design, partindo de princípios básicos do turismo como a definição de lugar, o patrimônio de uma cidade, estado ou país, e a identidade cultural de uma população. A fundamentação teórica contida neste texto procura estabelecer uma forte conexão entre indivíduo e lugar, que jus-
Resumo
Esta pesquisa científica aborda a relação entre turismo e
tificará a realização de um guia turístico com ênfase no fator humano da cidade de São Paulo. Este guia será o resultado de todo o projeto. De acordo com os materiais consultados, a pós-modernidade fabrica referências individualizadas de cidade em detrimento das referências coletivas que transformam um espaço qualquer num lugar antropológico com valor humano, de fato. Essa pesquisa procura explorar as formas de solucionar esse problema através do design. Fatores como a unicidade e o caráter local são alguns dos quais serão explorados pelo design para que se possa promover a cidade de uma forma mais humana e afetiva.
Palavras-chave: 1. design editorial, 2. turismo, 3. guia turístico, 4. antropologia, 5. São Paulo, 6. Jornalismo
3
Sumário
Objetivos................................................................................................ 5 Justificativa.......................................................................................... 6 Procedimentos Metodológicos....................................................... 7 Fundamentos Teóricos...................................................................... 8 Resultados da Pesquisa..................................................................... 19 Requisitos Para o Projeto................................................................. 22 Estudos de Concepção....................................................................... 23 Desenvolvimento do Projeto........................................................... 25 Memorial Descritivo.......................................................................... 27 Documentação do Produto.............................................................. 30 Considerações Finais......................................................................... 33 Referências........................................................................................... 34
4
so, sobre a cidade de São Paulo, que tem como diferencial conectar, através de entrevistas e de crônicas contadas pelos cidadãos paulistanos, os pontos turísticos às pessoas que moram ali ou que colaboraram para a composição desses locais, numa tentativa de contribuir para a geração de uma identidade mais humana para a cidade. Um objetivo secundário do projeto é dar voz a personagens que são primordiais para fazer São Paulo ser o que ela é, mas
Objetivos
O objetivo do projeto é construir um guia, digital e impres-
que muitas vezes nos passam despercebidos, ou não recebem o reconhecimento que mereciam. Os paulistanos são os que realmente definiram a trajetória de São Paulo rumo ao progresso, e muitas de suas histórias não podem cair no esquecimento ou ficar para sempre no anonimato.
5
Justificativa
Segundo dados de 2011 da Pesquisa de Demanda Turística, também do Observatório do Turismo, a grande maioria desses visitanO cultivo do café transformou São Paulo
tes são motivados por eventos e negócios. Em
na metrópole que ela é hoje. A movimentação
contrapartida, as opções de lazer da cidade são
ininterrupta de carros reflete não só a popula-
infinitas: são mais de 600 espetáculos teatrais
ção de 12 milhões de habitantes, mas também
por ano; 184 casas noturnas; 41 festas popula-
a forte agitação econômica da cidade. Segundo
res; 158 museus; 109 parques e áreas verdes; 115
dados de 2015 do IBGE (Instituto Brasileiro de
espaços culturais; 11 estádios de futebol, 20 mil
Geografia Estatística) e Seade (Fundação Sis-
restaurantes (a capital é segunda maior cida-
tema Estadual de Análise de Dados), o Estado
de do mundo em número de restaurantes); 52
de São Paulo representa pouco mais de 32% do
tipos de cozinha; 20 mil bares; 53 shoppings;
PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil, o que
59 ruas de comércio especializado, etc. Esses
equivale a R$ 1,89 trilhão. Diante dessas in-
dados revelam um desequilíbrio entre o poten-
formações, pode parecer que nossa metrópole
cial da cidade para turismo de lazer e cultura e
não é nada além de negócios e dinheiro, mas
o que de fato se aproveita disso.
na verdade, não falta infraestrutura de lazer e
O conflito entre a impressão que as pes-
cultura, nem opções de transporte, muito me-
soas têm de São Paulo e aquilo que a cidade é
nos opções de entretenimento e fundações e
de fato é de se notar. Isso nos leva à pergunta:
museus de valores históricos.
Como o design gráfico pode ajudar na forma-
De acordo com o Observatório do Turismo, na pesquisa São Paulo: Cidade do Mundo, em 2016, a capital paulista recebeu 14,9 milhões de visitantes, dos quais 2,5 milhões eram estrangeiros. Movimentaram-se R$11,4 bilhões, o que representa 2% do PIB da cidade, segundo a mesma pesquisa. O número é significativo, mas quando comparado à porcentagem do turismo no PIB a nível nacional (9,6%) é perceptível a discrepância, ou seja, a baixa representação do turismo enquanto parte do PIB paulistano. 6
ção de uma identidade paulistana mais humana e receptiva?
jeto gráfico. Já para os aplicativos voltados para o ambiente digital, foram feitas curtas avaliaLevantamento de informações e estatísticas a respeito do turismo em São Paulo
ções sobre como são os aplicativos, a navegação e o aspecto visual de cada um deles.
A fim de criar um panorama geral a respeito da metrópole paulistana, várias pesquisas e relatórios sobre turismo e deman-
Visita aos locais e registro de fotografias
da turística em São Paulo foram levantados. Os dados, a maioria deles retirados do Observatório do Turismo, permitiram uma
Para compor todo o conteúdo do projeto,
análise mais profunda com relação ao potencial da cidade para
cada local exposto no guia foi visitado e foto-
agradar visitantes em comparação com o número real de turis-
grafado, com a intenção de compreender os
tas que a cidade recebe.
lugares e seus potenciais.
Entrevistas com paulistanos e absorção da relação que eles
Seleção dos personagens e pontos
têm com a cidade Assim que uma história interessante de Para construir todo o projeto editorial, aconteceram uma
algum paulistano surgia, verificava-se se era
série de entrevistas com moradores da cidade. Com a pretensão
possível relacioná-la a algum local da cidade.
de dar um caráter mais humano pra cidade, a impressão que es-
Nos casos em que era possível levou-se a ideia
sas pessoas têm de São Paulo foi a matéria-prima que norteou
adiante, e assim os capítulos do livro foram
todo o projeto.
surgindo.
Análise de guias turísticos já existentes da cidade de São Paulo
Procedimentos Metodológicos
do livro e alguns comentários a respeito do pro-
Desenvolvimento de linha editorial sobre a metrópole de São Paulo
Foram analisados seis guias de São Paulo em formato de livro, e outros três em formato digital. As informações levantadas
Com base em todas as informações levan-
para os impressos foram: dimensões, número de páginas, uma
tadas, o projeto foi concebido do zero, desde o
breve sinopse, a estrutura e a organização do conteúdo dentro
nome até a marca e a diagramação. 7
Fundamentos Teóricos
ao menos, três características em comum: eles são identitários, relacionais e históricos. São identitários a partir do momento Contextualização
em que eles determinam parte da identidade daqueles que os ocupam, visto que muito
Cidade:
do que somos está intrinsecamente conec-
O lugar não é um lugar por si só. A ele são
tado às condições e às possibilidades que o
atribuídas as propriedades de um “lugar” ape-
lugar no qual nascemos nos proporcionou.
nas a partir do momento no qual ele passa a
Relacionais porque eles criam uma base de
ser habitado por pessoas com as quais ele cria
comparação entre os indivíduos, uma vez
uma relação direta de identidade.
que num mesmo lugar coexistem pessoas diferentes. E finalmente, lugares também
Reservamos o termo “lugar antropológico”
são históricos porque constituem uma esta-
àquela construção concreta e simbólica do es-
bilidade mínima, e é exatamente por causa
paço que não poderia dar conta, somente por
dessa estabilidade que aqueles que ali vivem
ela, das vicissitudes e contradições da vida
são capazes de reconhecer seus marcos, suas
social, mas à qual se referem todos aqueles a
construções, seus caminhos e cada um dos
quem ela designa um lugar, por mais humilde
seus pontos.
e modesto que seja. (AUGÉ, 2001, p.51).
Em contrapartida, segundo o autor “[...] a supermodernidade é produtora de não-luga-
8
Nesse trecho, Augé nos deixa claro como
res [...]” (AUGÉ, 2001, p.73), já que nas cidades
o “lugar antropológico” depende não só da
se multiplicam locais de ocupação provisória
construção concreta do espaço, como também
tais como hotéis, clubes de férias, acampa-
da construção simbólica do espaço, e o único
mentos e meios de transporte (que também
elemento que justifica essa construção sim-
não deixam de ser espaços habitados), os
bólica é um intérprete, sem a qual o símbolo
quais colaboram com a formação de uma in-
não se determina como signo. “Ora, o signo
dividualidade e um conjunto de referências
só pode representar seu objeto para um intér-
pessoais em detrimento das referências cole-
prete[...]” (SANTAELLA, 1983, p.58).
tivas. Todo esse efeito da chamada “supermo-
Augé vai além na sua definição de luga-
dernidade” gera antes, uma necessidade de se
res. Para o autor (2001), os lugares possuem,
entender as inéditas dimensões desse novo
objeto de estudo que de entender os olhares aos quais esse não-lugar está sujeito.
Dessa forma, podemos concluir que esse tipo de patrimônio é exatamente o lugar an-
Portanto, a cidade é um lugar a partir do
tropológico ao qual Augé estava se referindo,
momento em que ela está de acordo com os
lugares com os quais construímos relações
requisitos sugeridos por Augé de identida-
afetivas e que possuam valores agregados. A
de, relação e história, mesmo que muitos dos
UNESCO separa os patrimônios entre: patri-
efeitos da supermodernidade já sejam laten-
mônios materiais, que podem ser de caráter
tes em qualquer metrópole do mundo con-
cultural ou natural, e patrimônios imateriais.
temporâneo.
Considerando o fato de que tudo o que não
O lugar só se determina como tal, a partir
é natureza é cultura e tudo o que não é cultu-
do momento em que pessoas criaram uma re-
ra é natureza, o marqueteiro espanhol Josep
lação afetiva e histórica com ele.
Chias faz essa diferenciação entre patrimônio natural e cultural baseado na Convenção para
Patrimônios Materiais de uma Cidade:
a Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e
Segundo a Organização das Nações Unidas
Natural, realizada em 1972, na Conferência Ge-
para a Educação, a Ciência e a Cultura: “Heri-
ral da ONU para a Educação, Ciência e Cultura,
tage is our legacy from the past, what we live
celebrada em Paris. De uma forma geral, aque-
with today, and what we pass on to future ge-
les objetos de construção humana, produtos da
nerations.” Ou seja, patrimônio é o nosso le-
arquitetura, da arte ou da ciência, são conside-
gado do passado, e é aquilo que se construiu
rados patrimônios culturais. Por outro lado, os
historicamente e que perdurará nas gerações
monumentos naturais de formação física, bio-
futuras. De acordo com a UNESCO, algumas
lógica ou geológica, são patrimônios naturais
coisas são consideradas “patrimônio”, entre
(CHIAS, 2007).
elas, os locais de interesse, que são:
Seguindo essa definição, o Museu de Arte de São Paulo, a Casa das Rosas, o Parque Tria-
Obras do homem, ou obras conjugadas do
non, o Edifício Copan, o Cemitério da Conso-
homem e da natureza, e as zonas, incluindo
lação, a Catedral da Sé, o Pátio do Colégio, o
os locais de interesse arqueológico, com um
Mercado Municipal, o Mosteiro de São Bento,
valor universal excepcional do ponto de vista
o Edifício Martinelli, a Estação da Luz, a Pina-
histórico, estético, etnológico ou antropoló-
coteca, o Parque da Luz, o Museu de Arte Sacra,
gico. (UNESCO, 1972)
o Teatro Municipal, a Casa de Vidro, o Jardim 9
Fundamentos Teóricos
Botânico, o Parque do Ibirapuera, o Museu do
munidades, os grupos e, em alguns casos, os
Imigrante, o Instituto Butantã, o Estádio do
indivíduos reconhecem como parte integran-
Pacaembu, o bairro da Liberdade e o Museu
te de seu patrimônio cultural. Este patrimô-
do Ipiranga são apenas alguns dos pontos da
nio cultural imaterial, que se transmite de
cidade de São Paulo que se caracterizam como
geração em geração, é constantemente recria-
patrimônios materiais.
do pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a nature-
Patrimônios Imateriais de uma Cidade:
za e de sua história, gerando um sentimento
Contudo, na Convenção para a Salvaguar-
de identidade e continuidade e contribuindo
da do Patrimônio Cultural Imaterial da UNES-
assim para promover o respeito à diversidade
CO, celebrada em 2003 também em Paris, foi
cultural e à criatividade humana.
adicionada às noções de patrimônio, a imaterialidade. Conforme já vinha sendo destacado
As festas populares, o inconfundível Vira-
em outras conferências da UNESCO, como na
do à Paulista, as pizzas, as histórias, tradições
Recomendação para a Salvaguarda da Cultu-
como assistir ao pôr do sol na Praça do Pôr do
ra Tradicional e Popular, de 1989, e na Decla-
Sol, o chope e as conversas altas dos paulista-
ração Universal sobre a Diversidade Cultural,
nos compõem, possivelmente, parte do patri-
de 2001, a cultura imaterial também consti-
mônio imaterial da nossa cidade. E antes de
tui parte importante do patrimônio de uma
fazer uma visita puramente mecânica, o que
região, cidade, estado ou país, e talvez, seja o
muitos turistas realmente querem é sentir-se
principal foco deste projeto, em detrimento
como um típico cidadão paulistano ao viven-
das atrações puramente arquitetônicas e es-
ciar o cotidiano deles e participar dos seus há-
truturais de uma cidade.
bitos. O principal objetivo deste guia é promo-
Conforme apresentado no documento da
ver essa sensação ao leitor.
UNESCO(2003): Entende-se por “patrimônio cultural ima-
Design X Cidade
terial” as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas - junto com
10
Identidade Cultural:
os instrumentos, objetos, artefatos e lugares
Já foi abordado nesse projeto a cidade vista
culturais que lhes são associados - que as co-
sob o ponto de vista do “lugar antropológico”
(Item 4.1.1). No entanto, em contrapartida à in-
gais de uma nação, elas participam da ideia da
fluência das pessoas sobre o lugar, também é
nação tal como representada em sua cultura
possível observar a influência dos lugares so-
nacional” (2003, p.49). Isso quer dizer que cada
bre as pessoas.
nação tem um sistema de representação cultu-
Mesmo metaforicamente, ou seja, mesmo
ral manifestado em forma de religiões, música,
que não seja uma característica genética do in-
arte, línguas, histórias, entre outros símbolos
divíduo, as pessoas definem a si mesmas como
que conservem uma capacidade de gerar uma
pertencentes a algo maior que elas:
ideia de nação, e consequentemente, identidade e lealdade nas pessoas que compartilham dela.
A condição de homem (sic) exige que o indi-
Somente assim o indivíduo é capaz de reafirmar
víduo, embora exista e aja como um ser au-
sua condição como pessoa ao estar em contato
tônomo, faça isso somente porque ele pode
com o outro e achar nele as mesmas referências
primeiramente identificar a si mesmo como
de nação, estado e sociedade que ele tem.
algo mais amplo - como um membro de uma
Seguindo esse conceito de “ideia de nação”,
sociedade, grupo, classe, estado ou nação, de
ela só se cria a partir de discursos capazes de
algum arranjo, ao qual ele pode até não dar
gerar sentidos sobre a comunidade. “Esses
um nome, mas que ele reconhece instintiva-
sentidos, estão contidos nas estórias que são
mente como seu lar (SCRUTON apud HALL,
contadas sobre a nação, memórias que conec-
2003, p.48).
tam seu presente com o seu passado e imagens que dela são construídas” (HALL, 2003, p.51).
Nesse trecho, Scruton afirma que a pró-
Pode-se dizer então, que muitos desses senti-
pria existência e atitude das pessoas estão,
dos acontecem no âmbito da imaginação e tor-
ainda que instintivamente, conectadas ao
nam-se uma visão idealizada da comunidade,
meio do qual elas fazem parte. Dessa forma,
que se construiu historicamente.
o autor sugere que todo grupo possua uma
O autor elenca cinco formas de discurso
“identidade cultural” comum aos seus inte-
que colaboram com a formação dessa visão
grantes.
idealizada da comunidade:
O sociólogo jamaicano Stuart Hall, em seu
• Em primeiro lugar está talvez o formato
livro a respeito das implicações da identidade
mais importante que é o da narrativa. A
cultural no âmbito da pós-modernidade, alega
narrativa não é nada além das histórias
que “as pessoas não são apenas cidadãos/ãs le-
sobre a comunidade, tais como elas são 11
Fundamentos Teóricos 12
contadas na mídia, na literatura, nas músicas, etc (HALL, 2003).
Portanto, com essas estratégias de discurso é possível às pessoas construírem uma
• Em segundo lugar existe a questão das
ideia de grupo com o qual outras pessoas vão
origens, daquilo que é tradicional e que
se identificar e, em seguida, também passarão
vence a barreira do tempo (IDEM).
a fazer discursos a respeito, os quais gerarão
• Em terceiro lugar, o discurso se torna
identidade e lealdade em outras pessoas, e as-
aquilo que Hobsbawm chama de “in-
sim por diante. Ou seja, “lugar” e “indivíduo”
venção da tradição”. Muitas das tradi-
estão, numa relação de cooperação, agregando
ções e histórias que são contadas como
sentidos um ao outro num ciclo constante e in-
sendo muito antigas, na verdade, foram
terminável. Cabe ao design, como produtor de
inventadas recentemente e acabam por
sentidos e comunicador de ideias, intermediar
contribuir com a ideia de comunidade
esse relacionamento e facilitar o intercâmbio
(IBIDEM).
de informações entre os indivíduos e dos luga-
• Em quarto lugar existe o “mito funda-
res para com os indivíduos.
cional”, que atua de forma semelhante à estratégia de discurso anterior por
Promoção de Lugares:
ter acontecido somente nas mentes das
Apesar deste não ser um projeto de bran-
pessoas que o inventaram e o dissemi-
ding, pode ser bem útil agregar métodos e
naram. Este discurso se difere do ante-
estratégias do branding e do marketing à exe-
rior por estar mais associado às origens
cução deste guia, como forma de transmitir
de tal comunidade do que às tradições.
uma mensagem de maneira mais clara e efi-
“Tradições inventadas tornam as con-
ciente. As ferramentas do marketing, no que
fusões e os desastres da história inteli-
diz respeito à promoção de lugares, podem
gíveis, transformando a desordem em
ser utilizadas como um meio para entender
‘comunidade’ [...]” (IBIDEM, p.55).
exatamente a que público se destina o produ-
• Por último, a concepção de um povo ori-
to em questão, e como vamos tornar este pro-
ginal, que viveu em determinado local
duto atraente para o mercado consumidor.
desde o começo da sociedade de tal local
Em termos de design, o branding é um forte
também contribui com a construção de
instrumento para a criação de uma identida-
sentidos sobre a nação, estado ou socie-
de e um aspecto visual que traga à memória
dade em questão (IBIDEM).
características evidentes da cidade.
Em primeiro lugar, embora a marca seja tam-
patrimônio nos itens 4.1.2 e 4.1.3 deste projeto.
bém um sinal que identifica um conjunto de
Entender por que as pessoas valorizam
signos, é muito mais que isso, porque, de fato,
os patrimônios ou os recursos de uma cidade
o principal valor de qualquer produto, empre-
também é um passo importante na definição
sa ou lugar no mercado está diretamente rela-
de quais pontos turísticos, histórias e tradi-
cionado com o conhecimento que as pessoas
ções merecem uma divulgação e serão bem ab-
têm dele e do conteúdo de sua imagem e posi-
sorvidos pelos consumidores. De acordo com
cionamento competitivo (CHIAS, 2007, p.131).
Chias (2007), existem três características principais que respondem essa pergunta: unicida-
Nesse livro, que trata exatamente do
de, valor intrínseco e caráter local.
marketing aplicado ao desenvolvimento do
Unicidade sugere que o recurso em ques-
turismo em lugares e cidades, o autor abor-
tão seja único, seja com relação à cidade, ao
da o conceito de “marca” de forma bastante
estado, ao país, ou mesmo ao mundo. To-
pontual. No trecho apresentado, ele nos deixa
mando como exemplo o carnaval do Rio de
bem clara a sua opinião a favor do fato de que
Janeiro, ele desperta o interesse de turistas
a marca não diz muita coisa por si só, ela de-
do mundo todo pela sua unicidade, por não
pende de um conjunto de referências daqueles
existir carnaval em nenhum outro lugar do
que estão em contato com ela. Isso quer dizer
mundo do mesmo jeito como ele é no Rio de
que não só o branding, como o design de uma
Janeiro (CHIAS, 2007).
forma geral, precisam ser feitos em favor da-
Quando um recurso ou patrimônio é valori-
quilo que já é de conhecimento comum, a fim
zado por ser de destaque dentro da sua catego-
de potencializar as experiências vividas pelos
ria, esse valor é intrínseco. Como por exemplo
fruidores de um determinado produto, serviço
um museu de arte: existem vários museus de
ou lugar.
arte em diversas importantes cidades do mun-
No que diz respeito às cidades, o patrimônio é exatamente aquilo que vai gerar nas pes-
do, mas nem todos eles têm o mesmo acervo e a mesma qualidade na curadoria (IDEM).
soas uma sensação de valores sobre um lugar.
Por fim, o caráter local é o que dá valor a
“O ponto de partida para a análise e a valori-
um recurso por ele ser típico de uma determi-
zação dos atrativos turísticos de um lugar é o
nada região. Recursos com esse tipo de valor
inventário de seu patrimônio natural e cultu-
atribuído são diferentes de quaisquer outros
ral” (CHIAS, 2007, p.45). Veja mais a respeito de
porque são exatamente estes que constroem a 13
Fundamentos Teóricos 14
identidade de um lugar, por isso, eles ganham
milhões de habitantes ou mais, e todas as capi-
um caráter de autenticidade e a noção de se-
tais com 1 milhão de habitantes ou mais.
rem algo próprio (IBIDEM).
Para desenvolver o ranking, seis categorias foram levadas em consideração: place, programming, prosperity, product, people e
Panorama de São Paulo
promotion. “Place” se trata da percepção do lugar de
Com a globalização e o maior trânsito de
uma forma geral. A qualidade do ar, a paisa-
pessoas entre cidades, estados e nações, tor-
gem tanto natural quanto urbana, o número
nou-se importante às cidades reconhecerem
de dias de sol e até mesmo a segurança pública
seus diferenciais e suas potencialidades sendo
são fatores que constituem o índice da catego-
que muitas delas já possuem, inclusive, uma
ria. Dados do TripAdvisor que levam em conta
marca e um sistema próprio de identidade vi-
o número de indicações, tanto dos moradores
sual e divulgação. Se situar no mundo através
locais quanto de visitantes, de lugares abertos
de comparações tanto para verificar os pontos
e parques classificados como “muito bons” ou
fortes, como para dar atenção aos pontos fra-
“excelentes”, são uma das bases para determi-
cos é uma das estratégias adotadas pelas cida-
nar a posição de uma cidade no quesito em
des de todo o mundo.
questão. Na categoria “Place”, São Paulo ocupa
Resonance é uma empresa de consultoria
a 59ª posição, sendo que a outra cidade repre-
sediada em Nova Iorque, que tem como área de
sentante do Brasil entre as 100 melhores do
atuação a estratégia de lugares. A empresa faz
ranking, o Rio de Janeiro, ocupa a 44ª posição.
pesquisas sobre tendências, demandas e no-
Entre todas as categorias, “Programming”
ções de valores construídos para, junto com os
é a categoria na qual a cidade de São Paulo me-
seus clientes, desenvolver soluções de marke-
lhor pontuou, ficando na 9ª posição. Se trata
ting e estratégia para a promoção de lugares
das opções de lazer das cidades, lugares para
sejam eles um local privado, um parque, um
comer e beber, a agitação da vida noturna, as
bairro ou até mesmo uma cidade inteira. Com
dimensões gastronômicas da região e as op-
esse intuito, a Resonance criou um ranking
ções de lugares para se fazer compras. Nesta
global de capital de lugares, com a finalidade
categoria, diversos dados de indicações do Tri-
de elencar as melhores cidades do mundo. Par-
pAdvisor são levados em conta. As recomen-
ticiparam do ranking todas as cidades com 2
dações culinárias e experiências culturais de
São Paulo sempre foram apreciadas por quem
cação no quesito “Product”. A segunda melhor
visita a cidade ou é morador dela, mesmo que
colocação de São Paulo se deve a essa categoria
muitas vezes esse ponto forte da cidade não
não só por ter grandes e significativas cons-
seja devidamente divulgado. O Rio de Janeiro
truções institucionais, como também por ter
fica na 14ª categoria nesse quesito.
um aeroporto de grande porte e uma univer-
“Prosperity” tenta medir o potencial de
sidade reconhecida internacionalmente. São
uma cidade para criar riqueza. Para constituir
Paulo fica na 14ª posição na categoria, e a outra
esse índice, três fatores principais são levados
representante brasileira na 54ª.
em conta: a renda per capita dos moradores, a
Capital humano é um dos valores mais im-
taxa de desemprego, e o número de empresas,
portantes que uma cidade pode ter, e “People”
entre as 500 maiores do mundo, com sede na
procura verificar a capacidade de uma cidade
cidade em questão. O ranking da Resonance é
de abrigar estrangeiros. Essa categoria parte
de 2017, ano em que o Brasil bateu recorde de
da ideia de que quanto mais diversa é a po-
desemprego no primeiro semestre, chegando
pulação de uma cidade, mais potencial para a
a 13,7%, de acordo com o IBGE. Esse dado pode
criação de ideias que tenham efeitos positivos
ter colaborado com a baixa colocação de São
a níveis globais ela tem. A universalidade de
Paulo nesse quesito, 122ª posição. A renda per
uma ideia se deve ao fato de que o mundo se
capita também é diretamente afetada pelo de-
globalizou, e fazer estratégias de negócio para
semprego. O Rio de Janeiro, pelo fato de sediar
uma região particular do globo já não é mais
mais empresas grandes que São Paulo, ficou
nem um pouco recomendado. Para classificar
no 94ª posição. A cidade-estado que conquis-
as cidades nesse quesito, se mede o número
tou a primeira posição nesse quesito, foi a gi-
de residentes da cidade que nasceram fora do
gante asiática, Singapura.
país em questão. A número 1 dessa categoria
“Product” procura medir a infraestrutura
é Dubai, com 83% de residentes estrangeiros.
da cidade. Os serviços prestados, a possibi-
São Paulo fica na 138ª posição, sendo sua pior
lidade de se locomover entre os bairros e até
colocação entre todas as categorias.
mesmo entre outros estados e países através
Por fim, “Promotion” é a habilidade de
do aeroporto local, as universidades da região,
uma cidade de contar a sua própria história e
o centro de convenções e outras construções
capacitar outras pessoas para fazerem o mes-
de infraestrutura como museus e galerias, são
mo. Em suma, é a presença dessas cidades nos
fatores que conduzem a uma boa ou má colo-
meios de comunicação, artigos, propagandas, 15
Fundamentos Teóricos
matérias e assuntos de interesse. Entre outros
“Os grids auxiliam os designers na cria-
dados, o número de referências do google ao
ção de composições ativas e assimétricas,
se pesquisar o nome da cidade é um dos fato-
em vez de estáticas e centradas.” (LUPTON;
res levados em conta. Nesse quesito, São Paulo
PHILLIPS, 2008, p. 175). O grid nada mais é
possui a 27ª colocação e o Rio de Janeiro a 16ª.
que uma rede de linhas, que além de organi-
No ranking geral, São Paulo tem a 52ª po-
zar informação e gerar forma, tem a capaci-
sição, ficando apenas 3 colocações à frente do
dade de criar dinamicidade e movimento na
Rio de Janeiro.
página. Ou seja, o layout não precisa neces-
Com essas notas e classificações, é possí-
sariamente ser invisível e neutro, ele pode
vel construir um panorama de como São Pau-
transmitir uma mensagem e reforçar a qua-
lo é vista por todo o mundo e, dessa forma,
lidade das informações.
entender os pontos fracos e fortes da cidade
O layout é, portanto, a primeira ferra-
e dar uma atenção especial aos que precisam
menta do design que atua de forma a gerar
de atenção.
conteúdo e transmitir informações tanto quanto o texto ou a imagem. Em termos de design editorial, o layout é a primeira coisa Design Editorial
que se vem à cabeça por ser um padrão que se repetirá durante todo o projeto, isto posto,
Layout: Como a proposta desse projeto é trabalhar
é necessário que ele seja muito bem pensado e estruturado.
com conteúdo escrito e imagem, o layout precisa ser o ponto de partida para qualquer projeto
Edição de Arte:
gráfico. “Além de organizar o conteúdo ativo da
Contudo, talvez o maior trabalho do desig-
página (texto e imagens), o grid estrutura os es-
ner no que diz respeito à criação de um guia
paços brancos[...]” (LUPTON; PHILLIPS, 2008, p.
turístico desse tipo seja a edição:
175). O grid, nesse caso, é um fundamento indis-
16
pensável para a criação do layout de um mate-
Enquanto as palavras podem apenas descre-
rial editorial de qualidade, que organize bem a
ver o espaço, as imagens podem efetivamen-
página e torne a experiência de leitura agradá-
te mostrá-lo, fazendo isso de modo muito
vel e segura, provendo também facilidade para
mais eficaz e, em geral, mais eficiente. Na
localizar informações específicas.
teoria narrativa, a descrição é um dos sinais
da presença do narrador no texto. O narrador
LAJEVA; SCOTT, 2011, p.85). Aqui nesse trecho,
verbal força o leitor a “ver” certos detalhes do
as autoras deixam clara a opinião delas quan-
cenário, ao mesmo tempo que ignora outros.
to à relevância dessa ambientação provenien-
A representação visual do cenário é “inenar-
te da edição de arte que um livro possa ter.
rada” e, por isso, não manipuladora, dando ao leitor considerável liberdade de interpretação. (NIKOLAJEVA; SCOTT, 2011, p.85).
Linguagem e Abordagem Jornalística
Um livro de impacto e realmente infor-
Um grande aliado do design editorial sem-
mativo precisa de mais que apenas um bom
pre foi o jornalismo, nesse caso não será dife-
volume de texto. Uma linha editorial que
rente. Quanto à linguagem, o jornalismo lite-
tem como objetivo criar uma relação afetiva
rário tem a intenção de criar um discurso mais
do leitor com a cidade com certeza exigirá
sensível sobre o assunto tratado. O propósito é
um material de maior profundidade, no qual
o mesmo ao tratar sobre São Paulo.
possa haver a interação com fotografias, ilustrações, comentários, que acabem por formar
O que o jornalismo literário faz é também
um fluxo agradável de leitura no qual o des-
contar histórias, só de um modo elegante,
crever e o mostrar se equilibrem. Trata-se de
articulado esteticamente. Como produz tex-
um trabalho minucioso de criação, seleção,
tos escritos, procura dar a esses seus produ-
edição e diagramação que gera um bom ma-
tos uma qualidade literária, entendida como
terial editorial.
uma organização textual eficiente, do ponto
Essa etapa do processo é multidisciplinar
de vista de comunicação, atraente, do ponto
e aborda áreas do design tais como a fotogra-
de vista estético. O texto precisa oferecer ao
fia, o enquadramento, a ilustração, a diagra-
leitor uma experiência prazerosa de leitura.
mação, a tipografia, a hierarquia, entre várias
(LIMA, 2010, p. 19).
outras. É nesse ponto, especificamente, que o design ganha força e pode se tornar um diferencial da obra.
Dentro do universo desse gênero jornalístico, dois formatos de textos são os mais in-
“A ambientação de um livro ilustrado es-
teressantes para o produto: crônicas e perfis.
tabelece a situação e a natureza do mundo
Quanto aos perfis, justifica-se de acordo com
onde ocorrem os eventos da história.” (NIKO-
Vilas Boas (2003, p. 14): 17
Fundamentos Teóricos
Os perfis cumprem um papel importante
utilitário, ainda que não seja o foco, para cum-
que é exatamente gerar empatias. Empatia
prir o seu propósito de instrução ao leitor. Se-
é a preocupação com a experiência do outro,
gundo Tyciane Vaz (2013, p. 59) esse tipo de jor-
a tendência a tentar sentir o que sentiria se
nalismo deve ter, por essência, a proposta de
estivesse nas mesmas situações e circunstân-
ser útil, utilizável e prático:
cias experimentadas pelo personagem. É útil porque tem serventia para o público ou
Já sobre as crônicas, Melo (2005, p. 139) es-
parte dele. É utilizável, pois há chances que
creve: “A crônica é um gênero do jornalismo
indivíduos tomem atitudes após o contato
contemporâneo, cujas raízes localizam-se na
com os conselhos estabelecidos na mensa-
história e na literatura”. O mesmo autor com-
gem. Prática, no sentido de oferecer dados
pleta (p. 140): “A crônica histórica assume, por-
que ajudam a resolver problemas no dia a
tanto, o caráter de relato circunstanciado so-
dia, tomada de decisões e a perda de menos
bre os feitos, cenários e personagens”.
tempo e dinheiro. (VAZ, 2013, p. 59).
Assim, os personagens são o cerne dos textos.
viço ao literário, o resultado esperado é de um A respiração da sociedade reflete os anseios
guia turístico útil e ao mesmo tempo espiri-
profundos e desenha as identidades. Dela se
tuoso.
alimentam os artistas, as vozes da sensibilidade cotidiana ou os políticos que propõe a transformação. (MEDINA, 2003, p. 68).
No entanto, para que seja de fato um guia turístico, o literário não é suficiente. Se um guia tem como essência a praticidade e o ideal de instruir pessoas durante um roteiro, textos longos, como muitas vezes se caracterizam o texto literário, se opõe nesse sentido. Isto posto, é preciso valer-se também do jornalismo de serviço, também chamado de 18
Dessa forma, unindo o jornalismo de ser-
invista nesse tipo de divulgação, numa divulgação que promova não só a infraestrutura da Resultados da Pesquisa Teórica
cidade mas também a relevância da nossa cultura e as tradições da nossa população.
Ao final da pesquisa, fica bem claro que lu-
Outro ponto que não pode ficar de fora
gar e indivíduo estão numa relação constante
desses resultados é a forma como os lugares
de cooperação, sendo impossível tratar de um
recebem atenção por parte dos seus visitantes
sem abordar alguma coisa referente ao outro.
e acabam por se tornar patrimônios de uma
O lugar depende das pessoas para se tornar um
cidade. É importante destacar que o caráter
lugar tanto quanto as pessoas se determinam
local executa um papel importantíssimo na
como cidadãs apenas a partir do momento em
definição da relevância de determinado ponto
que fazem parte e se caracterizam com alguma
de uma cidade, ou seja, aquilo que um ponto
coisa maior que elas, seja uma comunidade,
turístico representa pra sua população é o que,
um grupo, uma tribo ou uma cidade.
efetivamente, determina o que é um patrimô-
Conforme informações levantadas durante a análise de guias turísticos contida neste
nio e o que não é. Mais uma vez, vemos a conexão dos lugares com as suas populações.
projeto, ao contrário do que alguns materiais
Resultados da Pesquisa
Latina. Isso mostra como é importante que se
editoriais do ramo turístico estão fazendo atualmente, a relação entre lugar e indivíduo
Resultados das Entrevistas
precisa estar em evidência para que se atinjam informações de forma íntegra, e se transmita
Ao longo do período de pesquisa, vários
um conteúdo que gere afeição e interesse no
indivíduos foram entrevistados, e cada entre-
leitor.
vista agregava uma visão de cidade ao projeto
Com essa pesquisa também é possível ob-
gráfico. A herança dessa parte prática da pes-
servar como a cidade de São Paulo é mal vista
quisa foi exatamente uma divergência de opi-
em alguns pontos, especialmente no fator hu-
niões a respeito da cidade, uma variedade de
mano. De acordo com o ranking da Resonance
impressões e formas de definí-la.
Consultancy, São Paulo não tem capital huma-
Enquanto alguns acham a cidade recepti-
no compatível com a importância internacio-
va e cada vez mais agradável, outros criticam
nal dessa metrópole, que é a maior da América
políticas voltadas apenas para exploração do 19
Resultados da Pesquisa
trabalhador; enquanto uns acham que a cidade
mônios. O paulistano reconhece o valor cultu-
deveria ser mais colorida, outros acham que a
ral da sua cidade e se importa com ele, sentin-
desordem e a diversidade são elementos pri-
do-se, inclusive, parte integrante.
mordiais e evidentes em São Paulo. O resultado dessa experiência foi o inevitável: São Paulo é uma cidade cosmopolita e diversificada, por No entanto, teve uma questão específica que apareceu em grande parte dos discursos: a má administração dos patrimônios históricos, arquitetônicos e culturais da cidade.
Resultados da Análise de Guias Turísticos Impressos: Com a análise dos guias impressos, foi possível constatar que existe uma infinidade
Augusto Fiorelli, por exemplo, lembrou
de projetos editoriais sobre São Paulo voltados
com pesar do incêndio que tomou o Museu da
para o turismo, cada um com uma abordagem
Língua Portuguesa em 2015. Popó, por outro
mais diferente que a outra. O “Manual de So-
lado, se queixou do fato de que as visitas cultu-
brevivência em São Paulo”, por exemplo, fala
rais já não recebem o investimento e a atenção
sobre São Paulo de uma forma única, do ponto
que costumavam receber. Luiz Gê, afirma en-
de vista de uma carioca, que assim que chegou
faticamente que o centro de São Paulo possui
aqui sentiu instantaneamente o choque cul-
prédios antigos, de arquitetura inconfundível,
tural e resolveu escrever várias dicas para ca-
que não seriam possíveis de reprodução caso
riocas e outros “forasteiros” que gostariam de
algum desastre viesse a destruí-los, e por isso
visitar ou morar na metrópole.
deveriam ser mais bem preservados.
A maioria dos livros consultados não se-
Essas afirmações estão entre várias outras
guem um formato necessariamente portátil,
do tipo, e fica a sensação de que existe uma
inclusive, alguns deles são bem maiores que
desconfiança generalizada da população na
o tamanho ideal para se carregar no bolso ou
capacidade dos seus governantes administra-
mesmo numa bolsa pequena.
rem a cidade de forma eficiente.
20
Resultados da Análise de Guias Turísticos
isso o projeto gráfico é tão colorido e variado.
É possível separar os guias impressos
Se existe essa inconformidade com o des-
em dois tipos: os catálogos e os dissertati-
cuido da cidade, quer dizer que existe também
vos. Os catálogos não passam de listas in-
uma identificação das pessoas que moram em
termináveis de locais e atrações, com suas
São Paulo por muito tempo com os seus patri-
especificações técnicas tais como horário de
atendimento, localização, site, e-mail e tele-
Contudo, a maioria dos guias para celular
fone, e os livros desse grupo geralmente são
seguem o padrão de catálogo, com a diferença
monótonos e chatos de ler, servindo apenas
de que é muito mais fácil achar um destino de
para consultas pontuais. O “Guia Cultural do
seu interesse num aplicativo que conta com
Estado de São Paulo” e o guia “Veja São Pau-
filtros que podem personalizados, e com GPS
lo - O Melhor da Cidade” são exemplos desse
para ordenar os pontos de acordo com a loca-
tipo de guia.
lização do usuário. A vantagem dos aplicativos
Os guias dissertativos são mais divertidos
sobre os livros é exatamente essa: o usuário
de ler, visto que não são uma mera relação de
tem o poder de, de acordo com as suas prefe-
destinos, mas contam também com histórias
rências, elencar cada um dos pontos da cidade,
sobre esses destinos, narrativas e dissertações
o que torna a navegação muito mais interativa
que tornam a leitura mais dinâmica e menos
e rápida.
mecânica. O “Manual de Sobrevivência em São
Outra vantagem dos aplicativos é a pos-
Paulo” e o “Fuja de Casa com as Crianças” são
sibilidade de atualização constante. O app
ótimos exemplos desse tipo de guia.
do Catraca Livre, por exemplo, é alimenta-
Não é possível chegar a nenhuma conclu-
do não apenas por atrações fixas, mas com
são quanto à forma de organizar o conteúdo
eventos e notícias que podem ser atualizados
dos guias impressos, já que os sumários são
a qualquer momento, oferecendo ao usuário
organizados de formas muito diferentes. Al-
sempre as informações mais recentes sobre
guns são organizados por região, outros por
a cidade.
temas, outros por faixa etária das atrações, entre várias outras formas de organização.
No entanto, parar para ler uma matéria ou uma entrevista num aplicativo para dispositivos móveis pode não ser a experiência
Resultados da Análise de Guias Turísticos -
mais agradável. O aplicativo “São Paulo para
Digitais:
Crianças”, por exemplo, possui algumas ma-
Não é tão fácil achar um guia turístico para
térias extensas em seu conteúdo, as quais
celular tal como acontece com os guias físicos.
ninguém tem paciência para ler num tele-
As opções na loja de aplicativos do Google
fone cuja fonte é pequena e o brilho da tela
são limitadas e muitas delas ainda não foram
cansa os olhos.
completamente otimizadas para todos os tipos de dispositivos móveis. 21
Requisitos Para o Projeto
O design editorial e suas competências são as ferramentas que guiam toda a execução do projeto. Embasado no material jornalístico levantado através de entrevistas e da documentação de tradições, locais e crônicas da cidade, o design serve ao jornalismo como forma de materializar e promover esse conteúdo. Conforme os resultados provenientes desta pesquisa, o fator humano é um valor indispensável para a promoção de uma cidade como São Paulo, e por esse motivo, a empatia e a sensibilidade são ferramentas que servem de base para o design feito em prol dos textos jornalísticos. O layout, a fotografia, e todas as outras disciplinas que fazem parte do design editorial, funcionam para reforçar a identidade cultural paulistana e gerar afeição no leitor. Uma vez que o produto foi concebido desde o zero, ferramentas mais estratégicas do design tais como o naming e o branding foram requisitos vitais para a elaboração do guia. O design atua não só de forma a criar um produto que seja inovador e atual, mas também, com o auxílio dessas ferramentas estratégicas, de forma a criar um produto que ultrapasse a barreira do tempo e se torne valioso em qualquer condição ou tempo histórico. A ideia, a missão e os valores da linha editorial criada precisa ser atraente independentemente do fato que as informações contidas nesta edição se tornarão obsoletas um dia. A metodologia e o diferencial desse produto precisam ser latentes através do design, do nome e do branding referentes a ele, sendo viável reutilizá-los em possíveis edições futuras. O brainstorm, embasado em todos os diversos conceitos fomentados por meio desta pesquisa científica, é a principal ferramenta do designer para um bom naming e uma boa marca.
22
Ideia para a capa:
Ideia para a capa:
Estudos de Concepção
Brainstorm do naming:
Ideia para a capa:
23
Estudos de Concepção 24
Ideia para a capa:
Esboço da capa:
Assim que definidos o nome do livro, o desenho da capa e o estilo, começou o desenvolvimento das ilustrações propriamente ditas. A técnica utilizada foi o nanquim para desenhar os traços estruturantes das ilustrações e o Photoshop para colorir e fazer a arte-final. O estilo se assemelha muito com o da animação tradicional: os contornos em evidência, feitos a mão, e coloridos por meios digitais. Contudo, as reais referências vieram do hq clássico, o que explica as achuras e o volume feito através das camadas de cores. A capa, especialmente, tem elementos em Art Deco, explicitado através da repetição de formas geométricas e dos ornamentos. Art Deco foi um dos movimentos que inspirou a arquitetura moderna, imortalizada por arquitetos como Niemeyer, Lina Bobardi, e vários outros que construíram São Paulo.
Desenvolvimento do Projeto
Estilo e Técnica
25
Desenvolvimento do Projeto
Tipografia A tipografia dos títulos foi desenvolvida exclusivamente para o guia. Seguindo o mesmo estilo do resto do livro, a tipografia foi desenhada a mão, em nanquim, digitalizada, e colorida digitalmente. Durante o livro usa-se efeitos variados na tipografia, a fim de dar volume ou dar a impressão de perspectiva. O desenho manual é usado continuamente, e tem a pretensão de humanizar o conteúdo do guia, seguindo o objetivo proposto no início desse projeto de tornar a cidade de São Paulo mais receptiva e sensível.
Ícones Para organizar o conteúdo interno do livro, foram criados ícones que seguem as mesmas técnicas e o mestmo estilo do restante do projeto gráfico. O ícone do rosto humano em perfil indica os locais ou páginas que fazem referência aos peronagens paulistanos, enquanto que o ícone do marcador de mapa se refere aos serviços ou aos pontos turísticos apresentados ao longo do guia. O ícone do metrô indica o metrô mais perto de cada serviço ou ponto, e a lâmpada acompanha alguma dica ou sugestão de lugares próximos para visitação.
26
vezes sozinho ou em pequenos grupos, e vivenciar experiênTipo de impresso: Livro
cias típicas dos lugares em que está. Esse público gosta de conhecer pessoas e entender como elas vivem, portanto, são al-
Tema do projeto: Guia turístico
tamente sociáveis. A curiosidade é uma das maiores virtudes do público do “Com Quais Cores se Faz o Cinza?”, assim como o
Título do impresso: Com Quais Cores se Faz o
altruísmo e a empatia.
Cinza? Características da editora: Pequena, de baixas
Padronização Gráfica
tiragens e público específico. Grid: O layout possui margens superior e inferior de 15mm e Conceito editorial do impresso: Uma linha edi-
margens interna e externa de 20mm. O grid se separa em 8 co-
torial sobre a cidade de São Paulo que procura
lunas, com medianiz de 6mm entre as colunas. O texto pode
buscar a síntese entre os patrimônios materiais
aparecer de várias formas dentro desse grid, as vezes aparece
da cidade, como seus pontos turísticos, ruas, mu-
continuamente pelas 8 colunas, as vezes usa apenas 3 colunas,
seus e parques; e os patrimônios imateriais da ci-
mas na maioria dos casos o texto se utiliza de 4 colunas, sendo
dade, como o seu cotidiano, sua população e seus
assim duas caixas de texto por página.
Memorial Descritivo
Perfil psicográfico: O público do guia gosta de viajar, muitas
costumes. O guia se utiliza não só de informações sobre os pontos de visitação da cidade, mas também de informações sobre sua população. Tiragem (estimada): 5.000 unidades.
Público-Alvo Perfil demográfico: O público-alvo do “Com Quais Cores se Faz o Cinza?” é jovem, tem entre 20 e 40 anos, e renda compatível com as das classes A, B ou C. 27
Memorial Descritivo
Fontes utilizadas: A tipografia dos títulos e da capa foram de-
Imagens: Cada um dos capítulos possui uma
senhadas a mão. A fonte padrão dos textos se chama “Volkhov”,
ilustração capitular anunciando o nome do pon-
produzida pela Cyreal Fonts, uma plataforma colaborativa de
to turístico ou o nome do personagem em ques-
fontes open-source. Durante o livro, a Volkhov aparece em ta-
tão. As ilustrações foram feitas em nanquim,
manho 9pt, com entrelinha de 15pt. O espaçamento entre carac-
escaneadas e depois coloridas digitalmente,
teres não foi alterado.
sempre seguindo a paleta cromática acima. Cada capítulo também conta com uma foto-
Padrão cromático: Os títulos não seguem um padrão cromá-
grafia, além da ilustração. As fotos das pessoas
tico, mas todas as ilustrações mantém uma paleta baseada em
foram registradas nos mesmos dias das entre-
variações tonais das 4 cores abaixo: vermelho, marrom, verde
vistas, sendo que algumas delas foram cedidas
dessaturado e azul. Os grafismos do cabeçalho e do rodapé são
pelos próprios entrevistados. As fotos dos luga-
todos na cor bege, na cor da amostra A, abaixo. O texto e os íco-
res foram registradas a partir de visitas em cada
nes do cabeçalho são azuis, como na amostra B.
local. Nos lugares fechados para visitação ou mais restritos, foi necessário entrar em contato
Amostra A = C: 25; M: 60; Y: 70; K:10.
com os órgãos cuidadores e solicitar imagens.
Amostra B = C: 90; M: 60; Y: 35; K:10. Elementos de apoio: O livro é dividido em 3 setores: o primeiro dedicado ao centro de São Paulo, o segundo à região da Avenida Paulista, e o último agrega todos os pontos das zonas periféricas da cidade, sendos elas as zonas leste, oeste, norte e sul. Para ilustrar essa separação de setores, usa-se a textura abaixo, que varia entre as cores da paleta.
28
Para os olhos de texto, os quais sucedem sempre os textos refe-
Acabamento gráfico: A capa, a contra-capa e a
rentes aos locais de São Paulo, foi utilizada a moldura abaixo.
lombada do produto são revestidos com lami-
Os olhos de texto, nesse caso, servem para descrever informa-
nação fosca.
ções específicas como horários de funcionamento dos locais de visitação, estações de metrô próximas, endereços, entre outras coisas.
Impressão Miolo Suportes utilizados: O miolo é impresso em papel couché de 150g/m².
Facerum quistor emolor magnimu sdamusc iatur, odis aut haruntus ea sitibusdam remos doleste sus, quam es
Sistema de cores: O produto é impresso em escala CMYK, sendo 4x4 para o miolo. Processo de impressão indicado: O processo de impressão mais indicado seria o offset.
Pré-Impressão
Impressão Capa Formato: Aberto - 410x225mm. Fechado - 200x225mm.
Software utilizado para editoração: Todo o projeto editorial foi feito no InDesign.
Suportes utilizados: A versão em capa dura tem a base em papel paraná e o revestimento é impresso num couché de 150g/
Software utilizado na criação de imagens de
m². A versão com a capa flexível é impressa no papel supremo
apoio: As fotografias foram manipuladas atra-
de 240g/m².
vés do Photoshop, da Adobe. As ilustrações e outros grafismos foram todos criados também
Sistema de cores: O produto é impresso em escala CMYK, sen-
com o auxílio do Photoshop.
do 4x0 cores para a capa e a contra-capa. Resolução impressa a ser utilizada: O projeto Processo de impressão indicado: Caso fosse impresso em gran-
gráfico foi inteiramente feito na resolução de
de escala, o processo de impressão mais indicado seria o offset.
300ppi. 29
30
Documentação do Produto Capa:
Interior:
31
32
Documentação do Produto
Detalhes:
lacionamos há muito tempo de uma forma completamente diferente. Essa pesquisa foi capaz de abordar todas as possibilidades do mercado editorial voltado para a área de turismo, de forma a abrir a mente para as implicações de um projeto desse tipo. Às vezes, podemos pensar que não há outro jeito de se fazer um guia turístico a não ser através daqueles chatos catálogos informativos e intermináveis com os quais estamos habituados, mas a verdade é muito diferente disso e inclusive muito do tema já está sendo explorado pelas grandes editoras. A abrangência desta pesquisa se deve ao fato dela ter começado em uma coisa completamente desconectada do merca-
Considerações Finais
É importante, às vezes, observar aquilo com o que nos re-
do editorial de guias turísticos, para só depois trazer para esse contexto. Ela mostra como disciplinas que, aparentemente não possuem relação alguma com o design, podem se mostrar muito úteis na elaboração de um projeto de design. A antropologia, inerente ao turismo, tem sido deixada de lado em muitos materiais desse tipo, sendo que a parte mais afetuosa e amistosa de um destino pode muitas vezes ser esquecida em prol de um apanhado de informações técnicas desinteressantes.
33
Referências
AUGÉ, Marc. Não-Lugares: Introdução a uma Antropologia da Supermodernidade. 2. ed. Campinas: Papirus, 2001. Tradução de: Maria Lúcia Pereira. CHIAS, Josep. Turismo o Negócio da Felicidade: Desenvolvimento e marketing turístico de países, regiões, lugares e cidades. São Paulo: Senac, 2007. Tradução de: Sandra Valenzuela. HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. 7. ed. Rio de Janeiro: Dp&a, 2003. Tradução de: Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Louro. LIMA, Edvaldo Pereira. Jornalismo Literário para Iniciantes. São Paulo: Clube dos Autores, 2010. LUPTON, Ellen; PHILLIPS, Jennifer Cole. Novos Fundamentos do Design. São Paulo: Cosac & Naify, 2008. Tradução de: Cristian Borges. MEDINA, Cremilda. A Arte de Tecer o Presente – Narrativa e Cotidiano. São Paulo: Summus, 2003. MELLO, Gustavo Affonso Taboas de. Desafios para o Setor Editorial Brasileiro de Livros na Era Digital. Rio de Janeiro: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, 2012. Disponível em: <http://web.bndes. gov.br/bib/jspui/handle/1408/1486>. Acesso em: 13 maio 2018. MELO, José Marques de. A Crônica. In: CASTRO, Gustavo de; GALENO, Alex. Jornalismo e Literatura: A Sedução da Palavra. São Paulo: Escrituras, 2005. p. 126. NIKOLAJEVA, Maria; SCOTT, Carole. Livro Ilustrado: Palavras e Imagens. São Paulo: Cosac & Naify, 2011. Tradução Cid Knipel Moreira. RESONANCE CONSULTANCY (Ed.). World’s Best City Brands Report: A Global Ranking of Place Equity. Nova Iorque: Resonance Consultancy, 2017. Disponível em: <http://resonanceco.com/reports/worlds-best-city-brands/>. Acesso em: 13 maio 2018.
34
SÃO PAULO. SPTuris e São Paulo Convention & Visitors Bureau. São Paulo: cidade do mundo. 2017. Disponível em: <http://www.observatoriodoturismo.com.br/pdf/DADOS_E_FATOS.pdf>. Acesso em: 5 setembro 2017. UNESCO. Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural. 1972. Disponível em: <https://whc.unesco.org/archive/convention-pt.pdf>. Acesso em: 01 maio 2018. UNESCO. Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial. 2003. Disponível em: <http:// portal.iphan.gov.br/uploads/legislacao/Convencao_Salvaguarda_2003.pdf>. Acesso em: 01 maio 2018. UNESCO. World Heritage. Disponível em: <http://whc.unesco.org/en/about/>. Acesso em: 21 abril 2018.
Referências
SANTAELLA, Lúcia. O que é Semiótica. São Paulo: Editora Brasiliense, 1983.
VAZ, Tyciane. Jornalismo Utilitário: Teoria e Prática: Fundamentos, História e Modalidades de Serviço na Imprensa Brasileira. 2013. 221 f. Tese (Doutorado) - Curso de Jornalismo, Universidade Metodista, São Bernardo do Campo, 2013. Disponível em: <http://tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/647/1/Tycpag1-150.pdf>. Acesso em: 29 out. 2017. VILAS BOAS, Sergio. Perfis e como Escrevê-los. São Paulo: Summus, 2003.
35
1ª Edição [2018] 10 reimpressões Diagramação e Capa: Leandro Galli Moreira Arte-final: Leandro Galli Moreira Gráfica: Pró Art Encadernações Papel: Couché 150g/m² Tipografia: Volkhov 9pt Entrelinha: 15pt
36