser considerada de cariz internacional, uma vez que, dos sete poetas já publicados, alguns foram traduzidos pela primeira vez em Portugal por Francisco José Craveiro de Carvalho, um colaborador assíduo.

ALGARVE INFORMATIVO #113

Sérgio Ninguém assume-se como um apaixonado pela poesia, na qualidade de leitor e poeta. Tem poemas seus publicados em algumas revistas e blogues dispersos e em 2016 publicou o livro «pedra». Sérgio Ninguém trabalhou sempre na área das artes gráficas, como tipografias e editoras, tanto de revistas como de livros. Assim, ser paginador/arte finalista de profissão facilitou a concretização do conceito que pretendia, dado que tem amplos conhecimentos relativos ao processo de edição. Tendo já participado noutros projectos editoriais, este é o seu primeiro investimento a solo. Sérgio Ninguém gostaria de conquistar mais leitores para a poesia, de criar um projecto belo e simples, para que qualquer pessoa tivesse acesso à leitura de um conjunto de poetas facilitando, assim, a leitura de poesia, contrariando as grandes editoras que se preocupam com lucros, em detrimento da qualidade e da verdadeira edição. Sérgio Ninguém pretende ainda ajudar a divulgar mais facilmente poetas de todo o espectro poético, tanto os mais consagrados como os iniciantes, uma vez que a edição de livros de poesia é difícil no nosso país. Por outro lado, a Colecção Poetas da Eufeme, ao publicar também poetas estrangeiros que só se podiam ler nas suas versões originais, vem preencher uma lacuna no que diz respeito à divulgação dessa poesia ainda desconhecida dos leitores portugueses, construindo outras pontes de apreciação poética. Estas palavras de Sérgio Ninguém, registadas numa recente entrevista dada à LÓGOS – Biblioteca do Tempo, mostram bem a sensibilidade do poeta em relação à utopia da divulgação da poesia enquanto género literário em estado puro. Uma utopia em forma de sonho ou um manifesto para o futuro? O tempo o dirá . 64


65

ALGARVE INFORMATIVO #113


OPINIÃO E porque não a Agência do Medicamento em Faro? Carlos Gouveia Martins (Portimonense)

tempo de fazer diferente do que a história tem escrito sobre matérias de descentralização democrática da administração pública. Todos sabemos que a Constituição da República Portuguesa, e basta ler do artigo 255.º em diante, prevê a regionalização administrativa desde 1976. Quando o Primeiro-Ministro algarvio, Aníbal Cavaco Silva, apresentou a Lei de Quadros das Regiões Administrativas em 1991, o caminho era certo: O povo tinha de passar da fase do «deixa andar». A revisão constitucional de 1997 conferiu ao povo português a possibilidade de exprimir o seu sentimento de cumprir a Constituição da República a 8 de novembro do ano seguinte. Moral da história: Menos de 50 por cento dos eleitores deste país compareceram à chamada. Os que lá foram, cumprir o seu dever cívico, negaram claramente esta possibilidade com um expressivo «Não». Mais de duas décadas depois, continuamos a viver a paradoxal vontade portuguesa em cumprir a descentralização administrativa do país e olhar para a regionalização com olhos de ver. Agora, com a Agência Europeia do Medicamento. Pelo meio, um único sinal político sério de registo. Justiça lhe seja feita: Enquanto Primeiro-Ministro, Pedro Santana Lopes foi o único a lançar uma «pedra» para o charco. Deslocou Secretarias de Estado para Braga, Aveiro, Faro, Golegã. Apresentou, em Plenário da Assembleia da República, a vontade em ver o Estado perspetivar a descentralização ao nível de órgãos de soberania. Queria o Tribunal Constitucional com a sede em Coimbra ou ainda o Supremo Tribunal Administrativo descentralizado para o Porto. Houve coragem, faltou vontade dos portugueses. Agora, nos dias que correm, mas sempre que cheira a preconceito centralista ou a irrealistas vontades alicerçadas no cinismo de um Governo que se diz amigo da descentralização e da coesão territorial que, aliás, vieram aqui a Faro através do Ministro-adjunto Eduardo Cabrita «vender», volta ao debate o tema que só Cavaco levou a votos. Confesso que não sei o que prejudica mais a possibilidade da sede da agência vir para Portugal: Se

É

ALGARVE INFORMATIVO #113

ser em Lisboa (com as suas duas agências europeias já existentes) ou se a falta de apoio nacional e coesão sobre uma proposta que, imagine-se (!), até foi votada por unanimidade na Assembleia da República (é preciso Memofante para uma dúzia de Deputados de vários quadrantes!) para trazer a AEM para Lisboa. Estava lá, escrito. Incrível. Indo de encontro à declaração pública e crítica do Senhor Presidente da República sobre esta matéria, que afirmou inequivocamente que houve falta de discussão pública, há algo maior que isto: Os sinais de divisão nacional que prejudicam a decisão sobre esta matéria. Não é a petição dos senhores Eurodeputados e muito menos foi a posição de força de uma distrital do PS que fez o assunto vir à baila. Mas, década após década, o que traz sempre este assunto à discussão pública é a clara ausência de uma defesa política sobre a descentralização, é passar das palavras aos atos numa real distribuição territorial equitativa no país e afirmar o que vem previsto na Constituição da República como um símbolo e com posições corajosas. Faltou coragem para oferecer uma candidatura competitiva. Por mim, é simples: Faro, no Algarve. O contributo do Algarve para o PIB nacional supera a média do aumento das demais regiões (NUTS II). Temos uma contribuição de 4,1% do PIB nacional, um valor próximo de 7,5 milhões de euros quando os sucessivos orçamentos de Estado consignam, à nossa região, um valor total de cerca de cinco milhões de euros. Corajoso era trazer para Faro. Cumprir com os desígnios da descentralização prometida pelo Primeiro-Ministro e rebater um desfalque de mais de dois milhões de euros, face ao contributo da nossa região, que até poderiam servir para investir na implementação do Centro Hospitalar Universitário, na eletrificação completa da linha ferroviária regional ou na tenebrosa EN 125. Digo eu, o Algarve merece .

66


Do Barlavento ao Sotavento

E porque não Faro? Diogo Agostinho (Farense)

O

destino da localização da futura Agência Europeia do Medicamento chegou ao debate em Portugal. Como sempre, de forma errada e sem qualquer trabalho prévio. De um lado, vemos que os Deputados da Assembleia da República nem notam o que votam. Todos votaram a candidatura de Portugal e Lisboa. Depois, surgiu a onda regionalista. Mais a norte, como de costume. Foram petições, foram grupos de trabalho. Qual o destino alternativo a Lisboa? Porto. E assim está o país. Enviesado. Lisboa e Porto. O resto é paisagem. Pouco interessa o restante território nacional. A concentração e atenção ficam sempre nas duas principais áreas metropolitanas. E isto dura há décadas. Mas no meio desta questão nacional ninguém se lembrou de mais opções. E o interior? Não existe. Podíamos falar dos incêndios e da tragédia que sofremos em Pedrógão Grande. O interior está despovoado, desertificado e desprotegido. Perdido. É caso para puxar a brasa ao nosso Algarve. E porque não Faro? É uma capital de Distrito. Tem boas condições. Faro e o Algarve no geral. Entre escolas bilingues e um aeroporto internacional. Ao nível da hotelaria então, penso que estamos conversados. Mas mesmo assim, Faro está próximo de Lisboa e até de Sevilha. Se há região com forte capacidade de hospitalidade, sobretudo ao nível de estrangeiros, essa região é o Algarve.

67

Um país com a nossa dimensão, com as nossas autoestradas (obrigado Professor Cavaco), não pode olhar para o território de forma fechada e tacanha. Somos um país pequeno. Com uma proximidade enorme entre as principais cidades. Washington e Nova Iorque ficam à mesma distância de Lisboa e Faro. Lá é perto, cá é uma eternidade. Este choque cultural é fundamental acontecer por cá. O Algarve não está fora, nem pode ficar, dos principais centros de decisão. É uma região que tem um potencial enorme e precisa de investimento, oportunidades e respeito. Falamos de uma agência que pode trazer oito mil trabalhadores. Juntemos as famílias e o impacto económico é brutal. Entre casas para morar, colégios para os filhos, alimentação e saúde, o nosso Algarve tinha aqui uma oportunidade muito interessante. Obviamente que esta discussão toda está condenada à partida. Os meandros europeus apontam um acordo entre França e Alemanha para dividir as Agências Europeias que estão de saída do Reino Unido. E aqui está um dos principais problemas desta Europa. Supostamente a 27 bastam dois países para tomar decisões. E depois querem falar de solidariedade europeia? É complicado .

ALGARVE INFORMATIVO #113


ALGARVE INFORMATIVO #113

68


69

ALGARVE INFORMATIVO #113


ATUALIDADE

MAIS DE 170 QUILÓMETROS DE CAMINHOS AGRÍCOLAS FORAM REABILITADOS EM CASTRO MARIM

D

esde o final de 2016 que já foram reabilitados mais de 170 quilómetros de caminhos e acessos agrícolas nas freguesias de Odeleite e Azinhal. Este trabalho é fruto de um protocolo estabelecido entre a Câmara Municipal de Castro Marim e o Regimento de Engenharia Militar n.º 1, sediado em Tancos. Além da beneficiação de caminhos e acessos agrícolas, os trabalhos contemplam a abertura de novos ALGARVE INFORMATIVO #113

caminhos agrícolas dispersos pelo concelho e a manutenção de faixas de gestão de combustível para prevenção de fogos florestais e na limpeza de uma linha de água na Ribeira do Álamo. Todo o equipamento e grupo de trabalho necessários à intervenção foram da responsabilidade do Regimento de Engenharia Militar n.º 1, ao passo que à Câmara Municipal de Castro Marim compete suportar os custos da alimentação, alojamento e compensação dos militares envolvidos, assim como o fornecimento de 70


combustíveis e materiais necessários à execução dos trabalhos e ao funcionamento do equipamento e viaturas militares utilizados. “O concelho de Castro Marim tem uma extensa rede viária rural, cuja manutenção e reabilitação implica uma grande disponibilização de recursos humanos e técnicos que a autarquia não podia

comportar. Esta parceria com o Exército Português permitiu-nos intervir em algumas das zonas mais críticas e com maior necessidade e possibilita agora aos nossos munícipes cultivarem os seus terrenos e recolherem e transportarem os seus frutos”, sublinhou o presidente da Câmara Municipal de Castro Marim, Francisco Amaral .

ALJEZUR VAI PROTEGER ENVOLVENTE URBANA DO CASTELO

F

oi já adjudicada a Prestação de Serviços de Silvicultura Preventiva em toda a área envolvente ao Castelo de Aljezur, coincidente com a zona urbana. Nas quatro áreas assinaladas serão efetuados cortes e trituração de vegetação herbácea superabundante, preservando sempre a vegetação arbórea e arbustiva, não infestante, mantendo a sua estrutura radicular. Com esta medida pretende-se basicamente reduzir as cargas arbustivas,

71

reduzindo significativamente o «material combustível», proteger os taludes e desobstruir as linhas de água em toda a envolvente urbana. O valor da Prestação de Serviços, que decorrerá entre junho e setembro do ano em curso, é de 26 mil euros, acrescido de IVA. Os trabalhos serão acompanhados pela Proteção Civil Municipal, Comandante Municipal Operacional e Gabinete Técnico Florestal das Terras do Infante .

ALGARVE INFORMATIVO #113


ATUALIDADE

«ROMANCEIRO.PT» LANÇA PLATAFORMA DIGITAL RENOVADA

O

Projeto «Romanceiro.pt», liderado por Pedro Ferré e Sandra Boto, e desenvolvido no âmbito do Centro de Investigação em Artes e Comunicação (CIAC) da Universidade do Algarve, conhecerá, no dia 23 de junho, uma nova etapa de desenvolvimento com a apresentação da segunda fase da plataforma digital romanceiro.pt. Mais ambicioso e tecnologicamente consolidado, o projeto, iniciado em 2013, pretende abrir o Arquivo do Romanceiro Português a um público não especializado, oferecendo ao utilizador, através de um website renovado (www.romanceiro.pt), novos recursos e novas ferramentas de pesquisa que lhe permitam um acesso direto e documentado às mais de 10 mil versões de romances da tradição oral portuguesa.

ALGARVE INFORMATIVO #113

Tendo como principal objetivo disponibilizar ao grande público um arquivo de inegável valor cultural no âmbito da literatura patrimonial portuguesa, o projeto prossegue, assim, um intuito de modernização e sofisticação tecnológica que culmina, para já, com a apresentação de uma renovada plataforma digital que permite, entre outras valências, a colaboração direta do utilizador através do envio de materiais relacionados com o Romanceiro Tradicional em Portugal (apontamentos, registos áudio, vídeo ou transcrições). Adicionalmente, o website permite ainda ao utilizador conhecer um pouco mais sobre o projeto, sobre a História do Arquivo e, inclusive, aceder a um conjunto de recursos bibliográficos que resultam do trabalho desenvolvido pela equipa de investigação .

72


CÂMARA MUNICIPAL DE LAGOA INVESTE NA QUALIDADE DAS INSTALAÇÕES DESPORTIVAS DO CONCELHO

O

concelho de Lagoa é uma zona de referência para a prática de várias modalidades desportivas, tanto ao nível da formação como de competições oficiais, o que obriga a um contínuo investimento para melhorar as condições oferecidas aos atletas e a todos os que assistem aos jogos e competições, nas bancadas. Com esse objetivo em mente, a Câmara Municipal tem investido na manutenção e melhoria de todos os espaços desportivos, como são exemplo a requalificação da entrada das Piscinas Municipais e instalação de sauna e banhos turcos e a cobertura da bancada do Campo Municipal de Estômbar e instalação de uma Parede Escalada. 73

Presentemente, estão em fase de conclusão os respetivos balneários, equipamento idêntico também já concluído na Nave Desportiva de Ferragudo, assim como a requalificação da entrada do Pavilhão Jacinto Correia e substituição da sua cobertura. A Autarquia de Lagoa investiu também quase 15 mil euros na aquisição e montagem de mil e 500 assentos nas bancadas dos Pavilhões das Escolas EB 2,3 de Lagoa, Estômbar e Parchal e da Secundária de Lagoa, que eram necessários para melhorar o conforto do público, tanto no tempo quente como no Inverno, evitando assim o contato direto com o cimento .

ALGARVE INFORMATIVO #113


ATUALIDADE

«LAGOS NA ONDA DO VERÃO» FOI DISTINGUIDO EM CONCURSO NACIONAL

O

INTEC – Instituto de Tecnologia Comportamental decidiu atribuir uma menção honrosa ao projeto «Viver o Verão», no âmbito do concurso M2V – Melhores Municípios para Viver, na categoria de valorização ambiental, reconhecendo a qualidade do trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelo Município de Lagos na área da sensibilização e educação ambiental e de valorização deste importante património. A campanha «Lagos na Onda do Verão», que teve início em 2007, tem vindo a ser desenvolvida nas seis zonas balneares do concelho de Lagos galardoadas com a bandeira azul - Meia Praia, Praia da Batata, Praia D. Ana, Praia do camilo, Praia do Porto de Mós e Praia da Luz durante os meses de julho e agosto, ALGARVE INFORMATIVO #113

procurando criar-se uma dinâmica concertada, envolvendo organizações, associações, estabelecimentos de ensino, unidades hoteleiras, entre outras entidades públicas e privadas, através da dinamização de atividades e ações de sensibilização, informação e valorização ambiental. O intuito é contribuir para uma mudança de mentalidades e comportamentos compatíveis com o desenvolvimento sustentável, onde a população (residente e visitante) é chamada a participar, e onde cada um pode dar o seu contributo para a preservação do património natural e dos recursos, assim como para o respeito pelo ambiente e para a diminuição ou erradicação de alguns dos problemas ambientais .

74


URBANIZAÇÃO CERRO AZUL, EM OLHÃO, VAI SER ALVO DE OBRAS PROFUNDAS DE MELHORAMENTO

A

Urbanização Cerro Azul, situada na União de Freguesias de Moncarapacho e Fuseta, vai ser alvo de importantes obras de melhoramento, depois do contrato de adjudicação ter sido assinado pelo presidente da Autarquia, António Miguel Pina, e pelo gerente da empresa José de Sousa Barra & Filhos, Lda., José Carlos Feijão. O valor da obra é de 132 mil e 790,90 euros e tem um prazo de execução de 90 dias, contados a partir da data da consignação.

75

Os trabalhos a realizar na Urbanização Cerro Azul nas ruas A, D, G, J e K, consistem na limpeza do pavimento existente, pavimentações, redes de drenagem de águas pluviais e residuais domésticas, execução de lancis e trabalhos diversos. “Estes arruamentos, já em avançado estado de degradação, o que dificulta o acesso dos moradores às suas habitações em segurança, ficarão, em breve, com todas as condições de circulação, para além do arranjo visual que a obra também inclui”, referiu o presidente da Câmara Municipal de Olhão, António Miguel Pina .

ALGARVE INFORMATIVO #113


ATUALIDADE

PORTIMÃO PREPARA INTERVENÇÃO DE 600 MIL EUROS EM ESPAÇOS VERDES

E

stá previsto para os próximos dias o início dos trabalhos de uma prestação de serviços de grande dimensão, com vista à manutenção e recuperação de 200 mil metros quadrados de espaços verdes do município de Portimão. Urbanização Quinta das Oliveiras, Urbanização da Bemposta, Urbanização Nurial, Urbanização Quinta da Ouriva são exemplos dos cerca de 100 locais identificados pela autarquia, a maior parte deles em zonas residenciais, para recuperar e manter espaços verdes, por um prazo de um ano.

ALGARVE INFORMATIVO #113

Orçamentados em mais de 600 mil euros, estes trabalhos resultam de um concurso público internacional, iniciado em dezembro de 2016, que, face aos valores envolvidos, teve um prazo de tramitação processual de mais de seis meses. Para a Câmara Municipal de Portimão, a intervenção é extremamente importante face ao estado atual da maior parte dos espaços verdes do concelho e visa, numa primeira fase, a limpeza e recuperação dos mesmos e posterior manutenção das novas espécies vegetais que serão introduzidas .

76


77

ALGARVE INFORMATIVO #113


ATUALIDADE

RELATÓRIO DE EXECUÇÃO DE 2016 DO ALGARVE 2020 FOI APROVADO POR UNANIMIDADE

A

Comissão de Acompanhamento do Programa Operacional Regional CRESC ALGARVE 2020 aprovou, por unanimidade, o relatório de execução anual de 2016, durante a sua oitava reunião que decorreu na Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR Algarve), em Faro. Associado à realização desta reunião e ALGARVE INFORMATIVO #113

integrado no programa de trabalho, o gestor do Algarve 2020, Francisco Serra, e os representantes da Comissão Europeia, Luís Boris e Rosalina Bernon, visitaram alguns projetos e obras financiadas nos municípios de Loulé e São Brás de Alportel. «O primeiro Smart Resort do mundo». É assim que a empresa municipal INFRALOBO, que gere as infraestruturas e os serviços de 78


Vale de Lobo, se classifica depois de introduzida a estratégia de modernização e capacitação administrativa que permite a todos os residentes solicitar a prestação de serviços e melhorar os custos de contexto, que são um estrangulamento para a competitividade da empresa, especialmente importante quando a atividade desenvolvida se insere nas atividades de interesse geral. Trata-se de um projeto alinhado pela Estratégia Regional de Investigação e Inovação para a Especialização Inteligente (RIS3 Algarve), prevendo-se um investimento total de 520 mil euros, comparticipado pelo ALGARVE 2020 no montante de 416 mil euros. Posteriormente, a comitiva visitou diversas operações de requalificação

79

integradas no Plano de Ação de Regeneração Urbana (PARU) de São Brás de Alportel, com particular destaque para a intervenção no Largo de São Sebastião e ruas adjacentes, igualmente apoiada pelos Fundos Europeus com uma comparticipação de 414 mil euros, correspondente a 65 por cento do investimento global de 636 mil euros, realizada no contexto da estratégia regional coordenada pela AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve. Estas visitas de acompanhamento aos projetos em curso e/ou concluídos é uma prática habitual da CCDR Algarve, como forma de promover um contacto direto com os resultados e impactos reais das iniciativas apoiadas pelo ALGARVE 2020, desenvolvido no âmbito do Acordo de Parceria do PORTUGAL 2020 .

ALGARVE INFORMATIVO #113


ATUALIDADE

ALGARVE REFORÇA EMPENHAMENTO NA MITIGAÇÃO E ADAPTAÇÃO ÀS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

A

s entidades que constituem o Conselho Regional da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR Algarve) reafirmaram o seu empenhamento em cooperar e contribuir, no exercício das suas atribuições e competências, para a concretização do Programa Nacional para as Alterações Climáticas (PNAC) e da Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas (ENAAC), nomeadamente, na implementação eficiente de medidas de mitigação e adaptação e na promoção da sua integração nos programas e planos territoriais com incidência espacial regional e local. Esta posição foi adotada por unanimidade na última sessão deste ALGARVE INFORMATIVO #113

órgão consultivo da CCDR Algarve, presidido pelo edil de Loulé, Vítor Aleixo, que representa os vários interesses e entidades relevantes para a prossecução dos seus fins e integra os 16 municípios algarvios, representantes das freguesias e universidades, de várias instituições e organismos públicos, das associações empresariais e de desenvolvimento local. Considerando que as alterações climáticas são uma das maiores ameaças ambientais, sociais e económicas que o planeta e a humanidade enfrentam, que são cada vez mais os estudos científicos e as instituições internacionais que demonstram as mudanças no sistema climático global e que apontam o sul da Europa como uma das áreas potencialmente mais afetadas pelas 80


alterações climáticas, impõe-se alterar comportamentos e fazer a transição de paradigma para uma economia de baixo carbono. Por isso mesmo, a ação climática, a eficiência na utilização de recursos e matérias-primas, bem como a energia segura, não poluente e eficiente, constituem desafios societais no quadro da Europa 2020. Os membros do Conselho Regional sublinham ainda que, no Quadro Estratégico para a Política Climática, existe a convicção política, científica e técnica de que as alterações climáticas são uma realidade e uma prioridade nacional, face aos seus impactos futuros sobre a nossa sociedade, economia e ecossistemas. Por outro lado, o PNAC, bem como a ENAAC, inferem trajetórias custo-eficazes e um conjunto de orientações para as políticas setoriais, que contribuem para os objetivos de redução de emissões de gases do efeito estufa, de energias renováveis e de eficiência energética, sendo que esta matéria também merece a devida consideração no âmbito do Acordo de Parceria PT 2020, estando suportada pelo apoio dos fundos europeus estruturais e de investimento, quer nos programas operacionais temáticos, quer nos regionais. Sintonizado com estas preocupações, o Programa Operacional do Algarve CRESC ALGARVE 2020 prevê a mobilização de apoios financeiros para promover uma região assente num desenvolvimento mais sustentável, promotor da eficiência energética, da utilização de energias renováveis, de estratégias de baixo teor de carbono, por exemplo, pela afirmação de modos de mobilidade suaves, de forma a prevenir algumas das maiores 81

ameaças à qualidade ambiental e à socioeconomia identificadas no Plano Regional de Ordenamento do Território do Algarve, como sejam a sensibilidade da linha de costa, as dinâmicas de carácter erosivo e a vulnerabilidade do território regional à desertificação do solo, às alterações climáticas e ao despovoamento, em particular nos territórios de baixa densidade. Outros programas territoriais em elaboração com incidência regional, como sejam a alteração do Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território, o Programa Regional de Ordenamento Florestal (PROF) ou o Plano de Ordenamento da Orla Costeira VilamouraVila Real de Santo António também assumem as alterações climáticas como condicionantes incontornáveis das determinações que neles venham a ser consagradas e diferentes municípios algarvios têm vindo a adotar estratégias locais de longo prazo para mitigação e adaptação às alterações climáticas, em consonância com as estratégias europeia e nacional de adaptação às alterações climáticas, destacando-se o papel de liderança do Conselho Coordenador da Rede de Municípios para a Adaptação Local às Alterações Climáticas, assumido por Vítor Aleixo, em 31 de março. Com esta posição, o órgão consultivo da CCDR Algarve assume e reconhece que as vulnerabilidades do Algarve às alterações climáticas vêm incrementando uma maior intensificação do diálogo e da cooperação neste âmbito específico entre os diferentes atores regionais bem como uma maior consciencialização dos cidadãos e da sociedade civil quanto a esta problemática.

ALGARVE INFORMATIVO #113


ATUALIDADE

REQUALIFICAÇÃO URBANA DO PARQUE VERDE DA RIBEIRA DE ALJEZUR AVANÇA DEPOIS DO VERÃO

F

oi aprovado pela Câmara Municipal de Aljezur, no dia 13 de junho, o Relatório Final e a adjudicação da empreitada da requalificação urbana da Rua 25 de abril e do Parque Verde da Ribeira de Aljezur à empresa «Impactpotencial, Lda», pelo valor de 270 mil e 901,34 euros + IVA, com o prazo de execução de 120 dias. A artéria tem uma função prioritária na organização funcional da vila e a concentração de usos é justificada pela coincidência do eixo de mobilidade regional (Estrada 120), com o centro urbano. A requalificação desenvolve-se numa área de aproximadamente dois mil e 700 metros quadrados e numa extensão de 220 metros de passeio ribeirinho, na continuidade do passeio pedonal existente, em espaço resultante de

ALGARVE INFORMATIVO #113

demolições de edificações que configuravam a frente nascente da rua. A intervenção vai incidir ao nível das superfícies pavimentadas, delimitação da margem construída com inclusão de acessos à margem natural e de elementos construídos que estimulem a permanência e o usufruto da paisagem natural das margens e a circulação longitudinal da frente urbana. O perfil da faixa viária também vai ser melhorado com um pequeno alargamento e inclusão de lugares de estacionamento. A obra terá início no final da época de Verão, por razões que se prendem com o afluxo turístico que se registará nesta época. Este projeto/obra foi objeto de formalização de candidatura ao programa CRESC ALGARVE 2020 e contará com uma contrapartida financeira de 70 por cento .

82


83

ALGARVE INFORMATIVO #113


ATUALIDADE

CCMAR PARTICIPA EM DOIS PROJETOS EUROPEUS DE AQUACULTURA

O

CCMAR é o único parceiro português a participar em dois projetos de grande importância na área da Aquacultura no Mediterrâneo. Os investigadores do Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve estarão ligados, nos próximos anos, a peritos de vários países e tentarão com estes dois projetos melhorar um setor que não está a dar resposta ao mercado de consumo, uma vez que a Europa consome, atualmente, o dobro de peixe que produz, uma lacuna que tem vindo a ser colmada por via de importações. Apesar deste facto, a Aquacultura contribui com apenas 20 por cento da produção, empregando diretamente cerca de 85 mil pessoas, maioritariamente em zonas costeiras e ALGARVE INFORMATIVO #113

rurais. Em contraste com o desenvolvimento observado noutros países mediterrânicos não europeus, a produção em Aquacultura está a estagnar na Europa, o que levou mesmo a Comissão Europeia a definir como objetivo o aumento da produção do setor. O projeto PerformFISH foca-se no desenvolvimento da produção em aquacultura, orientada para o consumidor, integrando abordagens inovadoras, que ajudem a assegurar a competitividade e sustentabilidade do setor de produção de dourada e robalo. O projeto MedAID (Mediterranean Aquaculture Integrated Development) é considerado projeto irmão do PerformFISH, arrancou em maio e tem como objetivo melhorar a produção aquícola no Mediterrâneo.

84


O PerformFISH, coordenado pela University of Thessaly, na Grécia, tem um financiamento de sete milhões de euros (Comissão Europeia - H2020). Neste projeto, o CCMAR é um dos 28 parceiros que fazem parte da equipa, oriunda de dez países diferentes. O arranque dos trabalhos aconteceu em maio, na Grécia, numa reunião onde participaram 72 investigadores e empresários do setor. A participação da indústria é, de resto, um dos focos deste projeto, que junta também associações de produtores da Grécia, Espanha, Itália, França e Croácia. Cinco anos é a duração do projeto que trabalhará para assegurar um crescimento sustentável da indústria aquícola, baseando-se na perceção do consumidor e demanda do mercado. O projeto pretende ajudar empresários a operar não só em condições económicas

e ambientais ideais, mas também de um modo social e culturalmente responsável. O MedAID iniciou-se também em maio e vai desempenhar um papel muito importante na identificação de fatores de sucesso para aumentar o crescimento da produção aquícola. Ao trabalhar lado a lado com a indústria e as partes interessadas no setor, vai propor novas práticas, ferramentas inovadoras e soluções práticas para os desafios que é necessário ultrapassar, com vista ao aumento do setor e da produtividade. O projeto recebeu um financiamento de sete milhões de euros da Comissão Europeia, através do fundo H2020, e é coordenado pelo Mediterranean Agronomic Institute of Zaragoza, em conjunto com o Institute of Agrifood Research and Technology of Catalonia (IRTA). O CCMAR é um dos parceiros, de entre os 30 que participam no projeto, de 12 países diferentes .

UNIVERSIDADES DO ALGARVE E DE LEICESTER JUNTAS NA INVESTIGAÇÃO

A

Universidade do Algarve acaba de estabelecer, através do CBMR – Centro de Investigação em Biomedicina, um protocolo de colaboração com a Universidade de Leicester, do Reino Unido. O acordo visa o desenvolvimento de projetos de investigação conjuntos nos quais parte da pesquisa é realizada nas unidades de investigação do CBMR e entrará em vigor já em junho, altura em que a Universidade do Algarve receberá o projeto de investigação biomédica «Avaliação da erradicação da Shigelose por tratamento com bacteriófagos em Mus músculos». 85

Este projeto tem como principal objetivo avaliar a capacidade terapêutica de bacteriófagos no combate à Shigelose, um flagelo que afeta milhares de crianças nos países em vias de desenvolvimento. É liderado por Martha Clokie e Nathan Brown, da Universidade de Leicester, tem financiamento da Fundação Bill e Melinda Gates e será entregue à colaboração dos investigadores Karl Magnus Petersson, Inês Araújo e Vítor Fernandes que, através da unidade de experimentação animal, ajudarão a desenvolver esta pesquisa .

ALGARVE INFORMATIVO #113


ALGARVE INFORMATIVO #113

86


87

ALGARVE INFORMATIVO #113


DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 5852 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina

A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos.

ALGARVE INFORMATIVO #113

88


89

ALGARVE INFORMATIVO #113


ALGARVE INFORMATIVO #113

90


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.