Aprendendo e ensinando sobre sustentabilidade e os objetivos do desenvolvimento sustentĂ vel
Curso de formação em sustentabilidade para a Diretoria Regional da Pena - UMAPAZ 2017
Aprendendo e ensinando sobre sustentabilidade e os objetivos do desenvolvimento sustentĂ vel Organizadora: Giovana Barbosa de Souza
SĂŁo Paulo 2017
João Dória Junior Prefeito
Eduardo de Castro Secretário
Alexandre Schneider Secretário
REALIZAÇÃO:
Meira Aparecida Fonseca de Abreu Diretora
ORGANIZAÇÃO: Giovana Barbosa de Souza COORDENAÇÃO E EDIÇÃO: Giovana Barbosa de Souza Rose Marie Inojosa REVISÃO TÉCNICA: Giovana Barbosa de Souza Rose Marie Inojosa Ieda Varejão COMUNICAÇÃO UMAPAZ: Débora Pontalti Marcondes PROJETO GRÁFICO: Isabella Maria Bérgamo Bertolli Karoline Marques da Conceição EDIÇÃO DE FOTOS: Emerson Malavazi Júnior
Agradecimentos Equipe UMAPAZ: Ronaldo Medalskas, Rodrigo Matos de Aquino, Ieda Varejão, Flavia Damasceno, Ana Maria Brische, Otávio Augusto Triverio Dias, Meire Aparecida Fonseca de Abreu, Karoline Marques da Conceição, Isabella Maria Bérgamo Bertolli. Alex Criado (jornalista). O mestre de culturas populares e tradicionais: Eufra Modesto. Equipe DRE-Penha: Profa. Marcia Moema de Figueiredo Moghetti e Sylvia Conte de Oliveira.
Bola de meia, bola de gude Milton Nascimento
Há um menino, há um moleque Orando sempre no meu coração Toda vez que o adulto balança Ele vem pra me dar a mão Há um passado no meu presente O sol bem quente lá no meu quintal Toda vez que a bruxa me assombra Há um passado no meu presente O sol bem quente lá no meu quintal Toda vez que a bruxa me assombra O menino me dá a mão
Ele fala de coisas bonitas que Eu acredito que não deixarão de existir Amizade, palavra, respeito Há um passado no meu presente O sol bem quente lá no meu quintal Toda vez que a bruxa me assombra O menino me dá a mão Ele fala de coisas bonitas que Eu acredito que não deixarão de existir Amizade, palavra, respeito
Sumàrio Apresentando o caminho............................................. 13 As paisagens que temos................................................ 17 Tesouros do percurso..................................................... 39 Possíveis itinerário......................................................... 53 Referências..................................................................... 59
Este é o registro do percurso que você, educadora, percorreu durante este curso. O propósito é que ele possa te auxiliar com ideias, lembranças e conceitos que fizeram parte desta jornada, e que estão aqui organizados para servirem de apoio para a implementação de novos projetos na sua vida. Que todos eles sejam sementes de um compromisso à vida, com amor e respeito por todos os tipos de seres vivos.
Apresentando o caminho
Curso de formação em sustentabilidade para a Diretoria Regional da Pena UMAPAZ 2017
O curso foi pensado e desenvolvido a pedido da Diretoria Regional de Ensino da Penha. Teve seu início por meio da solicitação da Profa. Marcia Moema de Figueiredo Moghetti, que requisitou à UMAPAZ um curso sobre os ODS. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são uma agenda mundial adotada durante a Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável em setembro de 2015 composta por 17 objetivos e 169 metas a serem atingidos até 2030. A capacitação seria para educadoras, professoras e membros da coordenação de educação infantil e primeiro ciclo do ensino fundamental.
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O desenho foi feito por Rose Marie Inojosa, que naquele momento respondia pela coordenação da UMAPAZ – Universidade aberta de Meio Ambiente e Cultura de Paz, e por Giovana Barbosa de Souza coordenadora de projetos na UMAPAZ. Durante este período a professora Marcia que impulsionou o processo teve um problema de saúde e a professora Sylvia Conte de Oliveira passou a ser a responsável pela articulação e parceria com a Diretoria Regional da Penha. O processo tinha em vista a contribuição técnica na ampliação do olhar e das práticas pedagógicas construídas em parceria para o fortalecimento técnico e a pontuação na carreira dos inscritos.
Desta forma após a construção e aprovação técnica da proposta, a professora Sylvia encaminhou para a oficialização do curso via tramites legais da Secretaria de educação do município de São Paulo, desta forma o curso teve sua publicação no diário oficial e as inscrições foram abertas.
Esta capacitação foi ministrada por suas coordenadoras além de convidados especialistas que compuseram a equipe técnica.
O curso teve uma procura alta, contudo poucas adesões por se tratar de um curso que foi pensando para um sábado por mês. A proposta compreendeu quatro encontros mensais e três momentos de trocas virtuais com desafios propostos pela equipe pedagógica do projeto.
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As paisagens que temos
1º ENCONTRO
Olhares para a Sustentabilidade No primeiro encontro foram firmados alguns acordos sobre tempo, alimentação e encaminhamentos de ordem pratica que pudessem ser da ajuda coletiva. Apresentou a linha do tempo com o marco legal, na área ambiental, foi apresentado os principais documentos que norteiam a área voltada a sustentabilidade. Foram desenvolvidas algumas atividades e reflexões sobre sustentabilidade e na sequência a visita virtual da Dona Herta, personagem interpretada por Ieda Januário Varejão, que contou a história do desafio de uma senhora em relação à sustentabilidade financeira de sua família. Neste encontro ainda foram desenvolvidas outras vivencias, e reflexões. O foco foi a sensibilização do tema desvelando o conceito de sustentabilidade, nas mudanças climáticas e como seu impacto é sentindo na unidade escolar. Neste encontro recebemos a professora Nina Nascimento, que compõe a equipe técnica do ministério de educação de Portugal na cidade vila do Bispo, com o objetivo de compartilhar a experiência de educação financeira na educação infantil.
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A ideia foi trazer o conceito de sustentabilidade para o cotidiano, por meio de uma parábola do que está acontecendo com o Planeta Terra, onde a família humana tem crescido exponencialmente, consumindo desigualmente os recursos naturais como se fossem infinitos e não se preocupando com a regeneração desses recursos, o que já prejudica os grupos mais vulneráveis, com escassez de água e de alimentos, e pode tornar muito difícil a vida das próximas gerações. Foi lembrado que há um estudo da Global Footprint Network, que, desde 1969, busca mensurar o dia do ano em que a humanidade começa a extrapolar a biocapacidade do planeta, chamado de Dia da Sobrecarga da Terra (Earth Overshoot Day, em inglês). Essa data vem ocorrendo cada vez mais cedo e, em 2017, foi 8 de agosto.
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O impacto da ação humana se dá, principalmente, pelo uso de combustíveis fósseis, intensificado a partir da revolução industrial, e pela enorme mudança no estilo de vida, com um nível muito alto de consumo de recursos naturais para produção de conforto, embora esse conforto seja profundamente desigual, como demonstra o Índice Gini. As consequências dessas consequências são cada vez mais obvias, como a escassez de recursos naturais antes abundantes, grandes desastres climáticos e perda de biodiversidade e, assim, o esgarçamento da teia da vida, levando a extinção de espécies, a fome pela falta de alimentos, ou as doenças devido alimentos contaminados, a escassez de água, a migração de grandes contingentes populacionais, a nova emergência de doenças que já haviam superadas e novas doenças. Por fim, trabalhamos na dinamica da árvore, que permitiu nas possibilidades de mitigar os efeitos perversos da situação e de promover a adaptação do modo de viver da humanidade. Além da necessidade de promover urgentes mudanças no modo de viver da humanidade, com redução da produção de resíduos sólidos, da poluição, do desperdício de alimentos e de objetos, de modo a possibilitar a continuidade e a dignidade da vida para todos. No período da tarde, recebemos a pedagoga portuguesa Lina Nascimento, que trabalha com crianças de 3 a 5 anos de idade, de famílias de baixa renda (para os parâmetros europeus), numa escola pública da municipalidade de vila do Bispo em Algarve no sul de Portugal.
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1º ENCONTRO
Desafio: Foi conhecer a composição da Pegada Pedagógica, a leitura do texto “A MUDANÇA CLIMÁTICA, SUAS POSSÍVEIS CAUSAS E EFEITOS” – Moacir Gadotti. Somado proposição de convite para o desenvolvimento de uma prática na unidade escolar.
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2º ENCONTRO
Como vivemos, educamos O Segundo Encontro foi preparado para partir da reflexão sobre Sustentabilidade feita em conjunto e das proposições de trabalho a distância, como, por exemplo, a mensuração da pegada ecológica de cada participante. Iniciou-se o encontro com um passeio pelo túnel de bambus, no Parque do Ibirapuera. As participantes andaram em silêncio, visitando a figueira “doze apóstolos” e seguindo até as proximidades do túnel de bambus. A proposta
foi de que seguíssemos em silêncio pelo túnel, refletindo sobre essa ideia, e nos reuníssemos novamente do outro lado. Ao chegarmos da travessia, foi lida a seguinte crônica: Já na sala de aula, buscou-se fazer a ligação com o encontro anterior e a possível relação das mudanças climáticas com os furacões que vinham ocorrendo naquele momento, fato que, embora seja um fenômeno natural e cíclico pode ter sido agravado na frequência ou intensidade pelo aquecimento da
água dos oceanos. Após leitura silenciosa e reflexão, começamos a montar, com as participantes, a linha do tempo, colocando na parede da sala uma linha com datas onde cada uma delas ia encaixando a imagem referente ao evento que constava no seu texto e fazendo comentários. Iniciou-se com a publicação do livro Primavera Silenciosa, na década de 60 e chegamos a Agenda 2030, com seus 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.
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“Vou à natureza para me acalmar, me curar e
para que meus sentidos fiquem sintonizados novamente. John Burroughs
“
“Não
“
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é a linguagem dos pintores, mas a linguagem da natureza que se deve escutar. O sentimento pelas coisas em si, pela realidade, é mais importante do que o sentimento pelas imagens. Vincent Van Gogh
Depois do intervalo foi lida a Carta da Terra, que é uma moldura ética, com princípios e valores para a empreitada de construir uma sociedade justa, sustentável e pacífica. O grupo trabalhou suas dimensões: respeito à vida, integridade ecológica, justiça social e econômica e democracia, não violência e paz. A Carta da Terra é um elemento orientador para a ação, para os objetivos que a ONU aprovou como os Objetivos do Milênio, que propiciaram importantes avanços em vários países do mundo e, em 2015, a Agenda 2030, com os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável - ODS. O resultado, uma grande trama, demonstrou o quanto é necessário que os objetivos, que dizem respeito a aspectos estratégicos para a sustentabilidade e dignidade da vida no Planeta, sejam realizados de forma articulada, para que seus resultados sejam coerentes com a visão de futuro desenhada pela Agenda 2030. Após a contação de histórias, foi apresentado o Calendário Indígena de observação da natureza, conforme apresentado pelo Instituto Socioambiental, com a proposta de que cada participante buscasse fazer suas observações para o encontro seguinte. 25
2º ENCONTRO
Desafio: O que significa ter valores e princípios?
https://goo.gl/Hg5EMf.
Inspire-se vendo o vídeo sobre a Carta da Terra, narrada por Leonardo Boff (https://goo. gl/Zfvyxm). Ou leia a Carta da Terra disponível em https://goo.gl/vvdfAa. Veja a releitura da Carta da Terra adaptada para crianças, em slides https://goo.gl/q4UXpm.
Você pode ler o texto da Agenda 2030 em https://goo.gl/c17Xzd.
1. O que significa ter um plano de ação?
Como a história de Malala poderia ser utilizada para refletir sobre os temas da Carta da Terra e da Agenda 2030, os papéis de organismos internacionais e nacionais e os papéis de grupos, famílias e indivíduos?
Veja o vídeo “O que são os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU” em https://goo.gl/cHLXgz (3:30 minutos). Você também pode ver novamente o vídeo que apresentamos no encontro presencial:
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2. Sua aplicação: Veja em vídeo a história de Malala, contata por Fafá https://goo.gl/JGK5tn.
3º ENCONTRO
Origem, conexão, evolução... O terceiro encontro aconteceu com o nome “ORIGEM, CONEXÃO, EVOLUÇÃO, INTEGRIDADE ECOLÓGICA, TEIA DA VIDA, CODEPENDÊNCIA”, teve o desafio de despertar o olhar das professoras para a magia da criação. Neste encontro o astrofísico Otavio Augusto Triverio Dias da Escola Municipal de Astrofísica, compartilhou como a ciência apresenta a criação do universo. Após esse momento a bióloga da Escola de Jardinagem, Ana Maria Brischi trouxe a visão cientifica do surgimento da vida na Terra. Ainda no mesmo encontro vieram as professoras Amanda Lima e Cristina Sá do Integrado de Educação de Jovens e Adultos – Campo Limpo que compartilharam a metodologia desenvolvida no centro integrado e sua experiência com a realização dos seminário indígena que acontece neste espaço. A intenção das coordenadoras do curso era resgatar uma ponte com a nossa ancestralidade.
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Otávio, astrofísico
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3º ENCONTRO
Desafio: 1. Vamos trabalhar com um modelo de observação similar ao dos calendários indígenas de observação da natureza e sua relação com a população humana:
símbolos e desenhos que todos possam reconhecer. Podem ser figurinhas coladas ou desenhos.
ção ou fenômeno você observou nas árvores e vegetação do local de observação.
3. Comece de dentro para fora.
8. No quinto círculo é reservado para quais espécies de animais você observou (aves, mamíferos, peixes, insetos).
4. Indique no primeiro circulo a observação de como foi o clima e o tempo no local de sua observação durante cada mês: mais ensolarado, mais chuvoso, mais quente, temperado, mais frio.
Orientações: 1. Escolha o espaço de observação – sua cidade, seu bairro, a sua rua, o bairro ou a rua da escola. Deve ser um espaço comunitário, não um espaço privado ou fechado. Inscreva no círculo central qual é o espaço que você escolheu. 2. Para o preenchimento de tidos os círculos use 30
5. No segundo círculo, escreva o que você observou em relação a água. Se há rio ou córregos e caso tenham ficado mais cheiod ou mais vazios, se transbordaram. Se não houver rio nem córrego visíveis, indique se o abastecimento de água foi regular ou irregular, se houve racionamento. 6. Indique no terceiro circulo que tipos de alimentos você encontrou com mais abundância (frutas, legumes, cereais). 7. Indique no quarto círculo que tipo de flora-
9. Indique no sexto círculo o evento ou eventos mais importantes a cada mês – podem ser eventos de celebração ou acidentes, problemas. 10. Para o dia 11 de novembro, traga o seu calendário de 2017 preenchido apenas com o que você de fato se lembra dos meses de janeiro a setembro. Não faça pesquisa, apenas procure lembrar-se. Deixe em branco quando nada vier a sua memória. Já para o período entre 21 de outubro e 10 de novembro faça um esforço de observação diária antes de fazer suas anotações no calendário. 11. Os calendários serão expostos na sala para que o grupo possa ver todos os trabalhos.
2. Pense e nos relate: se você fizesse um calendário desses para a sua cidade ou para o seu bairro, que outros círculos gostaria de acrescentar para eventos urbanos. 3. Veja, por favor, o vídeo “Para onde foram as andorinhas”, produzido pelo Instituto Catitu e o Instituto SocioAmbiental , disponível em https://goo.gl/PdG9Hr e comente, relacionando com a questão da integridade ecológica e a Agenda 2030.
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4º ENCONTRO
O tesouro da diversidade humana O quarto encontro teve o tema “O tesouro da diversidade humana”, apresentando, inicialmente, um contato com ervas aromáticas do Viveiro Manequinho Lopes e a importância dos laços de memória para a construção da nossa identidade. Foi retomada a elaboração do calendário anual de observação da natureza, inspirado no calendário construído por grupos indígenas do Xingu. Nesta atividade foi relatada a riqueza obser-
BISAVÓ MATERNA
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vada pelas educadoras e pelas crianças das respectivas escolas sobre a diversidade em arvores, plantas, flores, frutas, insetos, aves e animais de cada época do ano. A seguir foi proposto um exercício sobre as árvores genealógicas das participantes, com o propósito de identificar as origens e naturalidade de cada antepassado, com o apoio de um pequeno filme apresentado no decorrer do encontro.
BISAVÔ PATERNO
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AVÔ MATERNO PAI
MÃE VOCÊ
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O povo brasileiro foi configurado a partir de processos de disputa e de integração de povos, etnias e de um movimento de miscigenação e sincretismo muito peculiares. As nossas três mães ancestrais – a indígena nativa, a negra africana e a branca europeia – foram as matrizes de um povo mestiço, caboclo, mulato. No decorrer dos séculos novas ondas migratórias de europeus, asiáticos, africanos e do próprio continente americano têm se agregado e enriquecido a miscigenação brasileira. Quanto mais conseguirmos resgatar as feridas históricas, superar os preconceitos antigos e novos e integrar os imigrantes e migrantes, maior será a oportunidade do povo brasileiro ser um embrião da cidadania mundial, utopia de um novo tempo. A diversidade do povo brasileiro dialóga com a extraordinária biodiversidade de seus diferentes biomas. São as nossas duas maiores riquezas, para conhecer, cuidar e honrar. A Agenda 2030 aponta caminhos para a melhoria de qualidade de vida de todos e, especialmente, dos mais vulneráveis, contribuindo para a preservação dessas riquezas.
Quarto Encontro: A Diversidade Humana e a Agenda 2030
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O professor, o rio e o aluno Ao receber um novo aluno com dificuldade de aprendizagem, penso que estamos ambos sentados a margem do rio. O aluno precisa atravessar para a margem oposta. Ele tem de fazer isso antes que anoiteça. Eu não conheço o aluno, mas conheço bem o rio. Sei onde ele é mais fundo, sei em que época ele é cheio, sei quando tem corredeira. Meu aluno não. Só que é ele quem precisa atravessar e tem de atravessar agora. Não vai dar para esperar a melhor época do ano, quando o rio está mais favorável à travessia. E ele conta com o que eu sei sobre aquelas águas para tentar chegar em segurança do outro lado. Às vezes, o rio é estreitinho e eu posso dizer para o aluno: “pode pular, garanto que você chega do outro lado sem sequer molhar os pés!” Ele vai e fica tudo bem. Às vezes, o rio é mais largo, não dá pra pular, mas eu sei de um trecho onde ele é mais raso. E posso dizer para o meu aluno: “Olha, você vai se molhar, mas vai chegar do outro lado em segurança.” Ele vai. Chega encharcado do outro lado, mas sorri agradecido e segue seu caminho.
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Só que, às vezes, muitas vezes, o rio é bem largo e bem fundo. É tão largo e tão profundo que vou ter que ter muito critério ao avaliar as chances dele chegar ao outro lado. Eu vou ter que perguntar, por exemplo, se meu aluno sabe nadar, se o preparo físico dele está em dia, se ele tem medo de água fria. Dependendo do que ele me responder, eu vou poder orientá-lo dos riscos da travessia e ele vai poder decidir se quer corrê-los. Pode ser que apenas de olhá-lo eu perceba que não vai dar para chegar do outro lado. Nessa hora é que vou ter de ajuda-lo a tomar as decisões certas, para que ele não morra se debatendo, desesperado, no meio do rio gelado. Se ele decidir correr o risco, vou pegar minha canoa e atravessar do seu lado, orientar cada braçada. Estarei ao seu lado se ele não conseguir completar a travessia e vou garantir que seus desafios não sejam solitários. E, se ele quiser permanecer na margem, não tem problema. Vou ficar ao lado dele, fazendo companhia, até a noite chegar.
5º ENCONTRO
O quinto encontro acontece com a costura customizada do percurso. Escolhemos a água como a linha de costura, por sua capacidade de fazer o próprio caminho, contornando obstáculos e contribuindo para fertilizar por onde passa. A observação dos rios desperta a visão transdisciplinar das conexões e relações ambientais, sociais, econômicas, políticas, a partir das nossas águas e de como as temos tratado. Elemento fundante da vida no planeta Terra e é essencial na realização
dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Também utilizamos o círculo, modo ancestral de organização humana. Mas na forma do círculo mágico, a mandala, expressão artística onde cores e formas são organizadas com o propósito de contribuir para a concentração da atenção, para a meditação, tão necessária para o processo de ensinar e de aprender.
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Os tesouros do percurso
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Esta turma foi composta por uma combinação muito especial de identidades que se complementaram no seu tempo, no ritmo do grupo, foram tecendo uma amizade alinhavada pelo fio da cooperação, do companheirismo, e da beleza de novas descobertas. 42
Marise Marise Esteves Lima formada em Pedagogia, História e Pós Graduação em EJA e já atuou na educação infantil, ensino fundamental e médio. Atua na rede há 12 anos e tem interesse nas questões ligadas a ecologia e guarda com carinho as marcas de um projeto que contribuiu com a revitalização da limpeza de um córrego perto da escola.
Verônica Maria Verônica Silva Fagundes graduada em Licenciatura plena em pedagogia, atua na Educação infantil e já trabalhou em escolas particulares e EJA. Foi monitora em uma ONG para crianças e adolescentes. Um fato que aquece suas memórias foi a sua participação no projeto com moradores de rua, cujo nome era Fora da caixa.
Sylvia Sylvia Conte de Oliveira é pedagoga, passou a trabalhar na rede publica em 2004, como professora de educação infantil, em 2017 recebeu o convite para atuar na Diretoria Regional de Educação da Penha. Seu foco é aprimorar-se como gestora, contribuindo através de processos baseados em uma sociedade sustentável, focando na valorização da vida no planeta. Uma das suas mais belas lembranças foi junto com sua equipe de trabalho: a idealização de um jornal de circulação interna no CEI em que era professora. Esse projeto foi tão bem sucedido que deu a elas uma menção honrosa e 5º Lugar em um Prêmio da Cidade de São Paulo.
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Mirella Mirella Clerici Loayza tem graduação em letras e pedagogia. É apaixonada por ciências e hoje atua e como Professora de Educação Infantil e Fundamental I, concomitante com o projeto de Docência Compartilhada com os 6ºs anos nas disciplinas: Português, Matemática, História e Ciências. Seu maior interesse hoje é contribuir na reestruturação do sistema educacional, além de contribuir por parte do despertar para a Consciência Planetária.
Nette
Eliane
Antoinette Matins atua na rede há 30 nos, tem na sua formação curso de pós-graduação, foi bancaria e adora viajar e descobrir as belezas da natureza na praia e na leitura, seu melhor projeto na vida foi ter uma filha linda.
Eliane Aparecida Jacinto é professora de educação infantil e tem licenciatura em Pedagogia. Atua na rede municipal há 12 anos, tem muito interesse nos processos que ajudam as crianças a se desenvolverem com plenitude, é muito feliz exercendo sua profissão.
Valéria Valéria Cristini Ferreira Santana de Sousatem na sua formação o curso de psicologia, ciências biológicas e pedagogia. Atua na rede pública municipal como professor de educação infantil há 14anos.
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Valdilene Valdilene Maria Silva dos Santos é pedagoga, professora de educação infantil. Seu foco é fazer a diferença na vida de cada criança que conhece. Um projeto que deixou marcas em seu caminho foi em 2014 no CEI Veredas, sobre identidade, nesse processo trabalhou-se a despertar da escuta, que permitiu que muitas estratégias fossem desenvolvidas para o fortalecimento das identidades das crianças.
Queli
Tatiana
Queli Fernandes Pinheiro tem na sua formação magistério e o curso de Educação física, o desenvolvimento de toda trajetória profissional a dedicação a área de educação, um projeto que marcou sua carreira foi na educação infantil, onde através de uma roda de história informal saiu um belo projeto sobre o bairro onde mora. Seu interesse é descobrir novas formas de ser uma peça importante no processo de transformação social dos pais.
Tatiana Silva Martins de Mello Sznick graduada em Letras e Pedagogia. Pós Graduação completa em Tradução e Pós Graduação incompleta em Literatura e Língua Inglesa, professora de ensino fundamental I,II e EJA (Educação de Jovens e Adultos) há mais de 10 anos, além de professora é tradutora e tem interesse por línguas.
Mara Mara de Fatima Esteves tem sua formação em Pedagogia com pós-graduação em ludo pedagogia. Já atuou na Educação de Jovens e adultos, Ensino fundamental regular, Programa intensivo de ciclo e educação Infantil. Seu maior interesse é o Desenvolvimento Infantil, um projeto que deixou marcas muito especiais foi o projeto de Leitura para Bebes. 45
Contação de Històrias O segundo encontro trouxe com o mote “Como vivemos, educamos” (Maturana): a escola, a Carta da Terra e a Agenda 2030 da ONU. O foco foi apresentar a Carta da Terra, como eixo ético que ilumina princípios e valores e a Agenda 2030, como um plano para os países do mundo, com 17 ODS - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, Maribel Albreschtt, que veio contar a biografia de mulheres inspirada pelo Livro “Histórias de Ninar para Garotas Rebeldes” de Elena Favilli e Francesca Cavallo. Foi uma conexão com o Objetivo que trata da equidade de gênero. Maribel Albreschtt é mãe de três crianças, contadora de histórias, atriz, membro brincante da Aliança pela Infância, blogueira e apaixonada pela vida. Como contadora de histórias desenvolve o trabalho “Histórias de Mulheres Incríveis” inspirada pelo Livro “Histórias de Ninar para Garotas Rebeldes” de Elena Favilli e Francesca Cavallo. Por Maribel Albreschtt, em novembro de 2017 Como contadora de histórias há oito anos venho percebendo cada vez mais a importância de alimentar crianças 46
pequenas com histórias ricas em conteúdos simbólicos. Vivemos um período onde a valoração de conteúdos considerados objetivos é exacerbada. Com isso, ressecamos o que há de mais rico na infância que é a imaginação. Através das histórias de contos de fadas, podemos preparar crianças pequenas a lidarem com sentimentos ambíguos e dar a elas repertório rico em imagens para navegarem pelas águas das emoções. Além dos contos, biografias também são importantes. Crianças precisam de exemplos a seguir. Nada mais interessante do que fornecer a elas, histórias de pessoas que mudaram seu ambiente através de liderança e ações. Em geral temos repertório de homens que mudaram o curso da história, deixando à margem biografias de mulheres igualmente incríveis que tiveram papéis fundamentais na transformação coletiva. Essas mulheres são exemplos de resiliência e luta, agentes importantes de mudança em muitos períodos da história. Hoje, vivemos um momento em que o movimento feminista vem ganhando força e tem nos obrigado a olhar para a vida sob outro ângulo. O que nos coloca numa posição muitas vezes desconfortável. Se para nós, adultos, munidos de repertório emocional e intelectual já é bem complexo, quanto
A formação do Universo
mais para crianças em formação. Por essa razão, reforço a importância de trabalhar em sala de aula conteúdos que as façam olhar por essa janela com mais clareza e ampliar horizontes. Tanto meninos quanto meninas serão beneficiados e, coletivamente, só temos a ganhar com isso. Mostrar exemplos reais de mulheres inspiradoras é muito potente. Criar relações mais equânimes é uma atitude sustentável, pois equilibrar essas forças nos colocará numa condição coletiva mais harmônica e justa.
No terceiro encontro o curso contou com a presença do Otavio Augusto Triverio Dias, que atua na Escola de Astrofísica de São Paulo, onde recebeu o grupo para conversar sobre a formação do Universo.
Com esse texto não quero reforçar a necessidade de se levantar bandeiras e sim que nos coloquemos como pessoas atuantes no mundo, atentos ao que nosso tempo está nos dizendo. Que caminhos podemos tomar para ajudar crianças em formação a lidarem com os paradoxos atuais? Como profissionais atuantes, é possível oferecer um repertório condizente com as diferentes faixas etárias e acolhedor.
Por Otavio Augusto Triverio Dias, em novembro de 2017.
Trabalhar em sala de aula as biografias de mulheres fortes, altruístas, corajosas é um caminho possível para a desconstrução da desigualdade de gênero. Nada mais estimulantes que ajudar crianças a serem agentes igualmente transformadores. Sejamos nós essa fonte de inspiração!
Otavio Augusto Triverio Dias, tem formação em Física pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1999) e mestrado em Física pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho(2004). Tem experiência na área de Física, com ênfase em Física das Partículas Elementares e Campos.
Vivemos aqui e agora. Data e época muito específicas, que entendemos bem. Temos dificuldades em conceber épocas passadas e futuras. Há 30 anos imaginávamos carros voadores. Temos dificuldades em entender culturas e tecnologias de tempos remotos. Algumas culturas falam em um Universo que existe há cerca de cinco mil anos, outras em universo que possivelmente sempre existiu. 47
Questões como essas são importantes para nós e, a ausência de respostas a elas é, muitas vezes, perturbadora. Na aula dirigida ao curso sobre APRENDENDO E ENSINANDO SOBRE SUSTENTABILIDADE E OS OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, da UMAPAZ, desnudamos um pequeno panorama histórico da evolução do Universo. Em poucos séculos a ciência se desenvolveu como uma importante ferramenta de entendimento dos mecanismos naturais que nos cercam e que fazem parte de nós. Os dados que coletamos até o presente momento apontam para um instante em que tudo que existia esteve comprimido em uma pequena região - a única existente, naquele momento. As teorias científicas e os experimentos nos dizem ainda que houve um momento em que o espaço se expandiu, crescendo e crescendo até atingir tamanhos que nossas cabeças têm dificuldade em conceber. Naturalmente, em nossas vidas diárias, conseguimos nos ver como parte de uma comunidade, de um bairro, uma região e uma cidade. Nesta aula conquistamos, sobre os ombros de gigantes, a condição de entender um pouco mais sobre nosso lugar no Universo: aprendemos sobre o tamanho da Terra e do Sol, descobrimos planetas próximos orbitando a principal estrela de nosso céu e milhares de pla48
netas ao redor de outras estrelas. Conversamos sobre os mecanismos naturais que levam à existência de galáxias e estrelas, e sobre como planetas são formados. Tivemos a oportunidade de discutir nosso endereço no Universo - vivemos na Terra que orbita o Sol que, por sua vez, orbita o núcleo da Via Láctea - e, a partir disso, pudemos conversar sobre nosso lugar em relação à pessoa que mora do outro lado do mundo. A matéria de que nós e nossos planetas somos feitos foi gerada em uma mesma estrela que já não existe mais. Qual a relevância das pequenas disputas diante da possibilidade de descobrirmos o mundo e novas ferramentas para interpretarmos nossa realidade? Quisemos, a partir das poucas informações que temos sobre o Universo, revisitar questões antigas e suscitar novos questionamentos e posturas.
A història da vida no planeta Terra: das bactèrias fotossintetizantes ao homem No terceiro encontro logo após a aula sobre a criação do universo, o curso recebeu a presença da bióloga Ana Maria que veio compartilhar com essa turma como foi aos olhos da ciência o surgimento e o evolver da vida no planeta. Ana Maria Brischi - Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo (1988) e mestrado em Ciências Biológicas (Biologia Vegetal) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2000). Atualmente é professor mestre - Faculdade de São Paulo - FASP e Analista em Saúde Por Ana Maria Brisch, em novembro de 2017. O trabalho teve inicio com a apresentação de uma linha do tempo, onde ficam visíveis inúmeras evidências das diferentes formas de vida que ocuparam o Planeta Terra ao longo de 2,5 bilhões de anos. Foram apresentadas as diferentes e principais metodologias de determinação da idade de rochas e fósseis, destacando-se a datação através da análise de decaimento de
certos elementos radioativos (urânio em cristais de zircônio, potássio 40, carbono 14, entre outros) e a bioestratigrafia e a correlação fossilífera. Seguiu-se a apresentação de um escala do tempo geológico, com a marcação dos eventos importantes com relação à evolução da vida no planeta. Então, foi compartilhada a existência de rochas de 2,5 bilhões de anos, com grande quantia de faixas ferríferas, resultantes da combinação de ferro e oxigênio. O ferro oxidado registra a presença do oxigênio livre na atmosfera a partir desse momento, produzido pela fotossíntese de bactérias fotossintetizantes. Os registros dos mais antigos estromatólitos, formados por depósitos de carbonatos metabolizados por algas unicelulares, foram datados com idade em torno de 3,5 bilhões de anos. Os principais registros da vida são: •Pré-Cambriano, anterior à Era Paleozóica, iniciando-se com a apresentação da Fauna de Ediacara, de cerca de 600 milhões de anos, e o Folhelho de Burgess, do Canadá, de 515 m.a., com destaque para a Coleção on line do Royal Ontário Museu. Os quais possibilitaram a discussão sobre o movimento das placas tectônicas e o aparecimento e desaparecimento de continentes. •Os períodos Cambriano, Ordoviciano, Siluriano, Devonia49
no, Carbonífero e Permiano foram apresentados enfatizando-se a ocupação dos ambientes aquáticos pelos peixes e dos terrestres pelos anfíbios e primeiros répteis, e a evolução de plantas e animais até espécies próximas às espécies atuais. •A Era Mesozóica que teve seu inicio e no Período Triássico há 250 milhões de anos, quando a existência de um grande continente árido, a Pangéia, propicia a diversificação dos répteis e o aparecimento das coníferas, caracterizados pela reprodução independente da água. •Fase de desenvolvimento que preparou o planeta para o Período Jurássico, que prosseguiu com a diversificação dos grandes dinossauros, e o surgimento das aves, e o Cretáceo traz o aparecimento das plantas com flores e polinizadores. O fim da Era Mesozóica, a 65 m.a., é marcado pela extinção em massa de invertebrados marinhos e animais terrestres acima de 25 kg. •A Era Cenozóica que ocorre entre cerca de 65 até 23 milhões de anos atrás, é a Era dos Mamíferos, e há 30 m.a. surgem as gramíneas, importantes como recursos alimentares para mamíferos herbívoros.
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•Há 15 milhões de anos inicia-se a evolução humana. Faunas e floras progressivamente tornam-se mais próximas àquelas existentes atualmente. •A apresentação da linha do tempo geológico e da evolução da vida, são estratégias pedagógicas para evidencias das origens da biodiversidade no Planeta Terra, bem como as sucessivas extinções pelas quais a Terra já passou. A vida, entretanto, sempre encontra uma maneira de se perpetuar.
Encontros Indìgenas: A experiência do CIEJA Campo Limpo No terceiro encontro foram recebidas as educadoras Amanda Lima e Cristiana Sá, do Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos de Campo Limpo (CIEJA CL), com o intuito de compartilhar a metodologia e experiência vivida por este centro com do envolvimento desta unidade escolar com as questões que contemplam o trabalho com os indígenas. Amanda Cos Lima - biológa e pedagoga especialista em educação ambiental e professora de ciências no CIEJA - CL. Cristina Fonseca Sá - pedagoga, bacharel em Direito e assiste da coordenação geral do CIEJA - CL. Por Amanda Lima e Cristina Sá, em outubro de 2017 O Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos – Campo Limpo (CIEJA – CL), situado na Zona Sul da Cidade de São Paulo, atende alunos jovens e adultos nas turnos da manhã, tarde e noite. Seu corpo docente é composto por professores efetivos da Rede Municipal de Educação. As sequências didáticas dos encontros (aulas) seguem me-
todologia investigativa, sendo compostas pelas etapas: sensibilização; hora de falar; situação problema; nossas ideias; procurando respostas e minhas descobertas. Os encontros sempre se iniciam com reflexão partindo de uma frase, socialização dos registros de diário de bordo, leitura do professor e continuação ou início de uma etapa da metodologia utilizada. A equipe gestora da unidade incentiva o corpo docente a participar de formações e que estas sejam compartilhadas com os demais pares. Em 2004 dois professores participaram de um curso para sensibilização e implementação da LEI Nº 10.639/2003. Ao compartilharem os conhecimentos tratados no curso, surgiram diversas ações do coletivo de professores, que provocam o olhar para diversidade, sendo palestras, trilhas, cursos, eventos. No mesmo ano, realizou-se o 1º Seminário Negro e Educação - Desconstruindo e construindo imagens do CIEJA CL. Já em 2008, foi instituída a LEI Nº 11.645/2008 e neste mesmo ano o CIEJA CL recebeu indígenas guaranis no seminário. Estes indígenas foram conhecidos através das trilhas realizadas pelo corpo docente no pico do Jaraguá. Em 2010, em visita ao Revelando São Paulo e compartilhando 51
ações do CIEJA CL, se conheceu o Awa Tupi-Guarani e foi feito o convite para que viesse compor mesa no seminário Negro e Educação no ano seguinte. Em 2011, foi realizada uma vivência e imersão em Miracatu pela equipe do Centro de Educação. Já no seminário, tendo sido composta a mesa com o indígena Awa e com Kabenguele Munanga, ficou evidente a necessidade de uma reformulação na apresentação indígena. O formato proposto não era confortável. Nova metodologia foi testada em 2012. Houve a participação também de pesquisadores da causa indígena e todos os convidados indicados foram oriundos dos eventos de que os docentes participaram. O convite à participação não implica remuneração, apenas caronas solidárias dos docentes. Após este seminário, em avaliação com os indígenas surgiu a necessidade de se fazer um encontro separado do Seminário Negro e Educação, por necessitarem de formatos distintos e iniciar uma discussão sobre a luta indígena. Assim, em 2013, ocorre o encontro indígena, evento com olhar indígena, com roda de conversa, toré, comida típica, centro, artesanato, pintura corporal. O grupo docente sensibiliza os alunos para o tema através de frases, vídeos, palavras indígenas, pesquisas, personagens das situações problemas, culinária indígena, escritores indígenas, livros, 52
contos, contações de histórias, instalações, exposições, visita a aldeia e oficinas. Anualmente o CIEJA CL tem realizado os Encontros Indígenas, pois consideramos que estamos obtendo resultados significativos, tais como: auto-identificação; pesquisa de ancestralidade; desconstrução de estereótipos; respeito à pluralidade e outros que, ao nosso ver, são necessários para a construção de uma sociedade pautada no respeito e na justiça.
Possìveis itineràrios
Inspirações replicáveis Seguem 3 exemplos de atividades que foram compartilhadas neste curso como práticas que podem ser replicáveis. Por Marise Esteves Lima Trabalho idealizado e implementado na Emei, onde nossa colega Marise atua, foi implementado desde o inicio do ano, o projeto Meio Ambiente, teve como objetivo observar e explorar a natureza por meio da curiosidade, percebendo-se integrante, atentos a relação de co- dependência que todos temos. Um dos desejos era que esse projeto despertasse nas crianças atitudes de conservação, preservação através de práticas de reuso, reciclagem e replantio.
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Todas as crianças e funcionários foram envolvidos no projeto desenvolvendo e participando de atividades como: construção de painéis pelas crianças; confecção de um livrinho a partir da historia infantil “TUDO VEM DA TERRA: MIGUEL O MENINO CURIOSO”; rodas de conversa, vídeos que tratam a questão do lixo, reciclagem e coleta seletiva; plantio de árvores pelas crianças e pais; construção de um borboletário.
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Por Mara de Fátima Esteves A Mara participou da implantação do projeto “Educar para o encantamento” no Centro de Educação Infantil em que ela trabalha. No projeto as educadoras conversam com as crianças sobre a importância das plantas, mostramos gerânios floridos para que elas pudessem sentir a textura das folhas e o cheiro da flor, falamos sobre o que elas precisam para viver, cuidados com a
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terra, regas, sol... Fizemos a plantação numa sementeira que fica no solário da Unidade de modo que, todos os dias podíamos acompanhar o desenvolvimento da sementinha.Após a semeadura, as regas aconteciam no final da tarde dia sim dia não. Foi utilizada terra adubada pelas crianças do mini grupo II que usam cascas de banana numa composteira, uma floreira grande, sementes de crotalária. Decorreram dois meses entre o plantio e a floração.
Por Mirella Clerici Loayza A Mirella desenvolveu um trabalho de escuta com o foco no tema “Unidade na Diversidade”, pois para ela não é possível trabalhar o respeito às diferenças e às diversidades se as nossas crianças não tiverem desde cedo um senso de Unidade e Igualdade, somos todos iguais, mesmo em nossa unidade, somos todos homo sapiens. E por sermos “teoricamente” os únicos “sapiens” faz se necessário cuidar de todas as formas viventes que dividem o planeta conosco. Foram realizadas varias conversas sobre a relação do lixo e a água e de sobre a importância do saber sobre o real destino do lixo. Foi conversado sobre o impacto do lixo nos rios e no mar. Já conversamos sobre as sacolas plásticas, e de como as tartarugas “precisam da ajuda do homem”, pois se engasgam com a sacola achando que era uma “água viva”, e se os homens não as encontram? Na unidade escolar existe uma horta nessa escola, desde 1989.Nessa mesma horta, Dona Iracema, faz um trabalho de compostagem e tem um pequeno minhocário, e sempre está super solícita a receber as crianças e conversar sobre a importância das minhocas para que nossas plantas cresçam.
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ReferĂŞncias
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