COLEÇÃO DE MODA FESTA A PARTIR DE TÉCNICAS DE MODELAGEM ORIENTAIS CONTEMPORÂNEAS Daniel Tzaschel Fagundes dos Santos1 Edson Korner2 RESUMO Este estudo tem a intenção de relatar os processos necessários para o desenvolvimento de uma coleção moda festa focada na modelagem oriental contemporânea. Através de uma pesquisa bibliográfica foram identificadas as raízes da modelagem ocidental e oriental; a interferência que uma teve sobre a outra; como elas evoluíram mesclando técnicas e conhecimentos; de que forma tais conhecimentos se mesclaram. Também foram estudados métodos e técnicas de modelagem orientais, testes experimentações de tais técnicas e participação de cursos com foco no segmento. O resultado é a apresentação de uma coleção de 15 vestidos de moda festa que demonstra que as técnicas de modelagem orientais podem ser exploradas no segmento. Palavras-chave: modelagem, costura, japoneses
1 INTRODUÇÃO No quesito troca de informações, o mundo ocidental e parte do oriental não conhecem mais o significado da palavra "fronteiras". Os termos mundialização e globalização explicam o fenômeno dessa "inexistência" de limites referentes à política, cultura, economia, tecnologia. Segundo Ortiz (1996) ambos os termos são corretos ao nos referirmos à Moda e justificam o fluxo de trocas entre culturas e localidades, envolvendo pessoas e mercadorias e a hibridação de culturas que se faz cada dia mais aparente devido à facilidade da interação imediata causada pelos meios de comunicação. De acordo com Avelar (2009, p. 98) "A moda se vale, como vemos, cada vez mais de elementos multiculturais e transnacionais, que vão além das fronteiras culturais geograficamente estabelecidas"
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Aluno do 6 período do Curso Superior de Design de Moda da Faculdade de Tecnologia Senai Curitiba Professor do Curso Superior de Design de Moda da Faculdade de Tecnologia Senai Curitiba
Tendo como gancho inicial esse espírito do tempo da Moda, com as necessidades de cada época e esse mundo sem barreiras, é inevitável uma análise do momento da história em que as culturas dos extremos se chocaram, misturaram-se e deram luz ao sistema da Moda como o conhecemos atualmente, tendo como prioridade as raízes e desenvolvimento da modelagem em si. (ORTIZ, 1996) As diferenças culturais e a maneira como a história se desenrolou no Oriente e Ocidente tiveram como consequência a formação de diferentes vertentes filosóficas, consequentemente, diferentes maneiras de ver o mundo, diferentes maneiras de pensar, diferentes maneiras de se vestir. De acordo com Wang (2005), no Ocidente o foco era que o tecido fosse manuseado para o ajuste no corpo humano, enquanto no Oriente consideravase a estrutura da vestimenta e tecido, e só então o corpo era coberto, "ignorando" as características do corpo humano. Exemplos disso são: o quimono japonês, o vestido tradicional coreano, o sári indiano. A cultura oriental manteve a tradição em suas vestimentas durante gerações. Contudo, com o desenvolvimento e o crescimento do contato entre Ocidente e Oriente, foi irremediável a influência que eventualmente uma teria sobre a outra, iniciando mudanças primeiramente no Japão, em seguida China e espalhando-se para outros países orientais. A silhueta oriental sempre foi baseada em linhas retas, contudo, com a popularização do Ocidente, foi incorporado às suas formas e técnicas: o estudo do corpo; técnicas de drapeado; modelagem plana mesclada com modelagem tridimensional; reconstrução e transformação de bases; etc. Assim, deu-se origem a um novo tipo de know-how de modelagem que é usado, aperfeiçoado e restruturado até hoje. (WANG, 2005) Ainda relacionado com esse hibridismo de modelagens e as reestruturações que a moda passou ao longo dos anos é prudente citar também o desenvolvimento da arte da costura que vem de tempos remotos, onde o homem desenvolveu conhecimentos de recortar, costurar e manejar peles de animais, evoluindo e criando artefatos, máquinas, e processos que ficaram mais modernos e são necessários para a confecção de peças do vestuário até os dias de hoje.
Partindo dessa ideia, com a fórmula (MODELAGEM+COSTURA) a primeira coisa que vem à cabeça seria a roupa sob medida, a alfaiataria, a alta costura, a moda festa e todas as vertentes que utilizam de um processo artesanal em sua confecção e manuseio. Desses segmentos citados, o presente trabalho focará no de moda festa, que vem crescendo de maneira interessante, incentivando a abertura de novos ateliês e marcas já existentes à acrescentarem em seu conjunto de produtos como vestidos de festa com abordagens diferentes em modelagem, material, inspiração,... (KALIL,2014) Portanto esse projeto pretende apresentar uma coleção de moda festa inspirada no conhecimento e modelagem que os criadores orientais exercem em suas coleções e técnicas e ao mesmo tempo, explorando um mercado que possuí lacunas para serem preenchidas.
2 EVOLUÇÃO DO VESTUÁRIO E DE SUA MODELAGEM A história da modelagem e a evolução do vestuário sempre andaram lado a lado. Primeiramente, houve a necessidade de proteção, e aos poucos foi evoluindo para a vontade da afirmação social, distribuição de poder, religião, diferenciação de classes sociais, expressão cultural, expressão filosófica e até hoje o vestuário pode demonstrar uma centena de motivos que o levam do “lixo ao luxo”. (NERY, 2007) Segundo Sabrá (2009), essas diferenciações começaram a aflorar a partir do momento em que o ser humano tomou consciência de que a vida em conjunto, bem como o sedentarismo, seria muito mais propensa ao sucesso do que uma vida nômade e solitária. Com essa mudança de comportamento, criaram-se comunidades, aldeias que foram evoluindo para cidades-estados, reinos, impérios e assim sucessivamente até o que chegamos aos dias atuais. Esses conglomerados populacionais pedem uma diferenciação entre seus habitantes e as vestimentas, adornos e modelagem foram e são um marco importante para essa segregação. Nery (2007) afirma que o próprio sedentarismo do homem permitiu que ele começasse o processo de cultivar plantações que poderiam fornecer matéria prima para a confecção de tecidos mais maleáveis e, consequentemente, dariam origem a peças que
poderiam ser moldadas ao corpo, em um processo primitivo de moulage. Dos egípcios com suas kalasiris (túnicas longas amarradas em volta do corpo), persas com a mistura do couro com materiais mais leves, aos gregos e romanos que drapejavam tecidos de diversos tamanhos, compondo seus looks com broches, adornos, fitas e cordões, todos eram modelados direto na figura humana. De acordo com Duburg (2012, p. 11): Moulage é um fenômeno típico da história da roupa ocidental. As elegantes vestes da antiguidade, modeladas tridimensionalmente, podem ser consideradas como as primeiras antecessoras. Nos séculos posteriores, foram usadas roupas semelhantes à túnica, e foi assim até o final da Idade Média, quando os primeiros cortes começaram a aparecer. No entanto, não há registros de moulage genuína no século XIX.
Hollander (1996) indica que foi com o início da Idade Média que houve uma mudança embora não muito considerável, no vestuário do ocidental. Por mais que algumas peças ainda possuíssem a essência de túnicas, elas foram gradativamente mudando para peças mais ajustadas ao corpo, que tinham uma intenção frustrada de evidenciar curvas. Somente no século XIV foram desenvolvidas técnicas de vestuário baseado em cortes que prezavam uma imagem mais tridimensional. Porém esse conhecimento tecnológico era estritamente masculino devido à mulher ser considerada incapaz de mesclar esse conhecimento com a criatividade necessária, ficando responsável apenas pela arte da ornamentação. Apenas 3 séculos depois foi constatada a presença das modistas e um avanço na moda feminina e da moda como um todo. Para Hollander (1996, p.31) “seria mais correto dizer que a moda só se tornou realmente uma força no século XVIII, nos primórdios da Revolução Industrial”. Com a necessidade de rapidez na manufatura de vestuário, criaramse padrões. A invenção da fita métrica, um século depois, e também do busto-manequim, peça de extrema importância para o desenvolvimento da modelagem tridimensional, tudo isso complementado com a invenção da fotografia permitiram um enorme avanço na confecção, catalogação e medição de várias formas do corpo humano. (JONES, 2005)
Foi o inglês Charles Frederick Worth, em 1858, o pioneiro das aplicações dessas técnicas junto com a abordagem diferenciada de pré confeccionar suas roupas ao invés de serem feitas ao bel-prazer de suas clientes, o que deu início a proximidade da alta-costura como conhecemos nos dias de hoje. Outro grande nome da época, e inspiradora de novos talentos até hoje, foi a estilista Madeleine Vionnet que, em sua época (1920-1930), foi reconhecida pelas técnicas de moulage que utilizava com o tecido, usando de maneira que pareciam roupas esculpidas ao corpo de suas modelos de maneira prática e ao mesmo tempo sofisticado. (DUBURG, 2012) De acordo com Duburg (2012), a moulage foi utilizada, melhorada, estudada por todos os estilistas das grandes maisons de alta-costura. Alex Grès, um grande ídolo de Vionnet, Cristobal Balenciaga, Nina Ricci, e muitos outros criavam baseados nessa técnica da observação do caimento do tecido em manequins. No século XX, Yves Saint Laurent, John Galliano e Sophia Kokosalaki continuaram na utilização e no aperfeiçoamento dessa técnica mesclada com outras, assim como diversos outros novos estilistas que surgiram e ainda surgirão para representar muitas maisons de moda. 2.1 MODELAGEM TRIDIMENSIONAL E BIDIMENSIONAL Como já foi comentado anteriormente, um dos itens mais importantes da moulage é o busto-manequim, que também passou por evoluções. Primeiramente era feito de vime tramado, depois de arames de ferro, passando por bustos feitos de papel machê cobertos com linho até chegar aos utilizados atualmente, que precisam possuir proporções modernas e cobertura acolchoada para alfinetar. (DUBURG, 2012) Outros materiais são necessários para a aplicação correta da moulage: tesouras de boa qualidade e de tamanhos diferentes; alfinetes finos e longos; canetas marcadoras e giz de alfaiate, para marcar as informações sobre o tecido e indicar o fio, fita métrica; curvas de alfaiate e curvas francesas para de desenhar cavas, golas e pequenos arredondamentos. E não se pode esquecer da fita de estilo ou bolduque, fitas estreitas nas cores preta e
vermelha que são alfinetadas permanentemente no busto para marcar linhas de busto, cintura, quadril, ou qualquer linha necessária. O tecido, como o busto-manequim, também sofreu modificações ao passar dos anos. Chamado de toile, inicialmente usava-se mussoline fino e macio de algodão em diversas gramaturas; hoje se usa algodão cru, que também está disponível em diversas gramaturas. A utilização de um tecido mais barato é devido à contenção de custos, e para não se desperdiçar o tecido que realmente vai ser feito a roupa, por isso é necessária a escolha de uma gramatura adequada, que combine com o tecido da confecção final. Porém, na altacostura, quando o tecido é de um peso, gramatura, caimento, muito diferente do toile, usase o decido definitivo para um caimento correto. A técnica se baseia na manipulação do tecido sobre o busto acolchoado, para a criação do vestuário de forma tridimensional (3D), assim mais realista para a percepção do caimento real da roupa. Na hora da aplicação da técnica, é necessária a preocupação com o sentido do fio do tecido, porque é ele que vai ditar o caimento do tecido sobre o corpo e a forma que ele vai tomar ao se movimentar (FISCHER, 2010, p.124). Pode se utilizar o tecido em relação ao sentido do fio de 3 maneiras: transversalmente, em viés ou com o fio reto. Testar essas 3 maneiras, dá uma ideia do caimento mais apropriado para o resultado final da peça confeccionada. A modelagem plana se difere da tridimensional por ser uma ciência "exata", obedecendo a princípios da geometria espacial. Jones (2005) define a modelagem plana como a confecção de moldes, estes reproduzem o formato do corpo humano com adaptações pré-estabelecidas no começo do processo de sua construção. Para um bom resultado seus cálculos são apurados e suas medidas precisas e há a necessidade que o modelista, quem confecciona o molde, tenha a capacidade de uma visualização 3D de todo o procedimento. (BORBAS, 2007)
3 CRIADORES CONTEMPORÂNEOS Segundo o dicionário Aurélio a definição de contemporâneo é; Contemporâneo. [Do latim contemporaneu] Adjetivo. 1. Que é do mesmo tempo, que vive na mesma época (particularmente a época em que vivemos). 2. Indivíduo do mesmo tempo ou do nosso tempo. 3. Que possui a mesma idade; que tem o mesmo ano de nascimento. 4. Diz-se do que ou de quem pertence ao tempo atual, presente; que faz parte do nosso tempo; moderno ou novo. (FERREIRA,2004, p. 535)
Consequentemente, quando se fala de moda contemporânea e seus criadores, tratase do agora, das coisas que estão acontecendo. Ao focar no que já foi citado antes, sobre a hibridação das técnicas de modelagem, e dando ênfase para o Oriente, mais especificamente os japoneses, é coerente citar uma das escolas responsáveis pela mistura dessas técnicas em território Oriental que desenvolveu métodos próprios e avançados, permitindo criadores do mundo todo a inspirarem-se e aperfeiçoarem-se. (WANG, 2005) Teve como seu primeiro nome Namiki Dressmaking School, foi fundada em 1919 e inicialmente era exclusivamente para garotas, em uma época que a cultura Ocidental em forma de roupa ainda era considera demasiadamente moderna e para pessoas influentes e de uma classe social elevada. Foi em 1936 que adotou o nome que possui até hoje: Bunka Fashion College ou, em japonês, Bunka Fukuso Gakuin, que em uma tradução rasa significa "A escola para se aprender sobre a roupa cultural ". Além de ser uma das pioneiras em seus ensinamentos e em sua história, foi a responsável por lançar a primeira revista de moda do Japão, SO-EN.(SHOJI, 2005) Segundo o referido autor, cada sopro de inovações relacionado ao design na moda japonesa, vem da Bunka Fashion College. Tal afirmação se confirma com a lista de designer avant-garde que já passaram como estudantes ou professores por seus corredores, tais como: Yohji Yamamoto; Junya Watanabe; Kenzo Takada; Tomoko Nakamichi; Hisako Sato; Shingo Sato; entre outros.
Ainda em território japônes há Rei Kawakubo, fundadora e designer da grife mundialmente conhecida Comme des Garçons, que causou um rebuliço no mundo da moda em 2011 com a apresentação de modelos nada convencionais, com cortes e costuras revolucionárias. Ela é considerada uma visionária e consegue causar espanto com suas criações, tudo isso utilizando de técnicas de modelagem plana, tridimensional e até mesmo rudimentares de junção de tecido com trançados rústicos, podendo comparar suas criações com vestimentas de modelagem pré-histórica (PRODANOV, 2012) A mistura dessas técnicas não se manteve em barreiras orientais e também é vista em estilistas ocidentais modernos como Peter Piloto e Christopher De Vos, designers da marca Peter Pilotto. Os estilistas belgas, que mostram suas técnicas semelhantes em criações cheias de elegância e em um mix sofisticado com a modelagem plana em diversas de suas coleções (PACCE, 2012). Eles afirmam que 85% do o tempo gasto na confecção de suas peças é direto na produção 3D, em bustos de modelagem. (FISCHER, 2012). Como exemplo no ambiente de moda brasileira, temos Walter Rodrigues, que possui um conhecimento vasto sobre vestuário e sempre foi um autodidata tem como padrinhos de inspiração Madeleine Vionnet e Christobal Balenciaga, pioneiros da moulage. (YAMASHITA, 2011). E o brasileiro Wilson Ranieri, que segundo Bochichi (2014), “Se der um Google no nome de Wilson Ranieri, a palavra moulage vem imediatamente associado ao estilista”. Esse artista que tem em sua bagagem curricular trabalhos na Huis Clos, Serpui Marie e Elisa Stecca.
4 MODA FESTA/ALTA COSTURA Ao falar de moda festa, que nada mais é uma roupa feita teoricamente sob medida para uma determinada ocasião de uso, remete-se diretamente à alta costura e todo o seu glamour e complexidade artesanal de produção. De acordo com Fischer (2010) o termo alta costura, no francês haute-couture, é utilizado de maneira geral para especificar peças de alto padrão. Porém na França o termo é patenteado e só pode ser usado pelas casas de moda
dentro dos critérios estabelecidos pela "Chambre de Commerce Et d'Industrie de Paris" (Câmara de Comércio e da Indústria de Paris). Duburg (2013) afirma que o nascimento da alta costura deve-se ao inglês Charles Frederick Worth que, ao abrir seu ateliê em Paris, reformulou a maneira que peças de roupas seriam apresentadas e comercializadas. Ao invés dos clientes escolherem todos os aspectos dos vestidos, ele desenhava uma coleção, produzia em toile e a exibia em modelos vivos, limitando o poder de decisão dos interessados apenas a escolha dos tecidos. Worth também foi o pioneiro ao começar a assinar o seu trabalho, dando origem a era do designer de moda celebrado como artista. Ainda explicando seus primórdios, de acordo com Martin (1995) a alta costura teve também como marco duas circunstâncias que andaram alinhadas ao seu surgimento. Uma delas seria a invenção da máquina de costura, que propiciou uma massificação de produtos do vestuário e estimulou a valorização da busca e da necessidade de confeccionar artigos exclusivos e artesanais para um grupo seleto que queria distinguir-se em meio a uma sociedade que estava sendo remanejada na forma de se vestir. A segunda seria a maneira com que a arte moderna e a alta costura se desenvolveram alinhadas ao que seus apreciadores demandavam. A extravagância dos vestidos do século 19 cativou os observadores e pintores modernos como Manet, Degas e Seurat, que tinham como interesse retratar o cotidiano da vida urbana e a vida emocional dos indivíduos da época. Com o alinhamento entre desenvolvimento e evolução da arte e da alta costura, podese comparar o período em que o Cubismo e o Futurismo fragmentaram criações, com o momento em que a alta costura foi desafiada e forçada à mudança, criando uma separação entre o conservador e o avant-garde, vertentes que, durante toda a história da alta costura, são onipresentes, estando elas misturadas, isoladas ou influenciando de alguma forma uma a outra. (MARTIN,1995) Conforme Treptow (2003), com o passar do tempo os critérios exigidos para ser considerado uma maison de alta costura já passaram por diversas especificações rigorosas, nos dias de hoje os fundamentos requisitados já iniciam-se na primeira etapa do processo de criação, onde o estilista desenvolve diversos esboços de seus modelos, que
posteriormente serão testados em um toile e então confeccionados. Demanda que cada coleção tenha pelo menos 35 modelos, com duas coleções anuais, um mínimo de 15 funcionários e um atelier em Paris. Ou seja a moda festa se inspira nas grandes maisons e oferecem um produto mais viável ao público em geral com o ar de peças exclusivas e saídas de ateliês de luxo. Segundo Couto (2014, p2) Seguindo na contramão do fast-fashion, definido por Hoffman (2011) como uma produção rápida e contínua de novidades, mais pessoas, a cada dia, buscam uma moda personalizada, de qualidade e caimento perfeitos. Ressurge nesse momento a prática da compra de roupas sob medida, tão comum há algumas décadas e que perdeu espaço com o surgimento da indústria do vestuário.
Sendo assim, mesmo com toda a pluralização cultural, a ideia de um mundo sem fronteiras e o anseio do homem atual de querer tudo com um certo imediatismo, com fastfashion, fast-food, etc, tem se criado um desejo de possuir produtos, roupas, momentos exclusivos. E é nesse desejo que entram o retorno e crescimento da procura pela alfaiataria, moda festa e roupas sob medida (KALIL, 2011).
5 DESENVOLVIMENTO COLEÇÃO
5.1 EXPERIMENTAÇÕES
O processo da idealização da coleção como um todo começou com experimentações de técnicas de estilistas japoneses de forma isolada, para verificar quais seriam as dificuldades e facilidades de cada técnica e detalhe utilizado na coleção. Para auxiliar a confecção do vestuário de moda festa, foram feitos cursos presenciais, aulas online e um período de experiência em um ateliê especializado no segmento, para que todo tipo de acabamento fosse corretamente aplicado. Assim que as técnicas foram pré-selecionadas foram feitos sketches das possíveis peças que sofreriam algum tipo de interferência na sua modelagem.
FIGURA 5 – EXPERIMENTAÇÃO DE CURVAS FECHADAS
FONTE: O autor (2015)
FIGURA 6 – EXPERIMENTAÇÃO DE QUINAS
FONTE: O autor (2015)
FIGURA 7 – EXPERIMENTAÇÃO TWIST LAYER (CAMADA GIRADA)
FONTE: O autor (2015)
5.2 CONCEITO
Inicialmente as peças tomaram um ar mais conceitual e não se encaixavam com os anseios do público-alvo previamente definido, então foi necessária a escolha de um fio condutor para guiar a coleção e criar uma unidade para as peças. Junto com a fonte de conhecimento oriental foi mesclado na coleção inspirações das obras da designer gráfica e diretora artística belga chamada Louise Mertens, que desde criança tem colagens como sua assinatura. Admiradora da arte japonesa, ela sempre foi inspirada pelos contornos do corpo feminino, e da mistura da simplicidade com o detalhamento, que nos estimulam a olhar as coisas com mais atenção e paciência. Ela gosta de alterar e manipular imagens nas suas mais puras formas.
FIGURA 8 – JUNGLE POR LOUISE MERTENS
FONTE: Louise Mertens (2015)
FIGURA 9 – NEON POR LOUISE MERTENS
FONTE: Louise Mertens (2015)
FIGURA 10 – TROPICS POR LOUISE MERTES
FONTE: Louise Mertens (2015)
5.3. RESULTADO
Com a elaboração do conceito determinado e harmoniosamente conectado com as técnicas previamente selecionadas, foram elaboradas 3 peças que pudessem representar a essência e viabilidade da coleção.
FIGURA 11 – FOTO EDITORIAL: MACACÃO COM CAUDA\FRENTE
FONTE: O autor (2015)
FIGURA 12 – FOTO EDITORIAL: MACACÃO COM CAUDA\LATERAL
FONTE: O autor (2015)
A primeira peça, e porta de entrada da coleção, foi um macacão com cauda, com a técnica de twist layers (camadas giradas) aplicada na parte traseira, com as costas abertas e
fecho na nuca com botões forrados. Os tecidos utilizados foram todos compostos por 100% seda; shantung, georgete e seda pura. FIGURA 13 – FOTO EDITORIAL: CROPPED COM RECORTES
FONTE: O autor (2015)
A segunda peça foi um cropped, também com os mesmos tecidos do macacão e abotoadura traseira com botões forrados e a técnica utilizada foi o drapeado em camadas planas e recortes eliminando pences. FIGURA 14 – FOTO EDITORIAL: VESTIDO DECOTE ASSIMÉTRICO
FONTE: O autor (2015)
A terceira e última peça apresentada como produto, foi o vestido com decote assimétrico que apresentou as técnicas de costura de quinas e eliminação de pences por recortes. O tecido utilizado tem a composição de 100% poliéster, chiffon, cetim e tafetá. FIGURA 15 – MAKING OF EDITORIAL
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao pensarmos em criadores orientais, o lado conceitual da moda fala mais alto, com peças projetadas e origamis feito em tecido. Pensa-se na teatralidade do oriente e todo o seu esplendor resumidos em obras de arte vestíveis. Todo o processo foi focado para adequar técnicas de modelagem avançadas no segmento moda festa, criando uma coleção atemporal, tal mercado já bastante explorado localmente, porém não com uma abordagem moderna e diferente. Foi necessária algumas adequações na maneira de modelar e costurar para que a proposta não mudasse e encaixasse no público-alvo em questão. O produto final
foi uma coleção de 15 looks que vão pra 3 vertentes dento do segmento moda festa; Noivas, Festa e Coquetel Look. No processo final foram confeccionadas 3 peças que representam esses semi nichos dentro do próprio segmento, um macacão, um vestido e um cropped. 7 REFERÊNCIAS AVELAR, S. Moda: Globalização e Novas Tecnologias. São Paulo: Estação das Letras e Cores Editora, 2009. BORBAS, M. C.; BRUSCAGIM, R. R. Modelagem plana e tridimensional – moulage – na indústria do vestuário. Rev. Ciên. Empresariais da UNIPAR, Umuarama, v. 8, n. 1 e 2, p. 155-167, jan./dez. 2007. BOCHICHI, R. Ranieri: Moulage e sua marca registrada. Disponível em: http://movimentohotspot.com/noticias/ranieri-moulage-e-sua-marca-registrada/ Acesso em: 19 set. 2014. COUTO, L.; RODRIGUES, J. R.; PEDRO, E. S. A roupa sob medida no e-commerce de Moda. 2014. Artigo (Graduação em Design de Moda) - Faculdade de Tecnologia SENAI Antoine Skaf, São Paulo. DINIS, P. M.; VASCONCELOS, A. F. C. Modelagem: Tecnologia em produção do vestuário. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2009. DUBURG, A. ; VAN DER TOL, R. . Moulage - Arte e técnica no design de moda. Porto Alegre: Bookman, 2012. FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. 3. ed. Curitiba: Positivo, 2004.
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