Giovanna Gomes Brito Santos
Quadrinhos e Discursos Raciais
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário Senac – Santo Amaro, como exigência parcial para obtenção do grau de Bacharel em Design com linha de formação específica em Design Gráfico. Trabalho orientado pela Prof. Dra. Myrna de Arruda Nascimento
São Paulo 2019
Neste trabalho identifica-se também a presença de temáticas relacionadas à cultura negra nas histórias em quadrinhos, com a intenção de analisar a representação de personagens negros neste universo, com base nos conceitos de identidade, discurso e cultura popular. O resultado desta atitude e procedimento pretende configurar uma ação afirmativa, cuja finalidade é aumentar o nível crítico, de autoestima e de identificação da cultura negra na sociedade contemporânea.
Este Trabalho de Conclusão de Curso propõe organizar a história dos quadrinhos, produzidos desde o ano de 1896 até os dias de hoje, e analisar as HQs como linguagem gráfica e narrativa, como já o fizeram os especialistas no tema, Will Eisner e Scott McCloud, em obras utilizadas como referência nesta monografia. Pretende-se estudar como os quadrinhos se desenvolveram enquanto técnica e expressão gráfica, e como este conhecimento foi usado como inspiração para o projeto gráfico de TCC II.
Palavras-chave: Histórias em quadrinhos; Arte Sequencial; Cultura Negra; Linguagem; Design Gráfico. 2
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APRESENTAÇÃO
2. O TEMPO NOS QUADRINHOS 2.1. A conclusão 2.2. O conteúdo 2.3. O número 2.4. A forma
OBJETIVO
INTRODUÇÃO
Objetivo Geral Objetivos Específicos
3. QUADRINHOS E DISCURSO
3.1. Estratégias discursivas nas HQs 3.2. Cultura popular: Dominação x Resistência
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4. OS NEGROS NOS QUADRINHOS
JUSTIFICATIVA
5. O PRODUTO
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
1. A LINGUAGEM DOS QUADRINHOS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
LISTA DE IMAGENS / REFERÊNCIAS
4.1. As Aventuras de Tintim Tintim no Congo 4.2. Lamparina - O Tico Tico 4.3. Ébano Branco - Spirit 4.4. Ace Harlem - All - Negro Comics
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1.1. O vocabulário dos quadrinhos 1.1.1. A Imagem 1.1.2. O Texto 1.2. Como ler os quadrinhos 1.3. A gramática dos quadrinhos
Este trabalho é, em certa medida, a continuação de uma investigação desenvolvida no projeto de Iniciação Científica, um estudo sobre a representação de personagens negros nos quadrinhos e uma tentativa de visualizar a presença negra nos quadrinhos, partindo do entendimento de que as formas como os negros e a história da cultura negra foram retratadas nas HQs estão entrelaçadas à própria história e evolução dos quadrinhos como meio de comunicação. No entanto, em retrospecto, este trabalho nasceu antes do início da Iniciação Científica. Ele nasceu ao ler Entre o Mundo e Eu de Ta-Nehisi Coates, ao concordar e partilhar de seu “sentimento” de "mesmo sem saber inteiramente como — que o apagamento da beleza negra no âmbito da cultura estava intimamente associado à destruição de corpos negros.” (COATES, 2015, p.50) Sentimento que logo virou a necessidade de entender toda a surpresa que mora na 6
constatação de uma criança negra que olha para Miles Morales ou Pantera Negra e pensa pela primeira vez: "eu posso ser um super-herói também". Entender esse sentimento de identificação, de protagonismo, que eu mesma, afrodescendente, não consigo me lembrar de jamais ter sentido antes de assisti-los. Este Trabalho de Conclusão de Curso é, portanto, também uma tentativa de visualizar como chegamos à geração de protagonistas negros nas histórias em quadrinhos, já que por muito tempo fomos tratados apenas como personagens secundárias, desumanizados e ocupando posições de inferioridade (isto sem considerar situações de exclusão e não participação em narrativas). Assim, este TCC celebra a situação atual, na qual reescrevemos através dos quadrinhos uma nova história sobre conquista de espaços, autoestima e auto aceitação. Pois é “preciso uma nova história, uma nova história contada através da lente da nossa luta.” (COATES, 2015, p.50) 7
pai, Vladek Spiegelman, um judeu polonês que sobreviveu ao campo de concentração de Auschwitz, e que foi o primeiro e único quadrinho a ganhar o renomado prêmio de literatura, Prêmio Pulitzer, ou o mundialmente conhecido Persépolis (2000), quadrinho autobiográfico de Marjane Satrapi que conta sua vida em um Irã controlado pelo regime xiita, ou mesmo o também premiado Palestina (1993), de Joe Sacco, um retrato do drama do povo palestino, que inaugurou o gênero jornalismo em quadrinhos. Todas estas obras demonstraram o potencial artístico dos quadrinhos, contribuindo para que este meio de comunicação finalmente alcance o reconhecimento como uma forma significativa de leitura e expressão. No livro Quadrinhos e Arte Sequencial, Will Eisner, referência fundamental no mundo da arte sequencial, comenta que "o surgimento das graphic novels colocou em foco, mais do qualquer outra coisa, os parâmetros da sua estrutura" (EISNER, 2015, p.1), e é precisamente para isso, para o
As histórias em quadrinhos são um meio de comunicação que apenas recentemente foi reconhecido como uma expressão artística. Durante muito tempo os quadrinhos foram vistos de forma pejorativa pela sociedade em geral. Impressos de maneira rudimentar, em papel barato e de má qualidade, os quadrinhos eram tidos apenas como uma forma de entretenimento para crianças, pouco educativos, e muito violentos, motivo pelo qual foram censurados e até queimados em praça pública. Essa visão dos quadrinhos só começou a mudar a partir do nascimento das graphic novels, e da exploração máxima dos quadrinhos como mídia e linguagem gráfica, com narrativas totalmente voltadas para o público adulto, o que aconteceu em paralelo com um investimento cada vez maior em acabamento e qualidade de impressão destes periódicos. Hoje os quadrinhos são quase sinônimos de narrativas complexas e plurais, como é o exemplo de Maus (1986) de Art Spiegelman, em que o autor conta a história de seu 8
entendimento de estrutura, e dos quadrinhos como linguagem gráfica e narrativa que se propõe este Trabalho de Conclusão de Curso. Além de investigar e organizar as mudanças pelas quais os quadrinhos passaram, busca-se também identificar as mudanças na representação dos personagens negros, traçando uma história da presença de temáticas relacionadas à cultura negra nos quadrinhos. Pretende-se demonstrar com essa investigação como os quadrinhos se desenvolveram enquanto técnica e expressão gráfica e que o conhecimento advindo da pesquisa pode ser usado como inspiração para o projeto gráfico de TCC II, que resultou em produto editorial impresso, uma livro sobre as história dos quadrinhos. De início cogitou-se a hipótese de trabalhar no meio digital, acompanhado a própria tendência dos quadrinhos atuais de migrarem para esse meio, contudo, após análise da trajetória dos quadrinhos como peça gráfica impressa, e considerando a complexidade do
repertório da linguagem impressa, referência principal da formação da autora, elegemos o impresso como mídia para o produto final. Os estudos realizados neste Trabalho de Conclusão de Curso foram conduzidos e divididos nos seguintes capítulos: 1. A linguagem dos quadrinhos: Uma análise dos quadrinhos como linguagem, os elementos que formam seu vocabulário, as formas de ler as histórias em quadrinhos e sua “gramática “. 2. O tempo nos quadrinhos: Um estudo sobre o tempo na arte sequencial, o efeito “conclusão” e as relações entre a moldura (o quadro) e o tempo. 3. Quadrinhos e discurso: Uma análise sobre os quadrinhos como disseminadores de discursos, particularmente os discursos preconceituosos raciais. 4. Os negros nos quadrinhos: Análises de imagens e textos nos quadrinhos para entendermos como os discurso preconceituosos operam. 9
Objetivos específicos:
Objetivo Geral: •
Organizar a história dos quadrinhos, desde o ano de 1896 (data da publicação de Yellow kid, tira criada por Richard F. Outcault e publicada nas páginas do jornal New York World), até os dias atuais.
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• Analisar os quadrinhos como linguagem gráfica; • Identificar e discutir a presença de temáticas relacionadas à cultura negra nos quadrinhos; • Analisar a mudança na representação de personagens negros nos quadrinhos; • Adotar a linguagem dos quadrinhos na produção da monografia, explorando o recurso da Metalinguagem.
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Desde os primeiros contatos culturais, a comunidade negra foi, e ainda é com frequência retratada de forma negativa nas diversas mídias da tradição ocidental. Na literatura, no cinema, ou na tv, os negros eram mostrados nas narrativas como personagens secundárias, desumanizados e ocupando posições de subalternidade, isso quando não são excluídos e ignorados dessas narrativas. Essas interpretações de forma estereotipada e racista criaram profundas marcas na identidade negra, resultando em um processo de associação permanente negativa à comunidade negra. Contudo,
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essas representações negativas geram uma resposta por parte da comunidade que não se vê representada nesses espaços e que gradativamente cria formas de resistência, visando produzir representações positivas e auto afirmadoras. Entendemos que traçar a evolução da representação dos negro e documentar a contribuição da comunidade negra para os quadrinhos é uma ação afirmativa para contribuir na construção da subjetividade cultural do negro (autoestima, representatividade), elevar o nível crítico e de identificação da cultura negra na sociedade contemporânea.
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Para o desenvolvimento deste trabalho foi realizada uma pesquisa bibliográfica, com levantamento em fontes primárias para compressão de conceitos a serem operados na produção, seguindo os seguintes procedimentos: 1. Leitura e levantamento de informações sobre as histórias em quadrinhos, abordando especificamente os quadrinhos como linguagem, na seguinte bibliografia: CAGNIN, A. L. Os quadrinhos. São Paulo: Criativo, 2014 EISNER, W. Quadrinhos e arte sequencial. São Paulo: Martins Fontes, 2001 MCCLOUD, S. Desvendando os quadrinhos. São Paulo: M. Books, 2005 2. Revisão bibliográfica para compreensão de conceitos 14
e 362). Rio de Janeiro, nov. 2009. AIZEN, N; MOYA, A; CIRNE, M; D’A; Assunção, O. Literatura em quadrinhos no Brasil: acervo da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002. CAMPOS, R. Imageria - o nascimento das histórias em quadrinhos. São Paulo: Veneta, 2015. KLEINERT, A. Enciclopédia dos quadrinhos. Porto Alegre: L&PM, 2011 MAZUR, D; DANNER, A. Quadrinhos - História Moderna de Uma Arte Global. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2014. MCCLOUD, S. Desvendando os quadrinhos. São Paulo (SP): M.Books, 2005 MOYA, A. História da história em quadrinhos. Porto Alegre: L&PM, 1986 WEINER, S. Faster Than a Speeding Bullet: The Rise of the Graphic Novel. S.l. NBM, 2003
como cultura popular, identidade, dominação e resistência: CHAUI, M. Conformismo e Resistência. São Paulo: Editora Brasiliense, 1986. CIRNE, M. Uma introdução política aos quadrinhos. Rio de Janeiro: Vozes, 1982. DOMINGUES, P. Cultura popular: as construções de um conceito na produção historiográfica. (Online) História. 2011, vol.30, no.2, p.401-419. HALL, S. Da diáspora: Identidades e mediações culturais. Tradução Adelaine La Gardia Resende. Brasília: Editora UFMG, 2003. 3. Criação e produção de um diagrama para organização dos quadrinhos segundo critério cronológico, com base na seguinte bibliografia: A Cronologia dos Quadrinhos. Jornal da ABI, (Edições 348 15
linguagem gráfica e narrativa, produzimos os capítulos a seguir, que abordam o vocabulário, a imagem, o texto, além do sentido da leitura e o trabalho com a gramática dos quadrinhos.
Das tiras dos jornais às graphic novels, os quadrinhos mudaram bastante desde seu surgimento até os dias de hoje, com maior investimento e qualidade na produção. Espalharam-se por todos os gêneros literários, com narrativas cada vez mais sérias e complexas, ganhando reconhecimento como meio de expressão válida de leitura e de vinculação de ideias. Os quadrinhos foram definidos como arte sequencial pelo mestre Will Eisner (2015). Ainda assim, na tentativa de promover a compreensão do que são os quadrinhos, também podemos olhar para a definição de Scott McCloud em seu livro Desvendando os Quadrinhos (2005), no qual os descreve como: “Imagens pictóricas e outras justapostas em sequência deliberada destinadas a transmitir informações e/ou a produzir uma resposta no espectador. (McCloud, 2005, p.9)” Como aponta Will Eisner em seu livro Quadrinhos e Arte Sequencial: "o surgimento das graphic novels colocou em foco, mais do qualquer outra coisa, os parâmetros da sua estrutura" (EISNER, 2015, p.1). Justamente para discutirmos o entendimento dos "parâmetros de sua estrutura", e dos quadrinhos como
1.1 O vocabulário dos quadrinhos Os quadrinhos são formados, essencialmente, por dois códigos que se completam para formar uma leitura interdependente deste meio de comunicação e expressão: o código verbal e o código icônico a imagem e o texto. Os elementos básicos da linguagem dos quadrinhos. 1.1.1 A imagem A imagem nos quadrinhos é normalmente resultante do desenho manual, elaborado em mídia tradicional ou digital. “A imagem, enquanto cópia de alguma coisa, é uma representação imitativo-figurativa” (CAGNIN, 2014, p.46). Scott McCloud define a imagem nos quadrinhos como ícone pictórico, incluindo nesta definição qualquer imagem que represente uma pessoa, local, coisa ou ideia. “A compreensão de uma 18
imagem requer um compartilhamento de experiências.” (EISNER, 2015, p.7). Portanto, ainda citando EISNER (2015, p.7): “O êxito ou fracasso desse método de comunicação depende da facilidade com que o leitor reconhece o significado e o impacto emocional da imagem.” 1.1.2 O texto O texto pode aparecer nas HQs das seguintes formas: como balão, como legenda, explorando o grafismo (ou imagem) de uma onomatopeia ou ainda como título da HQ. • O balão contém as falas e os diálogos, e tenta captar e tornar visível o som. O balão não tem forma definida, variando com o próprio estilo de cada artista, sendo os balões mais comuns os balões de fala (Figura 1) e os balões de pensamento (Figura 2):
Figuras 1 e 2 – Um balão de fala (elemento circular incompleto, fechado por dois arcos que convergem no mesmo sentido para o personagem que “fala” o texto) e um balão de pensamento (representado como uma nuvem, acessada por círculos irregulares vazados). – Balão de Fala e Balão de Pensamento
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[...] o balão também tornou-se imagem para representar as diversa reações e emoções por que passa a personagem, formas metalinguísticas portanto, como a entonação da voz, o medo, o gaguejar, a raiva e tantos outros. (CAGNIN, 2014, pag.141).
Nas imagens abaixo (Figuras 3 e 4), os balões também estão alterados em função da entonação que se pretende dar a fala do personagem e as pausas ou ênfases do texto.
Figura 7 Onomatopeia
• A onomatopeia no quadrinho corresponde a apresentação do texto como imagem. É a reprodução visual de um som ou ruído. Pode-se dizer que ela tem sua expressão máxima nos comics americanos. (Figura 7)
Figuras 3 Balão Grito
• Os títulos das histórias são apresentados como imagem gráfica, como forma de apresentação do personagem e/ou da história (normalmente a tipografia do título aparece sobreposta a uma imagem, do próprio quadrinho, ou como uma logomarca) (Figuras 8 e 9).
Figura 5 Legendas nos quadrinhos. Figuras 4 – Balão Elétrico
• A legenda ou recordatório normalmente encontra-se sob os quadrinhos, narrando os acontecimentos das imagens, atualmente encontra-se juntamente com as imagens dentro do quadro. Contém, normalmente, uma narrativa do narrador, e é utilizada para esclarecer ou adicionar alguma informação à história, que contextualiza a imagem. (Figura 5)
Figura 8 – Título de Buster Brown
Figura 9 – Título de Batman 20
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É fácil notar a interdependência dos dois códigos, verbal e icônico, para a criação da linguagem dos quadrinhos, que acontece sobretudo pela sua complementaridade
Figura 11 – Numeração de página em Little Nemo.
Se o verbal tem amplo poder de representação no vasto campo das ideias e dos conceitos universais, a imagem está revestida da imensa riqueza da representação do real e nos traz o simulacro dos objetos físicos e até a sugestão de movimento [...]. (CAGNIN, 2014, p.42)
Figura 10 – Numeração de campos sugerindo sequência da leitura – Ordem de leitura ocidental
A imagem e o texto estão contidos pela moldura, o quadro, que é a “unidade mínima articulável” e que serve para - ainda que muitas vezes seja inexistente - marcar os limites da imagem e do texto e delimitar um momento no tempo e espaço. É da sequência dos quadros que nasce a narrativa.
Figura 12 - Numeração de campos sugerindo sequência da leitura. Ordem de leitura oriental.
Alguns dos primeiros quadrinhos, publicados no início do século passado tinham os quadros numerados para indicar a ordem de leitura correta. (Figura 11) No entanto, há outras formas de leitura, que se adaptam a culturas ou linguagens particulares. Nos mangás japoneses, por exemplo, a leitura é feita no sentido contrário a leitura ocidental, indo da direita para a esquerda, a exemplo do que acontece na leitura de textos verbais na cultura oriental. (Figura 12):
1.2. Como ler os quadrinhos A leitura dos quadrinhos segue o sistema ocidental de leitura das páginas de texto, indo da esquerda para a direita. (Figura 10)
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1.3. A gramática dos quadrinhos Existem ainda quadrinhos que quebram totalmente a continuidade e a ordem de leitura, como, por exemplo, os quadrinhos de Guido Crepax, em que é impossível, e até mesmo irrelevante, identificar e seguir uma ordem de leitura. (Figura 13) Figura 13 – Um exemplo dos layouts descontínuos de Guido Crepax. Valentina
Assim como acontece em relação ao quadro empregado na linguagem das HQ, em que “sua função ultrapassa a de simples representação geométrica” (CAGNIN, 2014, p.99) para se tornar “uma moldura de tempo”, a repetição de determinados símbolos cria uma “gramática” dos quadrinhos, como destaca Will Eisner: Em sua expressão mais simples, os quadrinhos empregam uma série de imagens repetitivas e símbolos reconhecíveis. Quando são usados vezes e mais vezes para expressar ideias semelhantes, tornam-se uma linguagem - uma forma literária, se se preferir. E é essa aplicação disciplinada que cria a “gramática” da arte sequencial. (EISNER, 2015, p.2) Os quadrinhos apresentam uma sobreposição da palavra e imagem, usando a experiência visual comum entre o criador e seu público. Para ser decodificado e entendido, é necessário que o leitor use suas habilidades interpretativas visuais e verbais para a leitura dos quadrinhos. “As regências da arte [...] e as regências da literatura [...] sobrepõem-se mutuamente” (EISNER, 2015, p.2) nas páginas das HQs, fazendo como que a leitura da história em quadrinhos seja “um ato de percepção estética e de esforço intelectual.” (EISNER, 2015, p.2)
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Tal desafio, no entanto, não é uma desvantagem. Na verdade, ele proporciona aos quadrinhos a singular possibilidade de permitir a leitura de várias imagens ao mesmo tempo, ou a partir de pontos de vista diferente, algo impossível de reproduzir no cinema. (EISNER, 2015, p.20)
O tempo é um dado essencial da arte sequencial. Embora “invisível”, é sensível e participa de forma determinante, como elemento estrutural da narrativa gráfica, que se resume na capacidade de expressar a passagem do tempo (na condição de narrativa que assume), e, portanto, a compreensão desta mudança temporal é um fator decisivo para a HQ e a para sua leitura. Will Eisner em seu livro Quadrinhos e Arte sequencial aponta que os quadrinhos apresentam um “obstáculo técnico” na representação do tempo visto que o tempo só pode ser percebido de forma intuitiva neste meio:
Nas HQs o “quadro age como um tipo de indicador geral de que o tempo ou espaço está sendo dividido” (McCloud, 2005, p.99). Pois “o ato de enquadrar e emoldurar a ação não só define seu perímetro, mas estabelece a posição do leitor em relação à cena e indica a duração do evento[...]” (EISNER, 2015, p.26). Como dito no capítulo anterior, é da articulação dos quadros em uma sequência que surge a narrativa e “uma vez estabelecido e disposto na sequência, o quadrinho torna-se o critério por meio do qual se julga a ilusão do tempo “(EISNER, 2015, p.26). Eisner também aponta outros elementos além do quadro que auxiliam na comunicação da passagem do tempo:
O número de imagens é limitado, ao passo que no cinema uma ideia ou emoção podem ser expressas por centenas de imagens exibidas numa sequência fluida, numa velocidade capaz de emular o movimento real. No meio impresso, este efeito só pode ser simulado. (EISNER, 2015, p.20)
Os balões, outro dispositivo de contenção usado para encerrar a representação da fala e do som também são úteis no delineamento do tempo. Os outros fenômenos naturais, o movimento ou as ocorrências transitórias dispostos dentro do limite dessas linhas e representados por signos reconhecíveis tornam-se parte do vocabulário usado para expressar a passagem do tempo. (EISNER, 2015, p.30)
Contudo, Will Eisner completa o raciocínio destacando a qualidade desta simulação: 28
Contudo, para a investigação realizada neste trabalho iremos ater o foco apenas nas relações entre a moldura - o quadro - e o tempo. O tempo nos quadrinhos pode ser “controlado” pelo quadro através de quatro maneiras, que estão relacionadas à finalidade e a expressão da linguagem gráfica: como conclusão, conteúdo, número e forma. 2.1. A conclusão
Figura 14 – A sarjeta
Em Desvendando os Quadrinhos, Scott McCloud define como conclusão o “fenômeno de observar as partes, mas perceber o todo” (McCloud, 2005, p.66), e completa dizendo que o fenômeno da conclusão é crucial para os quadrinhos pois as HQs são “um meio onde o público é um colaborador consciente e voluntário, e a conclusão é o agente de mudança, tempo e movimento” (McCloud, 2005, p.66). “Os quadrinhos exigem que a mente funcione como um tipo de intermediário - preenchendo as lacunas entre os quadros” (McCloud, 2005, p.88), essas lacunas, os espaços entre os quadros são a sarjeta. (Figura 14)
Como afirma McCloud, a sarjeta tem extrema importância para os quadrinhos, pois é “no limbo da sarjeta que a imaginação humana capta duas imagens distintas e as transforma em uma única ideia” (McCloud, 2005, p.66). A participação é uma força poderosa em qualquer meio de comunicação. Há muito tempo, os cineastas perceberam a importância de deixar o público usar sua própria imaginação. Mas enquanto o filme utiliza a imaginação da plateia para efeitos ocasionais, os quadrinhos têm que fazer isso com frequência[...] (McCloud, 2005, p.69). 29
Ainda, segundo o autor, “A conclusão deliberada e voluntária do leitor é o método básico para o quadrinho simular o tempo e o movimento”, pois “[...] Os quadros das histórias fragmentam o tempo e o espaço, oferecendo um ritmo recortado de momentos dissociados.” (McCloud, 2005, p.67e 69). No entanto, é a conclusão que nos possibilita “conectar esses momentos e concluir mentalmente uma realidade contínua unificada.” (McCloud, 2005, p.67).
2.3. Número O número de quadros também influencia na passagem de tempo e no ritmo da narrativa. Quando a narrativa precisa ser mais rápida o número de quadros é reduzido, deixando a ação mais segmentada, indo de um ponto chave da ação a outro. Quando se deseja o efeito contrário, usa-se um número maior de quadros para marcar de forma mais lenta a passagem de tempo e estender o momento. (Figura 16)
Figura 17 – Exemplo 3
Figura 15 – O conteúdo dos quadros é o maior indicador da passagem do tempo. Exemplo 1.
2.4. A forma Com base no mesmo raciocínio, observamos que o formato do quadro pode alterar nossa percepção do tempo. As formas dos quadros variam muito, e, embora essas diferenças não afetem o “significado” específico dos quadros em relação ao tempo, elas podem afetar a experiência da leitura (McCloud, 2005, p.99)
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Nada impede o leitor de pular para o final da página e ver a conclusão da ação, ignorando completamente a ordem construída pelo autor, e se o leitor não o faz é tanto devido à convenção e ao hábito da leitura - da esquerda para a direita, de cima para baixo - quanto devido à influência de outras mídias, como o cinema e a tv, em que o espectador não é capaz de fazer esse tipo de escolha. Mas nos quadrinhos há a possibilidade de viajar com os olhos por toda uma extensão de tempo que nos é apresentada de forma simultânea, “onde seus olhos estiverem concentrados, esse vai ser o agora. Só que seus olhos também captam a paisagem circunvizinha do passado e do futuro” (McCloud, 2005, p.104). E essa é uma das possibilidades que só os quadrinhos podem oferecer, “nos quadrinhos o passado é mais do que apenas lembrança, e o futuro, mais do que só possibilidade!” (McCloud, 2005, p.104).
Figura 16 - Exemplo 2
2.2. Conteúdo Segundo McCloud, “A duração do tempo e as dimensões do espaço são definidas mais pelo conteúdo do quadro do que pelo quadro em si.” (McCloud, 2005, p.99). Como no exemplo abaixo, em que por experiência, e pela familiaridade que temos com os elementos ou a ação exibida, podemos estimar a duração da sequência, que nesse caso tem, no mínimo, alguns segundos de duração. (Figura 15)
A exemplo da imagem abaixo (Figura 17), em que a mudança no formato do quadro, ainda que não provoque nenhuma alteração na ação em comparação com a versão mais curta do mesmo quadro, transmite uma sensação de maior duração.
O mais relevante talvez, de se pontuar a respeito do tempo nos quadrinhos, é que nas HQs passado, presente e futuro coexistem. Pois “quando aprendemos a ler quadrinhos, aprendemos a perceber o tempo espacialmente, pois, nas histórias em quadrinhos, tempo e espaço são uma única coisa” (McCloud, 2005, p.100). Nos quadrinhos [...] é sempre agora. Este quadro e somente ele representa o presente! Qualquer quadro anterior representa o passado. Do mesmo modo, todos os quadros que ainda virão [...] representam o futuro. (McCloud, 2005, p.104).
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Desde os primeiros contatos culturais, a comunidade negra foi, e constantemente ainda é retratada de forma negativa nas diversas mídias da tradição ocidental. Na literatura, cinema, ou tv, os negros eram mostrados nas narrativas como personagens secundárias, desumanizados e ocupando posições de subalternidade, isto sem considerar situações de exclusão e não participação em narrativas. Nos quadrinhos, como nos demais meios de comunicação em massa, não foi diferente, conforme destaca Moacy Cirne:
personagens negros, enquanto o primeiro é a personificação do bem, da coragem, da esperteza e do belo, o outro é o retrato da preguiça, primitivismo e ignorância, tanto que, muitas vezes, personagens negros servem apenas para realçar as qualidades heroicas do protagonista branco. Contudo essa dicotomia não está restrita ao universo dos super-heróis, pois pode ser vista em outros gêneros narrativos. Todas essas interpretações de forma estereotipada e racista criaram profundas marcas na identidade negra, resultando em um processo de associação permanente de características negativas à comunidade negra, que se manifesta na “sujeição cultural, subalternidade pelo silenciamento, negação de direitos e de uma impossibilidade de autovalorização” (LIMA, 2004, p. 29), fazendo com que esses indivíduos acabem por
[...] o povo negro só aparecia nas histórias como coadjuvantes temporários nas aventuras dos heróis brancos, ou caricaturados, mantendo o estereótipo de que o negro é inferior, feio, mal, primitivo, menos inteligente, falante de uma língua não culta. [...] É fácil identificar o racismo nos comics ou nas bandes dessinées, sobretudo pela lacuna (CIRNE, 1982, p. 54). Dentre todas as infinitas possibilidades criativas e ficcionais dos quadrinhos, indiscutivelmente destaca-se a figura dos super-heróis, uma personagem sem precedentes, tanto em qualidades físicas e intelectuais como morais. A imagem do super-herói é a que mais contrasta com a representação dos
[...] internalizar tais ações a que foram submetidos e iniciam, desde a mais tenra infância, um processo de auto rejeição, desprezando, consequentemente, tudo em torno de si, desde os seus fenótipos até a tradição cultural que os caracteriza, fragmentando, assim, os seus sentimentos de pertencimento e de ancestralidade (LIMA, 2004, p. 29).
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Contudo, como era de se esperar, essas representações negativas geram uma resposta por parte da comunidade que não se vê representada nesses espaços e que gradativamente cria formas de resistência, visando produzir representações positivas e auto afirmadoras do negro, o que acaba por criar uma “tensão contínua”, um relacionamento de influência e antagonismo, dominação e resistência, com esses discursos impostos. A seguir será analisado como a disseminação dessas estratégias discursivas é feita através das histórias em quadrinhos e qual seu efeito sobre os representados.
espalharam-se por todos os gêneros literários, com narrativas cada vez mais sérias e complexas, ganhando reconhecimento como meio de expressão válida de leitura e de vinculação e disseminação de ideias. Hoje, em sua maioria, os enredos e narrativas presentes nas páginas dos quadrinhos tem como objetivo ultrapassar os limites do entretenimento, servindo como metáforas (linguagem conotativa) para difusão de certos discursos. Como, por exemplo, os super-heróis, figuras estratégicas usadas em situações políticas como a guerra fria, a luta contra o nazismo, comunismo (Figuras 18) e outras ameaças às instituições que esses personagens representam.
3.1. Estratégias discursivas nas HQs As histórias em quadrinhos ou comics, como são chamados em inglês, são meios de comunicação que tem seu nome ori- ginado na palavra “cômico”, em referência às tiras e cartoons publicadas em jornais e que buscavam unicamente usar o humor e a comédia para provocar o riso e entretenimento do leitor. Os quadrinhos mudaram bastante de foco desde seu iní-cio até os dias de hoje. Com maior investimentos e qualidade na produção, as HQs 35
Figura 18 - Capitão América enfrenta Hitler
Os discursos estão presentes nos quadrinhos. Eles se manifestam por meio das narrativas, personagens, ações, comportamentos e construções estéticas e simbólicas. Especificamente, analisar-se-á como os discursos depreciativos da imagem influenciaram na criação e representação de personagens negros nas HQs, investigando as implicações dessas representações na construção da subjetividade cultural do negro (autoestima, identificação de espaço na sociedade, representatividade). Contudo, antes de tal análise é necessário responder à questão que é o ponto de partida para o entendimento completo do tema: O que é discurso? Etimologicamente, discurso contém a ideia de curso, percurso, movimento, “O discurso é assim palavra em movimento, prática de linguagem” (ORLANDI, 2009, p15). Com a análise do discurso observamos o homem falando, a “língua fazendo sentido”, enquanto forma constitutiva do homem, sua história e a realidade a sua volta, como afirma Eni Orlandi:
Desse modo, diremos que não se trata de transmissão de informação apenas, pois, no funcionamento da linguagem, que põe em relação sujeitos e sentidos afetados pela Língua e pela história, temos um complexo processo de constituição desses sujeitos e produção de sentidos e não meramente transmissão de informação. São processos de identificação do sujeito, de argumentação, de subjetivação, de construção da realidade etc (ORLANDI, 2009, p. 21).
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Os discursos são parte da construção da realidade. Eles podem ser verbais, escritos, orais, visuais ou sonoros. O importante é o significado que eles atribuem para uma determinada realidade e sua força de impor esses significados como verdade. Os rumos que essas construções seguem visam sempre proteger os interesses de um grupo majoritário. Por meio de estruturas culturais hegemônicas produzem, instituem e disseminam discursos segregacionistas e inferiorizantes destinados a manter uma imagem de superioridade desse grupo sobre um grupo minoritário. Em nossa sociedade classista esses grupos majoritários são compostos sobretudo por brancos, que concentram a maioria dos lugares de poder e tomada de decisões, utilizando-se dessa autoridade para determinar entre outras coisas os padrões estéticos, o que é belo e consequentemente o que é feio. Como resultado desses processos, o grupo minoritário acaba por acreditar e se sujeitar aos padrões que lhe foram impostos, conforme assinala Stuart Hall:
As indústrias culturais têm de fato o poder de retrabalhar e remodelar constantemente aquilo que representam; e pela repetição e seleção, impor e implantar tais definições de nós mesmos de forma a ajustá-las mais facilmente as descrições da cultura dominante ou preferencial. É isso que a concentração do poder cultural — os meios de fazer cultura nas mãos de poucos — realmente significa (HALL, 2013, p.255).
A disseminação / afirmação desses discursos inferiorizantes é feita principalmente através dos meios de comunicação em massa, como tv, cinema e os próprios quadrinhos. No entanto, os grupos minoritários ao não se verem representados nesses espaços passam a criar discursos de resistência, visando produzir representações positivas e auto afirmadoras de si. Criase então uma tensão contínua, uma relação de influência e antagonismo com os padrões impostos. Essa tensão vai definir as relações da cultura popular.
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3.2. Cultura popular: Dominação x Resistência pela cultura dominante. Por isso a cultura popular além de ser um dos principais espaços de transmissão de discursos culturais hegemônicos é também um dos principais locais de resistência “[...] pelas quais a "reforma" do povo era buscada” (HALL, 2013, p.248). Hall comenta as consequências desta circunstância:
A cultura popular é comumente entendida como aquilo que as massas escutam, compram, lêem e consomem intensamente. Além de ser vista também como tudo que as classes populares produzem de forma alheia, independente ou até mesmo com o único objetivo de contrariar a cultura erudita ou de elite. Mas como destaca Stuart Hall (2013):
Na atualidade, essa luta é contínua e ocorre nas linhas complexas da resistência e da aceitação, da recusa e da capitulação, que transformam o campo da cultura em uma espécie de campo de batalha permanente, onde não se obtêm vitórias definitivas, mas onde há sempre posições estratégicas a serem conquistadas ou perdidas. (HALL, 2013, p.255)
A cultura popular não é, num sentido "puro", nem as tradições populares de resistência a esses processos, nem as formas que as sobrepõem. É o terreno sobre o qual as transformações são operadas (HALL, 2013, p.248). Essas transformações são o resultado do conflito permanente entre grupos majoritários e minoritários, das relações de influência e antagonismo, “apropriação, reapropriação, distanciamento e ou simplesmente resistência” (DOMINGUES, 2011, p.408) com o que é produzido
É nesse contexto da cultura popular, da luta contínua, das relações de influência e antagonismo, que serão analisados o papel dos quadrinhos na disseminação de discursos inferiorizados ou auto afirmadores do negro.
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Após o incidente, Tintim consegue salvar Milu mostrando toda sua coragem, bravura e destreza, em total contraste com desempenho do marinheiro negro. (Figura 20) Figura 20 – Tintim pula para salvar Milu.
Por estarem intimamente vinculados aos outros meios hegemônicos, os quadrinhos reproduziram por muito tempo os discursos já difundidos por outros meios de comunicação, como, por exemplo, os discursos segregacionistas com base na cor da pele. Esses discursos podem ser vistos claramente através das narrativas ou dos personagens, por suas ações, comportamentos, e mesmo pela aparência como são retratados com os narizes achatados e lábios exageradamente grossos. Neste capítulo serão analisadas as imagens e os textos das histórias para entendermos como esses discursos racistas e inferiorizantes operam.
continente atrasado e primitivo, totalmente “[...] comprometida com um ponto de vista da realidade pautado pelo paternalismo, racismo e violência colonial.” (MORAES, 2015, p. 08). No início do quadrinho, ainda durante a viagem até a África, Milu cai do navio ao mar. Na tentativa de salvá-lo, um marinheiro negro joga uma boia, contudo, sua tentativa causa o efeito contrário, pois ao invés de ajudar Milu a boia empurra-o ainda mais para o fundo. (Figura 19) O recorte abaixo é um exemplo da inferiorização constante que o quadrinho faz dos congoleses, ressaltando um dos estereótipos mais comuns atribuídos aos negro, a imbecilidade ou ignorância.
4.1. As Aventuras de Tintim - Tintim no Congo Tintim é um personagem criado em 1929 por Hergé (1907 – 1983) cujas aventuras ocorrem nos lugares mais exóticos do planeta. Em uma dessas aventuras, Tintim no Congo, o jornalista Tintim e seu cão Milu desembarcam no antigo Congo Belga, na África, para realizar uma série de reportagens. A história generaliza-se a uma imagem da África como um 42
Figura 19 – Imagem do equívoco provocado pelo marinheiro negro. Tintim no Congo.
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É importante atentar também ao fato de que todos os negros desta história são desenhados de forma idêntica, pois ao não individualizar os negros é sugerido que todos são iguais, retirando assim toda identidade e individualidade que os personagens poderiam a ter, primeiro recurso empregado para desumaniza-los e diminuí-los em relação aos personagens branco. Posteriormente, com Tintim devidamente vestido como um explorador colonial é introduzido outro personagem, Coco, que será o guia de Tintim
Mais à frente deste episódio na narrativa, no momento do desembarque Tintim e Milu são recebidos com saudações de toda a população (Figura 21) e pode-se notar que: A recepção indica que estão sendo tratados como reis ou heróis, Tintim imediatamente reconhecido como líder ou chefe. Ele é carregado e saudado apenas por ser um europeu branco - a inferioridade é reconhecida pelos nativos! (MORAES, 2015, p. 45)
(Figura 22), e tem grande importância para o discurso que a história tenta passar, pois como destaca Fábio Cornagliotti de Moraes (2015): Ele é uma criança. Juventude, normalmente, evoca sentimentos de inocência, proteção. Sem dúvida, Coco precisará de ajuda e proteção durante toda a HQ, como se pretende apontar. Trata-se de um dos poucos personagens infantis, ao passo que todos os africanos foram infantilizados. Se ele fosse um homem adulto, esse mecanismo não teria o mesmo efeito. [...] Coco é o Congo idealizado. A grafia e a sonoplastia do nome “Coco” fazem lembrar imediatamente “Congo”. (MORAES, 2015, p. 49)
Figura 21Chegada de Tintim como herói.
Figura 22 – Tintim e Coco
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4.2. Lamparina - O Tico Tico
Figura 24 – A tribo
O Tico-Tico foi a primeira revista voltada para o público infanto-juvenil no Brasil, considerada a primeira revista em quadrinhos do nosso país. A revista foi influenciada pela publicação francesa La Semaine de Suzette porém seus temas e personagens estavam ligados à afirmação de elementos da identidade nacional. Personagens negros eram frequentes na revista, como Giby, Benjamim, Azeitona, contudo esses personagens eram sempre retratados de forma estereotipada, com lábios exageradamente grossos, nariz achatado, atribuindo características como estupidez, desonestidade e preguiça. Lamparina, criação de J. Carlos¹ , é uma menina negra de origem africana, de 10 anos, que se tornou oficialmente parte do elenco de O Tico-Tico em1928. Ela surgiu anônima e como mera figurante, na série “O grande vôo do Bahu”, em que, após um acidente, os personagens Carrapicho, Jujuba e Goiabada caem em uma “tribo de selvagens”. (Figura 23) A história retrata os nativos como antropofagia as que logo pensam em devorá-los:
“Cugelê, cubabá. Guarda esse pa sobremeza. Os otro tu faiz cum batata e grelo de abóba e bem picadinho”. Além das práticas antropofágicas, as palavras do rei reforçam a ideia de negro primitivo, menos inteligente e falante de uma língua não culta. (Figura 24)
Figura 23 Lamparina
¹ J. Carlos foi caricaturista, chargista, ilustrador e humorista, nasceu e viveu no Rio de Janeiro. É considerado um dos maiores cronistas visuais de seu tempo 46
No capítulo seguinte, na tentativa de escapar dos nativos, Jujuba realiza um truque que logo é interpretado como mágica pela tribo, fazendo com que os aventureiros fossem libertados e saudados por toda a tribo. O rei, então, dá de presente ao grupo uma embarcação e uma “pretinha”; a “pretinha” é Lamparina. (Figuras 25) As aparições de Lamparina na revista narram suas ‘trapalhadas’, como suas tentativas de roubar frutas ou fugir. Em todas ‘aventuras’ ela acaba sempre se dando mal. É interessante notar que apesar de conviver constantemente com Jujuba e os outros Lamparina não se comporta da mesma forma que os demais, a começar pela caracterização
Figura 25 – Jujuba faz um truque de mágica para enganar o rei.
da personagem. Lamparina é o oposto de Jujuba; enquanto esta tem traços delicados, infantis e femininos, Lamparina mal apresenta a aparência de uma menina, pois sequer usa roupas ou tem cabelos. 47
Esse contraste é frequente: enquanto Ébano é desastrado, desajeitado e atrapalhado, Spirit é forte, inteligente e corajoso. (Figuras 30 e 31)
4.3. Ébano Branco - Spirit Mesmo quando o negro é retirado do contexto selvagem, tribal, e é integrado à sociedade, são mantidas nas representações as mesmas características que o tornavam primitivo. Como é o caso do personagem Ébano Branco companheiro fiel de Spirit, o aclamado detetive criado por Will Eisner em 1940. Ébano carrega os habituais traços estéticos estereotipados atribuídos aos negros. Mesmo sob o contato e interação constante com Spirit, em uma proximidade de parceiros, Ébano é tratado de forma inferior a Spirit, funcionando como uma espécie de apoio cômico para este, estando ali apenas para criar situações que façam Spirit parecer ainda mais heroico. (Figuras 28 e 29)
Figura 28 – Ébano desajeitadamente encara um vilão.
Figuras 30 e 31 – Capas de Spirit.
Figura 29 – Ébano em perigo é salvo por Spirit.
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A diferença entre Ébano e Spirit é clara. O quadrinho é claro em mostrar que eles não são iguais, toda a construção estética de Ébano demostra que ele e Spirit não são iguais, que Ébano é apenas um apoio, estando ali apenas para causar o riso no leitor. Anos depois, em 2003, Will Eisner falou sobre a criação do personagem:
4.4. Ace Harlem - All - Negro Comics
Em julho de 1940, comecei uma tira de jornal, chamada Spirit, sobre um herói mascarado, que punha em cena, como contraponto cômico, um jovem afro-americano de nome Ébano. Isso não era nenhuma inovação. [...] Naquele estágio de nossa história cultural, o uso deformado do inglês, com base na origem étnica, era considerado humor. Ébano falava o dialeto ‘negro’ convencional, e seu humor leve contrabalançava a frieza das histórias de crime. Na minha ânsia de atrair mais leitores, achei que tinha descoberto um bom filão. [...] Embora não sinta nenhum remorso por ter criado Ébano, foi ao longo dos anos que ensinei arte sequencial que tomei consciência do problema que já durante meus cursos era confrontado sem cessar com a questão dos estereótipos. Conclui que havia estereótipos ‘bons’ e ‘ruins’; a palavra-chave era ‘intenção’. Já que o estereótipo é uma ferramenta essencial na narrativa dos quadrinhos, é dever do autor reconhece seu impacto no julgamento social. Na américa do século XXI, lutamos contra o ‘perfil racial’. Vivemos em uma era que requer dos criadores gráficos uma enorme sensibilidade ante a injustiça dos estereótipos. [...]² 50
All - Negro Comics, publicada pela primeira vez em junho de 1947 (Figura 32), é o resultado do esforço de Orrin C. para criar histórias em quadrinhos que fossem concebidas e produzidas exclusivamente por negros e para negros, como o autor fez questão de dizer na apresentação do primeiro do primeiro título da revista “Cada pincelada e traço feito a lápis nos desenhos dessas páginas são de artistas negros. E cada desenho é original; ou seja, nunca foi publicado em lugar nenhum antes. Essa publicação é outro marco histórico na esplêndida história do jornalismo negro.” (ALL NEGRO COMICS #1. EUA: All Negro Comics, 1947. ² Will Eisner, Flórida, 2003. Retirado de Fagin, o Judeu, de Will Eisner. Tradução de André Conti. Cia das Letras, 2011. Splash Pages https://splashpages.wordpress. com/2015/06/19/ a-questao-dosestereotipos-nosquadrinhos-porwill-eisner/
Figura 32 – Capa All Negro Comics
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Contudo devido às dificuldades de publicação e distribuição a revista nunca passou do primeiro número. Ainda assim, foi responsável por deixar um dos grandes legados para os personagens negros nos quadrinhos: Ace Harlem, o primeiro herói negro. (Figura 33) Ace Harlem é detetive na cidade da Harlem, e tem um incrível senso de honra e justiça. “Através de Ace Harlem nós esperamos dramaticamente para apontar o excelente as contribuições de milhares de destemidos, inteligentes, policiais negros engajados na luta constante contra o crime por todos os Estados Unidos.” disse Orrin C. Evans sobre o héroi. O personagem é extremamente inteligente e astuto, com um grande poder de observação e dedução, contrastando totalmente com as representações anteriores de personagens negros, retratados como figuras ignorantes e de pouca inteligência. (Figura 34) Com Ace Harlem All - Negro Comics esperava criar uma representação positiva do negro, fazendo de seu protagonista negro, um herói. Mas, talvez o maior mérito de All - Negro Comics tenha sido pensar nos negros como público-alvo, como
Figura 33 – Ace Harlem chega à cena de crime.
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Figura 34 – Ace Harlem investiga o crime.
leitores, criando conteúdo específico para esse público, ao mesmo tempo em que fomentava a produção negra e a produção negra independente nas HQs. Após estas análises, concluímos que, por muito tempo, os quadrinhos foram um meio utilizado para disseminação de discursos inferiorizantes, não apenas o racismo, mas também o machismo deixou marcas permanentes nos quadrinhos. Mas esse tempo tem ficado cada vez mais distante no passado. Hoje os quadrinhos são um meio respeitado de transmissão de ideias, de construção de pontos de vista plurais e compartilhamento de vivências diversas. A participação negra no universo das HQ, antes escassa, onde a pele preta ignorada, era invisível, ou, pior ainda, motivo de chacota e personificação do ridículo, agora estampa as capas dos quadrinhos revelando personagens negros como heróis, e protagonistas de suas próprias histórias. A presença negra cresceu não só dentro dos quadrinhos, mas, principalmente, por trás deles, com o progressivo aumento de roteiristas, desenhistas, e artistas. O que aumenta ainda mais a identificação dos leitores com os personagens. (Figuras 35 a 37)
Os quadrinhos, assim como outros meios de comunicação, são um reflexo da sociedade que os produz. Se no passado privilegiavam a imagem do homem branco, que falava por todos os da mesma raça, e ignorava aqueles que não eram seus iguais, hoje eles refletem a reação e investida quadrinhos, uma nova história sobre conquista de espaços, voz ativa e auto aceitação.
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Figura 35 a 37 – Capas de alguns personagens negros nos quadrinho da atualidade.
O produto final desse Trabalho de Conclusão de Curso foi uma publicação editorial, um livro que organiza e narra a história dos quadrinhos e as principais mudanças pelas quais estes passaram, ao mesmo tempo que analisa a representação de personagens negros nos quadrinhos como forma de visualizar a presença negra nas HQs. Esse livro tenta também investigar as aproximações possíveis entre o layout de quadrinho e o layout editorial e suas diferentes abordagens narrativas. Deste modo, o livro busca: recontar a história da arte sequencial sob uma nova abordagem, uma abordagem do Design Gráfico, explorar aproximações visuais possíveis, e criar analogias entre a linguagem gráfica dos quadrinhos e o design editorial. Como resultado esse trabalho tenta ser uma espécie de
mistura entre um quadrinho e um livro teórico ilustrado, um meio termo entre as diferentes relações entre palavra e imagem que estão entre os dois extremos, fazendo da linguagem gráficas das histórias em quadrinhos ponto de partida e matéria prima para intervenção na criação de um projeto gráfico editorial. E como tal híbrido de linguagens este trabalho toma certas liberdades, certos padrões e condicionamentos típicos de projetos gráficos editoriais dos quais foram postos de lado em preferência de um dinâmica de pensamento da leitura dos espaços e uma aproximação estética muito mais flexível e descontínua dos quadrinhos. Assim partindo da ideia de que essa seria uma obra que faria uso do recurso da metalinguagem foram analisados a estrutura de outros quadrinhos metalinguísticos. (Figura 38)
Essas análises influenciaram no processo de criação de uma estrutura narrativa que permitisse : 1 - Contar a história dos quadrinhos e seus principais acontecimentos. 2 - Enquanto aponta a presença negra através de símbolos. 3 - Para (re)contar a história dos quadrinhos sobre uma perspectiva negra e a importância/necessidade de se fazer isso. Foi escolhido o uso de um símbolo como ferramenta narrativa para criar uma abordagem dupla, manter uma história principal sobre história das histórias em quadrinhos, que seria contada ao longo de 10 capítulos, simultaneamente em que há uma segunda narrativa acontecendo através da presença de símbolos em cada capítulo, uma espécie de intervenção sobre a história principal, com “pistas” sobre a presença negra que seria o foco do último capítulo, criando duas narrativas paralelas e interdependentes. (Figura 39)
Figura 39 – Rascunho da Estrutura
Figura 38 – Analise de quadrinhos metalinguisticos
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Figura 41 – Quadro em branco
O próximo passo foi a definição do símbolo. Na tentativa de condensar a presença negra nos quadrinhos através de um ícone gráfico, e após considerar algumas opções (Figura 40), o ideia desenvolvida baseada na palavra lacuna, usada por Moacy Cirne para se referir a presença negra nas HQs, que levada a abstração se tornou um quadro em branco que aparece uma vez em cada capítulo. (Figura 41) Dessa forma o resultado final da estrutura narrativa foi um livro com onze capítulos, dez capítulos para contar a história dos quadrinhos e seus principais acontecimentos, cada um com um quadrado em branco em determinadas páginas para simbolizar a presença negra nas HQs que seria descutida no ultimo capítulo a partir de intervenções sobre essas páginas de cada capítulo. (Figura 42)
Figura 40 – Rascunhos de opções para o simbolo
O Formato escolhido para o livro foi de 21 x 25 cm, um formato mais quadrado, para diferencia-lo do formato americano, o mais comum para quadrinhos (Figura 43). A capa preto e banco também é uma tentiva de afastar o projeto gráfico do de outros livros sobre quadrinhos que são extramente coloridos e aproxima-lo mais esteticamante da abordagem social que o li-vro tem. Assim o projeto gráfico está apoiado principalmente nessas duas cores, preto e branco, para dar neutralidade a pagi- nação e ressaltar as imagens coloridas dos quadrinhos usadas como ilustração. As páginas tentam traduzir visualmente de alguma forma a estética ou dinâmica dos quadrinhos naquele período, começando pelas aberturas de capítulo que são recortes de capas ou páginas de quadrinhos que de alguma forma foram importantes para o momento em que foram publicadas (Figura 44). O processo de criação dos capítulos começou com o layout das páginas, em seguida o texto, pesquisa de imagens e tratamento.
Figura 43 – Rascunhos para definição do formato
Figura 44 – Rascunhos de opções para o simbolo
Figura 42 – Estrutura inicial de nove cápitulos que depois foi estendida para onze
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Informações técnicas da impressão de capa e miolo:
As fontes usadas foram:
Capa
Miolo
Textos Corridos e Complementares
Formato: Aberto: 250 x 210 mm Fechado: 250 x 428,6 mm Suportes utilizados: Papel Duplex Supremo Dou Design 250g Número de cores: 1x1 Processo de impressão: Impressão Digital
Formato: Aberto: 250 x 210 mm Fechado: 250 x 428,6 mm Suportes utilizados: Papel Offset 90g Número de cores: 4x4 Número de lâminas/ páginas: 172 páginas
Athiti ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ abcdefghijklmnopqrstuvwxyz Comic Book ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ
Títulos e Chamadas As páginas foram construídas sobre um grid de seis colunas para dar flexibilidade aos layouts. (Figura 45)
Big john ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ
gallagher ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ
Figura 45 – Grid
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Algumas das pรกginas do livro.
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Por fim, concluímos que o estudo da história dos quadrinhos, direcionado a um olhar mais atento e aprofundado sobre sua apropriação como linguagem, se revela extremamente oportuno para a experimentação gráfica, oferecendo-nos um produto adequado para aplicarmos intervenções e testarmos os limites da arte sequencial.
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Esperamos com esse trabalho conceber um produto que se torne um referencial consistente, um guia para aqueles que desejarem aprofundar conhecimentos no vasto mundo dos quadrinhos, e um ponto de partida para produções acadêmicas futuras baseadas em um olhar filtrado por uma abordagem que enfatiza a presença do negro e da cultura africana nos quadrinhos.
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Figura 1 - Balão de Fala Ilustração retirada de: Guia oficial DC Comics Roteiros. Escrito por Dennis O'NEIL. São Paulo: Panini Brasil, 2005, p.14 Figura 2 - Balão de Pensamento - Ilustração retirada de: Guia oficial DC Comics Roteiros. Escrito por Dennis O'NEIL. São Paulo: Panini Brasil, 2005, p.14 Figura 3 - Balão de Grito Ilustração retirada de: Guia oficial DC Comics Roteiros. Escrito por Dennis O'NEIL. São Paulo: Panini Brasil, 2005, p.14 Figura 4 - Balão Elétrico Ilustração retirada de: Guia oficial DC Comics Roteiros. Escrito por Dennis O'NEIL. São Paulo: Panini Brasil, 2005, p.14 Figura 5 - Legendas nos quadrinhos - Recorte de página de Príncipe Valente, de Hal Foster, licenciado por King Features Syndicate, 1940. Figura 6 - Recordatório Ilustração retirada de: Guia oficial DC Comics Roteiros. Escrito por Dennis O'NEIL. São Paulo: Panini Brasil, 2005, p.14 Figura 7 - Onomatopeia Recorte de página de Capitão América, desenhada por Jack Kirby, Publicado por Marvel Comics, 1968. Figura 8 - Título de Buster Brown - Recorte de página de Buster Brown, de Richard F. Outcault, licenciado por King
Features Syndicate, 1905. Figura 9 - Título de Batman - Recorte de Batman #1, de Bob Kane, DC Comics, 1940. Figura 10 - Ordem de leitura ocidental - Ilustração feita pela autora. Figura 11 - Numeração em página - Recorte de Little Nemo, de Winsor McCay, 1905. Figura 12 - Ordem de Leitura Oriental - Ilustração feita pela autora. Figura 13 - Valentina - Página de Valentina, criado Guido Crepax, publicado em The Complete Crepax pela Fantagraphics Books, 2016. Figura 14 - A sarjeta Ilustração retirada de: Desvendando os quadrinhos. Escrito por Scott McCloud, São Paulo. M.Books, 2005, p 66. Figura 15 - Exemplo 1 Ilustração retirada de: Desvendando os quadrinhos. Escrito por Scott McCloud, São Paulo. M.Books, 2005, p 100. Figura 16 - Exemplo 2 Ilustração retirada de: Desvendando os quadrinhos. Escrito por Scott McCloud, São Paulo. M.Books, 2005, p 101. Figura 17 - Exemplo 3 Ilustração retirada de: Desvendando os quadrinhos. Escrito por Scott McCloud, São Paulo. M.Books, 2005, p 101. Figura 18 - Capitão Améri68
Figura 30 - Capa de Spirit. - Capa de Spirit, de Will Eisner, 1942. Figura 31 - Capa de Spirit. - Capa de Spirit, de Will Eisner, 1942. Figura 32 - Capa All Negro Comics #1 - All Negro Comics, 1947 Figura 33 - Ace Harlem chega à cena de crime. - All Negro Comics, 1947 Figura 34 - Ace Harlem investiga o crime. - All Negro Comics, 1947 Figura 35 - Capa de Invincible Iron Man #4, Marvel 2017. Figura 36 - Capa de Miles Morales: Ultimate Spider-Man #2, Marvel - 2014. Figura 37 - Capa de Shuri #2, Marvel - 2019 Figura 38 - Analise de
ca enfrenta Hitler - Capa de revista Capitão América #1, desenhada por Jack Kirby, Publicada pela Marvel Comics, 1941. Figura 19 - Tintim no Congo - Recorte de página de Tintim no Congo, de Hergé, 1931. Figura 20 - Tintim pula para salvar Milu - Recorte de Tintim no Congo, de Hergé, 1931. Figura 21 - Chegada de Tintim como herói - Recorte de Tintim no Congo, de Hergé, 1931. Figura 22 - Tintim e Coco - Recorte de página de Tintim no Congo, de Hergé, 1931. Figura 23 - Lamparina - Recorte de O Tico Tico com Lamparina de J. Carlos, 1918. Figura 24 - A Tribo - Recorte de página de O Tico Tico, 1918. Figura 25 - Jujuba faz um truque para enganar o rei - Recorte de O Tico Tico, 1918. Figura 26 - Lamparina passa mal ao comer frutas roubadas. - Recorte de O Tico Tico, 1919. Figura 27 – Jujuba e Lamparina. - Recorte de página de O Tico Tico, 1919. Figura 28 - Ébano ataca vilão - Recorte de página de Spirit, de Will Eisner, 1940. Figura 29 - Spirit salva Ébano - Recorte de página de Spirit, de Will Eisner, 1940.
quadrinhos metalinguisticos. Figura 39 - Rascunho da Estrutura. Figura 40 - Rascunhos de opções para o simbolo. Figura 41 - Quadro em branco. Figura 42 - Estrutura inicial de nove cápitulos que depois foi estendida para onze. Figura 43 - Rascunhos para definição do formato. Figura 44 - Rascunhos de opções para o simbolo Figura 45 - Grid.
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