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ALGARVE INFORMATIVO Revista semanal - 21 de dezembro, 2019

ENCERRARAM PORTIMÃO CIDADE EUROPEIA DO DESPORTO 2019 1

BEST YOUTH MAR DE ARAL ÓPERA ROCKS RICARDO TEODÓSIO ESTÁTUAS VIVAS EM LAGOA ATAS DE VEREAÇÃO DE LOULÉ TRAIL RUNNING NO ALGARVE FESTIVAL DA COMIDA ESQUECIDA ALGARVE INFORMATIVO #231


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40 - Ricardo Teodรณsio

16 - Portimรฃo CED 2019

52 - Trail Running no Algarve ALGARVE INFORMATIVO #231

30 - Festival da Comida Esquecida 8


84 - Atas de Vereação de Loulé

124 - Estátuas Vivas de Natal em Lagoa

96 - Best Youth no TEMPO

136 - Livro «Mar de Aral»

apresentado em Loulé

OPINIÃO 108 - Paulo Cunha 110 - Mirian Tavares 112 - Ana Isabel Soares 114 - Fábio Jesuíno 116 - Carla Serol 118 - Fernando Esteves Pinto 70 - «Ópera Rocks» em Loulé 9

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PORTIMÃO CIDADE EUROPEIA DO DESPORTO 2019 CHEGOU AO FIM EM APOTEOSE Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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Portimão Arena recebeu, no dia 13 de dezembro, o espetáculo de encerramento de Portimão – Cidade Europeia do Desporto 2019, fechando assim com chave de ouro um ano em cheio e que superou todas as expetativas. A noite memorável começou com o revisitar, em formato multimédia, de um ano muito intenso e com a participação do talentoso bailarino Cifrão, acompanhado por oito dançarinos profissionais, que puseram a assistência a dançar ao som de «Acredita!», o hino de Portimão – Cidade Europeia do Desporto 2019 composto pela banda Amor Electro. Seguiram-se as intervenções da presidente da Câmara Municipal de Portimão, Isilda Gomes, do presidente do ALGARVE INFORMATIVO #231

ACES Europe, Gian Lupattelli, e do Ministro da Educação, Cultura e Desporto, Tiago Brandão Rodrigues, que não pouparam elogios aos feitos do concelho algarvio em 2019. “Aquilo que era um sonho, tornou-se realidade, e hoje estamos aqui porque somos uns vencedores”, declarou Isilda Gomes, agradecendo a todas as forças de segurança, entidades e organismos que apoiaram a autarquia portimonense nesta aventura. “Obrigado aos atletas, padrinhos, patrocinadores e entidades parceiras da CED 2019, movimento associativo, voluntários, técnicos e trabalhadores da Câmara Municipal. Se não fosse esta rede, não teríamos atingido os objetivos, nem teríamos ido tão longe. Foi graças a todos vós, aos portimonenses, que conseguimos chegar aqui”, garantiu a edil. 18


Com obra feita e reconhecida em todo o país e por essa Europa fora, Isilda Gomes afirmou que “os melhores estão em Portimão”, até porque Portimão foi mesmo considerada a melhor Cidade Europeia do Desporto de 2019, um prémio que a autarca partilhou com todos aqueles que estiveram envolvidos, com “imenso entusiasmo, dinamismo, vontade e determinação”, no projeto. “Portimonenses, estamos todos de parabéns e o desporto não vai parar em Portimão. As sementes estão lançadas, a dinâmica foi criada, a vitória serviu também para nos dar mais energia e força para irmos cada vez mais longe. Estaremos aqui todos para engrandecer Portimão, o Algarve e Portugal”,

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salientou, não escondendo a felicidade que sentia naquele momento. Parabéns a Portimão endereçou, com grande veemência, o Ministro Tiago Brandão Rodrigues. “As Cidades Europeias do Desporto em Portugal têm sempre superado as expetativas e Portimão voltou a fazê-lo. Esta noite, Portimão é a cidade mais bela e importante do Mundo. E uma palavra especial para o presidente e para o delegado regional do Instituto Português do Desporto e da Juventude, por todo o trabalho que também fizeram para que este sucesso fosse possível”, destacou, referindo, logo de imediato, que a palavra mais importante ia para o movimento

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associativo, para os clubes desportivos, para a comunidade educativa. “Todos souberam abraçar esta Cidade Europeia do Desporto. Portimão agarrou esta oportunidade e deixou um verdadeiro legado. Portimão vai continuar a ser a ALGARVE INFORMATIVO #231

Cidade do Desporto nos próximos anos”, anteviu o governante, antes de deixar o palco livre para a banda HMB, que protagonizou um concerto recheado dos seus sucessos musicais . 20


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FESTIVAL DA COMIDA ESQUECIDA LEVOU PARTICIPANTES À HORTA E TERMINOU COM ALMOÇO NA QUINTA DA TOR Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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Festival da Comida Esquecida, evento integrado no programa cultural «365 Algarve» teve mais um episódio no dia 8 de dezembro, desta feita no formato «Colher e Cozinhar», com os participantes, armados de cestos e alcofas, e reforçados pelas rosquinhas de azeite, a percorrerem logo pela manhã a horta de Álvaro Coelho, sem saberem muito bem o que iam colher, cozinhar e muito menos comer. Ao fim da manhã tinham apanhado pimentos, bolotas, laranjas, melões e romãs, seguindo depois para a Quinta da Tor, onde o talento culinário de Jesus Dias já estava de posse das couves da horta e a ALGARVE INFORMATIVO #231

ser aplicado num tradicional cozido de repolho e feijão com batata-doce, acompanhado de carne de porco. Os fãs da comida esquecida aplicaram-se nos pimentos assados, bolotas cozidas com erva doce, salada de cenoura, tempero de azeitona e sumo de laranja. O almoço terminou com pudim de pão e amêndoa, pudim de abóbora e coco e bolo de maçã, num evento que contou ainda com a presença do presidente da Câmara Municipal de Loulé, Vítor Aleixo, e da Secretária de Estado Adjunta e do Património Cultural, Ângela Ferreira. Que, para além do rico manjar, tiveram igualmente oportunidade de ficar a conhecer os excelentes vinhos produzidos na Quinta da Tor . 32


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João Fernandes, Dália Paulo, Vítor Aleixo, Ângela Pereira, Adriana Nogueira e Anabela Afonso

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RICARDO TEODÓSIO QUER SER BICAMPEÃO NACIONAL DE RALIS EM 2020 Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina e Zoom Motorsport ALGARVE INFORMATIVO INFORMATIVO #231 #231 ALGARVE

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poucos dias de festejar os 44 anos de vida, Ricardo Teodósio anda numa roda-viva a preparar a próxima época desportiva e, verdade seja, praticamente não teve tempo para gozar, com a devida tranquilidade, o título de Campeão de Portugal de Ralis. Depois de, em 2017, ter sido campeão nacional da Série N, o consagrado piloto algarvio conseguiu, finalmente, ser o melhor de todos na classificação absoluta, feito que perseguia há largos, mas mesmo há largos anos, e que, por este ou aquele motivo, nunca se tornara realidade. Imagine-se, por isso, o sentimento com que recebeu o troféu, na tarde de domingo, 2 de novembro, junto ao Casino da Praia da Rocha, no término do Rallye Casinos do Algarve. “Tinha sido campeão nacional, em miúdo, nos karts, voltei a ser, em 2017, com o Mitsubishi ALGARVE INFORMATIVO #231

na Série N, e de imediato montámos um projeto a dois anos para ter campeão absoluto”, afirma, com voz emocionada, à conversa no Restaurante O Teodósio, na Guia. O objetivo em 2018 era ficar entre os cinco primeiros, para depois, em 2019, atacar o cetro nacional, e assim conseguiu. “O ano passado finalizamos na terceira posição, mas estivemos a lutar pelo campeonato até à última prova. Chegamos a Monchique em segundo lugar, a pouca distância do primeiro, mas o carro acabou por partir o motor”, conta. A história em 2019 foi diferente, Ricardo Teodósio e José Teixeira começaram a todo o gás ao vencerem o Rali de Fafe, seguindo-se um terceiro lugar nos Açores, mas até podia ter ficado em segundo. “Vencer não, era praticamente impossível apanhar o Ricardo Moura, um piloto local que também já foi campeão 42


nacional. Ganhamos em Mortágua e fazemos terceiro no Rali de Portugal, mas com uma penalização que nos ficou atravessada na garganta. No asfalto, faço segundo em Castelo Branco, a uma dúzia de segundos do Armindo Araújo, depois as coisas não nos correram de feição na Madeira”, descreve o entrevistado. Rali Vinho Madeira onde Ricardo Teodósio tinha apenas duas hipóteses: ou fazia um bom resultado, ou um mau resultado, não havia meio-termo. “Fomos lá fazer um rali antes para preparar as coisas, mas choveu, dei um toque numa parede a uma velocidade de 15 quilómetros por hora, nada de especial, mas parti o braço. No Rali Vinho Madeira o piso estava seco, mas apanhamos um troço com imenso nevoeiro e eu também não estava nos meus dias, não me

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conseguia concentrar a 100 por cento e, por isso, não me sentia com capacidade para arriscar quando era preciso”, recorda, de modo que cedo percebeu que da Madeira não viria para o continente com um bom resultado. “Das nove provas, há um resultado que podemos jogar fora e outra em que não pontuamos, o que nos obriga a definir bem a estratégia para o ano todo. Joguei fora o resultado do Rali Vinho Madeira e não pontuei no Rali Terras d’Aboboreira”. Outro percalço aconteceu uma semana antes do Rali da Marinha Grande, com Ricardo Teodósio a ter um encontro imediato com uma árvore ao volante do seu carro particular. “Fui correr com duas costelas partidas, com medicação para aguentar as dores, e perdi por seis décimas de segundo. Foi

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o rali mais disputado de 2019”, conta. E num instante se chegou ao Rallye Casinos do Algarve, para o qual teve que alugar um Skoda Fábia última versão, ligeiramente diferente do que vinha conduzindo ao longo do campeonato. “É mais fácil e leve de conduzir, o que me fez alguma confusão, gosto quando o carro dá mais luta. Mas também não precisava atacar muito em Monchique, íamos à frente do campeonato e não tinha que me meter em loucuras. Os outros é que tinham que arriscar para me apanharem”, sublinha. “Mesmo assim ainda cometi um exagero na especial de Lagos. Entrei muito depressa numa curva, o piso estava molhado, fiz um peão que me custou cerca de oito segundo para o Bruno Magalhães. No domingo, ganhei o primeiro troço, o que me deixou supertranquilo. Passei o José Pedro Fontes, passei para segundo, ainda ALGARVE INFORMATIVO #231

pensei em tentar ganhar o Rali. Só que o José Pedro Fontes bateu no troço a seguir, ficamos todos com o tempo do Bruno Magalhães para ninguém ficar penalizado, por isso, decidi ir até ao fim com calma, o título estava garantido”.

Lutar com armas diferentes Finalmente Campeão de Portugal de Ralis, o objetivo para 2020 é claro, ser bicampeão, mas Ricardo Teodósio não esconde o sonho de correr no estrangeiro, só que o orçamento não estica. “Gostava outra vez de voar um bocadinho além-fronteiras, mas tudo depende dos patrocinadores. Se conseguirmos aumentar o budget, vou correr no Europeu, o que também lhes 44


dará maior visibilidade, porque aparecemos nos jornais, revistas e televisão, tudo dependendo do resultado que se obtém”, frisa o algarvio, reconhecendo que lutar contra pilotos 45

apoiados por grandes marcas e equipas nacionais é sempre difícil. Uma dificuldade com que tem lidado em praticamente toda a sua carreira e que, em determinados momentos das ALGARVE INFORMATIVO #231


épocas, acabava por o afastar do título agora alcançado. “É uma ginástica financeira que nos afeta também psicologicamente. Tenho uma equipa fantástica em casa – a Teodósio Motorsports, um conjunto de amigos que se reuniu à minha volta. A minha mãe (Clotilde Teodósio) é a grande mentora disto tudo, o Paulo Cruz teve a ideia de fazermos o campeonato absoluto com o R5, o João Luz vai abraçar outro projeto em 2020, o José Teixeira é o meu navegador, a que se juntam o Estevinha, o Nuno Russo e o Sérgio Lourenço. Eu quase que só conduzo, eles tratam de tudo o resto”, enaltece. Nas corridas, Ricardo Teodósio veste as cores da ARC Sport, que trata do carro, do seu «menino», num trabalho de equipa que foi crucial para o sucesso em 2019. ALGARVE INFORMATIVO #231

“Uma mão sozinha não dá muito jeito para lavar a cara, com as duas é que se faz um bom trabalho”, declara, o que não significa que lutar contra Armindo Araújo, José Pedro Fontes, Bruno Magalhães e outros seja fácil. “Somos todos bons e, agora, somos todos campeões nacionais, mas os orçamentos são diferentes. Nós temos que dar muitas voltas à cabeça, estar sempre a fazer contas, e depois ainda tive alguns imprevistos que nos obrigaram a meter mais dinheiro a meio da época para o carro estar em condições. Não posso partir nada e tenho que terminar as provas para pontuar, o que também implica um trabalho de casa bastante grande”, alerta o entrevistado. “Estar fora de casa e não acompanhar a minha mulher e os filhos afeta-me muito, assim como não dar o apoio que devia 46


dar aqui no restaurante. Ainda há uns dias o meu filho Salvador, de oito anos, me perguntou se eu gostava mais dos ralis ou de estar com ele e a mãe. Uma pessoa fica com um nó na garganta, tive que lhe explicar que, como é óbvio, gosto mais deles, mas que os ralis são o meu trabalho. Gerir os euros, os dias que passo em competição e nos treinos, as horas que estou em frente ao computador a estudar as provas, é extenuante”, confessa. Quando o trabalho de casa não é bem feito, Ricardo Teodósio garante que é impossível ser-se campeão nacional de ralis e a vontade, garante, é repetir o feito em 2020, embora tenha consciência de que, agora, vai ser o principal alvo a abater pela concorrência. “Eu continuo a conduzir da minha maneira, não faço manobras para entreter o público. Os

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próprios engenheiros da equipa não compreendiam bem o meu estilo, mas a verdade é que os resultados aparecem. Claro que, quando as condições do terreno não são as melhores, tenho que me conter um pouco, mas há situações em que preciso conduzir ainda mais «atravessado» para me defender de problemas no carro”, descreve. “O objetivo é ser campeão e, para isso, não posso estar a fazer peões numa zona espetáculo, mesmo que tenha alguma vantagem para os outros concorrentes. Nunca se sabe quando pode acontecer um azar e todos os segundos contam”. Ricardo Teodósio explica ainda que o Skoda Fábia R5, sendo um 1.600 cavalos, não lhe permite «brincar» tanto como o Mitsubishi Lancer que conduzia

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antigamente. “O Mitsubishi tem um motor de dois litros, tem mais binário e, mesmo que me meta em aventuras, como tenho mais cavalos, consigo tirá-lo de lá sem chatices nenhumas. O Skoda é completamente diferente, é um carro de corrida feito de raiz”, distingue. “A ancoragem e suspensões não têm nada a ver com a versão comercial. O desenho da carroceria é igual, mas só se aproveitam os faróis, a mala, as portas da frente, o capot é todo cortado, os guarda-lamas são distintos, os vidros laterais são em policarbonato para ficar mais leve. Há várias proteções por baixo do carro, umas em alumínio, outras em fibra, para que o centro de gravidade vá o mais baixo possível. É impressionante como o carro faz as curvas e passa pelas zonas de mau piso”, comenta o experiente piloto. Com uma máquina de respeito nas mãos, cabe a Ricardo Teodósio fazer aquilo que melhor faz, conduzir, mas também gerir a estratégia do campeonato prova a prova, ainda que o objetivo seja sempre vencer todos os ralis. “No entanto, se temos um furo ou damos um toque que nos faça perder tempo, já temos que reformular a estratégia. Se não dá ganhar, trabalhamos para ficar em segundo, outras vezes em terceiro, às vezes simplesmente acabar o rali. A Skoda Motorsport colocou um dos seus engenheiros ao serviço da nossa equipa, o que mostrou ser uma enorme maisvalia”, destaca o entrevistado. “Ele já percebeu como é que eu gosto de conduzir e molda o carro nesse sentido”, confirma, com um sorriso. Terminada a época, foi tempo de ALGARVE INFORMATIVO #231

começar logo a preparar a nova temporada, porque ser campeão nacional não quer dizer que o orçamento dispare, para pena de Ricardo Teodósio. “Tinha pensado descansar um bocadinho e compensar a minha mulher até ao Natal pelo tempo todo passado fora de casa, mas não consegui. A «máquina» não para, andamos sempre em reuniões, porque era bom aparecer aqui um patrocinador principal a acenar com 48


umas centenas de milhares de euros, mas isso não acontece”, desabafa o algarvio. “O nosso orçamento é de 500 mil euros, é muito dinheiro, mas está feito sem qualquer folga, sem contabilizar imprevistos, acidentes, problemas com o carro. Não tenho 100 mil euros para «porradas», embora isso até fosse o mais normal. Os patrocinadores vão dar mais algum dinheiro em 2020, mas não chega para fazer o campeonato todo sem chatices. 49

O Paulo Cruz, por exemplo, passa 365 dias por ano só em contatos com patrocinadores, quando, no passado, havia anos em que eu tinha que fazer tudo. Era piloto, mecânico, engenheiro, vendedor de publicidade e assim não é possível estar-se 100 por cento focado na condução”, garante, terminando com uma promessa: “O objetivo em 2020 é voltar a ser campeão e tentar fazer uma prova internacional” . ALGARVE INFORMATIVO #231


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ÊXITO DO ALUT ELEVOU FASQUIA PARA 2020 Texto: Daniel Pina | Fotografia: Luís Lopes

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hegou ao fim, no dia 1 de dezembro, no Farol do Cabo de São Vicente, em Sagres, a terceira edição do ALUT – Algarviana Ultra Trail, vencida pelo escocês Paul Giblin, mas isso não significa que a direção da ATR – Algarve Trail Running tenha entrado de férias, porque há que começar logo a preparar o ALGARVE INFORMATIVO #231

novo ano. Um ano em que a fasquia estará colocada mais alto, face ao sucesso das duas provas que organiza, o ALUT e o UTRP – Ultra Trilhos Rocha da Pena. “O ALUT superou as nossas expetativas e conseguimos atingir os dois principais objetivos a que nos tínhamos proposto. Do ponto de vista desportivo, o tempo do primeiro classificado diminuiu significativamente em relação aos 54


De acordo com o presidente da direção da ATR, a cobertura mediática do ALUT de 2019 foi bastante positiva, não só pelos meios especializados nesta modalidade, mas também dos canais generalistas. E, como de costume, as inscrições foram todas preenchidas com atletas provenientes de vários pontos do globo. “Em três anos tornou-se uma prova de referência internacional, que era o posicionamento pretendido pela organização. Apesar disso, não vamos aumentar o limite das 100 inscrições. É um número que nos permite manter a excelência da prova, dar resposta a todas as necessidades e tratar os atletas pelos seus nomes e não pelo seu dorsal”, justifica, acrescentando que, na linha de partida, estiveram presentes somente 92 atletas, uma vez que há sempre lesões ou imprevistos de última hora.

Germano Magalhães, presidente da direção da ATR - Algarve Trail Running

anos anteriores e tivemos um vencedor diferente, o que também aumenta a competitividade da prova, ainda para mais um estrangeiro, o que confere maior notoriedade internacional. Em paralelo, conseguiu-se novamente promover o interior da região, o «outro» Algarve, enquanto destino na época baixa para a prática do desporto”, analisa Germano Magalhães. 55

Partiram de Alcoutim 92 corredores, mas 42 por cento deles ficaram pelo caminho, revela o entrevistado, o que comprova a dureza do ALUT. “Na primeira edição houve pessoas que, de facto, foram apanhadas de surpresa pelas condições climáticas que encontraram no terreno. Agora, o passa-a-palavra é enorme, toda a gente sabe ao que vem, quais as dificuldades que vão ter que ultrapassar, a preparação é maior. Para além disso, há uma percentagem bastante interessante de atletas que vieram pela segunda vez. Aqui, o principal obstáculo a vencer é do foro mental, porque correr à noite não é para qualquer um e há muitos que acabam mesmo por desistir”, observa ALGARVE INFORMATIVO #231


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Germano Magalhães, falando de uma “viagem interior de cada um” e não de uma simples corrida. Quanto ao percurso do ALUT, sofreu alterações da primeira para a segunda edição, mas permaneceu idêntico em 2019 e assim deverá acontecer em 2020, tendo em conta o êxito registado este ano. “Há aqui um conjunto de fatores que contribui para o sucesso da prova – a beleza natural, o clima, o renome do Algarve – mas existe um outro que é fundamental: o empenho, a disponibilidade, a atenção, a empatia de todos os voluntários”, enaltece Germano Magalhães, aproveitando para elogiar ainda a participação da própria população local. “De ano para ano o seu envolvimento tem sido cada vez maior, na preparação da comida, nos abastecimentos, nas palavras de 57

incentivo ao longo do percurso. No primeiro ano vimos, em aldeias isoladas, sacos de comida pendurados nas portas de casa. Agora temos populações inteiras na rua, às duas da manhã, de pijama, a ver os atletas passar. E, para essas pessoas, as suas terras aparecerem na televisão faz uma grande diferença”, garante o dirigente. Trail que já não é uma moda, a modalidade está perfeitamente consolidada em Portugal, mas as ultramaratonas são um caso à parte, para a elite, admite Germano Magalhães. “Também não pretendemos que o ALUT se torne uma prova de massas. Não estamos a falar de uma maratona, portanto, não é qualquer um que reúne condições físicas e psicológicas para chegar à ALGARVE INFORMATIVO #231


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meta”. Quanto aos algarvios, como é que se comportam contra os seus adversários estrangeiros, questionamos. “Temos uma aptidão natural para este género de prova, aliás, a vencedora feminina foi a Patrícia Carvalho, uma olhanense que reside na Escócia há alguns anos. O Filipe Conceição é quase um caso de estudo, conhecido em tudo o que seja provas de longa distância. Sem serem algarvios, o João Oliveira venceu as duas primeiras edições do ALUT e o Rui Sequeira ficou em segundo lugar este ano”, aponta.

UMA AJUDA PRECIOSA PARA COMBATER A DESERTIFICAÇÃO DO INTERIOR Não só de ALUT se faz, porém, o programa de atividades da ATR, que 59

organiza outra das principais provas de trail running de Portugal, o UTRP, realizado, em agosto, em Salir, no interior do concelho de Loulé. Tarefa que não é fácil para uma associação recente e pequena, onde os recursos são limitados. “A associação nasceu formalmente em 2015 e tem vindo a ser cada vez mais reconhecida enquanto organizadora de eventos. Chegamos a dinamizar cinco provas num ano e não há aqui dirigentes profissionais, o que implica muitas noites sem dormir para preparar isto tudo”, confessa o presidente da direção. “No ALUT, delinear o percurso está mais facilitado, porque a esmagadora maioria decorre ao longo da Via Algarviana, muito bem gerida pela Associação Almargem. No UTRP, tentamos sempre inovar de uma edição para a outra, o que nos obriga a ALGARVE INFORMATIVO #231


estar constantemente a abrir e limpar os trilhos, com o envolvimento próximo da população local. Temos o apoio da Associação Cultural de Salir e do Salir TT, que nos ajudam em tudo aquilo que precisamos, mas reunir apoios financeiros é bastante complicado”. A vertente mais internacional e de promoção do interior algarvio garante ao ALUT o apoio, por exemplo, da Região de Turismo do Algarve e das autarquias por onde passa a prova, ao passo que, no URTP, há ajudas significativas da Junta de Freguesia de Salir e da Câmara Municipal de Loulé. Apesar de tudo, o balanço fica sempre muito próximo do zero, garante Germano Magalhães. “Sabemos que há bastantes atletas que depois acabam por regressar ao Algarve, seja em treino ou de férias com a família, devido à ALGARVE INFORMATIVO #231

experiência que viveram no ALUT e no UTRP. E, enquanto temos pessoas nos trilhos, a correr ou a passear, estamos também a contribuir para a prevenção de incêndios, para a conservação do meio ambiente. O principal problema do interior é a falta de pessoas e, ao conseguirmos levar amantes do trail para essas zonas, estamos a ajudar a combater a desertificação”, sublinha o entrevistado, lembrando que a organização apoia, inclusive, os bombeiros na identificação de caminhos na serra para mais depressa chegarem às ocorrências. O bom trabalho realizado pela ATR Algarve Trail Running levou, entretanto, à criação de uma equipa para participar no circuito nacional e em provas internacionais e são todos estes atletas 60


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que, quando não estão a correr, ajudam como voluntários, enaltece Germano Magalhães. “Fomos a primeira associação e equipa de trail que surgiu no Algarve, neste momento existem outras, como é natural, face à massificação da modalidade. E esta evolução gerou até o aparecimento de equipas profissionais, com muitos apoios financeiros, um patamar que não conseguimos alcançar. Mesmo assim, os nossos atletas lutam taco-a-taco contra qualquer equipa do resto do país”, assegura. Por tudo isto, as expetativas são elevadas para 2020, ALGARVE INFORMATIVO #231

acrescenta o dirigente. “Vamos conseguir apoiar de melhor forma os atletas da nossa equipa, o que deverá conduzir a melhores resultados. Quanto aos eventos, o dia 8 de agosto reserva mais uma novidade para o UTRP: vamos fazer a distância de 100 quilómetros, juntando-se aos percursos de 25 e 50 quilómetros. No ALUT, que acontece no último fim-desemana de novembro, a responsabilidade será ainda maior, a fasquia aumentou”, adianta . 62


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«ÓPERA ROCKS» CONTOU HISTÓRIA DE AMOR CLÁSSICA NO CINE-TEATRO LOULETANO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Irina Kuptsova

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o dia 14 de dezembro subiu ao palco do Cine-Teatro Louletano mais um cativante projeto musical original da associação cultural Ideias do Levante, denominado «Ópera Rocks», que junta em palco, num encontro improvável e cativante, duas grandes vozes: a soprano Carla Pontes e o cantor e guitarrista Ray van Duijvenbode. O espetáculo é uma história de amor clássica, na qual uma estrela de rock (Freddy) entra na vida de uma diva, a soprano Maria. A história é apresentada ao público por um narrador que nos coloca na vida de ambos. Os dois protagonistas são acompanhados ao piano por Cristina Silva, contando na narração com Mário Rui Filipe. ALGARVE INFORMATIVO #231

A proposta integrou-se numa forte aposta na área musical, privilegiando originalidade e ecletismo, que a programação artística do Cine-Teatro tem vindo a seguir nas últimas temporadas, indo assim também ao encontro de diferentes públicos e sensibilidades. Por outro lado, o CineTeatro Louletano continua a estimular e envolver na sua estratégia cultural projetos de criação nascidos no Algarve na área das artes performativas, quer provenientes de associações culturais e outras estruturas independentes, quer de artistas em nome individual. A Ideias do Levante pretende, desde a sua génese, encetar esforços em identificar, promover, criar e divulgar atividades culturais, empreender formações no mesmo âmbito, debater ideias e promover culturalmente a região algarvia . 72


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Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

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s Atas da Vereação de Loulé constituem um tesouro que não é apenas de Loulé ou de Portugal, mas sim de todo o mundo, e que é imperativo preservar e divulgar, para que seja legado às gerações vindouras. Esta foi a ideia transmitida pelos intervenientes na sessão comemorativa dos 635 anos das primeiras Atas de Vereação de Loulé, as mais antigas de Portugal e classificadas como «Tesouro Nacional» em junho do corrente ano. Na noite de 12 de dezembro, no CineTeatro Louletano, falou-se da importância destes testemunhos escritos datados dos ALGARVE INFORMATIVO #231

séculos XIV e XV, numa «mesaredonda» moderada pela jornalista Rosa Veloso que contou com a presença de Maria Helena da Cruz Coelho, da área da História, Eduardo Vera-Cruz, da área do Direito, e Silvestre Lacerda, da área da Arquivística. “A raridade destes 11 livros de Atas” que, no seu conjunto, foram distinguidos como bens arquivísticos de interesse nacional, foi um fator decisivo para esta classificação, de acordo com a docente da Universidade de Coimbra, Maria Helena da Cruz Coelho. Apesar do elevado número de atas lavradas nas reuniões de Câmara durante a Idade Média, em vários municípios do país, a esmagadora maioria perdeu-se sobretudo devido à fragilidade dos documentos feitos em 86


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papel, restando apenas como principais conjuntos, para além de Loulé, os do Porto e do Funchal. No entanto, é de Loulé a Ata mais antiga (1384) e o conjunto mais completo. A historiadora Maria Helena da Cruz Coelho sublinhou a importância dos conteúdos destes documentos, que integram um espaço temporal compreendido entre 1384 e 1497, que abarca a crise dinástica, ilustrando a vida de Loulé nos mais variados aspetos, mas que contêm um espaço geográfico bem mais amplo. “Os assuntos não são só de Loulé, são nacionais e também à escala global”, explicou. Já Eduardo Vera-Cruz, docente de Direito da ALGARVE INFORMATIVO #231

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Universidade de Lisboa, sublinhou a importância histórico-jurídica destes documentos que permitem, por exemplo, comparar a lei vigente do século XIV, possibilitando, a partir daí, fazer uma série de estudos sobre o poder local. E é precisamente por essa notoriedade, ao mesmo nível daquela da Carta de Pêro Vaz de Caminha ou do Tratado de Tordesilhas, que estas Atas são uma parte integrante e um contributo para identidade nacional e constituem “monumentos enquanto evidências das vivências em sociedade”, sendo, como tal, fundamental a sua preservação. Até porque foi graças ao cuidado das consecutivas vereações que estas Atas chegaram até aos tempos modernos e fazem com que o Município de Loulé tenha ainda mais responsabilidade nesta 89

matéria, como sublinhou o responsável pela Direção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas, Silvestre Lacerda. As Atas continuarão à guarda da Câmara Municipal de Loulé que, para além da permanência ao nível da conservação, terá ainda outras responsabilidades, como a transcriação, adequação e disponibilização, por exemplo, através da internet. A partir de agora, os três especialistas responsáveis pelos pareceres e classificação de «Tesouro Nacional» acreditam que há um manancial de áreas a explorar, desde logo que estas atas sejam o ponto de partida para novas investigações, estudos, o mote para ciclos de congressos, para as escolas, as artes criativas e performativas ou a divulgação nos ALGARVE INFORMATIVO #231


meios de comunicação social. Mas a historiadora Maria Helena da Cruz Coelho foi mais longe, e considerou que estes valiosos documentos, que são também “um pedaço da história da cristandade medieval”, poderão atrair turistas à cidade, constituindo-se como uma componente importante do turismo científico-cultural, cada vez mais em voga. “Queremos que este tesouro possa reluzir cada vez mais”, afirmou a docente da Universidade de Coimbra.

Autarquia o início do processo de classificação das Atas medievais de Loulé como «Tesouro Nacional». Foi também ele o principal organizador do programa comemorativo do 40.º aniversário do 25 de Abril no concelho de Loulé, com um conjunto de ações que permitiu trazer a este município personalidades e iniciativas de grande relevância. Carlos Albino é igualmente o mentor e o Diretor da Bienal de Humanismo que arranca em 2020.

Um dos pontos altos da noite foi a homenagem a Carlos Albino, um louletano inquieto e apaixonado pela sua terra, figura indissociável da Revolução dos Cravos, jornalista conceituado, um homem que tem tido um papel importante nas atividades culturais que acontecem no concelho de Loulé e que propôs à

Visivelmente emocionado, sobretudo após as palavras do amigo de longa data Eduardo Paz Ferreira, Carlos Albino, figura determinante no passado histórico português, disse de forma clara: “Contem comigo para o futuro!”. E foi desse mesmo futuro que falou, levantando um pouco do véu daquilo

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que será a Bienal do Humanismo, adiantando que o Parque Municipal de Loulé irá acolher, já no próximo ano, «A Cidade dos Livros», iniciativa que se prevê venha a ter lugar em anos diferentes, em Loulé e em Quarteira/Vilamoura, com o envolvimento de importantes entidades ligados à leitura e ao livro. Na ocasião, Vítor Aleixo falou do homenageado como “um exemplo de dádiva à sua terra, um exemplo de generosidade, de ousadia, de querer bem à terra e de estar constantemente a sonhar transformá-la, a deitar a semente à terra para que dela possa germinar a luz”. Quanto ao papel que teve na Revolução do 25 de Abril, o presidente da Câmara Municipal de Loulé foi perentório: “Tudo o que possamos fazer para te

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agradecer esse gesto de «passar a senha» é pouco para aquilo que permitiste que coletivamente sonhássemos e fossemos, ou melhor, que sejamos. Para que, a cada dia, possamos continuar a construir esta democracia imperfeita e a perceber que temos de lutar para a aperfeiçoar, por ti e por todos os que acreditaram que era possível viver em liberdade, numa sociedade mais justa e, acreditamos, mais feliz!”. O autarca de Loulé lembrou outras pessoas importantes para a valorização e elevação do «Tesouro Nacional» que constituem as Atas de Vereação de 1384, com destaque para Joaquim Romero de Magalhães, responsável por um parecer que se incluiu no processo

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de classificação destas Atas e que, em breve, passará a ter o seu nome inscrito na fachada do Arquivo Municipal de Loulé, além do prémio de investigação criado para homenageá-lo e que terá o primeiro vencedor já no próximo ano. Vítor Aleixo falou igualmente de várias iniciativas que fazem parte da linha estratégica do Município na área patrimonial e cultural: a Revista Al-Ulya, os Cadernos do Arquivo, o Encontro de História de Loulé, catálogos de exposições e outras publicações culturais, mas também projetos como a ampliação do Arquivo Municipal, o Quarteirão Cultural de Loulé, que irá aliar ciência, cultura, património, conhecimento e educação em pleno Centro Histórico, o aspirante Geoparque Mundial da UNESCO – Geoparque Algarvensis Loulé-Silves-Albufeira ou a obra de musealização dos Banhos Islâmicos. A noite de celebração das primeiras Atas de Vereação do país encerrou com a peça de recriação histórica levada a cena de forma soberba pelo grupo Ao Luar Teatro, escrita por Rui Penas a partir dos textos desses documentos . ALGARVE INFORMATIVO #231

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BEST YOUTH SUBIRAM AO PALCO DO TEATRO MUNICIPAL DE PORTIMÃO Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

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ntre a pista de dança e o veludo das canções ouvidas em casa, os Best Youth são uma das mais versáteis bandas portuguesas da atualidade, conforme ficou bem evidente no grande concerto que deram, no dia 14 de dezembro, no TEMPO - Teatro Municipal de Portimão. Com eles trouxeram «Cherry Domino», o segundo longa-duração editado em 2018, onde se inclui um tema produzido por Patrick Wimberly, dos Chairlift, e que já trabalhou com Solange, MGMT e Beyoncé. ALGARVE INFORMATIVO #231

Em 2019, Ed Rocha Gonçalves e Catarina Salinas lançaram o EP «Demo Tapes II», com versões intimistas de alguns dos seus temas. O duo conta ainda com um EP, «Winterlies», e o muito aclamado disco de estreia «Highway Moon». Ao vivo no TEMPO, os Best Youth apresentaram-se com banda completa, acompanhados por Fernando Sousa, dos X-Wife, no baixo, Miguel Ferreira, dos Clã, nos teclados, e Gil Costa, dos White Haus, na bateria .

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A saúde de quem nos trata da saúde Paulo Cunha (Professor) á experimentaram entrar no portal do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e, com tempo e paciência, ler tudo o que sobre ele foi escrito com o intuito de comemorar os 40 anos da sua criação em 15 de setembro de 1979? Experimentem e confrontem a atraente virtualidade das palavras e imagens plasmadas no écran com a realidade que, todos os dias, os profissionais que trabalham nos Centros de Saúde e Unidades Hospitalares sentem na pele e no coração. Por certo, quando António Arnaut e os seus audazes colegas idealizaram e implementaram um serviço público geral, universal e gratuito em Portugal - financiado pelos contribuintes - de acesso aos cuidados de saúde, jamais terão pensado no estado de fadiga e desalento ao que o mesmo chegaria, 40 anos volvidos. Depois da «tempestade Troika», a recuperação do SNS tem ficado muito aquém das expetativas. Embora os dados ainda não mostrem uma situação dramática, começa a ser evidente a exaustão generalizada do SNS. Por mais discursos e respostas aos jornalistas em que atual ministra da Saúde tente apresentar o atual estado de saúde do SNS como estando estabilizado e em vias de recuperação, o esgotamento, o desalento, a impotência e a tristeza que os meus amigos profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, técnicos de diagnóstico e terapêutica, técnicos superiores de saúde, pessoal dos serviços gerais, administrativos e administradores) me expressam sentir, permitem-me constatar quem é que está a falar verdade. Aliás, para quê mais palavras quando a realidade está a um passo, basta termos (nós ALGARVE INFORMATIVO #231

ou algum familiar) que recorrer a alguma unidade do SNS perto da nossa casa. Não é preciso ter ido a uma consulta médica num Centro de Saúde, nem ter estado internado numa Unidade Hospitalar para constatarmos e aferirmos o saber, o estoicismo, a abnegação, o altruísmo e o profissionalismo dos nossos profissionais de saúde. Todos os dias, fazendo autênticos milagres, constituem-se como heróis incógnitos. Heróis a que um Estado amigo das «contas certas» deixa incertas as suas carreiras profissionais, bem como a justa e merecida remuneração pelos seus encargos enquanto profissionais do SNS. Segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), o programa da Troika foi bem-sucedido na redução de custos e no aumento da eficiência do sistema, mas restam ainda amplos desafios. “A curto prazo, os riscos para a sustentabilidade financeira do SNS parecem advir do défice de qualidade da gestão financeira nos hospitais, que está na origem de atrasos crescentes nos pagamentos a fornecedores”, escreve ainda a OCDE/OMS (Organização Mundial de Saúde). A despesa pública com Saúde (grande parte para o SNS) segue uma trajetória de queda desde 2009, tendo estagnado em 6% do PIB em 2016 e 2017. Em 2016, nenhum país europeu tinha pior opinião do estado da sua Saúde, mostram os dados do Portal da Opinião Pública. Portugal tem estado no fundo da tabela desde 2002. Alguns dos problemas, como o desgaste do material ou a falta de motivação das equipas médicas, podem ser difíceis de quantificar e como consequência a tolerância dos 108


portugueses tem vindo, obviamente, a esgotar-se. Regozijo e saúdo o anúncio por parte do atual governo da dotação no orçamento inicial do SNS para o próximo ano de mais 800 milhões de euros, incluindo, em parte, 190 milhões para investimentos nos próximos dois anos. Espero que o investimento prometido seja implementado e não cativado! Continuo a temer que o sistema continue muito voltado para a resolução de situações agudas de curto prazo, baseado no papel dos hospitais como ponto central do SNS, em vez de se focar no acompanhamento e na resolução da falta de condições a longo prazo. Além do investimento na criação de condições para os profissionais de saúde, são necessários também bons administradores que, com mais autonomia e maior responsabilização, executem uma boa gestão dos recursos humanos. Vivendo numa província esquecida pelo poder central quase todo ano, peço a quem de direito, e que pelo voto foi eleito, que retire o projeto de construção do novo Hospital Central do Algarve de uma qualquer gaveta onde periodicamente tem sido relegado e enfiado. Já em 2006, segundo um estudo desenvolvido pela Escola de Gestão do Porto, coordenado por Daniel Bessa, o Algarve encontrava-se em segundo lugar na lista para a construção de novos hospitais. 109

Os anos, entretanto, passaram e temos assim assistido à degradação física e humana das Unidades Hospitalares de Faro, de Portimão e de Lagos, dando lugar a modernas clínicas privadas (sete) onde alguns profissionais que trabalham no SNS são recrutados para prestar os seus serviços a quem é beneficiário da ADSE e pode pagar seguros de saúde. Sendo eu, e muitos como eu, leigos na matéria, penso que deveriam ser os profissionais da saúde a diagnosticar e a prescrever a receita necessária e correta para, de uma vez por todas, devolver a confiança, a satisfação e o orgulho no «nosso» Serviço Nacional de Saúde! .

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Porque é Natal Mirian Tavares (Professora) “Alguém observou que cada vez mais o ano se compõe de 10 meses; imperfeitamente embora, o resto é Natal. É possível que, com o tempo, essa divisão se inverta: 10 meses de Natal e 2 meses de ano vulgarmente dito. E não parece absurdo imaginar que, pelo desenvolvimento da linha, e pela melhoria do homem, o ano inteiro se converta em Natal, abolindo-se a era civil, com suas obrigações enfadonhas ou malignas. Será bom”. Carlos Drummond de Andrade poeta desejava que o Natal se espraiasse pelo resto do ano, e assim “Então nos amaremos e nos desejaremos felicidades ininterruptamente, de manhã à noite, de uma rua a outra, de continente a continente (...)”. Era bom que assim fosse e que o ano passasse entre saudações e presentes e presenças e festas. E que o sentido mesmo do nascimento de Cristo, até para aqueles que não creem, se tornasse uma evidência e tocasse a fundo a todos, até aos que creem, pois às vezes estes são os que mais carregam preconceitos e repetem absurdos de um livro nunca lido, ou mal lido: o Novo Testamento.

vez que prevejo o sofrimento do filho, por pequenas ou grandes coisas, por coisas que não lhe posso tirar dos ombros e que não posso sentir por ele.

Esta obra que nos fala do nascimento do filho de Deus entre as pessoas e que relata uma história de amor. Do maior amor que existe no mundo - o de um pai, ou de uma mãe, pelo seu filho. Mais ainda, pelos seus filhos, por quem ele foi capaz de abrir mão daquele que lhe era mais próximo, carne da sua carne, espírito do seu espírito. E não é fácil deixar um filho sofrer. Penso nisso cada

Como o poeta, queria que o Natal durasse o ano inteiro, mas que todos nós, os crentes, descrentes, ateus, agnósticos, percebêssemos de uma vez por todas que só o amor pode salvar. E que ele não julga, não tem preconceitos, não aponta o dedo, não deseja o mal. E assim, desejo-vos a todos um Feliz Natal, pleno de paz e de esperança e um ano cheio de muito amor.

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Aquele que celebramos no Natal, foinos dado por um pai corajoso, capaz de perceber, afinal ele era Deus, que o filho estava pronto para abarcar todo o sofrimento do mundo, para ser apedrejado, desprezado, escarnecido. Para resistir às tentações e, no fim, dar a sua vida pela dos outros. Uma religião que tem como princípio um gesto tão imensurável de amor, devia continuar a pregar este amor, maior que a morte, que atravessa os tempos, que tudo pode e que tudo supera.

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Do Reboliço #67 Ana Isabel Soares (Professora) ram quatro cães, perros pequenos. O Reboliço entrara na rua da aldeia e vira-os ao longe. Uma matilhazinha que se dispersava, nada de carreiro formigal. Eram, afinal, nada mais do que quatro, claramente desamparados uns pelos outros e cada um por quem os parira. Ainda no asfalto, a procurar o portão de armazém aonde se acoitaria durante umas horas a ver bonecos, o Reboliço apreciava a azáfama de pernas de gente a carregar cadeiras, a dispor tabuleiros e panelas grandes onde se guardava comida quente, em grandes mesas na rua, ou parados em grupos de seis e sete, conversando por baixo dos gorros de lã, e esfregando umas nas outras as palmas enluvadas. Fazia frio, que o dia era quase de Inverno. Não tinham feito lume ali na estrada: só começava a ver-se o fumo que subia e se soltava do aperto de chaminé em que se vira aflito, por cima dos telhados. A noite queria entrar, doce, mas o entardecer demorava-se e, teimoso, atirava com a humidade para cima dos ossos de humanos e de cães. Os automóveis derradeiros chegaram já depois de encostada a porta do armazém, estava o mestre de cerimónias em cima do popular palco a apresentar e a agradecer: às entidades entitárias, com frases de maior pompa, e, aí com as mãos no coração e este nelas, com calor grato aos proprietários do armazém de alfaias que albergava agora palco, teia, camarotes e plateia, aos muitos que se tinham ajuntado para forrar de palha o chão do lugar e de mantinhas azuis escuras cada assento de cadeira, e àqueles que tinham vindo assistir ao Auto de Natal da Trindade. A função demoraria perto de seis horas, e todos os presentes, participantes ou espectadores, se apresentavam com espírito de maratonista. Ajudava que a ceia lá fora ALGARVE INFORMATIVO #231

estivesse preparada, o lugar fosse aconchegante e se previssem, além da pausa para retemperamento do estômago, dois interlúdios musicais. Começado o Auto, o povo – eles e elas, mais novos e mais velhos, um ou outro tossicar, que o tempo era de aflição das vias de respiração superior – comportou-se com extremosa dedicação de público: riu das piadas do texto e, benevolente, dos enganos no dizer do texto, do cómico de barbas postiças mal amestradas, ficou sério quando os versos eram de seriedade, enterneceu-se quando vinham ao palco os mais jovens atores daquele improvisado grupo de aldeia. Passava-se tudo como devia ser. Os altos portões metálicos do armazém estavam fechados a dois terços, para que o frio não pensasse que para ali o convidavam. O terço que ficava aberto tinha a cobri-lo uma porta de pano: era fácil, portanto, afastá-la com uma mão e entrar. Ou, como vira o Reboliço, encostar um focinho preto ao tecido e, sem mais preceito empurrando-o, avançar para cima da palha fofa. Já no palco se instalava outro presépio: um grupo, dois pastores crédulos mais um incréu, fazia rir o povo; três reis do Oriente conversavam sobre como se haveriam de orientar; Maria, José e o boneco procuravam ainda onde pernoitar. E, do canto mais próximo da rua, entre o pano de porta e a primeira fila de cadeiras a seguir à entrada, enroscados como se fossem bolos sortidos (um cor de creme claro, salpicado de café; outro cor de chocolate de leite; o terceiro mais para tição enegrecido e o quarto uma mistura quase indecifrável dos três anteriores), a rosnar à vez, incomodados de cada vez que um par de pernas humanas saía ou entrava, estavam os quatro bichos112


Foto: Vasco Célio

cães, que tinham ido ao teatro para dormir quentinhos . ** O Auto de Natal da aldeia de Trindade cumpriu-se no passado dia 14, pelo segundo ano consecutivo. É assim descrito, pelo Centro UNESCO para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial de Beja: «O Auto de Natal da Trindade» é uma manifestação cultural secular, celebrada na aldeia de Trindade há pelo menos dois séculos, e que remete para uma tradição de teatros populares que em tempos pontuavam a paisagem rural alentejana. Tem por base um livro com passagens de intricada beleza e de grande curiosidade científica que permanece por estudar. Esta grande celebração de Natal sobrevive graças à família guardiã, encabeçada por Mariana Lopes, que, desde que aprendeu a andar, sempre participou na peça. 113

Por respeito à Mariana e a este importante tesouro, a Câmara Municipal de Beja / Centro UNESCO para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial de Beja associou-se à Baal17 – Companhia de Teatro, para proporcionar uma logística adequada, permitindo que o Auto se levante novamente com toda a dignidade. Nos intervalos da peça, contaremos com duas atuações, dos Cantadores do Desassossego e de Pedro Mestre, que ajudarão a aquecer a noite fria. A Direção Regional de Cultural do Alentejo apoia fortemente a iniciativa, assim como a Junta de Freguesia de Albernoa e Trindade e a Cruz Vermelha – delegação de Beja. *O Reboliço foi ver, pois. (Reboliço é o nome de um cão que o meu avô Xico teve, no Moinho Grande. É a partir do seu olhar que aqui escrevo). ALGARVE INFORMATIVO #231


OPINIÃO

As tendências do empreendedorismo para 2020 Fábio Jesuíno (Empresário) empreendedorismo tem vindo a ganhar destaque nos últimos anos como uma das mais relevantes formas de desenvolvimento da nossa sociedade. A temática do empreendedorismo está associada a um espÍrito inovador, criativo, capaz de identificar um problema e transformá-lo numa oportunidade. Descobrir as diferenças da realidade de todos e pensar o que ninguém pensou. Para fomentar o espírito empreendedor, reuni as principais tendências de empreendedorismo para o próximo ano: Economia partilhada A economia partilhada é um modelo económico que se desenvolve através da partilha de bens, serviços, recursos humanos, conhecimento, e é também uma forma de rentabilizar ativos pouco utilizados. A massificação das plataformas digitais tem permitido o crescimento deste modelo económico da partilha, que nos faz lembrar o início das transações comerciais entre humanos, quando não existia dinheiro e se trocavam bens por outros produtos. Este conceito da economia visa principalmente a obtenção de valores monetários com a partilha daquilo que não usamos, como, por exemplo, disponibilizar a nossa casa ou o nosso carro numa série de plataformas criadas para esse efeito. ALGARVE INFORMATIVO #231

Considero uma das maiores tendências com grande impacto na sociedade nos próximos anos, dando origem a novos empregos e à criação de novas empresas de crescimento acelerado. Podem dessa forma pôr em causa grandes multinacionais da economia tradicional, devido ao crescimento das partilhas, existindo uma diminuição significativa de comprar novo. Começa também a existir uma adaptação dessas empresas tradicionais, onde, por exemplo, na indústria automóvel criaram plataformas onde as pessoas podem partilhar veículos. Finanças As Fintech são a principal tendência na área financeira nos próximos anos, devido a usarem a tecnologia oferecendo serviços financeiros de uma forma inovadora e muito eficiente com excelentes resultados para os clientes. Em Portugal podemos destacar algumas fintech, como a Feedzai, uma das startups de maior sucesso da atualidade, que desenvolveu um software de segurança que permite encontrar anomalias ou possíveis fraudes monetárias. Outra é a PPL Crowdfunding, uma startup que desenvolveu uma plataforma de financiamento coletivo que permite a promoção e a realização de ideias criativas.

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Sustentabilidade A qualidade de vida é cada vez mais desejada na sociedade, com uma importância crescente em termos globais, onde vários movimentos e grupos relacionados com a sustentabilidade se destacam na opinião pública. Devido às alterações climáticas e às suas consequências para a nossa vida, é inevitável uma maior preservação do ambiente no futuro, mais sustentável. Em grande destaque nesta área vão estar os negócios de alimentação saudável e biológica, atividades físicas e reciclagem. Produtos artesanais Talvez a tendência com maior crescimento nos últimos anos que não tem tanta projeção mediática, mas com grande impacto na nossa sociedade, é muitas vezes desvalorizada, contribuindo cada vez mais para a criação de novos negócios de sucesso. As pessoas gostam cada vez mais de serem diferentes, de terem produtos personalizados, únicos de pequenas produções, os quais são cada vez mais procurados, criando uma grande oportunidade de negócio. Os produtos 115

artesanais como as cervejas, queijos, sabonetes, perfumes, roupas e joias são alguns exemplos que se destacam pela qualidade superior. Estas são as quatro tendências principais que, na minha opinião, vão fazer a diferença no próximo ano na área do empreendedorismo e impulsionar a criação de negócios em Portugal e no mundo . ALGARVE INFORMATIVO #231


OPINIÃO - Tudo em Particular e Nada em Geral

Todas as frases inspiradoras são ridículas Carla Serol (Uma Loira Qualquer) sto até parece o título de um famoso poema do grande Pessoa, e é mesmo para parecer, só que, ao invés de cartas de amor, que estão notoriamente fora de moda, é sobre as frases inspiradoras que pelo inimaginável novo mundo virtual navegam, à mercê de qualquer pescador de recreio, armado em grande navegador erudito e cheio de lições de vida para dar aos outros. Ora pois, que por esse mundo virtual a fora, encontramos uma parafernália de lindas frases inspiradoras e profundas, daquelas tão profundas, que quase trazem um pulmão atrás de si quando cá para fora saem, isto para não referir qualquer outro órgão ainda lá mais profundo, correndo o risco de este vir cheio de resquícios e estragar aqui o cenário todo. Frases estas, aptas a serem utilizadas por todo e qualquer tolo idiota armado em letrado da vida. Porquê e para quê?! É a questão que se impõe. Loira, pois claro, tem uma teoria… Basicamente, porque não dispõem, nem de imaginação, nem de capacidade para construírem por si próprios, uma afirmação que reflita o que lhes vai no recôndito das suas almas penadas, e depois, para mostrar exatamente o contrário daquilo que são, extremamente inteligentes, sábios e sempre prontos a partilhar uma lição de vida, experienciada por eles próprios, pois claro, por forma a dizer ao outro, “és um pacote de leite ALGARVE INFORMATIVO #231

vazio e eu um velho sábio cheio de coisas para te ensinar”! De referir que, até porque é manifestamente importante fazê-lo, normalmente estas frases vêm acompanhadas de fotos, nas quais o sabichão ou sabichona se julga encontrar na melhor das formas de beleza, paz interior e serenidade, olhando para o lado, quase que com um olhar vesgo e distante de quem sofre de glaucoma, com uma paisagem idílica como pano de fundo, pautada pela inigualável perfeição de natureza. Então, que Loira Qualquer fez uma breve pesquisa, e encontrou um montão (mesmo assim, para ser bem brasileiro), de sítios especializados (vulgo sites, para quem gosta de estrangeirismos e dar algum rigor científico a tudo isto), repletos de frases cutchi cutchi, na maior parte delas escritas em português do Brasiú, para que use você mesmo, divididas em categorias e tudo, como por exemplo, Tristeza, Alegria, Morte, Desgraça e… Fotos, naturalmente como a sua sede! Salve as novelas da Globo durante toda uma vida, que se não fossem elas, esta malta nunca entenderia o que lá está escrito. E, mesmo assim, com tanto Roque Santeiro, Tieta do Agreste e Baila Comigo, ressalvo as minhas dúvidas, quanto à sua completa compreensão, por parte dos sabichões e sabichonas que delas usam e abusam.

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Com tudo isto, também não quero parecer uma agente inquisidora de frases ridículas, até porque cada um é livre de se aventurar na grande odisseia da palermice, e Loira Qualquer até aprecia gente palerma, mas por favor evitem, evitem este tipo de ato possidónio que é quase tão deprimente quanto a pulseirinha da urgência hospitalar e o bracinho com a agulha espetada a levar 117

com cinco litros de soro. Posto isto, não tenho nada mais a acrescentar, mas uma frase linda e inspiradora ficaria aqui bem para terminar em grande, e então vou dar o meu melhor e concluir este desabafo com uma frase adequada à época natalícia: É Natal, é Natal, já não há papel, não faz mal, não faz mal, limpa no jornal! . ALGARVE INFORMATIVO #231


OPINIÃO

Dos pombos leitores Fernando Esteves Pinto (Escritor) “As pessoas querem um passatempo. Esse tipo de passatempo a minha escrita não fornece. Qualquer escrita que resista a essa apropriação imediata está condenada a viver à margem”. Rui Nunes m leitor de coração aberto é como aquele pombo, insensato, que come todo o milho que lhe é lançado. O critério é encher o papo e entupir o aparelho mental. Saciar o apetite que as emoções sentimentais argumentam em favor da criação poética. É uma má impressão ver que todos se alimentam do mesmo: a satisfação é tão notória, admirável, que nada é desperdiçado; ainda que o sabor seja insípido, inconsistente, há sempre uma certa emoção em experienciar o prazer das sensações e objectivar todos os sentidos. Atirar milho aos pombos é um acto generoso, mas atirar poemas ao leitor histérico e delirante é uma tortura; é um acto sinistro. Mas são os pombos-leitores que dominam quando o assunto é da ordem da poesia. Procuram na leitura significados por trás das lentes da criação; mas aí o rigor das metáforas pode levar ao enfarte, à instabilidade interior, e lá se vão a subjectividade e os estados de sonho de toda a poesia. O poema vital e impressionante já não provoca emoções na consciência dos pombos-leitores. Envolve-os outros simbolismos; outros conflitos; outras inocências. Hesitam perante uma arte poética regulada por sistemas de filosofia e convicções humanistas. Há muita cerimónia na poesia; mas não há-de faltar ao poeta plenitude e força indomável para lançar poemas cada vez mais longe, onde os pombos não chegam com o bico. ALGARVE INFORMATIVO #231

A ideia de um poeta criador de silêncios pode serenar essa relação complicada e vacilante com o leitor. Um poema que seja capaz de silenciar também o leitor: aliviá-lo do fardo tortuoso da argumentação. Mas para isso é necessário que a palavra represente por inteiro a vida «real» do autor; que torne invisível a sua presença. Ninguém quer seguir o poeta que salta sobre precipícios, que transpõe todas as barreiras do silêncio, e a única impressão que deixa ao leitor é esse estranho chamamento que nenhuma voz foi capaz de exprimir. A verdade é que o mundo do poeta se extingue nos silêncios imperiosos; daí o poema preencher, por vezes de modo oculto, o vazio e a ausência, tornando a leitura uma agonia; um acto de tremor e desassossego. Há leitores que não lêem o poema como ele está escrito: lêem-no como se sentem. E seguem nesta espécie de corrupção por maus caminhos de linguagem, onde são induzidos ao fingimento. E não existe conflito nem tumulto. Se o leitor é no poema a sua própria luz, ele também é na escuridão do seu íntimo o brilho inautêntico do que sente. Os estímulos artificiais não cessam na leitura do poema; não há momentos de alívio para o leitor que se esgota com o esforço das suas emoções em confronto com o poeta. Não é estranho para o poeta que a escrita seja um acto perigoso. O poema é já uma 118


morte infligida também ao leitor. De modo que ele, para poder elevar-se ao mundo do poeta, tem forçosamente de acumular-se de estremecimentos e incandescência. Tem de ser capaz de atormentar-se criativamente; pôr à prova todos os seus sentidos e 119

sensações. Um bom poema só precisa de facto que algum leitor lhe retire de cima o tempo que demorou a ser escrito. No final da obra permanecerá apenas o pensamento do autor. Porque o tempo, na sua serenidade única, é também leitura . ALGARVE INFORMATIVO #231


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ESTÁTUAS VIVAS DE NATAL VOLTARAM A ENCHER RUAS DE LAGOA DE MAGIA E FANTASIA Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina pós quatro anos bem-sucedidos, já são uma tradição as «Estátuas Vivas no Natal» de Lagoa, com a autarquia local a voltar a organizar, nos dias 13 e 14 de dezembro, mais uma edição desta manifestação de imobilidade expressiva que reuniu mais de uma dezena de quadros artísticos temáticos (numa abordagem à religião, cinema, literatura, história, música, cartoon e natureza), com alguns dos melhores artistas desta arte urbana, várias ALGARVE INFORMATIVO #231

vezes premiados em festivais dentro e fora do país. O evento teve como objetivos divulgar e dignificar esta arte performativa e, simultaneamente, dinamizar o comércio local no coração da cidade durante a época natalícia e o facto é que a Rua 25 de Abril e o Largo 5 de Outubro estiveram repletos de gente na tarde de sexta-feira e na manhã de sábado. Miúdos e graúdos que não perderam a oportunidade para tirar fotos com algumas figuras míticas do mundo real e imaginário dos tempos modernos . 124


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MULTIPREMIADO LIVRO «MAR DE ARAL» FOI APRESENTADO NO PALÁCIO GAMA-LOBO Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina oi apresentado, no dia 10 de dezembro, no Palácio Gama Lobo, em Loulé, o multipremiado livro «Mar de Aral», da autoria do louletano José Carlos Fernandes e do messinense Roberto Gomes. Trata-se, sem dúvida, de um dos mais importantes lançamentos de banda-desenhada do ano em Portugal e marca o regresso, ainda que temporário, do famoso argumentista José ALGARVE INFORMATIVO #231

Carlos Fernandes a este estilo literário, depois de um intervalo de vários anos. Produzido em estreita colaboração com o desenhador Roberto Gomes (que foi aluno de José Carlos Fernandes num curso de banda-desenhada que este ministrou), a obra viu finalmente a luz do dia numa edição muito cuidada da «G. Floy Studio», apoiada pela Câmara Municipal de Loulé, e que representa também um marco na 136


internacionalização da BD portuguesa, já que saiu simultaneamente em cinco línguas, designadamente, português, castelhano e basco (pela Harriet Ediciones), francês (pelas Éditions du Long-Bec) e polaco (pela Timof Comics). “O José Carlos Fernandes é um argumentista absolutamente genial, e um pouco louco também, e tem centenas de histórias e ideias de histórias escritas. Há uns anos surgiu o projeto «Black Box Stories», em que se convidaram vários desenhadores e cada um escolhia um certo número de histórias para as interpretar à sua maneira”, recorda José de Freitas, da «G. Floy Studio». “Houve histórias adaptadas a teatro e rádio, sempre com aquele humor um bocadinho ácido e cínico do José Carlos Fernandes em relação à realidade e à natureza humana, e sempre muito questionador do espírito 137

consumista, da modernidade”, conta o editor. O primeiro livro da «Black Box Stories» foi lançado em 2006, «Tratado de Umbrografia», desenhado por Luís Henriques, e ganhou todos os prémios que havia para ganhar de bandadesenhada em Portugal. “A mesma história do José Carlos Fernandes chegou a ser interpretada em duas, 12 e 16 páginas, para se perceber a liberdade que era dada aos desenhadores”, recordou José de Freitas. Questões relacionadas com a editora levaram, entretanto, a que «Mar de Aral» ficasse no esquecimento durante vários anos, até que, finalmente, a «G. Floy Studio» pegou na obra, e em boa hora o fez, porque foi o sucesso crítico de 2019, tendo sido nomeado para todas as categorias dos ALGARVE INFORMATIVO #231


dois grandes grupos de prémios que se atribuem em Portugal – os Galardões de BD e os Prémios Nacionais de BD (PNBD). Nesses concursos, foi o vencedor absoluto dos Galardões (Melhor Argumento, Melhor Desenho e Melhor Álbum Português do Ano), e o grande vencedor dos PNBD, onde foi distinguido com Melhor Argumento e Melhor Álbum do Ano. “No Festival da Amadora, o Roberto enfrentou a concorrência feroz de um desenhador luso-descendente francês, uma megaestrela que venceu o Melhor Desenho”, explica José de Freitas. Roberto Gomes que conheceu José Carlos Fernandes nuns workshops de banda-desenhada ministrados em Loulé e a opinião do formador foi tão positiva em relação ao jovem desenhador que o convidou para participar no «Black Box Stories». “Foi um processo super agradável e praticamente que foi a minha escola de ilustração, embora viesse da área de Artes e estivesse a ALGARVE INFORMATIVO #231

estudar Design de Comunicação na Universidade do Algarve. O José Carlos Fernandes faz argumentos sem quaisquer indicações de cenas ou falas, toda essa parte é deixada ao critério do ilustrador, mas todas as semanas conversávamos sobre o storyboard e os desenhos que eu ia fazendo”, lembra Roberto Gomes, reconhecendo que as várias histórias de «Mar de Aral» acabam por denotar diferentes estilos. “Para bem ou para mal, ainda não tenho um estilo que me defina enquanto ilustrador. Sempre gostei de experimentar vários estilos e, depois de ler cada história, a escolha surgiu de forma natural enquanto estava a fazer a pesquisa gráfica, a testar cores e traços”, justifica. “A banda-desenhada é um mercado de nicho, teve um período forte em Portugal nos anos 90 do século passado, depois passou por um momento longo em que tinha a má reputação de ser demasiado 138


intelectual e vanguardista. E isso era verdade, tinha qualidade, mas não falava com um público mais alargado. Agora, temos muita banda-desenhada interessante em Portugal, direcionada para um público mais abrangente”, analisa José de Freitas, aproveitando para elogiar a Câmara Municipal de Loulé pela força que tem dado a este género literário. «Mar de Aral» que, de facto, não é o primeiro livro de banda-desenhada apoiado pela autarquia louletana, que financiou recentemente a edição de «Os Segredos de Loulé», dos argumentistas João Miguel Lameiras e João Ramalho Santos e com ilustração de André Caetano, que conta a história do concelho nos últimos sete mil anos. “É uma satisfação ter o nome da Câmara Municipal de Loulé associado a obras de tão grande qualidade, ainda por cima quando o

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autor é o José Carlos Fernandes, uma pessoa que prezamos e respeitamos muito. Nós gostamos de estar onde os outros não estão e de sermos diferentes, somos um Município contra a corrente”, frisou na ocasião Vítor Aleixo. “O mundo cada vez mais é estandardizado, toda a gente faz aquilo que os outros todos fazem, e nós procuramos associar a atividade autárquica de Loulé a projetos diferenciadores e, sobretudo, que emerjam contra as tendências dominantes e empobrecedoras. Reproduzir os mesmos valores, narrativas e textos não é a forma de trabalhar deste executivo municipal e, quando têm origem em Loulé, ainda mais contentes ficamos por apoiar iniciativas desta natureza”, assegurou o presidente da Câmara Municipal de Loulé .

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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #231

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