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ALGARVE INFORMATIVO Revista semanal - 25 de julho, 2020
DIEGO MIRANDA ARRASOU NO «ALBUFEIRA SUMMER LIVE» «VERÃO EM TAVIRA» ARRANCOU COM «JAZZ NO PALÁCIO» | «QUEBRA-NOZES» 1 ALGARVE INFORMATIVO #258 «CICLO LETHES CLÁSSICO» | PERCURSO LITERÁRIO «OLHÃO ENCANTADO(R)»
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30 - «Albufeira Summer Live»
92 - «Ciclo Lethes Clássico» no Teatro Lethes ALGARVE INFORMATIVO #258
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OPINIÃO 120 - Paulo Cunha 122 - Mirian Tavares 124 - Ana Isabel Soares 126 - Adília César 130 - Fábio Jesuíno 132 - Vera Casaca 134 - João Ministro 136 - Augusto Pessoa Lima
106 - «Quebra-Nozes»
46 - «Jazz no Palácio» em Tavira 11
74 - Percurso Literário «Olhão Encantado(r)» ALGARVE INFORMATIVO #258
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ESTE ANO NÃO HÁ FEIRA DA SERRA, MAS ARTESÃOS E PRODUTORES MOSTRAM-SE AO MUNDO NUM CATÁLOGO ONLINE Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina umprindo uma antiga tradição, e apesar das limitações impostas pelo distanciamento social para prevenir o contágio pelo coronavírus covid-19, o Município de São Brás de Alportel levou a cabo, no dia 16 de julho, à sombra de uma das azinheiras mais antigas do país, a conferência de imprensa da edição de 2020 da Feira da Serra. O principal evento de promoção do concelho que, este ano, como tantos outros, vai acontecer em ALGARVE INFORMATIVO #258
moldes diferentes, para enorme tristeza dos responsáveis autárquicos e de toda a população são-brasense. Porque a Feira da Serra sempre foi montada pela «prata da casa», pelas gentes da terra, que não escondem o orgulho por verem São Brás de Alportel ser «invadida» por milhares de visitantes de todos os cantos do mundo ávidos de conhecer os encantos da Serra do Caldeirão. Este ano, impossibilitado de realizar uma «normal» Feira da Serra, o 22
Município de São Brás de Alportel preparou uma edição especial «#Feira Da Serra em Casa», com um programa alternativo que privilegia os meios digitais para continuar a dar a conhecer o melhor do Algarve genuíno. Um programa que tem lugar, de 23 a 26 de julho, precisamente as datas em que se deveria realizar a 29.ª Feira da Serra de São Brás de Alportel. “Queremos levar a Feira da Serra ao mundo todo”, afirmou o presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel, Vítor Guerreiro, acrescentando que esta versão online pode, inclusive, “abrir o apetite a
novos visitantes dos mais diversos cantos mundo, para visitar a próxima edição em formato normal, que se espera que ocorra já em julho de 2021”. “A Feira da Serra há de regressar no próximo ano e com mais força”, reforçou, lembrando que,
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num momento em que as dificuldades no setor económico se começam a fazer sentir, a autarquia tem multiplicado esforços para encontrar formas criativas e alternativas para dar notoriedade ao concelho e valorizar e dinamizar os diversos setores económicos, sem nunca esquecer a questão da saúde pública. Na ocasião, Marlene Guerreiro, vicepresidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel, lembrou outros programas culturais alternativos que têm sido criados desde que a pandemia da covid-19 chegou ao Algarve, em março, como a «#Páscoa em Casa», os «Dias de Abril em Casa» ou a «Gala São Brás a Cantar», que foi transmitida através das redes digitais e do MEO Kanal do Município. “Surge agora a
«Feira da Serra #EmCasa», que teve o dom de animar e dinamizar
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os participantes e a comunidade, que está a aderir com entusiasmo, tanto no catálogo «Feira da Serra Online» como na versão digital do «São Brás Fashion», um desfile que mantém a sua essência completamente made in São Brás de Alportel. Não podendo subir ao palco da Feira da Serra, o evento leva os modelos e os produtos de lojas são-brasenses ligadas à moda (calçado, óticas, joalharia, vestuário e outros acessórios) a casa de todos, num desfile que será complementado por 18 mini desfiles, individualizados por lojas”, explicou Marlene Guerreiro. Parceira importante desta iniciativa é a ACRAL – Associação do Comércio e Serviços do Algarve, com Ana Fernandes a elogiar o Município de São Brás de Alportel por todo o esforço que tem feito para apoiar o comércio são-brasense, “que tem muita qualidade”. “Este
evento será certamente um «empurrão» ao nível das vendas online e de encomendas”, acredita a Diretora da ACRAL, sendo que esta edição especial do São Brás Fashion vai ser transmitida nas redes sociais e no Meo Kanal 205 250, no dia 25 de julho, a partir das 21h30, dia e hora em que o desfile subiria ao palco principal do recinto da Feira da Serra. Provavelmente uma das grandes maisvalias da Feira da Serra de 2020 será o catálogo digital «Feira da Serra em Casa», cujo lançamento aconteceu, no dia 23 de ALGARVE INFORMATIVO #258
julho, pelas 19h, à hora que estava previsto abrirem os portões para o certame. Disponível nas redes sociais (Facebook e Instagram) e no site http://feiradaserra.cm-sbras.pt, vai incluir cerca de uma centena de artesãos e produtores e a ideia da Câmara Municipal é que ganhe «vida própria» e que continue dinâmico mesmo após o término da Feira da Serra. Apesar de vivermos um ano atípico, a música e a animação não vão faltar, pelo que, na sexta-feira, o Cineteatro São Brás recebeu o Concerto de Verão da Orquestra Clássica do Sul, com entrada restrita a 60 pessoas. O último dia desta edição especial da «Feira da Serra #EmCasa» vai ser transmitido em direto na SIC, entre as 14h45 e as 20h, com o programa «Domingão Sucessos de Verão», que tem a particularidade de levar um palco móvel pelas estradas do concelho com o intuito de homenagear os Mestres Artesãos. O artesanato, a doçaria, a produção local, a tradição e a inovação são-brasenses vão estar em destaque, no programa apresentado pelo popular João Baião e que terá Emanuel e Luciano Abreu como principais atrações musicais. A Feira da Serra de 2020 servirá igualmente de «rampa de lançamento» para a campanha promocional turística «Vá para fora cá dentro, Mesmo!», que o Município de São Brás de Alportel está a preparar com vista a atrair portugueses, algarvios em particular, bem como os turistas presentes na região e, sobretudo, o turismo residencial, para que possam conhecer 24
São Brás de Alportel e usufruir do melhor que o concelho e as suas gentes têm para oferecer. Na mesma conferência ficou-se, entretanto, já a saber que o medronho vai ser o produto estrela da edição de 2021 da Feira da Serra de São Brás de Alportel.
“Uma escolha que é uma homenagem à resistência e à sobrevivência, ou não fosse o medronho um dos mais característicos frutos da Serra do Caldeirão e o medronheiro uma das plantas mais resistentes, capaz de renascer das cinzas”, explicou Vítor Guerreiro, adiantando ainda que o investimento da Feira da Serra de São Brás de Alportel, que em edições normais ronda os 200 mil euros, bem como os recursos humanos que estavam dedicados à sua montagem, foram redirecionados para outras iniciativas e para algumas intervenções que normalmente seriam adjudicadas a empresas externas. “No início do 25
confinamento suspendemos as obras públicas em curso para promover a segurança dos trabalhadores, mas agora estamos a lançar algumas obras que nem estavam previstas para este ano, exatamente pela importância do investimento público na dinâmica económica. Uma grande parte da verba que normalmente seria investida na montagem da Feira da Serra foi transferida para o Fundo Municipal de Emergência – COVID, que foi criado com meio milhão de euros, e que tem três eixos de intervenção: prevenção e reforço de meios de combate à propagação e cuidados de saúde; medidas sociais e de apoio às famílias; e apoio à económica local”, salientou Vítor Guerreiro . ALGARVE INFORMATIVO #258
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DIEGO MIRANDA E WILSON HONRADO DERAM «PONTAPÉ-DE-SAÍDA» AO ALBUFEIRA SUMMER LIVE Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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ace à impossibilidade de organizar festas e festivais ao ar livre devido à pandemia da covid-19, muitas Câmaras Municipais têm avançado para eventos online, aproveitando as possibilidades de live streaming, cada vez mais em voga, para transmitirem momentos culturais e de animação através das suas redes sociais e canais de YouTube. E um dos principais a acontecer em terras algarvias é, sem dúvida, o «Albufeira Summer Live», que arrancou, no dia 17 de julho, com as extraordinárias atuações de Wilson Honrado, a partir do Restaurante A Ruína, em plena Praia dos Pescadores, e de Diego Miranda, no fantástico rooftop do Júpiter Albufeira Hotel.
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Com fortes ligações a Albufeira, onde trabalhou na Kiss FM e foi dj na famosa discoteca Locomia, na Praia de Santa Eulália, Wilson Honrado é atualmente uma das vozes mais conhecidas da rádio em Portugal, fazendo parte dos quadros da Rádio Comercial. Anima as noites de fim-de-semana com o «The Weekend», o único programa de dança da estação e um dos podcasts nacionais de maior sucesso, mas é também presença assídua nos maiores palcos nacionais, como o «Meo Marés Vivas», Festival do Crato, Expofacic, FATACIL, Festival F ou a Feira de São Mateus, tendo já atuado igualmente no Fim-de-Ano de Albufeira. Subiu por várias vezes ao palco da Altice Arena, na abertura do concerto de Beyoncé, no «Move Ya Body», onde atuaram
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Rihanna e Pussycat Dolls, e também na abertura do «Xmas in The Night», da Rádio Comercial. Da rádio para as cabines, Wilson Honrado mostra uma capacidade rara de animar qualquer público com um mix musical eclético onde não faltam as grandes malhas do momento. Uma hora depois, a partir das 20h30, foi a vez de Diego Miranda, um dos mais influentes e internacionais produtores e djs portugueses, atuar até ao pôr-do-sol. Integra a estrita lista dos 50 melhores djs do mundo e venceu inúmeras distinções ao longo dos anos, sendo considerado um dos djs mais fortes da Península Ibérica. É ainda o único dj português a ser nomeado para o «Best Portuguese Act» da MTV, por dois anos consecutivos. O seu sucesso fez-se sentir, por exemplo, em 2018, quando alcançou o 1.º lugar no Beatport com a faixa «Boomshakalak» 33
(Revealed Records), posição já antes atingida com o tema «Nashville» (Smash the House Records), que foi também a mais tocada na «1001 Tracklist». Diego Miranda é presença regular nos maiores festivais do mundo, casos do Tomorrowland, Ultra Miami, Rock in Rio, MTV Shakedown, Creamfields ou Sensation White, tendo ainda residências no Ushuaia de Ibiza e no GreenValley, no Brasil. Do estúdio para as pistas e das pistas para o estúdio, Diego Miranda revela-se como um dos mágicos da música de dança que atravessou todas as fronteiras, tendo passado os últimos anos em tournées consecutivas, sobretudo na Ásia e América do Sul. O festival foi preparado pelo Município de Albufeira para divulgar a beleza do «Destino de Emoções», ALGARVE INFORMATIVO #258
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assinatura de Albufeira, também conhecida pela Capital do Turismo. “As
que este ano não nos podem visitar”, explica o Presidente da
circunstâncias levam-nos a investir neste tipo de campanhas, de maneira a promovermos o nosso destino de maneira diferente e criativa, levando Albufeira o mais longe possível, sobretudo àqueles
Câmara Municipal de Albufeira, José Carlos Rolo. O evento conta ainda com a parceria da Rádio Comercial, APAL – Agência de Promoção de Albufeira e RTA – Região de Turismo do Algarve, que transmitem todos os concertos nos seus canais online. E, depois de
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Wilson Honrado e Diego Miranda, seguem-se Pete Tha Zouk e Luizinho B2B Jay Martin, no dia 31 de julho; Kura e Bubba Brothers, a 7 de agosto; e o Dj China, Nuno Lopes e The Gift, a 20 de agosto, Dia do Município de Albufeira. Nuno Lopes, ator que brilha a larga escala na série «White Lines» da Netflix, é também conhecido por algumas atuações enquanto dj e aceitou o convite da autarquia algarvia para atuar a bordo de um embarcação marítimo-turística num passeio que envolverá cerca de uma centena de embarcações. Já os The Gift vão atuar num cenário surpresa criado especificamente para este momento, naquele que será certamente um ALGARVE INFORMATIVO #258
momento único. “Albufeira não
pode deixar de investir naquilo que é a promoção das suas paisagens, da animação, da alegria e felicidade que a atividade turística proporciona àqueles que nos visitam. Esta iniciativa serve, não só para promover o destino, mas também para levar àqueles que este ano, pelas mais diversas razões, não nos podem visitar, um pouco daquilo que é o nosso concelho, no interior e no litoral, com as suas cores e paisagens únicas”, sublinha José Carlos Rolo .
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«VERÃO EM TAVIRA» COMEÇOU DA MELHOR FORMA AO RITMO DO JAZZ Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina e Irina Kuptsova
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«Verão em Tavira», programa cultural dinamizado pela Câmara Municipal de Tavira, iniciouse, a 16 de julho, com mais um ciclo do «Jazz no Palácio», com três concertos fantásticos a esgotarem a lotação do pátio do Palácio da Galeria. Três noites com temperaturas deliciosas, um ambiente fantástico e, acima de tudo, vividas em total segurança, tendo sido cumpridas, à risca, as regras definidas pela Direção-Geral de Saúde no que toca a espetáculos culturais. E segurança e rigor não faltaram, com abundantes dispensadores de gel desinfetante, circuitos de entrada e saída perfeitamente definidos e o público, ALGARVE INFORMATIVO #258
de máscara colocada, a ser levado aos seus lugares pelos assistentes de sala. No final do espetáculo, saída ordenada dos espetadores e assim tudo correu na perfeição, comprovando que, apesar da pandemia da covid-19 que se atravessa, é possível manter uma vida cultural em total segurança. Quanto à música, a noite de quintafeira, 16 de julho, foi preenchida pela fusão de sonoridades de TGB (Tuba, Guitarra e Bateria), com Sérgio Carolino (tuba), Mário Delgado (guitarra) e Alexandre Frazão (bateria), trio com larga experiência no panorama musical nacional. Da sua discografia constam «Tuba, Guitarra e Bateria» (2004), «Evil Things» (2010) e «III», todos editados com o selo «Clean Feed». Após o último 48
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álbum, os TGB deixaram de ser definidos pela instrumentação fora de comum e surgem com uma música idiossincrática e sem fronteiras, misturando jazz, rock, folk, country e muito mais. Na sexta-feira, a noite foi ocupada pelos sons mais clássicos dos LST – Lisbon String Trio, formação de Carlos Barretto (contrabaixo), José Peixoto (guitarra clássica) e Bernardo Couto (guitarra portuguesa) que contou com a participação especial da conhecida Cristina Branco. Um projeto pautado por música equidistante de várias tradições que se desenvolve em diferentes plataformas de interseção, onde os músicos se podem exprimir livremente. O ciclo terminou, a 18 de julho, com a cantora Rita Maria e o pianista Filipe
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Raposo, que deram a conhecer uma pequena amostra do universo musical que os inspira, desde a música tradicional portuguesa, passando pelo jazz, barroco, impressionismo francês, repertório cinematográfico e composições originais do próprio duo. Uma compilação eclética em que temas de compositores eruditos e populares, de variadas gerações e origens, são postos lado a lado e que se encontram gravados no disco «Live in Oslo», registado, no Cosmopolite, a 23 de novembro de 2017. Mas a noite permitiu também algumas incursões por «Ocre», o primeiro volume da Trilogia das Cores, de Filipe Raposo, sem dúvida um dos mais excitantes e talentosos pianistas portuguesas da atualidade .
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PERCURSO LITERÁRIO DÁ A CONHECER OS ENCANTOS DE OLHÃO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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um Algarve que procura desesperadamente encontrar alternativas para o tradicional produto turístico «sol e mar», com vista a esbater a sazonalidade e a prosseguir um desenvolvimento mais sustentável, mas também para preservar e divulgar a cultura e a traça genuína da região, surgiu recentemente, em Olhão, Cidade da Restauração, uma oferta deliciosa engendrada por uma mulher da cultura, das letras, da poesia, Sónia Pereira. Falamos do Percurso Literário «Olhão Encantado(r)», um passeio pelas ruas e monumentos da cidade, com oito pontos de paragem, sempre acompanhado pelas palavras de ilustres poetas e escritores portugueses, com um especial enfoque no poeta João Lúcio, a ALGARVE INFORMATIVO #258
par de nomes como José Saramago, Manuel da Fonseca, Raúl Brandão, Aquilino Ribeiro, José Afonso, José Dias Sancho, Jorge de Sena, António Ventura, Pedro Jubilot ou Francisco Fernandes Lopes. “Estando ligada à
promoção e mediação interdisciplinares de leitura (através do serviço público em bibliotecas municipais e do grupo «Experiment’arte», de que sou cofundadora) penso que o meu desejo de um dia divulgar as verdadeiras pérolas literárias escritas sobre a minha terra natal e fazê-lo in loco era expectável. A leitura de muitas obras sobre viagens (sobretudo quando coordenava a Rede Concelhia de Clubes de Leitura da Biblioteca 76
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Municipal de Silves) e a minha necessidade de viajar tornaram tudo muito natural”, conta Sónia Pereira. “Numa era de sobreacumulação do sentido económico e utilitarista do espaço nas cidades, é fundamental a preservação (além da urgente necessidade de criação) de espaços públicos de respiração (natural, afetiva, cultural e simbólica) e o que isto significa é que, se o espaço nos conduz apenas à satisfação das nossas necessidades básicas (de alimentação, de garantia económica da nossa sobrevivência ou de realização de exercício físico), estaremos a regredir em termos civilizacionais e a permitir a redução da vida humana apenas à ALGARVE INFORMATIVO #258
consecução das tarefas urgentes, não restando tempo para o que é importante, e assim se deixa passar ao lado a Vida”, acrescenta. O trajeto recorda o início do século XX e o florescimento da indústria conserveira durante a Primeira Grande Guerra, dá a conhecer a arquitetura cubista de Olhão, aborda o intrépido papel dos olhanenses na luta contra os franceses e a surpreendente e quase impossível viagem da Restauração, a bordo do Caíque Bom Sucesso, em 1808, quando um punhado de olhanenses atravessou o Atlântico rumo ao Brasil para dar as boas-novas ao Príncipe Regente de que os franceses tinham sido repelidos. Mas também o espírito marítimo, os seus temores, vícios e desejos, a sua relação com a belíssima e abundante Ria Formosa “e as lendas e linguagem 78
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que ajudaram a construir um imaginário deveras «sui generis» deste concelho”, explica Sónia Pereira, de forma apaixonada. Uma paixão que se nota ao longo de todo o percurso, nos olhos brilhantes, na forma como declama os poemas de outros tempos e como conta as lendas, umas muito antigas, como a que deu origem à designação «Olhão», outras mais recentes. Como aquela da menina órfã que foi acolhida por uma costureira que depressa lhe ensinou o seu ofício, como era tradição as mães passarem os seus conhecimentos às filhas. Uma menina que costurava do nascer do sol ao pôr-do-sol e que, de repente, adoeceu e faleceu no próprio dia. Contudo, ainda hoje, por vezes, na rua onde vivia, se consegue ouvir o som da máquina de costura e das 81
agulhas a funcionar, a trabalhar incessantemente. Ou a lenda de Floripes, a «mulher fatal» de Olhão. E a paixão de Sónia Pereira é tal que contagia os participantes no percurso, porque ela não consegue esconder o amor que sente pela terra onde nasceu e que, provavelmente, ainda se intensificou mais durante os vários anos em que esteve ausente, por motivos profissionais. Período em que sentiu, como nunca, a falta do cheiro do mar e da Ria Formosa, da luz de Olhão, das suas paredes caiadas de branco, das ruas estreitas do Bairro da Barreta, do frenesim dos Mercados nas manhãs de sábado. Por isso, volta e meia, enquanto vai descrevendo os encantos de Olhão, lá deixa escapar
“eu sou um bocadinho suspeita para dizer estas coisas porque sou ALGARVE INFORMATIVO #258
olhanense”. “Olhanense não, filha de Olhão”, esclarece mais à frente, enquanto vislumbramos os imensos grafitis que os artistas da Associação Satori produziram nos muros de uma antiga fábrica de conservas, ilustrando as vivências dos homens e mulheres que viviam da faina do mar. Segundo Sónia Pereira, “existe um
capital poético e simbólico, acessível através do património cultural material e imaterial de cada terra, que urge resgatar para combater a alienação coletiva, o afunilamento mental e comportamental, a descaracterização dos espaços e o pagamento das diferenças culturais a que o estilo e ritmo da sociedade global tende a mergulhar-nos”. “Só ALGARVE INFORMATIVO #258
a fruição do belo e do intemporal nos pode salvar do ruído e da poluição em que navegamos. Por outro lado, o viajante e o turista cultural, aquele que verdadeiramente nos interessa receber num esforço de garantia de um turismo de qualidade, que não viajam só em tempos de lazer e com carácter verdadeiramente explorador, estão ávidos de experiências locais autênticas”, acredita a mentora do «Olhão Encantado(r)». Por isso, considera que o turismo cultural, do qual faz parte o turismo literário e o turismo criativo,
“é o que nos permite rasgar novos horizontes no seu arquivo das experiências emocionais e memórias, ao mesmo tempo que permite a (re)descoberta do 82
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natural e residente na cidade da sua localidade, contribuindo este turismo emergente, de uma forma natural e vívida, para a preservação da nossa Cultura na sua aceção mais lata”. O percurso literário começa num dos antigos poços de Olhão e segue para o busto de João Lúcio, um dos grandes nomes da Renascença Portuguesa, momento para uma pausa de alguns minutos para se recordar os poemas do antigo advogado olhanense, poemas enormes, alguns de várias (muitas) páginas, algo pouco usual na altura, e mesmo agora. Lê-se «O Meu Algarve», que imortalizou a imagem sedutora da região, das suas praias e noites estreladas, da sua herança árabe, e fala-se da beleza do Chale João Lúcio, um dos expoentes máximos da arquitetura simbolista em Portugal. Uma casa verdadeiramente imponente, localizada ALGARVE INFORMATIVO #258
junto ao Parque de Campismo e Caravanismo de Olhão, a seguir à Quinta da Regaleira, da qual praticamente não usufruiu, pois viria a falecer da gripe espanhola poucos meses após a conclusão da obra. Depois, do cimo da torre sineira da Igreja Matriz de Olhão, perdemos o fôlego com a mais extraordinária vista da arquitetura cubista, “única em
Portugal e há quem defenda que no mundo também”, diz Sónia Pereira. Entre várias pausas para escutar poemas que descrevem as maravilhas de Olhão, e as histórias por detrás das palavras, chegamos ao Bairro da Barreta, cujas ruas estreitas nos lembram os souks de Marrocos. Um percurso que se vai entrecruzando com o Caminho das Lendas que a Câmara Municipal de Olhão implementou no 84
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centro da cidade há alguns anos. Terminamos junto à réplica do Caíque Bom Sucesso, com uma vista soberba para o pôr-do-sol sobre a Ria Formosa.
“No fundo, o percurso é a apresentação histórico-literária de Olhão, a apresentação dos locais, acontecimentos e figuras com maior relevância histórica, através do que os autores – canónicos como José Saramago, Raúl Brandão, Manuel da Fonseca, Aquilino Ribeiro, José Afonso, mas também locais e contemporâneos como António Ventura ou Pedro Jubilot e o povo, através das lendas – escreveram sobre Olhão da Restauração”, refere Sónia Pereira. “Olhão foi considerada a capital nacional do graffiti por um canal televisivo; temos Mercados do peixe e legumes, que continuam a apresentar um fervilhar humano ALGARVE INFORMATIVO #258
muito pulsante desde o início do séc. XX; a réplica do caíque, a embarcação que levou os olhanenses a avisar o Príncipe Regente de que havíamos expulsado os franceses e de que ele podia regressar à pátria. O turismo literário permite desacelerar para sentir e viver, honrar o outro e ajudar-nos a reinventar o nosso caminho. Porque este turismo aposta na preservação da nossa memória coletiva e identitária e, em tempos de globalização, pareceme essencial”, defende Sónia Pereira. E mais não dizemos, porque as palavras serão sempre poucas para descrever o entusiasmo e calor com que esta «filha de Olhão» desvenda os encantos da Cidade da Restauração… e que merecem, sem dúvida, ser conhecidos . 86
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ORQUESTRA CLÁSSICA DO SUL LEVOU BEETHOVEN, SCHUMANN E MENDELSSOHN AO TEATRO LETHES Texto: Daniel Pina| Fotografia: Irina Kuptsova
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Teatro Lethes recebeu, no dia 17 de julho, mais uma edição do Ciclo Lethes Clássico, desta feita o concerto «A Música das Palavras», com o Quarteto da Orquestra Clássica do Sul, constituído por Jan Pipal e Emilian Petrov nos violinos, Ivetta Natzkaya na viola e Mikhail Shumov no violoncelo, e com a participação de Rui Baeta, Barítono e Narrador. O concerto englobou obras de três mestres, Beethoven, Schumann e Mendelssohn, para gáudio da entusiasmada assistência. De acordo com a Orquestra Clássica do Sul, Robert Schumann procurou traduzir para a obra «Kinderszenen» o entendimento que os adultos fazem da infância. “Dos 30 andamentos que
os mesmos são quase impercetíveis”, explica Rui Pinheiro. Destaque ainda para «Canções sem Palavras» (arranjo de Hans Sitt) de Felix Mendelssohn. “O que a música que eu amo expressa para mim, não é indefinido demais para ser colocado em palavras - pelo contrário, é demasiado definido”, dizia o compositor do período romântico que escreveu esta obra para piano. “As peças estão
organizadas em oito volumes e cada um tem seis peças. Delicadas e discretas, estas «Canções» revelam um lado mais íntimo do compositor”, descreve Rui Pinheiro, Maestro da Orquestra Clássica do Sul.
inicialmente escreveu escolheu apenas 13 para a versão final, criando um cenário que nos remete para a realidade e vivências vistas pelos mais pequenos”, refere a OCS. Do programa fez também parte a obra «An die ferne Geliebte, op. 98» (arranjo de Rui Pinheiro) de Ludwig van Beethoven, compositor que comemora o seu 250.º aniversário em 2020. Escrita em 1816, foi o primeiro ciclo de canções composto por este compositor de renome, à qual se seguiram obras idênticas com assinatura de F. Schubert ou R. Schumann. “É constituída por
seis episódios e as pausas entre
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RUSSIAN CLASSICAL BALLET TROUXE «QUEBRA-NOZES» AO TEATRO DAS FIGURAS Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
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streado a 18 de dezembro de 1892, no Teatro Mariinsky, em São Petersburgo, na Rússia, «Quebra-Nozes» é um dos três balltets que Tchaikovsky compôs, baseando-se na versão de Alexandre Dumas de um conto infantil de E. T. A. Hoffmann, «O Quebra-Nozes e o Rei dos Camundongos/Ratos». Com sessão dupla no Teatro das Figuras, em Faro, no dia 1 de dezembro de 2018, o Russian Classical Ballet transportou para o palco um sonho de Natal com bonecos animados, criaturas maléficas e um herói improvável, o príncipe Quebra-Nozes. Repleto de romance e fantasia, o ballet ALGARVE INFORMATIVO #258
exalta a capacidade de sonhar das crianças e a genuinidade dos seus sentimentos, neste caso concreto o primeiro amor de Clara. A história conta as aventuras de um quebranozes de aparência humana, trajado como um soldado, mas que tem as pernas e a cabeça de enorme tamanho. Clara gostava tanto da sua aparência que o pediu como presente de Natal ao padrinho, Herr Drosslmeyer, fabricante de relógios. Clara experimenta-o e vê que ele quebra as nozes com grande eficácia e sem nunca perder o sorriso. Fritz, o seu irmão, também o quis usar, contudo, seleciona as nozes maiores que havia no cesto. O quebra-nozes, ao ser utilizado de forma grosseira por Fitz, 108
acaba por ficar com um dos braços partidos. Face às reclamações da pobre Clara, o pai, o juiz Stahlbaun, entrega à filha o seu quebra-nozes como propriedade exclusiva, obrigando Fritz a brincar com os seus próprios brinquedos. Clara recolhe do chão o braço partido do quebra-nozes e abraça-o até que ambos acabam por adormecer. A criança sonha que volta ao esconderijo onde havia colocado o seu quebra-nozes, mas encontra o salão cheio de enormes ratazanas que Drosselmeyer criara. A casa desapareceu e no lugar onde ficavam os móveis estavam árvores 109
gigantescas. Ao mesmo tempo, o Quebra-Nozes de Clara tornou-se num soldado de carne e osso e que tem às suas ordens um pelotão de soldados como ele. Começa uma batalha entre as ratazanas e o pelotão do QuebraNozes, que sai triunfante do confronto. O bosque transforma-se depois numa linda estufa de Inverno e o QuebraNozes torna-se num lindo príncipe que leva Clara até ao Reino das Neves, onde a apresenta ao rei e rainha. Pouco depois, ambos seguem para o Reino dos Doces, onde conhecem a fada açucarada, seguindo-se mais aventuras e desventuras. Até que Clara acorda e descobre que, afinal, tudo não passara de um sonho . ALGARVE INFORMATIVO #258
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OPINIÃO Instantes de viva vivida Paulo Cunha (Professor) al como muitos de vós, passei metade da minha vida a colocar em álbuns as fotografias que, entretanto, ia imprimindo em papel fotográfico. Alinhados na estante, contam a quem os folheia parte dos momentos mais marcantes que a vida me ofereceu. Tal como nos livros, através das datas escritas à mão nas lombadas, adivinham-se muitas estórias. Noutro tempo, faziam parte duma reserva pessoal e intransmissível que apenas partilhávamos com os amigos que nos visitavam. Com o séc. XX terminado, com ele findou também esta forma de perpetuar em papel fotográfico, de forma ponderada e cuidadosa, momentos para mais tarde recordar. Fotografias que, devido ao preço da máquina fotográfica, da película, da revelação e da impressão, nos «custavam os olhos da cara», passaram, através da informatização e digitalização do processo fotográfico, a integrar um universo muito mais acessível e democrático. Com a inserção duma câmara fotográfica/vídeo nos telemóveis, registar, armazenar e guardar qualquer ALGARVE INFORMATIVO #258
momento passou a estar disponível a qualquer um que os possuísse. Através deste acesso, quase gratuito, à captação de momentos do quotidiano, grande parte da humanidade começou a registar a sua história através de imagens fotográficas e de vídeo. Consequentemente, ao contrário de quem viveu no século passado, este acesso desmesurado a tanta informação pessoal fez com que meio mundo a partilhasse, imediatamente, com o outro meio. Ainda que de forma instantânea e efémera, deixamos uma pegada digital muito personalizada. Assistimos hoje a um desinteresse e desapego pela construção de uma história pessoal e familiar através do registo foto e videográfico. Vivemos num mundo «Instagram», onde as estórias pessoais duram o tempo duma notícia publicada (cerca de um dia). Como consequência da atual situação pandémica que ora vivemos, o confinamento a que fomos obrigados concedeu-nos uma maior disponibilidade para gerir o nosso universo domiciliário. Estando em regime de teletrabalho, grande parte do tempo com um computador à minha frente, aproveitei os «tempos mortos» para colocar 120
milhares de fotos que andavam espalhadas e perdidas por vários locais (telemóvel, câmara fotográfica, computador portátil, tablet, discos externos e várias «nuvens de armazenamento») no álbum fotográfico que tenho vindo a construir no advento da atual era digital. E que bem que me tem feito! A exemplo do prazer e da mistura de sentimentos que senti ao criar e consultar os álbuns fotográficos (em formato de papel) do meu filho Miguel, nestes últimos meses senti o mesmo com as fotos/vídeos (em formato digital) da minha filha Catarina. Através dos vários registos recolhidos, ao ver os filhos crescer também eu cresço com eles. Coligir fotos, editá-las e datá-las, para além do prazer intrínseco, 121
transporta-nos através da memória visual a ocasiões e situações simbólicas e referenciais das nossas vidas. Tal como pegar e consultar um álbum fotográfico dos nossos familiares mais velhos nos aproxima deles através da memória, também o «screensaver» do nosso computador ligado aos nossos álbuns fotográficos digitais opera o «milagre» de, aleatoriamente e por períodos curtos, nos proporcionar viagens a momentos diversos e marcantes do passado, pois sempre que no ecrã aparecem as nossas fotos de eleição, temos um vislumbre de um futuro desejado. Eis uma boa sugestão para as férias, em casa. Porque da soma de belos instantes se obtém uma vida plenamente vivida. Saibamos multiplicálos! . ALGARVE INFORMATIVO #258
OPINIÃO Civilização e Cultura Mirian Tavares (Professora) “A casca de civilização sobre a qual caminhamos é sempre da espessura de uma hóstia. Um tremor e você fracassou, lutando por sua vida como um cão selvagem”. Zygmunt Bauman
ideia de civilização remeteme ao conceito de civismo – neologismo que nasce com a Revolução Francesa e que serve para designar a atitude do cidadão para com o Estado/país/nação. Uma atitude cívica é uma atitude guiada pela ética e pela consciência do dever que cada um tem para com o bem comum. Civilização, por sua vez, também é o contrário de barbárie, ou seja, representa um estágio mais elevado duma comunidade que segue regras de conduta e de respeito ao próximo. Na Modernidade, instalouse na cultura ocidental uma ideia teleológica de Futuro – o que vem depois é um aperfeiçoamento do hoje, é um salto dado em direção a algo melhor, ou, ainda melhor, mais civilizado. A Modernidade viu nascer também a Cultura de Massas, com a criação de novos meios tecnológicos de produção e de difusão de bens culturais, para o melhor e para o pior. Para o melhor, porque dava acesso, a um maior número de pessoas, a bens imateriais, ou materiais, que antes era pertença de ALGARVE INFORMATIVO #258
poucos. Para o pior, porque cria, a reboque, uma cultura baseada no consumo, ou porque, in extremis, transforma a cultura num bem de consumo. Para os sociólogos e filósofos da Escola de Frankfurt, o problema da cultura de massa residia no facto de ser erigida sobre uma ideologia fraudulenta. Adorno, Horkheimer e Marcuse, em diversas obras, elaboram o conceito de cultura a partir da distinção feita na Alemanha entre cultura e civilização: a cultura era o lugar dos sentimentos elevados onde conceitos como liberdade e felicidade poderiam ser postulados; à civilização caberia o papel de reprodutora de bens materiais. A ideologia burguesa, do fim do século XIX, difundia a cultura como uma promessa de futuro, para que a população em geral não questionasse o sistema de produção, e de distribuição, de bens materiais. As novas tecnologias permitiriam que mais pessoas desfrutassem dos bens culturais, através do seu processo de reprodução e difusão, aproximando todos do mundo idílico da cultura.
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Na Sociedade da Informação em que, supostamente, estamos todos interconectados e somos cidadãos do mundo, foi-nos concedido o acesso não só aos conteúdos, mas, também, à sua produção: qualquer cidadão pode expressar, livremente e para todos, as suas opiniões ou as suas criações. No entanto, alguma coisa se perdeu pelo caminho – a ideia de civilização que continha, como princípio, o civismo e a cultura. Somos assaltados, constantemente, por demonstrações de ódio, surdez e incultura que circulam pelas redes sociais. Todos têm sempre algo a dizer, mesmo que seja um impropério ou, simplesmente, um discurso de ódio. Talvez seja ódio pela civilização que lhes deu tanto acesso, mas que se esqueceu daquilo que, para mim, é o essencial: os princípios básicos de civismo – quase sempre frutos de uma boa educação. A dissolução da cultura na civilização, ou seja, a conversão de bens simbólicos em bens materiais, não trouxe o prometido paraíso partilhado, mas, pelo contrário, converteu, simplesmente, a cultura em mercadoria. A cultura, transformada em valor de troca, perde as suas qualidades intrínsecas e reforça, ainda mais, o fosso entre a elite e o povo. Pode-se dizer que alguns conceitos da Escola de Frankfurt são datados ou muito marcados pela circunstância em que nasceram, mas não nos devemos esquecer de que a 123
Foto: Victor Azevedo
promessa de fusão entre civilização e cultura, de facto, não se concretizou. Os bens de cultura continuam a ser bens de consumo e, aqueles que escapam a este destino, são pertença de uma elite intelectual e/ou económica e estão cada vez mais distantes de uma circulação e consumos verdadeiramente democráticos. Para o povo, resta o circo, já que nem sempre há pão. O problema é que o povo, em que cada indivíduo não se converteu em cidadão de plenos direitos, não percebe de que se transformou, passiva e alegremente, em comida para os leões . ALGARVE INFORMATIVO #258
OPINIÃO Do Reboliço #94 Ana Isabel Soares (Professora) um nefelibata, o Reboliço. Cuida que segue o exemplo do dono, que vê sempre a olhar para o céu: não é só de queixo levantado em presunção – é perscrutando as cores, os ares, farejando lá em cima qualquer vento, a humidade. A vida do moleiro é como se tivesse passado ali desde antes mesmo de ele ter nascido. O que conhece do mundo, e é infinito, é dali que conhece, do redondel-socalco sobre que se ergue a torre, o cone do telhado, o monóculo longo do mastro, os braços das varas, as mangas mais compridas ou curtas das velas: tudo, mas tudo sabe o velho, porque sabe desde que se sabe a si e porque observa, com todos os sentidos, o céu. “Até dá zanga”, pensam, sem dizerem, os filhos, quando os chama para trabalharem ainda dentro da noite: “Levantem-se, vamos armar o moinho: vem aí vento bom”. Estremunhados, ainda dentro de algum sonho, piam tanto como piam os pintos no galinheiro àquela hora, que é nada. Arrastam os pés, rosnam qualquer coisa para dentro, seguem o pai, olham para si mesmos a fazer girar mastro e varas, de dentro, de fora do moinho, a dar os nós certos, num compasso que os braços e as mãos, e a força de fincar os pés conhecem, mas a cabeça mal percebe – e, antes que se apercebam de que já não
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é entre os lençóis que estão, já não é dentro da cama, já não é horizontal aquele instante, nasce de rompante uma maré de vento que só para toda a humanidade daquele lugar foi inesperada – não para o moleiro, que a reconheceu num prenúncio lá partilhado entre ele e alguma escondida divindade. O canito entrega-se à admiração, ao espanto e ao orgulho que sente pelo velho: e mete-se ele a olhar para cima, para lá do ensarilhado cruzar de velame, varas, mastro, postes telefónicos e o rasto de algum avião; para lá do céu mesmo, a ver se vislumbra o alfabeto que o homem lê. Também ele despertou do sono pleno e mal crê que está desperto. Soube que sacudiu a cabeça porque ouviu o som da esquila e percebeu que não foi de coçar nenhuma das orelhas. Segue os homens porque é o que faz um cão, seguir os homens. Olha para um dos filhos do moleiro, vê que leva desencontrados os botões das casas, na camisa enrodilhada; olha para outro, as pálpebras só um quintinho abertas, ou é impressão do bicho, não chega a perceber se vai ao cheiro se não; olha para um terceiro, o mais ligeiro, vê que ajeita o cabelo para não lhe cair para a testa, ali vai a companhia com o moleiro à frente, as pernas altas a chegar antes de mais ninguém ao cimo das escadas, a 124
Foto: Vasco Célio
chave do moinho em riste – assim que a ouvem entrar na fechadura, escapam-se os incontáveis gatos pelo buraco da gateira, que na porta impede a inteireza do vermelho, sai um, sai outro e outro, mais ainda um, são quantos!, parecem setinhas atiradas por uma zarabatana (à hora a que descansam os homens, gatos e deuses brincavam dentro do moinho, convence-se o Reboliço da descoberta que, apesar do esforço para se lembrar, 125
esquecerá na manhã seguinte – ou, logo ali, quando quiser descobrir quem, atrás da porta, soprava para a rua os gatos, e der por si a perguntar-se o que estará a fazer parado entre a madeira encarnada e a cal da parede, se os homens correram todos para o piso de cima) . * Reboliço é o nome de um cão que o meu avô Xico teve, no Moinho Grande. Escrevo a partir desse olhar canino. ALGARVE INFORMATIVO #258
OPINIÃO E todavia, um Metro é um Metro! Adília César (Escritora) “De modo que a vida/ É um circo de feras/ E os entretantos/ São as minhas esperas”. Xutos & Pontapés
educação e a aprendizagem estão sempre em evolução, de acordo com as transformações operadas nas sociedades. Há muitas décadas que os docentes esperam que esse processo evolutivo preencha as necessidades do público-alvo: os alunos e suas famílias. Queremos a promoção do sucesso educativo das crianças e jovens, queremos um país em que o exercício da cidadania activa contrarie a ignorância passiva. E o que quer o Ministério da Educação? Nunca um futuro ano lectivo foi tão planeado, questionado, badalado. Todos têm opinião, os que estão dentro e os que estão fora da escola, pois, implícita ou explicitamente, com ela se relacionam. A Escola, essa instituição organizadora das sociedades é, ao mesmo tempo, um retrato fiel do nosso valor humano. Entre outros assuntos, muito se tem falado e escrito na distância de segurança antipandemia em recinto escolar. Na sua ALGARVE INFORMATIVO #258
maior parte, os eventos televisivos e despachos governamentais a esse respeito mais parecem sketches humorísticos de fraca qualidade, embora eu preconize que, ainda assim, possam ficar na história da educação como pontos nevrálgicos de uma nova tese matemática – a distância correspondente a um metro-padrão é a distância “possível” correspondente a um metro-padrão. Esta tese, de tão amplo o seu espectro, veio permitir a introdução do corolário «se possível», uma vez que, medindo-se o metro-padrão clássico ao longo de 100 centímetros clássicos, aquele poderá ser encolhido e esticado de acordo com a possibilidade dos intervenientes na sua relação com os espaços. Ou seja, a sala de aula com 45 ou 50 metros quadrados albergará turmas de 20 a 30 alunos e respectivos professores, todos à distância possível de um metro (que já não é o metro-padrão, é o pseudo-metro-namedida-do-possível). Quer dizer, há o metro-padrão anterior à era pandémica e há um outro metropadrão mais flexível, correspondente à era pandémica propriamente dita. 126
Vejamos algumas pérolas do discurso oficial (OrientaçõesDGESTE_DGE_DGS-20_21): (…) I – Medidas Gerais d) Procurar garantir as condições necessárias para cumprir com as recomendações do distanciamento físico; II – Organização do Espaço – Educação Pré-Escolar 3. Deve ser maximizado o distanciamento físico entre as crianças quando estão em mesas, sem comprometer o normal funcionamento das atividades pedagógicas. III – Práticas Pedagógicas – Educação Pré-Escolar 3. Pese embora a recomendação de distanciamento físico, importa não perder de vista a importância das aprendizagens e do desenvolvimento das crianças e a garantia do seu direito de brincar. IV – Organização Escolar – Ensinos Básico e Secundário 4. c) Sempre que possível, deve garantir-se um distanciamento físico entre os alunos e alunos/docentes de, pelo menos, 1 metro, sem comprometer o normal funcionamento das atividades letivas. 7. Definir e identificar circuitos e procedimentos no interior da escola, que promovam o distanciamento físico, nomeadamente no percurso desde a 127
entrada da escola até à sala de aula e nos acessos aos locais de atendimento e convívio. 8. Evitar a concentração de alunos nos espaços comuns da escola. V – Código de Conduta Além do uso da máscara dentro dos recintos escolares, devem ser mantidas as regras de higienização das mãos e etiqueta respiratória, promovendo-se ainda, a maximização do distanciamento físico. (…) ALGARVE INFORMATIVO #258
Das orientações depreende-se que o distanciamento físico possível depende da realidade física das salas de aula, ou seja: em salas de maior área e com menor número de alunos, 1 metro é o metro-padrão; em salas com menor área e com maior número de alunos, 1 metro é outra medida qualquer, como por exemplo, meio-metro. É muito curiosa a flexibilização do conceito de distância de segurança anti-pandemia: no início da dita, era de 2 metros; há uns meses, passou a 1 metro e 50 centímetros; depois, encolheu para 1 metro; e presentemente, é o metropossível, ou seja, todos encostadinhos uns aos outros. Caso ainda fossemos, malogradamente, assolados por algumas dúvidas, as declarações do Ministro da Educação Tiago Brandão Rodrigues vieram esclarecer o distanciamento físico correspondente a 1 metro: - (…) e, obviamente, também o distanciamento, que ficou muito claro que sempre que possível deve ser de um metro e sempre que possível deve ser o mais maximizado possível. - (…) Os alunos vão caber todos na mesma sala. Não haverá desdobramento de turmas. O que o Ministro da Educação ainda não percebeu é que o metro-possível vai operacionalizar-se nuns míseros 11 centímetros! Sabemos este dado de fonte segura porque temos estado dentro das salas de aula com os nossos alunos! A inevitabilidade de voltar ao jardim-de-infância e à escola em setembro, tendo em conta as compreensíveis urgências pedagógicas, sociais e económicas, é uma ALGARVE INFORMATIVO #258
impossibilidade possível, de acordo com as orientações da tutela, uma vez que vai ocorrer um aumento de casos de infecção por Covid-19 devido a um erro primário de planeamento: manter o número de crianças/alunos por grupo/turma em vez de o reduzir. E é a partir deste erro oficial que todas as estruturas intermédias e comunidades educativas tem de trabalhar com vista à organização do próximo ano letivo, numa tentativa hercúlea de minimização dos estragos que se hãode fazer sentir e que serão, no processo e no produto, uma responsabilidade colectiva. A saúde pública vai estar na corda bamba e cabe à escola, e principalmente aos educadores/professores de cada grupo/turma, um papel muito ingrato, uma vez que cada um destes docentes é responsável por gerir todas as regras de controlo de infecção, num espaço saturado de crianças/alunos. Está errado, sabemos que está errado, mas vamos todos obedecer. Afinal, tudo mudou para tudo ficar na mesma. O que querem a DGESTE, a DGE e o ME com a premissa sempre que possível que mais parece quase sempre impossível? Querem que os docentes desenvolvam as suas actividades/aulas e protejam toda a comunidade escolar com as condições de trabalho que as escolas (não) oferecem, responsabilizando-se injustamente pelos fracassos que não podem controlar? Quantos «entretantos» são necessários para a chefia corrigir erros irreversíveis? Sim, a vida é um circo de feras, mas mansas. Ah, que vontade de dar xutos e pontapés nisto tudo . 128
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OPINIÃO Empreender aos 18 anos Fábio Jesuíno (Empresário) vida é feita de histórias, aventuras que fazem diferença na nossa vida, e, no meu caso, uma das que teve mais impacto, foi quando decidi criar a minha empresa quando tinha 18 anos. Devemos partilhar as nossas histórias, acho que são sempre bons momentos de partilha e aprendizagem e na área do empreendedorismo é algo muito importante. Há muitos anos atrás, quando ainda era jovem e ainda não tinha falta de cabelo, estava a estudar na Escola Secundária de Mértola, no Baixo Alentejo, escola espetacular com professores muito bons que permitiam aos alunos desenvolver atividades inovadoras através de um método de ensino com uma forte componente tecnológica. Na altura com cerca de 15 anos, participava em diversas atividades extracurriculares, uma delas era o mini canal de televisão que transmitia para todas as televisões da escola, e uma rádio que era ouvida em toda a vila de Mértola. Adorava participar nessas tarefas e ao longo do tempo, aprendi e ALGARVE INFORMATIVO #258
comecei a dominar todos os equipamentos. Mais tarde, com 17 anos, devido a contingências orçamentais, a escola deixou de poder atribuir um professor para coordenar as atividades do canal de televisão e da rádio. Foi nesse momento que o diretor da escola me convidou para ser o coordenador e manter os projetos ativos, algo que fiquei surpreendido pela confiança que me estava a depositar, era uma oportunidade de aprender mais e manter os projetos ativos. Durante esse período, estava a estudar num curso profissional de informática com uma forte componente de programação, o que me permitiu começar a dar os primeiros passos no desenvolvimento web. Por iniciativa própria, criei os websites da televisão e da rádio da escola, para melhorar os meus conhecimentos e fazer chegar esses projetos a mais pessoas. Após tantos progressos, o diretor da escola lançou o desafio para criação do site oficial do estabelecimento. Foi muito bom, passei várias semanas a programar para criar algo inovador. No seguimento das iniciativas e trabalhos desenvolvidos na escola, fui convidado a dar uma entrevista numa revista. Inicialmente ponderei, não 130
queria dar muito nas vistas, mas pensei que a minha história podia motivar outros alunos. A entrevista saiu e surgiram contactos para criar websites, encontrei uma oportunidade de negócio e tomei a decisão de criar uma empresa. Encontrei vários obstáculos, um deles foi ter que esperar mais alguns meses para fazer 18 anos e outro foi a necessidade de ter cinco mil euros, valor mínimo na altura de capital social. Fiz 18 anos e rapidamente fui pedir dinheiro aos meus pais. Disseramme logo que não e que eu estava louco e devia ir para universidade. Contornei a situação e consegui convencer um banco a emprestar-me o dinheiro, foi um processo um pouco complicado. Nasceu assim nessa altura a 3WX numa vila do interior alentejano. Posteriormente, voltei a estudar porque pensei que era fundamental para o meu crescimento profissional e pessoal. Foi um percurso muito desafiante, no início devido ao pouco conhecimento em gestão. Passei 131
por diversas dificuldades financeiras, mas aprendi bastante nesse período. Hoje, a 3WX é uma agência de marketing digital reconhecida pela qualidade do seu trabalho e tem clientes em vários países .
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OPINIÃO Onde andam os alunos que querem fazer cinema? Vera Casaca (Argumentista e Realizadora de Cinema) á poucos dias atrás esteve a decorrer o FICLO - Festival Internacional de Cinema e Literatura de Olhão.
que era aquilo que sentíamos quando éramos adolescentes e havia um familiar pseudo-intelectual que sugeria ir à ópera enquanto nós mandávamos um sorriso amarelo e pensávamos “que seca”. Não sei.
Para além do mostrar vários filmes às 21H30 na recreativa – e com a entrada a apenas 1 euro – o FICLO também ofereceu residências artísticas, Masterclass/Conversas e também colaborou com o Cinema do Algarve Outlet, onde exibiu filmes de Pasolini e Visconti. Não consegui ir todas as noites, mas nas que fui, encontrei-me atónita por não ver praticamente rostos jovens e que conheço de vários cursos relacionados com o Cinema aqui no Algarve. Pensei, “talvez seja por ser sábado à noite”. Depois, “talvez seja por ser domingo”, “talvez seja por ser terça”. Será que ver filmes que não sejam os blockbusters americanos, é obsoleto para os nossos jovens algarvios? Será ALGARVE INFORMATIVO #258
Pondero outras possibilidades. Falta de informação? Mas eles estão sempre agarrados ao Facebook, foi publicado lá. Não viram? Mas há panfletos espalhados por todo o lado. Talvez seja por não terem transporte. Afinal, a nossa região carece de forma assustadora de infraestruturas e de transportes eficientes e flexíveis. Sabemos que existe uma forte associação entre a disponibilidade e eficiência de transportes públicos e o consumo da cultura. Será pelo dinheiro? Nem toda a gente tem posses, verdade. Sim, existem pessoas que vivem com maiores dificuldades financeiras. Seria injusto não mencionar isso. Contudo, e aqui, no caso específico do FICLO, este festival 132
disponibilizou todas as entradas a apenas 1 euro. Eu também não compareço a todas estas iniciativas, confesso. Talvez se houver algo em Portimão, pensarei duas vezes se irei ou não devido à distância e ao combustível. Mas a necessidade aguça o engenho, “posso combinar com dois ou três amigos e dividimos a despesa do combustível!”. Mas será apenas falta de poder económico? Também pode ser falta de hábito, talvez nem toda a gente tenha a sorte de ter pais que os levem a exposições, ao teatro, etc. Eu, por exemplo, não tive essa fundação em casa, procurei-a sozinha. E já agora, como falo do FICLO, falo também da ausência de rostos jovens nos Cineclubes, Monstrare, Farcume, outros festivais e mostras, nos teatros, etc. Mas será apenas falta de hábito? Não haverá algum comodismo? Talvez seja por não haver qualquer tipo de interesse. 133
Não aponto. Honestamente, apenas me questiono. É que, se for isso, então é um veneno que o antídoto disponível é fraquinho demais para combater . ALGARVE INFORMATIVO #258
OPINIÃO Cidades de amanhã João Ministro (Engenheiro do Ambiente e Empresário) ivemos um momento de particular emergência. Uma onda silenciosa atingiu-nos de forma abrupta, implacável e transversal, mergulhandonos num mar de consequências que ainda estamos a tentar medir. Alguns dos seus impactos estão bem visíveis. Sentimo-los na pele. Outros estão ainda por se revelar. A sociedade, no seu todo (ou quase), está a ser violentamente afectada, tanto ao nível social como económico. Humanitário também. Basta assistir ao que se passa em África ou na América do Sul. A sustentabilidade ambiental ganhou uma maior relevância nestes tempos. Por bons e maus motivos. A vida nas cidades está a ser reajustada e os temas que antes eram meros clichês de uma aparência que se fingia verde, saltaram hoje para o topo das exigências das populações: melhor mobilidade segura e alternativa, mais espaços verdes e de lazer, novos corredores ecológicos, melhor poupança e uso eficiente de água, mais conforto térmico e sonoro, entre muitos outros. Vivemos por tudo isso um momento crucial e até privilegiado. Privilegiado para promover a reflexão. Para ALGARVE INFORMATIVO #258
estabelecer o pensamento estratégico e tomar decisões planeadas, assentes em conhecimento, suportado na ciência e na experiência, aproveitando também as lições que nos chegam dos vários quadrantes do planeta em torno de casos bem sucedidos. As Cidades onde vivemos estão hoje sob particular pressão. Há uma emergente necessidade de mudança. O paradigma de hoje é diferente do que era ontem e o que se pretende e espera das cidades de amanhã está em transformação à escala mundial. A pandemia veio acelerar isso. Em especial, o seu papel estrutural face a temas urgentes e vitais para as sociedades, como seja a redução dos efeitos das alterações climáticas (nota: estima-se que 75% das emissões globais de CO2 provenham da actividade humana nas cidades), a preservação da biodiversidade, a conexão e o apoio ao mundo rural e, naturalmente, o bemestar das comunidades, seja ele físico, mental ou cultural. São muitos os exemplos de iniciativas que vão surgindo um pouco por todo o mundo e relevam essa importância das cidades. Note-se, por exemplo, a «Trees in Cities», das Nações Unidas (UNECE) (https://treesincities.unece.org), para 134
estimular a plantação de árvores nas cidades; da «Intelligent Cities Challenge» (https://www.intelli gentcitieschallenge .eu) que visa capacitar e guiar 100 cidades europeias para um «green smart sustainable growth»; ou diversas publicações e portais que oferecem aconselhamento técnico na renaturalização das cidades (ex. https://www.tysma gazine.com/librogratuitorenaturalizacionde-la-ciudad/ ou https://thecityfix.c om). Pensar e planear as cidades de amanhã não é apenas uma reacção à crise actual imposta pela Covid-19. É sobretudo uma postura de responsabilidade perante o planeta e a qualidade de vida das populações. É esse caminho que também temos de trilhar 135
por cá, por muito que custe e difícil seja. As circunstâncias assim o obrigam e o nosso futuro assim o exige . ALGARVE INFORMATIVO #258
OPINIÃO Limpeza, o primeiro dos 10 mandamentos Augusto Pessoa Lima (Cozinheiro, Consultor e Formador) im, só poderemos ser bons cozinheiros se formos limpos. A noção de limpeza é muito esquecida, obliterada até, das formações de cozinha, iniciais ou complementares. E a prova de que devemos fazer o que dizemos, ficou notória num estabelecimento IEFP, com o facto de eu ter iniciado precisamente o primeiro dia de formação prática, em mais uma ação formativa, com toda a turma a limpar a cozinha, desde paredes, bancadas, louças, utensílios, frigoríficos, economato e chão, enquanto uma outra turma que entrara depois, dizia em surdina frases como – Havia de ser eu, recusava-me! – Onde já se viu? Eu vim para um Curso de Cozinha e não para um Curso de limpeza. – Já me basta a minha casa, este gajo é doido! A turma, apanhada de surpresa, esteve impecável e serena, num todo, como equipa. Aquela Turma foi uma das mais exemplares que tive, tendo mesmo criado um nome – Os piratas da cozinha, em alusão ao grande número de formandos que usavam um lenço, à pirata. Não sei por onde andam todos, a ALGARVE INFORMATIVO #258
quem envio saudações e que estejam bem. Numa Escola, onde dei aulas, durante anos, também no nosso Algarve, a primeira aula prática de um novo Curso profissional (três anos, dupla certificação), era sempre a limpeza ao espaço, utensílios e equipamentos. Alguns desistiam nesse mesmo dia. Os restantes, que se haviam inscrito sem vocação, também se iam pouco depois, quando lhes calhava a vez de limpar o chão, lavar a louça ou despejar o lixo. – Eu em casa não faço isso, era o que faltava, diziam, mostrando que não estavam talhados para ser cozinheiros, pois não respeitavam a limpeza. Dos que ficavam, apenas metade conseguia alcançar o 12.º ano com sucesso. O Covid-19 veio trazer o melhor que existe na restauração/hotelaria – a Limpeza, em gestos e procedimentos esquecidos ou ignorados e não reclamados. Mas tantos outros são esquecidos, apesar de básicos e inadmissíveis em qualquer trabalho ou profissão, como o lavar das mãos, antes e depois de cozinhar, depois de utilizar os balneários e sanitários, de fumar, tossir, limpar, etc. e outros ainda, disfarçados pela idiotice e ignorância, como o uso desadequado das luvas, 136
sempre duas, uma em cada mão, coloridas de preferência, querendo mostrar limpeza e profissionalismo, mexendo em tudo, com um sorriso inocente ou convencido. Meus senhores, não se esqueçam: as bactérias mais resistentes a antibióticos e causadoras de intoxicação alimentar, são as disseminadas através das fezes humanas. Deveria ser justa causa, o despedimento de manipuladores de alimentos que praticam tais ações. É preferível sempre mãos nuas e limpas, que luvas usadas sem noção. Sobre elas, usando as duas – adequadas às especificidades, devem ser utilizadas em situações como marinar, encher chouriços, desossar e cortar peças de carne, amanhar e limpar peixes, lavar ou cortar alimentos que serão servidos crus, limpar e higienizar equipamentos com produtos ácidos, sanitários e baldes do lixo ou ainda se os manipuladores tiverem feridas ou sofrerem de algum tipo de erupção cutânea. Usando apenas uma – na mão esquerda (a mão que segura a faca ou outro instrumento não necessita) e usada de forma correta, não em contacto com alimentos – quando se cortam/manipulam alimentos cozinhadas. Ainda de lembrar, que as luvas descartáveis de borracha, látex ou plástico não devem ser usadas próximo 137
de fontes de calor, ou quando rasgadas ou ainda usadas para manipular máquinas de moagem, tritura, torção ou outros tipos de equipamentos que possam causar riscos de acidentes. Fora destas situações, a não ser que me tenha esquecido de alguma até ao momento da entrega desta crónica, o uso é demagógico, sem noção. Existem ainda trabalhos onde a utilização das mesmas é desadequado por trazer desconforto ou insensibilidade. Neste caso, mãos lavadas, sempre. A limpeza, o primeiro dos 10 mandamentos da cozinha, deveria ser aula obrigatória e eliminatória. As mãos de quem cozinha ou manipula alimentos deveriam ser as mais alvas, sempre . ALGARVE INFORMATIVO #258
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