Josiane Goslar - Moda corporativa para o varejo de luxo

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MODA COORPORATIVA PARA O VAREJO DE LUXO Josiane Goslar1 Edson Korner2

RESUMO

Este estudo teve o objetivo de identificar uma necessidade do usuário dentro do ambiente coorporativo de mercado do luxo. Por meio de uma pesquisa bibliográfica, relata-se sobre a imagem como meio de comunicação nesse segmento e a sua relevância para esse mercado. Isso ocorre, porque é por meio dela que as empresas expressam o desejo de criar o sonho de consumo e de carregar o valor da marca que vai muito além do simples desejo de compra. A partir disso, foi desenvolvido um projeto de coleção para atender as necessidades de uma mulher urbana inserida nesse mercado profissional. O projeto priorizou o design, o conforto e matériasprimas de qualidade, conforme indicado pela pesquisa de público-alvo. 1 INTRODUÇÃO

Cada vez mais a imagem é um fator importante no mundo corporativo. No mercado de trabalho, segundo Bobone (2000), a boa imagem é um fator decisivo, portanto torna-se responsabilidade de cada um trabalhar para que seja percebido, da mesma forma, por todos que fazem parte do mundo profissional. Antes de saber se somos competentes, se somos criativos ou proativos, o empregador formará conceitos sobre nós a partir de como nos apresentamos a ele. A imagem pode seduzi-lo ou afastá-lo. Muitos profissionais não possuem uma imagem apropriada de dresscode dentro do contexto corporativo. Antigamente, o bem vestir no meio profissional era visto como uma padronização, quase um uniforme. Atualmente, a sociedade vem ganhando mais consciência de que a imagem é uma ferramenta poderosa que, juntamente a boa postura e bons hábitos de vida, poderão agregar valor junto ao cliente, bem como trazer mais sucesso profissional. Dessa forma, o desenvolvimento de uma coleção de moda corporativa voltada ao mercado de luxo torna-se relevante, visto que o mercado é carente desse segmento. 1

Aluna do 6º período do Curso Superior de Tecnologia em Design de Moda da Faculdade de Tecnologia Senai Curitiba. 2 Professor do Curso Superior de Tecnologia em Design de Moda da Faculdade de Tecnologia Senai Curitiba.


O que despertou o interesse para esse tema foi o fato de que muitos profissionais não possuem, dentro do contexto corporativo, uma imagem apropriada de dresscode. Atualmente, vêm-se ganhando consciência da importância de ter uma boa imagem, perante os clientes e consumidores, sendo que o profissional que tem essa consciência possui uma ferramenta poderosa que o levará ao sucesso. Em um mundo competitivo, a boa imagem pessoal, e profissional requer postura, hábitos e vestimenta adequada. Além disso, nota-se

que há uma escassez de trabalhos

acadêmicos no Brasil que relacionam o poder da vestimenta no mundo coorporativo (BASEIO, 2014). Portanto, o mercado tem a necessidade de uma coleção voltada para o dresscode profissional do varejo de luxo, com design de moda, sem se caracterizar como uniforme.

Assim, permite a criatividade na composição dos looks, que

representa o profissional com suas atitudes em seu ambiente de trabalho, seguindo as regras da empresa onde atua. Partindo dessas considerações, o objetivo desse estudo é desenvolver uma coleção de moda que auxilie na imagem pessoal dos profissionais dentro das lojas de varejo de luxo. Ela tem o objetivo de possibilitar uma interação entre a identidade do funcionário com seu ambiente profissional, porém respeitando as regras e normas de vestimentas das organizações. Por uma questão de foco e de experiências profissionais próprias, apenas o universo da moda feminina foi considerada Para o desenvolvimento do estudo, partiu-se de uma pesquisa bibliográfica sobre o dresscode profissional, a imagem no ambiente profissional e um estudo das influências do mercado de luxo. Posteriormente, serão apresentados os resultados de uma pesquisa qualitativa direcionada a colaboradores do varejo de luxo, a fim de identificar preferências/consumo de vestuários sendo o resultado um elemento auxiliar na construção da coleção de moda.

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 DRESSCODE PROFISSIONAL


De acordo com Lima (2014), o ato de vestir-se não é reservado, ninguém se veste só para si mesmo. Dessa forma, o código de vestir seria uma convenção na qual as pessoas podem se basear para frequentar os círculos sociais, adequando o próprio estilo e, também, transmitindo as impressões e projetando a imagem que realmente desejam. Os códigos de vestuário podem ser entendidos como algo que existem e são flutuantes. Eco (1991) salienta que, apesar de parecerem passageiros, esses códigos são mais importantes do que aparentam, podendo conter informações sobre posicionamentos ideológicos ou traços psicológicos. Dresscode:

código

de

vestimenta,

traje

recomendado,

indumentária

recomendada. Para Aguiar (2003), estilo e moda são duas coisas distintas. A moda é o reflexo da cultura do momento, são as tendências difundidas pelos estilistas em todo o mundo.

O estilo seria a expressão pessoal do que as pessoas são, do seu

caráter, a relação com o mundo a sua volta. O estilo possui conteúdo pessoal, pois é quando a pessoa identifica a própria moda sem se preocupar com o julgamento. As características do Código de Vestuário, o dresscode, são regras que ditam a forma de apresentação e vestuário a aplicadas a um grupo de pessoas. Este código está conectado com normas e regras específicas de cada ambiente e manifesta-se em todos os tipos de atos, incluindo na vida profissional. As normas do Código de Vestuário variam conforme: a cultura, a região, a religião, etc. (PINHEIRO, 2012) O dresscode profissional pode ser imposto por uma serie de fatores. Um deles é, com objetivo de manter a integridade física do trabalhador, como, por exemplo, o uso de capacete em uma construção. Neste caso, o código de vestimenta se manifesta além de uma norma socialmente aceita, o código torna-se uma lei. (PINHEIRO, 2012) Contudo, existem também os casos em que a decisão é tomada unilateralmente pelo empregador, sem nenhuma imposição legal. Neste caso, o empregador busca transmitir uma imagem formal e cuidadosa dos seus trabalhadores ou quer transmitir a imagem da marca por meio da indumentária dos trabalhadores, exigindo o uso de uniformes. Nesse segundo caso, o ato de uniformizar buscar homogeneizar o modo de vestir de todos os empregados, mas também procura utilizar a vestimenta como


próprio cartão de visitas da marca. Porém, a escolha de utilizar uniforme não significa, necessariamente, que a roupa será idêntica a todos. Mas sim que devem haver elementos comuns exigidos pela empresa a fim de fazer-se reconhecer, pela imagem, perante aos clientes. Isto seja pelo uso da cor, do modelo e/ou por demais detalhes. (PINHEIRO, 2012) Para Langford (2012), o dresscode também se mostra importante para o usuário, na medida em que ele fornece um elemento de segurança e confiança em ambientes desconhecidos, além de fazer que os outros se sintam mais confortáveis em sua presença. Em suma, o dresscode pode ser entendido como um conjunto de regras, verbais ou não verbais, estabelecidas pelo empregador, relativas à forma de se vestir e apresentar comumente aceitáveis ou proibidas aos trabalhadores. No mercado de luxo, o artificio do dresscode é amplamente utilizado. Nesse nicho de mercado, são definidas as cores, os materiais e os estilos que seus funcionários devem se apresentar ao trabalho. No primeiro caso, temos que a escolha correta da cor pode carregar valiosa informação simbólica. Em reportagem de Pati (2013 apud BASEIO, 2014), chegou-se a conclusão de que as cores azul e preto são as mais recomendadas, por mostrar boa impressão, profissionalismo e sofisticação. Diferentemente do laranja que foi citado como sinal desatenção ao profissionalismo. No caso dos materiais, acreditava-se que o uso de fibras puras, como lãs e sedas estava restrito a atividades das classes superiores, enquanto as fibras sintéticas, acrílicas e artificiais estariam associadas às classes mais baixas. Contudo, com a criação de fibras e tecidos nano-tecnológicos, os materiais artificiais incorporaram características de sofisticação. A escolha de um bom material de vestuário é importante para possibilitar um bom corte, caimento e modelagem do tecido, gerando certa sofisticação e confortabilidade à vestimenta, sem deixar de se adequar ao ambiente. (FISCHER-MIRKIN, 2001). Por último, o estilo é importante para passar certas características ao observador, principalmente no que diz respeito ao status e poder (RAFAELI; PRATT, 1993, p.30 apud BASEIO, 2014). Em estudo de Rollman (1997 apud BASEIO, 2014), descobriu-se que a vestimenta formal se sobressai comparada com a vestimenta casual, afinal, o primeiro estilo representa um maior poder. O vestuário formal está


“associado à autoridade e competência, o moderadamente formal remete à produtividade e à confiabilidade e um vestuário pouco formal é associado à criatividade e afabilidade” (CARDON; OKORO, 2009, p. 357). Assim, para o mercado de luxo faz-se essencial à escolha da vestimenta moderadamente formal, afinal busca-se passar confiabilidade e seriedade ao cliente, mas sem deixar de lado certa criatividade e segurança pessoal do usuário. Conclui-se, portanto, que o dresscode é concebido para certa padronização da linguagem não verbal, respeitando regras e normas impostas pela sociedade e por empregadores. Isso, porém, não significa uma completa uniformização dos trabalhadores, principalmente no mercado de luxo. Afinal, é importante que o profissional transpareça sinais de criatividade e desenvoltura ao cliente sem deixar de lado a confiabilidade e o símbolo da empresa em questão.

2.2 IMAGEM NO AMBIENTE PROFISSIONAL Segundo Amaral (2008, p.30), “a imagem pessoal resulta do conjunto formado pela aparência física, pela linguagem não verbal e pela maneira de vestir. A imagem é o que nos distingue dos outros [...]”. Conforme o relato de Vendrame (2002), o trabalho assumiu importância e papel ainda maiores em nossas vidas. É no ambiente profissional que passamos a maior parte do tempo, convivendo mais com colegas e clientes do que com familiares. As mudanças ocorridas nas relações de trabalho apresentam, portanto, consequências sociais, econômicas e estéticas que não podem ser ignoradas. Para o autor supracitado, a roupa constitui um sistema de símbolos com os quais comunicamos quem somos e a que viemos.

Se a transmissão dessa

mensagem é inevitável, faz-se necessária uma seleção cuidadosa das peças que estarão nos representando mesmo antes de dizermos a primeira palavra. De acordo com Marra e Rego (2002), aliam-se às roupas as atitudes e o comportamento, formando o tripé que caracteriza o estilo, elemento hoje decisivo no


ambiente de trabalho. Atualmente, as habilidades profissionais e a formação acadêmica não bastam para garantir um emprego ou para se obter sucesso no trabalho. Competência e apresentação andam lado a lado e a cobrança sobre o indivíduo é bastante elevada o que não implica, todavia, maior formalidade, mas sim adequação. A vestimenta passou a ser fator qualificativo quando se avalia um colaborador, desde a entrevista até o cotidiano na empresa – suas roupas e acessórios, o estilo correto à postura adequada. O estilo adotado pelo funcionário passa a ser uma representação simbólica dos valores e da cultura da empresa. Antonelli (2013 apud TORTORETTE, 2015) consultora de RH, também aposta no visual como forma de apresentar uma boa imagem da empresa e acredita que a primeira impressão é muito importante para o julgamento que será realizado pelas pessoas. Os profissionais traduzem a sua marca por meio da sua imagem e quando um funcionário se apresenta sendo de uma empresa X, as pessoas irão avaliar como esse profissional se expressa por meio da sua aparência: uniforme, cabelo, maquiagem e calçado. Isso é muito importante para a empresa que tem um valor no mercado. Por esse motivo, os treinamentos voltados a códigos de vestimenta estão se tornando fundamentais. Já Haraguchi (2014 apud TORTORETTE, 2015), além da imagem e das dicas de vestimenta dresscode, também trabalha toda a forma de comunicação não verbal, ressaltando que os gestos ou o modo como nos comportamos podem dizer muito sobre nós. Portanto, devemos trabalhar não somente a aparência, mas também características de vestimenta dentro do mercado em que estamos inseridos ou na transição e busca de novas oportunidades, pois muitos dos processos de recrutamento e seleção tomam a indumentária como grande diferencial. Antigamente, não era comum notar essa preocupação quanto ao código de vestimenta nas empresas. A moda existe há muitos anos, mas só de um tempo para cá que as organizações passaram a entender a importância da imagem no mundo corporativo. Além disso, começaram a notar o quanto a falta desta imagem pode influenciar negativamente a credibilidade e a avaliação da empresa perante os concorrentes, clientes e até mesmo os próprios colaboradores. Por mais delicado


que seja afirmar isso, pessoas com má vestimenta podem interferir na imagem da empresa e, por isso, a liberdade deve ser cerceada pelos limites do bom senso, principalmente ao lidarmos com clientes. Assim, a vestimenta no ambiente de trabalho está em constante mudança, apresentando uma evolução própria baseada em diversos elementos na sociedade em que estavam inseridas. Dessa forma, apresenta-se aqui a evolução histórica da roupa de trabalho feminina dos anos 1910 até o novo século 21, apresentada por Gaza,Lupo. Na figura 1, observa-se que a vestimenta feminina do inicio do século XX foi marcada pelas saias que se arrastavam no chão e pelas jaquetas curtas embutidas e personalizadas com babados. Os looks parecem ser mais confortáveis dos que da década passada, mas eles escondiam o corselete por de baixo da roupa. Paul Poiret foi o expoente da moda nessa época.

FIGURA 1 – ANOS 1910

FONTE: Garza; Lupo (2009).

Os anos 1920, exemplificado pela figura 2, foram marcadas pela definição de estilo de Coco Chanel. As meninas vestiam ternos de meninos feitos de jersey macio. As bainhas subiram, e os fashionistas de melindrosas vestiram as pernas recém-descobertas com meias estampadas e sapatos de cores brilhantes. FIGURA 2 – OS ANOS 1920


FONTE: Garza; Lupo (2009).

A figura 3 mostra que as trabalhadoras dos anos 30 se basearam nas estrelas de cinema, como Greta Garbo em o filme “Sad to be back” e Joan Crawford em “Mannequin”. FIGURA 3 – OS ANOS 1930

FONTE: Garza; Lupo (2009).


Já na década de 40, o design Hollywood se apresenta na figura 4, com as inovações e toda a influência das estrelas de cinema. FIGURA 4 – OS ANOS 1940

FONTE: Garza; Lupo (2009).

O novo visual da Dior trouxe, para os anos 1950, o visual cinturado em voga. Já Coco Chanel volta com o terno buclé (figura 5). FIGURA 5 – OS ANOS 1950

FONTE: Garza; Lupo (2009).

A figura 6 exemplifica a década de 60, que foi marcada por Doris Day e Jackie O. que definiram as tendências com os ternos simples e elegantes, em cores pastel, usados com sapatos de bico fino e chapéus pillbox.


FIGURA 6 – OS ANOS 1960

FONTE: Garza; Lupo (2009).

Nos anos 1970, exemplificado pela figura 7, a moda foram as calças justas de cintura alta com botas plataforma. Grandes nomes dessa época incluem Daine von Furstenberg e Annie Hall. FIGURA 7 - OS ANOS 1970

FONTE: Garza; Lupo (2009).

Os ternos masculinos, com blusas decotadas e sapatos de salto baixo, marcaram os anos 1980, como apresentado na figura 8. Donna Karan e Liz Claiborne desenvolveram looks que misturavam negócios e sensualidade.


FIGURA 8 - OS ANOS 1980

FONTE: Garza; Lupo (2009).

Diferentemente da década anterior, os anos 90 foram marcados pelos ternos simplificados de Calvin Klein e de Jil Sander (figura 9). FIGURA 9 - OS ANOS 1990

FONTE: Garza; Lupo (2009).

E, por fim, os anos 2000 marcam a história como sinal de liberdade, principalmente na escolha, por parte da mulher, do que vestir para ir ao trabalho. A introdução de conjuntos descoordenados possibilitou diversas combinações fazendo mostrar novos estilos únicos (figura 10).


FIGURA 10 – OS ANOS 2000

FONTE: Garza; Lupo (2009).

2.3 A EXPERIENCIA DO MERCADO DOLUXO E A CONSULTORA DE VENDAS.

A definição de luxo é fundamental para compreensão do funcionamento do seu mercado, pois é a partir dela que será possível, primeiramente, distinguir o que é luxo e o que não é. É certo, porém, que não existe apenas uma única definição, mas sim um conjunto de entendimentos com a mesma essência. De acordo com Castarede (2005), o termo luxo vem do latim luxus que significa abundância e refinamento. O conceito “luxo” liga-se tanto a objetos quanto a códigos, comportamentos, valores estéticos e estilo de vida. Admitindo que luxo não seja nem o necessário, mas o raro ou desejado, percebe-se que pertence a um universo muito mais mental que material (LIPOVETSKY; ROUX, 2003). Segundo Alléres (2002), toda criação fora do comum, sinônimo de beleza, estética e refinamento evocando prazer, sonho ou sedução, pode ser qualificada como produto de luxo. Um produto de luxo é um conjunto: um objeto (produto ou serviço), mais um conjunto de imagens, conceitos, sensações, que são associados a ele pelo


consumidor e, portanto, o que o consumidor compra com o objeto e pelos quais está disposto a pagar um preço superior ao que aceitaria pagar por um objeto de características funcionais equivalentes, mas sem essas representações associadas. (LIPOVETSKY; ROUX, 2003). De acordo com Okonkwo (2005), os bens e serviços de luxo constituem, em grande proporção, produtos ligados a fatores estéticos e sensoriais, fortemente conectados com os sentidos humanos da visão, tato, olfato, paladar, e audição. Os designers consagrados constroem a força de suas marcas enfatizando não apenas o design e a qualidade dos produtos, mas também sua aura, trabalhada em grande parte na atmosfera das lojas de varejo tradicionais e nos esforços de comunicação com o público-alvo. Segundo Strehlau (2008), os conceitos sobre luxo variam conforme o olhar sobre o mesmo. Se o luxo é analisado, por exemplo, pelo marketing, é comum ele ser definido utilizando o composto mercadológico, ou seja, luxo como sinônimo de alta qualidade de uma mercadoria com uma marca forte, preço premium, comunicação seletiva ressaltando a imagem, distribuição seletiva ou exclusiva”. No entanto, falta a essa definição o composto estratégico e perene do luxo. O luxo pode ser definido, também como um bem de alta qualidade que possui elasticidade-renda superior a um, ou seja, a demanda por este tipo de artigo aumenta à medida que a renda das pessoas aumenta, baseado na visão econômica, na qual o artigo de luxo é conceituado. (BEGG, 2003). A comunicação é importante para o luxo tendo em vista que, é através dela que as empresas expressam o desejo de criar o sonho de consumo e de recarregar o valor da marca, o que vai muito além do simples desejo de compra. Além da comunicação formal de uma empresa, há também a comunicação informal/ não verbal, que se da através de seus clientes fiéis que, além de irem às compras, ainda emitem opiniões que influenciarão novos compradores. (DINIZ, 2012). Conforme Arnault (2001), todos os modos de comunicação entre a marca e seus clientes soam importantes, quer seja a publicidade, a imprensa ou a apresentação dos produtos. A butique exerce sob esse aspecto um papel fundamental, assim como a maneira pela qual as vendedoras ou os vendedores tratam os clientes.

Os desfiles, as reportagens na televisão, bem como a

publicidade são determinantes, fazendo da imagem é um dos segredos do sucesso.


Portanto, o consumo do luxo não é uma questão de necessidade, mas sim de desejo e ambições (PASSARELLI, 2010 apud FRASSON, 2014). Ele é capaz de suavizar suas frustações e inquietações. Além disso, a pesquisa de Petersen e Hiene (2013 apud FRASSON, 2014) indicou que o consumo de artigos de luxo podem reparar estados emocionais negativos e/ou manter estados emocionais positivos. E ainda, os consumidores estão mais propensos a comprarem esse tipo de produto quando notam que ele pode contribuir para regular suas emoções dessa forma. O consumo de luxo, portanto, esta relacionado a experiências hedônicas. Estes produtos possuem elevado valor emocional e são capazes de gerar sentimentos e estado afetivo nos compradores (SHETH; NEWMAN; GROSS, 1991 apud FRASSON, 2014). Os produtos de luxo não transmitem apenas beleza, mas também geram prazer ao individuo que os toca, vê, ouve, sente seu gosto ou aroma. Portanto, o luxo consiste em uma fonte de prazer sensitivo e de satisfação (KAPFERER, 1997 apud FRASSON, 2014). Assim, como o mercado de luxo está intimamente ligado a essas experiências sensoriais do consumidor, a consultora que o atende precisa “incorporar a qualidade excelente que o produto sugere, fazendo emergir um sentimento de diferenciação e extremo bem estar [da experiência de compra]” (DUBOIS; LAURENT; CZELLAR, 2001 apud FRASSON, 2014 p.5). A consultora de venda dentro do mercado de luxo faz parte da experiência de compra do consumidor. Portanto, ela deve atender todas as exigências sensoriais dos clientes. Afinal, o sentimento de bem estar não é intrínseco ao ato de consumir, mas pode surgir antes. No estudo de Dubois, Laurent e Czellar (2011) ficou claro que a atmosfera de uma loja de luxo compreendendo a decoração, a apresentação dos produtos, o som ambiental e, principalmente, o modo de interação com os vendedores, também colabora para este sentimento de prazer do cliente. Uma consultora adequadamente imersa nessa ambiente é capaz de produzir um serviço especializado, com uma interação próxima ao cliente. Isso acaba por gerar uma situação de compra exclusiva evocando sentimentos positivos, como conforto, prazer e paixão, além do desejo (BAUER; VON WALLPACH; HEMETSBERGER, 2011 apud FRASSON 2014, p. 5).


3 DESENVOLVIMENTO DA COLEÇÃO

3.1 PROPOSTA

Antes de começar o processo de criação, delimitou-se o publico-alvo como sendo consultoras de venda em lojas de luxo, com idade que compreende 25 e 45 anos. Procurou-se entender as principais necessidades dessa usuária inserida neste contexto. Atualmente, seguindo o dresscode, as consultoras possuem restrições em seus looks, como cores e estampas. Elas necessitam de pecas que tenham uma transitoriedade, com design e conforto, nas quais se sintam seguras e se destaquem em seu meio profissional.

Portanto, a proposta desta coleção, foi atender essa

usuária. Analisando o estilo de vida do público definido, identificou-se que não se trata de uma coleção apenas para ir ao trabalho, mas sim para estar em várias ocasiões e em vários momentos do seu dia. Fazendo uma pesquisa de tendências, criou-se o conceito baseado no cotidiano dessa usuária, observando suas limitações. As principais inspirações foram em linhas retas da arquitetura contemporânea remetendo à simplicidade das formas e a objetividade do conceito e desenvolvimento da coleção. Seguindo duas correntes, a neutralidade do cotidiano e a exuberância dark, definimos a cartela de cores com o preto, branco e azul marinho. Utilizaram-se influências masculinas misturadas a elementos femininos de forma sutil. Os cortes retos e modelagens amplas priorizaram o conforto. As peças podem combinar entre si com composições e sobreposições, trazendo um visual simples e, ao mesmo tempo, sofisticado.

3.2 O PROCESSO

O processo principal surgiu como fonte de inspiração em referências de imagens da arquitetura em todas as possibilidades, sendo minimalista ou orgânica, porém simples e envolvente. Na construção das peças, foram escolhidos tecidos como o crepe welch, o cetim duchese e a malha neoprene, devido à qualidade,


caimento e conforto proporcionado às peças executadas. Pensando na praticidade, a escolha de aviamentos foi minuciosa. O zíper está presente em várias peças da coleção, usado também como elementos de estética. Os recortes delicados em formas geométricas e as fendas com transparências trazem a sutileza da feminilidade em saias e vestidos. Foi desenvolvida uma estampa na parte interna de uma das peças, como um detalhe único e exclusivo de elegância A coleção é composta por 16 looks entre vestidos, saias, calças, blusas, casacos e coletes sendo representados pelos croquis abaixo (Figuras 11, 12 e 13 respectivamente).

FIGURA 11 - CROQUIS

FONTE: A autora (2015).

FIGURA 12 – CROQUIS 2


FONTE: A autora (2015).

FIGURA 13 – CROQUIS 13

FONTE: A autora (2015).

3.3. RESULTADO


Com a coleção e peças escolhidas finalizadas (ver figuras 14 e 15), foi possível observar que a escolha dos tecidos foi essencial para um bom resultado. Com o intuito de atender ao público-alvo selecionado, o fator que influenciou foi o design e o conforto, com elegância e sofisticação sem perder a feminilidade. As peças soltas ao corpo, fluidas e amplas, mostram sobriedade sem ser casual; a aplicação de fenda fechada com o zíper em algumas peças permite mostrar a transparência na medida certa. O volume godê nas mangas propõe o diferencial simples e delicado, lembrando as formas orgânicas da arquitetura. Por fim, foram desenvolvidos 6 looks, e o resultado pode ser visto a seguir.

FIGURA 14 - PEÇAS CONFECCIONADAS 1

FONTE: A autora (2015).

FIGURA 15 – PEÇAS CONFECCIONADAS 2


FONTE: A autora (2015).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para a criação e desenvolvimento dessa coleção a pesquisa sobre o dresscode e a relevância da imagem no meio corporativo foi fundamental, assim como o estudo sobre a usuária, mulher contemporânea e o contexto onde ela está inserida. O processo foi positivo em toda a concepção da coleção, mesmo que alguns ajustes tenham sido feitos durante a confecção das peças, pois, enquanto desenho e modelagem, o tecido definido poderia funcionar, mas no processo da prototipagem o tecido plano em um dos modelos não apresentou o resultado esperado. Por exemplo, em algumas peças, a troca por uma malha mais estruturada como o Neoprene, trouxe um aspecto contemporâneo às linhas desenhadas e proporcionou o conforto necessário para esse tipo de vestuário.

Sendo

assim,

este

estudo

contribuiu para apresentar uma oportunidade de mercado com o desenvolvimento de uma coleção de moda corporativa, sem características de uniforme. Assim, com criatividade, design e conforto, atende à mulher contemporânea que procura praticidade no seu dia a dia profissional, sem deixar de estar bem vestida.

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JOSIANE MARIA GOSLAR

MODA CORPORATIVA PARA LOJAS DO VARELO DE LUXO

Este trabalho foi julgado e aprovado como requisito parcial para a obtenção do grau de tecnólogo do curso Superior em Design de Moda na Faculdade de Tecnologia Senai Curitiba.

_________________________ Edson Korner Coordenador do Curso

Orientador(a):

Professor Edson Korner ____________________________ Professora Daniele Moraes Lugli _____________________

Banca:

Professor Edson Korner_____________________________ Professora Malva Ouriques _________________________

Curitiba, 17 / dezembro/ 2015

Janeiro: SENAC, 2002.


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