FASHION TRIÁTLON: UMA COLEÇÃO DE MODA PARA MULHERES TRIATLETAS Edson Korner1; Karem Morigi2
RESUMO: Para o atleta de triátlon a roupa é um elemento que irá apoiá-lo durante sua
prática esportiva proporcionando segurança, conforto e desempenho. Assim, o objetivo deste estudo foi desenvolver uma coleção de moda para mulheres triatletas alie aspectos funcionais e estéticos. Ele se justifica pois há um número crescente de adeptas a essa modalidade esportiva e por não haver um mercado que ofereça variedade de produtos para o segmento. Para isso, foi feito um levantamento bibliográfico para verificar a evolução das roupas esportivas, dos têxteis tecnológicos, dos aspectos fisiológicos e ergonômicos e aviamentação voltados às roupas esportivas. Na sequência, foi utilizada a metodologia do design thinking para apoiar no desenvolvimento dos produtos e, por fim, foi adicionada a metodologia projetual para o desenvolvimento da coleção de roupas. Palavras-chave: Vestuário esportivo; triátlon; design thinking.
1 INTRODUÇÃO
Os praticantes do esporte triátlon, que reúne a prática sequencial das modalidades como a natação, o ciclismo e a corrida, tem como os demais esportes a necessidade de utilizar um vestuário adequado para a sua prática. Isso porque ele perpassa por diferentes ambientes sequencialmente: primeiro, no mar e/ou piscina nos quais o atleta busca vencer o arrasto na água; o ciclismo na estrada em alta velocidade contra o atrito do ar; e, finalmente, a corrida em solo. Todos eles estão expostos ao clima e aos efeitos do sol, já que as provas são realizadas durante o dia. Portanto, esses esportistas necessitam de uma vestimenta adequada que ofereça conforto, proteção e, ao mesmo tempo, prime por uma estética diferenciada. Nesse contexto, a partir da observação de atletas mulheres foi possível identificar algumas necessidades que nem sempre são supridas pelas roupas de triátlon oferecidas no mercado. Dentre reclamações e insatisfações, foi possível perceber que o mercado oferece roupas padronizadas, com uma modelagem que é 1 2
Coordenador do Curso de Design de Moda Senai – Paraná e orientador deste Trabalho de Conclusão de Curso. Aluna do Curso de Design de Moda Senai – Paraná.
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replicada, as quais não oferecem muitos recursos funcionais como bolsos estratégicos, forro ou algum tipo de suporte para a sustentação - no caso das mulheres, do seio, e nas parte das costas, na região das nádegas. Ainda, alguns praticantes anseiam por tecidos de alta tecnologia que ofereçam benefícios como diminuição do arrasto, proteção UV e que não causem mau odor. Levando em consideração as questões apontadas, o presente estudo partirá do seguinte questionamento: como desenvolver uma coleção de roupas que atenda às necessidades funcionais e estéticas de mulheres praticantes de triátlon? Tendo como ponto de partida esse questionamento, o objetivo é o de desenvolver um projeto de coleção para mulheres triatletas que envolva funcionalidade e estética. O públicoalvo investigado são praticantes femininas de triátlon de diferentes academias de Curitiba. A metodologia adotada para a investigação terá caráter exploratório, por meio de estudo bibliográfico. Soma-se o uso da ferramenta Design Thinking com o intuito de se
aprofundar
na
experiência
do
usuário,
associada
à
metodologia
de
desenvolvimento de projetos de coleção de moda. 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 O TRIÁTLON O triátlon é uma modalidade que combina, de forma sequencial e sem interrupção, a prática da natação, ciclismo e corrida. Ele possui três categorias que se diferem em relação à distância: 1) Short triátlon (750 metros de natação, 20 quilômetros de ciclismo e 5 quilômetros de corrida); 2) o triátlon olímpico (1500 metros de natação, 40 quilômetros de ciclismo e 10 quilômetros de corrida) e 3) o Iron Man (3,8 quilômetros de natação, 180 quilômetro de ciclismo e 42 quilômetros de corrida). Para os dias de competição as atletas mulheres usam em geral o macaquinho de triátlon ou maiô, ou ainda, um top e bermuda. O esporte é relativamente novo no Brasil, tendo início na década de 80 no país. Foi encontrando admiradores e no início da década de 2000 houve um crescimento
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acelerado de adeptos à modalidade, pode-se dizer que em partes sua popularização se deu por ser incorporado oficialmente nas Olimpíadas de Sydney. Além de profissionais, muitos amadores buscam praticar o esporte em busca de saúde e bem-estar. De acordo com a Confederação Brasileira de Triathlon (CBTri)3, em 2013 foi estimado em mais de 25.000 praticantes no Brasil, entre homens e mulheres. 2.2
A EVOLUÇÃO DA ROUPA ESPORTIVA SOB UMA BREVE PERSPECTIVA
HISTÓRICA O início do século XX foi o momento onde se estabeleceu o surgimento de roupas voltadas à práticas esportivas. Devido à necessidades provenientes de exercícios como cavalgada, caça e com o retorno da competição de escala mundial, as Olimpíadas, as roupas para esses fins começaram a ser pensadas dentro de diferentes soluções e iniciou-se a demanda por têxteis que respondessem a essas necessidades. Com as mulheres praticando esportes o guarda-roupa feminino foi ampliando e ganhando mais liberdade com o uso de short e saias curtas para as atividades físicas. Entre as décadas de 30 e 40 surgem trajes de banho e roupas íntimas de malha com lastex, que tinha em sua base elástico e seda, ofereceu aos trajes uma textura mais estruturada e resistente, capaz de moldar-se ao corpo. Nessa linha, os trajes masculinos também são beneficiados. (FOGG, 2013) FIGURA 1 – TRAJE DE BANHO DA MARCA JANTZEN
FONTE: jantzen knitting mills collection, 1925-1977 (2001)
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CBTri. Confederação Brasileira de Triathlon é uma entidade sem fins lucrativos que coordena e organiza todos os aspectos relativos à prática de triátlon no Brasil e no exterior.
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Nas décadas de 50 e 60 com os avanços científicos o mercado recebe vários tecidos sintéticos e com elastano. Esse têxtil apresentava várias propriedades, incluindo a grande capacidade elástica. Rapidamente foi incorporado aos uniformes esportivos e, principalmente aos de atletismo (FOGG, 2013). Nos anos seguintes os têxteis como a lycra continuam se aprimorando e evoluindo, mas é a partir dos anos 2000 que atinge esfera de altamente tecnológico, a fim de promover ao atleta maior desempenho. Conforme Afirma Fogg (2013), marcas como Adidas, Speedo e Nike se aliam a designers de moda a fim de desenvolverem roupas de alta performance, além de adicionar elementos do design no alcance da excelência das roupas. Um exemplo do alcance do melhoramento da performance nas roupas está nos maiôs desenvolvidos pela Speedo, os fastskins. As peças são confeccionadas com material extremamente leve e de alta compressão, ao qual a marca atribui um componente que faz com que o tecido repila a água e, como consequência, diminua o arrasto durante a natação e, ainda ajuda os atletas a flutuarem (PEZZOLO, 2007). Ao utilizar tais roupas, o desempenho dos atletas aumentou, o que culminou na conquista de muitas medalhas nos jogos olímpicos de Sidney (Austrália) e Pequim (China). Tal fato levou a Federação Internacional de Natação (FINA) a restringir o uso dos trajes, diminuindo o comprimento e local de confecção, para que não fossem agregadas tecnologias que beneficiassem os atletas (FOGG, 2013). A figura 6, abaixo, apresenta os trajes utilizados pelos atletas que contém os benefícios citados anteriormente. FIGURA 02 – ROUPA DE NATAÇÃO FASTSKIN 3
FONTE: Ecouterre (2016)
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No guarda-roupa voltado ao esporte, o que se vê é o traçado da evolução de camisas e short conjugados para macaquinhos, roupas de banho que evoluíram para maiôs, shorts e tops com tecidos que apresentam diversos benefícios. Ao longo da história foram somando-se outras peças como calças leggings, blusas, bermudas, shorts, etc., que formam parte de roupas de treino, de competição e uniformes de apresentação dos atletas. 2.3 TÊXTEIS TECNOLÓGICOS Para o público que pratica esportes os têxteis conformam a base das vestimentas e precisam oferecer benefícios como melhor transpiração, secagem rápida, proteção UV, entre outros atributos, a fim de apoiar o desempenho do atleta. Além dos tecidos já disponíveis no mercado, a poliamida é largamente utilizada para a confecção de artigos esportivos (ROMERO, et.al., 1995). Trata-se de uma fibra sintética, de substância a base de náilon e possui diversos benefícios como favorecimento da transpiração, secagem rápida, entre outros. A pesar de ser um tecido criado no início do século XX, ela alcançou essas características somente a partir de 1992 no Brasil ao ser combinada a outros filamentos sendo batizada como microfibra por ter em seu fio propriedades do acrílico, poliamida e poliéster, o que conferiu as propriedades encontradas hoje. Outro têxtil de destaque no segmento esportivo é o elastano, também chamado de spandex. De acordo com Pezzolo (2007), o elastano tem a função de ser complementar às demais fibras, proporcionando a elasticidade que irá moldar o tecido ao corpo sem restringir os movimentos. Entre os têxteis inteligentes estão os antibacteriostáticos4 que são utilizados para o desenvolvimento de roupas esportivas, como é o caso do tecido Amni Biotech, produzido pela Rhodia Solvay Group5. A empresa também desenvolve outro tecido, o 4
Segundo Pezzolo (2007) os tecidos antibacteriostáticos são os que inibem a proliferação de bactérias que causam odor nas vestimentas. 5 Rhodia Solvay Group é uma empresa multinacional instalada no Brasil desde 1919. Seu portfólio é variado, mas o foco está em produção química e de energia e é uma indústria de base. O investimento da empresa se baseia em inovações obtidas por meio de pesquisas e desenvolvimento. Dentre os produtos da empresa estão aplicações automotivas e aeronáuticas, bens de consumo e cuidados com a saúde, edifícios e construções, eletroeletrônicos, energia e meio ambiente, entre outros. Informações retiradas do site http://www.rhodia.com.br/. Acesso em 02 de nov. de 2015.
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Amni UV Protection, voltado à proteção solar. Ambos tiveram em suas fibras a aplicação desses agentes por meio da nanotecnologia. Outro tecido oferecido pela mesma empresa é o Emana, possui tecnologia capaz de emitir raios infravermelhos longos, ao absorver o calor do corpo humano. A ação ocorre pela intervenção nanotecnológica no fio, que é agregado uma liga microscópica de platina, alumínio e prata, que emite os raios infravermelhos. Esses raios voltam à pele oferecendo propriedades de termorregulação, promovem a oxigenação e melhoram a microcirculação sanguínea. O tecido também ajuda os músculos a se regenerarem de forma mais rápida, por isso é indicado a atletas. Um novo têxtil desenvolvido no Brasil por uma estudante de design de produtos da Universidade Estadual de Minas Gerais foi pensado para o âmbito esportivo, mas segundo a entrevista dada pela criadora à Ciência aliada ao esporte (2014), o material pode ser aplicado para diversos contextos profissionais. Com o intuito de regular a temperatura de praticantes de esporte, incluindo triatletas que enfrentam mudanças bruscas de temperatura, o tecido tem a capacidade de absorver, armazenar e liberar o calor do corpo, proporcionando conforto térmico, mas ainda não está disponível no mercado. Como foi visto até agora, os tecidos têm papel fundamental para a confecção de roupas esportivas e há no mercado uma variedade de opções, as quais podem favorecer o atleta durante sua prática esportiva. 2.4 AVIAMENTAÇÃO VOLTADA À PRÁTICA ESPORTIVA A aviamentação para o vestuário é um elemento fundamental, pois trata-se do acabamento que se quer conferir às peças. No que tange ao esporte, tanto o quesito decorativo quanto o de funcionalidade são relevantes a aplicabilidade de elásticos, zíperes, botões de pressão, estranguladores, vivos e cordões. Na sequência são apresentados os que apresentam mais características voltadas ao segmento esportivo:
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a) Zíperes QUADRO 1 – TIPOS DE ZÍPERES6 Tipo
Aspectos funcionais
Aspectos
Imagem
decorativos Zíper de poliéster
- dentes finos e maleáveis, confere flexibilidade; - voltado a têxteis mais leves e malhas; - contato com suor ou água; - destacáveis ou não. - maior resistência - destacáveis ou não - não machucam, caso entrem em contato com a pele. - voltado à roupas esportivas como surfwear e sportwear.
- cores diferenciadas
Zíperes impermeáveis
- isolam a entrada de água em roupas - voltado à roupas impermeáveis.
-cores diferenciadas
Zíperes refletivos de poliéster
possuem uma camada refletiva em seu cadarço; promovem a segurança do usuário ao brilhar no escuro.
- brilham no escuro
Zíper de plástico (jacaré ou trator)
- Cores diferenciadas - dentes grandes para efeito decorativo
FONTE: adaptado de Bíblia da Costura (2009) NOTA: Elaborado pela autora
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As imagens do Quadro 1 foram extraídas do sítio YKK. Disponível em <http://www.ykk.com.br/fastziper.html>. Acesso em 10 set. 2016.
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b) Elásticos QUADRO 2 – TIPOS DE ELÁSTICOS7 Tipo
Aspectos funcionais
Aspectos
Imagem
decorativos
Elástico de embutir
Roliços
Elásticos de embutir (com silicone)
- dar reforço às roupas em partes como mangas e barras; - não ficam aparentes possui várias larguras. - para franzir partes de peças como capuz, barras ou mangas.
- Não deixar a roupa deslizar em contato com a pele.
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- cores variadas
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FONTE: adaptado de Bíblia da Costura (2009) NOTA: Elaborado pela autora
Os aviamentos apresentados aqui, tipos de zíper e elásticos, são alguns exemplos compilados com maior frequência na confecção de roupas no âmbito esportivo, principalmente pela funcionalidade que apresentam. Somado aos apresentados anteriormente, há outros aviamentos utilizados, mas que se destaca, pelos seus requisitos estéticos. 2.4 ASPECTOS FISIOLÓGICOS QUE ENVOLVEM A PRÁTICA ESPORTIVA A sensação de conforto, bem-estar e outros benefícios oferecidos aos atletas estão relacionados à fisiologia humana e seu desempenho durante uma determinada
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Imagens extraídas do sítio Armarinho São José. Disponível em <http://www.armarinhosaojose.com.br/ >. Acesso em 10 Set. 2016.
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prática esportiva. A realização de atividades físicas implica uma série de fatores fisiológicos que devem ser considerados como a sensação de conforto e suas correlações, a temperatura e a transferência de calor. Tais elementos têm estreita relação com o vestuário por estar em contato direto com a pele e fazer parte de toda a mecânica do corpo. A sensação de conforto é um dos elementos essenciais na vida do ser humano e durante sua evolução esteve em busca do bem-estar e de se relacionar da melhor forma com o meio em que vive. Assim, o conforto pode ser considerado um “estado de harmonia física e mental com o meio ambiente, baseado na ausência de qualquer sensação de incômodo” (GASI 2008, p.13). Em relação ao vestuário, o conforto opera em três perspectivas: a física, que se relaciona com as sensações provocadas pelo contato do tecido com a pele e do ajuste da confecção ao corpo; a fisiológica, relacionada à interferência do vestuário nos mecanismos do metabolismo do corpo, em especial o termorregulador, a isolação térmica, permeabilidade ao vapor e transporte de umidade; e o psicológico, relativo às questões estéticas, moda, situação, meio social e cultural. (HIGGINS, ANAND8, 2003, apud, GASI, 2008) No que tange aos aspectos fisiológicos, o organismo humano possui um sistema termorregulador que busca manter a temperatura corporal por meio de um mecanismo de controle metabólico do fluxo sanguíneo na superfície da pele (vasoconstrição e vasodilatação) que são responsáveis pelo ganho ou perda de calor no organismo (MARQUES JUNIOR, 2008). Entretanto, esse sistema não consegue ter uma termorregulação capaz de equalizar a temperatura corporal às diversas variações climáticas, por isso, o homem necessita das vestimentas para se chegar a um balanço térmico. A temperatura e o sistema termorregulador são fatores relevantes em questões fisiológicas e, como apresentado anteriormente, o corpo interage com o tecido e este pode beneficiar ou não o corpo humano, dependendo da tarefa que este executa.
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Higgins, L.; Anand, S. Textile Materials and Products for Activewear and Sportswear. Textiles Intelligence Limited, 2003, ISBN 1-902625-38-2, 6-10.
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2.5 A ERGONOMIA NO CONTEXTO ESPORTIVO Esta disciplina irá considerar a interação do corpo com o vestuário em um contexto de atividade intensa. O sistema fisiológico do atleta durante a prática esportiva fica alterado, o aumento do suor e da frequência cardíaca, respiração intensa, são exemplos de reações desencadeas pelas diversas alterações que ocorrem no corpo durante os exercícios. Somado a isso, a mecânica corporal que exige determinada atividade também irá demonstrar pontos de maior repetitividade de movimentos em determinadas partes do corpo. Ao pensar o desenvolvimento do produto de vestuário deve-se considerar a usabilidade, o conhecimento, o conforto e o bem-estar do atleta (GONÇALVES E LOPES, 2007). No quesito usabilidade, destaca-se para o atleta os aspectos relativos à antropometria, pois o desenvolvimento de um vestuário deve considerar as medidas físicas corporais no que tange ao tamanho e proporção do corpo humano. No quesito conforto encaixam-se aspectos ergonômicos como a modelagem adequada, têxtil utilizado de acordo com as condições climáticas em que será utilizada a peça e outros recursos funcionais que promoverm sensação de bem-estar. Já o conhecimento está relacionado à aspectos intangíveis que levam o usuário a querer o produto como estampa, modelo e outros recursos de estilo presentes na peça que promovam um conforto psico-estético relacionado à avaliação estética do usuário. Os elementos apresentados são requisitos necessários da ergonômica aplicada ao desenvolvimento de produtos de moda. Ao visitar os conceitos propostos pelos autores apontados aqui, foi possível destacar fatores que interagem, como é o caso da antropometria, base para o desenvolvimento de roupas. Esta, por sua vez, se relacionará com a sensação de conforto considerando as dimensões citadas no parágrafo anterior. Portanto, compreendendo as dimensões ergonômicas em relação ao produto de moda é possível entregar uma peça ao usuário com um valor funcional, sem se ater somente ao estético e, com isso, promover uma experiência com o vestuário, que proporcione conforto, segurança e bem-estar.
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2.6 METODOLOGIA PROJETUAL PARA O DESENVOLVIMENTO DE UMA COLEÇÃO DE MODA Para desenvolver a coleção de moda voltada para mulheres praticantes de triátlon será utilizada como ferramenta de suporte o Design Thinking, a fim de apoiar no desenvolvimento de produtos. Ela foi selecionada por engendrar um conceito que apesar de perpassar e estar presente de certa forma nos fundamentos metodológicos do design, tem suas primeiras bases lançadas a partir da década 70 (VOGUEL, 2010). De acordo com Lockwood (2009) apresenta cinco aspectos-chave do design thinking: o primeiro, consiste em ter uma profunda compreensão do consumidor, por meio de uma pesquisa de campo – uma abordagem empática com instrumento para se chegar à insights; o segundo aspecto refere-se ao trabalho interdisciplinar, de forma colaborativa; o terceiro aspecto, acelerar o aprendizado por meio da visualização, experimentação e criação de protótipos rápidos; o quarto está relacionado ao último, na geração de conceito; e o último aspecto se refere à integração da análise do negócio durante o processo e não ao seu término, a fim possibilitar um pensamento integrativo que irá promover o raciocínio criativo. Brown (2010) complementa ainda que, de acordo com a natureza do design thinking, não há passos certos a serem seguidos ou um processo estabelecido, mas há pontos de partida e pontos de referência a serem considerados dentro de um contexto em que se analisa as lacunas, os espaços sobrepostos: A inspiração, o problema ou a oportunidade que motiva a busca por soluções; a idealização, o processo de gerar, desenvolver e testar ideias; e a implementação, o caminho que vai do estúdio de design ao mercado. Os projetos podem percorrer esses espaços mais de uma vez à medida que a equipe lapida suas ideias e explora novos direcionamentos. (BROWN, 2010, p.16)
Tais espaços sobrepostos, são os caminhos que o designer precisa revisitar, a fim de encontrar novas possibilidades, buscando encontrar aquilo que não se tinha visto anteriormente, melhorar o produto e poder oferecer algo que atinja as expectativas dos usuários. Sendo assim, baseado na proposta de Lockwood (2009), e Brown (2010), o presente trabalho buscou desenvolver seus produtos tendo como base os princípios expostos aqui.
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3 DESENVOLVIMENTO DA COLEÇÃO
3.1 PROPOSTA Este trabalho teve como propósito o desenvolvimento de uma coleção de roupas femininas para a prática da modalidade esportiva triátlon, com foco em funcionalidade e estética. Para isso foi utilizada a ferramenta design thinking no processo de criação dos produtos propostos que propiciou uma imersão no mundo dessas usuárias, compreendendo suas necessidades, produzindo as peças e, por fim, desenvolvendo protótipos para testar os modelos. O público-alvo da coleção são mulheres, profissionais, que tem como paixão comum o triátlon e o praticam em suas horas de lazer. Para compreender essas atletas foi feita uma pesquisa qualitativa, considerando os conceitos do design thinking para compreender as necessidades e expectativas dessas mulheres. O resultado dessas pesquisas configurou-se numa coleção de moda baseada em três pilares: a primeira, roupas para dias de prova, que consiste do macaquinho, body e tops e bermudas pensadas para a prática do triátlon; roupas para os dias de treinos que compreendem às modalidades específicas como a corrida, natação e ciclismo; e por fim, as roupas de apresentação, formadas por roupas baseadas no conceito atlheisure (peças com visual e tecnologia esportiva, mas utilizada em outros contextos sociais), destinadas à utilização no pré e pós prova ou no cotidiano. A modelagem e a escolha dos tecidos foram pensadas para proporcionar maior funcionalidade às usuárias, nesse sentido foram selecionados tecidos e recortes adequados às peças que serão utilizadas em cada situação esportiva. A pesquisa de tendências tangenciou a criação da coleção na paleta de cores, modelagem e elementos de estilo que também foi influenciado pelo conceito da coleção, baseado na arquitetura contemporânea da cidade de Curitiba e nas ciclovias decoradas por flores e plantas diversas, incluindo as orquídeas.
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3.2 ESTUDO DO PÚBLICO-ALVO
Para compreender o público-alvo formado por atletas mulheres, praticantes de triátlon, foi desenvolvida uma pesquisa qualitativa, baseada na metodologia do design thinking, a fim de identificar quais eram os problemas que encontravam nas roupas e as sugestões de possíveis melhorias.Com o objetivo de ser aplicada em formato de entrevista e grupos focais, as perguntas9 buscaram compreender quais as peças comumente as atletas mais utilizavam, quais eram os problemas que mais enfrentavam ao usar uma roupa para a prática esportiva e se encontravam roupas satisfatórias no mercado nacional. Nesse sentido, devido à abrangência do esporte, o questionário se desdobrou em três grandes segmentos: triátlon, as roupas utilizadas nos dias de prova; dias de treino, as roupas utilizadas para usar em treinos específicos para a corrida, para a natação e para o ciclismo; e por fim, as roupas de apresentação, para serem utilizadas pré e/ou pós prova. Em cada uma das modalidades analisou-se os seguintes critérios em termos de incômodo durante a pratica esportiva: aviamentação, costura, têxtil, modelagem e estética. A pesquisa foi realizada com trinta atletas de três academias distintas de Curitiba, Webtreino, Amaral e BPM. O resultado do questionário revelou uma preocupação extrema com as roupas para a competição. Segundo as entrevistadas, os macaquinhos disponíveis no mercado apresentam uma série de problemas. Entre as reclamações destacaram-se os problemas de acabamento, como costuras da gola e das cavas e entrepernas, que causam atrito durante a atividade física. A modelagem da referida peça, especificamente sobre as cavas das peças e a barra das bermudas e macaquinho. Segundo as entrevistadas, algumas cavas são muito abertas e deixavam o seio em evidência durante a atividade física. Em relação às barras, as atletas reclamaram do tipo de costura e da medida da coxa apresentada pelos macaquinhos por serem muito apertadas. Isso explica-se devido ao fato das atletas exercitarem muito as pernas e, por isso, possuírem a circunferência das coxas maiores, neste caso o tamanho reduzido e a costura ajustada da barra ocasiona o estrangulamento das coxas. 9
O questionário desenvolvido encontra-se no apêndice.
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E por fim, as atletas apontaram os têxteis utilizados na confecção dos macaquinhos como um problema, pois quando molhados acabam ficando transparentes e causando desconforto para as usuárias. Em relação às modalidades como natação, o tecido dos maiôs foi apontado como ruim, por apresentar pouca durabilidade. Em relação às roupas para corrida e ciclismo, as atletas informaram que há poucas roupas com refletivos, que as deixem visíveis enquanto praticam o esporte na rua. Em relação ao ciclismo, as atletas informaram que o bretelle (espécie de calça legging ou bermuda com suspensório) é um problema, pois as peças não apresentam uma modelagem que respeite o corpo feminino. Aqui foram apresentadas as reclamações que mais tiveram destaque, a fim de atestar que não era uma percepção única de cada usuária.
3.3 RESULTADOS
O processo de criação das peças levou em consideração os conceitos do design thinking, assim, foram contemplados os resultados da pesquisa do público-alvo na criação das peças e também, após a geração de alternativas, foi feita uma reunião com equipe interdisciplinar composta por professores do curso de Design de Moda do Senai das áreas de têxtil, modelagem e costura a fim de avaliarem as alternativas e proporem sugestões. Na sequência, foram acatadas as sugestões à geração de alternativas e iniciou-se a modelagem das peças e a escolha da paleta de cores e estamparia voltadas para a coleção de inverno 2017. Na sequência são apresentadas imagens realizadas para o editorial da coleção de moda deste estudo. Elas são destacadas aqui para explicar o processo de desenvolvimento e as soluções utilizadas. Para a linha de roupas de competição, foi selecionado o Sportiva Pro pela sua capacidade de secagem rápida e pela proteção UV 50+. Em especial, o macaquinho do triátlon foi modelado considerando uma cava pouco acentuada na frente e com maior abertura na parte das costas. À medida da coxa foi adicionado alguns centímetros a fim de ser um pouco maior que o padrão apresentado em tabelas de medidas. A fim de minimizar o atrito da costura da barra, foi aplicado silicone,
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tecnologia que permite a aderência do mesmo à pele não permitindo que a peça suba ou enrole. O zíper foi mantido na parte frontal da peça por apresentar melhor vestibilidade. As figuras 7 e 8 abaixo, apresentam o macaquinho confeccionado e a aplicação do silicone na barra na parte interna do tecido, a fim de promover aderência à pele da usuária. FIGURA 7 E 8 – MACAQUINHO DE TRIÁTLON E BARRA COM APLICAÇAO DE SILICONE
FONTE: Eliandro Oliveira
Para a linha de natação, foi selecionado o tecido Swin XLA por apresentar maior resistência ao cloro. A modelagem do maiô passou pela confecção de uma peça teste, para verificar a viabilidade deste, conforme imagens 9 e 10. Foi testado o recorte diferenciado das cavas, a fim de atribuir estética para a peça, mas sem deixar de lado o conforto para a atleta. FIGURAS 9 E 10 – MAIÔ TESTE E MAIÔ FINAL
FONTE: Eliandro Oliveira
Já para a linha de corrida e ciclismo foram escolhidos dois tecidos por apresentarem propriedades como alta compressão, como é o caso do Compress, e
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por promover a regeneração muscular, como é o caso do 4 Way Emana. Adicionalmente para essas peças foram incluídos a aplicação de um termocolante refletivo em algumas peças a fim de promover a sinalização, mas de forma discreta e com estética. FIGURAS 11, 12 e 13– CORTA-VENTO, LUVAS E CALÇA LEGGING
FONTE: Eliandro Oliveira
Na figura 11, o corta-vento recebeu a aplicação na parte das costas do termocolante refletivo. Na figura 12, a luva recebeu na lateral externa da mão, para ser visto com facilidade e na figura 13, o termocolante foi aplicado na região do joelho, frente e costas. Somada à paleta de cores em tons de branco, roxo, preto e chumbo, que dialogam com as tendências do inverno 2017, foi escolhida a cor vibrante rosa choque, a fim de energizar a paleta e contextualizar o universo esportivo. FIGURAS 14, 15, 16, 17 E 18 – PRODUÇÃO DE MODA DA COLEÇÃO
FONTE: Eliandro Oliveira
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As estampas escolhidas dialogam com as ruas, a velocidade e as flores geometrizadas, conforme as figuras 14, 15, 16, 17 e 18. Estas imagens são o registro dos looks produzidos para este trabalho.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como a metodologia do design thinking propõe uma ação no processo de desenvolvimento de forma iterativa, o desenvolvimento da coleção se baseou nesses conceitos para conferir às peças funcionalidade - por meio de bolsos, elásticos, refletivos - e estético, baseada no conceito da coleção e nas tendências de moda. Ao usar tal ferramenta, propiciou-se uma grande aproximação e empatia com as usuárias, o que enriqueceu de alternativas e ideias o processo de criação e desenvolvimento dos produtos. Sendo assim, através dessa pesquisa, foi possível identificar que a roupa voltada para a prática esportiva do triátlon, além de suas intrínsecas necessidades técnicas, pode também ser agregada de estética e conceitos de tendências de moda. Mas, para isso, o olhar do designer é fundamental com as suas metodologias, ferramentas e habilidades ele poderá realizar uma profunda compreensão do públicoalvo, passando por uma pesquisa ampla sobre tendências de moda, estudo de viabilidade de modelagem para assim propor peças que associem aspectos funcionais aos do universo da moda, evocando o feminino, contemporâneo para o mundo esportivo. Neste trabalho foi possível agregar esses dois universos e o resultado foi uma coleção inteiramente focada no universo feminino, considerando suas expectativas e necessidades tanto estéticas quanto técnicas. REFERÊNCIAS A BÍBLIA DA COSTURA: PASSO A PASSO DE TÉCNICAS PARA FAZER ROUPAS E ACESSÓRIOS. Tradução: Alessandra Mussi. Rio de Janeiro: Reader’s Digest, 2009. BROWN, T. Design Thinking: uma metodologia poderosa para decretar o fim das velhas ideias (Elsevier, Eds.). p.249. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
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APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO INVESTIGATIVO TRIATLETAS
Pesquisa Triatletas Escola Quantidade de alunas Nomes/idade: Triátlon O que mais incomoda vocês durante uma prova de triátlon e como? Costuras Aviamentação Têxtil
Shape
Tamanho
Estética
Utiliza o macaquinho ou outras peças nas provas? Quais? Usa roupa íntima por baixo? Quais tipos? A roupa que usa depende da modalidade de triátlon? Qual utiliza nas seguintes provas? Sprint 760/20/5 Olímpica 1,5/40/10 Ironman 3,8/180/42Meio Iron 1.9/90/21
Durante as transições sente que a roupa ajuda ou atrapalha? Em que poderia ajudar? Como é no inverno? Você encontra esses atributos em produtos no mercado paranaense? Brasileiro? De que marca? Encontra no mercado exterior? De que países? Quais marcas? Roupas de Treino Natação o que mais te incomoda em suas roupas de banho? Costuras Aviamentação
Têxtil
Shape
Tamanho
Estética
O que você considera primordial em suas roupas de treino para a natação?
Ciclismo o que mais te incomoda em suas roupas de corrida? Costuras Aviamentação
Têxtil
Shape
Tamanho
Estética
Corrida o que mais te incomoda ? Costuras
Têxtil
Shape
Tamanho
Estética
Aviamentação
Você encontra esses atributos em produtos no mercado paranaense? Encontra em outros locais no Brasil? Em que cidade? Em estética e simbólico, acha que as roupas apresentam cores, estampas ou outros atributos que te agradam O que gostaria de encontrar nas roupas que te agradaria? Modelagem, cores, estampas, Roupas de apresentação Que tipo de roupa costuma utilizar para chegar até as provas no inverno? Gosta da estética dessas roupas? Acha que poderiam ter elementos que remetessem ao triátlon?