ALGARVE INFORMATIVO 24 de setembro, 2016
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Francisco Amaral O presidente que trata da saúde dos seus munícipes 1
Álvaro Viegas | Triplesky |Kykuseyemedical Associação de Gestores Culturais do ALGARVE Algarve INFORMATIVO #76
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OPINIÃO 8 - Daniel Pina 34 - Paulo Cunha 36 - José Graça 40 - Mirian Tavares 42 - António Manuel Ribeiro 44 - Augusto Lima
ATUALIDADE 68 - Clínica de Oftalmologia de Albufeira
ENTREVISTAS/ REPORTAGENS 10 - Francisco Amaral 22 - Álvaro Viegas 46 - Associação de Gestores Culturais do Algarve 58 - Triplesky
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Só os autarcas poderão salvar o Algarve do petróleo !!! Daniel Pina
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questão da possível exploração de hidrocarbonetos e gás natural ao largo da costa do Algarve veio, infelizmente, mostrar a pouca vergonha que é a política portuguesa. Veio, e não vale a pena estarmos com rodeios, comprovar que, na maior parte das vezes, o poder político se verga ao poder económico, mesmo que, com isso, se vá contra os interesses das populações e se possa colocar em risco, inclusive, a sustentabilidade e o futuro das regiões. Não há que usar falinhas mansas ou tentar tapar o sol com a peneira. E o debate que aconteceu, no dia 20 de setembro, em Olhão, tirou também as dúvidas de qual é a posição dos deputados algarvios na Assembleia da República. Algarvios, como quem diz, alguns são, de facto, nascidos e criados no Algarve, outros foram eleitos pelo Círculo Eleitoral de Faro não se sabe muito bem porquê, se calhar por terem uma casa de férias nalguma zona chique da região, ou por terem um tetravô algarvio lá perdido nos confins da sua árvore genológica. É muito bonito todos dizerem que, em termos pessoais, são contra a exploração de petróleo no Algarve mas, depois, quando a matéria está a ser votada na Assembleia da República, agem em consonância com o seu partido. Então, foram eleitos para defender os interesses da sua região e dos seus concidadãos, ou foram eleitos para serem paus-mandados das estruturas nacionais dos seus partidos? Pior do que isso, tentam jogar areia para os olhos das pessoas, com termos técnicos, rodriguinhos descarados, que os contratos apenas dizem isto ou aquilo, que o decreto-lei não sei das quantas prevê apenas isto ou aquilo, que a Procuradoria-Geral da República têm esta ou aquela opinião sobre a matéria. Que há que aproveitar a ocasião para saber que recursos naturais temos debaixo do solo, ou ao largo da costa, e depois mandamos as empresas petrolíferas dar uma volta sem extraírem um único barril de petróleo. Os partidos, como também já ficou claro para todos, não se opõem à exploração de petróleo no Algarve. O PSD e o CDS porque foram eles que, enquanto estiveram no poder, concederam os contratos de exploração. O PS, BE e CDU porque estão todos metidos no atual governo e António Costa já disse várias vezes que os contratos são legais e para cumprir. Mesmo que se destrua um estilo de vida saudável e um modelo económico de sucesso a troca de meia dúzia de tostões. Não fazendo contas aos milhões que deixam de receber do Algarve quando o turismo for pelo cano abaixo. Já que não se preocupam com a qualidade de vida dos algarvios, ao menos que pensem no dinheiro que deixam de receber em impostos, taxas e licenças. O referido debate deu igualmente para perceber a confusão que norteia, neste momento, os vários
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movimentos sociais e plataformas de cidadãos que se opõem à exploração de petróleo no Algarve. Homens e mulheres, portugueses ou estrangeiros, que foram fundamentais nesta luta. Sem eles, provavelmente ninguém saberia o que se estava a decidir e assinar nos gabinetes de Lisboa e a população só se aperceberia do problema quando as plataformas petrolíferas estivessem instaladas e a trabalhar a todo o gás. Infelizmente, como em tudo na vida, não há paz que dure para sempre e começaram a aparecer mais movimentos e plataformas do que seria necessário, com pessoas a saírem nas estruturas iniciais para criarem as suas próprias, por vezes assumindo posições demasiado radicais e que não levam a lado nenhum; noutras situações, adotando um discurso que acaba por prejudicar os interesses da região. Porque a posição do movimento «X» não representa a totalidade das opiniões dos algarvios, porque a plataforma «Y» é mais ativa do que as outras, porque os elementos «Z» é que deviam ser convidados para este ou aquele debate. Lá diz o ditado popular «A união faz a força» e não é isso que se está a assistir atualmente no seio destes movimentos e plataformas que, como já referi, continuam a ser fundamentais neste processo, pelas campanhas de sensibilização que desenvolvem junto das populações, pelo incómodo que causam aos governantes sempre que se deslocam ao Algarve em visitas oficiais, por mostrarem que os algarvios não estão de acordo com a exploração de petróleo à porta das suas casas. Mas posições radicais ou discursos sem nexo poderão deitar por terra todo esse esforço. No meio disto tudo estão os nossos autarcas, os nossos 16 presidentes de câmara, que a uma só voz dizem «Não!» à exploração de petróleo no Algarve e que não se deixam levar pelos interesses dos seus partidos quando estes colocam em causa os interesses dos seus munícipes. Autarcas que simplificaram as coisas e se concentraram na única questão que realmente interessa: “Queremos exploração de petróleo no Algarve? Claro que não”, e o resto é conversa. Anulem-se os contratos já assinados, escrevam-se leis mais rigorosas e transparentes sobre esta matéria, coloque-se a decisão nas mãos do povo. Uma posição firme que vai sair caro àqueles que tiverem ambições de, daqui a alguns anos, serem deputados, secretários de estado ou diretores regionais disto ou daquilo, mas eles não estão preocupados com isso. E ainda bem, pois desconfio que serão os únicos que poderão evitar a exploração de petróleo neste pequeno paraíso em que vivemos e que tanto agrada a milhões de turistas .
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FRANCISCO
AMARAL O presidente que trata da saúde dos seus munícipes Castro Marim viu arrancar recentemente mais um programa inovador a nível nacional de prevenção e combate à obesidade, com os custos suportados pela autarquia local, somando-se assim a outros semelhantes de combate ao tabagismo, de prevenção contra enfartes e de cuidados com a pele. Programas que, regra geral, têm sido pautados por elevadas taxas de sucesso e que já são uma marca registada de Francisco Amaral, o autarca há mais anos em atividade em Portugal e que nunca colocou de lado a sua faceta de médico, primeiro ao serviço da população de Alcoutim e agora dos castro-marinenses. Texto:
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cabadinho de sair de mais uma reunião de câmara, e porque o tempo é escasso na vida bastante agitada de Francisco Amaral, quisemos aproveitar o recente lançamento de uma campanha de combate à obesidade para fazer um balanço de outros programas semelhantes dinamizados pela autarquia de Castro Marim nos últimos três anos. Programas que não são baratos, uma vez que a câmara municipal assume a totalidade das despesas, e cujo peso ainda é mais significativo sabendo-se que não estamos a falar de orçamentos de centenas de milhões de euros como acontece noutros concelhos de maior poderio económico. “A saúde é algo que afeta determinantemente a vida das pessoas e, infelizmente, o Estado não dá uma resposta útil em muitas situações, chegando mesmo a demitirse das suas funções nessa matéria. Em 1995, criei a primeira Unidade Móvel de Saúde do país – hoje, a maioria dos concelhos já possui uma – porque sempre considerei que a principal preocupação de um autarca deve ser o bem-estar dos seus cidadãos”, começa por dizer Francisco Amaral. Outra inovação do médico de profissão foi a introdução de campanhas de vacinação contra a gripe, em 1995, em Alcoutim, algo que só há meia dúzia de anos foi replicado pelo governo a nível nacional, mas as carências continuam a ser muitas, contrastando com o facto científico de que a longevidade média dos humanos tem vindo a aumentar gradualmente. ALGARVE INFORMATIVO #76
“Os portugueses vivem mais anos, mas é importante que tenham também mais qualidade de vida. Ora, em Portugal, morre-se por AVC’s, enfartes, cancros e acidentes. Os dois primeiros são doenças cárdio e cerebrovasculares e todos conhecemos os fatores de risco: hipertensão, diabetes, colesterol, tabagismo, sedentarismo, obesidade. A nossa 12
UMS tem médico e enfermeiro permanentes e, se conseguirmos controlar esses fatores de risco, já é muito bom”, considera o edil. A primeira campanha a ser introduzida por Francisco Amaral quando assumiu a presidência da Câmara Municipal de Castro Marim foi de luta contra o tabagismo, reflexo de “uma injustiça flagrante”, na opinião do edil, por entender que “o Estado 13
explora a saúde e a algibeira dos fumadores durante vidas inteiras”. “Quando, mais tarde, uma pessoa quer deixar de fumar, nenhum medicamento é comparticipado e as consultas de cessação tabágica são marcadas para daqui a quatro ou cinco meses. Se hoje temos vontade de deixar de fumar, será que isso ainda é verdade daqui a quatro ou cinco meses? Há uma série de fatores que levam a que as taxas de ALGARVE INFORMATIVO #76
Apresentação ao público da equipa de combate à obesidade em Castro Marim
sucesso dessas consultas rondem os 20 por cento, seja em que parte de Portugal for”, frisa, acrescentando que, no caso concreto de Castro Marim, a taxa de sucesso anda na ordem dos 85 por cento. “Estou sempre disponível para atender as pessoas e tenho a grande vantagem do meu chefe de gabinete ser psicólogo e acompanhar-me nestas consultas. Depois, ninguém paga os medicamentos”, indica. Acima de tudo, Francisco Amaral defende que se deve considerar, de uma vez por todas, o tabagismo como uma doença que mata, como uma toxicodependência semelhante ao consumo de cocaína ou heroína. “As pessoas olham para o tabaco como um hábito social, mas eu ponho as cartas todas em cima da mesa quando falo com os meus doentes. Explico ALGARVE INFORMATIVO #76
tudo, que é uma doença para a vida toda, que uma pessoa pode deixar de fumar mas, se daqui a cinco, 10 ou 15 anos, colocar um cigarro na boca, volta tudo à estaca zero”, refere, garantindo que, com esta postura e frontalidade, não tem existido recaídas em quem participa no programa de corpo e alma. “Claro que há alguns que se armam em campeões e interrompem o tratamento a meio, e esses recaem. Já vamos em mais de 220 pessoas que deixaram de fumar, pelo que a iniciativa vale a pena e os exfumadores ganharam anos de vida, qualidade de vida e pouparam muito dinheiro. Bem-feitas as contas, os ex-fumadores de Castro Marim deixaram de gastar umas centenas de milhares de euros só nestes três anos”, enfatiza o médico.
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Morre-se mais cedo por causa das asneiras que se cometem Depois de estar no terreno o programa de combate ao tabagismo, seguiu-se a prevenção de enfartes, com outdoors espalhados por todo o concelho de Castro Marim a aconselhar que, sempre que se sentir uma dor no peito, se deve ligar de imediato para o 112. Uma medida que colheu o sinal positivo de muitos cardiologistas e que deveria ser reproduzida de norte a sul de Portugal. “Muita gente morre em casa e por detrás disso estão enfartes. A maior parte desses enfartes dão dores no peito às quais as pessoas não ligam nenhuma. Pensam que são nervos, estômago, esperam umas horas, um dia, dois dias, em casa, a ver se a dor passa, e depois morrem”, relata Francisco Amaral de forma bastante direta e fria, para que a importância da mensagem passe. “Isto acontece diariamente no Algarve, e sem necessidade nenhuma porque, se há coisa que funciona bem na nossa região, é o Serviço de Cardiologia do Hospital de Faro”.
Entretanto, Francisco Amaral desconstrói rapidamente o mito de que os enfartes só acontecem a pessoas de idade mais avançada, porque o stress é um fator de risco que é transversal a todos os escalões etários. “Na área da saúde há muitas falhas mas, neste caso particular, as coisas funcionam bem e estou tão seguro no Serviço de Cardiologia do Hospital de Faro como numa clínica privada de Londres ou Paris. O enfarte é uma artéria entupida que se desentope em menos de cinco minutos”, diz, lembrando que as pessoas têm a idade das suas artérias. “Há pessoas em que elas demoram mais anos a envelhecer, noutras, envelhecem precocemente. É o tal entupimento das artérias que conduz ao enfarte e AVC que nos vai matar. Sabemos bem aquilo que entope uma artéria e, se controlarmos os comportamentos de risco, estamos a adiar o seu envelhecimento. Os seres humanos são formatados geneticamente para viver até aos 120 anos mas, à conta das asneiras que cometemos, nomeadamente em termos alimentares e dos
O cartaz de prevenção dos enfartes que se pode encontrar em vários locais do concelho de Castro Marim
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Convívio de ex-fumadores de Castro Marim
Assim sendo, há que estar atento aos sinais que o corpo nos vai dando, às pequenas dores, que se vão tornando maiores se não ouvirmos aquilo que o organismo vai dizendo. “O cagaço que o enfartado apanha é de tal maneira que muitas vezes deixa de fumar só pelo susto. As pessoas devem estar conscientes do significado das dores no peito, porque há cada vez mais jovens a ter enfartes”, lamenta Francisco Amaral, ainda mais porque uma campanha desta natureza acarreta poucos custos, praticamente apenas a despesa de se fazer cartazes e colocá-los em outdoors nas bermas das estradas.
com a obesidade, um excesso de peso que começa a afetar logo as crianças, precisamente por falta de resposta atempada e eficaz dos centros de saúde. “Mais uma vez a Câmara Municipal de Castro Marim vai preencher uma lacuna, porque as coisas, infelizmente, não funcionam no Estado. Para se conseguir uma consulta desta especialidade no Hospital de Faro demora, se calhar, um ano. Depois, encaminham o paciente para um nutricionista, perde-se mais um ano, depois, mandam-no para a psicóloga, mais um ano à espera. Isto é andar a brincar com as pessoas, faltam médicos, técnicos, falta tudo”, critica, sem papas na língua.
Outra situação que preocupa bastante Francisco Amaral prende-se
Consciente destas carências, a autarquia castro-marinense criou
modos de vida, morremos mais cedo”, avisa o entrevistado.
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uma equipa com psicólogo e nutricionista, em coordenação com os técnicos de desportos do município, e Francisco Amaral está confiante de que se terá sucesso no combate à obesidade neste concelho do extremo do sotavento algarvio. “É uma doença e, simultaneamente, um fator de risco para outras doenças. Um terço da população mundial é obeso, os novos estudos dizem que, daqui a nove anos, metade da população será obesa, e isto é muito preocupante, porque estamos a falar da longevidade e da qualidade de vida das pessoas”, sublinha, frisando que, para além de aumentar a probabilidade de ocorrência de enfartes e AVC’s, a obesidade também provoca o cancro, para além de interferir com múltiplas patologias. “Um doente cardíaco obeso sofre muito mais, um doente do foro pulmonar obeso sofre muito mais”, sustenta. Para se enfrentar com sucesso o problema da obesidade, e para além da interligação com o centro de saúde local, há que trabalhar intimamente com as escolas, no caso da obesidade infantil, mas a Câmara Municipal de Castro Marim mais uma vez está a fazer algo que é da competência do poder central. “Parece que a saúde é algo secundário para alguns governos, temos nós que colmatar várias lacunas e, se calhar, faz-se menos uma estrada, mas ajudamos as populações a terem melhor qualidade de vida”, afirma, lembrando que, à semelhança do tabagismo, as pessoas obesas têm que mudar de estilo de vida e não entrar em dietas radicais. “O nosso 17
organismo fala connosco quando estamos a ir pelo mau caminho. Se deixarmos de fumar, passado uma semana desaparece aquele cansaço crónico, a tosse demora mais um pouco. Temos que acudir em tempo útil aos sinais que o corpo nos vai dando”, alerta Francisco Amaral.
Isto devia envergonhar qualquer governante Depois do «ataque» ao tabaco, aos enfartes e ao excesso de peso, o passo seguinte deverá ser o combate ao álcool, um problema mais sensível porque dificilmente uma pessoa assume que é alcoólica. “Infelizmente, muitas vezes é preciso bater-se no fundo para se acordar e se querer tratar. E essa vontade de querer mudar é essencial, caso contrário, não há tratamento que tenha êxito”, reconhece o edil castro-marinense, avisando ainda que o álcool, para além dos problemas de saúde que causa à própria pessoa, destrói famílias inteiras. “É horrível ter um doente alcoólico em casa, daí a importância de se usar uma estratégia para se combater este flagelo. Há uns anos não existia apoio nenhum no Algarve mas, atualmente, o CAT de Olhão já dá resposta aos alcoólicos e tem havido uma maior articulação com os centros de saúde”. Se os governos parecem que, finalmente, acordaram para esta problemática, Francisco Amaral ALGARVE INFORMATIVO #76
entende que se devia ser ainda mais severo com todos os incidentes e crimes que tenham na sua génese o álcool. “A associação do álcool com o ciúme é explosiva, mata-se como quem bebe um copo de água. Depois, entra-se no discurso do coitadinho, mas ainda se promove a venda de vinho e cerveja. É escandaloso que, numa estação de serviço de autoestrada, uma cerveja custe o mesmo que uma garrafa de água. Devia haver mais impostos sobre o álcool”, defende, com a convicção de quem assiste a histórias dramáticas há décadas enquanto médico. Ser médico que, admite, tem contribuído para conseguir encontrar soluções para os problemas de saúde dos seus munícipes, não se estranhando, por isso, as elevadas taxas de sucesso dos programas que lançou, primeiro em Alcoutim e depois em Castro Marim. “Se um autarca conviver com o povo, se receber as pessoas no seu gabinete, vai-se apercebendo destas e de outras dificuldades que elas têm. Todos os dias me aparece gente a dizer que está à espera de uma consulta ou cirurgia de ortopedia ou de oftalmologia há anos. Temos que estar a par da realidade dos nossos concelhos para tentar dar resposta às mais diversas áreas”, considera. Claro que nem sempre se consegue resolver os problemas, nem sempre é possível ajudar quem precisa de apoio, porque ninguém tem varinhas mágicas, mas pelo menos tenta-se. “O problema é que os nossos governantes não têm bem noção do que se passa neste mundo real. Existe muita desgraça, ALGARVE INFORMATIVO #76
algumas famílias não têm dinheiro para comprar uns óculos ao filho, ou para mandá-los ao dentista”, desabafa, não estando preocupado se, por promover estes programas, fica alguma obra em espera ou não há fogo-de-artifício nesta ou naquela festa. “As pessoas sabem que a saúde é a coisa mais importante que têm na vida e querem é que o Estado lhes resolva os problemas desta índole que têm no dia-a-dia. Mas não há técnicos, médicos ou enfermeiros, estamos confrontados com listas de espera enormes em determinadas especialidades. É algo que envergonha qualquer governo, é de um país de terceiro mundo”, dispara. Bastante irritado, Francisco Amaral dá um exemplo concreto de algo que, para ele, é inconcebível: “As hérnias discais existem no Algarve às dezenas, mesmo em jovens adultos, que estão incapacitados de realizar qualquer trabalho, com umas dores horríveis, tomam uns comprimidos que não aliviam nada. Para conseguir uma consulta de neurocirurgia no Hospital de Faro demora três anos, depois, é preciso um TAC e ressonância, mais uns meses perdidos, depois, até se marcar a operação, são cinco ou seis anos num sofrimento atroz. Os Estados ganhariam muito dinheiro se resolvessem este problema de uma assentada, porque esses doentes estão em casa anos a fio de baixa, já sem falar no alívio do sofrimento das pessoas”, observa, com tristeza. E como nada se resolve 18
São frequentes as marchas promovidas de forma informal pelos ex-fumadores de Castro Marim
de forma isolada, o edil pretende dotar todo o concelho de ciclovias com ligações a Vila Real de Santo António, Praia Verde, Altura e Monte Francisco. Mas também sonha com um Lar em Altura, um Lar de Alzheimer em Castro Marim, uma praia fluvial, bem como levar água potável a todas as populações, tudo aspetos que influenciam a qualidade de vida dos habitantes. E Francisco Amaral não quis terminar a conversa sem falar de outro programa importante relacionado com problemas de saúde, neste caso concreto com a pele, e que estará no terreno em Castro Marim em outubro. “Há 15 anos recebi, quando estava na Câmara Municipal de Alcoutim, uma carta de uma médica dermatologista de Lisboa, que tinha acabado de se 19
reformar, tinha uma grande admiração por mim e colocou-se ao meu dispor no que pudesse ajudar. Fui a Lisboa falar com ela e, desde então, de seis em seis meses vem passar uma semana ao Algarve para fazer rastreios de cancro e de outras doenças de pele”, conta o entrevistado, tendo-se descoberto neste período dezenas de cancro em fases iniciais que depois são encaminhados para o Hospital de Faro. “A Dra. Manuel Aguiar vem passar a semana de 10 a 14 de outubro, dois dias a Alcoutim, três a Castro Marim, com a enfermeira Cristina Macedo, e de certeza que vai apanhar mais alguns cancros em fase inicial ou doenças précancerígenas. É uma campanha de uma utilidade extrema” .
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“Vender tornou-se uma verdadeira ciência”, avisa Álvaro Viegas Passada a euforia dos meses quentes de Verão, em que centenas de milhares de turistas trouxeram um fulgor acrescido à economia local, os empresários algarvios, nomeadamente os que vivem do comércio, serviços e restauração, viram agora baterias para o longo Inverno que se avizinha e, sobretudo, para o gigante IKEA que abre portas em março de 2017. Por isso mesmo, estivemos à conversa com Álvaro Viegas, presidente da ACRAL, para perceber como está o comércio tradicional no Algarve e quais as melhores armas para fazer frente aos desafios que se colocam a este exigente setor. Texto:
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Direção da ACRAL – Associação do Comércio e Serviços da Região do Algarve esteve reunida com o Secretário de Estado Adjunto do Comércio para apresentar um memorando com ideias para a promoção e dinamização do comércio local e que poderão ser fundamentais para a capacitação e permanência no mercado do tecido empresarial algarvio, que é, como se sabe, maioritariamente constituído por Pequenas e Médias Empresas. Ao leme da associação está, desde março do corrente ano, Álvaro Viegas, que já tinha sido presidente da ACRAL entre 1999 e 2002, em defesa de cerca de três mil associados na área do comércio, serviços, restauração e, ultimamente, algumas atividades ligadas à agricultura e pescas, o que a torna na maior associação do Algarve e na segunda maior ao sul de Lisboa, apenas atrás da Associação de Comércio de Setúbal. Com 17 funcionários em permanência, a ACRAL não se limita a organizar eventos de animação, desfiles de moda ou feiras de stock-out, como se possa imaginar à partida, precisamente por serem a faceta mais visível da entidade. “Temos vários departamentos, entre eles um de projetos e candidaturas, com três técnicos superiores a que podem recorrer, por exemplo, alguém que pretenda antecipar o seu subsídio de desemprego, uma vez que somos uma entidade acreditada pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional. Criamos a candidatura e o negócio e acompanhamos esse empresário nos primeiros dois anos de vida, por ser o ALGARVE INFORMATIVO #76
período em que existe uma maior mortalidade de novas firmas”, revela Álvaro Viegas, falando também do Gabinete de Inserção Profissional, uma descentralização dos Centros de Emprego. “Se um empresário precisar de um trabalhador, pode-se dirigir à ACRAL e nós procuramos esse funcionário e colocamo-lo na empresa. Na situação inversa, recebemos esses pedidos de desempregados e conseguimos encontrar os postos de trabalho adequados aos seus perfis”. A formação é outro serviço tradicional da ACRAL, assim como a fiscalidade e a assessoria jurídica, a que se somam o recém-criado Departamento de Higiene no Trabalho e Segurança Alimentar. Para além destes serviços, existe uma panóplia de parcerias com empresas de diversos ramos de atividade que proporcionam vários descontos aos sócios. “Depois, temos essa parte importante da animação, para conseguirmos que as nossas baixas comerciais tenham mais vida”, prossegue o dirigente, confirmando que, hoje, montar um negócio é um processo complexo e que não basta ter dinheiro, comprar uma loja e abrir portas para receber os clientes. “Criar uma empresa tornou-se relativamente fácil do ponto de vista jurídico-legal, o problema é saber que tipo de negócio é viável. É por isso que defendemos a criação do Balcão do Empreendedor, para ajudar o novo empresário a saber o que vender, como vender e onde vender, para além de o apoiar em 24
todas as exigências legais que são necessárias cumprir antes de se abrir um estabelecimento comercial”. Álvaro Viegas não tem dúvidas de que, nos tempos modernos, vender é uma verdadeira ciência e que não basta estar atrás do balcão à espera que os clientes entrem na loja. “Ou há dinamismo e uma alteração da própria mentalidade do empresário, ou o negócio está fadado ao insucesso. Não podemos continuar com os velhos horários de funcionamento das 9h às 13h e das 15h às 19h, face à concorrência das grandes superfícies com os seus horários alargados. Quem não perceber isso, morre”, garante o presidente da ACRAL, sem paninhos quentes. “Temos que nos adaptar às exigências do consumidor, e não o contrário. Dizia um político da nossa praça, e bem, que os portugueses, 25
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atualmente, não vão especificamente às compras. Vão dar uma volta e, durante o passeio, entram nos estabelecimentos comerciais se virem alguma coisa apetecível”, enfatiza.
Atrair clientes do IKEA Com essa ideia em mente, Álvaro Viegas lembra que esses «passeios» acontecem normalmente durante a hora do almoço e depois de as pessoas saírem dos seus empregos, portanto, é nesses horários que o comércio tradicional deve ter as portas abertas, caso contrário, está-se a empurrar os clientes para as grandes superfícies, abertas até às 23h ou 24h. “No Verão, por exemplo, quem é que vai passear às três horas da tarde? Ninguém, mas o comércio teima em abrir a essa hora. Não seria preferível fazer como os espanhóis, que
fecham e abrem mais tarde? E, se abrem às 17h, claro que não podem fechar às 19h”, afirma, sem rodeios, embora compreenda que este processo de mudança de mentalidades pode demorar algumas gerações. “Não podemos pedir a uma pessoa que faz exatamente a mesma coisa há 40 anos que, de repente, faça algo diferente. Por ventura o seu filho ou neto já estarão mais sensibilizados para isso e o nosso papel é avisar que, se não houver esta mudança, o comércio morre”. Uma necessidade que se torna cada vez mais premente porque, apesar das grandes superfícies terem chegado a Portugal nos anos 90, nos primeiros tempos a convivência entre os dois formatos era possível, o que já não é o caso. E, na hora de apontar
Imagem do Mar Shopping, com abertura prevista em março de 2017
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culpados, Álvaro Viegas tem a lição bem estudada. “O poder político vergou-se ao poder económico, muitos governos dessa época têm responsabilidades nisso, e muitos autarcas também. Os pedidos de autorização e o licenciamento das grandes superfícies sofreram várias alterações, mas houve uma determinada fase em que estavam no foro das câmaras municipais e muitos presidentes, vendo que estava a ser instalada, no concelho vizinho, uma grande superfície, também queriam uma no seu município”, critica o entrevistado. Independentemente disso, Álvaro Viegas admite que os comerciantes também têm uma quota-parte de culpa no que aconteceu nas últimas décadas, porque preferiram adotar uma postura de constante lamentação, ao invés de se adaptarem à nova realidade. “Têm que se modernizar, investir no seu negócio, alterar a forma de se relacionar com o cliente, adaptar horários. Contudo, temo que só isso não chegue”, reconhece o presidente da ACRAL, já a pensar na abertura do IKEA em março de 2017. “Temos que transformar uma aparente ameaça ao comércio local numa oportunidade e, pelas contas que foram feitas, estão previstos 10 milhões de visitantes por ano ao novo IKEA, que vêm do Algarve, do Alentejo e da Andaluzia. O que pedimos é que as autarquias definam connosco uma estratégia para que, pelo menos, 10 por cento desses potenciais consumidores venham às baixas das nossas cidades”. Para esse fim, a ACRAL esteve reunida com o Conselho Intermunicipal da AMAL 27
para apresentar um conjunto de ideias que visam atenuar os efeitos negativos da abertura do IKEA e dos espaços comerciais envolventes, entre elas a criação de uma marca «Comércio Local Algarve». “Não é Faro ter uma marca, Loulé e Albufeira terem outra, precisamos que o Algarve fale a uma só voz. O comércio local, desde Vila do Bispo e Lagos até Alcoutim, é exatamente o mesmo, com algumas especificidades próprias, portanto, temos que fazer face àquilo que já existe, e àquilo que ai vem, de forma unida”, defende Álvaro Viegas, apelando igualmente à criação de um programa concertado de animação entre os vários concelhos. “Não pode haver um evento muito forte em Faro, Olhão e Loulé à mesma altura, no mesmo fim-de-semana, à mesma hora. Os autarcas têm que se sentar, e a AMAL é o sítio adequado para isso, para falarem e planearem as ações entre si, para que, quem nos visita, este fim-de-semana vá a Loulé, no outro a Olhão, no outro a Portimão, etc., etc.. Isto é possível, desde que haja vontade”, acredita. Outras propostas da ACRAL são a existência de internet grátis nas baixas das cidades, algo que acontece na generalidade das grandes superfícies, e a criação de carreiras de transportes públicos dos centros das cidades para o IKEA. “Claro que isto será viável no Algarve Central e será mais difícil para as pontas, mas não me parece complicado haver autocarros diários do IKEA para a baixa de Faro, Loulé, Albufeira, ALGARVE INFORMATIVO #76
Olhão, São Brás de Alportel. Assim, quem chegar ao IKEA de manhã, estaciona o carro, faz as suas compras e, em vez de ir almoçar uma comida rápida, pode ir comer a um restaurante na cidade”, descreve o dirigente associativo, que também gostaria que fosse criado um fundo de compensação para o comércio local, cujas verbas viriam das licenças de ocupação da via pública, das licenças da publicidade e das coimas que os comerciantes pagam e que serviriam para apostar na vertente da animação. “Finalmente, nós somos adeptos do parqueamento pago na zona da baixa, porque permite uma maior rotatividade dos lugares, mas achamos que, em certos locais, esse parqueamento pago é excessivo. Para além disso, há cidades onde não existe uma alternativa gratuita, pelo que seria bom se as autarquias criassem uma bolsa de estacionamento gratuito, a alguma distância do centro da cidade”, acrescenta.
Comerciantes têm que contribuir para a animação Cinco medidas importantes, umas de fácil execução, outras que poderão ser mais complicadas de tornar realidade, por implicar uma concertação entre diferentes municípios, mas Álvaro Viegas lembra que há várias parcerias de sucesso entre a ACRAL e as autarquias algarvias, como é o caso recente do «Baixa Street Fest», em Faro. “Numa primeira fase aderiram 80 estabelecimentos e muitos daqueles que, inicialmente, tinham dúvidas, ao longo das sextas-feiras foram abrindo ALGARVE INFORMATIVO #76
as suas portas. E conseguimos que a Rua de Santo António, nas noites de sextas-feiras, deixasse de ser um sítio morto e ganhasse vida. Nunca percebi por que razão o Algarve, tendo um clima razoável desde a Páscoa até final de outubro, não tem o comércio aberto, a funcionar, à noite”, afirma o entrevistado, adiantando que este formato vai ser replicado no Natal e que, em 2017, vai ser alargado de oito para 16 ou 24 fins-de-semana e durante dois dias. “Todos os comerciantes reconheceram que a iniciativa teve retorno, que gerou vendas que compensaram ter um funcionário a trabalhar mais horas. O desafio é que isto seja repetido noutras cidades, embora estejamos conscientes de que nem todas as zonas comerciais têm características para tal”. Parece, assim, consensual que não se podem apenas criar programas de animação ou de incentivo à frequência das baixas da cidade nos meses quentes de Verão, ou em Dezembro, por altura das compras de Natal, porque nenhum empresário sobrevive se faturar somente três ou quatro meses por ano. “Eu compreendo que, em pleno Inverno, não será tão atrativo andar na rua à noite, mas isso é de novembro até fevereiro, março. Do mesmo modo, não será possível manter estes programas de animação apenas com verbas das autarquias. O comércio local tem que perceber que tem que contribuir, não pode ficar à espera que seja o Estado ou as câmaras municipais a pagar tudo”, sublinha 28
Álvaro Viegas, recordando que um comerciante que se instale numa grande superfície tem que assumir parte das despesas com a segurança, limpeza e animação do centro comercial. Outra coisa que os empresários têm que perceber é que não podem continuar a apostar sempre nos mesmos estabelecimentos comerciais, nas mesmas pastelarias, snack-bares, restaurantes, lojas de acessórios para a praia, por muito que o Algarve dependa dos turistas. “Não podemos esconder que o nosso principal negócio é o «sol e mar», mas há outras áreas que temos que potenciar e que ajudam a atenuar a sazonalidade. Felizmente, nota-se que os jovens que vão saindo da universidade têm uma maior imaginação e criatividade e a sua 29
formação permite-lhes conhecer outras áreas de negócio. Aliás, basta ir a qualquer feira para observarmos pequenos negócios que ninguém sonhava pegar neles há meia dúzia de anos”, constata Álvaro Viegas. “O mercado é livre, aceita ou rejeita um negócio consoante a sua qualidade”, reforça. Certo é que o boom das grandes superfícies parece ter passado, há já alguns centros comerciais em dificuldades e o IKEA deverá causar ainda mais dores de cabeça para os comerciantes, pequenos, médios ou grandes. “O problema do IKEA são as 220 lojas que vão abrir numa segunda fase, em dezembro de 2017. Eu pensava que, economicamente, já não era viável o aparecimento de mais grandes superfícies, mas elas aí estão e a expetativa do investidor desse ALGARVE INFORMATIVO #76
A Rua de Santo António, na baixa de Faro
centro comercial é que o IKEA seja a tal âncora que atraia os consumidores”, afirma o entrevistado, apelando a que não haja mais loucuras da parte do poder político, e dos próprios investidores, em avançarem com mais estruturas desta dimensão. “Veja-se a situação difícil em que está o Ria Shopping de Olhão e o Plaza de Tavira, e o próprio Aqua de Portimão, três centros comerciais que, do meu ponto de vista, já estão a mais”. Em jeito de conclusão, os comerciantes têm que se adaptar ao perfil do consumidor do século XXI sob pena de fecharem portas, e isso passa por questões diretas como os horários, a modernização dos espaços e o atendimento ao cliente, mas também por tudo o que diga respeito ao marketing e ao merchandising. “Ainda recentemente a presidente da Câmara Municipal de Portimão se queixou dos ALGARVE INFORMATIVO #76
valores exagerados que os proprietários estão a pedir para arrendar os seus espaços comerciais, chegando mesmo a preferir ter a loja fechada do que alugar a um valor mais baixo”, releva, explicando que a proposta da autarca é agravar o IMI nesses casos, algo com que a ACRAL está perfeitamente de acordo. “Repare que as zonas mais antigas das cidades estão pouco vocacionadas para o mercado habitacional e, se não há gente com lojas abertas, tornam-se espaços mortos e que são propícios para atrair a marginalidade. Já todos percebemos que apenas os comerciantes que se adaptarem aos novos tempos é que vão sobreviver. O empresário do futuro é aquele que vai mudar completamente a sua forma de estar”, finaliza Álvaro Viegas .
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À margem daquilo que não compreendo, não tolero, nem aceito Paulo Cunha
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oi com regozijo e orgulho que, recentemente, vi o reitor da Universidade do Algarve, António Branco, tomar uma medida que revela a magnitude e magnificência do seu mandato reitoral. Contra a cultura da preservação da tradição, justificada e assente tãosomente no peso da história e dos hábitos adquiridos, em boa hora ousou exarar um despacho reitoral com o intuito de serenar e normalizar as atividades de acolhimento e integração dos novos alunos. Sendo uma medida que vai contra um status quo que se tem mantido através da replicação de atitudes e ações assentes num conjunto de regras e regulamentos que regem as relações hierárquicas e sociais da comunidade estudantil, é natural que gere alguma controvérsia no seio da mesma. Aliás, bradarão aos céus vozes defendendo a praxe académica como a verdadeira, digna e única forma de acolher, integrar e ajudar os “caloiros”. Mas terá a atual praxe essa praxis?...
lá dos muros da Academia, muito dos atuais modelos de praxe são copiados de forma mesquinha, prepotente e ignóbil, como forma de achincalhar, denegrir e vexar outros que não fazem (ainda) parte da “pandilha”. Basta estar atento a muitos rituais iniciáticos que povoam instituições que se queriam insuspeitas, impolutas e exemplares, para facilmente se perceber que a praxe começa cedo nos bancos da escola.
Tomando como base as normas praxísticas assentes nas relações hierárquicas entre os estudantes (direitos e deveres), a etiqueta académica e o protocolo, coloca-se a dúvida se terão os ex-praxados, agora praxadores, adquirido nos curtos anos do seu percurso universitário, a maturidade, a sensatez e a sapiência que lhes permitirá agir de forma diferente daquela com que foram “brindados” quando entraram no mundo académico. Também os maus exemplos e hábitos se copiam e, por melhor escrito e humanizado que seja o código de conduta, na impetuosidade e desvario do momento, muita asneira se produz e reproduz.
Sempre tive dificuldade em retorquir à opinião de quem usa o chavão “Sempre foi assim. É a tradição!”, pois sendo uma apreciação pouco racional, presa num anti evolucionismo básico, não me deixa qualquer margem de manobra para um debate e reflexão saudável, séria e proveitosa. Praxes assentes em rituais de iniciação que perpetuam o poder de outrem sobre um seu igual? Não! Já me basta o dia-a-dia para conviver com o desdém e humilhação gratuita de poucos sobre muitos! .
Não querendo, nem devendo generalizar, pois nem todos utilizam a praxe da mesma forma e com o mesmo intuito, quero aqui também realçar a forma como muitas Associações Académicas e Universidades deste país a usam em atividades e ações de caráter solidário e filantrópico, onde na interajuda e na partilha cumprem o propósito de integrar, socializar e solidarizar. Essa é, a meu ver, uma forma digna e produtiva de evoluir na história e na dinâmica da praxe!
Atualmente, o próprio verbo praxar carrega em si toda uma carga pejorativa e negativa, fruto do que, ao longo do tempo, tem sido feito na deturpação e usurpação do verdadeiro e genuíno sentido de “Praxe Académica”. Extravasando para ALGARVE INFORMATIVO #76
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Aproximam-se melhores dias?! José Graça
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altando dois meses para este Governo comemorar o seu primeiro aniversário, a Assembleia da República retoma a plenitude das atividades parlamentares, com uma nova sessão legislativa e com o regresso dos debates quinzenais introduzidos na última grande reforma parlamentar. Com o centro da atividade política em São Bento, os portugueses olham com outra atenção as atitudes e os comportamentos dos deputados e das bancadas, esperando respostas adequadas às suas expetativas e soluções para os seus problemas quotidianos, nomeadamente pela reposição dos rendimentos das famílias e pela normalização da atividade empresarial. Com a atividade do Governo muito limitada pelas contingências económicas, financeiras, políticas e sociais, umas de ordem interna, mas sobretudo internacionais e com um Presidente da República focado na recuperação institucional do cargo, o ano político que agora arranca será muito marcado pela eleição dos órgãos das autarquias locais, no início do outono de 2017. Daqui até lá será um tirinho, tão rápido que quando acordarmos já podemos ter novos autarcas… Apesar dos muitos balanços já feitos deste ano anormal, afinal não governa que ganhou as eleições mas quem soube encontrar a melhor solução de estabilidade para interpretar a vontade dos cidadãos e dar resposta aos resultados eleitorais, o PrimeiroMinistro focou a sua participação no debate da última quinta-feira nos sinais de mudança. Um País com maior igualdade, a retoma das políticas de coesão social e a criação de melhores condições para o investimento poderia ser a síntese da atividade governativa, muito marcada igualmente pela regularização do funcionamento das instituições, pelo respeito pelo Poder Local, pela valorização da autonomia das Regiões dos Açores e da Madeira (finalmente sem Alberto João!) e pela cooperação entre os órgãos de soberania. E as mudanças proporcionam consequências, mostrando que a alternativa era possível e que podíamos escolher outro caminho. Neste período, a população empregada cresceu e o desemprego ALGARVE INFORMATIVO #76
reduziu-se para níveis de 2010, o indicador de clima económico vem subindo sustentadamente e o crescimento económico também dá sinais de acelerar. Contrariando as previsões catastróficas, até o défice público encaminha-se para níveis históricos, sendo possível cumprir os compromissos internacionais de Portugal. Com o Estado a fazer a sua parte e com uma País empenhado na sua recuperação, não conseguimos compreender algumas formas de fazer política, completamente desligadas da realidade e centradas no umbigo de certos atores… Acabado um verão extraordinário, em termos turísticos, apresenta-se um outono / inverno de esperança, com novas oportunidades de negócio para os hoteleiros algarvios, permitindo acalentar perspetivas de redução dos custos económicos e sociais da sazonalidade. O Algarve precisa de investimento e de infraestruturas que satisfaçam a procura extrema de época alta e atraia outros tipos de turistas ao longo do ano… Muito a propósito, sublinhe-se a abertura dos concursos para investimento em infraestruturas marítimo-portuárias e ferroviárias no valor de 630,5 milhões de euros, focados na redução sustentável do tempo e custo de transporte para as empresas, sobretudo no âmbito da conectividade internacional, reduzindo os custos de contexto e aumentando a competitividade das empresas nacionais. Dadas como exemplos, entre outros, a eletrificação da linha ferroviária do Algarve (Tunes-Lagos e FaroVRSA) e as melhorias no porto de Portimão serão um contributo para a criação de melhores condições de contexto para a competitividade e internacionalização da economia portuguesa. E não ficaremos por aqui… . NOTA – Poderá consultar os artigos anteriores sobre estas e outras matérias no meu blogue (www.terradosol.blogspot.com) ou na página www.facebook.com/josegraca1966 (Membro do Secretariado Regional do PS-Algarve e da Assembleia Intermunicipal do Algarve) 36
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Rui Sanches: janela, mapa, espelho… Mirian Tavares
Exposição: Galeria Trem De 29 de setembro a 20 de novembro L'homme est à la recherche d'un nouveau langage auquel la grammaire d'aucune langue n'aura rien à dire. Apollinaire
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ui Sanches é daqueles artistas que dispensam apresentação. Umberto Eco disse uma vez que, quando alguém é referido só pelo nome, tem uma obra sólida o bastante para que este nome seja reconhecido por todos. A trajetória do artista Rui Sanches é, indiscutivelmente, uma das mais sólidas e coerentes da arte contemporânea europeia. Com um longo currículo, decidiu enfrentar de maneira reflexiva o seu trabalho e produziu uma obra, sua tese de doutoramento, que será certamente, de referência a quem pretenda conhecer não só este artista, mas o percurso das artes nos últimos 40 anos. A exposição que nos apresenta é o resultado de uma síntese da sua investigação como autor/criador, aquele que cria e que reflete sobre a sua própria criação. O artista criou, ao longo da sua carreira, uma morfologia inusitada que o identifica, independentemente dos materiais que utiliza. Há, no entanto, uma preferência que recai sobre a madeira, através da utilização de contraplacados sobrepostos, criando uma arquitetura onde a estrutura aparente denuncia a falsa fragilidade da peça. Podemos ver a sua obra como um desenho no espaço. Um desenho que se espalha e que ganha volume, relacionando-se com o entorno que se converte numa folha, onde Rui Sanches, com precisão, delineia formas. A madeira, que possui uma maleabilidade muito própria, torna-se fluida pelo traçado da justaposição, de um encaixe invisível, e projeta-se para fora de uma estrutura
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que, sendo maciça e podendo ser rígida, mantém a leveza do traço do lápis no papel. Talvez, mais do que um desenho no espaço, possamos pensar nos photogenics drawings de Talbot (circa 1840), nas quais as formas se imprimiam no papel sem a mediação de um aparelho fotográfico. Era a luz, e a química colocada no suporte, que tornava o objeto visível – visível em sua densidade, como se emergisse da sombra. A obra de Rui Sanches tem um carácter dual: joga com a densidade e com a transparência, e faz ver, nas suas formas, o impalpável, as brechas da madeira, o entrevisto, o projeto que emerge na obra pronta. Como em Talbot, o objeto vence a sombra e apresenta-se visível: e, na sua presença diz aquilo que o artista sugere. Há muito que as formas deixaram de ser silenciosas, há muito que aprendemos o significado do silêncio e dos não-ditos. E a obra de Rui Sanches não precisa de dizer nada. Mas o artista decidiu dizer por ela e dizer, através dela, a própria história da arte que também o compõe .
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489 páginas António Manuel Ribeiro
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venturo-me a uma segunda crónica que pretendo regular nesta janela chamada FB. O Verão passou a correr, melhor, de carro, de avião e até de barco no oceano. Em todos os intervalos escrevia, lia (outros livros), relia o meu, corrigia, retomava a escrita. Ontem, há pouco, já as duas da manhã iam a fugir, fechei a primeira prova do meu novo livro: deu 489 páginas. Sei que vai ficar mais pequeno, é sempre assim, o censor que há em mim, aquele que persegue a sinuosa perfeição, corta, rasga, lança no lixo – com a poesia é dramático, os livros ficam fininhos e os vestígios num saco de papel a caminho do eco ponto. Por ventura este Verão correu tão depressa e foi tão cheio, que sinto saudades do que me falta, é muitas vezes assim. O frio da manhã não perdoa; o Verão acabou. Gostaria de ter ficado mais tempo em Mértola, em Lagos, em Manteigas, na ilha do Corvo, para ouvir os segredos dos silêncios, o que se ouve e diz sem palavras, os cheiros, os ruídos, a corrida do tempo e as confissões dos locais. Algumas ouvi. Interrompi a gravação do disco infantil, a antologia da minha poesia – a sorte de ter um editor amigo paciente –, fui adiando a escrita de três artigos sobre música, mas consegui acabar duas canções em estúdio para uma surpresa dos UHF aos seus fãs antes do Natal. Vou continuar em palco, ainda vamos andar a tocar por aí até ao final do ano.
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Disco da manhã: Steeley Span – «Now We Are Six» (1974). Em vinil e em muito bom estado, recordando-me esse mítico programa do Rádio Clube Português, «Dois Pontos», onde se ouvia a integralidade do lado A e depois o lado B de dois LP por emissão. Há dias, em Setúbal, recordei com o meu velho amigo Jaime Fernandes, uma das melhores vozes da rádio, esses programas que permitiam aos tesos como eu, estudante e filho de meu pai, ouvir o melhor da música anglo-americana. E um livro: António Barreto – Política e Pensamento, de Maria José Bonifácio (D. Quixote, 2016), onde ficamos melhor a conhecer o pensamento e os enredos intelectuais de um português que não segue, pensa e é isso que o distingue dos que seguem. A propósito, há dias um amigo meu que se diz de esquerda, olhou para o calhamaço que me acompanha há quatro semanas e disse-me superior: andas a ler isso? Ando. Já leste?, questionei. Ora, esse gajo. O que é que ele tem?, insisti. Ora esse gajo, repetiu. Perguntei-lhe: já leste o livro? Não, desse gajo não. Então se não leste o livro estamos a falar do quê? Ora, desse gajo, rematou. Fiquei elucidado com o exame consciencioso do meu amigo, o preconceito tem muito conforto nas mentes mais conservadoras .
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A apologia do mau gosto Augusto Lima*
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gosto pelo mau gosto existe e é incrível o número de seguidores
Já alguém fez para si a pergunta – Mas como é que ele gosta daquilo? Falo de comida, de quem a come mal feita, sem gosto ou primor e não desdenha. Passo a explicar e adianto que nada tem a haver com gostos (de gostar mais disto do que do que aquilo ou não gostar de todo de algum ingrediente). O gosto dos alimentos é intrínseco, organoléptico e ou induzido/exponenciado pelas técnicas culinárias, ou seja, as diferentes formas de cozinhar os alimentos, transformando-os pela ação do calor; de elementos químicos e pela adição de ervas e especiarias, líquidos ou outros alimentos com a intenção de proporcionar cor, sabor, textura, odor, gosto, em suma. Nunca gostei de cozinhar sem sentido/causa. Tento sempre o melhor que o saber e a disponibilidade de espaço e equipamentos me permitem. Quero que quem coma o que cozinho diga – Uau! E não – come-se, está bom! – conformado, para não dizerem o que lhes vai na mente. Ressalvando o facto de que todas as regras têm exceção, acredito que quem cozinha mal, não se importa de comer mal (está habituado ao mau). Quase sempre me surpreende a forma como os meus clientes me transmitem que comeram de forma tão diferente, prazenteira (sabendo que não se tratava no caso, de nenhum prato assim tão especial) e me pergunto – Que raios? Será que até agora não comeram bem em algum lado? Bem, e depois dou comigo a relembrar momentos como o ultimo, em que numa Feira Gastronómica, cujos petiscos estavam a cargo das Associações e alguns restaurantes Populares/referências, não consegui encontrar um sequer que não tivesse tomate a mais, gordura a mais, sal a mais, cozinhado de mais e sem gosto referencial como ervas, especiarias, refogados. Neste Mundo da Restauração já vi, acredito, um pouco de tudo. Já vi Restaurantes cheios de pessoas amorfas, sem falta de gosto, comerem comida deslavada ou indecorosamente pintada de vermelho
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tomate polpa industrial em louça partida e baça de sujidade, feita em pesadelos chamados de Cozinhas com donos desmazelados a brincar aos Restaurantes e homens e mulheres a brincar aos Cozinheiros, servindo pseudo comida a Clientes sorridentes numa apoteose demoníaca, enfaticamente glorificando o mau gosto. E roo-me de raiva e desespero porque sei o que sei, porque sei que há muitos que sabem e morrem na Praia sem se poderem afirmar. Ontem mesmo, um cliente pediu para passar melhor um peito de frango (recheado de espinafre salteado com cebola roxa e pistáchio) no qual usei na sua confeção uma técnica denominada de Confitar e que no caso, cozinhei antecipadamente dentro de gordura (mistura de óleo e azeite), mais alho, canela, alecrim e tomilho. Esta técnica é feita a temperatura baixa, sem que a gordura ferva, tornando o alimento tenro e húmido. Escolhi-a pelo facto de a proteína usada ser frango, e do peito (seca). O cliente, por não ter percebido a informação e não ter visto a coloração tradicional de um Grelhado ou Frito e ainda por a carne se apresentar tão branca, achou que estava mal passada. Conclusão, comeu a carne depois, desidratada, seca, imprópria e gostou muito, precisamente porque pertence ao tal grupo de indivíduos que fazem do mau gosto, uma celebridade idolatrada. Um outro exemplo, ocorrido há dois dias atrás, de um outro cliente que escreveu uma opinião sobre o Restaurante, dizendo que tudo estava muito bem e ótimo, incluindo a comida mas que evitassem a sopa de peixe, uma caldo (feito com cabeças e espinhas de peixes) aromatizado de anis e coentro, guarnecido com cebola, pimento, coentro, massinha cotovelo (al dente), raia, robalo, tamboril e camarão, segundo ele por se tratar de um caldo sem gosto a marisco (caldos Knorr ou Maggi, de marisco e peixe) que estava habituado a comer nos restaurantes vizinhos. Confesso que não consigo, nem sei aceitar um caso como este . * Presidente da Associação de Cozinheiros e Pasteleiros do Algarve
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Depois de ocupar, durante alguns anos, uma posição secundária, a Cultura parece estar outra vez na moda, melhor dizendo, no rol das prioridades dos atuais governantes, como atesta o ressurgimento do Ministério da Cultura e a criação de diversos programas de valorização cultural. Realizar-se muitos eventos não é o mesmo, porém, que existir uma efetiva Política Cultural, nem tão pouco que se faça uma boa Gestão Cultural, ou até mesmo uma adequada Programação Cultural. E foi para ficarmos mais esclarecidos sobre tão complexo tema que estivemos à conversa com Jorge Queiroz, presidente da Associação de Gestores Culturais do Algarve. Texto:
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no Museu Municipal de Tavira que encontramos Jorge Queiroz, chefe da Divisão da Cultura, Património e Museus da Câmara Municipal de Tavira e presidente da direção da AGECAL – Associação de Gestores Culturais do Algarve, entidade que nasceu, em 2008, fruto da consciência de muitos profissionais desta área de que a Cultura tem uma palavra importante a dizer no desenvolvimento das cidades, regiões e nações. E isto porque, se é facilmente aceitável que a cultura tem um efeito positivo na economia, não tão fácil é pensar-se numa economia da cultura. “Não se estuda devidamente o impacto dos investimentos e atividades culturais na economia de cada terra. Normalmente há sempre uma noção exata da despesa que se teve com determinado acontecimento ou programa, mas não há a medição do retorno, o que gera um diálogo desequilibrado entre a economia e a cultura”, entende Jorge Queiroz.
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Certo é que muitas cidades europeias são inundadas por turistas de índole cultural, casos de Roma, Atenas, Paris, Londres, pessoas de múltiplas nacionalidades que ali vão visitar os monumentos e assistir a espetáculos de várias formas artísticas. Aliás, mesmo em Portugal, diversos monumentos recebem milhares de visitantes ao longo do ano, o que constitui uma receita significativa para os cofres nacionais. “O facto de existir uma vida cultural leva a que as pessoas estejam mais tempo nas cidades e, mercê disso, gastem mais dinheiro”, aponta o ALGARVE INFORMATIVO #76
entrevistado, lembrando que a Gestão Cultural surgiu na segunda metade do século XX em consequência da evolução das sociedades, focalizando-se na administração dos recursos naturais de uma determinada área geográfica, cidade, município ou região, de instituições públicas ou privadas. “Quando a Europa se começou a reconstruir a partir das cinzas da Segunda Guerra Mundial, houve um investimento forte na criação de um Estado Social e a Cultura é um elemento fundamental para o desenvolvimento humano e das comunidades. Foram construídos equipamentos, alguns à custa de milhões de euros, e geri-los exige conhecimentos específicos”, explica. A Gestão Cultural é, assim, uma disciplina autónoma que exige, como todas as outras, formação científica superior e técnico-profissional, experiências em contexto de trabalho, análise e evolução. “Política Cultural são os princípios, Gestão Cultural é a gestão dos recursos culturais, que podem ser um monumento, uma biblioteca, um teatro, um museu, um sítio arqueológico, um centro de ciência. São necessários conhecimentos técnicos de gestão de equipas, gestão da comunicação, gestão financeira, gestão dos próprios conteúdos e dos programas. A Programação Cultural é uma área dentro da Gestão Cultural, assim como a Produção Cultural”, 48
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esclarece Jorge Queiroz. “Qualquer área do conhecimento tem profissionais, portanto, os equipamentos culturais devem ser geridos por aqueles com formação específica”.
desse profissional ter conhecimentos de Direito da Cultura, Economia da Cultura, Gestão de Recursos Humanos em equipas de intervenção cultural, Comunicação da Cultura, Turismo Cultural, entre outros.
Formação específica que existe na vizinha Espanha, com licenciaturas em Gestão Cultural, por se perceber que não basta, por exemplo, uma pessoa ter um curso de Arqueologia para gerir as várias facetas e complexidades de um sítio arqueológico. “É um enfoque diferente. Não é só conservar um monumento, mas também organizar equipas, fazer comunicação externa, atrair e receber públicos, dinamizar um serviço educativo. Isso tudo é Gestão Cultural”, distingue Jorge Queiroz, enfatizando a importância
Mais complexa se torna a matéria quando envolve o público e privado em simultâneo, com os conteúdos a serem normalmente do foro privado e os equipamentos do foro público. “Numa biblioteca pública, os livros são disponibilizados gratuitamente aos utentes, mas esses livros foram feitos por alguém, pelas editoras, que são privadas. Ou seja, a biblioteca presta um serviço público de desenvolvimento cultural da comunidade, mas os livros não caem do céu”, exemplifica o diretor do ALGARVE INFORMATIVO #76
comercialização do livro, da música e discos, audiovisuais e cinema, artes do espetáculo, conservação e restauro, festivais, parques temáticos, promoção e transação de obras de arte, criação de conteúdos. E cada uma delas deve ser desenvolvida por pessoas competentes nessas áreas específicas. “Isto é um pouco como o futebol. Todos nós somos treinadores de bancada, temos as nossas opiniões de como as equipas deviam estar montadas e de como deviam jogar, mas nenhum de nós vai gerir o Real Madrid, Benfica, Porto ou Sporting. Os clubes têm vários gestores desportivos e, na Cultura, acontece o mesmo”. Museu Municipal de Tavira. “A Gestão Cultural também não produz a componente artística, essa é da competência dos criadores, dos bailarinos, atores, músicos, artistas plásticos”.
Crise foi terrível para a Cultura Com público e privado à mistura, a Gestão Cultural Pública centra-se, na maioria dos casos, na conceção, organização e funcionamento das infraestruturas culturais propriedade do Estado ou das autarquias, na gestão dos meios humanos e dos recursos financeiros disponíveis. Já a Gestão Cultural Privada está sobretudo ligada às indústrias culturais como a edição/produção, promoção e ALGARVE INFORMATIVO #76
Tomando por base todas estas noções, sentiu-se então a necessidade de criar a Associação de Gestores Culturais no Algarve, que foi inspirar-se nos modelos existentes na Andaluzia e Estremadura, regiões da vizinha Espanha onde havia associações de profissionais que faziam formação, organizavam cursos, dinamizavam debates e dialogavam com os poderes públicos. “Eles também queriam ter interlocutores em Portugal para falar sobre questões mais ibéricas e, em determinado momento, formou-se mesmo uma associação ibérica. Contudo, esta crise de 2010/2011 foi terrível para o campo cultural. Muita coisa fechou, pessoas mudaram de profissão, porque a Cultura se
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considerou uma área não prioritária”, recorda Jorge Queiroz.
visuais e o Professor Pedro Ferré na literatura”, recorda.
Apesar disso, a AGECAL abrange praticamente todas as cidades do Algarve, com 60 a 70 membros efetivos, e tem conseguido alcançar os objetivos a que se propôs. Aliás, até conseguiu sensibilizar a Universidade do Algarve para promover um Mestrado em Gestão Cultural, que teve dois cursos, de onde saíram quadros superiores que são todos profissionais da cultura. “Também realizamos dois cursos de Comunicação da Cultura, em parceria com o CENJOR, onde nós asseguramos os conteúdos de natureza cultural e eles as matérias de âmbito jornalístico”, indica o dirigente associativo.
Jorge Queiroz esclarece ainda que um Gestor Cultural não se ocupa da Política Cultural, pois essas decisões estratégicas são da responsabilidade dos decisores políticos, sejam ministros, secretários de estado, presidentes de câmara, vereadores da Cultura ou dirigentes de empresas culturais. “A Política Cultural é definir prioridades e estratégias, o que deve ter por base um diagnóstico dos recursos existentes e das lacunas. A AGECAL defende a elaboração de um Plano de Avaliação do Algarve e de uma Carta Cultural dos Recursos, essenciais para se conseguir visualizar onde está a oferta e a procura. Sem esses instrumentos, pode haver zonas em que a população está com oferta sobredimensionada e outras que não têm praticamente nenhuma oferta cultural”, alerta o entrevistado.
Complexa é igualmente a questão da Programação Cultural, realizada por profissionais que não são, necessariamente, os gestores dos equipamentos culturais e que podem até ser especializados em áreas concretas, como a música, teatro, dança, artes plásticas. “Há pessoas que só conhecem profundamente a música clássica, o jazz ou a música popular portuguesa, tudo dependendo da dimensão da instituição. O Centro Cultural Belém, por exemplo, possui vários programadores. Quando Faro foi Capital Nacional da Cultura, havia um Comissário, o Professor Rosa Mendes, e programadores para cada área: a Luísa Taveira na dança, o Miguel Abreu no teatro, o Luís Madureira na música, a Anabela Moutinho no cinema, eu nas artes ALGARVE INFORMATIVO #76
Muitos eventos não é sinónimo de política cultural Entretanto, com o português a ser a quinta língua mais falada no planeta, Jorge Queiroz lamenta que os poderes políticos nunca lhe tenham dado a merecida importância e atenção, apostando sempre em programas conjunturais e medidas a avulso. “Acabaram com o Ministério
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da Cultura, agora reapareceu, e nunca percebemos muito bem qual é a Política Cultural para Portugal. Há coisas que têm que passar por vários governos para ganharem consistência e solidez. Temos 10 milhões de habitantes, mais cinco milhões no estrangeiro, há praticamente oito países a falarem oficialmente português, entre eles o Brasil, com quase 200 milhões de habitantes, e não há uma Política para a Língua? É lamentável”, desabafa. Olhando para o caso concreto do Algarve, foi, e continua a ser, de certa forma, uma região periférica e encarada como uma zona sem cultura, o que é completamente falso, aprestase a afirmar Jorge Queiroz. “Temos uma riqueza enorme, mas a falta de 53
investigação e conhecimento sobre os nossos recursos conduz a esse pensamento. Foi o Estácio da Veiga que descobriu, no século XIX, as Ruínas Romanas de Milreu, em Estoi, e a Cidade Romana de Balsa, aqui perto de Tavira, mas depois não houve uma continuidade e as peças foram todas para o Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa, e lá continuam, em caixas, nas reservas”, conta o especialista, facto que prejudica o Algarve mesmo em termos turísticos. “Somos privilegiados por possuirmos este mar, estas praias e estas temperaturas, mas precisamos ter muita atenção em relação aos programas culturais, o que é diferente de fazer programas de eventos para os turistas”, acautela. ALGARVE INFORMATIVO #76
E porque cultura não é animação ou entretenimento, Jorge Queiroz defende que a Cultura deve ser gerida por profissionais do setor e sem uma postura instrumental. “O Turismo é uma indústria que vive dos seus recursos prévios, do clima, das praias, da natureza, mas também da oferta cultural, dos monumentos, dos festivais, e que devem interessar também às populações locais. Quanto aos turistas, têm sempre curiosidade em conhecer a cultura de determinado país, a sua música, a maneira como dançam”, afirma, ao mesmo tempo que garante que a contemporaneidade pode ser uma evolução da própria cultura de cada nação e não uma simples imitação de um modelo externo. “Não estamos sozinhos no mundo, as culturas estão em contato umas com as outras, mas temos uma realidade, uma vivência, uma sensibilidade, um ponto de vista sobre as artes, que é muito importante que se preserve e desenvolva”. Por outro lado, haver muitos espetáculos culturais não significa que exista, na verdade aceção da palavra, uma política cultural estruturada. “É sempre bom haver recursos financeiros, ninguém deve contrariar a existência de meios, mas deve haver um conjunto de princípios, programas culturais, criação artística”, indica, da mesma forma que os profissionais da cultura também devem ser auscultados antes de se construírem os próprios
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equipamentos culturais. “Pode-se conceber um edifício esteticamente bastante interessante e que dá nas vistas pelo investimento financeiro que implicou, e depois ter graves problemas funcionais e que podem, inclusive, limitar as suas valências, fazer só duas ou três coisas quando podia fazer 10. Por isso, é crucial que se aposte numa formação integrada e que haja uma relação entre a Política Cultural e a Gestão Cultural”, enfatiza. Sem se querer substituir a outra associação, a AGECAL tenta, acima de tudo, aconselhar os dirigentes a adotarem as políticas mais corretas em relação à cultura, quer nos diagnósticos, como nos programas. “Os políticos são necessários porque são eles que tomam as decisões, nós procuramos é que eles tomem decisões fundamentadas e apropriadas às necessidades da região e das populações. O Estado tem que garantir o desenvolvimento cultural das pessoas, logo a começar nas escolas, mas as empresas culturais também têm que produzir conteúdos e ferramentas e os artistas têm que conceber produtos. Todos são importantes e devem trabalhar de forma coordenada e com objetivos bem claros, que passam pela valorização do país” .
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“Muitos empresários ainda entendem a comunicação como um custo e não como um benefício”, afirma Bruno Fonseca Depois de um concurso que opôs quatro agências de todo o país, a Triplesky, de Bruno Fonseca, foi a escolhida para trabalhar toda a comunicação do resort de luxo Vilamoura, conquistando, assim, mais um nome de renome internacional para a sua carteira de clientes. Uns dias mais tarde, à conversa na moderna sede da agência situada em Almancil, o jovem empresário desvendou alguns dos segredos do sucesso num mercado hipercompetitivo e à escala global como é o do marketing, comunicação e publicidade. Texto:
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vida profissional de Bruno Fonseca sempre girou em torno da criação e desenvolvimento de marcas e, em 2008, decidiu aventurar-se a solo com a Triplesky, numa altura em que Portugal se preparava para entrar numa profunda crise, mesmo que pouca gente tivesse já conhecimento dela. Com empresas a fechar a um ritmo alarmante, outras a baixar os preços para não perder clientes, o jovem nascido em Lagos manteve-se fiel ao seu objetivo, ou seja, prestar um serviço de qualidade superior que, como é natural, implicaria um custo mais elevado. “O bom leva tempo a atingir e, felizmente, há clientes no Algarve, e não só, que apostam nessa filosofia de qualidade”, afirma Bruno Fonseca, à conversa nesta fábrica de ideias instalada no Vale Formoso Park, em Almancil. Algarve e não só porque a Triplesky já
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realizou vários projetos na Madeira, Angola, Cabo Verde e Suíça, e focando-se no segmento específico de resorts, hotéis e restaurantes, já que o empresário não acredita no desenvolvimento de marcas de mil e um ramos de atividade. “Desde o início que soube que tipo de equipa pretendia e que tipo de clientes me interessava, depois, foi tentar arranjar formas de chegar a eles. Hoje, trabalhamos com dois dos principais destinos turísticos do Algarve – Vilamoura e Quinta do Lago – para além de termos desenvolvido toda a comunicação do Sheraton Pine Cliffs. O nosso último projeto é a Ombria”, destaca Bruno Fonseca. Um trajeto feito de passos consistentes, sem saltar degraus com a pressa de atingir os objetivos definidos, não arrepiando caminho, mesmo quando se sabe que a
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publicidade, a comunicação, o marketing, são das primeiras áreas a sofrer cortes orçamentais quando as empresas passam por dificuldades. Mas esses não são, claramente, os clientes da Triplesky. “Se quero um carro barato, não vou à Porsche. Temos um mercado muito específico, com pessoas que valorizam aquilo que fazemos. Também nunca tive uma equipa muito grande, somos oito, atualmente, colaboradores mais capacitados, na minha maneira de ver. Do mesmo modo, temos menos projetos, mas bem pagos. Portanto, uma empresa que queira poupar nesta matéria, não é um potencial cliente nosso”, assume. Menos clientes permitem dar uma maior atenção, ter um acompanhamento quase constante ao longo do tempo, como é o caso da 61
Quinta do Lago, com quem trabalham há cerca de cinco anos. Noutros casos, porém, ganhar ou perder um contrato depende da sensibilidade dos diretores de marketing ou de comunicação, ou da filosofia da empresa, reconhece. “Alguns clientes buscam-nos para lhes desenvolvermos a marca e, depois, procuram outros para o trabalho de continuidade, por causa dos nossos custos”, refere Bruno Fonseca, enquanto reconhece que o Algarve está mais sensível à importância da comunicação. “Nota-se uma evolução positiva devido a muitos empresários que vieram de fora com filosofias diferentes”. Tal não significa que o Algarve seja um mar de rosas para os marketeers, porque ainda se encontram pessoas ALGARVE INFORMATIVO #76
que herdaram terrenos ou negócios, não possuem o devido know-how e cortam naquilo que lhes parece mais supérfluo. “Não têm noção do peso da comunicação para os seus negócios. Lembro-me, há uns anos, de construtores dizerem que não precisavam de criar uma marca, porque lhes bastava abrir um lote de apartamentos que era tudo vendido num instante. Quando a crise se instalou e se preocuparam em ganhar mais nome no mercado, já não tinham verba disponível para isso”, relata Bruno Fonseca. Conselhos, desabafos, dicas, que rapidamente extrapolam da realidade das empresas para a própria região, com o especialista a lamentar que se promova sempre o Algarve da mesma maneira, junto dos mesmos mercados e utilizando as mesmas ferramentas e argumentos. “Vai-se sempre às mesmas feiras, com os mesmos stands. ALGARVE INFORMATIVO #76
Obviamente que os fundos nem sempre são suficientes para se fazer muito mais mas, de qualquer modo, sinto que as coisas estão melhores. Os empresários de outros pontos do país e do estrangeiro que vieram para o Algarve trouxeram consigo outras estratégias de promoção e isso obriga os locais a evoluírem também. Mesmo assim, muitos ainda veem isto como um custo e não como um benefício, até perceberem o sucesso que as outras marcas concorrentes estão a alcançar”.
Não há desculpas para o insucesso À medida que o Algarve vai despertando para a importância da comunicação empresarial e das marcas, resta saber se ainda se mantém a tendência de dar 62
preferência a agências de Lisboa e Porto ou se a prata da casa já vai fazendo milagres. Bruno Fonseca opta, contudo, por não encarar as coisas desse prisma, até porque a Triplesky tem ganho concursos noutras zonas de Portugal e no estrangeiro e, nesses locais, certamente que também existem agências qualificadas. “A diferença, às vezes, passa pelo relacionamento humano que se constrói com os clientes. Já ganhei e perdi projetos para empresas de Lisboa, mas não justifico isso por serem de Lisboa e nós do Algarve. Se calhar, fizeram uma apresentação melhor do que nós, ou ofereceram um melhor preço, ou conseguiram transmitir mais confiança ao cliente”, indica o entrevistado, dando o exemplo do recente concurso para a marca «Vilamoura», disputado por duas agências da capital e outras duas da região algarvia. Ora, se a localização geográfica da sede deixou de fazer a diferença na generalidade dos concursos, o Algarve continua a ter uma grande vantagem, na ótica de Bruno Fonseca: um estilo de vida ímpar. “Temos aqui todas as condições para viver, criar uma família, estar tranquilo, sem trânsito nem grandes stresses. Já cheguei a acordar de manhã, tomar o 63
pequeno-almoço com a minha família, ir a uma reunião a Londres e regressar a tempo do jantar com eles. Quando isso acontece, quais são as justificações para o insucesso”, questiona. “Com a facilidade que existe atualmente em chegarmos a outros pontos do globo, de nos ALGARVE INFORMATIVO #76
“Apesar disso, estou feliz com a equipa que tenho”, garante.
apresentarmos, de oferecermos um preço mais competitivo, não há desculpas para lamúrias. Às vezes usamos é essas desculpas para justificar o insucesso”. Depois deste breve à parte, perguntamos como é contratar na região quadros de qualidade no exigente ramo da comunicação e publicidade, sabendose que a equipa da Triplesky não é muito extensa. “Temos um bom curso de design na Universidade do Algarve, mas não é fácil encontrar pessoas com a qualidade que pretendemos, nem é fácil convencer outras a virem para cá. Regra geral, os designers querem trabalhar em grandes contas e não percecionam essa oportunidade no Algarve, preferem ir para Lisboa”, constata Bruno Fonseca. ALGARVE INFORMATIVO #76
Entretanto, com os avanços da informática e das novas tecnologias, os designers possuem melhores ferramentas e mais fáceis de utilizar do que há uns anos, mas Bruno Fonseca privilegia quadros com capacidade para pensar nos projetos, para analisar os clientes, a sua concorrência, o espaço onde se vai posicionar. “Não queremos pessoas para fazer apenas layouts”, distingue, porque a comunicação moderna não se resume a fazer um logotipo bonito e uma brochura colorida. “A nossa missão é tornar-nos quase numa extensão do cliente, daí preferirmos termos poucos, para conseguirmos estar sempre ao lado deles na construção de uma marca forte. Quando comecei, o design gráfico limitava-se a brochuras e folhetos. Hoje, há a necessidade de se ter um bom sítio de internet e redes sociais, fotografias, filmes promocionais, é uma evolução constante e difícil de acompanhar”, salienta. Assim sendo, a Triplesky é especialista no desenvolvimento de filmes promocionais, na gestão de sites e redes sociais, na criação de stands, até uma estátua já fizeram para o Consolado de Angola. “Tentamos ser um parceiro daquele cliente e acrescentar-lhe valor através dos nossos conhecimentos e do desenvolvimento da marca. Fazer algo bonito não é sinónimo de ajudar o cliente a vender. Se temos uma 64
brochura com um tamanho de letra um bocadinho maior do que o normal, isso pode fazer confusão a outro designer, mas quem está a comprar a casa daquela brochura se calhar tem mais de 50 anos e dificuldades de visão. É uma análise diferente que vem com a experiência, não pensar apenas nas questões visuais”, frisa o empresário. Claro que, nesta constante batalha por fazer a diferença, a Triplesky conta com alguns parceiros nos ramos da arquitetura, design de interiores, fotografia, vídeo, sinalética. “Selecionamos empresas com a mesma filosofia de qualidade do que nós para trabalharmos juntos num projeto. Antigamente, um arquiteto pedia-nos para colocar uma plaquinha com o logotipo, agora, pensa da experiência que os clientes vão ter quando entram
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no seu ateliê”, exemplifica, antes de falar das metas para o futuro. “Queremos ser líderes no segmento dos resorts, hotéis e restaurantes e, depois de estarmos tão bem inseridos no Algarve, pretendemos abrir mais portas para o exterior. O nosso portfólio vai gerando mais oportunidades e estamos prestes a lançar o nosso site”, adianta. Quanto a prémios, não lhes dá grande importância, dai a Triplesky nunca participar em concursos. “Quando comecei a minha carreira, ganhei um prémio de platina, dois de ouro, um de bronze, e fiquei muito feliz na altura. Hoje, isso não me diz muito. Quero é ganhar mais experiência nas áreas em que decidi especializar-me e que os clientes fiquem satisfeitos com os serviços que lhes prestamos” .
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Alexandre Freitas e Luísa Matias de Freitas, os sócios do Grupo Kykus
Grupo Kykus inaugurou Clínica de Oftalmologia de Albufeira Depois de várias óticas e da primeira Fábrica de Óculos do Algarve, o Grupo Kykus adicionou mais um membro à sua família com a inauguração da Clínica de Oftalmologia d’Albufeira – KykusEyeMedical. O Algarve Informativo foi conhecer o novo espaço de saúde, onde o profissionalismo e a qualidade são de topo, mas os custos são bem mais simpáticos para as carteiras dos portugueses. Texto:
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oi oficialmente inaugurada ao público, no dia 22 de setembro, a Clínica de Oftalmologia D’Albufeira – KykusEyeMedical, inovador espaço de saúde do Grupo Kykus de Alexandre Freitas e Luísa Matias de Freitas, ao qual pertence também o Oculista de Albufeira, presente em várias localidades do Algarve. Com um passado fortemente ligado a um grupo hospitalar, com o qual cresceram na última década, a dupla de empresários entendeu ter chegado a hora de seguir o seu próprio caminho com a abertura de uma clínica repleta de mais-valias para a região, conforme explicou Alexandre Freitas. “São o caso da biometria, da retinografia, da angiografia e do OCT, a par de um
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leque de especialistas que não se encontravam no Algarve, de áreas como a retina, o glaucoma e a pediatria. Deste modo, conseguimos apresentar aos nossos pacientes um serviço completo e a preços muito convidativos”, indica um dos sócios do Grupo Kykus. Custos que são, de facto, inferiores à média de mercado, muito embora tenha sido realizado um investimento avultado nos equipamentos, todos eles de última geração. “Qualquer tipo de paciente pode recorrer aos nossos serviços, desde a simples consulta para a troca de óculos, até à consulta da patologia e à preparação para a cirurgia. Temos um bloco operatório
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num parceiro localizado a curta distância da nossa clínica, preparamos tudo aqui e fazemos a cirurgia a uma dezena de metros”, evidencia Alexandre Freitas, confiante no sucesso deste projeto. “Existiam muitos pacientes que, devido aos elevados preços praticados no Algarve, se deslocavam a Lisboa para certos exames e tratamentos. Um exame de OCT custa, aqui, 79 euros, quando há clínicas e hospitais a cobrarem entre os 180 e os 250 euros”, frisa. Esta postura só é possível porque a filosofia do Grupo Kykus sempre foi de cooperativismo, de ter pouca margem de lucro por cada exame ou serviço prestado, numa ótica de que esses exames ou serviços se reproduziriam em maior quantidade. “É assim que pensamos há 10 anos e as pessoas têm reconhecido o nosso esforço e aderido à Kykus. Sabemos que os portugueses não têm capacidade económica para despender muito dinheiro e, quando se gasta 70 euros numa consulta, mais 70 euros num exame, alguma coisa fica para trás. Muitos dos nossos pacientes têm mais de 60 anos e recebem 200 ou 300 euros de reforma”, destaca Alexandre Freitas. Está visto que este grupo empresarial não pensa apenas nos ganhos financeiros de curto prazo, mas também no seu papel social. “Claro que podíamos cobrar mais, mas não sei se ganharíamos mais com isso. Levamos menos dinheiro, as pessoas gostam, são bem ALGARVE INFORMATIVO #76
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atendidas, com equipamentos de última geração e profissionais especializados, voltam e aconselhamnos aos amigos e conhecidos”, salienta Alexandre Freitas, adiantando que não é difícil arranjar estes técnicos e médicos, mesmo tendo que vir de fora da região. E, apesar da abertura da Clínica de Oftalmologia d’Albufeira, mantém-se as parcerias com os dois grandes grupos de saúde a nível do Algarve. “Não é por abrirmos o nosso espaço que devemos esquecer-nos de onde viemos, até porque, um dia mais tarde, não sabemos para onde vamos. No fundo, continuamos a referenciá-los como especialistas, porque há ocasiões em que um paciente vem ter connosco a pensar que é uma situação de oftalmologia e, afinal, é de outra especialidade”.
A grande diferença, então, é que muitas consultas de especialidade que a kykuseyecare dava antigamente em hospitais da região, estão agora concentradas num espaço próprio, a Clínica de Oftalmologia d’Albufeira. Quanto aos tradicionais protocolos com a ADSE e as seguradoras, também existem. “As pessoas, aqui, fazem tudo, não precisam andar a correr de um lado para o outro. Temos desde os prismas às próteses oculares e à baixa visão, todas as especialidades de oftalmologia”, salienta. Já sobre o futuro, a Deus pertence, como é óbvio, mas o Grupo Kykus não deverá ficar por aqui, com Alexandre Freitas a prometer mais novidades no início de 2017 .
Carla Rodrigues, Alexandre Freitas, Luísa Matias de Freitas, Lina Domingos e Inês Barros
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