ALGARVE INFORMATIVO #46

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ALA DOS NAMORADOS depois do sucesso em Lagoa, Tour Felicidade segue para Loulé Romanceiro Português ganha novas asas Sérgio Viana, de político a mestre artesão Encontro dos Amigos dos Caminhos de Santiago ALGARVE INFORMATIVO #46 1


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SUMÁRIO

34 Espaço 18 Sociedade

10 Ala dos Namorados Cultura

6 Quando o desemprego nos muda a vida… para melhor ! Opinião Daniel Pina

24 Tira um curso a sério ! Opinião Paulo Cunha

26 Ninguém cresce sozinho Opinião Paulo Bernardo

28 O poder de uma obra de arte Opinião João Espada

16 Romanceiro Português Cultura

30 O interior fica já ali! Opinião José Graça

32 A utilidade das coisas inúteis… Ou o papel da cultura na construção europeia Opinião Dália Paulo

50 Atualidade 68 Sugestões

42 Caminhadas Sociedade ALGARVE INFORMATIVO #46

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OPINIÃO QUANDO O DESEMPREGO NOS MUDA A VIDA… PARA MELHOR! DANIEL PINA Diretor

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ste texto é daqueles da praxe de qualquer diretor quando uma publicação atinge uma marca simbólica, seja do número de edições ou dos anos de antiguidade. Contudo, não é daqueles textos do costume a dizer que a minha revista é a melhor do mundo, que é isto ou aquilo, que é suprassumo, topo de gama, a nata da elite e por aí adiante. Faz-se o que se pode, dentro das limitações que são sobejamente conhecidas de todo o mundo, nomeadamente ao nível dos apoios e da publicidade, mas de consciência tranquila por se estar a tentar promover o Algarve pela positiva, contando histórias motivadoras, casos de sucesso.

às pessoas. Durante mais de 15 anos fui como a maior parte dos portugueses, trabalhei para outrem. Fui jornalista, fotógrafo, relações públicas, angariador de publicidade, cobrador de faturas. Fiz centenas de entrevistas e reportagens, tirei dezenas, se calhar centenas de milhares de fotografias, e não estou a exagerar. Arranjei muitos clientes para a entidade patronal, gerei muitas receitas. Para isso, muitos foram os anos que não tive férias, nem sequer fins-de-semana. Era o típico jornalismo durante o dia, o fotojornalismo em bares e discotecas à noite, eventos culturas e sociais para cobrir de segunda a domingo, sábados e domingos preenchidos por torneios de golfe, provas de ralis e outras competições desportivas.

Resumindo, a Algarve Informativo dá a conhecer coisas boas e o seu nascimento pode servir, ele própria, de motivação para algumas pessoas. Por isso, tinha guardado estes pensamentos para o tal número simbólico «50», mas decidi deitá-los cá para fora um mês mais cedo por dois motivos bastante simples: em primeiro lugar, um entrevistado esta semana disse-me que o desemprego, às vezes, tem o condão de nos fazer descobrir coisas dentro de nós que desconhecíamos, ou a que não atribuíamos o devido valor; em segundo lugar, a minha filhota mais velha fez seis anos, lá está, mais um dos tais momentos simbólicos, e, apesar do trabalho que dá editar mais de 70 páginas por semana, o dia de aniversário foi praticamente todo dedicado a ela, como bem merece.

Não me estou a queixar, fazia o que gostava, pelo menos na maior parte das vezes. Claro que o esforço e dedicação saberiam melhor se recebesse algumas palavras de elogio ou agradecimento da entidade patronal, mas nem a umas palmadinhas nas costas tinha direito. A mulher queixava-se que quase não me via, nunca ia com ela aos jantares disto ou daquilo, não podia ir às festas da minha própria filha, fossem em casa ou na escola. Tenho uma ligeira recordação que me cruzava com a minha mulher todas as noites porque dormíamos na mesma cama. A recompensa de tudo isto lá acabou por chegar, finalmente, quando a crise se instalou em Portugal. Pontapé no traseiro,

Agora, vamos lá misturar os dois episódios para me fazer explicar sem roubar muito tempo

Continua…

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OPINIÃO do Algarve Informativo, com muitas burocracias pelo meio, para não variar. Abrir atividade nas finanças, registar o título na Entidade Reguladora para a Comunicação Social, arranjar publicidade, cronistas, aprender a paginar, inventar assuntos, andar de um lado para o outro a entrevistar pessoas com histórias positivas para partilhar, tirar fotografias, até chegar às tais 70 e tal páginas por semana.

desemprego, contas para pagar e pouco dinheiro para isso. Os conhecidos, os tais supostos «amigos», fecharam as portas a sete chaves, a crise e tal não permitia a contratação de ninguém. As propostas de trabalho que chegavam de outros meios de comunicação social eram ridículas. Estágios remunerados só há para quem tem menos de 30 anos, os mais velhos que se desenrasquem, ou vão lá fora. Uma pessoa tentava esticar o parco subsídio de desemprego para pagar as contas todas, ao mesmo tempo que ouvia as críticas do costume de que a malta está mal habituada, que ninguém quer trabalhar, que preferem ficar em casa a ver televisão do que ir à procura de emprego.

Bem vistas as coisas, o desemprego acabou por mudar a minha vida para melhor, porque me obrigou a arriscar, a escolher o meu próprio caminho, a tomar as minhas próprias decisões, a não fazer apenas o que alguém lá em cima me manda fazer. Como disse a alguém há uns dias, eu gosto de trabalhar, quando gosto do trabalho que estou a fazer. Um trabalho que, felizmente, há milhares de pessoas que também gostam de acompanhar, os tais milhares que leem a revista todas as semanas, os tais que fazem publicidade e que garantem a sustentabilidade financeira do projeto, os tais que colaboram com os seus pensamentos e opiniões todas as semanas.

Enfim, esta parte da história toda a gente sabe de cor e salteado, é comum a milhares de portugueses. A parte que pode servir de motivação, ou pode não interessar nada a ninguém, foi o nascimento do Algarve Informativo, primeiro no formato de blogue noticioso, a maneira mais rápida e simples de manter a escrita em dia e de não cair no esquecimento dos potenciais empregadores. A coisa funcionou melhor do que esperado, de tal modo que me apressei a registar o «Algarve Informativo» no Instituto Nacional da Propriedade Industrial. Era o primeiro passo de uma série de burocracias que consumiam tempo e dinheiro, mas depressa percebi que esse seria o meu futuro profissional.

E, por incrível que pareça, agora não falto às festas das minhas filhas, nem aos jantares de aniversário da minha mulher. Vou todos os dias levar e buscar as filhas à escola e nem imaginam as conversas filosóficas que se consegue ter com duas crianças, uma com seis anos, outra com dois, em curtas viagens de carro. Até tenho tempo para ver com elas a Heidi, o Miles do Futuro, o Gomby, os Descendentes e o Monster High. Tudo isto porque, um dia, me vi no desemprego e tive que me fazer à vida… mas agora, confesso, sinto-me bastante mais feliz e realizado .

Claro que é um passo difícil de dar, sair da zona de conforto de trabalhar para alguém, um alguém que lhe paga o ordenado todos os meses, que trata de todas as burocracias, que lhe diz tudo o que se tem que fazer. O pior é quando esse alguém deixa de pagar, ou deixa de existir, e mudamos para a zona do desconforto. Sem muito tempo para indecisões, arrisquei, nasceu a revista semanal

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CULTURA

ALA DOS NAMORADOS Depois do sucesso de Lagoa, Tour Felicidade segue para Loulé A «Ala dos Namorados» foi a convidada de honra da Gala Lagoa Cidade do Vinho 2016, que teve lugar no dia 20 de fevereiro, no Centro de Congressos do Arade. Um espetáculo que esgotou por completo a sala e que levou a assistência ao rubro com os êxitos de mais de duas décadas de carreira da banda de Manuel Paulo e Nuno Guerreiro, mas também com algumas novidades que a dupla tem vindo a integrar gradualmente nos espetáculos da Tour Felicidade. Para quem não teve a oportunidade de assistir ao concerto, segue-se nova data no Algarve, em Loulé, no dia 19 de março, terra natal de Nuno Guerreiro. Texto: Fotografia:

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omo era de esperar, o Centro de Congressos do Arade encheu por completo para assistir ao concerto que a «Ala dos Namorados» deu, no passado dia 20 de fevereiro, inserido na Gala Lagoa Cidade do Vinho 2016. Uma atuação apaixonante, como são todas, da dupla Nuno Guerreiro e Manuel Paulo, acompanhados em palco por Zé Nabo (baixo), Mário Delgado (guitarras), Alexandre Frazão (bateria e percussão) e Rúben Santos (trombone), e onde se revisitaram as grandes canções de mais de 20 anos de carreira. Temas como «Caçador de Sóis», «Loucos de Lisboa» ou «A História do Zé Passarinho» deixaram a assistência em êxtase, mas também se escutaram canções do mais recente álbum, «Felicidade», como a dupla explicou ao Algarve Informativo. “Estamos a integrar melodias novas, uma imagem refrescada e outras surpresas. Há concertos em que atuamos em quarteto, outros com a banda toda, mas continua a ser o típico som da «Ala dos Namorados»”, indicou o louletano Nuno Guerreiro. “Nós fizemos, em 2013, um disco de duetos, «O Razão de Ser», e demos muitos concertos com os nossos amigos, vozes e instrumentistas como o Rão Kyao, o Carlos do Carmo, o António Zambujo e outros. Agora, regressamos ao formato habitual, nós dois, com as nossas composições e os músicos que nos acompanham regularmente”, prosseguiu Manuel Paulo. Uma tournée que assenta bastante no último álbum de originais editado pela dupla, «Felicidade», mas Manuel e Nuno já estão a trabalhar em canções novas, pegando, inclusive, em temas do seu imaginário e do Cancioneiro

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Português para lhes dar uma nova roupagem. “Coisas do Max e do Tony de Matos, por exemplo, um território onde o Nuno se movimenta muito bem, e onde podemos arranjar as músicas e harmonizá-las de uma forma bastante pessoal. É a visão da «Ala dos Namorados» sobre essas canções e esta sala traz-nos excelentes recordações. Tocamos cá em 2014 com a Viviane, foi um concerto fantástico, o público foi maravilhoso e a experiência, felizmente, repetiu-se esta noite”, descreveu Manuel Paulo.

Está mais que provado que a mudança de figurino, há uns anos, da «Ala dos Namorados» não tirou dinâmica e qualidade ao projeto musical, mas Manuel Paulo e Nuno Guerreiro encararam as saídas com naturalidade. “Primeiro fomos três – eu, o João Gil e o João Monge, depois veio o José Moz Carrapa, o Nuno só apareceu mais tarde. Este era o núcleo central de composição e arranjos, a que se juntavam outros excelentes músicos. Depois, ficamos

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espetáculo onde se apresentam. “Não vamos atrás dos ventos que andam por aí, somos fiéis a nós mesmos, é este género de som que criamos e executamos bem”, frisou Nuno Guerreiro, quando questionado sobre as novas tendências e estilos musicais que têm aparecido na última década. “Eles têm o seu lugar e é muito bom que façam o seu trabalho, mas não faria sentido nenhum nós alterarmos a nossa identidade. Sempre fomos buscar influências onde nos apetece, mas

só nós dois, mas o funcionamento é exatamente o mesmo e continuamos a tocar coisas do Gil com o maior prazer”, esclareceu Manuel Paulo, afastando qualquer controvérsia e garantindo que o grupo está de boa saúde. Uma vitalidade e qualidade que se fazem sentir pela música, é isso que move Nuno Guerreiro e Manuel Paulo, isso e a recetividade, o carinho, que recebem da parte do cidadão comum, dos fãs, das pessoas que continuam a encher as salas de

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não vamos agarrar-nos a isto ou aquilo só porque hoje é moda”, acrescentou Manuel Paulo. “Aliás, as modas, agora, já não mudam todos os anos, é tudo muito mais rápido”.

não são os «dj’s»”, disparou Manuel Paulo. Já quanto às vozes que vão nascendo nos típicos concursos televisivos é que não conseguimos arrancar muitos comentários de Nuno Guerreiro, sem dúvida uma das vozes mais reconhecidas e talentosas do panorama nacional. “Preferia que não me tivesses feito essa pergunta, porque teria tanto para dizer sobre isso, mas não posso… Às vezes, o ser verdadeiro e dizer aquilo que se pensa não cai bem, mas anda por ai muita gente a fingir que canta”, desabafou.

Duas décadas em que os públicos também são diferentes e se Nuno Guerreiro resistiu à tentação de não falar para não gerar polémica, já Manuel Paulo não teve problemas em fazer a sua análise. “As pessoas estão indefesas. Um miúdo liga a rádio, ouve a Comercial ou a RFM e é vulnerável àquilo que lhe dão. O certo é que essas mesmas pessoas vão ver um concerto nosso, ou de outros músicos mais experientes, e percebem que aqui não há manipulação eletrónica. É quase música artesanal, feita à mão”, garantiu o pianista e compositor, com Nuno Guerreiro finalmente a deixar escapar o que lhe vai na mente: “Eu não tenho auto-tune na voz, se estiver rouco, é assim que canto, não há enganos, microfones mágicos”.

E depois do êxito estrondoso de 20 de fevereiro no Centro de Congressos do Arade, a «Ala dos Namorados» regressa ao Algarve, desta feita à terra natal de Nuno Guerreiro, para um concerto no Cine-Teatro Louletano, a 19 de março. “Os nossos espetáculos nunca são absolutamente iguais, temos a tal componente jazzística, daí serem sempre uma surpresa. Também vamos gravando novos temas com alguma regularidade, mas não temos pressa em lançar outro disco, o «Felicidade» saiu em 2015. Mas vai surgir um novo álbum, com os nossos originais e algumas músicas do Cancioneiro Português”, adiantaram em final de conversa, com um até breve, para Loulé, daqui a algumas semanas .

Uma realidade que explica a existência de inúmeros projetos musicais, uns mais badalados e conhecidos do que outros, consoante lhes seja dado tempo de antena pela comunicação social, porque os portugueses gostam, efetivamente, de qualidade. “Um tipo que agarra no acordeão, toca e mete alguém a dançar, é um privilegiado, faz parte de uma elite,

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CULTURA

ROMANCEIRO PORTUGUÊS ganha novas asas rumo a Património Imaterial da Humanidade O Ministro da Cultura veio a Querença, no dia 20 de fevereiro, para presidir à apresentação pública do projeto «romanceiro.pt». A iniciativa nasce de uma parceria entre a Fundação Manuel Viegas Guerreiro e o Centro de Investigação em Artes e Comunicação da Universidade do Algarve, com financiamento da Fundação Calouste Gulbenkian, e resulta do projeto «O Arquivo do Romanceiro Português da Tradição Oral Moderna (1828-2010): sua preservação e difusão». Resumindo, assistiu-se ao nascer de uma plataforma digital onde estão disponíveis os textos do Romanceiro e os respetivos sonoros, conforme os responsáveis do projeto explicaram ao Algarve Informativo. Entrevista:

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Reprodução de um manuscrito autografado por Almeida Garrett (Coleção Futscher Pereira, depositado na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra) 17

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Romanceiro é um género poético tradicional originário nos finais da Idade Média e que foi guardado na memória dos povos de expressão portuguesa, galega, castelhana e catalã desde então, passando na forma oral de geração em geração. O género ganhou maior preponderância quando o Romantismo se interessou de modo mais sistemático por ele e, desde 1824, foram coligidas milhares e milhares de versões de romances em Portugal, Espanha e nos países da diáspora portuguesa e espanhola. Uma memória romancística que foi transportada por esse mundo fora pelos judeus expulsos da Península Ibérica nos finais do século XV e que ainda hoje é preservada.

uma enorme dificuldade quando os investigadores estrangeiros o queriam estudar e acabavam por se basear em coleções, umas mais fiáveis do que outras”, conta Pedro Ferré. O primeiro passo foi, então, organizar este enorme arquivo publicado até 1980, tarefa que foi concluída no virar do novo milénio, com o apoio da GNICT, depois rebatizado de Fundação Para a Ciência e Tecnologia, e graças a um grupo de alunos da Faculdade de Letras da Universidade Nova de Lisboa e da Universidade do Algarve. Mas havia outro passo a dar, prosseguir com esta recolha sistemática no campo, relata o coordenador do «romanceiro.pt». “Era preciso definir pontos significativos de recolha em todo o território nacional, mas também não se podia recolher tudo. Quando se entra numa aldeia e dizemos que queremos reunir tradições antigas, é óbvio que nos transmitem aquilo que têm mais fresco na memória. Ao mesmo tempo, se não especificarmos o que desejamos, é evidente que as pessoas nunca farão um grande esforço de memória”, alerta o vice-reitor, um trabalho que foi sendo feito nos finsde-semana e nos períodos de férias letivas, entre 1980 e 2000.

Olhando para o caso específico português, destacam-se os contributos das recolhas e publicações de versões de romances realizadas, entre outros, por Almeida Garrett, Teófilo Braga, Leite de Vasconcellos, Consiglieri Pedroso, Alves Redol, Michel Giacometti, Maria Aliete Galhoz, Manuel Viegas Guerreiro, um trabalho que foi retomado, em 1980, por Pedro Ferré, professor e vice-reitor da Universidade do Algarve. “O Romanceiro português encontrava-se completamente disperso, não classificado, não se conhecia o número de versões, nem de temas, as designações eram pouco claras e não respeitavam as classificações internacionais. Tudo isto provocava

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Como resultado, recolheram-se cerca de 3500 novas versões e descobriram-se romances inéditos em todo o mundo de expressão

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Pedro Ferré, Sandra Boto e Mirian Tavares, a equipa responsável pelo «romanceiro.pt»

concorreram em parceria, felizmente vencemos e cá estamos”, sumariza Pedro Ferré.

catalã, portuguesa, galega e castelhana e que viriam a constituir um segundo arquivo, já no formato áudio, a par das transcrições em papel. Entretanto, com as novas possibilidades que as tecnologias de informação e a internet nos oferecem no século XXI, começou a pensar-se em colocar todo este conhecimento, todas estas tradições, numa plataforma digital, e é ai que surge o Centro de Investigação em Artes e Comunicação (CIAC) da Universidade do Algarve, nas pessoas da sua coordenadora, Mirian Tavares, e da investigadora Sandra Boto. “A Fundação Gulbenkian abriu um concurso para a preservação de acervos documentais, o CIAC e a Fundação Manuel Viegas Guerreiro

Convém lembrar que uma das grandes finalidades do CIAC é precisamente a produção de plataformas digitais nas artes visuais, teatro, literatura e outros campos, para que a informação chegue de forma mais democrática ao público, sejam investigadores ou o cidadão comum. “Para além da utilidade, preocupamo-nos bastante com a usabilidade e a vertente estética e o «romanceiro.pt» só foi possível porque já existia uma base sólida de conteúdos”, destaca Mirian Tavares, reconhecendo que o

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Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da UAlg.

Um Romanceiro não só para académicos Transpor os dois arquivos académicos para a plataforma digital «romanceiro.pt» não foi tarefa fácil, falamos de quase 14 mil versões de romances, entre publicados e inéditos, que tiveram que passar do papel e das velhinhas cassetes áudio para formatos digitais. Tudo feito nas instalações da Universidade do Algarve, de modo a prevenir perdas ou danos de registos, isto porque, segundo Sandra Boto, “movimentar um arquivo desta escala significa perder documentos”. Depois, houve que construir o esqueleto do sítio de internet e responder a todos os desafios que iam surgindo no decorrer do processo, de modo a criar uma base de dados de fácil acesso a todos os interessados. “É evidente que, numa primeira fase, não houve ainda possibilidade, nem de tempo, nem financeira, para melhorar a plataforma e torná-la pesquisável pelo grande público, esse será o próximo passo. Para já, ficamos muito satisfeitos por conseguir partilhar este acervo com a comunidade que estuda o Romanceiro por esse mundo fora”, aponta Sandra Boto.

«Romanceiro» é um termo que suscita muitos equívocos. “As pessoas pensam que são tradições antigas provenientes do folclore, mas vem, sim, de uma poesia mais culta e que depois foi sendo disseminada pela memória popular. Além desta finalidade académica de esclarecer os mal-entendidos, a plataforma também pode ser útil para quem quiser fazer um filme ou um documentário sobre algo que faça parte do Romanceiro. Não faz sentido produzir Ciência se ela depois não for difundida”, defende a diretora da

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inspirar nas trilhas sonoras, na forma como esses romances eram cantados”, sublinha Pedro Ferré, lamentando que se tenha tão pouca estima pela literatura popular, muitas vezes sem razão de ser. “Há gente que não sabe absolutamente nada sobre tantas coisas, mas tem tanta voz e propaga tantos disparates, e esses têm agora oportunidade para ler realmente o Romanceiro, ver o que ele é, como ele vive e sobrevive, através de milhares versões. Há pessoas que julgam que só elas é que sabem aquele romance, ou que só a avó delas é que conhecia a versão correta, que todas as outras estão erradas. Contudo, há centenas de versões de alguns temas e que assumem um conjunto de variações bastante interessante”, declara o vice-reitor da Universidade do Algarve.

E engane-se quem pensa que são poucos aqueles que investigam o Romanceiro, tanto portugueses como estrangeiros, e que agora deixam de ser obrigados a deslocar-se ao Algarve para conduzir os seus estudos. “São custos elevados porque a pesquisa deste arquivo não se faz num dia ou dois, são milhares de registos. Mesmo que o investigador esteja interessado apenas num romance, existem inúmeras versões”, explica Sandra Boto, com Mirian Tavares a acrescentar que há muitos fins a dar a este manancial de informação. Exemplo disso foram os quatro volumes editados por Pedro Ferré, através da Fundação Calouste Gulbenkian, com os romances conhecidos desde 1824 até 1960, estando na calha um quinto volume. “1960 é uma data simbólica, pois é publicado o segundo volume do Leite de Vasconcellos e coincide com aquilo que chamo o fim da primeira etapa de recolhas, desde os românticos até os positivistas”, refere o autor, num breve parênteses.

Por sua vez, Sandra Boto realça a importância do Romanceiro associar a palavra à música, algo que vem dos tempos medievais e que deu origem à poesia. “É algo que desconhecemos completamente porque perdemos essa memória. Um arquivo é um recuperador de memórias, porque permite-nos perceber que o texto que a nossa avó cantava não é exclusivo dela, é universal”, elucida a investigadora, considerando que a nova plataforma digital pode dar azo a imensos projetos artísticos. “Disponibilizamos estes conteúdos da forma mais científica e filológica

Também a música já se socorreu do Romanceiro, num projeto que envolveu Sérgio Godinho, Amélia Muge, João Afonso, Brigada Vítor Jara e os Gaiteiros e que culminou com a edição de um disco. “Na altura tiveram que recorrer ao meu arquivo e às velhas cassetes, o que se tornou desnecessário com a nova plataforma digital. Bastava selecionar os textos que desejavam e até se podiam

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possível para que qualquer pessoa possa exercer processos artísticos sobre aquelas versões. Um dos objetivos do CIAC, ao disponibilizar acervos online, é oferecer materiais para que outros os possam utilizar da maneira que melhor entenderem e acharem enriquecedora”.

que foram expulsos no tempo dos reis católicos, do D. Manuel e de outras purgas que se seguiram. Ou seja, temos a dimensão patrimonial de uma antiguidade comprovada, mas igualmente várias nações a cantarem estas canções, até porque os portugueses e espanhóis as transportavam consigo para onde quer que fossem”, destaca Pedro Ferré.

Candidatar a Património Imaterial da Humanidade é um dever

O coordenador do projeto volta a enfatizar o risco de extinção do Romanceiro, um género antigo que começa a estar “pouco oxigenado” e que é cada vez mais difícil de encontrar, algo que pode ser evitado, através de plataformas como esta e de políticas culturais à altura da necessidade. “Candidatar o Romanceiro a Património Imaterial da Humanidade é um dever e estamos dispostos a colaborar nesse sentido, ao mesmo tempo que vamos melhorando o «romanceiro.pt». Queremos que este repertório remeta para versões de outros países que também cantam estes textos, que incorpore as velhas partituras do Séc. XVI, que permita aceder a estudos feitos sobre os temas que estão nesta base de dados”, adianta o entrevistado, com ardor das palavras, percebendo-se que é um verdadeiro apaixonado por esta matéria. “É pena que muita gente confunda o Romanceiro com o Cancioneiro, quando são coisas completamente diferentes, apesar

Impedir que as memórias se percam com o passar do tempo é, então, uma das grandes potencialidades do «romanceiro.pt» e Mirian Tavares salienta que um património imaterial que não possa ser preservado e consultado, acaba por perder a sua função, uma referência que suscita um sorriso em Pedro Ferré. “Acho que se está a abusar desse termo para apresentarmos tudo e mais alguma coisa à UNESCO. Nada tenho contra aquilo que foi considerado, até à data, como património imaterial da humanidade, se bem que possa ter as minhas reservas, num caso ou noutro, em que me parece que já estamos a atingir a caricatura”, admite o catedrático, frisando, de imediato, que o Romanceiro merece, indubitavelmente, esse estatuto. “É um género que vem desde, pelo menos, o Séc. XV até aos nossos dias e transmitido de uma forma mista, ou seja, oral e escrita. Em segundo lugar, todos os povos ibéricos cantam este género, incluindo os judeus sefarditas

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agora colocada online. “Pode, efetivamente, provocar recriações nos mais diversos domínios artísticos. Aliás, as classes cultas sempre recorreram ao Romanceiro para elaborar as suas obras, desde Camões, Cervantes e Gil Vicente a Almeida Garrett, Fernando Pessoa e Almada Negreiros. O Romanceiro é, sem dúvida, um dos poucos géneros que transporta o peso dos anos, que tem muita memória em cima. Infelizmente, deu-se-lhe pouca atenção por, se calhar, ser sentido como um género estrangeiro, porque penetrou em Portugal nos Séc. XV e XVI e era cantado normalmente em castelhano. Se esta plataforma der a conhecer melhor o Romanceiro, já cumpriu o seu propósito”, finaliza Pedro Ferré .

de ambos serem cantados. O Romanceiro são breves poemas com versos longos de 15 sílabas, com rima toante do primeiro ao último verso, e que contam sempre uma história. Já o Cancioneiro é a exaltação de um sentimento”, distingue o especialista. Continuando com os motivos para ser considerado Património Imaterial da Humanidade, Pedro Ferré revela que o Romanceiro foi um dos géneros mais importantes nas cortes peninsulares do Séc. XVI, presente em todos os saraus do Paço, como atesta a abundância de textos publicados da época. “E não foi o povo que o criou, apenas o guardou. Foi um bom banqueiro que soube preservar este legado até aos nossos dias”, enaltece, antes de virar atenções para as potencialidades da plataforma digital

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OPINIÃO TIRA UM «CURSO A SÉRIO»! PAULO CUNHA

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uitos que no «seu tempo» ouviram da boca dos seus pais as costumeiras frases “Tens que estudar para ser alguém na vida!”, ”Tira um curso a sério!” ou “Vê lá se essa área tem saída!?”, dizem-no agora com o mesmo paternalismo, convicção e esperança com que os seus progenitores o disseram. O tempo passa mas os velhos tabus sociais que nos foram incutidos por todos aqueles que ajudaram a construir os alicerces da atual sociedade de consumo, mantêm-se. É uma herança cultural que, duma forma ténue e lenta, tarda em mudar. É inquestionável a importância de adquirir conhecimentos seja em que área for, para, sobretudo, nos enriquecermos moral e intelectualmente, independentemente do rótulo e dos prémios e regalias que a sociedade nos venha a atribuir na sua hierarquia do «quem é Quem». Toda a gente é alguém na vida! Na vida de quem prezamos e nos preza. É isso o mais importante, pois para além do usufruto inconsequente e ostentação mundana de bens materiais, o bem-estar dos «nossos» acaba por ser o garante da nossa verdadeira importância nesta curta passagem terrena. Quando alguém faz a destrinça qualitativa entre o sério e o menos sério no que à importância profissional diz respeito, coloca-se a questão se a mesma é dada apenas pelo índice de empregabilidade, da média salarial, da capacidade de progressão, do status social ou também contempla a satisfação, a realização, o preenchimento e a felicidade pessoal de cada um. Não serão também os ditos cursos inferiores, aqueles que não sendo superiores

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tornam a nossa vida superior? Afinal de contas tira-se um curso para ser superior a outrem ou para tornar superior a nossa aprendizagem da vida, na vida e para a vida? Observando a forma como muitos educadores tentam condicionar as escolhas vocacionais dos seus educandos, em nome de uma projetada e muito almejada «saída profissional», tenho vindo a constatar que nos seus percursos académicos muitos desses alunos hipotecam e vilipendiam a sua felicidade em nome duma aparente certeza e segurança profissional. Entendo o desejo de qualquer pai que os seus filhos encontrem uma forma de subsistência que lhes garanta a possibilidade de também constituir família. Mas a que custo?... Apeteceu-me aqui desabafar este estado de espírito após ter ouvido um comentário de um jurado dum concurso onde é avaliado o talento dos concorrentes. Artista de formação e de convicção, aconselhava um jovem a continuar a investir o seu tempo e energia, dedicando-se “de alma e coração” àquilo que o fazia feliz: a arte onde mostrava vocação e competência. Tendo finalizado a dissertação com o eloquente e assertivo conselho: “Não ligues a quem te diz para tirares um curso a sério. Um curso a sério é o que fazes!”. Apetece-me perguntar-vos o que é hoje um «curso a sério». Não podendo, deixo-vos aqui a questão para colocarem aos vossos filhos… Talvez eles saibam! .

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OPINIÃO NINGUÉM CRESCE SOZINHO PAULO BERNARDO Empresário

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inguém é empresário sozinho e, cada vez que saio de Portugal para promover o meu negócio, trago uma quantidade de pessoas que amo e respeito muito comigo. Em cada foto que eu apareço existe uma multidão invisível de afetos e profissionalismo que não se vê. Em primeiro lugar, coloco Deus pois, sem ele e sem o seu apoio, suporte e amparo, não estaria eu na foto. Depois, a família, que me apoia e suporta, sem ela desde o início não era aquilo que sou. Quando os meus pais me deixavam sair debaixo da asa para estudar e visitar outros países e agora com a mulher que me apoia e suporta na missão mais importante que tenho, que é ajudar no crescimento e educação da minha filha. Mulher que abdica de muito para manter o meu porto de abrigo sempre à minha espera. A minha filha que, mesmo com umas lágrimas valentes, entende o trabalho e apoia-me. Os meus sogros, por todo o carinho e sabedoria. Os meus sócios (prefiro dizer amigos) que estão lá para atender os meus pedidos e responder às questões. As minhas meninas e meninos (meus colaboradores), que dão o seu melhor para que o trabalho seja feito, que inovam, que concebem, que dão o seu melhor para que os produtos cheguem ao cliente ultrapassando as expetativas. Os meus parceiros bancários que acreditam no que faço e arriscam comigo, terei que dizer quem são, o Banco Popular, o Millennium BCP e o BIC (a ordem tem a ver com a entrada na minha vida), sem as pessoas que os representam também não teria aparecido na foto. Os meus professores, todos eles importantes, pois cada um ensinou a sua coisa, umas úteis,

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outras pouco úteis, mas até as pouco úteis em alguma fase são úteis. Os amigos, que são poucos mas bons, e me recebem de braços abertos no pouco tempo que estou com eles. Todos eles estão nessa foto onde só eu apareço de uma forma visível, contudo, ninguém cresce sozinho. Por cada palavra de alento e reconhecimento que recebo, são palavras de alento e reconhecimento para todas elas e eles, que estão comigo. Obrigado a essa multidão invisível. Quando aleguem dizer que chegou aqui e ali, olhem sempre para quem não está na foto, pois ninguém cresce sozinho. E peço desculpa aos que me esqueci de referir por lapso, mas também estão lá na foto. Nota da semana: Vai para os serviços de oncologia do Hospital de Faro e de Lisboa, que têm feito um ótimo trabalho a ajudar um amigo a quem esta doença terrível lhe bateu à porta. Detetada a tempo, tratada com as técnicas mais recentes e com um acompanhamento humano excelente. Não podemos referir apenas quando as coisas correm mal. Força Márcio, estamos a torcer por ti, pois sabemos que estás em boas mãos. Figura da semana: Angola, um país com um potencial enorme e recursos fantásticos, entrou numa crise aguda e complicada, fruto de muita coisa que todos sabemos. Pátria que acolheu muitos conterrâneos quando se mandava emigrar e que hoje estão abandonados um pouco à sua sorte. Espero que o Estado acompanhe esta situação da forma que merece, pois muitos estão desesperados e sem apoio .

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OPINIÃO O PODER DE UMA OBRA DE ARTE JOÃO ESPADA Professor, Artista Plástico Presidente da Casa da Cultura de Loulé

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ecentemente assistimos a um episódio que muito se comentou, que muito se criticou… Um conjunto de estátuas do Palácio do Capitólio, em Roma, foram tapadas por ocasião da receção do primeiro-ministro italiano Matteo Renzi ao presidente do Irão, Hasan Rohaní. Infelizmente este caso não é único na nossa história universal.

revestidas por painéis para encobrir a nudez das figuras. Tudo porque poderia chocar o líder iraniano que os visita. Esta medida foi amplamente criticada pela comunidade italiana em geral e ecoou bastante pela Europa a fora. Aqui foi demostrado um grande ato de subserviência a uma pessoa que no seu país persegue e executa os homossexuais e todos aqueles que estejam «contra» os seus ideais religiosos.

Corria o ano de 2003, quando uma reprodução em tapeçaria da célebre pintura: «Guernica», de Pablo Picasso, que estava pendurada à entrada do Conselho de Segurança da ONU foi tapada. Tudo aconteceu no dia em que o secretário de Estado dos Estados Unidos, Colin Powell, apresentava os dados obtidos pelos EUA que justificavam segundo eles uma guerra contra o Iraque. A justificação para esta medida estava relacionada com o facto da «obra de arte» que ilustra o bombardeio sofrido pela cidade espanhola de Guernica em 26 de abril de 1937 por aviões alemães, com apoio do ditador Francisco Franco, ser muito chocante e perante a presença da imprensa mundial não ficava bem. A presença daquela «imagem» não ficava bem!? Porém anunciar uma futura guerra já não chocava ninguém!?

Mais uma vez ficou provado que não devemos subestimar o poder de uma «obra de arte» e que a sua força está na sua mensagem e não no seu mero efeito decorativo .

E agora volvidos 13 anos, o governo Italiano tapou as estátuas do Palácio do Capitólio, como a Vénus Capitolina (original do século IV a.C.), um Eros com Arco (de Lísipo, século IV A.C.), uma Leda e o Cisne (360 A.C.). Todas foram

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OPINIÃO O INTERIOR FICA JÁ ALI… JOSÉ GRAÇA Membro do Secretariado Regional do PS-Algarve

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uma das primeiras reuniões deste ano, o Conselho de Ministros debateu o modelo e o calendário do Plano de Descentralização, tendo em vista aprofundar a democracia local, melhorar os serviços públicos de proximidade e atribuir novas competências às autarquias locais. Com estas medidas, cumprem-se os compromissos de estímulo ao crescimento económico, através da alocação de recursos para um nível de gestão mais próximo dos cidadãos. Liderado pelo Ministro Adjunto Eduardo Cabrita, este plano implica uma revisão das competências das Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional e das Áreas Metropolitanas, reforçando-se a respetiva legitimidade democrática. Envolvendo pelo menos dez ministérios, as suas atividades já começaram e devem estar concluídas no final do primeiro semestre de 2017 para que o ciclo autárquico 2017-2021 possa decorrer já sob o novo quadro. No mesmo encontro, foi aprovada a missão e o estatuto da Unidade de Missão para a Valorização do Interior (UMVI), que tem como objetivo criar, implementar e supervisionar um programa para a coesão territorial, promovendo medidas de desenvolvimento do interior e dos territórios de baixa densidade. É uma entidade que pretende-se transversal, visando promover a atração e fixação de pessoas nestas regiões, a cooperação transfronteiriça e o intercâmbio de conhecimento aplicado entre centros de Investigação e Desenvolvimento e as comunidades rurais. Estas duas deliberações vem no seguimento da aprovação do Programa do XXI Governo Constitucional que assume entre os seus objetivos prioritários o reforço da descentralização e a afirmação do «interior», passando a encará-lo como um aspeto central do desenvolvimento económico e da coesão territorial, promovendo uma nova abordagem de aproveitamento e valorização dos recursos e das condições próprias do território e das regiões fronteiriças, enquanto fatores de desenvolvimento e competitividade. Esta nova visão considera uma realidade que tem sido subestimada em prol da faixa atlântica e dos mares

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arquipelágicos, assumindo que, bem pelo contrário, o «interior» dispõe de um elevado potencial de desenvolvimento territorial e nacional. Com está lavrado na resolução do Conselho de Ministro que formaliza a UMVI, os territórios do interior de Portugal continental gozam de uma posição privilegiada no contexto ibérico, possuindo uma ligação com o resto da Península, gozando de uma posição ímpar no contexto ibérico que não tem sido devidamente reconhecida. Nas regiões espanholas junto à fronteira, vivem mais de seis milhões de pessoas, sendo que as capitais dos distritos fronteiriços distam apenas entre 60 e 160 quilómetros das capitais das províncias e das regiões vizinhas. Desta forma, o «interior» está no centro do mercado ibérico, um mercado com cerca de 60 milhões de consumidores e um gigantesco volume de trocas, as zonas raianas devem passar a ser encaradas como um extenso interface comercial. Sabem quantos quilómetros são de Faro a Huelva ou Sevilha?! Fazem-se em pouco mais de duas horas, embora a ligação ferroviária ainda seja um sonho… Esta oportunidade não deve ser vista apenas como de comércio transfronteiriço, uma vez que para vender é preciso produzir e essa capacidade produtiva existe no «interior». Desde logo, existem infraestruturas, mão-deobra, recursos únicos e saberes artesanais que estão subaproveitados ou mesmo em risco de se perder, alguns dos quais, mediante um influxo de inovação, tecnologia e métodos de gestão, podem gerar consideráveis mais-valias. Por estes dias, nas Jornadas do Mundo Rural, promovidas pelo município de Alcoutim, e no encontro sobre a UMVI em São Brás de Alportel, por iniciativa da associação In Loco, podemos aproveitar para refletir sobre estas realidades e colocar o Algarve no pelotão da frente desta nova dinâmica de cooperação territorial e transfronteiriça. Juntos vamos mais longe! . NOTA – Poderá consultar os artigos anteriores sobre estas e outras matérias no meu blogue (www.terradosol.blogspot.com) ou na página www.facebook.com/josegraca1966

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OPINIÃO A UTILIDADE DAS COISAS INÚTEIS… OU O PAPEL DA CULTURA NA CONSTRUÇÃO EUROPEIA DÁLIA PAULO Diretora do Museu Municipal de Loulé

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driano Moreira falou-nos, esta semana, em Loulé, da «Desordem do Mundo», um tema vastíssimo, uma lição brilhante. Aqui relevo, somente, a sua afirmação de que é necessário “dar importância às Humanidades às Artes que estão esquecidas”. Uma «frase batida» dirão muitos leitores, certamente é; contudo, urge concretizar este objetivo, urge uma atenção especial ao ensino das humanidades e das artes, urge uma articulação umbilical entre cultura e educação. Não será um caminho linear e fácil mas é necessário construí-lo e pensá-lo na longa duração e não na curta duração dos poderes efémeros. Michell Foucault afirmava que “o meu trabalho é construir janelas onde antes só havia paredes”; é esse trabalho de construção de janelas, sendo a primeira a “janela da liberdade” (expressão utilizada por Adriano Moreira) neste mundo em desordem, nesta Europa com medo, que se fecha, onde os valores claudicam ou se diluem na espuma dos dias as certezas de ontem, onde o «outro» se tornou um perigo ou um potencial inimigo; as instituições culturais podem ser (diria mesmo são) os lugares a ser utilizados e, também, motores e palcos onde se discutem e se partilham diferentes pontos de vista, onde se questiona o mundo, onde a história única (lembrando a expressão de Chimanda Ngozi Adichie) não existe. Lugares de estórias múltiplas e de múltiplos caminhos, de diferentes visões, que contribuam para a construção da polis e de uma cidadania participativa, este é o caminho que temos de percorrer em conjunto, de forma participada e colaborativa. Esta semana tive oportunidade de participar numa conferência internacional «Museums: one object, many visions» que decorreu no Museu Nacional de Arqueologia, numa parceria entre o ICOM Portugal e o Eurovisoin Museums Exhibiting Europe, um projeto com o apoio do Programa Cultura da Comissão Europeia. Foi um dia intenso de partilhas, com projetos que contribuem para melhor compreender o mundo que vivemos, para uma mudança de perspetiva e para

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construir um futuro comum, assente, como nos disse Hans Martin Hinz (Presidente do ICOM Internacional) nos valores da Humanidade, para uma reconciliação com os lugares e a sua história. Um dia de apresentação de projetos que, partindo dos museus, da cultura e da identidade abordaram as questões da segurança, da paz e da (in)tolerância na Europa, assim como da pluralidade de visões necessárias para construir uma eurovisão que parece estar a desaparecer e que deve contar na sua redefinição com os museus, que como afirmou Luís Raposo são “Uma marca da Europa”. É importante que estes projetos sejam conhecidos e «absorvidos» por todos, pelo que partilho alguns deles assim como as questões que levantaram: Joaquim Jorge (Museu de Loures) deu-nos a ver o projeto «World Museum», que integra uma mudança de perspetiva no olhar para as coleções dos museus europeus, através da cidadania e do contributo para debater temas de hoje – fome, água, entre outros – um projeto fascinante e a servir de exemplo para outros museus. Emma Nardi (Presidente do ICOM-CECA Internacional, Comité da Educação em Museus) interpelou-nos com a pergunta “não são os museus políticos?” ou “existem apenas para o belo?”; por sua vez David Vuillaume (Presidente da Nemo European Museum Network) falou dos valores e do papel da educação e de como devemos repensar o seu papel social e colaborar; Mário Antas (ICOM CECAPortugal) remete-nos para a ideia de “museu feliz” que se concretiza através da participação social. A partilha destes projetos prende-se com a questão que Jacques Delors colocou em 1989: “A História está a bater à nossa porta. Vamos fingir que não a ouvimos?”. Estamos, em mais um momento decisivo na construção europeia e as instituições culturais, nomeadamente os museus, estão a dizer presente! e a permitir uma mudança de perspetiva, a implicar-se e a implicar-nos para que se possa dar e legar às gerações presentes e futuras um mundo melhor e pessoas mais felizes! Será que vamos conseguir?… .

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SOCIEDADE

SÉRGIO VIANA De político a mestre artesão Há muito tempo que não dávamos a conhecer o outro lado de um político, a faceta menos conhecida deste autarca ou daquele dirigente partidário. A história desta semana até surgiu por acaso, pois vínhamos de outra reportagem quando demos de cara com Sérgio Viana, uma das principais figuras do PS/Algarve nas últimas décadas e que agora se dedica à restauração e criação de raiz de peças de mobiliário em madeira para dar um ar especial às nossas casas. Esta é a história do Espaço 18, em Faro, perto do Largo do Carmo. Texto:

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ra mais uma manhã de trabalho na capital algarvia, tinha terminado uma entrevista e regressava ao parque de estacionamento localizado junto à Igreja do Carmo, por entre ruelas pouco movimentadas, quando encontro uma série de cadeiras, mesas-de-cabeceira, garrafeiras, expostas em pleno passeio. A agenda estava livre, a curiosidade falou mais alto, parei para observar as peças de madeira. Notei logo que muitas tinham sido recicladas, ou seja, eram antigas, estavam estragadas, antes de darem corpo a novas peças, bastante bem tratadas, de traços rigorosos, os assentos das cadeiras de cores e padrões garridos, quase quadros onde pudéssemos descansar o corpo. Estava eu entretido nas minhas observações quando, de um espaço de 15 metros quadrados, sai uma figura imponente, a rondar os dois metros de altura, um rosto que bem conhecia, de ferramenta nas mãos. Há algum tempo que me questionava por onde andaria Sérgio Viana, um dos principais quadros do PS/Algarve nos últimos 30 anos, mas que tinha deixado de ver nos diversos eventos que a estrutura socialista organizava na região, nomeadamente na receção às figuras de estado, aos governantes que viajam até ao sul do país em serviço e que abalam

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quase sem se dar por eles. Mais surpreendido fiquei, porém, ao encontrá-lo neste cenário improvável, um homem que jogou futebol durante 15 anos no Lusitano de Vila Real de Santo António antes de se dedicar à política ativa e que deu nas vistas como adjunto e chefe de gabinete do Governador Civil do Distrito de Faro ao longo de sete anos. O ainda membro da Comissão Política da Federação do PS/Algarve e da Comissão Política da Concelhia do PS/Faro olhou também para mim com espanto, antes de estender a mão e abrir o sorriso para nos cumprimentarmos e não evitei a pergunta que me estava na ponta da língua – «Então que faz aqui o Sérgio?» – ao que me respondeu que aprendeu eletromecânica enquanto miúdo, numa época em que os cursos profissionais ainda proliferavam. “Entretanto, há uns anos deparei-me com uma situação algo aflitiva: deixei de exercer um cargo político e as pessoas foram rápidas a esqueceremse de mim, de tudo aquilo que fiz em prol do partido. Ainda procurei em algumas autarquias ou organismos de estado, mas toda a gente me fechou as portas”, relata Sérgio Viana, sem esconder a natural amargura de quem tanto deu ao PS e foi depois colocado na prateleira, só por já ter ultrapassado a barreira dos 50 anos. Depois de tantos anos a viver a alta velocidade, sem um minuto para descansar, a percorrer o Algarve e o país de lés-a-lés, Sérgio Viana, com 57 37

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minha ambição, mas cá estou com bastante gosto”.

anos, não estava preparado para se reformar, para passar os dias nos bancos dos jardins, muito menos para ficar em casa a ver os programas da tarde dos vários canais de televisão. “Pensava que ainda tinha um contributo importante para dar à região, pelos conhecimentos e experiência que tenho, pelos cargos que desempenhei, mas os outros entenderam que não. Ainda me sinto relativamente jovem, mas a cabeça é que mexe com o corpo, não podia estar parado e assim apareceu o Espaço 18”, indica. Quanto ao nascer do artesão, socorre-se das palavras do anterior Primeiro-Ministro Pedro Passos Coelho: “O desemprego, às vezes, proporciona o descobrir de novas oportunidades, aptidões que estão dentro de nós e que desconhecíamos. Esta não era a ALGARVE INFORMATIVO #46

Claro que uma coisa é aprender umas noções básicas na escola quando se é miúdo, outra bem diferente é colocá-las em prática, pegar nas ferramentas, em peças recicladas, e dar-lhes uma nova vida. Contudo, depois de um arranque um pouco atribulado, como seria de esperar, hoje, Sérgio Viana já não consegue dar vazão às encomendas que recebe. “Foi uma agradável surpresa, as pessoas reconhecem alguma beleza e criatividade nas coisas que faço. Só utilizo materiais reciclados e, felizmente, deixou-se de deitar fora o que é velho para se comprar tudo novo, está na moda recuperar o que é antigo”, explica,

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adiantando que umas peças se conseguem aproveitar para a mesma função, outras dão origem a algo completamente diferente.

garantindo que os móveis que constrói são para uso diário e não para ficarem em exposição nalgum canto das casas.

Sem se assumir como um artesão profissional, topo de gama, Sérgio Viana reconhece que o principal obstáculo a ultrapassar foi lidar com as cores, tonalidades e contrastes, situação em que foi ajudado pela esposa, que possui uma galeria de arte em Faro. “Fui produzindo cada vez mais e as coisas foram aparecendo com mais naturalidade. Vendo uma cadeira destas por 35 euros e vejo peças do género a serem transacionadas na internet por 150 euros. Com o que se encontra nas grandes lojas de decoração e artigos para o lar, nem vale a pena comparar o material e também não faço duas peças iguais”, sublinha o entrevistado,

Ter um hobby deixou de ser tabu Construções completamente artesanais, feitas à mão, sem grandes máquinas, a maioria criadas à porta do Espaço 18, à vista de qualquer pessoa que passe na rua. Depois, é esperar pela inspiração, Sérgio não faz desenhos prévios, daí que algumas peças fiquem semanas a aguardar a sua atenção. “É uma coisa repentina que me aparece, um clique, por isso, posso estar aqui um dia sentado sem fazer nada, no outro dia, ando de roda de duas ou três peças. É verdade que

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não estou cá todos os dias, tenho outros assuntos para resolver e, se estiver chuva ou muito frio, também não venho”, aponta, pelo que foi uma sorte esta conversa estar a decorrer. E uma conversa parecida teve para uma revista holandesa, provavelmente um jornalista de férias que por ali passava e que não hesitou em considerar o Espaço 18 como um dos locais de visita obrigatória na cidade de Faro. Situações que surpreendem o

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próprio Sérgio Viana, até porque, há 10 anos, uma pessoa teria que abandonar Portugal para se poder dedicar a um ofício destes. “Um indivíduo que desempenhasse uma função importante ou um cargo político, que administrasse uma grande empresa, quase que tinha vergonha de dizer que tinha jeito para as artes manuais, muito menos estar a executá-las na praça pública. Esse tabu desapareceu completamente, perdeu-se o receio, a timidez, de partilhar os hobbies, os gostos de cada um”, analisa o antigo dirigente socialista, embora esclareça de imediato que não se consegue viver desta atividade. “É uma forma de me ajudar a viver melhor financeiramente mas, acima de tudo, de estar ocupado com algo que adoro fazer”. E embora não se considere um artista, somos obrigados a perguntar se é fácil depois desfazer-se das peças de mobiliário que cria. “Às primeiras que fiz tirei fotografias para nunca me esquecer delas, marcaram-me, foi difícil vendê-las. Agora, sinto orgulho em que haja pessoas que querem comprar as minhas peças. O tempo faz-nos amadurecer os


nossos sentimentos”, reflete Sérgio Viana, à porta da sua oficina, pequena, mas suficiente, por enquanto. “Quando gostamos de algo, ficamos desiludidos quando ela termina. Depois de ter estado 12 anos na linha da frente do PS/Algarve, confesso que os primeiros tempos após o meu afastamento da política ativa foram complicados para mim. Hoje, sinto que terei também grande dificuldade em largar este ofício”, admite. “Tenho realizado workshops com crianças portadoras de deficiência para algumas associações, até em escolas do primeiro ciclo, e cada vez vou gostando mais disto. Há algumas possibilidades em carteira mas, se não se concretizarem nos próximos seis meses, um ano, muito dificilmente regressarei à atividade política”.

é decidido pela União Europeia. Não há ninguém, seja nas empresas, ou nas suas casas, que consiga estar estável e tranquilo num cenário destes”, afirma, preocupado. “E, no Algarve, só se discute se há ou não exploração de hidrocarbonetos, não se debatem estratégias de futuro, o que se pretende para a região, é tudo decidido em Lisboa”, remata, em final de conversa, até porque estava um potencial cliente há alguns minutos a mirar uma mesa-decabeceira .

Sérgio Viana não sabe, assim, o que a vida lhe vai proporcionar nos próximos tempos, mas tem a certeza de que não vai repetir a experiência de ter que depender de alguém, em termos profissionais. “Sei as minhas capacidades, não preciso que este ou aquele me dê a mão por favor, e este hobby dá-me um bem-estar tremendo”, assegura, sem escapar à pergunta do jornalista de como encara a atualidade política nacional. “Estou um bocadinho afastado, não tomo decisões como no passado, mas vejo que o PS está algo refém do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista e do que

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SOCIEDADE

O CAMINHO FAZ-SE (LITERALMENTE) CAMINHANDO Longe das comodidades proporcionadas pelos meios de transporte modernos, como o carro ou o avião, há quem, andando a pé, continue a seguir uma tradição com mais de um milénio de existência: percorrer os caminhos de Santiago de Compostela. Seja o caminho português, o francês ou o que atravessa Espanha de um extremo ao outro, fazem-no ora pela fé religiosa, ora pelo desafio da experiência. São homens, mulheres, e até crianças, que, em comum, têm o amor pelo «Caminho». Partilhar histórias e vivências pessoais foi o mote para o I Encontro dos Amigos dos Caminhos de Santiago do Algarve que encheu a Biblioteca Municipal de Loulé. Texto: Fotografia:

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experiência de caminhar, e as histórias acumuladas, já eram algumas, mas aquele jantar marcou, de forma especial, a vida de José Júlio Brito – o «Peregrino Algarvio», cognome que adotou. Após mais um dia longo de caminhada, desde o nascer até ao por do sol, tinha chegado o tempo do descanso num albergue destinado aos peregrinos. José Júlio Brito estava a percorrer o Caminho Francês, o mais conhecido (mas não o único) caminho até Santiago de Compostela. Já no albergue, e à hora do jantar, o «Peregrino Algarvio» teve um momento de verdadeira comunhão. “Quando dei conta éramos 15 pessoas à mesa, todas de nacionalidades diferentes. E a verdade é que, fosse por gestos ou em inglês, conseguimos todos comunicar uns com os outros. Todos ajudamos na confeção do jantar e, apesar de estar a fazer aquele percurso sozinho, naquele momento senti-me amparado e cheio de vida. Um peregrino torna-se um amigo para toda a vida”, conta, sem esconder os sorrisos.

vida”, relata. Exemplo disso é o facto de que, para além do Caminho Francês, o «Peregrino Algarvio» já fez o Caminho Português, que iniciou em Chaves. Ao longo de 19 dias caminhou debaixo de chuva e de temperaturas negativas. Tudo por um propósito: “Desligar de uma rotina sufocante, partindo preparado para me aceitar e para me amar como realmente sou”. E a verdade é que, confessa o «Peregrino Algarvio», as idas a Santiago de Compostela são para

Caminhar, para José Júlio Brito, é muito mais do que um hobby. “O que, para mim, começou como um desafio acabou como um modo de ALGARVE INFORMATIVO #46

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presentes na Biblioteca Municipal de Loulé viajar. As histórias dos caminhantes, sempre regadas, ora de dramatismo, ora de humor, prenderam quem dedicou uma tarde de sábado aos testemunhos de aventura alheios – as gargalhadas, os sorrisos e as muitas palmas foram prova disso. Com efeito, um dos objetivos do Encontro, projetado na parede atrás de onde os caminhantes falam, é o de incentivar as pessoas a conhecer os Caminhos de Santiago.

continuar. “Quem faz um Caminho de Santiago quer repeti-lo. Já passei por algumas situações menos boas, como tentativas de assalto, mas também já vi coisas tão espetaculares como um rapaz com próteses nas pernas a fazer o Caminho”.

Viajar sentado. Ou de bagagem às costas Sem ser necessário sair da cadeira foi possível às muitas pessoas

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caminhadas que faz, repleta de adereços, como a vieira tradicional de Santiago de Compostela, junto aos seus pés, Carlos Glória enumera uma lista de produtos a levar, de onde se salienta os produtos de higiene, o saco de cama e… os tampões para os ouvidos. “Visto que os albergues juntam várias pessoas no mesmo quarto a dormir, os tampões são uma maneira de evitar acordar com o ressonar de outros peregrinos”, explica, entre gargalhadas.

A viagem da imaginação é fácil, não existem restrições. Bebe-se cada palavra que é dita por aqueles que já viveram a experiência na primeira pessoa e é-se transportado para esse imaginário de histórias e caminhadas. Já a viagem real, palpável, que é feita por milhares de peregrinos, anualmente, pelos Caminhos de Santiago, requer algumas condições. Carlos Glória, um conhecedor profundo daquilo que são os Caminhos, alerta para uma necessidade básica: “É preciso saber bem aquilo que é necessário levar na mochila. Há que evitar levar peso desnecessário”. Para quem anda de bagagem às costas durante dias este é, de facto, um conselho a ter em conta. Eloquente, de corpo atlético e com a mochila que o acompanha nas

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Carlos Glória fez recentemente o Caminho de Santiago que atravessa Espanha de um extremo ao outro. Partiu de Sevilha, num percurso que acaba, como todos, em Santiago de Compostela, sendo

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a Via de la Plata (Via da Prata), nome pelo qual é conhecido este caminho, o trajeto mais longo de todos os Caminhos. Como meta, Carlos tinha algo mais do que apenas a cidade de Santiago de Compostela. “Eu, em conjunto com mais quatro caminhantes, fiz a Via da Prata inserido num grande projeto: um filme que sairá no final do ano nos cinemas”, desvenda. José Júlio Brito, o Peregrino Algarvio

Os laços que, caminhando, se constroem Existem duas maneiras de fazer os Caminhos de Santiago: acompanhado ou sozinho. Se há quem veja esta experiência como um momento pessoal, de reflexão, longe de tudo e de todos, também há caminhantes que encaram o desafio de fazer os Carlos Glória Caminhos de Santiago em grupo ou, até, em pares. É o caso de Eurico Lopes e Luís Ricardo. Num dia, por mero acaso, decidiram fazer o Caminho de Santiago. Se, no início, foram várias as pessoas que se quiseram juntar aos dois aventureiros, no dia de partir rumo a Santiago de Compostela restavam dois caminhantes – Eurico e Luís.

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Durante 10 dias caminharam, levando, por vezes, o corpo ao limite. “Criei bolhas onde pensei que nunca iriam existir”, confessa Luís, entre risos. As histórias que, juntos, viveram foram inúmeras. Ainda assim, Luís elege como uma das mais dramáticas a noite que, já no regresso ao Algarve, passou

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transparecer uma amizade que vai muito para além do Caminho de Santiago. “Antes de fazermos o Caminho, eu e o Luís tínhamos uma relação normal. Não de muita proximidade, inclusive. Mas, após aquela experiência, tornámo-nos verdadeiros amigos. O Luís sabe coisas acerca de mim que mais ninguém sabe. O laço de amizade que criámos é muito forte. É por isso mesmo que digo que no Caminho de Santiago se encontra o amor”, diz, Eurico, entre lágrimas.

Os Caminhos da fé Apesar de nem todos aqueles que percorrem, anualmente, um dos Caminhos de Santiago o fazerem por motivos religiosos, a fé está intrinsecamente ligada aos Caminhos. Desde o século VIII, altura em que começaram as peregrinações, que são milhares aqueles que se deslocam a Santiago de Compostela com o propósito de visitar a Catedral de Santiago, onde, reza a história, se encontram os restos mortais de São Tiago, discípulo de Jesus Cristo.

Ana Teresa Ventura com os filhos

sozinho no Porto. “Dormi literalmente trancado numa estação de comboios no Porto. Os seguranças tentaram com que se saísse, mas eu insisti em ficar porque não tinha sítio para dormir e só apanhava o comboio no dia seguinte e acabei por dormir, sozinho, na estação”, recorda.

Ana Teresa Ventura assume-se como uma pessoa “religiosa e cheia de fé”. Numa tarde de praia, decidiu que queria fazer um dos Caminhos de Santiago. A ideia já era antiga. “Como o tempo não estava tão bom como queria,

Com as fotos da aventura a dois que viveram a serem projetadas nas suas costas, Eurico e Luís fazem

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decidi que aquela era uma boa altura para cumprir este meu sonho. Na minha família estávamos todos de férias, por isso, nem hesitamos”, indica. Os filhos, ainda crianças, não foram entrave e partiram, também, rumo a Santiago de Compostela. Surpresa das surpresas… “Durante os dias em que caminhámos, os meus filhos iam sempre à frente, quase que a comandar-nos”, diz, entre risos. Mas, mais do que uma viagem em família, a ida a Santiago de Compostela, pelo Caminho Português, foi para Ana Teresa Ventura uma procura interior. “A experiência de ir à missa como peregrino é única, assim como o receber aquela força de todos aqueles que, como nós, estão a fazer aquela jornada. Todo o simbolismo dos Caminhos de Santiago é verdadeiramente especial” .

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ATUALIDADE ALBUFEIRA PROPORCIONA FITNESS AO AR LIVRE PARA TODA A POPULAÇÃO de prática e exercícios ao Ar Livre que agora têm ao seu dispor 24 horas por dia.

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om o objetivo de promover a prática regular de exercício físico ao ar livre, foram instaladas em diversos locais da Cidade de Albufeira, máquinas e equipamentos destinados à prática de exercício ao Ar Livre, como forma de incentivar a população a adotar estilos de vida saudáveis, quando se sabe que a atividade física melhora a qualidade de vida em todas as idades. No passado dia 13 de Fevereiro, foram inaugurados simbolicamente, os Parques de Albufeira e da Alfarrobeira, tendo estado presente os responsáveis do Município de Albufeira e algumas dezenas de populares que assim tiveram oportunidade de experimentar os equipamentos e disfrutar das excelentes condições

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No decorrer da inauguração, o Presidente da Câmara Municipal de Albufeira, Carlos Silva e Sousa dirigiu-se aos presentes, mostrandose satisfeito por Albufeira ter parques de Ar Livre à disposição da população e incentivou à prática de exercício físico e que todos possam disfrutar dos equipamentos de Ar Livre. Os equipamentos têm como principal missão a tonificação corporal, o desenvolvimento e fortalecimento da musculatura do corpo em geral, melhorar a resistência cardiovascular e função aeróbica, melhorar a força, melhorar o funcionamento das articulações, melhorar a flexibilidade e a mobilidade, melhorar a coordenação motora e o equilíbrio e melhorar a sociabilização e a autoestima da pessoa .

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ATUALIDADE GALA DO DESPORTO HOMENAGEOU OS MELHORES ATLETAS DE ALBUFEIRA

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uita luz, cor e emoção marcaram a 12ª edição da Gala do Desporto de Albufeira, no dia 19 de fevereiro, com 0s representantes dos 19 clubes e associações distinguidas a erguerem os seus estandartes num desfile que deu o mote para o início de mais uma noite dedicada às estrelas do Desporto do concelho. Este ano, o número de atletas homenageados aumentou para os 280 em 17 modalidades: Atletismo, Basquetebol, Capoeira, Ciclismo, Danças, Desporto Adaptado, Futebol, Ginástica Acrobática, Judo, Karaté, Natação, Patinagem, Pesca Desportiva, Squash, Triatlo, Voleibol e Muay Thai. Um a um, os campeões foram subindo ao palco para receber pela mão do executivo de Albufeira um troféu e um diploma que “pretendem servir de incentivo para futuras conquistas, mas também de agradecimento

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pelo contributo que estes atletas, dirigentes e técnicos dão ao desporto e por levarem o nome de Albufeira alémfronteiras”, referiu Carlos Silva e Sousa, presidente da Câmara Municipal. Exemplo disso são os convidados especiais da Gala 2016. Fernando Santos, que se encontra ao comando da Seleção Nacional de Futebol, e Filipe Santos, atleta do Futebol Clube de Ferreiras com uma carreira de triunfos na natação, foram as estrelas da noite. “Vou daqui muito feliz, com o coração cheio por perceber que felizmente há neste país gente que procura que as suas gentes possam crescer bem, apostando no desporto, educação e cultura”, salientou Fernando Santos, agradecendo ao Município de Albufeira o investimento realizado no Desporto e na Juventude. O dirigente deixou ainda algumas palavras aos jovens desportistas, incentivando-os a perseguirem os seus sonhos. “Olhem para o Filipe que é um bom exemplo de vontade, de determinação, de coragem, de querer e de acreditar no sonho. Se tiverem um sonho corram atrás e lutem por ele”. Esse foi o caminho escolhido por Filipe Santos, que tem sonhado alto e conquistado inúmeros lugares de pódio em competições nacionais e internacionais. Portador de Síndrome de Down, o jovem nadador é treinado por Paulo Sousa, que elogia o seu aprendiz: “Esta foi a melhor época do Filipe. Ser-se diferente não é fácil, mas não é

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motivo para não sonhar. Há que trabalhar para triunfar e o Filipe tem trabalhado muito”, atestou o professor, licenciado em Educação Física com especialidade em Natação, que garantiu ainda que o sonho não acaba aqui. “Queremos um pódio mundial e em Albufeira temos todas as condições para treinar nas melhores piscinas do Algarve”. A intercalar a entrega de prémios nas várias categorias e modalidades, a Associação Recreativa de Patinagem de Albufeira (ARPA) protagonizou um momento de animação com uma performance bastante aplaudida pelo público. Os 26 jovens atletas também foram distinguidos pelo Município com um prémio de Mérito por representarem pela primeira vez na história da Patinagem Artística, a cidade de Albufeira. A Gala do Desporto 2016 manteve

assim um momento dedicado aos Prémios por Mérito (por Clube) e às Participações de Relevo (por Modalidade), com o intuito de reconhecer atletas, clubes e associações locais que, apesar de não terem atingido os lugares do pódio, destacaram-se pelo seu desempenho desportivo. No total foram entregues 15 Prémios de Mérito e distinguidas nove Participações de Relevo .

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ATUALIDADE PASSOS COELHO VISITOU ALBUFEIRA

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ex-primeiro ministro Passos Coelho deslocou-se, no dia 19 de fevereiro, a Albufeira para participar numa reunião com os empresários da região. A visita surgiu na sequência da campanha que está a realizar pelo país com vista à sua recandidatura à liderança do PSD e também para ouvir as forças vivas da região, empresariais, associativas e autárquicas. A acompanhar Passos Coelho, entre outros, estiveram os deputados do PSD eleitos pelo círculo eleitoral de Faro, José Carlos Barros e Cristóvão Norte, o secretário-geral do PSD, Matos Rosa, e ainda o presidente do PSD Algarve, David Santos.

bom caminho em matéria de turismo, com resultados bastante positivos e boas expetativas, o Algarve e Albufeira, em particular, precisam de traçar novas metas para diversas questões, como a sazonalidade”, salientou Carlos Silva e Sousa. O autarca recebeu o líder social-democrata na Câmara Municipal, referindo que “ter no município o representante máximo de um partido com responsabilidade nacional é uma grande satisfação e revela sensibilidade e capacidade de ouvir, quer os empresários, quer o poder local, proximidade que deve ser sempre cultivada para melhores decisões do poder central”.

A reunião, que decorreu na sede da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), em Albufeira, teve como objetivo debater a situação atual do turismo na região algarvia e delinear ações futuras com vista ao desenvolvimento e evolução do setor. “Embora estejamos no

Na sua segunda visita aos Paços do Concelho de Albufeira, o ex-primeiro ministro congratulou-se com o facto de Albufeira continuar a ser uma referência em matéria de Turismo e deixou a promessa de continuar a apoiar, na medida do possível, a promoção turística da região .

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ATUALIDADE

«FARO REQUALIFICA» AVANÇA A BOM RITMO

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Programa «Faro Requalifica», lançado pela autarquia farense em dezembro último, já permitiu a recuperação de várias artérias do concelho, tendo sido concluídas nos últimos dias quatro intervenções, o que permite já uma melhoria considerável na circulação dos munícipes e dos visitantes. São elas: - a empreitada de repavimentação parcial da EN2, que permitiu requalificar todo o troço entre a Av. Calouste Gulbenkian e o cruzamento para a Escola Secundária de Pinheiro e Rosa, melhorando a circulação rodoviária nesta entrada da cidade, tendo sido reparados também os passeios em calçada, e executadas cinco passadeiras para peões e sinalização horizontal, num investimento global de 86.481,60€, acrescido de IVA; - a intervenção na Rua José de Matos, que veio melhorar a circulação rodoviária nesta artéria, tendo também sido melhorado o sistema de drenagem de águas pluviais e a circulação pedonal, com reparação dos passeios e execução de nove passadeiras sobre-elevadas em calçada, num investimento de 82.422,22€, acrescidos de IVA;

circulação rodoviária na aldeia de Estoi, nomeadamente na Rua da Igreja, Rua Eng.º Joaquim Lopes Belchior, Largo General Humberto Delgado, Rua de Olhão e Rua da Conceição, através da repavimentação e reparação das valetas em betão existentes, com execução de 5 passadeiras em calçada, num montante global de 37.820,83€, acrescido de IVA; - a intervenção na Rua da Alfândega, que veio trazer uma nova artéria pedonal na baixa de Faro, permitindo a ligação entre a nova rotunda do Hotel Faro e os terminais rodoviários, percorrendo as traseiras de todo o edifício da Alfândega, tendo o investimento sido de €44.153,75 acrescidos de IVA .

- a repavimentação de arruamentos urbanos em Estoi, que vem permitir melhorar a

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ATUALIDADE

«LAGOA CIDADE DO VINHO 2016» ARRANCOU OFICIALMENTE

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Centro de Congressos do Arade, na Vila do Parchal, foi o cenário escolhido para a realização, no dia 20 de fevereiro, da Gala «Lagoa Cidade do Vinho 2016», evento que contou com a presença do General Rocha Vieira, Presidente da Comissão de Honra e do Secretário de Estado da Agricultura e Alimentação, Luís Medeiros Vieira. Os anfitriões da noite foram o Presidente Francisco Martins e os Vereadores Luís Encarnação e Anabela Simão, mas não faltaram também o VicePresidente do Município de Portimão, Castelão Rodrigues, Carlos Gracias, Presidente da Comissão Vitivinícola Regional do Algarve, Fernando Severino, Diretor Regional de Agricultura e Pescas, José Graça, Diretor Regional Adjunto e Pedro Ribeiro, Presidente da AMPV.

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O programa contou com a apresentação do livro de Susana Neves «De Vento em Pipa – Quando o Vinho e o Homem Inventaram Lagoa», uma edição da autarquia local que retrata a história do vinho em Lagoa. Foram depois entregues os prémios do Concurso de Rótulos para garrafas de vinho, promovido no contexto temático do ano de 2015 «Lagoa Sabor da Cultura, Ano do Vinho e da Vinha», e que contou com a participação de alunos da Escola Secundária de Lagoa e da Nobel Escola Internacional, num total de cerca de quatro dezenas. Já depois do jantar, o Presidente da AMPV, Pedro Ribeiro, referiu a forma criteriosa e bem fundamentada como foi apresentada a candidatura de «Lagoa, Cidade do Vinho 2016», o que lhe permitiu ganhar a distinção com uma margem confortável. 58


“Esta aposta do Concelho de Lagoa foi determinada por uma gestão sustentável e pensada na estrutura física de bem-estar da população ligada à vertente cultural, acrescentando-lhe eventos muito marcantes, relacionados com a história e importância do vinho e da vinha no Concelho de Lagoa”. Alinhando pela mesma ideia, o Secretário de Estado Luís Medeiros Vieira realçou a estratégica social e económica do evento sob a tutela da Câmara de Lagoa. “Desta forma organizada, dá a conhecer ao mundo turístico e económico a sua importância, como destino”, frisou o governante, antes da passagem de um vídeo promocional das potencialidades turísticas do concelho e da apresentação das biografias dos 31 elementos que compõem a Comissão de Honra que preside a «Lagoa Cidade do Vinho 2016». A noite terminou com um espetáculo do grupo «Ala dos Namorados», com a voz inconfundível do louletano Nuno Guerreiro.

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ATUALIDADE CAVACO SILVA DOOU BIBLIOTECA PESSOAL AO MUNICÍPIO DE LOULÉ

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oi assinada, no dia 24 de fevereiro, no Palácio de Belém, a ata de entrega da primeira remessa de livros da biblioteca pessoal de Aníbal Cavaco Silva à Biblioteca Municipal Sophia de Mello Breyner Andresen, em Loulé. Esta cerimónia contou com a presença do Chefe de Estado, do presidente da Autarquia, Vítor Aleixo, e dos responsáveis dos Serviços de Documentação e Arquivo da Secretaria Geral da Presidência da República, Pina Falcão, e da Biblioteca e Arquivo da Autarquia louletana, Rita Moreira, signatários do documento. No total, serão mais de cinco mil livros que o Presidente da República, natural do Concelho de Loulé, doou a esta Biblioteca e que irão integrar uma nova ala do edifício, designada por «Fundo Aníbal Cavaco Silva». Vítor Aleixo deixou expressa a vontade de poder contar com a presença de Cavaco Silva na inauguração do espaço, altura em que será formalizada esta doação, através de um protocolo. Neste espaço ficará exposta parte da biblioteca doada pelo Chefe de Estado, sendo que a restante permanecerá em depósito. Os livros doados incidem em áreas como a História, Literatura, Diplomacia, Política ou Economia e todas as obras estarão

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disponíveis para consulta pública. Foi igualmente cedido ao Município um catálogo bibliográfico impresso com a descrição dos livros. Os técnicos da Biblioteca irão agora proceder ao registo e devido tratamento biblioteconómico das obras, para as inserir no seu fundo documental. Para o presidente da Câmara Municipal de Loulé, esta doação do Presidente Cavaco Silva constitui “uma honra e satisfação para os munícipes de Loulé” e a Biblioteca de Loulé “vai ficar mais rica, com um número vasto de obras que abarcam diversas temáticas”. Refira-se que o fundo documental da Biblioteca Municipal Sophia de Mello Breyner Andresen é atualmente composto por 90 mil documentos, 71 mil dos quais são livros .

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ATUALIDADE VILA DO BISPO PATROCINA JOÃO LOURENÇO E NUNO ROCHA município ou outros elementos promocionais nas suas motos, viaturas de apoio e equipamentos usados durante as provas, a fazer referência ao patrocínio da Câmara Municipal de Vila do Bispo nas ações de divulgação na internet, e ainda, à inserção do logotipo ou menção do patrocínio em todas as ações de comunicação com os media. O atleta é federado e em 2015 foi vicecampeão da Classe Open, 4.° lugar na Classe Prestige, 2.° lugar individual e 8.° lugar por equipas na prova internacional Six Days of Enduro. Em 2016, João Lourenço será piloto oficial da marca francesa Sherco Motorcycles, em representação do importador português. Nesta época desportiva, o piloto participará nos Campeonatos Nacionais de Enduro (classe elite) e Super Enduro (classe prestige), bem como, em provas do Campeonato Mundial de Enduro. Participar em provas do Campeonato Espanhol de Enduro é outro dos objetivos do atleta para 2016.

semelhança dos anos anteriores, João Lourenço, piloto de motocross, vai ser apoiado pela Câmara de Vila do Bispo nas provas desportivas em que vai participar ao longo do ano 2016, com uma verba de 5 mil euros. Para Adelino Soares, presidente da Câmara Municipal, o montante atribuído representa um forte contributo na comparticipação das despesas do piloto e contribuirá para a melhoria das condições da sua participação nas provas que irão decorrer ao longo do ano. Como contrapartida deste apoio, o atleta fica obrigado a inserir o logótipo do

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No mesmo dia, a Câmara de Vila do Bispo assinou um contrato de patrocínio com a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vila do Bispo (AHBVVB) para apoiar o desportista Nuno Rocha. O apoio a atribuir, no valor mil euros, visa apoiar a participação do atleta de BTT em provas durante a época desportiva de 2016. Como contrapartida, o desportista fica obrigado a inserir o logótipo do município na bicicleta bem como fazer referência ao apoio nas ações de comunicação com os media. Em 2016, Nuno Rocha pretende participar nos VI Jogos Europeus de Policias e Bombeiros, em provas do campeonato regional e nacional de duatlo e no campeonato regional de BTT XCO e XCM .

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ATUALIDADE VILA DO BISPO DEBATEU SURF NA COSTA VICENTINA

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município de Vila do Bispo foi o anfitrião, no dia 25 de fevereiro, de uma reunião de trabalho sob a temática do Surf, que foi mediada pela Associação de Escolas de Surf da Costa Vicentina. No decorrer dos trabalhos refletiu-se sobre a realidade do surf, a sua promoção e atividades derivadas. O desenvolvimento da atividade das Escolas de Surf e a falta de legislação específica para o setor foram outros pontos abordados pelos presentes. No final da reunião ficou acordado a Associação de Escolas de Surf da Costa Vicentina sensibilizar o governo central para a necessidade de se legislar sobre as Escolas de Surf. Participaram nesta reunião Adelino Soares, presidente da Câmara Municipal de Vila do

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Bispo; José Gonçalves, vice-presidente da autarquia de Aljezur, em representação do Turismo de Portugal esteve a diretora coordenadora da Direção de valorização da Oferta, Fernanda Vara; pelo Turismo do Algarve esteve presente o vice-presidente João Fernandes e a representar a Marinha Portuguesa esteve o Capitão do Porto de Lagos, Pedro Carvalho Pinto. Também o autor do estudo sobre o surf da Universidade do Algarve, Paulo Carrasco, o presidente, o vice-presidente e a secretária da Associação de Escolas de Surf da Costa Vicentina, Samuel Furtado, Ricardo Gonçalves e Alexandra Afonso, respetivamente, compareceram nesta reunião de trabalho .

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ATUALIDADE VRSA EVITA MULTAS PESADAS DE BRUXELAS E CULPA ANTIGOS EXECUTIVOS

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Câmara Municipal de Vila Real de Santo António responsabiliza os executivos socialistas pelas multas que o Tribunal de Justiça da União Europeia pode vir a aplicar a Portugal, na sequência do incumprimento no tratamento de águas residuais, problemas que remontam ao ano de 2004. Para a autarquia de Vila Real de Santo António, esta é a prova da falta de responsabilidade da anterior gestão socialista que, ao longo de 20 anos, nunca se preocupou em resolver o problema dos esgotos no concelho, nem soube aproveitar os muitos fundos comunitários a que poderia ter tido acesso no início dos anos 90. “Neste momento, todas as redes da cidade já se encontram encaminhadas para a Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de VRSA, o que colocou um ponto final aos esgotos não tratados no Rio Guadiana e obrigou a autarquia a endividar-se para resolver um problema com mais de duas décadas”, frisa Luís Gomes, presidente da Câmara Municipal de VRSA.

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O autarca lembra ainda que, nos últimos dez anos, a autarquia fez um esforço financeiro de 60 milhões de euros em novas redes de abastecimento, saneamento e drenagem de águas, intervenções que são o maior investimento alguma vez realizado no concelho em termos de obra pública e que explicam a situação de endividamento da autarquia. Por esta razão, o município demarca-se de qualquer responsabilidade em relação às eventuais multas que possam vir a ser imputadas ao Estado Português, tendo concluído, nos últimos dois anos, através de obras financiadas pelo programa comunitário POVT, o trabalho que deveria ter sido feito há mais de 20 anos. Da mesma forma, a autarquia vila-realense já entregou ao Estado Português todos os documentos que comprovam a total ausência de esgotos não tratados no Rio Guadiana e o seu integral tratamento em ETAR. Nos últimos dois anos, e só em matéria de saneamento, foram construídas 17 novas estações elevatórias em todo o concelho de VRSA e implementados 34 quilómetros de novas condutas de esgotos, modernizando uma rede antiquada que, em muitos casos, não se encontrava ligada aos sistemas intercetores e às Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR). Já no abastecimento, a obra desenvolvida com verbas do Programa Operacional Temático Valorização do Território (POVT) permitiu a renovação de mais 33 quilómetros de tubagens de água e a construção de quatro novos reservatórios, diminuindo as roturas e os episódios de falta de água . 66


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CHEF AUGUSTO LIMA Consultor/Formador

HARUNE Requeijão de cabra algarvio, xerém duro, mel, azeite e canela INGREDIENTES PARA O XARÉM 65 gr. Farinha de milho 65 gr. Sêmola de milho 100 gr. Cebola 4 gr. Alho 1 dl. Azeite, Lagar Santa Catarina, Tavira Q.b. Mix ervas, Dias de Aromas, Tavira Q.b. Cominhos Q.b. Sal 110% marinho Rui Simeão, Tavira

PARA O HARUME 25 gr. Requeijão de Cabra Algarvia, Portal dos Queijos, S. Brás Alportel 1 colher de sopa de Mel José Chumbinho 1 colher de sopa de Azeite Lagar Santa Catarina, Tavira Q.b. Canela pó

COMO FAZER O XARÉM Juntar todos os ingredientes em tacho ou panela e levar ao lume em fogo brando, mexendo até que as papas comecem a fazer barriga de velha (criam poças de ar e rebentam à superfície). Devem ter aspeto denso, sem ser exagerado, já que irão ser deitadas em recipiente apropriado, arrefecido e depois cortado em cubos.

COMO FAZER O HARUNE Depois de cozinhadas no ponto desejável, as papas são vertidas para recipiente quadrado ou retangular que possa suportar a quantidade total e simultaneamente permitir que o mesmo tenha três dedos de altura. Cortar em quadrados com cerca de seis centímetros. Colocar em travessa, encimar com o pedaço de requeijão, cortado em cunha, regar com o mel e azeite e levar ao forno pré aquecido a 170º C por cerca de 10 minutos ou até gratinar.

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SUGESTÕES «DONA GALINHA FOI À PRAIA» Cataplana de Galinha/batata-doce/amêijoas INGREDIENTES (4 PESSOAS) 450 gr. Galinha 150 gr. Toucinho 600 gr. Amêijoa 2 Batatas-doces, médias 6 Alhos (dentes) 1 Cebola grande 1 Pimento verde ou vermelho 1 dl. Vinho branco 1 Malagueta Q.b. Azeite, Lagar Santa Catarina, Tavira Q.b. Colorau Q.b. Alecrim, tomilho, hortelã, coentro e orégão Dias de Aromas, S. Brás Alportel Q.b. Sal grosso 100% marinho, Rui Simeão Tavira

COMO FAZER De véspera, cortar a galinha em pedaços pequenos e temperar de sal, pimenta, limão, alho, alecrim, tomilho e o vinho. Deixar marinar. No dia, assar a batata com casca. Retirar a galinha da marinada, escorrer. Na Cataplana, «confitar» a galinha (técnica que consiste em cozinhar por longo período de tempo, a baixa temperatura, iniciando o processo por «fritar», diminuindo depois a temperatura, de forma a “cozer” na gordura), no azeite, com os alhos esmagados com casca e as ervas da marinada. Retirar metade da gordura e nela refogar o toucinho e a cebola, cortada em ½ lua e a malagueta. Juntar a galinha, o vinho da marinada, o colorau e o pimento. Tapar e ferver por 4 minutos. Acrescentar a batata-doce, cortada em rodelas, as amêijoas, o coentro, hortelã e o orégão. Tapar e deixar ferver por mais 4/5 minutos, fazendo «rodar» a Cataplana.

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SUGESTÕES ALGARVIADA II Trufas de figo / amêndoa / alfarroba / medronho / laranja / limão INGREDIENTES 500 gr. Figo seco 1 dl. Medronho 200 gr. Amêndoa 125 gr. Farinha de alfarroba 1 Laranja (sumo raspa) 1 Limão (raspa)

COMO FAZER Tirar o pedúnculo ao figo e cortar em pedaços pequenos. Juntar o medronho e deixar marinar por cerca de 15 minutos. Adicionar o sumo e a raspa da laranja, a raspa do limão, a amêndoa, granulada, torrada ou natural, conforme o gosto e a alfarroba. Envolver tudo muito bem de modo a obter um aparelho de aspeto uniforme e com consistência. Moldar as trufas e envolver, caso prefiram, em açúcar,

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ANTÓNIO LOPES Head Sommelier Conrad Algarve

“Em mês de Dia dos Namorados, temos um Covela Rosé 2014, de cor vermelha, a cor do amor, um vinho feito com a nossa casta rainha – touriga nacional – tal como as mulheres também são as nossas rainhas. É um vinho que tem muita fruta vermelha, da região dos vinhos verdes, do Minho, com uma ótima acidez e que pode ser bebido a solo ou com algumas harmonizações gastronómicas, com saladas de frutos vermelhos ou pratos com redução de frutos vermelhos não caramelizados”.

COVELA ROSÉ 2014 Região: Vinhos Verdes – Baixo Douro. Terroir: Solos graníticos que formam um anfiteatro natural virado a sul. Terraços implantados a baixa altitude na margem direita do rio Douro na zona austral da Região dos Vinhos Verdes (Minho). Clima: Inverno frio e Verão quente e seco – na fronteira entre o clima continental do Vale do Douro e a influência marítima do Douro Litoral. Enologia: A Quinta de Covela pratica a agricultura biológica. Na adega não se utilizam enzimas, as fermentações são espontâneas e as colagens, se necessárias, são efectuadas com bentonite. Antes do engarrafamento, os vinhos são estabilizados pelo frio e submetidos a uma ligeira filtração. Vinificação propositada para a obtenção de um vinho rosado elegante e fresco (não é um rosé obtido a partir de sangrias). Vindima manual e transporte em pequenas caixas para evitar o esmagamento. Curta maceração pelicular. Suave prensagem. Fermentação em cubas de inox com controlo de temperatura. Estágio sobre borras finas até meados de Janeiro. Casta: Touriga Nacional, a casta ex-libris do Douro. Álcool: 12,6 %/vol. Acidez Total: 6,3 g/l pH: 3,24 Açúcares Totais: 4,3 g/l Dióxido de Enxofre Total: 76 mg/l Produção: 6.256 garrafas de 750ml e 400 magnums e 36 double magnums. Enólogo: Rui Cunha. Viticólogo: Gonçalo Sousa Lopes.

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SUGESTÕES “E numa altura de festejar o namoro, porque não experimentar o Espumante Vértice, do Douro, da casta Gouveio, com aromas pouco normais em Portugal, da crosta de pão, fermento, brioche. Possui uma acidez extraordinária, frescura, uma bolha muito fina, bem equilibrada, portanto, serve para começar ou terminar uma refeição, que dá prazer em beber por si só ou com comida”.

GOUVEIO VÉRTICE 2007 Região: Douro. Solos: Graníticos. Altitude Média: 550 metros. Enólogos: Celso Pereira e Pedro Guedes. Estágio: Mínimo 60 meses. Álcool: 12 %/vol. pH: 3,04. Açúcares Totais: 5g/dm3. Garrafa: 75cl Euro. Capacidade: 750 ml.

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FICHA TÉCNICA DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 5852 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P 8135-157 Almancil Telefone: 919 266 930 Email: algarveinformativo@sapo.pt Site: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Aurélio Vasques

ESTATUTO EDITORIAL A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética

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profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos.


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