Diego Malicheski - Rocio canvas: identidade autoral por meio da ressignificação

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ROCIO CANVAS: IDENTIDADE AUTORAL POR MEIO DA RESSIGNIFICAÇÃO Diego Evandro Malicheski1 Daniele Moraes Lugli2 RESUMO Este artigo descreve o processo de um projeto de coleção que parte da compreensão do conceito da originalidade na moda, e procura investigar como ressignificar referências a fim de levantar potenciais características da pesquisa para um projeto de coleção autoral, e a partir do estudo de marcas, elencar elementos eternos e efêmeros como traços de identidade. Por meio de pesquisas bibliográficas, seguida de pesquisas e análises semânticas de seis marcas de prêt-à-porter, dezessete looks foram projetados a fim de idealizar e experimentar a identidade autoral em forma de coleção, buscando traduzir referências em forma e cores, através de pesquisas e estudos criativos. Palavras-chave: originalidade, ressignificar, identidade, coleção. 1 INTRODUÇÃO A busca pela originalidade na moda é estimulada pela meta de criar algo definitivamente novo, porém, esta não poderia ser ultrapassada por nada ainda mais novo. “Quando um artista ou criador de moda faz algo novo, descobriremos que a ‘condição subjacente do original’ é a ‘realidade sempre presente da cópia.” (SVENDSEN, 2009, p. 29). Dessa forma, como ressignificar referências de moda a fim de criar uma coleção com caráter inédito? O presente projeto parte de uma revisão bibliográfica que explora algumas áreas do design para buscar embasamento teórico e, a partir deste, foi realizado um levantamento visual de marcas de moda a fim de classificar critérios semânticos e elementos de estilo importantes dentro do eterno e do efêmero neste universo. A partir desta análise, foi desenvolvido um projeto de coleção com o objetivo de distinguir qual é a relevância do conceito de originalidade no processo de criação de moda, e como a pesquisa de referências pode significar o desenvolvimento de um produto autoral e com identidade própria, aproximando-o do consumidor final. 1


2 A ORIGINALIDADE NA MODA? A moda é um fenômeno que trata do modo de vestir e das mensagens que as roupas trazem, atuando sobre diferentes ciclos ao mesmo tempo. Para Sudjic (2010) o ser humano é naturalmente programado a procurar variações no mundo que o rodeia, assim como espera vê-lo em constante mudança. Esta reflexão pode caracterizar o consumo através de tendências, uma vez que os consumidores são bombardeados por informações e novas referências todos os dias. Assim, cabe aos designers lidar com este fenômeno criando novas versões dos produtos para estes consumidores. Para Houaiss e Villar (2004) original deve ser único, novo e autêntico, o que é excepcional e fora de padrões. Silva e Fernandes (2012) afirmam que originalidade encontra-se na percepção e na concepção do autor, ou seja, essa permeia o seu processo de criação, através do seu toque pessoal, da essência atribuída ao objeto. Originalidade tornou-se fator de competitividade na indústria da moda. Segundo Doris Treptow em entrevista concedida a Oliveira (2014), a busca por referências em outras épocas não é vista como estigma ruim quando aplicada com sabedoria. Portanto, a diferença está em “como” a cópia é realizada dentro de um contexto maior, manifestando resultados por meio da pesquisa de moda. O referido autor complementa expondo a ideia da estilista Miuccia Prada que reviveu a silhueta de uma jaqueta Balenciaga vintage em uma coleção atual, apropriando-se de valores estéticos e modelagem para desenvolver um novo olhar sobre o produto. Sendo assim, é possível obter resultados satisfatórios apostando em fórmulas de sucesso, mas, com caráter inovador e autêntico a fim de caracterizar uma nova versão do que já foi criado. Sant’Anna (2009, p. 44) acredita em três pilares para a discussão do novo: “o novo adquire estatuto de legitimidade numa formação discursiva em que o outro não é a ausência nem o diferente, mas a possibilidade de existência do mesmo”. Sendo assim, o novo sempre será o depois, o atual, uma vez que o outro deverá compôr uma semelhança com o que já existe, ou seja, o mesmo. Portanto, a autora afirma que o presente supera o que já foi, e assim acontece o novo que deverá ser sempre melhor, mais bonito, menos autoritário, menos violento e mais sedutor.

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Por outro lado, em que medida ainda existe alguma coisa nova? Com o ritmo acelerado de desfiles e lançamentos de moda, seria óbvio que há pouco tempo para desenvolver novas ideias, e o resgate de informações em outras épocas seria um processo natural. “É possível afirmar, contudo, que o cultivo da novidade pela vanguarda foi estimulado pela meta de criar o definitivamente novo, que não poderia ser ultrapassado por nada ainda mais novo, e que portanto ela não abraçou por completo a lógica da moda.” (SVENDSEN, 2009, p. 29). As considerações sobre o novo são importantes para o presente estudo, uma vez que é possível levantar critérios para a definição da criação original, e como é importante reverter estes critérios para produtos com design autêntico, novo e, quem sabe, insubstituível. Embora a originalidade seja valorizada, é preciso encontrar um pouco de equilíbrio: a moda não acerta seu alvo se estiver demasiadamente à frente de seu tempo ou se chegar a ponto de desrespeitar e causar escândalo. (...) Você precisa enxergar além daquilo que já existe e descobrir novas combinações de ideias e materiais que possam satisfazer as necessidades e os desejos das pessoas. A inovação surge com a visão e a coragem para mudar as regras com absoluta liberdade. (JONES, 2005,p.172).

Para que a moda seja um ciclo, Svendsen (2009) afirma que um objeto de moda não precisa de nenhuma qualidade particular além de ser novo. O princípio da moda é criar em uma velocidade cada vez maior, e tornar um objeto supérfluo o mais rapidamente possível, para que um novo tenha uma chance. A novidade está atrelada às condições internas e rápidos acontecimentos do que baseada em condições políticas da sociedade, logo, ela não pode ser compreendida como tentativa de alcançar um ideal atemporal. “Se as saias estão mais longas durante uma estação, não é porque a sociedade se tornou mais puritana, mas porque tinham estado mais curtas.” (SVENDSEN, 2009, p. 31). Revisitar épocas, reaproveitar modelos de sucesso, e buscar autenticidade podem ser passos para a caracterização de uma possível nova solução de design, mas não deve ser a solução dos problemas, uma vez que a moda desenvolve seu ciclo conectada a todos os pontos de contato para definir o novo.

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3 O INDIVÍDUO, O NOVO E O REPERTÓRIO É possível reconhecer que a moda, por natureza, tem necessidade de se reinventar a qualquer momento. Porém, esta não necessita ser totalmente inusitada, afinal, o novo deve ser o jamais visto anteriormente. Mas como definir o que foi visto em um âmbito geral da população, e como é possível identificar o que é novo para um consumidor sem conhecer seu repertório? Segundo Beccari e Almeida (2014) a relação entre indivíduo e o objeto é totalmente arbitrária e simbólica numa realidade socialmente partilhada, uma vez que aquele cria mediações de design para cada objeto ou produto com o qual entra em contato. Os autores exemplificam a definição de arbitrário assim como a possível semelhança de uma nuvem com o formato de um coelho, que só acontece quando o fenômeno entra em contato com o repertório simbólico do indivíduo. Há uma dimensão simbólica que nos conecta com o mundo, um tipo de mediação ancestral que permanece efetiva e decisiva nos processos comunicacionais na medida em que, impedindo-nos de compreender o mundo sem nos referirmos a nós mesmos, sem sermos parte do que vemos e sentimos, confere-nos a aptidão de dar sentido ao mundo, ao que somos e ao que fazemos. (BECCARI; ALMEIDA, 2014, p.147)

O conceito de mediação simbólica que os autores expõem acima pode ser relacionada à definição do novo na mente dos indivíduos, e como este se relaciona aos produtos de moda. Referências são úteis a partir do momento em que o designer desenvolve sua criação relacionando algo que tenha armazenado como interessante ou útil para a concepção da coleção. “Quando se começa a criar moda, seus gostos, assim como a sua personalidade, estão parcialmente formados por seu meio, posição social e experiências. Isso será o cerne de seu espírito expressivo singular.” (JONES, 2009, p. 172). O repertório deve evoluir gradualmente, ao longo de anos de imersão em trabalho, pesquisa e de observação aguda do trabalho de outros estilistas, arte, arquitetura, comportamento e todas outras fontes de inspiração. Em diálogo com o designer Jum Nakao, Nacache (2013) afirma que as pessoas trabalham como colecionadores, assaltantes de imagens e memórias, possibilitando 4


combinações e recombinações infinitas. Tudo é armazenado, construindo um grande repertório que é utilizado de acordo com o desafio, proposta ou tema. “Um designer não trabalha

com

configurações

lineares,

como

textos

literários

ou

enredos

cinematográficos, mas nem por isso deixa de forjar narrativas diversas.” (BECCARI; ALMEIDA, 2014, p.148). Ao unir e cruzar os elementos, é possível criar uma interpretação pessoal para solucionar o desafio, e Nacache (2013) confirma que não existe a possibilidade de um mergulho nas referências atuais tornar todas as criações iguais, pois cada indivíduo organiza suas referências de formas diferentes no momento da criação. O processo de criação de design de superfície à partir da utilização de referências visuais também se aplica a outras formas de design: Existe diferença entre uma referência visual e uma referência conceitual. O processo deve desenvolver-se a partir de “pistas” oferecidas por essa referência e não a partir de ideias, conceitos ou livres associações. Ao se iniciar o processo muitas vezes tem-se a desagradável sensação de estar fazendo uma simples cópia e que nada de novo poderá surgir naquele trabalho. No entanto, assim que mergulhamos no processo as surpresas surgem e nos deparamos com resultados novos e inesperados, dando-se conta de que um fluxo inesgotável existe dentro dela. A alegria sentida nessa constatação não pode ser descrita, sua intensidade só pode ser medida se for vivenciada. (RUBIM, 2010, p.43)

Entretanto, definir um repertório e criar a partir dele não seria tão simples se não existisse a influência, que segundo Guerra (2010) é uma via de mão única, uma espécie de contaminação involuntária, sobre a qual os sujeitos envolvidos pouco ou nenhum controle teriam. O autor supracitado ainda afirma que “a influência cultural é, desde sua origem, um processamento que implica em seleção e adaptação, mesmo considerando que em parte ela possa ser contrabandeada por mecanismos sutis da subjetividade ou por imposições culturais.” (2010). Desconsiderando cópias literais ou diretamente influênciadas, a mediação e construção de repertório é convergente às interpretações dos autores relacionados acima, sendo assim, o desenvolvimento a partir do repertório individual busca criações autênticas inpiradas em fontes criativas, gerando novas configurações para o que já foi visto ou não.

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4 O ETERNO E O EFÊMERO Estabelecer conexão entre produto e indivíduo é responsabilidade do criador que deseja comunicar seu conceito através de tecidos, aviamentos, estamparia, formas, texturas, etc. Para Beccari e Almeida (2014) autor é aquele designer que propõe à comunicação direta de uma pessoa com um objeto/imagem de forma simbólica, ou seja, uma situação de descoberta que deve se relacionar com o mundo ao redor do indivíduo. Cabe àquele estabelecer um diálogo com o repertório deste, e caso não exista diálogo, não existe autoria. Portanto, os produtos que carregam significados com aspecto autoral possivelmente tem maior apelo para os consumidores, assim como sua validade e seus critérios de eternidade e efemeridade. Houaiss e Villar (2004) definem eterno como algo inesquecível, que dura para sempre, ou seja, algo autoral e com identidade própria certamente receberia estes conceitos. Fletcher e Grase defendem que roupas multiuso constroem relação mais duradouras com o usuário: As pessoas são instáveis e emotivas, volúveis e inconstantes, e vivem em uma sociedade cujos valores e crenças estão em contínua transformação. Embora a própria moda evolua com o tempo para refletir a sociedade e a cultura, os produtos fabricados em escala industrial, ainda que versáteis, são fisicamente estáticos. As peças multiuso tratam de lidar com esta inércia, construindo uma relação mais sólida e duradoura centre produto e consumidor, por meio de múltiplos níveis de envolvimento. (2011, p.78)

Opções de uso, relação duradoura e versatilidade são características que podem fortalecer o conceito de ser eterno. Além de aspectos físicos, a moda eterna poderia estar relacionada à traços de identidade e estética, assim como Svendsen (2009) afirma que o estilista Martin Margiela violou explicitamente os costumes quando repetiu suas criações anteriores em novas coleções e, ao fazê-lo, repudiou a exigência de que fosse “novo”. Contudo, esta ação revelou que Margiela não poderia ser completamente inédito a cada estação, e que provavelmente gostaria de reforçar sua marca, sua identidade. O estilista trabalhou com esta ideia de várias maneiras: “em 1997, por exemplo, fez roupas a partir de coleções antigas (um traje a partir de cada uma das 18 coleções que havia produzido) e depois tornou-as ‘velhas’ de novo borrifando-as com 6


agentes fertilizantes e pulverizando-as com bactérias, mofos e fungos. (Figura 1)” (SVENDSEN, 2009, p.35). FIGURA1– COLEÇÃO DE MARGIELA

FONTE: YOSEFINA (2013)

Atitudes como as do estilista Martin Margiela definem traços eternos em coleções de moda. Sendo assim, é este o aspecto que cria identidade e estabelece relação estética de mediação simbólica com o público-alvo da marca, uma vez que este observa o desfile e rapidamente relaciona a obra ao criador. Sendo assim, o próprio autor estava certo em afirmar que a moda é a eterna recorrência do novo, e seria difícil imaginar o novo ocorrendo sem pertencer ao passado. “A moda não parece mais conter nenhuma surpresa para nós.” (SVENDSEN, 2009, p.36). Portanto, este autor expõe que o processo de reciclagem de tendências atingiu tamanha velocidade que as roupas mal têm tempo de ficar fora de moda antes de voltarem a ser moda novamente, abolindo sua própia lógica, sendo efêmera por si só. Efêmero para Houaiss e Villar (2004) é o que dura pouco. O efêmero está diretamente ligado à transazonalidade, que para Fletcher e Grase (2011) é o efeito “temporada artificial” que a moda criou para fazer os consumidores desejarem cada vez mais novos visuais e estilos. A participação nessas temporadas criadas pelo homem denota um código social, uma sensação de ser bem-sucedido, de ser capaz de estar a par das últimas tendências em um fluxo contínuo do sistema industrial da moda 7


efêmera. As autoras concluem que conceitos transazonais começam a envolver os designers, e também os usuários, em níveis que vão além dos aspectos materiais da moda, e envolvem também os imateriais, estimulando o consumidor a acelerar ou desacelerar o processo de obtenção de novos produtos. “Vivemos num mundo que temos que ser ágeis e rápidos. Meu acordo com a Chanel prevê quatro coleções por ano, mas eu faço oito”, disse Karl Lagerfeld, que é grande defensor do ritmo “velozes e furiosos” da moda em entrevista para Whiteman (2015). Já o diretor de criação da Maison francesa Lanvin, AlberElbaz, afirma que précoleções são totalmente guiadas por tendências, uma vez que estas coleções são lançadas em grandes eventos a fim de preencher o guarda-roupa das consumidoras com o que há de icônico na estação, ou seja, o que há de desejo efêmero. Todavia Embacher (2004) afirma que a identidade tem certa materialidade, e como objetivo almeja alcançar um estado de agir perante a sociedade, que é norteada pelo desejo de ser ou possuir algo. É possível relacionar o pensamento do autor à recorrente discussão do indivíduo que busca o novo, a tendência e também o traço de estilo autoral que pode ser definido como identidade. Definido que o produto de moda deve ser preferivelmente novo ou revisitado, renovado e com identidade, é possível traçar linhas de raciocínio para o futuro projeto de coleção a ser desenvolvido. Como características de pesquisa duas categorias foram encontradas: a efêmera, diretamente ligada ao passageiro e às tendências de moda; e a eterna, ligada ao DNA e a identidade de uma marca. A partir disto, será possível elaborar uma pesquisa de marcas e grandes estilistas que representem estes traços em elementos de estilo, a fim de criar mediações simbólicas e estéticas para desenvolver uma identidade própria, buscando análise de referências de sucesso.

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5 DESENVOLVIMENTO DA COLEÇÃO 5.1 Análise eterno e efêmero das referências Dado o início a fase prática do projeto, seis marcas foram selecionadas pelo autor a fim de levantar características eternas e efêmeras que pudessem ser comparadas e relacionadas em um período de cinco coleções resort. As marcas analisadas foram divididas em duplas, sendo elas: Céline e Chloé; J.W. Anderson e ProenzaSchouler; Kenzo e Stella McCartney. A análise buscou levantar elementos que se repetiam, formando as características eternas da marca, além dos pontos passageiros de tendência, os efêmeros. A escolha de cada marca foi baseada no nível de importância referencial para o autor, sendo justificado pelas informações que carregam. Portanto, formaram três pequenos pilares: feminino, vanguarda e pop. No pilar feminino, Piazza (2015) afirma que Chloé busca interpretar a feminilidade e o zeitgeist da década através de leveza e delicadeza no corte do tecido, com densidade em referências culturais, assim como Céline (Figura 2) que demonstra sensibilidade para peças simples e práticas, que são pensadas para a vida real de mulheres dinâmicas, atentas a cada detalhe. No pilar vanguarda, onde Proenza Schouler e J.W. Anderson representam o refinamento e sofisticação com abordagem anticonvencional em relação as tendências de mercado. E por fim, o pilar pop representado por Kenzo com seu universo imagístico de experimentos poéticos através de silhuetas orientais em tecidos refinados e delicados, e a britânica Stella McCartney, que segundo Piazza (2015) propõe uma feminilidade construída sobre o conforto e a funcionalidade, além de ser generosa em volumes sem renunciar à sensualidade e à harmonia na forma.

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FIGURA 2 – ANÁLISES ETERNO E EFÊMERO DAS REFERÊNCIAS

FONTE: O AUTOR

Esta análise foi importante a fim de reconhecer em profissionais de renome a importância de uma coleção bem construída, com elementos fortes, unidade, entre todos os outros fatores que tornam o design original e com características novas a cada coleção. Além disso, foi possível criar reflexões para os critérios de escolha para os possíveis elementos de estilo da coleção que foi desenvolvida neste projeto. 10


5.2 O eterno e o efêmero do autor A partir das análises e outras etapas de desenvolvimento da coleção foi possível levantar as características eternas na criação do autor (Figura 3). As linhas geométricas e shapes volumétricos são características que serão permanentes nas criações, elas são trabalhadas em materiais estruturados, e com caimento rígido, que necessita de modelagem específica para ter bom resultado. Texturas também são elementos que deverão ser trabalhados de diversas formas, sejam elas táteis ou visuais, mas elas merecem tratamento especial. O alto contraste entre o preto e branco é como a dualidade da vida, então estes elementos podem estar juntos, ou separados, mas também estarão presentes. Camadas e estrutura no acabamento das peças serão desafios de modelagem para que as criações saiam do papel, criando assim o DNA Rocio Canvas. FIGURA 3 – ETERNO AUTOR

FONTE: O AUTOR

Os traços efêmeros foram levantados a partir dos filtros de pesquisa baseados em tendências de moda e imagens de redes sociais como pinterest, tumblr, blogs, entre outros acessos digitais. Os periódicos de moda também foram analisados quanto ao conteúdo de imagens, que possuem curadoria de profissionais da área. Exercitar os traços efêmeros de uma coleção foi interessante a fim de entender como as tendências 11


podem se relacionar com o DNA de uma marca, e compor a identidade da coleção mesmo sendo momentâneas para aquela estação. Portanto a pesquisa de tendências definiu quatro traços efêmeros (Figura 4) para a coleção: relevo, simulam relevos minerais e texturas táteis através de técnicas de estamparia; amarrações, fios e cordões que permitem ajustar a peça com toque esportivo; rosa quartzo, cor tendência dos bureaux de pesquisa para o inverno 2016; e o esportivo que acrescenta elementos utilitários à coleção. FIGURA 4 – TRAÇOS EFÊMEROS

FONTE: O AUTOR

5.3 Resultado Tendo como inspiração sua mãe, Maria do Rocio Kulka, o autor pesquisou o significado da originalidade na moda e qual a importância de ressignificar referências a fim de criar uma coleção autoral, e assim apropriando-se do segundo nome dela para batizar o projeto de Rocio Canvas. Canvas, do inglês, significa tela, que inicialmente em branco se torna completa após uma pesquisa semântica de elementos eternos e efêmeros na moda, buscando entender seus variados significados da construção de identidade em grandes nomes da moda atual. Sendo assim, a primeira coleção (Figura 12


5) Rocio Canvas (R.C.) busca inspirações profundas do autor, tornando-as elementos que podem vir a ser identidade ao decorrer de cada coleção, refletidos em forma de herança e características do indivíduo que constrói um produto autoral. FIGURA 5 – COLEÇÃO INVERNO 2016 ROCIO CANVAS

FONTE: O AUTOR

Feita para duas mulheres específicas, a coleção veste uma mulher mais madura com perfume artsy, ela é rara e também difícil de encontrar, porém, seu gosto é tão refinado que se torna um padrão para outras mulheres. A outra mulher é a versão jovem da anterior, que tem as mesmas características porém frequenta grupos sociais diferentes, mas são muito parecidas por terem gostos em comum. Definidos os traços eternos da identidade R.C., estes foram transportados para a coleção através de cores, camadas, ritmo, coordenação visual e modelagem estruturada. Os tecidos utilizados foram: blackout, crepe, lã, malha dublada, jacquard (malharia retilínea), e cetim com elastano para forro. A escolha de tecidos foi essencial para que o resultado esperado fosse alcançado, uma vez que a harmonia da coleção 13


dependia das cores dos artigos disponíveis no mercado. Aviamentos decorativos e de estrutura, estamparia e detalhes únicos foram escolhidos para estabelecer unidade à coleção, fortalecendo todos os fatores que tornam um produto parte de um conjunto. Os aviamentos decorativos utilizados foram: acoplado cortado à laser e ilhós de metal, todos os outros como zíper invisível e metal, tule com elastano, elástico de embutir, fio de pesponto, entretela e colchete de pressão foram essenciais para a construção e acabamento das peças. FIGURA 6 – ESTAMPA HERANÇA

FONTE: O AUTOR

A estampa herança (Figura 6) foi criada a partir de recortes de ilustrações de objetos e pedras preciosas, a fim de retratar o conceito do nome da mesma. O aspecto figurativo da estampa herança foi contrastado com as estampas predominantemente gráficas, como o jacquard geométrico, anchors, e craquelado (Figura 7). FIGURA 7 – ESTAMPAS: JACQUARD GEOMÉTRICO, ANCHORS E CRAQUELADO

FONTE: O AUTOR

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Com a produção fotográfica (Figura 8), foi possível fortalecer ainda mais a identidade R.C. através de uma imagem intensa e contemporânea. A direção de arte partiu do conceito de leve movimento para a coleção que traz peças estruturadas mas que tem seu momento fluído. FIGURA 8 – PRODUÇÃO FOTOGRÁFICA

FONTE: O AUTOR

Por fim foram confeccionados nove looks, o que possibilitou experimentar diversos shapes, técnicas de estamparia e acabamentos propostos durante o processo descrito, verificando a viabilidade da coleção e a aplicação dos conceitos apresentados na etapa de pesquisa e planejamento da coleção Rocio Canvas inverno 2016. 15


6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Questionar a originalidade no desenvolvimento de uma coleção de moda foi essencial para compreender como os conceitos “novo” e “autoral” são fundamentais no momento da criação. Alinhando teoria à prática, foi traçado um método de pesquisa que permitiu extrair características do desenvolvimento de coleção de cada um dos renomados estilistas escolhidos como referência, formando assim referências de peso para a construção do autor. Estes processos ocorrem naturalmente durante o processo de criação de um designer de moda, porém, muitas vezes é confundido com a cópia, ou então com uma apropriação do que já foi visto. Sendo assim, este estudo também contribuiu para documentar um processo de pesquisa de design em desenvolvimento de coleções de moda, ressignificando referências do designer e inserindo seu toque pessoal. AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço aos meus incríveis pais, que sem eles este projeto não seria realidade. Amo muito vocês. Agradeço à minha orientadora Daniele Lugli, pela dedicação, empenho, e inúmeras orientações remotas via WhatsApp. Sem sua credibilidade este projeto não teria saído do papel. Ao meu coordenador Edson Korner e a toda sua equipe de professores, por proporcionar о conhecimento não apenas racional, mas no processo da minha formação profissional. Malva, Roseli, Dani Nogueira, Patrícia, Andrea, Bernadeth, Rafael, Pati Sabatowitch, Rodrigo, Ciça, Kézia, Rafaela, Novak, Ereany e em especial Mariana Mariah que abraçou o projeto com todo carinho e dedicação. Obrigado. Agradeço à minha grande e eterna amiga Amandha Gaio por ter sido mais que uma colega de turma, mas uma real companheira para todo e qualquer momento. Às minhas madrinhas de coração Mariah Salomão Vianna e Irit Czerny, pois sem suas carreiras inspiradoras eu não teria aprendido com vocês. Obrigado também Lorenza e Laurianna por acompanharem estas mulheres, e fazerem parte disto comigo. 16


Ao meu principal fornecedor colaborador Juliano da A1 serigrafia, que aposta em mim e por ser um fornecedor tão competente com uma equipe surpreendente. Pholianna, Helo, Regina, Eugênio, Amanda, Isa e toda equipe, o meu obrigado. Obrigado Débora Spanhol, Natália Moraes e Marcelo Fiedler por terem compartilhado suas visões e talento para registrar em imagem e som minhas criações. Agradeço à todos os amigos e pessoas que de forma direta ou indireta me prestaram ajuda e apoio neste projeto. Obrigado Taci, Guilheme Ross, Thiago Gritten, Julliana Mende, Rafaela Camilo, e a todos os meus amados amigos e colegas de turma que eu gostaria de citar aqui mas não caberia em apenas uma página. Meu eterno obrigado.

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7 REFERÊNCIAS BECCARI, M; ALMEIDA, R.A função contemporânea da “autoria” enquanto mediação simbólica.Interdisciplinar,Itabaiana/SE,v. 21,p. 145-161, jul./dez. 2014. Disponível em http://goo.gl/z2TpLi . Acesso em 24 mar. 2015. EMBACHER, A. Moda e identidade: a construção do estilo próprio. São Paulo: Editora Anhembi Morumbi, 2004. FLETCHER, K; GRASE, L. Moda & Sustentabilidade: Design para mudança. São Paulo: Editora Senac, 2011. GUERRA, A. O brutalismo paulista no contexto paranaense: a arquitetura do escritório Forte Gandolfi. 15 out. 2010. http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/09.106/3792 . Acesso em 14 jun. 2015. HOUAISS, Antônio; VILLAR, M. de Salles. Minidicionário Houaiss da lingua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004. JONES, S. J. Fashion design: manual do estilista. São Paulo: Cosacnaify, 2005. NACCACHE, A. Criatividade brasileira: Gastronomia, Design, Moda. São Paulo: Editora Manole, 2013. OLIVEIRA, P. A indústria da cópia na moda: DorisTreptow. 02 jan. 2014 http://www.comunidademoda.com.br/a-industria-da-copia-doris-treptow/. Acesso em 24 mar. 2015. PIAZZA, A. Coleção Folha Moda. São Paulo: Folha de S. Paulo. 2015. RUBIM, R. Desenhando a superfície. São Paulo: Rosari, 2010. SANT’ANNA, M. R. Teoria da moda: sociedade, imagem e consumo. 2a ed. Rev. e atualizada. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2009. SILVA, G. S.; FERNANDES, M. S.Análise dos requisitos de novidade e de originalidade perante o INPI para o design de solados.Revista D, Porto Alegre/RS,v. 4,p. 117, jul./dez. 2012. Disponível em http://goo.gl/BqUGb6 . Acesso em 26 mar. 2015. SVENDSEN, L. Moda: uma filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2009. SUDJIC, D. A Linguagem das Coisas. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2010. WHITEMAN, V. Você tem pressa de quê?.FFW Mag, São Paulo, n. 39,19,abr. 2015. YOSEFINA, G. BacteriaHysteria. http://goo.gl/CBQ81C Publicado 26/02/2013. Acesso em 14 jun. 2015.

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TERMO DE APROVAÇÃO

DIEGO EVANDRO MALICHESKI

ROCIO CANVAS: IDENTIDADE AUTORAL POR MEIO DA RESSIGNIFICAÇÃO

Este trabalho foi julgado e aprovado como requisito parcial para a obtenção do grau de tecnólogo do curso Superior em Design de Moda na Faculdade de Tecnologia Senai Curitiba.

_________________________ Edson Korner Coordenador do Curso

Orientador(a):

Professora Daniele Moraes Lugli _____________________

Banca:

Professor Edson Korner________________________ Professora Malva Ouriques _______________________

Curitiba, 01 / dezembro/ 2015

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