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PETE THA ZOUK Um pioneiro da música eletrónica MIGUEL PRAIA DESPEDE-SE DAS CORRIDAS
A HISTÓRIA DE SANDRA & MIRIAM GALA DE NATAL DA ACADEMIA DE DANÇA DO ALGARVE ALGARVE INFORMATIVO #37 1
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SUMÁRIO
6 Afinal, santos de casa sempre fazem milagres Daniel Pina
8 Gala de Natal Academia de Dança do Algarve Reportagem
18 Sandra & Miriam Reportagem
28 “A educação é o que sobra quando se esquece tudo o que se aprendeu na escola”
Academia de Dança do Algarve 8
Paulo Cunha
Pete Tha Zouk 42 30 Conhece as competências da sua Assembleia Municipal? José Graça
32 Miguel Praia Entrevista
42 Pete Tha Zouk Entrevista
50 Atualidade
Sandra & Miriam 18
Miguel Praia 32 Algarve Informativo #37 produzido por Daniel Pina (danielpina@sapo.pt); Fotografia de capa: António Gamito Contatos: algarveinformativo@sapo.pt / 919 266 930
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OPINIÃO
AFINAL, SANTOS DE CASA SEMPRE FAZEM MILAGRES DANIEL PINA Jornalista
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minha rabugice de hoje é uma faca de dois gumes. Por um lado, a profunda irritação que me assola sempre que ouço dizer que “santos de casa não fazem milagres” ou que “o que vem de fora é melhor do que o nosso”. Por outro lado, a constatação de que estas «máximas» que se foram generalizando com o evoluir do tempo já não têm razão de ser, se é que alguma vez o tiveram. E se fosse necessária mais uma prova disso, todas as dúvidas foram dissipadas ao assistir à Gala de Natal da Academia de Dança do Algarve, no dia 11 de dezembro.
participavam em mais do que uma dança e de estilos distintos, do hip-hop ao afro house, da dança contemporânea ao dance hall, do freesytle ao vogue/waaking, encarnando na perfeição as personagens associadas a cada estilo. Ora, se pensarmos que muitas destas crianças treinaram apenas duas horas por semana para este espetáculo, durante três ou quatro meses, é caso para dar os parabéns aos instrutores, pela paciência que tiveram com os seus alunos, e a Marinela Gouveia, a fundadora da Academia de Dança do Algarve. Realmente, depois de ver a gala, pensamos que valeu a pena pagar a respetiva mensalidade, mesmo que, para alguns pais, isso implica tirar dinheiro de outras atividades. O problema que se coloca, para variar, é o que fazer depois a tantos talentos, num país onde cada vez se investe menos na Cultura e, quando há verbas para gastar, se dá primazia aos artistas estrangeiros, neste caso, às companhias de dança de outros países.
Com o Pavilhão Municipal de Loulé praticamente lotado, passaram pelo palco improvisado algumas centenas de crianças e jovens, dos cinco, seis anos até aos mais adultos, incluindo um grupo de mulheres dos 25 aos 50 anos, com as suas profissões do dia-a-dia e uma enorme paixão pela dança. E se já esperava que os bailarinos dos 16/17 anos para cima tivessem uma qualidade acima da média, fossem simples alunos ou já instrutores, o que me surpreendeu verdadeiramente foi ver crianças com meia dúzia de anos, outras de 10, 11 anos, a dançarem de sorriso nos lábios e um talento de deixar qualquer pai babado.
Não coloco em causa que tenham valor, se andam em digressões mundiais é porque têm talento para isso, mas as nossas crianças não lhes ficam atrás, em termos relativos. Pegando em qualquer daqueles miúdos e miúdas, continuando a dar-lhes formação, continuando a fazer sacrifícios para pagar as suas aulas, não tenho dúvidas de que muitos têm condições para serem bailarinos profissionais. Alguns até já o são e fazem parte
E nem sequer se tratavam de coreografias banais, de poucos passos, sempre com o mesmo som e batida, mas com várias mudanças de ritmo, diferentes coreografias encadeadas e com adereços e roupas a condizer com a trilha sonora. Mais, alguns desses artistas de palco e meio
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a mão a todas as oportunidades que surjam. Mas simplesmente não há espaço para todos.
de equipas que regularmente participam em competições nacionais e internacionais e com resultados francamente positivos. Só que nem todos os pais têm condições financeiras para o fazer e bem sabemos como anda o ensino artístico em Portugal, com professores com ordenados em atraso há vários meses e escolas à beira de fecharem portas. São os professores que vão para o desemprego, são os alunos que ficam com a formação a meio, são os pais que ficam com a sensação de que andaram alguns anos a deitar dinheiro para o lixo.
Claro que não passa pela cabeça de ninguém que aquelas centenas de crianças que dançaram na gala de Natal da ADA queiram todas ser bailarinos profissionais. Muitas acabam por descobrir outros interesses lúdicos ou perceber que a dança não é para elas quando se torna mais exigente, quando deixam de chegar duas horas semanais para preparar uma coreografia. Mas muitas de certeza que sonham com esta carreira, a ver pela dedicação com que pisaram o palco, os olhos a brilhar, a nota artística em cada movimento que executavam. E os pais, claro, deixam-se levar pela euforia do momento, pelo clima, e partilham dos mesmos sonhos. Até eu fiquei todo orgulhoso a ver a minha Margarida a fazer a sua parte com apenas três meses de aulas. E, por uns breves instantes, não vou deixar a minha rabugice instalar-se e vou sonhar também que é possível ser artista em Portugal .
Fruto deste cenário, acontece o mesmo que em qualquer forma de expressão artística. Os miúdos deixam de ser miúdos, chega a altura em que têm que decidir entre um curso superior tradicional ou entre as belas artes, seja a música, pintura, dança, teatro, ou canto, os próprios pais percebem que não há saídas profissionais em Portugal para os seus filhos e os jovens acabam por desistir. Os mais persistentes continuam a sonhar, completam os estudos, depois tentam a sorte no estrangeiro ou como freelancers a jogar
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REPORTAGEM
ACADEMIA DE DANÇA DO ALGARVE deu espetáculo de outro mundo em Loulé O Pavilhão Municipal de Loulé esgotou, no dia 11 de dezembro, para assistir a mais uma Gala de Natal da Academia de Dança do Algarve, uma oportunidade para observar jovens a partir dos cinco anos a interpretar coreografias de Hip-Hop, Afro House, Dancehall, Contemporâneo, Teatro, Freestyle e Vogue/Waaking. Ao longo da noite, quase meio milhar de alunos de várias idades demonstraram os seus dotes, os pais também foram convidados a participar na festa e, depois dos aplausos, é retomar as aulas e pensar já na gala de fim de ano, a ter lugar no Teatro das Figuras, em Faro, em junho. Texto e Fotografia: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #37
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F
altavam ainda algumas semanas para mais uma Gala de Natal da Academia de Dança do Algarve e o frenesim já era notório nos polos espalhados um pouco por toda a região, com os diversos instrutores a intensificarem o ritmo dos ensaios e a puxarem mais pelos alunos, os mais novos de apenas cinco anos. Um frenesim a que não escapavam os próprios pais, ao assistirem à evolução dos filhos em coreografias de elevado grau de complexidade, uma exigência que sentiram também na pele no dia 8 de dezembro, no ensaio geral que teve lugar no Pavilhão Desportivo Municipal da Penha, em Faro. Isto porque os pais também iriam fazer parte do espetáculo do dia 11, subindo ao palco do Pavilhão
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Municipal de Loulé ao lado dos seus rebentos. Enquanto os pais tentavam acompanhar os filhos na execução dos movimentos, Marinela Gouveia, licenciada em Desporto e Educação Física, contou que esta aventura arrancou em 2007 em sequência do trabalho que já desenvolvia na área da dança em várias escolas desde 1994. 10
“Infelizmente, não notava uma grande evolução na dança, por falta de apoios, mas também porque não existia uma formação específica de hip-hop no Algarve. Decidi, por isso, juntar uma equipa de técnicos que tinham em comum a paixão pela dança e assim nasceu esta associação sem fins lucrativos. Depois, começamos a organizar eventos e workshops com professores nacionais e internacionais e fomos crescendo de forma sustentável”, indica a presidente da Direção da ADA. Marinela Gouveia reconhece que, na vertente mais clássica da dança, sempre houve núcleos ou polos de formação no Algarve, contudo, no hiphop não acontecia o mesmo e isso motivou o aparecimento de uma academia que apostasse na criação de grupos de formação, mas também de competição. E um dos primeiros eventos organizados foi a Convenção Internacional Hip-Hip Dance Algarve, hoje uma referência além-fronteiras, sinal de que o hip-hop deixou de ser visto como um estilo de música associado a jovens problemáticos, de bonés ao contrário e calças largas a 11
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caírem pelos joelhos. “Os meus primeiros passos no hip-hop datam de 1983, quando não se ouvia sequer falar disso em Portugal. Eu não me identificava com o clássico, ia mais para a dança moderna e de jazz, e o hiphop só começou a ganhar raízes na região quando consegui trazer os tais formadores estrangeiros”, recorda a entrevistada. Dessas ações de formação emergiram muitos dos atuais instrutores da ADA e estava dado o pontapé de saída para um modelo que assenta em polos localizados em vários pontos da região, ao invés de ter apenas uma sede que obrigasse os interessados a deslocar-se para puderem ter aulas de hip-hop. Curiosamente, a ADA até era para se chamar Academia de Dança de Faro, mas Marinela Gouveia teve um clique que lhe disse que o projeto tinha pernas para ir mais longe, para voar mais alto. “Após a constituição da academia, verificamos, de facto, um interesse crescente de pais de que estivéssemos noutras cidades e, ano após ano, foram aparecendo mais polos, graças igualmente aos apoios obtidos de ALGARVE INFORMATIVO #37
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algumas câmaras municipais, juntas de freguesia e estabelecimentos de ensino, nomeadamente na disponibilização dos espaços para realizar as aulas”, frisa a entrevistada. Polos que atualmente são nove – Quarteira, Almancil, Loulé, Faro, Estoi, Conceição de Faro, Olhão, Fuzeta e Tavira – e outra consequência deste crescimento foi o aumento dos estilos de dança lecionados e dos escalões etários abrangidos. Assim sendo, o hip-hop divide-se em Infantil, Juvenil, Júnior e Sénior, com idades a partir dos cinco anos, mas há outras vertentes extras ao hip-hop de base, casos do Afro House, Dancehall, Contemporâneo, Teatro, Freestyle e Vogue/Waaking, como se pode constatar, in loco, na Gala de Natal realizada em Loulé. “Claro que os primeiros anos não foram muito fáceis, todo o projeto novo precisa atravessar uma fase de aceitação, de credibilidade, mas o facto de ser professora de educação física em Faro, Olhão e Estoi permitiu que algumas portas se abrissem mais depressa. A autarquia de Faro deu-nos uma grande ajuda ao nível das instalações, em Olhão, temos parcerias de apoio social com a Santa Casa Nossa Senhora de
Fátima, na Fuzeta, contamos com o auxílio da junta de freguesia, em Quarteira, temos a colaboração do Centro de Apoio à Criança e da junta de freguesia, em Almancil, é a própria escola EB1 que nos cede um espaço, em Loulé, está a crescer o apoio da câmara municipal e, em Tavira, a autarquia também nos recebeu prontamente”, enaltece.
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impede que alguns pais considerem a dança como mais uma atividade de ocupação de tempos livres, uma forma de entreter os filhos durante mais uma ou duas horas antes de regressarem a casa. “Os pais mais jovens têm uma postura diferente, mais responsável, assumem o compromisso de que isto não é um simples entra e sai, que a época arranca em setembro e prolongase até junho/julho, para que a criança também perceba melhor o que é esta modalidade, para que evolua dentro dela. Todavia, é uma luta constante que travamos para os pais se mentalizarem de que as crianças não podem querer uma coisa hoje e amanhã mudarem de ideias e desejarem experimentar outra completamente diferente”, aponta a dirigente e professora.
Aulas orientadas para os espetáculos
Nesse sentido, Marinela Gouveia garante que um aluno que permanece na ADA durante uma época completa evidencia um comportamento diferente, apreende as regras da modalidade, cresce na dança e tudo isso é positivo para o dia-a-dia. E uma forma de envolver os pais neste crescimento passa, precisamente, por integrá-los numa coreografia do
Nove polos, vários estilos de dança e classes etárias que movimentam um universo de cerca de 500 crianças e respetivos pais e encarregados de educação e Marinela Gouveia mostra-se satisfeita por verificar que a modalidade é vista com outros olhos, tanto por miúdos como por graúdos. Isso não
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espetáculo de Natal, para que lidem mais de perto com os próprios instrutores e tenham contato direto com o trabalho que está a ser realizado com os seus filhos. Mas também há pais que praticamente «obrigam» os filhos a irem para a dança porque eles, quando eram mais novos, tiveram essa vontade e não o puderam fazer, admite a fundadora da academia. “Como sabemos que isso ainda acontece, no início da época, damos 15 dias, um mês, para a criança experimentar e ver se se adapta ou não à modalidade, se é mesmo isto que procura. E a pensar nessas tais mães temos as «Golden Ladies», um grupo
constituído por 25 mulheres que em tempos praticaram a dança rítmica e moderna e que agora andam no hiphop”, revela Marinela.
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primeira experiência em palco com centenas de espetadores pela frente, mais um motivo para os pais participarem numa coreografia, mas poucas são as que desistem, afiança Marinela Gouveia. “Os pais ajudam os instrutores a controlar situações mais emocionais que possam surgir, desde choros a birras, porque as crianças de quatro ou cinco anos não têm perceção do que vai acontecer. Após este primeiro evento, o que normalmente se nota é um maior interesse e motivação para continuar a trabalhar, porque os mais novos estão em palco com os mais velhos, veem o que eles conseguem dançar e querem fazer o mesmo. São 30 e tal coreografias num espetáculo, é impossível resistir”, finaliza a presidente de direção da Academia de Dança do Algarve .
E quem acompanha as aulas ao longo das várias semanas depressa constata que são coreografias direcionadas para um espetáculo em concreto, com um fim prático em mente, ao invés de se ensinar uns passos de dança de forma aleatória. “A primeira coreografia, a que é levada a palco na Gala de Natal, nunca é muito sólida, porque temos que transmitir as bases de cada estilo aos alunos. Mais tarde, em junho, há um novo espetáculo, no Teatro das Figuras, que engloba duas coreografias e é agradável verificar a evolução dos miúdos no espaço de poucos meses. Sem objetivos, os alunos nunca assumem totalmente um compromisso com a dança”, defende. Como se adivinha, nem todas as crianças que estão em início de caminhada na ADA se dão bem com esta ALGARVE INFORMATIVO #37
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REPORTAGEM
SANDRA & MIRIAM Uma hist贸ria de amor, coragem e esperan莽a ALGARVE INFORMATIVO #37
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Há histórias que são fáceis de contar, mesmo que, bem espremidas, pouco sumo tenham, mas já se sabe que os portugueses nem sempre gostam de pensar em assuntos demasiado sérios. Por isso, há histórias que merecem ser relatadas, lutas que se travam no dia-a-dia e que deveriam ser do conhecimento público, mas que passam relativamente despercebidas, até que uma figura pública, um artista ou ator famoso, empreste o seu nome e rosto à causa. Vidas que mudaram de um momento para o outro, como as de Sandra e Miriam, uma ex-auxiliar de creche e a sua filha de oito anos, que desde os oito meses de idade sofre de paralisia cerebral depois de ter tido contato com o vírus do herpes. E este é daqueles casos que não são fáceis de contar, nem sequer de ouvir e escrever sobre eles, mas que precisam ser narrados, por serem verdadeiros exemplos de amor, coragem e esperança. Uma história diferente em tempo de Natal, mas que só é possível graças à ajuda de muitas pessoas anónimas, de associações, de empresas, de estabelecimentos comerciais, que querem ajudar a Sandra e a Miriam a sonharem com um futuro um pouco mais risonho. Entrevista: Daniel Pina 19
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Miriam com o fisioterapeuta Rui Marcelo
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ia após dia, semana após semana, a rotina de Miriam Freitas tem sido praticamente a mesma há quase dois anos, desde que começou a ser acompanhada pela clínica Rehab4life, em Faro. Entre terapia da fala, terapia ocupacional, fisioterapia, hidroterapia, reflexologia, acupuntura e hipoterapia, a agenda desta criança de apenas oito anos reserva pouco tempo para qualquer outra atividade, nem sequer para as habituais brincadeiras das meninas da sua idade. Mas, infelizmente, Miriam não é uma criança como as outras. É verdade que nasceu igual à esmagadora maioria dos bebés, com perfeita saúde, depois de uma gravidez sem quaisquer sobressaltos, mas quis o destino que, aos oito meses e meio, estivesse em contato
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com o vírus do herpes e adoecesse com uma encefalite herpética. O malfadado destino, um destino que, muitas vezes, nos deixa de boca aberta, sem conseguirmos descortinar que motivos encerra nos seus meandros, apesar de crescermos a ouvir que «Deus escreve direito por linhas tortas». Linhas, neste caso, bastante tortas, pois o vírus que apanhou através de um simples beijinho na mão provocou lesões cerebrais gravíssimas e assim ficou Miriam sem andar, sem falar, sem poder brincar, sem poder sequer ter os mesmos sonhos e desejos que todos os outros meninos e meninas. E, no fatídico momento em que o diagnóstico foi conhecido, começou uma dura batalha diária, sem fim à vista, mas com a
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esperança de que, no futuro, a sua história se comece a escrever por linhas mais direitas. Um dia que ditou o começo da nova vida de Miriam Freitas mas também o fim de qualquer existência normal de Sandra Domingos, uma alentejana de 38 anos a residir em São Brás de Alportel, uma mãe que abdicou dos seus sonhos, dos planos que tinha para Miriam com a madrinha Dulce Félix a vida, do próprio trabalho, para estar 24 “A Miriam tornou-se tudo para mim, horas por dia ao lado da sua filha. “Um tive que aceitar o novo mundo em que simples beijinho na mão, que depois a vivia. Qualquer pai faz os seus planos Miriam, como qualquer bebé normal, com o pressuposto de que o filho vai levou à boca, colocou-a no hospital e nascer saudável e tudo isso se altera. depressa percebemos que as nossas vidas Temos que desistir dos objetivos que nunca mais seriam as mesmas”, diz-nos tínhamos delineado, mudar as Sandra, enquanto Miriam iniciava mais prioridades, mas habituamo-nos a uma sessão com o fisioterapeuta Rui isso, temos que nos habituar”. Marcelo. E no mundo moderno em que vivemos, da livre circulação da informação, nem sequer houve a possibilidade de acalentar falsas esperanças, de pensar que o problema era menos grave do que aparentava, de almejar ainda ter uma vida rotineira, lembra Sandra Domingos. “Explicaram-nos logo que as células dum lado do cérebro tinham sido completamente destruídas e que, do outro hemisfério cerebral, só uma parte foi poupada. Sabíamos que a Miriam ia ser uma criança diferente e que, com o tempo, poderiam aparecer mais limitações. Passado um ano, o vírus reativou-se e esteve duas semanas sem ver nem ouvir mas,
Uma notícia terrível que nenhum pai está preparado para receber, depois dum parto sem qualquer incidente, depois de saber que Miriam era uma bebé cheia de saúde e energia, um choque psicológico brutal, quase físico, o arrancar do tapete debaixo dos nossos pés, um mundo que desaba por completo. “Ela nunca teve sequer uma febre dos dentes e, de um dia para o outro, tudo mudou. Na altura ainda vivia com o pai da Miriam mas, desde que ela fez um ano, estamos as duas sozinhas nesta luta”, revela, com amargura, sem se alongar mais na explicação. Uma explicação que, na verdade, nem é preciso dar, pois nem todos conseguem lidar com uma situação destas da mesma maneira. 21
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escola mas, quando viemos para a Rehab4life, optei por tirar baixa do trabalho”, indica, confessando que não tem sido fácil travar esta luta sem um ordenado fixo ao fim do mês e com escassas ajudas da parte do Estado. “Tomamos conhecimento do projeto de recolha de caricas e tampinhas, apresentamos a causa da Miriam e é graças a isso que Miriam com o fisioterapeuta Mário Afonso numa sessão de Hidroterapia temos conseguido pagar os tratamentos. Há meses que graças a Deus, conseguiu recuperar os as despesas chegam perto dos dois mil sentidos”, relata a mãe, com uma euros, sem falar no material serenidade só possível devido às muitas ortopédico e nas cadeiras de rodas, vezes em que teve que contar a história. “A que temos que mudar regularmente Miriam não anda nem fala, usa fraldas, porque ela vai crescendo como uma depende totalmente de mim e só menina normal”. recentemente começou a dizer algumas palavras, o «mãe», o «não» e o «ai», principalmente quando refila com os Uma vida dependente terapeutas por não querer trabalhar”.
da ajuda dos outros
Mudanças que começaram logo por Sandra tirar uma baixa na creche onde era auxiliar para poder acompanhar Miriam em todos os tratamentos e por alugar um apartamento num prédio com elevador e rampa para cadeira de rodas. Uma casa que também precisa de amplo espaço para Miriam dar alguns passos no andarilho, apesar de ter luxação nas ancas, e para circular com facilidade numa cadeira própria. Mas Sandra enfrentou o problema de frente desde o primeiro minuto e nunca lhe passou pela cabeça colocar a filha numa instituição e só estar com ela à noite. “Nos primeiros três anos era o avô que a acompanhava nas terapias e a levava à
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Não admira, por isso, a felicidade de Sandra quando receberam um donativo da Associação de Beneficência Algarvia de Newark, sinal de que a sociedade civil já vai abrindo os olhos a esta realidade, uma realidade que, bem vistas as coisas, pode tornar-se a realidade de qualquer um de nós, assim o dite o tal malfadado destino que tantas vezes nos deixa em nocaute. “Temos recebido apoio de algumas associações que conhecem a fundo o caso da Miriam – a Sopro de Carinho do Porto, a ACCA e o Rotary Clube de Estoi – o resto das ajudas provém da recolha das tampinhas e 22
estão a auxiliar. “Torna-se complicado gerir o dia-a-dia da Miriam, as terapias, as recolhas e entregas das tampas, os eventos, não sobra tempo para mais nada. Contudo, existem muitas pessoas a aproveitarem-se dos problemas dos filhos, criam páginas no Facebook a pedirem ajuda para isto e para aquilo e nem sempre a realidade é aquela que transmitem. Por isso, gosto que a Miriam esteja presente nos eventos, para que vejam que ela existe de verdade, que contatem com as suas limitações, que a conheçam pessoalmente”, explica.
das caricas. Contudo, essas verbas não são certas, há meses em que não são suficientes para cobrir as despesas com os tratamentos, daí a importância de eventos que são organizados em prol da Miriam”, destaca Sandra. Eventos como uma marcha solidária que aconteceu esta sexta-feira, em São Brás de Alportel, e que partiu da iniciativa das escolas deste concelho, ou como a Gala de Natal da Academia de Dança do Algarve, que teve lugar no mesmo dia, em Loulé, mas Sandra Domingos enaltece igualmente o contributo da madrinha Dulce Félix, atleta de fundo e corta-mato, e do padrinho Dino Santiago, cantor. Eventos que vivem muito, como é natural, da presença da própria Miriam, pois é importante que as pessoas saibam quem
Menos complicado tornou-se o acesso a profissionais especializados para realizar os tratamentos necessários, como é o caso da clínica Rehab4life de
Miriam com a terapeuta Bárbara Guerreiro numa sessão de reflexologia 23
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quem olhava para ela dava-lhe dois ou três anos de vida, mas a sua evolução tem-nos dado esperança. Os terapeutas são bons, a equipa trabalha de forma excelente com ela, mas isso só é possível quando a Miriam colabora com eles”, reconhece, explicando que a filha, às vezes, também faz as suas birras, quase como se fosse uma criança normal. “Ela tem dias de mau-feitio e, se entende que não quer fazer o tratamento, não é fácil dar-lhe a volta. Mas são birras que nos deixam também contentes, porque significam que tem uma personalidade própria, que não é um vegetal como muitos diziam que iria ser”.
Miriam com a terapeuta Adriana Pires numa sessão de Terapia Ocupacional
Sem tempo para choros e depressões As emoções aumentam, a voz de Sandra já vai tremendo aqui e ali, por muito que esteja habituada a falar sobre este assunto. Do outro lado da porta, até parece que Miriam está a ouvir a conversa, a personalidade malandra dá um ar da sua graça, pelos vistos não lhe apetece fazer um exercício. Pausa-se a conversa, acalma-se o estado de espírito, tentamos tirar algumas fotografias. Mas Miriam parece, realmente, estar num dos tais dias de malandrice, ou talvez estranhe a pessoa nova que tem pela frente. De sorriso nos lábios, mas rosto para baixo, não facilita a tarefa do fotógrafo. Contudo, mal este desvia a câmara para ver como estão a ficar as fotos, levanta logo o rosto, o tal
Miriam a fazer acupuntura com o Dr. Paulo
Faro, onde os progressos têm sido assinaláveis, mas até onde pode chegar a Miriam, perguntamos, de forma hesitante, uma pergunta simples mas nem sempre de fácil resposta. “Tudo depende da Miriam, porque os médicos, na altura, apresentaram um diagnóstico totalmente oposto ao que ela tem conseguido fazer. Diziam que seria uma criança 100 por cento atrasada mental,
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dou-me 15, 20 minutos para deitar tudo cá para fora, para chorar, gritar, berrar, o que for preciso para me levantar no dia seguinte com um sorriso nos lábios”.
sorriso traquinas, um cenário que qualquer pai já presenciou quando tenta tirar fotografias aos seus filhos.
Com Sandra mais recomposta, regressamos à conversa, mas a E com a mesma naturalidade com que entrevistada não esconde os sentimentos fala dos progressos de Miriam, Sandra que a inundam constantemente. confirma que a sua vida pessoal Sentimentos que são mais fortes numa praticamente deixou de existir, os mãe do que num pai. Foi na sua barriga que Miriam andou e cresceu durante nove meses. Foi de dentro dela que saiu uma bebé saudável. Foi com ela ao colo que chorou de felicidade. Foram muitas as noites acordadas nos primeiros meses a dar o leite, a tratar das cólicas, a ver se estava a respirar bem, se estava a dormir serenamente. Hoje, no entanto, chora por outros motivos, mas por pouco tempo, não se podem gastar minutos em lamentos, eles não servem para nada, e muito menos à Miriam com a terapeuta Telma Lopes numa sessão de Terapia da Fala frente da Miriam. “Há passatempos de que podia ter gostado dias em que sinto que estou no fundo do antigamente perderam todo o sentido, buraco, mas vejo a força da Miriam, o até ir beber um café com as amigas é modo como ela luta para cada dia fazer raro de acontecer. É quase como aqueles mais um bocadinho, e tenho que erguer a convites que recebemos para festas, cabeça. É preciso fazer as contas, ver se com o nosso nome e mais um há dinheiro para pagar os tratamentos, convidado. Neste caso, é «Miriam + para comprar os materiais, arranjar mais uma», porque Sandra vive em função da tampas, organizar mais eventos. As e para a filha e nem podia ser de outra depressões vamos empurrando para um forma quando se é mãe. “O meu cantinho, não posso estar triste ou chorar objetivo de vida tornou-se a ao lado da Miriam, porque ela sente isso recuperação da Miriam, mas tenho tudo e a recuperação torna-se mais difícil. amigas espetaculares e uma filha 100 Depois, quando ela está a dormir à noite, 25
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Sandra & Miriam antes do início de mais uma sessão de tratamentos na Clínica Rehab4life, em Faro
por cento, já foi a um bar e portou-se lindamente”, garante, ciente de que a opção que tomou é para o resto da vida e não como aquelas mulheres que decidem colocar uma parte da sua vida em pausa durante alguns anos para apostar, por exemplo, na carreira profissional. “É difícil deixar a Miriam com alguém porque tem crises de epilepsia. Mesmo que fique um pouco com o avô, estou sempre a ligar de cinco em cinco minutos para saber se está tudo bem”.
um computador especial em que, através do seu olhar, podemos perceber mais coisas sobre ela. A Miriam diz algumas palavras, mas quando quer, portanto, tudo depende da força de vontade dela. Hoje, podemos não ter nada mas, amanhã, ela pode fazer qualquer coisa que nos faz ganhar logo a semana. Não peço uma recuperação a 100 por cento, mas podemos sonhar com 70 ou 80, e é essa esperança que me dá muita força a mim, como mãe”, afirma, de novo com as lágrimas a darem sinal de quererem regressar. Era o momento certo para terminarmos a conversa, com a certeza, porém, de que vamos ouvir mais da Miriam, e da Sandra, e também com a esperança de que Deus comece a escrever certo por linhas tortas o mais brevemente possível .
Com a hora de fisioterapia a chegar ao fim, é tempo de falar do futuro próximo e Sandra Domingos indica que Miriam está à espera de ser operada à anca e que, após o desnível existente ser corrigido, abre-se a esperança de poder dar mais passos sem dor. “Estamos também a tentar comprar
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OPINIÃO “A EDUCAÇÃO É O QUE SOBRA QUANDO SE ESQUECE TUDO O QUE SE APRENDEU NA ESCOLA” PAULO CUNHA
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or sugestão de um amigo que conhece as minhas ideias e ideais sobre Educação, li há pouco tempo um artigo que fazia uma súmula de um inventário realizado pelo jornal «El País» sobre o que Albert Einstein pensava sobre o tema. Coligido a partir de cartas, ensaios biográficos e livros, estas ideias de um homem que enquanto estudante não gostou nem se interessou pela escola autoritária e desmotivadora do seu tempo - tendolhe sido, inclusive, imputada a fama de medíocre enquanto aluno - são hoje motivo de interesse e reflexão. Não, não foi um «mau» aluno!… Foi apenas aquilo que muitos dos atuais alunos são em Portugal: vítimas das circunstâncias. E como tantos mostrou-o nos bancos da escola, levando inclusive uma professora a vaticinar-lhe que nada seria na vida. Afinal de contas, um «dejá vu» que se repete insistentemente de geração em geração e que leva a estigmatizar quem não tira boas notas, sejam os motivos quais forem. Leva tudo pela mesma bitola! Na sua obra «A minha visão do mundo», publicada originalmente em 1949, Einstein defendia que: “A aprendizagem deve ser feita de uma maneira que possa ser recebida como a maior dádiva, e não como uma obrigação amarga.”. Tendo escrito também: “Aprendi desde muito cedo a extrair o importante, prescindindo de uma multiplicidade de coisas que (…) desviam a mente do essencial. O problema é que para os exames tinhas de enfiar tudo na cabeça, quer queiras ou não. (…) É um erro grave acreditar que a vontade de olhar e pesquisar pode ser fomentada pela obrigação e pelo sentido de dever. Penso que até um predador animal saudável pode ser privado da sua voracidade se lhe for exigido continuar a comer quando não tem fome”. Afirmações que, refletindo a falta de investimento na curiosidade
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natural como força motriz para a aprendizagem, continuam ainda tão atuais. Numa carta dirigida ao seu filho, Eduard Einstein, publicada postumamente em 2008 na obra «Posteridade: cartas de grandes cidadãos norteamericanos aos seus filhos», de Dorie McCullough Dawson, o cientista recomendava-lhe a seguir o seu instinto e fazer aquilo que gostasse, já que essa é a melhor maneira de aprender: “No piano toca sobretudo o que gostares, mesmo que a professora não te o exija. Essa é a melhor maneira de aprender, quando estás a fazer algo com tanto prazer que nem te dás conta do tempo a passar”. Seja na arte ou na área que for, esta premissa continua a fazer toda a diferença: deixar a “vocação falar mais alto”, em detrimento de tudo o resto que para os outros é o mais importante. “Afinal de que me interessa a opinião dos outros se a vida a ser vivida é a minha?!...”. Na obra as «As minhas crenças» (1939) escreveu: “Deveria cultivar-se nos indivíduos qualidades que promovam o bem comum. Isto não significa que «o indivíduo» se converta num simples instrumento da comunidade, como uma abelha (…). O objetivo deve ser formar indivíduos que atuem com independência e que trabalhem o seu principal interesse ao serviço da comunidade”, e “Temos que ter cuidado com os que pregam aos jovens o sucesso como o objetivo (principal) da vida (…). O valor de um homem deveria ser analisado em função do que dá, e não do que recebe. A função decisiva do ensino é despertar estas forças psicológicas (vontade de contribuir para o mundo) nos jovens.”. Reflexões de alguém que pelo exemplo da sua vida (vivida) deverão constituir um farol para quem ensinar é algo mais do que «apenas» instruir. Porque a gosto aprender é um gosto! .
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OPINIÃO
CONHECE AS COMPETÊNCIAS DA SUA ASSEMBLEIA MUNICIPAL? (PARTE 2) JOSÉ GRAÇA
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o contexto dos órgãos deliberativos das autarquias locais, as assembleias municipais são o principal órgão político local cuja atividade passa muitas vezes despercebida dos cidadãos e da comunidade, na maior parte dos casos por exclusiva responsabilidade dos seus membros… Para além das competências de apreciação desenvolvidas pela assembleia municipal, sob proposta da câmara, que abordámos na primeira parte deste artigo, competem-lhe ainda a missão de acompanhar e fiscalizar a atividade do executivo municipal, dos serviços municipalizados, das empresas locais e de quaisquer outras entidades que integrem o perímetro da administração local, bem como apreciar a execução dos contratos de delegação de competências previstos na alínea k) do número anterior; apreciar os resultados da participação do município nas empresas locais e em quaisquer outras entidades; apreciar, em cada uma das sessões ordinárias, uma informação escrita do presidente da câmara acerca da atividade desta e da situação financeira do município; solicitar e receber informação, através da mesa e a pedido de qualquer membro, sobre assuntos de interesse para o município e sobre a execução de deliberações anteriores; aprovar referendos locais; apreciar a recusa da prestação de quaisquer informações ou recusa da entrega de documentos por parte do executivo ou de qualquer dos seus membros que obstem à realização de ações de acompanhamento e fiscalização; conhecer e tomar posição sobre os relatórios definitivos resultantes de ações tutelares ou de auditorias executadas sobre a atividade dos órgãos e serviços do município; discutir, na sequência de pedido de qualquer dos titulares do direito de oposição, o relatório a que se refere o Estatuto do Direito de Oposição; elaborar e aprovar o regulamento do conselho municipal de segurança; tomar posição perante quaisquer órgãos do Estado ou entidades públicas sobre assuntos de interesse para o município; pronunciar-se e deliberar sobre todos os assuntos que visem a prossecução das atribuições do município; apreciar o inventário dos bens, direitos e obrigações patrimoniais e a respetiva avaliação, bem como apreciar e votar os documentos de prestação de contas; fixar o dia feriado anual do município; e, estabelecer a constituição dos brasões, dos selos e das bandeiras do
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município e proceder à sua publicação no Diário da República. Relativamente às competências de apreciação, referenciadas no artigo anterior, sublinhe-se que não podem ser alteradas na assembleia municipal as propostas apresentadas pela câmara sobre opções do plano e orçamento municipal, aquisição, alienação e oneração de imóveis de maior valor, criação ou reorganização dos serviços municipais e inventário de bens, direitos e obrigações, sem prejuízo de esta poder vir a acolher em nova proposta as recomendações ou sugestões feitas pela assembleia municipal. Para densificar a atividade fiscalizadora da Assembleia, as propostas de autorização para a contratação de empréstimos apresentadas pela câmara são obrigatoriamente acompanhadas de informação detalhada sobre as condições propostas por, no mínimo, três instituições de crédito, bem como do mapa demonstrativo da capacidade de endividamento do município. Em relação às entidades intermunicipais, que abordaremos em próxima oportunidade, para além da eleição dos seus membros, compete ainda à assembleia municipal convocar a comunidade intermunicipal, com o limite de duas vezes por ano, para responder pelas atividades desenvolvidas no âmbito da comunidade intermunicipal do respetivo município; e, aprovar moções de censura ao secretariado executivo intermunicipal, no máximo de uma por mandato. Em matéria de competências de funcionamento, para além da elaboração e aprovação do respetivo regimento, compete à assembleia municipal deliberar sobre recursos interpostos de marcação de faltas injustificadas aos seus membros; e, deliberar sobre a constituição de delegações, comissões ou grupos de trabalho para o estudo de matérias relacionadas com as atribuições do município e sem prejudicar o funcionamento e a atividade normal da câmara municipal. No exercício das respetivas competências, a assembleia municipal é apoiada por trabalhadores dos serviços do município a afetar pelo executivo, nos termos definidos pela mesa, dispondo igualmente das instalações e dos equipamentos necessários ao seu funcionamento e representação, domínios que detalharemos na terceira parte do artigo . 30
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ENTREVISTA
MIGUEL PRAIA DISSE ADEUS ÀS PISTAS COM MAIS UM PÓDIO Ao fim de 21 anos de competição ao mais alto nível, Miguel Praia despediu-se das pistas, mas não das motos, no fim de semana de 28 e 29 de novembro, numa prova disputada em Curitiba, no Brasil, e logo com o terceiro lugar numa corrida de grandes tradições. Foi o culminar de uma aventura que durou três anos do outro lado do Atlântico, depois de ter passado igualmente sete anos a acelerar no Campeonato do Mundo de Superbikes. Agora, o piloto radicado no Algarve praticamente desde a nascença achou por bem terminar a carreira e abraçar a sua outra faceta, de Diretor de Eventos e da Racing School do Autódromo Internacional do Algarve, a tempo inteiro. Texto: Daniel Pina / Fotografia: Gilmar Rose ALGARVE INFORMATIVO #37
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ouco passava das 10 horas da manhã de terça-feira, feriado, mas Miguel Praia já tinha concluído a primeira sessão de treinos diários antes de iniciarmos a conversa, numa conhecida pastelaria de Albufeira, cidade para onde veio viver ainda criança depois da família ter trocado Portalegre pela capital do turismo algarvio. A motivar o
Campeonato do Mundo de Superbikes, abracei esta aventura no Brasil, num campeonato supercompetitivo e muito bem organizado, durante três anos. Quando a Honda Brasil me endereçou esse convite, tinha planeado correr só dois anos, em função do meu próprio planeamento familiar e das responsabilidades acrescidas que ia tendo no Autódromo Internacional do
encontro estava o adeus à competição do conceituado piloto de 37 anos, que aconteceu no fim-de-semana de 28 e 29 de novembro, na pista da Curitiba, no Brasil. Um arrumar do capacete, por assim dizer, que até aconteceu um ano mais tarde do que estava programado, numa caminhada que se iniciou por volta dos 16 anos. “Depois de fazer sete épocas no
Algarve na gestão da Escola de Condução”, conta Miguel Praia, que também é comentador residente de MotoGP na Sport TV.
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Uma agenda bastante preenchida, múltiplos compromissos, os anos também começavam a pesar no corpo em virtude dos intensos treinos diários e 34
das constantes viagens, muitas delas para diferentes continentes e atravessando vários fusos horários, e a decisão, que foi difícil de tomar, acabou por ser natural. “Tenho dois filhotes, o Tiago que vai fazer dois anos, o Lourenço, com dois meses, e o desporto de alta competição é algo que nos priva imenso, de tempo com a família e com os amigos, de toda a vertente social, até do que comemos e bebemos no quotidiano, porque o peso é algo fundamental. Senti que deixei de conviver e de viver porque o foco estava sempre no trabalho, nos treinos. Quero acompanhar o crescimento dos meus filhos e fazer oito ou nove viagens por ano ao Brasil, em cada uma delas ficando lá uma semana, foi-se tornando cada vez mais cansativo”, explica, uma rotina que até era mais ligeira do que quando andava no Campeonato do Mundo de Superbikes, simplesmente, nessa época, ainda não estava casado, nem tinha filhos.
Uma vontade de vencer que pautou toda a carreira de Miguel Praia, daí sentir sempre uma grande frustração quando os resultados não apareciam, ainda para mais tendo perfeita consciência de que começou a competir na alta-roda internacional com uma década de atraso. “Sai de Portugal com 26 anos, com poucas bases técnicas, e ficar nos 10 primeiros no Campeonato do Mundo, em motos de 200 cavalos, já era para mim uma vitória. Contudo, o meu trabalho no Autódromo vai muito para além do horário de expediente, portanto, as motos já eram, nos últimos anos, quase um hobby, ainda que remunerado”, confessa o entrevistado. Funções no Autódromo Internacional do Algarve (AIA) que não se limitam à gestão da Escola de Condução, uma vez que a vertente de eventos, de test-drives, de apresentações mundiais de novos modelos, nas quatro ou duas rodas, assume um peso crescente no dia-a-dia daquele equipamento situado no concelho de Portimão. “Graças ao conhecimento que tenho do desporto motorizado, sobretudo nas duas rodas, com um simples telefonema consigo colocar ali uma equipa a treinar. Aliás, foi para isso que a empresa investiu tanto em mim e o objetivo é fazer do AIA um local de excelência para receber mil e um eventos”, destaca.
Se a saída do Mundial aconteceu sem grandes sobressaltos, mais pacífico ainda foi agora o abandono da competição, isto apesar da equipa e da marca desejarem que realizasse mais uma época, em função dos bons resultados desportivos que vinham alcançando. “Não saí de forma brusca, por lesão ou quebra de contrato, terminei quando achei que era o momento certo. A Honda queria que permanecesse porque vão sair novos modelos e tínhamos hipóteses de continuar a lutar pelos lugares cimeiros, mas os resultados já não eram muito do meu agrado. Ia para o Brasil à quarta-feira, na quinta-feira já estava em cima da moto, depois dum desgaste tremendo com a viagem, e a minha frescura física já não é a mesma de há 10 ou 20 anos. Mais do que participar, é importante lutar para ganhar e eu sempre fui muito competitivo e exigente comigo mesmo”, reforça.
Sem formação não se fazem campeões Olhando para as mais de duas décadas de carreira de Miguel Praia como piloto de motos, depressa se chega à conclusão que se a família, ao invés de ter rumado
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para o Algarve, tivesse atravessado a fronteira para a vizinha Espanha, tudo teria sido diferente. Basta verificar que, em Portugal, nem sequer existem treinadores, dirigentes ou profissionais dedicados a tempo inteiro ao motociclismo, o que obrigou Miguel Praia a aprender tudo sozinho, à custa de muitas quedas e de alguns acidentes mais aparatosos. “Hoje, em Espanha e Itália, há uma forte aposta na formação e criam-se exercícios específicos para os miúdos desenvolverem técnicas de travagem e aceleração, para aprenderem qual a melhor postura do corpo em cada momento da corrida. Para além disso, atualmente, começa-se a correr num campeonato internacional com 12, 13, 14 anos. Ora, se eu tivesse tido pessoas a explicarem-me o melhor caminho a seguir, tinha encurtado uma década na minha carreira”, garante, sem falsas modéstias.
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Contudo, apesar de reconhecer o seu valor, Miguel Praia não fecha os olhos à realidade do motociclismo em terras lusitanas e sabe que o seu trajeto no Campeonato do Mundo também só foi possível graças ao desejo do Parkalgar ter um piloto nacional para representar Portugal quando o AIA começasse a receber provas de superbikes. “Tenho que ser honesto e admito que nenhuma outra equipa manteria um piloto que andasse apenas a lutar pelos pontos e, nos primeiros anos, até para ficar nos 20 primeiros. O certo é que, com essa persistência e trabalho, fomos aprendendo com os nossos meios, começamos a entrar nos 15 primeiros e depois no Top-10, mas tudo seria diferente se esse conhecimento me tivesse sido transmitido logo no início da minha carreira”.
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Posto isto, Miguel Praia não está surpreendido com a evolução e os recentes resultados alcançados por Miguel Oliveira mas, lá está, teve toda a sua formação em Espanha. “Eu não tive ninguém a quem perguntar como fazer as coisas e, como é óbvio, errei imenso. No meu primeiro ano no Mundial, em 22 corridas, cai 11 vezes. Andava de moto por andar, não tinha um método, não estudava trajetórias, não visualizava vídeos das pistas. Ia vendo o que os mais experientes faziam, quando eles estavam dispostos a passar-me essa informação porque, apesar de estarmos inseridos em equipas, na hora da verdade, isto é uma modalidade individual”, adianta.
disputada à chuva e com várias desistências. Na segunda manga, contudo, terminou com uma volta de atraso e constatou de imediato que Portugal estava a anos-luz do nível dos outros adversários. Um atraso que foi sendo encurtado no decorrer dos anos, até concluir uma prova realizada em Inglaterra a escassos três segundos do pódio, num 6.º lugar, e de ter conquistado um pódio numa corrida do campeonato britânico. “Quando entrei para a Parkalgar, era o candidato mais novo e que apresentava uma maior margem de progressão, independentemente de, do ponto de vista internacional, já ser algo velho”, sintetiza, com um sorriso.
Depois de ter conquistado dois campeonatos nacionais, em 2002 e 2003, em CBR600 e de ter sido vice-campeão do Troféu Aprilia, Miguel Praia até se estreou nas Superbikes a pontuar, mas numa prova
E para dificultar ainda mais a progressão dos jovens pilotos nacionais, há que recordar que, na época, existiam apenas os autódromos do Estoril e de Braga, pelo que os bons resultados
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disputava em Portugal para um campeonato mundial em que chegar ao fim da prova já era bom, depois, com a experiência, a fasquia subia para pontuar e, mais tarde, quiçá sonhar com um pódio. “Na altura tinha o apoio da Xerox e era uma oportunidade única na vida para entrar no Campeonato do Mundo de Superbikes, a elite das duas rodas em paralelo com o MotoGP, mesmo sendo uma loucura. Foi quase como pegar num jogador da terceira divisão e metê-lo no Real Madrid. Foi um choque até do ponto de vista tecnológico, não fazia a mínima ideia como é que todos aqueles apetrechos da moto funcionavam. Eu era por natureza um piloto rápido, mas fui de uma moto de 100 cavalos para outra de 200 cavalos”, conta o alentejano de coração algarvio.
apareciam normalmente na vertente do todo-o-terreno e não da velocidade. “As pistas tinham uma filosofia diferente do que acontece, por exemplo, no AIA, em que todos os meses há um «track day», ou seja, qualquer pessoa, por 100/120/150 euros, pode treinar num circuito profissional. É a mesma coisa que um jogador de futebol apenas poder treinar passes e remates duas vezes por mês, nós estávamos completamente impossibilitados de praticar”, enfatiza, acrescentando que residir no Algarve, tão longe desses dois autódromos, também não facilitava em nada a sua evolução. Outro problema mas que, pelos vistos, não acontece apenas em Portugal, é que grande parte destes pilotos têm que andar a correr atrás de ajudas e patrocínios, enquanto não conseguem entrar para uma equipa profissional. “O motociclismo não é uma modalidade de massas e é bastante cara, por todas as ferramentas necessárias para a sua prática. Não tem nada a ver com calçar umas sapatilhas e ir correr ou jogar à bola. Isso obriga os atletas a arranjarem meios próprios para se sustentarem, como foi o meu caso antes de ingressar numa equipa”, indica, mostrando-se grato por sempre ter conseguido angariar bons apoios. “Eu dava-lhes aquilo que lhes prometia, bons resultados e visibilidade para as marcas. Mesmo quando são os amigos que nos ajudam a dar os primeiros passos, temos que ser sérios e dar algo em troca. Sempre investimos bastante na imagem e isso marcou a diferença, mais tarde, quando a federação teve que escolher os pilotos para competir em provas internacionais e na captação de investidores”.
AIA é um dos recintos mais ativos da Europa Apesar de todas estas dificuldades, Miguel Praia foi mesmo o primeiro português a conseguir pontuar numa prova do Campeonato do Mundo de Superbikes e, em simultâneo, não perdia uma oportunidade para aprender como funcionava uma equipa, para conhecer os aspetos técnicos e logísticos que envolviam as corridas. Uma postura que foi fundamental para as responsabilidades que abraçou anos mais tarde e mais uma razão para a aposta que houve da Parkalgar e do AIA. “Hoje, vêm pilotos de todo o mundo fazer formação connosco, em virtude das características da pista, de termos tido uma equipa no Campeonato do Mundo que foi, por duas vezes, vicecampeã, o que nos dá um nome importante no panorama das duas
Miguel Praia reconhece, porém, que não foi fácil passar de uma situação em que ganhava praticamente todas as corridas que
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rodas, e da tecnologia que colocamos à disposição dos participantes. Desde 2009 que já conciliava a participação no Mundial com um trabalho normal no autódromo, à frente de um departamento, e isso também me desfocou em certa medida das corridas. Para se ganhar, tem que se acordar, respirar e dormir com o pensamento na modalidade, treinar, estar com a equipa, conhecer a fundo a moto, e eu não podia fazer tudo ao mesmo tempo”, salienta o primeiro funcionário do AIA.
conhecimento de causa. Nós sempre tivemos as portas abertas para mostrar o que a infraestrutura está a fazer e o nosso negócio central passa pelas grandes apresentações e os alugueres de pista. É frequente termos marcas durante três semanas no circuito, que trazem 50 ou 100 jornalistas por dia para conhecer os novos modelos, profissionais que ficam alojados em unidades hoteleiras de luxo de toda a região e que promovem o Algarve através das fotografias que tiram aos carros na costa ou na serra algarvia”, frisa Miguel Praia.
Autódromo Internacional do Algarve que vai deixar de ser palco, em 2016, do Campeonato do Mundo de Superbikes, mas que continua a ser dos circuitos com maiores taxas de ocupação da Europa, esclarece o entrevistado. “O português é invejoso por natureza, uma pessoa que não gosta muito do sucesso do vizinho do lado e que, às vezes, fala sem
Sobre as corridas do campeonato do mundo, o piloto concorda que tinham um impacto direto de relevo na economia local, em função de serem umas centenas de pessoas que permaneciam na zona durante a semana da prova e que, inclusive, regressavam 39
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são a duplicar porque envolvem a imprensa especializada e os profissionais dessas marcas. Acho que já seria altura do próprio Turismo do Algarve começar a promover o destino neste segmento, da mesma forma como faz com o golfe, porque era importante conquistar novas ligações aéreas para os países onde estão sedeados os grandes construtores europeus”, justifica, acrescentando que uma Porsche ou uma Mercedes não vão colocar jornalistas a viajar em companhias lowcost para assistir aos seus lançamentos.
de férias com as suas famílias. “No entanto, só colocar o nosso circuito no calendário implica um investimento direto de 500 a 600 mil euros, mais 100 ou 200 mil euros em custos de organização com comissários, ambulâncias, helicópteros. Depois, no final do dia, não havia uma união dos municípios e do turismo para ajudar a pagar essa fatura, nem sequer para reconhecer a importância do trabalho que desenvolvíamos. Todos os
A ver pela forma empolgada como Miguel Praia fala dos novos desafios que tem pela frente, não há um arrependimento por ter abandonado a carreira de piloto, até porque não foi um «adeus» definitivo às motos. “A formação que damos na Escola de Condução permite que continue a conduzir uma moto na pista para demonstrar as técnicas aos alunos, do mesmo modo que farei parte integrante dos testes nos lançamentos de novos modelos. Mas sinto que a competição me retirava tempo para desenvolver a minha atividade e agora vou conseguir melhorar ainda mais a minha relação com as equipas internacionais e deslocar-me com maior regularidade ao exterior em contatos. Foi a decisão correta na altura certa”, finaliza, com um brilho nos olhos .
anos se perdia dinheiro com as corridas porque todos os anos havia promessas de apoios de outras entidades, mas nada se concretizava”, revela Miguel Praia. Sair do Campeonato do Mundo de Superbikes foi, então, uma mudança estratégica muito ponderada e que implicará menos dias de testes das equipas que nele competem, mas a infraestrutura continua muito bem cotada internacionalmente, até por ser um circuito bastante atrativo e emocionante. “As pessoas não têm noção mas são apresentados cerca de 160 carros num ano no AIA, eventos que normalmente
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ENTREVISTA
PETE THA ZOUK Um pioneiro da música eletrónica O Algarve é um dos principais destinos do país para se festejar o réveillon, com Albufeira, Quarteira, Monte Gordo, Praia da Rocha, Tavira e outras localidades a apostarem em festas de arromba e artistas e DJ’s de topo para se assinalar a entrada no novo ano. E quando se fala em «disc-jockeys», há um nome que nos vem de imediato à memória, por ser algarvio, olhanense de gema, por ter sido um dos primeiros portugueses do ramo a construir uma carreira internacional de sucesso e por, ao fim de quase duas décadas de atividade, continuar a ser um dos principais intérpretes da música eletrónica à escala mundial. Falamos de Pete Tha Zouk, com quem estivemos à conversa em Faro num destes dias solarengos de dezembro. Texto: Daniel Pina / Fotografia: António Gamito
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onhecemos António Mendonça há quase 20 anos, na altura era simplesmente Tó P para os amigos, um olhanense que andava na universidade a tirar o curso de Engenharia Elétrica e Eletrónica. De música sempre gostou e de forma natural começou a passar uns discos na antiga discoteca Alcatraz, no Hotel Alcazar, em Monte Gordo, mas o nome Pete Tha Zouk nem sequer figurava ainda do seu imaginário. “As pessoas olhavam de uma forma desconfiada para a atividade de DJ, mas eu sempre acreditei que seria uma profissão com futuro. Acima de tudo, era algo que amava fazer, não me preocupava se fosse apenas um hobby”, conta, indicando que até foi como barman que começou a trabalhar na animação noturna, na Ubi, de Tavira.
uma verdadeira montra que o catapultou para uma carreira de sucesso, um espaço obrigatório durante o Verão e a Páscoa para os amantes de música eletrónica de todo o país. “Na primeira vez que lá toquei verifiquei que a música era mais para fazer ambiente, mas senti que podia ser mais qualquer coisa, ter outro impacto. Resolvi arriscar com uma música mais dançante, de clube, e foi o início de noites fantásticas em que as pessoas insistiam para que o bar não fechasse tão cedo”, recorda. Tempos longínquos e bem diferentes do panorama atual, em que os bares funcionam quase como discotecas, onde os clientes chegam mais tarde e por ali ficam até regressarem a casa, uma vez que as bebidas são tradicionalmente mais baratas. Na época, porém, os notívagos faziam todo o circuito, começavam pelo Mitto, seguiam para o Capítulo V, depois para a Locomia, recorda Pete Tha Zouk. Discoteca Locomia, na Praia de Santa
Depois de quase 70 noites seguidas na Alcatraz, percebeu que não tinha feitio, ou apetência, para ser DJ residente num bar ou discoteca e, para fugir à rotina, rumou a Albufeira, mais concretamente ao Mitto Bar,
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chamou-me para colocar música na Soundplanet. Nunca fui muito popular em Lisboa, mas criei um clube de fãs incrível no norte”, relata, mais uma vez se confirmando que é preciso ter sucesso fora da sua região antes dos conterrâneos darem o devido valor à prata da casa.
Eulália, em Albufeira, que foi outra porta para o conhecimento da arte de DJ, partilhando a cabine com grandes nomes internacionais e ali conhecendo o seu atual manager, José Manso, da WDB. “Eu não ia dançar para a pista, ficava na cabine a ver como eles trabalhavam, era um bocado «chinês», como a malta costuma dizer”, lembra, com um sorriso.
E como António Mendonça sempre teve um espírito aventureiro, de pioneiro, também não teve receio de abraçar de corpo e alma a música eletrónica, um estilo menos comercial na época mas que ia de encontro às suas preferências pessoais. Depois, pelo contato que tinha com DJ’s na Locomia, sabia que, caso conseguisse alcançar alguma notoriedade no plano nacional, era uma boa forma de conhecer outros cantos do mundo. “Pensar nisso, há 20 anos, era apenas um sonho que, felizmente, acabou por se tornar realidade, mas porque apostei
Assumida a decisão de ser DJ, havia mais duas opções a tomar – qual o estilo de música a tocar e se preferia ser residente ou freelancer – mas a escolha em ambos os casos foi fácil de fazer. “Eu conhecia bem colegas que trabalhavam na Locomia ou na Kadok e via que os clientes davam mais importância aos Dj’s que vinham de fora. Entretanto, comecei a receber convites para ir tocar a casas do Porto e de outros pontos do norte do país, o próprio João Miguel, outro dos meus managers,
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França, para além do boom que o meu nome teve em Portugal”.
igualmente na área da produção. Chegou uma altura em que ser apenas DJ não era suficiente para marcar a diferença”, aponta o entrevistado.
DJ tornou-se uma popstar
O primeiro trabalho de estúdio como produtor nasce de uma parceria com Bruno Marciano, colega de cabine na Locomia, intitulado «First Tribal Feeling» e que Carlos
Quase sem ter tempo para pensar, Pete Tha Zouk estava a tornar-se rapidamente numa estrela como aquelas com quem
Manaça lança através da sua editora. “Havia uma grande vontade das pessoas consumirem música eletrónica por ser algo diferente e descubro depois que havia DJ’s em Miami e Nova Iorque a passar os meus temas. Surge entretanto um convite do DJ Vibe para produzirmos uma música, em 2003, o «Solid Textures», o disco foi um tremendo sucesso por esse mundo fora e fui atuar ao Japão, Inglaterra, Suíça,
convivia há apenas alguns anos e, em 2008, constata que já não conseguia fazer tudo sozinho, tinha que arranjar uma agência, a WDB, parceria que se mantém até à data. Um salto que coincide com o assumir da faceta de produtor, faceta essa que, já se sabe, não é para todos, por implicar um estudo intenso e o domínio de diversas técnicas e ferramentas. “Explorei uma série de equipamentos eletrónicos e programas de software e surgiu uma
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Mendonça dá outro exemplo bem ilustrativo desta realidade, Calvin Harris, um dos ícones máximos da música eletrónica e um estatuto que todos os produtores almejam ter mas que poucos conseguem alcançar. “Para chegar a esse nível é preciso ter vontade, dominar os conhecimentos técnicos necessários, possuir algo especial no ADN, mas também ter um empurrão das grandes editoras”, considera o entrevistado, assim se percebendo melhor como alguns DJ’s produzem depois hits de bandas ou artistas a solo. “Neste momento já existem várias remisturas do «Hello» da Adele, mas acredito que vai haver alguém escolhido pela editora para fazer um mix oficial. Aliás, acho que vai ser um jovem talento que veio dar uma lufada de ar fresco à música eletrónica, o DJ Kaygo, e será mais uma fusão com um artista gigantesco como a Adele que vai aumentar o seu público-alvo de uma forma exponencial”.
parceria com a marca «Roland», no final dos anos 90, como resultado dum concurso que eles organizaram e no qual fiquei em segundo lugar. De facto, era um campo pouco explorado, só os mais curiosos é que tentavam aprofundar essa área, mas, como vinha dum curso de engenharia elétrica e eletrónica, lidava bem com a forma matemática como a música eletrónica é produzida. Depois, o segredo é a persistência, não desistir quando nos dizem que não gostam da música que fazemos”, destaca o olhanense. Claro que, nos dias que correm, tudo é ainda mais complicado porque a concorrência disparou, qualquer miúdo de 12 ou 13 anos consegue criar temas nos seus computadores pessoais, com programas que descarregam gratuitamente da internet. “Às vezes penso como é que era possível chegar a tanta gente com tão poucos meios de divulgação e comunicação. Tínhamos que gravar imensos CD’s para enviar para todos os sítios, hoje, mandamos um e-mail e as coisas quase que acontecem de uma forma automática”, compara. E outra grande diferença que se nota atualmente é que muitos temas produzidos por alguns DJ’s facilmente se confundem com músicas de um cantor ou banda normal, um fenómeno cujo grande percursor foi David Guetta. “Ele foi o principal responsável por se cruzarem os nomes sonantes da pop e do hip-hop dos Estados Unidos com a música eletrónica e criou uma tendência que muitos outros seguiram depois. É o caso dos Sweedish House Mafia, um trio fabuloso que já não existe mas que fez uma tournée final com 50 datas a atravessar o mundo inteiro e na qual eu fiz a primeira parte do espetáculo no MEO Arena”, conta Pete Tha Zouk.
Pete Tha Zouk que foi também um dos primeiros portugueses a construir uma carreira internacional de forma sólida e sustentada, depois de uma fase, que coincidiu com a passagem do Vinil para o CD, em que os DJ’s quase que nasciam como cogumelos. “Ser DJ tornou-se, efetivamente, moda e toda a gente queria tentar a sua sorte, desde atores de televisão a modelos, mas isso veio inundar o mercado de uma forma pouco positiva. Eu já tinha um historial anterior, as pessoas respeitavam o meu trabalho e não senti esse impacto. Até foi nessa fase que dei o pulo para o Brasil e reconheço que toquei no sítio certo, na hora certa, para o público certo. Já tinha viajado bastante pelo mundo, mas era no Brasil que estava a nascer a nova era da música eletrónica”, explica, frisando que o brasileiro é um povo que vive a festa de modo intenso.
O DJ deixou definitivamente de ser um anónimo que estava sozinho numa cabine a passar música e transformou-se numa popstar à escala mundial e António 47
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exímia, mas não tiram o olho do computador, têm uma personalidade mais sisuda”, observa o olhanense.
Comboio vai abrandar de forma natural
Filmar vídeos a partir da cabine e tirar selfies com os fãs tornou-se outra componente integrante da atuação do DJ, depois, nas redes sociais, criar uma proximidade com os seguidores, identificá-los nos vídeos e fotos, reagir aos seus comentários, tudo serve para cativar as camadas jovens e para promover os artistas, mais um mecanismo a que Pete Tha Zouk aderiu precocemente. E assim se construiu uma carreira de quase duas décadas, o artista está a aproximar-se dos 40 anos, as viagens intercontinentais já vão pesando mais no corpo, pelo que perguntamos quais são os planos para o futuro. “Esse ritmo vai abrandar naturalmente e eu e a minha agência já fazemos uma escolha mais criteriosa dos clubes onde vou tocar, dos países que vale realmente a pena aceitar os convites e organizamos as tours de modo a não serem tão desgastantes. Mas acho que nunca vou deixar de tocar, sinto que nasci para fazer isto, embora possam aparecer outros negócios no futuro. Aliás, ainda não concretizei algumas propostas precisamente para não «matar» este comboio que ainda está em andamento, que ainda tem muitos quilómetros para percorrer e que quero que abrande de forma gradual”.
Um sucesso que se deveu igualmente ao facto de Pete Tha Zouk ser um artista completamente transversal, sem se agarrar a um único estilo e acompanhando as novas tendências, ao contrário de outros colegas, que se cingem a um tipo de música eletrónica e, em virtude disso, acabam por ficar para trás. “O que hoje é um estilo, amanhã já não é. Felizmente que o house que conhecemos dos anos 90 está a regressar, de uma forma remisturada e reinventada, e a conquistar novamente as pistas de dança. São ciclos que coincidem com a renovação das gerações e posso tocar um hit dos anos 90 com uma roupagem mais moderna e a malta nova pensa que é um tema recente. Claro que esse conhecimento dá-nos mais uma vantagem para conquistarmos os clientes e permanecermos no topo”, sublinha. Mudanças na carreira de DJ que implicam, igualmente, uma adaptação das próprias personalidades porque, lá está, o DJ deixou de ser alguém que está sossegado na cabine a passar música e tornou-se no centro das atenções, a interagir permanentemente com o público, a filmar videoclips à laia de filmes de James Bond. Uma nova realidade que António Mendonça confirma, com uma risada, mas na qual se sente à vontade, porque sempre gostou de conviver com os fãs e de puxar por eles durante os concertos. “Quem for muito introvertido acaba por ser penalizado, porque esta profissão envolve um certo teatro, estamos ali a representar uma personagem. Eu consegui essa interatividade de forma natural, acabava a noite e ia curtir com os clientes para a pista. A presença na cabine é algo que, ou tens, ou não tens. Às vezes, há DJ’s com uma técnica fabulosa, fazem misturas de forma
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E quando o comboio fizer a sua última paragem, Pete Tha Zouk vai olhar para trás com um sentimento de completa realização pessoal, consciente de que foi até onde jamais imaginou ir. “Poder estar consagrado na lista dos melhores DJ’s do mundo na 37ª posição, há dois ou três anos, era algo impensável, porque esta caminhada iniciou-se como um simples hobby, uma brincadeira, e foi a minha descansada avó que me disse para ir em 48
frente, que fizesse aquilo que gostava realmente de fazer. Os meus pais estavam um pouco reticentes, mas eu nunca deixei de estudar, sempre fui um aluno exemplar”, enfatiza, adiantando que, ainda há bem poucos dias, se reuniram os colegas da turma do 12.º ano, de 95/96. “Foi engraçado ver o rumo que cada um seguiu e sinto que eles têm orgulho em conhecerem o Tó P.
pela velocidade a que a música se move atualmente e a tudo o que a rodeia. “Hoje, é muito fácil aparecer alguém com um hit, mas há tanta quantidade de música e de DJ’s que essa fama tem um período curto de vida. Contudo, quando tens uma carreira com alicerces, historial e uma equipa ao teu lado, quando possuis o teu próprio estúdio e produzes em interação
Depois, existe uma outra personagem, uma marca, o Pete Tha Zouk, que é mundialmente conhecido, mas há pessoas que ainda se lembram dos meus primeiros passos”, conta, de forma pensativa.
com outros artistas, dificilmente se vai desmoronar esse baralho de cartas”, justifica, desvendando que estão na calha muitas parcerias e colaborações com artistas de outros estilos musicais. “O grande segredo dum DJ se manter em atividade é a capacidade para se adaptar e reinventar e as pessoas têm que sentir prazer a dançar, a ouvir a música na rádio, e isso consegue-se através da experimentação na própria pista” .
Com a conversa praticamente no fim, Pete Tha Zouk acredita que vai tornar-se cada vez mais difícil para um DJ cimentar uma carreira tão longa como a sua e de outras colegas da sua geração, não por falta de talento, mas 49
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ATUALIDADE DIAS MEDIEVAIS E FESTA EM HONRA DE N. SRA. DOS MÁRTIRES FORAM A DEBATE PÚBLICO Marim, ao recinto da vila, foi outra das alterações sugeridas, pese embora as condicionantes logísticas das quais dependerá a decisão. Sobre os Dias Medievais, a vicepresidente da Câmara Municipal de Castro Marim, Filomena Sintra, começou por apresentar os resultados financeiros daquele que é o maior investimento cultural do concelho. “Este é um investimento da câmara que está a servir para gerar dinheiro na economia local e a autarquia continuará a trabalhar em prol da sustentabilidade do evento”, sublinhou.
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ois dos eventos mais relevantes de Castro Marim – Festa em Honra de N. Sra. dos Mártires e Dias Medievais – foram levados a debate no dia 5 de dezembro, na Biblioteca Municipal de Castro Marim, com a presença do executivo municipal, autarcas, comerciantes da vila, dirigentes associativos e população local. Depois do bem-sucedido debate do ano anterior, relativo aos Dias Medievais, em que foram consensualizadas muitas das alterações introduzidas no evento deste ano, a autarquia de Castro Marim quis agora alargar o leque à Festa em Honra de N. Sra dos Mártires, assente no princípio da secular tradição religiosa, que é a procissão, mas à procura de novas iniciativas e melhorias que atraiam novos públicos. Neste sentido, foi então sublinhada a necessidade de rigor no carácter religioso da festividade e sugerido o investimento nas atividades desportivas, que foi já uma das fortes componentes das Festas em Honra de N. Sra. dos Mártires. Retornar a comemoração, que agora se realiza num parque de estacionamento de Castro
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Num debate participado, onde couberam também elogios a algumas das alterações introduzidas nos Dias Medievais de 2015, como a distribuição de pulseiras pelos moradores e trabalhadores dentro do recinto e o alargamento do evento a outros pontos da vila, destacaram-se questões ligadas à melhor organização do parqueamento automóvel, ao aumento do número de bilheteiras, à aposta na venda de bilhetes online e ao rigor histórico e enriquecimento do guarda-roupa. O debate foi encerrado pela entrega de prémios do XII Concurso de Estabelecimentos Aderentes dos Dias Medievais, um dos estímulos à participação e envolvimento da comunidade no evento. Este ano, os três primeiros lugares, numa ordem crescente: «Tasca Medieval», «Tradições e Aromas» e «Mini Mercado Rita Pena». “Queremos inovar e promover um maior desenvolvimento económico à volta destes eventos, mas sem desvirtuar a sua essência e respeitando a história, a cultura e a identidade de Castro Marim. Queremos que todos os castromarinenses se sintam envolvidos e participem ativamente na sua organização”, declarou o presidente da Câmara, Francisco Amaral . 50
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ATUALIDADE FARO REQUALIFICA RUA SERPA PINTO E RUA DA ALFÂNDEGA betuminoso, bem como a substituição das sargetas existentes por sumidouros, por forma a melhorar a drenagem de águas pluviais na via. No que concerne à circulação pedonal, proceder-se-á à reparação dos passeios existentes bem como à execução de novos passeios em frente à Igreja dos Capuchos. Paralelamente a estes trabalhos, a FAGAR tratou de proceder aos necessários arranjos nas condutas de saneamento e abastecimento de água.
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oram assinados os contratos de adjudicação das empreitadas «Repavimentação da Rua Serpa Pinto e arranjo em frente à Igreja dos Capuchos» e «Repavimentação da Avenida da República – troço tardoz do edifício da Alfândega». Os trabalhos iniciar-se-ão imediatamente e deverão estar prontos no início do novo ano. A intervenção na Rua Serpa Pinto era absolutamente necessária, pois trata-se de uma das artérias mais centrais e movimentadas da cidade, encontrando-se há longos anos em más condições de circulação. Esta obra exigirá ao Município de Faro um investimento de 48 mil e 500,46 euros, acrescido de IVA e ficará a cargo da empresa José de Sousa Barra e Filhos Lda. O objetivo é melhorar a circulação rodoviária e pedonal da Rua Serpa Pinto, bem como dignificar o espaço envolvente à Igreja dos Capuchos. A intervenção na faixa de rodagem consiste na fresagem do pavimento betuminoso existente e aplicação de camada de desgaste de betão
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No que respeita à intervenção na Avenida da República, a obra far-se-á no troço atrás do edifício da Alfândega, também conhecido por albergar os restaurantes McDonalds, República, Sushi Pearl e Sushi Diamond. Com esta intervenção, a circulação rodoviária na via será extinta, transformando-a em via pedonal, através da fresagem do betuminoso existente e repavimentação em calçada miúda. O arruamento será dotado de rampas nas suas extremidades para acesso de viaturas dos serviços e de emergência, bem como para o acesso às garagens privadas existentes nos edifícios. É ainda objeto da empreitada a substituição das sarjetas existentes por sumidouros. O investimento global será de 44 mil e 153,75 euros e a obra ficará a cargo da empresa JEVOP Construções SA. Estas duas intervenções estão inseridas no Faro Requalifica, programa lançado pela autarquia farense para recuperação da rede viária do concelho num investimento total de um milhão de Euros. Recorda-se que está já a decorrer a requalificação da entrada de Faro pela EN2, nomeadamente o troço entre a Av. Calouste Gulbenkian e o cruzamento da Escola Secundária de Pinheiro e Rosa . 52
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ATUALIDADE BOLO-REI GIGANTE COM 100 METROS TRAZ O NATAL MAIS CEDO A OLHÃO conceituado chef pasteleiro olhanense. Todas estas variedades, mais ou menos tradicionais, vão juntar-se no bolo-rei gigante, oferecido a todos quantos se queiram juntar à iniciativa. “Apenas será solicitado um donativo simbólico, que reverterá, como habitualmente, para uma Instituição de Solidariedade Social do concelho”, explica Filipe Martins.
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omo já vem sendo habitual, a quadra natalícia em Olhão é enriquecida com um bolo-rei gigante, este ano com 100 metros, confecionado pelo chef pasteleiro Filipe Martins, proprietário da confeitaria e bombonaria Kubidoce. Esta iguaria natalícia, em formato XXL, é oferecida à população no dia 19 de dezembro, a partir das 10h30, junto à Igreja Matriz e Largo da Restauração. “Esta é cada vez mais uma festa da cidade de Olhão, não da pastelaria Kubidoce”, destaca Filipe Martins, o impulsionador desta iniciativa, que conta com o apoio da autarquia de Olhão desde o primeiro momento. Na confeitaria Kubidoce já são habituais os bolos-reis de alfarroba com laranja, passas e amêndoa, representando os genuínos sabores do Algarve, mas também o bolo-rei de chocolate branco com nozes e laranja, com chocolate negro, laranja, caju e amêndoa e o tradicional bolo-rei com frutas cristalizadas, para além do bolo-rei escangalhado e do bolo-rainha. A novidade no Natal de 2015 será o bolo-rei de batata-doce, laranja confitada e amendoim às camadas, saído da imaginação e das mãos do
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Para confecionar este bolo-rei de 100 metros, o chef pasteleiro e a sua equipa irão utilizar mais de 150 quilos de farinha, 600 ovos, 30 quilos de açúcar, 50 quilos de chocolate branco, 50 quilos de chocolate negro, 300 quilos de frutas cristalizadas, amêndoas, nozes, pinhões, amendoins, avelãs, cajus e passas, cinco quilos de farinha de alfarroba, 10 litros de aguardente, 20 litros de azeite, 20 litros de leite, 10 quilos de fermento e 70 quilos de batata-doce. “Voltamos a ter, nos bolos-reis grandes, o brinde e a fava, de forma a que as famílias voltem a sentir e a divertir-se com a expetativa de ver a quem calha o primeiro, e a quem sai a fava, que é quem paga o bolo-rei seguinte”, revela Filipe Martins. Tradição e inovação andam de mãos dadas em todas as iguarias confecionadas pelo chef; este Natal, surge como novidade o pão de ló tradicional, cozido em forma de barro, a que se juntam os bombons, já tão conhecidos, mas com novas formas e sabores: crocante de frutos do bosque, caramelo com flor de sal, framboesas, cereja, crocante de canela, caramelo, praliné de avelã, praliné de amêndoa, limão, tangerina, caramelo com chocolate negro, crocantíssimo e de morango, entre outros sabores e texturas, sempre em constante renovação. Às novidades de 2015, juntam-se as árvores de Natal em chocolate, tudo ótimas sugestões de doces presentes de Natal .
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ATUALIDADE
PROSSEGUE ALARGAMENTO DA REDE DE SANEAMENTO DO CONCELHO DE SÃO BRÁS DE ALPORTEL
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e execução faseada, dado o avultado custo das intervenções, o Plano de Alargamento da Rede de Saneamento a todo o concelho constitui um dos investimentos prioritários da Câmara Municipal de São Brás de Alportel. O arranque de mais uma fase na execução deste projeto, desta feita incindindo sobre o sítio de Peral e uma pequena extensão do território do sítio do Farrobo ainda não abrangida, marca mais um importante momento na realização deste investimento.
de abastecimento de água, não possuía até este momento drenagem de águas residuais, estando atualmente apenas construído um emissário, pertencente à empresa Águas do Algarve, ao longo da Estrada Municipal n.º 517. Com esta intervenção, através de ligação em alta a este emissário, será possível servir três dezenas de habitações, melhorando significativamente a sua qualidade de vida. No sítio do Farrobo, complementarmente, a ampliação da rede de esgotos permitirá servir cerca de uma dezena de habitações ainda não abrangidas. Na globalidade, os trabalhos consistem na construção de cerca de 40 ramais domiciliários e 30 caixas de visita em 920 metros de extensão de coletores. Esta obra foi adjudicada à empresa Vitor Manuel & Pedro Lda, por um custo total de 76 mil e 115 euros, devendo estar concluída no final do 1.º trimestre de 2016 .
O sítio do Peral, na zona sudeste do concelho de São Brás de Alportel, há muito servido por rede
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ATUALIDADE
VILA DO BISPO NO TOP-10 DO ÍNDICE DE TRANSPARÊNCIA MUNICIPAL conhecimento da atividade camarária.
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ila do Bispo encontra-se na lista dos dez melhores do ranking dos 308 municípios na avaliação da transparência municipal realizada pela organização não-governamental Transparência e Integridade, Associação Cívica. A pontuação obtida em 2015 coloca Vila do Bispo como a autarquia mais transparente a sul do Tejo e a décima mais transparente do país. Os resultados foram conhecidos, no dia 10 de dezembro, numa cerimónia que decorreu no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. A posição conquistada reflete os objetivos do atual Executivo liderado pelo presidente Adelino Soares e que assentam fundamentalmente no esforço de implementar uma gestão municipal rigorosa e transparente, o que possibilita ao munícipe um maior
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O ITM mede o grau de transparência das Câmaras Municipais através de uma análise da informação disponibilizada aos cidadãos nos seus sites. O ITM é composto por 76 indicadores agrupados em sete dimensões: 1) Informação sobre a Organização, Composição Social e Funcionamento do Município; 2) Planos e Relatórios; 3) Impostos, Taxas, Tarifas, Preços e Regulamentos; 4) Relação com a Sociedade; 5) Contratação Pública; 6) Transparência Económico-Financeira; 7) Transparência na área do Urbanismo. A TIAC – Transparência e Integridade, Associação Cívica é a entidade que avalia o grau de transparência de cada município, onde para o efeito procede a uma análise da informação disponibilizada aos cidadãos nos portais das Câmaras Municipais. A TIAC é uma organização não-governamental que tem como missão combater a corrupção. Esta ONG é a representante em Portugal da rede global anticorrupção Transparency International .
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ATUALIDADE GINASTAS DA APAGL MEDALHADOS EM CAMPEONATO DO MUNDO trampolim individual e duplo-mini trampolim, tendo-se qualificado para a final nesta última e ficando classificado num muito honroso 7.º lugar.
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ealizou-se, nos dias 3 a 6 de dezembro, em Odense, Dinamarca, o Campeonato Mundial por Grupos de Idade (CMGI), nas modalidades de trampolim individual, duplomini trampolim, trampolim sincronizado e tumbling. Como tem sido habitual nas últimas edições, a representação nacional contou com a participação de vários ginastas da Associação de Pais e Amigos da Ginástica de Loulé (APAGL) que, mais uma vez, se destacaram, conquistando três medalhas pelas mãos dos ginastas Mafalda Brás, Gonçalo Martins e Marco Laginha. Em duplo-mini trampolim feminino, Mafalda Brás sagrou-se campeã mundial no escalão de 1718 anos. Com séries bastante seguras, a ginasta passou à final em 6.º lugar onde, após confirmar o acerto das suas séries, conquistou o título. Na modalidade de trampolim sincronizado masculino, o atleta da APAGL Gonçalo Martins também se sagrou campeão mundial no escalão de 13-14 anos, acompanhado de Rubén Tavares da Academia de Ginástica de Sines. Após passagem à final na 6ª posição com uma série segura, os dois ginastas realizaram uma série de elevada qualidade, pressionando os adversários que jamais conseguiram pontuações superiores. Gonçalo Martins saltou ainda nas modalidades de
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Por outro lado, na modalidade de duplo-mini trampolim masculino, escalão 17-18 anos, Marco Laginha acertou as suas séries passando à final na 5ª posição. Mantendo o acerto demonstrado na qualificação, o ginasta brilhou ao conquistar a medalha de prata e classificar-se em 2.º lugar. O mesmo ginasta saltou ainda na modalidade de trampolim individual não se tendo qualificado para a final. Dos restantes ginastas da APAGL, e sem qualquer ordem, participou ainda Luís Afonso, ginasta do escalão 17-18 anos, nas modalidades de trampolim individual, trampolim sincronizado e duplo-mini trampolim, modalidade em que era campeão mundial em título; em duplo-mini trampolim feminino, escalão 15-16 anos, a ginasta Lilas Potting, não se apurando para a final; nas três modalidades de trampolim, a ginasta Joana Brás, com um elevado nível de acerto, apesar de não se ter qualificado para as respetivas finais; Sofia Correia, nas modalidades de trampolim individual e trampolim sincronizado, escalão 13-14 anos, não tendo logrado o apuramento para a final; e Débora Gonçalves que participou na modalidade de trampolim individual feminino, no escalão 15-16 anos, não tendo obtido a qualificação para a final. Importa realçar o facto de terem sido convocados para a representação portuguesa neste campeonato mundial os treinadores Pedro Fernandes e Marco Gonçalves da APAGL, engrandecendo ainda mais a representação do clube e do Concelho de Loulé . 60
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